Escolhe pois a Vida DOWNLOAD

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“ESCOLHE, POIS A VIDA”.
TEMA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2008
e
Palestra proferida pelo Sr. Raymond de Souza no primeiro Congresso Internacional
em Defesa da Vida, realizado em Aparecida, de 6 a 10 de fevereiro de 2008.
O Sr.Raymond de Souza é brasileiro de nascimento e cidadão australiano. Conferencista
Católico poliglota e renomado, é o fundador e diretor do apostolado de apologética católica
Saint Gabriel Communications da Austrália; Apresentador-conferencista de programas de
televisão na maior rede católica do mundo, a Eternal Word Television Network (EWTN),
Porta-voz Executivo do Saint Gabriel Communications International e Diretor do Escritório
da Nova Evangelização do Santuário Nacional do Sagrado Coração de Jesus nos Estados
Unidos.
No Congresso Pro-Vida em Aparecida ele também representou o Rev. Padre Thomas
Euteneuer, Presidente do Human Life International, o maior movimento pro-vida de
orientação católica no mundo, com grupos afiliados em 80 nações.
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“ESCOLHE, POIS A VIDA”.
O Papa Bento XVI bem pode ser o único papa na história cujo pensamento já era
conhecido por todos, décadas antes dele ser eleito pelo conclave. No famoso Rapporto
sulla Fede, Relatório sobre a Fé, em que ele foi entrevistado pelo jornalista Vittorio
Messori, publicado já há mais de 20 anos, o então Cardeal Ratzinger falou claramente a
respeito da crise na Igreja, cujo ápice foi a Crise entre bispos e sacerdotes. Entre muitos
assuntos, falou de uma colegialidade mal compreendida, da responsabilidade daqueles
que receberam a missão de ensinar o povo de Deus o caminho da verdade, do bem e da
beleza.
No campo moral, ele mostrou que o liberalismo economico de nosso dias levou até o
permissivismo moral. Consequência: o elo natural que ligava a sexualidade à
maternidade foi quebrado, a ponto de se glorificar na cultura hodierna a sexualidade
sem a procriação – contracepção – e até mesmo a procriação sem a sexualidade –
fertilização in vitro.
Mais: liberalismo e permissivismo caem no mesmo fosso: relativismo moral, segundo o
qual todas as formas de gratificação dos sentidos exigem o direito de existir, e a
preferência individual se torna o critério supremo. O Cardeal Ratzinger concluiu seu
raciocínio mostrando que um dos resultados dessa decadência moral é precisamente o
aborto.
Disse que, nesse contexto, a concepção de uma criança, longe de ser vista como uma
benção, passa a ser vista como uma ameaça à vida livre, à libertinagem; como um erro,
uma calamidade a ser remediada o quanto antes. Em poucas palavras, mata-se o ser
humano indesejado.
A Cultura da Morte exige então o direito de cidadania.
Durante o sermão da Missa do conclave que o elegeu papa, o mesmo Cardeal Ratzinger
voltou mais uma vez ao tema: disse que a ditadura do relativismo confronta o mundo.
Ditadura do relativismo. Não parece uma contradição? Se é relativismo, se cada um
pensa e faz o que quer, como pode ser ditadura?
Mas não há contradição nos termos. O permissivismo moral chegou a tal ponto em
nosso dias, que as pessoas que querem ser fiéis, já não digo à lei de Deus ou da Igreja,
mas fiéis à Lei Natural, tem seu direito de existir negado na prática. Seja mídia, ONGs,
parlamentares ou governantes, dir-se-ia que existe um pacto diabólico para eliminar o
direito à vida, direito que é igual para todos os seres humanos, seja qual for sua raça,
religião, sexo, idade, cultura, lugar de residencia – incluindo os que residem ainda no
ventre materno.
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Nos Estados Unidos, tive a oportunidade de apresentar palestras a respeito do
relativismo, numa série de programas na maior televisão católica do mundo, a EWTN,
[Eternal Word Television Network], numa série intitulada: “O Bem ou o Mal: quem
decide?”
Quis fazer um pequeno resumo das teses ali apresentadas, afim de melhor poder ilustrar
o tema, “Escolhe, pois, a vida”.
Anos atrás, eu estava na cidade de Montréal, na rua mais central, chamada Saint
Catherine. Residi no Canadá durante pouco mais de dois anos. Lá vi uma manifestação
de pessoas, uma quinhentas, mais ou menos. A ativista mais conhecida era, se não me
falha a memória, a atriz Jane Fonda. Todos exigiam do governo canadense que
interviesse para acabar com a caça aos filhotes de focas, que eram caçados pouco
depois de nascer por causa da pele valiosa, que é usada para fazer casacos de pele para
senhoras.
Os manifestantes exigiam que os filhotes de foca tivessem o direito à vida defendido
pelo poder público. Severas multas e até mesmo prisão, deveriam ser a sentença dos
que desobedecessem à lei que queriam ver passar.
Uma semana depois, na mesma rua Saint Catherine, vi outra manifestação, em que as
pessoas exigiam do governo canadense a legalização do aborto, livre e gratuito. Quem
abortasse não deveria sofrer nenhuma sentença, nem multa nem prisão. Por que?
Porque o aborto é um direito da mulher, diziam.
E me perguntei: por que o filhote da foca deve ter sua vida defendida pela lei, mas o
filhote do homem pode ser morto ao bel prazer? Ditadura do relativismo.
Não quero dizer que se deva matar os filhotes de foca assim indiscriminadamente, de
modo algum. O que me espanta é o ver num país assim chamado civilizado, animais
são protegidos pela lei, mas nacituros não são.
Na Africa do Sul, onde vivi durante uns 4 anos, o movimento contra o famigerado
apartheid crescia sempre. Exigia-se que o direito do voto nas eleições fosse dado a
todos, e não somente aos de raça branca. Muito bem. Governos e organizações
internacionais, inclusive católicas, falavam alto contra o apartheid. Muito bem.
Contudo, um dos primeiros atos do governo Nelson Mandela, foi a aprovação do aborto
livre. As mesmas organizações internacionais se mantiveram em silencio. Por que?
Porque o direito ao voto deve ser igual para todos e reconhecido pela lei. O direito à
vida, não. Ditadura do Relativismo.
Na Nova Zelandia, onde vivi durante 12 anos, algo semelhante. A árvore típica
neozelandesa, chamada kauri, é protegida pela lei. Se eu quisesse, poderia ter plantado
kauris no meu quintal, regado com minha água, gasto meu tempo em podar, em
fertilizar, proteger contra insetos e pragas, etc. ,etc., mas se um dia eu quiser cortar a
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árvore, não poderia. A Kauri é protegida pela lei. Se cortar, pagaria uma multa grande.
Mas na Nova Zelandia o aborto é legal.
Pergunto-me, então; por que uma árvore tem sua vida vegetal protegida pela lei, mas a
vida humana de uma criança no ventre manterno não tem? Ditadura do relativismo.
Vivi na Austrália durante nove anos. O governo do estado da Austrália Ocidental, havia
assinado um contrato com uma companhia madeireira para desbravar umas matas
nativas. Assim que a notícia correu, umas três mil pessoas fizeram uma passeata de
protesto, exigindo do governo que rescindisse o contrato. O governo cedeu, e rescindiu
um contrato legal e já assinado. Mas quando o aborto foi legalizado pelo mesmíssimo
governo, por volta de 300 pessoas apenas apareceram para a manifestação diante do
parlamento.
Por que árvores nativas devem ser protegidas pela lei, mas não os nascituros? ditadura
do relativismo.
Trabalhei num colégio interno na França durante quase um ano. Segundo a lei francesa,
não se pode punir um estudante malcriado com castigo físico. Nem sequer os pais
podem fazê-lo. Ai de quem bater num estudante, mesmo que seja um delinquente,
drogado, corrompido e corruptor de outros menores. Sai multa grande e mesmo cadeia.
Não pode. Mas matar um nascituro, ah, isso pode. E o governo paga as despesas.
Hoje vivo nos Estados Unidos. Não preciso dizer que a cada ano o aborto mata mais
Americanos do que todas as guerras travadas pelos Estados Unidos em sua história,
inclusive a Guerra civil. Todos se lembram de que mais de tres mil Americanos foram
mortos no dia 11 de setembro. Mas muitos se esquecem de que mais de quatro mil
morrem todos os dias nas clinicas de aborto dos Estados Unidos. Ditadura do
relativismo.
A Guerra no Iraque é vista como injusta por muitos, mas o aborto é visto como um
direito a ser respeitado. Ditadura do relativismo.
Dizemos que o aborto é um mal. Um mal gravíssimo. Uma injustiça suprema. Muitos
dos que condenam a pena de morte contra os criminosos incorrigíveis e os métodos de
tortura contra prisioneiros políticos são a favor das camaras de torturas e de morte para
crianças inocentes e indefesas. Ditadura do relativismo.
Vejam o movimento Anistia Internacional. Coletam milhões de dólares para ajudar a
defender prisioneiros indefesos em vários regimes políticos no mundo, mas apoiam o
aborto de nacituros indefesos, ainda no ventre materno. Ditadura do relativismo.
Aqui nos deparamos com um problema central: Por que uma coisa é vista como um
bem para alguns, e é vista ao mesmo tempo com um mal para outros? Qure autoridade
decide entre o bem e o mal? É o governo? O fluxo da sociedade? O indivíduo? A
Bíblia?
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Vejamos mais alguns exemplos. Na Austrália o aborto foi legalizado já há anos. Só que
o assim chamado direito de abortar pode variar de estado para estado. Assim, basta a
pessoa viajar para o outro estado, e já não é mais crime. Se amanhã o governo de um
estado passa uma lei acabando com o aborto, então o que era direito deste lado da
fronteira torna-se crime… mas do outro lado da mesma fronteira continua sendo um
direito do cidadão.
O governo brinca de Deus, faz de conta que tem poder divino de dar a vida e de matar.
Quando o governo de um país aceita o princípio de que os fins justificam os meios,
mesmo se este governo foi eleito de modo democrático, adota um princípio leninista. A
União Soviética, a China, Cuba e Coréia do Norte seguem este princípio.
A ditadura do relativismo traz consigo não somente a extirpação do direito natural, mas
também o assassinato da lógica, a morte do bom senso. O direito natural morre junto
com o nascituro abortado. O bem comum é ignorado para dar lugar ao que é
politicamente correto, ao que favorece a política do partido, ao que corrompe, animaliza
e embrutece o ser humano.
Em 1953, o papa Pio XII alertou o mundo contra a tendencia dos governos de legislar
sem considerar a lei natural, criando a maior ameaça à paz e ao bem comum: “uma
economia sem Deus, lei sem Deus, política sem Deus.”
É preciso, então, opor-se a tais leis e governos, fazendo uso de todos os meios legais e
lícitos. É preciso lutar para mudar a lei e o governo se necessário.
O papa Leo XIII, em sua famosa encíclica Rerum Novarum, a Carta Magna da classe
operária, afirma que quando o Estado age contra os direitos da família, a associação das
famílias com o estado torna-se algo a ser detestado, em vez de desejado.
Quando o aborto foi aprovado na Austrália Ocidental, o Arcebispo de Perth fez uma
declaração corajosa: Ele disse que “Leis injustas e imorais como a recente legalização
do aborto devem ser contraditadas e eliminadas.”
Tanto a lei quanto o governo se tornaram prejudiciais ao bem comum, à sociedade, à
ordem e ao progresso do país. Devem ser contraditados e postos fora.
O Brasil precisa de Arcebispos e Bispos que travem uma luta sem tréguas contra este
pecado que brada ao céu por vingança: o assassinato dos inocentes.
O estado não tem o direito de abolir a lei natural. Quando o direito à vida, que é igual
para todos sem distinção, é negado a alguns para favorecer a outros, estão o direito à
vida passa a ser algo como uma concessão estatal, algo que o Estado dá ou tira segundo
seu bel-prazer político, e deixa de ser um direito inalienável do ser humano.
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O parlamentar ingles William Wilberforce lutou pela abolição da escravidão no império
britanico durante mais de vinte anos. Todos os anos ele propunha um projeto de lei para
abolir a escravidão. Embora sempre derrotado, jamais desitiu da luta, até que
finalmente conseguiu.
Outros dizem que deve-se seguir o fluxo da sociedade, dizendo que “se o povo quer o
aborto, não se pode evitar a aprovação da lei, pois o sistema democrático é baseado em
votos, baseado na vontade da maioria”.
Sofisma baixo e vergonhoso.
Primeiro, porque em nenhum país do mundo o aborto foi jamais aprovado pela vontade
da maioria, mas sempre pela imposição da vontade de uma minoria de políticos contra a
vontade da maciça maioria do povo.
Ademais, se o bem fosse uma questão de voto popular, então dever-se-ia respeitar o
nazismo, pois Adolf Hitler foi eleito com 90% dos votos, coisa que o Presidente Lula
jamais obteve ou obterá.
Também há aqueles que defendem a idéia egoísta e injusta segundo a qual o aborto é
uma questão de consciencia individual, de preferencia pessoal, de escolha própria
segundo as circunstancias do momento. Dizem que, como não estão forçando a opinião
deles sobre nós, e não estão exigindo que abortemos nossos filhos, porque então nos
metemos na vida deles? Viva e deixe viver… ou viva e deixe morrer.
Sinonimo de anarquia. O mesmo pode ser dito pelos barões do narco-tráfico, pelos
terroristas, pelos agentes do crime organizado.
Lembro-me de uma correspondencia entre um leitor e o editor de uma revista sulafricana de má orientação, na qual o leitor escrevia cartas justificando o direito de
estuprar. Nao sei se o leitor era real ou fictício, mas a correspondencia abriu uma
perspectiva reveladora: o leitor escrevia sob um cognome, grape – que quer dizer uva,
em ingles, mas tambem a letra G seguida da palavra rape, que quer dizer estupro.
O argumento dele era assim: dizia que uma vez que ele tinha o poder físico fazer a ação
do estupro, era seu direito de faze-la. Poder é direito. O editor parecia dizer que não,
pois ele abusava do direito da vítima. Ele respondia que – em outras palavras - ele não
reconhecia o direito da vítima, pois o direito dele prevalecia. Ele não acreditava na
moral objetiva, mas somente na escolha individual.
É a lei da selva, onde a lei do mais forte prevalece. Algo semelhante acontece com o
aborto. A lei do mais forte prevalece e mata o mais fraco.
Este mesmo principio se aplica à promoção do homosexualismo hoje em dia, e mesmo
da pedofilia, consequencia natural do homesexualismo. Afinal de contas, o pedofilo é
apenas um homosexual que prefere perceiros bem mais jovens.
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É escandaloso, sem dúvida, mas trata-se da aplicação do mesmo princípio: moral
subjetiva. Se procurarem na internet, nao se espantem se encontrarem sites dedicados à
pedofilia, à necrofilia, à bestialidade.
E porque não? Já existe muitos sites promovendo o sadismo, o masoquismo, e toda
forma de aberração. É o caminho da Cultura da Morte, não só morte do corpo mas
especialmente a morte da alma. Não apenas a morte do indivíduo, mas também a morte
da família, a célula-mater da sociedade. Pois sem família não há sociedade, e a própria
Igreja é formada de famílias, que João Paulo II chamava de Igreja doméstica.
Mas a moral subjetiva não pára aí: assim que adquire poder, se impõe sobre o bem
comum, e aí vemos a ditadura do relativismo imperando.
Portanto, a luta pela vida não é apenas uma questão de defesa de um direito, mas uma
questão de sobrevivência da sociedade Cristã – ou do que resta dela.
Outros ainda dizem que o aborto deve ser permitido como ato moralmente legítimo em
caso de violência sexual, da qual uma gravidez resulta. É interessante notar a raridade
desses casos, especialmente em nossos dias em que a contracepção impera em meio à
promiscuidade sexual generalizada. Mesmo assim, por que um crime é proposto como
solução para outro crime?
Na Austrália há alguns anos tive uma discussão a esse respeito com algumas pessoas. A
fim de testar a coerencia deles – ou a falta de coerencia deles – sugeri que talvez se
pudesse justificar o aborto em casos de estupro, se o estuprador fosse executado
juntamente com o nascituro. Imediatamente, meus interlocutores protestaram que eu
estava sugerindo um crime para punir outro crime, porque o criminoso deve ter seu
direito à vida respeitado. Perguntei então porque o direito à vida do criminoso deve ser
respeitado, mas o de uma das vítimas não? Por que matar a criança inocente e deixar
viver o criminoso culpado?
Ora, oborto é a pena de morte contra os inocentes, para os quais direitos humanos não
existem.
Finalmente, outros dizem que a lei do aborto deve permanecer quando existe um
perigo para a saúde física ou psicológica da mãe. É humanitário, dizem. Filantrópico,
caridoso mesmo, terminar a gravidez, mesmo se é desejada, para salvar a vida da mãe.
Conheci um casal que desejava ter filhos, mas depois de dez anos, a esterilidade não os
deixava. A esposa fez um tratamento médico especializado e finalmente concebeu.
Alegria, contentamento, esperança. Infelizmente, teve um parto cesariano dificílimo, e
quase morreu. O médico disse que ela não poderia engravidar mais uma vez, pois
certamente morreria, juntamente com a criança.
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Tres anos depois, estava grávida. O médico sugeriu “terminar a gravidez”, pois ela
certamente morreria. Ela já tinha um filho para cuidar, e não podia correr o risco. A
pobre mulher se viu entre a espada e a parede. De uma lado, tinha medo de correr o
risco de morrer. Por outro lado, não podia consentir na idéia de dizer sim ao assassinato
do seu bebê ainda por nascer. A resposta dela foi tocante: doutor, o sr. é médico, faça o
que puder para salvar os dois. O médico deu com os ombros e disse, ‘muito bem, não
diga que não avisei’.
Nove meses depois, ele teve um parto cesariano ainda mais complicado do que o
primeiro, perdeu uma quantidade enorme de sangue, o nascituro precisou de cuidados
especiais para não morrer, mas, no fim, graças a Deus, ambos sobreviveram. Ela deu à
luz um menino, o qual cresceu e hoje é um homem, o qual está aqui tendo a honra de
lhes dirigir a palavra.
Escolhamos, pois a vida. Minha mãe escolheu.
A Bíblia. Sera que é a Biblia é suficiente para se decidir a respeito dos critérios de bem
e de mal? Muitos dizem sim, mas devo dizer não. A Bíblia sozinha, mesmo inerrante,
está sujeita às interpretações individuais dos pastores, dos pregadores, dos promotores
de seitas. Desde a Revolução luterana até hoje, os defensores da Biblia sem o
Magistério da Igreja se dividem e subdividem e se sub-subdividem em igrejas, seitas,
associações, congregações, cada um interpretando a Sagrada Escritura segundo lhes
parece melhor, ou segundo o que “o Espírito Santo lhe inspira”, como crêem. O
problema é que as contradições são tão aberrantes, que não é possível imaginar que o
divino Espirito Santo possa inspirar pessoas de modo contraditório.
Vejamos por exemplo, como não existe acordo entre pessoas que professam seguir a
Biblia sem o Magistério da Igreja: estão irremediavelmente divididos a respeito o
aborto, do homossexualismo, a fertilização in vitro, divórcio, a eutanásia, da pena de
morte, da poligamia, do sexo pre-matrimonial, etc. etc.; e vai por aí afora, para não falar
dos artigos de fé, onde existe uma cacofonia completa de crenças contraditórias.
Ora, como se pode dizer que a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, é o criterio
suficiente para se distinguir entre o bem do mal, se os que a interpretam brigam entre si
a respeito das respectivas interpretações?
Se esquecem de que Nosso Senhor Jesus Cristo não nos deu o Novo Testamento. Não.
Ele nos deu a Igreja, e a Igreja nos deu o Novo Testamento. Por isso, a Bíblia sozinha
não é suficiente. Querer a Bíblia sem o Magisterio da Igreja seria como dar um
exemplar da constituição brasileira a cada cidadão e esperar que todos saibam como
agir, sem governo, sem tribunais, sem legisladores, sem polícia. Resultado? Anarquia.
É exatamente o que tem acontecido nos ultimos quatro séculos entre as inúmeras
confissões protestantes.
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Quando vivia na Austrália, minha esposa e eu tinhamos um programa de rádio de linha
aberta, em que os ouvintes podiam telefonar e conversar conosco, tudo irradiado ao
vivo. Era o único programa desse tipo organizado por católicos.
Bem, um dia recebemos um pedido de um sacerdote, para que rezássemos a Deus para
que ele mitigasse a sêca que assolava a Austrália, a qual prejudicava enormemente a
economia do país. Naturalmente, concordei, e rezamos na rádio a oração que ele havia
mandado. Mas depois de ter rezado, peguntei: será que Deus Nosso Senhor estaria
agindo segundo nossos melhores interesses mitigando a sêca, fazendo cair uma boa
chuva, afim de melhorar nossa economia e nos dar bem estar, enquanto matamos cerca
de 100 mil crianças todos os anos? Por que Deus Nosso Senhor quereria nos dar
progresso material enquanto ofendemos a Ele publicamente, cometendo um crime que
brada aos céus por vingança?
O mesmo princípio se aplica ao Brasil. Cumprir a lei de Deus ensinada nos Dez
Mandamentos é o melhor modo de se garantir o progresso e o bem estar da nação.
Foi o papa João XXIII que me abriu os olhos para esta realidade. Na primeira encíclica
que ele escreveu, Ad Petri Cathedram, ele ensinou que hoje em dia existe uma espécie
de anti-decálogo, e dir-se-ia que o programa a seguir é de desobedecer
sistematicamente ao decálogo, aos dez mandamentos.
Assim, se o decálogo diz que não se deve matar, procura-se aprovar o aborto e a
eutanásia; se diz que nao deve roubar, apoia-se movimentos que tomas as possessões
dos outros e se impõem impostos excessivos sobre as classes produtoras; se diz que não
se deve pecar contra a castidade, promove-se a impureza, o nudismo, o
homosexualismo, e toda forma de promiscuidade sexual. Se diz que não se deve desejar
a mulher do próximo, a mídia glorifica o adultério; se diz que se deve amar a Deus
sobre todas as coisas, glorifica-se o homem e a total gratificação dos sentidos; se diz
que não se deve tomar seu santo nome em vão, filmes e peças de teatro e mídia em
geral não hesitam em blasfemar; se diz que se deve guardar os domingos e festas de
guarda, se trabalha e se negocia e se faz o que quer – exceto ir à Missa e ficar com a
família – nos domingos.
É o anti-decalogo.
Por outro lado, o efeito desse anti-decalogo sobre as novas gerações e simplesmente
catastrófico. A experiencia mostra que a influencia do meio ambiente é crucial para a
formação – ou deformação – da juventude. Quem nasce num país onde a promiscuidade
sexual é tida como normal, o desrespeito à mulher é moeda corrente, a contracepção e o
aborto são legais e tidos como direitos do indivíduo, a consequencia natural é que as
pessoas, especialmente os jovens, considerem que tudo aquilo é normal. Aqueles que
lutam contra o aborto são vistos como mentalidades obscuras que procuram impor seu
modo de pensar e agir sobre os outros.
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Nessas circumstancias, a imoralidade é a coisa mais comum, onde o nudismo ou quase
nudismo é o “normal” e a castidade é vista como “anormal”. A libertinagem moral
reina, e, como os métodos contraceptivos falham, a solução é o aborto. O inocente paga
pelo mal feito por outrem.
Quando o fundador do movimento Human Life International, o padre Paul Marx,
esteve aqui no Brasil pela primeira vez há uns 30 anos, ele olhou para as pessoas nas
ruas de algumas cidades brasileiras e disse, “é, parece que o sexto mandamento não
tem sido pregado neste país já há muito tempo…”
Na encíclica Evangelium Vitae, o papa analisa a Cultura das Morte, a qual involve tres
estágios: contracepção, aborto, eutanasia – Contracepção, aborto, eutanasia - é a lógica
da cultura da morte. E diz que… “Este horizonte de luzes e sombras deve tornar-nos, a
todos, plenamente conscientes de que nos encontramos perante um combate gigantesco
e dramático entre o mal e o bem, a morte e a vida, a « cultura da morte » e a « cultura
da vida ». Encontramo-nos não só « diante », mas necessariamente « no meio » de tal
conflito: todos estamos implicados e tomamos parte nele, com a responsabilidade
iniludível de decidir incondicionalmente a favor da vida.”
“Também para nós, ressoa claro e forte o convite de Moisés: « Vê, ofereço-te hoje, de
um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. (...) Coloco diante de ti a vida e a
morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua
posteridade » (Dt 30, 15.19).
“É um convite muito apropriado para nós, chamados cada dia a ter de escolher entre a
« cultura da vida » e a « cultura da morte ». Mas o apelo do Deuteronómio é ainda
mais profundo, porque nos chama a uma opção especificamente religiosa e moral.
Trata-se de dar à própria existência uma orientação fundamental, vivendo com
fidelidade e coerência a Lei do Senhor: « Recomendo-te hoje que ames o Senhor, teu
Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus preceitos, suas leis e seus
decretos. (...) Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua posteridade.”
Mas a Cultura da Morte não tem lugar com impunidade. O resultado final da prática
sistemática da contracepção, do aborto e da eutanásia traz consigo uma consequencia
trágica para toda a humanidade: a despopulação.
Quando nos lembramos que o primeiro mandamento que Deus deu aos homens não foi,
amar a Deus sobre todas as coisas, não, foi “crescei e multiplicai-vos, e enchei a
terra”.
A Europa é o exemplo mais característico dessa tragica realidade: os vários povos e
culturas da Europa não mais se renovam, pois o número de nascimentos é bem menor
do que o número de mortes. Pode-se esperar, se não houver nenhuma conversão radical,
que no fim deste século, os europeus se encontrarão na situação delicada de serem
minorias étnicas em seus próprios paises! E, como na natureza não existe vácuo, se um
cultura desaparece outra lhe toma o lugar.
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Que cultura ocupará o vazio deixado pelos europeus? A cultura maometana, resultado
da islamização da Europa.
Ha três anos, minha esposa e eu conversávamos com um sacerdote em seu escritorio na
Secretaria de Estado da Santa Sé. Ele nos confiou privadamente seu extreme receio de
que ou a Europa continua de algum modo cristã ou se tornará inteiramente maometana.
Não se pode conviver juntos em paz. O Islã não quer ecumenismo, quer dominação.
Isso nos foi dito reservadamente, há três anos, hoje e afirmado publicamente: o padre
alemão Georg Gaenswein, o qual é secretário particular do papa Bento XVI, alertou a
comunidade internacional a respeito da ameaça da islamização da Europa. Em
entrevista ao jornal alemao Süddeutsche Zeitung de26 July 2007, declarou: “Não se
deve ignorar as tentativas de islamização da Europa, e a Igreja Católica vê este perigo
com clareza. Isto representa o grande risco para a identidade européia”.
Nao me surpreenderia se o papa Bento XVI convocou o ano de São Paulo tendo esta
perpectiva em mente.
Escolhe, pois, a vida.
O Brasil tem a população católica mais numerosa do mundo. Se é verdade que o
problema da islamização não é aparente aqui entre nós como o é na Europa, a
islamização do velho continente representa uma tragédia de proporções apocalípticas,
pois estamos seguindo o mesmo caminho: contracepção, aborto, eutanásia. A cultura da
morte.
Estamos na Quaresma. Nela rezamos a Via Sacra. Nela contemplamos a estação em que
a face santísissima do Salvador ficou estampada no véu de Veronica. No Véu, a
representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica,
Apostólica, Romana ela é feita como num espelho.
Em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua
universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no
qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de
Cristo.
E nós, todos nós, temos a graça de pertencer à Igreja, de sermos pedras vivas da Igreja!
Como devemos agradecer este favor! Não nos esqueçamos, porém, todos nós, bispos,
padres, religiosos e leigos, de que noblesse oblige. Pertencer à Igreja é coisa muito alta
e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir
como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto
supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma
piedade profunda e sincera. Em outros termos, supõe o sacrifício de uma existência
inteira.
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E qual é o prêmio? Christianus alter Christus. Seremos de modo exímio uma
reprodução do próprio Cristo. A semelhança de Cristo se imprimirá, viva e sagrada, em
nossas próprias almas.
No primeiro parágrafo do documento que definiu o contexto deste congresso, se
afirma que… “A questão do aborto e da defesa da vida está no momento entre as mais
graves ameaças que a Igreja enfrenta. Apesar disto, encontros mantidos com as
autoridades da Igreja têm revelado uma ausência de conhecimento praticamente
completa por parte da hierarquia em relação aos aspectos relevantes do tema. A
Igreja ignora a extensão de suas causas e sua verdadeira gravidade. Pode-se dizer que
no momento atual o problema é reconhecido pela hierarquia apenas do ponto de vista
do doente, ignorando-o completamente do ponto de vista do médico. A realidade desta
relação da Igreja para com o problema constitui parte essencial e integrante do
problema.”
Em outras palavras, a Igreja, liderada pela Sagrada Hierarquia, deve fazer parte
da solução, e não do problema.
E no penúltimo parágrafo se diz:
“Isto significa que, a menos que os estrategistas da Cultura da Morte sejam
ingênuos, e eles já mostraram que não o são, após a legalização do aborto na América
Latina, estes serão obrigados a voltarem todos os seus recursos para o trabalho de
desfiguração ou destruição da Igreja Católica. Por trás do problema do aborto ocultase muito mais do que a defesa da vida de milhões de inocentes. A Igreja Católica e a
Cultura da Morte não podem coexistir em um mesmo mundo, e a Cultura da Morte já
tem consciência deste dado. Se a defesa da vida, um tema que todos os homens tem
condições de entender, é considerada por muitos prelados como batalha perdida e
inútil, que irão eles fazer quando os mesmos recursos ou até maiores forem
mobilizados contra a própria Igreja, a qual nem a todos é dado compreender?”
Alhures o documento afirmou com sabedoria e objetividade que “A Igreja
Católica tem como obrigação, derivada de sua própria criação, exterminar
a Cultura da Morte.”
Escolher a vida não é apenas evitar o aborto, mas lutar contra a Cultura da Morte,
exterminar a Cultura da Morte. E por quê? Porque entre Deus e o demônio, entre o
bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo, irreconciliável, eterno. As
trevas odeiam a luz, os filhos das trevas odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e
outros durará até a consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da Mulher
e a raça da Serpente.
E toda a História do mundo, toda a História da Igreja não é senão esta luta inexorável
entre os que são de Deus e os que são do demônio, entre os que são da Virgem e os que
são da serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência, nem só fraqueza,
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mas também maldade, maldade deliberada, culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e
humanas que seguem a Satanás.
Eis o que precisa ser dito, comentado, lembrado, acentuado, proclamado, e mais uma
vez lembrado na quaresma. Pois que somos tais, e o liberalismo a tal ponto nos
desfigurou, que estamos sempre propensos a esquecer este aspecto imprescindível da
realidade de nossos dias.
Peçamos à Virgim Santíssima, cujo calcanhar esmagou e sempre esmagará a cabeça da
serpente, que interceda por todos nós afim de seus Filho divino nos perdoe toda a
cegueira com que temos considerado a obra da cultura da morte que se trama em redor
de nós.
Pois não é bem verdade que, hoje em dia, o Vigário de Cristo é desobedecido,
abandonado, traído? Não é bem verdade que as leis, as instituições, os costumes são
cada vez mais hostis a Jesus Cristo? Não é bem verdade que se constrói todo um
mundo, toda uma civilização baseada sobre a negação de Jesus Cristo? Não é bem
verdade que Nossa Senhora falou em Fátima apontando todos estes pecados e pedindo
penitência?
Entretanto, onde está essa penitência? Quantos são os que realmente vêem o pecado e
procuram apontá-lo, denunciá-lo, combatê-lo, disputar-lhe passo a passo o terreno,
erguer contra ele toda uma cruzada de idéias, de atos, de viva força se necessário for?
Quantos são capazes de desfraldar o estandarte da ortodoxia absoluta e sem jaça, nos
próprios lugares onde pompeia a impiedade, ou a piedade falsa? Quantos são os que
vivem em união com a Igreja este momento que é trágico como trágica foi a Paixão,
este momento crucial da História, em que uma humanidade inteira está escolhendo por
Cristo ou contra Cristo?
Ah, meu Deus, quantos míopes que preferem não ver nem pressentir a realidade que
lhes entra olhos adentro! Quanta calmaria, quanto bem-estar miúdo, quanta pequena
delícia rotineira! Quanto saboroso prato de lentilhas a comer!
Peçamos a Jesus a graça de não ser deste número. A graça de seguir o conselho dado
pelo grande profeta Moisés, que disse, escolhe, pois, a vida. Isto é, de lutar para
exterminar a cultura da morte. Sigamos o exemplo do grande profetas Elias, o qual
disse a Deus, Zelo zelatus sum pro dominus Deus exercituum, que estava cheio de zelo
pelo Senhor Deus dos Exercitos, e combateu o bom combate contra a cultura da morte
em seu tempo. Ambos Moises e Elias apareceram juntos do Salvador no grande dia da
transfiguração.
Escolhe pois a vida é um lema profético. Ou estamos no exercito da Virgem ou no
exercito da serpente. Nao existe objeção de conciencia nesta luta, nao existe neutros, ou
se é quente, ou frio. Os mornos são vomitados da bocade Nosso Senhor (Apoc. 3:15).
Também para nós, ressoa claro e forte o convite de Moisés: « Vê, ofereço-te hoje, de
um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. (...) Coloco diante de ti a vida e a
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morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua
posteridade » (Dt 30, 15.19). É um convite muito apropriado para nós, chamados cada
dia a ter de escolher entre a « cultura da vida » e a « cultura da morte ».
Escolhamos, pois, a vida. E lutemos para exterminar por todos os meios legais, a
cultura da morte. E, certamente se posde dizer que o primeiro passo para a promoção da
Cultura da Vida seja um esforço comprometido e sistemático da Igreja para se pregar a
virtude da castidade, sem a qual a gravidez indesejada e o aborto não são senão
consequencias da promiscuidade sexual.
“Também para nós, ressoa claro e forte o convite de Moisés: « Vê, ofereço-te hoje, de
um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. (...) Coloco diante de ti a vida e a
morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua
posteridade » (Dt 30, 15.19).
Escolhe, pois, a vida.
(A série de 13 palestras dadas pelo Sr. Raymond de Souza sobre o bem e o mal e já irradiadas
internacionalmente pela rede de televisão EWTN hoje se encontram disponíveis em formato DVD e
podem ser encontradas no site www.SaintGabriel-International.com )