Pequena Miss Sunshine - Portal do Envelhecimento
Transcrição
Pequena Miss Sunshine - Portal do Envelhecimento
36 “Pequena Miss Sunshine” – O velho na sociedade Jeffrey A. Rae Ruth Gelehrter da Costa Lopes O filme que eu escolhi para este trabalho foi “Pequena Miss Sunshine”. Certo dia estava chegando em casa e vi minha mãe assistindo-o. Na hora lembrei do avô da menina e decidi fazer o trabalho com minha mãe. Sinopse Diante de uma situação familiar pouco estável, com cada membro da família com suas peculiares diferenças e problemas, surge a notícia que Olive foi classificada no concurso "A Pequena Miss Sunshine" na Califórnia. Sai então toda a família: O avô de Olive que ensaia todos os dias a neta para o concurso e que foi expulso de uma casa de repouso pelo uso de drogas; o pai Richard que vende um programa de auto-ajuda para quem quer ser um vencedor; a mãe típica, que valoriza a honestidade, mas que de contrapartida é uma fumante compulsiva que desmente tal hábito; o tio Frank, gay que acaba de tentar um suicídio (por isso é recomendado ficar com a família); e o irmão mais velho Dwayne obcecado em ser piloto da Força Aérea, faz um "voto de silêncio" até conseguir sê-lo. Todos juntos precisam levar a pequena Olive, sonhadora e desengonçada, com o único meio de locomoção que pode levar toda a família, uma Kombi amarela bastante usada. Durante todo o filme, Olive e seu avô ensaiam a dança, mas não a mostram para ninguém. Ao longo da viagem, o avô morre (acredito que tenha sido devido ao uso de drogas) e a família chega ao concurso. Quando Olive sobe ao palco, passa a tocar uma música mais antiga e a menina começa a dançar como se estivesse em um strip club. Acredito que escolhi este filme pois achei o personagem do avô, um senhor muito inusitado, jamais pensaria nisso para fazer este trabalho. Perguntei à minha mãe se gostaria de fazer a pesquisa e ela concordou. Tentei extrair a opinião dela sobre este senhor em específico e tentei fazer com que relacionasse com a visão dela. REVISTA PORTAL de Divulgação, n.8, Mar. 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php 37 Entrevista Quais aspectos da terceira idade você identificou no personagem? E Por quê? O pior é que ele não tinha nada de terceira idade, ele não tinha o comportamento de uma pessoa da terceira idade, apesar dele ser da terceira idade. Ele propôs ensaiar uma menina de seis anos (para se apresentar num concurso de miss, não era isso?) e na realidade ele estava fazendo uma coisa que parecia uma dança de cabaré. E por que isso não é um comportamento da terceira idade? Porque a mentalidade de uma pessoa de terceira idade... Eles são mais conservadores, tem atitudes conservadoras, então esse velho do filme fugiu totalmente à regra. Mas você acha que eles são conservadores, ou fingem serem conservadores? A gente não pode generalizar, mas eu acredito que a maioria é conservadora. Qual a sua reação caso este fosse seu pai? Acho que eu matava ele (risadas). Eu iria ficar muito brava com ele. Eu ia ficar chocada! Pensaria que ele estava delirando. E se você descobrisse se ele só cheirasse heroína? Eu tentaria ajudá-lo, internando-o numa clínica. O que posso fazer? E como você acha que este velho se sentia? Acredito que ele não conseguia se sustentar, para a maioria dos velhos que não tem isso [...] ele estava morando na casa da filha [...] tenho a impressão que se sentem como um peso para a família, né? Não tem condições de morar sozinho, às vezes ganha pouco e tem que depender dos filhos, e hoje a gente sabe que na maioria das vezes não é nada prazeroso para a família. Por que a gente sabe? De pessoas que a gente conhece que tem esse problema...Às vezes tem que cuidar como se fosse uma criança, e isso não é nada prazeroso, nem para quem cuida, nem para quem é cuidado. Você acha que é mais fácil cuidar da criança ou do velho? Por que? Da criança, lógico. Porque a criança [...] tudo depende do estado do idoso, se está em uma situação onde não consegue mais andar, tomar banho, ai é mais fácil cuidar de uma criança pequena (mostrando com as mãos), do que ter que carregar. Mas acho que a relação entre mãe para filho, do que filho para pais (para cuidar), é diferente, para mãe, cuidar do filho, a ligação é maior do que o inverso. Você acha que o fato do sujeito já ter tido esta autonomia e conseguir expressar isso ajuda ou atrapalha? REVISTA PORTAL de Divulgação, n.8, Mar. 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php 38 Para quem está cuidando, fica mais difícil, pois ele tem a opinião dele, aí você tem que fazer de um jeito, e ele fala que precisa fazer de outro jeito, aí pode gerar um conflito. Com a criança você sabe que vai ser daquele jeito e pronto, pois ela não vai falar, não é assim que se faz, pelo menos durante um tempo (risadas). Conclusão Após a entrevista, fiquei tentando me imaginar no lugar daquele senhor e quais seriam meus pensamentos. Acredito que existe toda uma visão social ao redor do idoso, impondo a eles algumas maneiras de ser que não são próprias de sua existência. Existe toda uma expectativa, de ambas as partes, que sustenta isso. Os mais jovens esperam que os velhos ajam de determinada maneira, e os mais velhos esperam que os jovens ajam de determinadas maneiras também. Entendo que isso seja inevitável (expectativa ocorre quase toda hora), mas esse filme nos mostra que podemos esperar isso também (obviamente não exatamente igual), e que não é o fato dele estar velho que faz com que ele não sinta desejos parecidos com os da sua juventude. A terceira idade é um momento, e basta. Da mesma maneira que todas as idades são momentos, e o que acontece é que nos encontramos nesses momentos. Mas continuamos sendo nós mesmos, e por isso não se pode esperar que o senhor não sinta mais desejos, que queira somente assistir TV em um asilo (como mostra o filme). Fiquei pensando que a dança da neta foi muito pervertida, e foi uma sacada muito boa não mostrar ao espectador os ensaios, pois não sabemos o que de fato acontecia lá. Não importa o que de fato acontecia, mas fiquei pensando o quanto a repressão social não pode gerar isto. Não é o envelhecimento que aprisiona, é a sociedade que aprisiona o velho em papéis conservadores, que podem gerar a exclusão. Não discordo que cuidar de alguém que sabe se cuidar, mas não consegue mais, deve ser algo muito complicado, mas é necessário entender que deve ser algo difícil de aceitar, e isso pode ser refletido em uma tentativa de provar a si próprio o que é capaz. Acredito que o uso de drogas por parte do avô tem muito a ver com uma tentativa de provar a si próprio que ainda podia fazer aquilo que fazia quando jovem. Referências DAITON, J. & FARIS, V. Pequena Miss Sunshine. [Filme-DVD]. Canadá, 2006. Fox - Microservice. REVISTA PORTAL de Divulgação, n.8, Mar. 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php