Murilo de Amorim Costa - Teses e Dissertações
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Murilo de Amorim Costa - Teses e Dissertações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO-ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA CONCEPÇÃO, PROJETO E ANÁLISE GEOTÉCNICA DA BARRAGEM DE CONTENÇÃO DE REJEITOS AURÍFEROS DE CALCINADOS AUTOR: MURILO AMORIM COSTA ORIENTADOR: Dr. Romero César Gomes Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geotecnia Aplicada a Mineração Ouro Preto, Junho de 2006. Para que vislumbremos um mundo brilhante, mais alegre e humano, é preciso subir a montanha, percorrer extenso e, muitas vezes, doloroso caminho. Somos convidados a não nos deter no que há de penoso na subida, mas contemplar o cume da montanha. A glória só pode ser conquistada depois de longa caminhada e com muita dedicação. ii iii C837c Costa, Murilo de Amorim. Concepção, projeto e análise geotécnica de contenção de rejeitos auríferos de calcinado [manuscrito]. / Murilo de Amorim Costa - 2006. xiv, 102f. : il. color.; graf.; tabs., mapas. Orientador: Prof. Dr. Romero César Gomes. Área de concentração: Geotecnia Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil. Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil. . 1. Beneficiamento de minérios - Teses. 2. Minérios de ouro Teses. 3. Refugos -Teses. 4. Monitoramento ambiental - Teses I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Catalogação: [email protected] iv AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, que me permitiu a vida, os sonhos e por mais esta caminhada repleta de alegrias, esperanças e novas amizades; A Denise e Matheus, amigos e família de minha vida, presentes em todos os desafios e que sempre torcem por mim; Aos meus pais, pela educação, confiança e carinho; Ao Professor Romero, pela coordenação do curso e pela brilhante orientação deste trabalho, bem como pelo incentivo, dedicação e paciência; Ao Rodrigo Vilela, por compartilhar e impulsionar o meu sonho; A Anglogold Ashanti, pela oportunidade de realização deste trabalho; Aos amigos mestrandos, pelas horas de estudo, companheirismo e conhecimentos compartilhados; Em especial aos mestrandos Roberto Filgueiras, Maurício, Alexandre e Gleydson pelo apoio nas horas de fraqueza e dificuldades e pelas inúmeras noites de estudo em conjunto; Ao colega Élcio Barbosa, pelas informações repassadas, pela amizade e pelo vasto material de referência bibliográfica disponibilizado; A UFOP e CEMIG pela estrutura do curso; Aos professores, pelo conhecimento e experiências transmitidas; Aos amigos de trabalho, obrigado pelas inúmeras ajudas; A secretária do Curso de Mestrado Profissionalizante, Tainara, pela simpatia, dedicação, atenção e disponibilidade; v RESUMO Este trabalho visa estabelecer uma avaliação global das condições de estabilidade e dos sistemas de controle e monitoramento da Barragem de Calcinados, projetada para acumular rejeitos de minério aurífero depois do processo de ustulação, traçando um paralelo entre as condições de estabilidade para geometria original (alteamento pela linha de centro) e a geometria atual (alteamento para jusante), além de apontar as principais vantagens e desvantagens oriundas da modificação da geometria da barragem original.A Barragem de Calcinados pertence a Anglogold Ashanti Mineração Ltda e está situada no município de Nova Lima. Inicialmente, procedeu-se a um amplo levantamento dos procedimentos e critérios adotados nas fases de projeto e construção da barragem e uma avaliação geral das condições de funcionamento dos piezômetros e medidores de nível d’água instalados na barragem. Foram processadas as análises de estabilidade do maciço da barragem considerando-se as condições normais de operação e algumas simulações foram processadas a fim de se verificar a estabilidade a época do encerramento das operações (fechamento).Nestas análises, foi utilizado o programa SLOPE/W, adotando-se os parâmetros geotécnicos obtidos através dos ensaios de laboratório executados no ano de 1994, após oito anos de construção do maciço com rejeitos ciclonados. Os dados de entrada das análises de estabilidade foram tomados adotando-se a linha freática coincidente com a linha piezométrica, obtida através da instrumentação instalada. Os resultados obtidos demonstram para a condição de operação atual uma condição de estabilidade confortável, mas demonstra também que para época do fechamento, outras medidas estabilizadoras far-se-ão necessárias.O estudo comprovou a eficiência da piezometria instalada e do sistema de drenagem interna,amplamente favoráveis a estabilidade global.Adicionalmente, propõe-se um sistema de controle baseado em vi Carta de Risco, estabelecida em termos de valores de referência admissíveis para as leituras piezométricas. A metodologia proposta mostra-se bastante adequada para a barragem analisada e deverá ser implementada nas demais estruturas de contenção de rejeitos do Grupo Anglogold Ashanti no continente Sul Americano. vii ABSTRAT The aims of this paper are establishing the global evaluation of the stability conditions and the control systems; monitoring the Calcine Dam designed for accumulating tailings gold after the roasting process by contrasting the original design (center line raise) to the current design (downstream raise); and showing the main advantages and disadvantages gained with the original design modifications. The Calcine Dam belongs to Anglogold Ashanti Mineração Ltda and it is located in Nova Lima, Minas Gerais, Brazil. At first, we made a data search on the procedures and criterions adopted for the dam design development and also for its construction, evaluating the operation conditions of the piezometers installed in the wall. The wall stability analysis has been made considering the normal operations conditions and some simulations had been made aiming the stability during the dam shutting. The SLOPE/W program was used for these analysis adopting the geothecnics obtained from the laboratory tests made in 1994, eight years after the wall construction where cicloned tailings were used. The input items for stability analysis were taken allowing a freatic line to be coincident with a piezometric line obtained by the installation of monitor instruments. The results show that for the current operation conditions a rather comfortable stability condition but they also show that in the future, more work will be necessary to maintain a satisfactory scenario. This study reassured the efficiency of the piezometry instruments as well as the internal drainage system, which is very good for stabilizing the dam. Furthermore, it suggests a control system, which is based on Risk Letter and set up in value references enabling piezometrics reading. viii The methodology proposed is appropriate for the dam studied and should be implemented in the other tailing structures from the Group Anglogold Ashanti in South America. ix Índice 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1 1.1 Proposta do Trabalho....................................................................................... 1 1.2 Metodologia e Fases do Estudo....................................................................... 3 1.3 Estruturação da dissertação.............................................................................. 4 2 GÊNESE, PROCESSAMENTO E GERAÇÃO DE REJEITOS DE OURO NA PLANTA INDUSTRIAL DO QUEIROZ............................................................... 6 2.1 Localização e Acesso....................................................................................... 6 2.2 Geologia Regional............................................................................................ 7 2.3 Distrito Aurífero de Nova Lima....................................................................... 9 2.4 Geologia e Gênese do Ouro na Mina de Cuiabá.............................................. 12 2.5 Processamento do Minério de Ouro na Planta do Queiroz.............................. 16 2.6 Sistema de Disposição de Rejeito da Planta do Queiroz................................. 22 2.6.1 Barragem do Cocuruto........................................................................... 25 2.6.2 Barragem do Rapaunha.......................................................................... 27 2.6.3 Barragem de Calcinados........................................................................ 28 2.6.4 Valas de Lama de Arsenato Férrico....................................................... 30 2.6.5 Instrumentação das Barragens e Valas................................................... 31 3 CONCEPÇÃO E PROJETO DA BARRAGEM DE CALCINADOS............. 34 3.1 Concepção Geral da Barragem......................................................................... 34 3.2 Mudanças da Geometria da Barragem............................................................. 36 3.3 Estudos Geológicos e Geotécnicos das Fundações da Barragem.................... 38 3.4 Estudos Hidrológicos....................................................................................... 40 3.5 Instrumentação da Barragem........................................................................... 41 3.6 Sistema de Drenagem Interna e Análises de Percolação................................. 43 3.6.1 Análises de Percolação das Águas do Reservatório de Calcinados....... 44 3.6.2 Análises de Percolação pelo Talude de Jusante..................................... 48 4 DIAGNÓSTICO E CONDIÇÕES OPERACIONAIS ATUAIS DA BARRAGEM DE CALCINADOS................................................................................................... 55 4.1 Disposição e Quantidades de Rejeitos............................................................. 55 x 4.2 Barragem e Obras Auxiliares........................................................................... 57 4.2.1 Sistema Extravasor................................................................................. 60 4.2.2 Dique de Proteção das Balas.................................................................. 61 4.2.3 Proteção do Talude de Jusante............................................................... 62 4.3 Ensaios de Recuperação do nível D’água........................................................ 63 4.3.1 Metodologia do Teste.............................................................................. 65 4.3.2 Resultados dos Ensaios de Recuperação................................................ 67 5 ANÁLISES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE JUSANTE DA BARRAGEM DE CALCINADOS................................................................................................... 71 5.1 Considerações Iniciais...................................................................................... 71 5.2 Análises de Estabilidade.................................................................................. 72 5.2.1 Condição Atual e Elevação do NA - Geometria Atual.......................... 73 5.2.2 Condição Atual e Elevação do NA - Geometria Original...................... 78 5.2.3 Condição Final e Elevação do NA de Jusante - Geometria Atual......... 81 5.2.4 Condição Final e Elevação do NA de Jusante - Geometria Original..... 82 5.2.5 Condição Atual - Geometria Atual Estabilizada.................................... 83 5.3 Cartas de Risco para a Barragem de Calcinados.............................................. 87 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES......................................................................... 92 6.1 Considerações Finais........................................................................................ 92 6.2 Conclusões....................................................................................................... 94 6.3 Sugestões Finais............................................................................................... 99 7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.................................................................... 101 ANEXOS Anexo “A” “B” “C” “D” “E” “F” “G” “H” “I” “J” Análise de Estabilidade Complementar Ensaios de Recuperação dos Piezômetros Plano de Produção Gráfico de Massa Depositada Produção de Minério Gráfico Piezometria Pluviometria Geometrias Volume de água Percolada Massa de Rejeitos xi Lista de Figuras Figura 2.1 Localização da Planta Industrial do Queiroz (AngloGold Ashanti)........ 6 Figura 2.2 Mapa representativo das principais feições morfoestruturais do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Dorr, 1969)......................................................................... 8 Figura 2.3 Mapa Geológico do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais com a localização das Principais Minas de Ouro da AngloGold Ashanti................................................ 10 Figura 2.4 Mapa Geológico da Mina de Cuiabá (Vial e Vieira, 2002)..................... 12 Figura 2.5 BIF com corpo Sulfetado tipo I em zona de cisalhamento...................... 14 Figura 2.6 BIF com corpo sulfetado tipo II em veio de quartzo............................... 14 Figura 2.7 Fluxograma da Planta de Beneficiamento de Ouro de Queiroz.............. 18 Figura 2.8 Histórico de Toneladas de Minério processadas na Planta do Queiroz (Circuito Cuiabá e Queiroz)........................................................................................ 22 Figura 2.9 Sistema de Disposição de Rejeitos da Planta do Queiroz....................... 24 Figura 2.10 Vista Geral da Barragem do Cocuruto.................................................. 26 Figura 2.11 Vista Geral da Barragem do Rapaunha................................................. 27 Figura 2.12 Vista geral das Barragens de Calcinados e de Rapaunha...................... 28 Figura 2.13 Vala “D” de deposição de lama arsenical.............................................. 31 Figura 3.1 Arranjos e Geometrias da Barragem de Calcinados................................ 35 Figura 3.2 Curvas cotas – volumes (projeto e geometria atual) da barragem de Calcinados................................................................................................................... 42 Figura 3.3 Seção instrumentada (piezométrica) da Barragem de calcinados........... 43 Figura 3.4 Rede de Fluxo para a Barragem de calcinados: Dique de partida sob Reservatório Pleno e Fundação Impermeável............................................................. 45 Figura 3.5 Rede de fluxo para a Barragem de Calcinados: Dique de partida sob Reservatório Pleno e Fundação Permeável................................................................. 46 Figura 3.6 Rede de fluxo para a Barragem de Calcinados: Dique de partida sob Reservatório Pleno e Fundação Permeável e Depósito de rejeitos Ciclonados à Montante................................................................................................................... 47 Figura 3.7 Rede de Fluxo para o talude de Jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 814,0m (seção Transversal Principal)..................................................................................................................... xii 48 Figura 3.8 Rede de Fluxo para o talude de Jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 814,0m (seção a 10m da seção principal)..................................................................................................................... 49 Figura 3.9 Rede de Fluxo para o talude de Jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 824,0m (Seção Transversal principal)..................................................................................................................... 51 Figura 3.10 Rede de Fluxo para o talude de Jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 824,0m (seção a 10m da seção principal)..................................................................................................................... 51 Figura 4.1 Barragem de Calcinados: lançamentos dos rejeitos em forma de polpa. 56 Figura 4.2 Geometria atual e vista geral da Barragem de Calcinados...................... 59 Figura 4.3 Dique de proteção do sistema de bombeamento..................................... 61 Figura 4.4 Sistema de Bombeamento e recirculação de água................................... 62 Figura 4.5 Proteção com cobertura vegetal do talude de jusante.............................. 63 Figura 4.6 Piezômetro Casagrande instalados na Barragem de calcinados.............. 65 Figura 4.7 Checagem das elevações da instrumentação........................................... 66 Figura 4.8 Teste de recuperação do nível d’água dos Piezômetros.......................... 67 Figura 4.9 Curva do teste de recuperação do nível d’água do Piezômetro PZ-02.... 69 Figura 5.1 Análise de Estabilidade para Geometria atual e NA atual....................... 74 Figura 5.2 Análise de Estabilidade para projeto atual e linha Freática a + 5,0m...... 75 Figura 5.3 Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 8,0m... 76 Figura 5.4 Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 10,0m. 77 Figura 5.5 Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 15,0m. 77 Figura 5.6 Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 18,0m. 78 Figura 5.7 Análise de Estabilidade para Projeto Original com linha Freática Atual 79 Figura 5.8 Análise de Estabilidade para Projeto Original e Linha Freática a + 18,0m..................................................................................................................... 80 Figura 5.9 Análise de Estabilidade para Projeto Original e Linha Freática a + 18,0m..................................................................................................................... 80 Figura 5.10 Análise de Estabilidade para Geometria Atual e NA Final................... 82 Figura 5.11 Análise de Estabilidade para Geometria Original e NA Final............... 83 xiii Figura 5.12 Barragem de Calcinados com Bermas de Estabilização........................ 84 Figura 5.13 Análise de Estabilidade para a Barragem com Bermas de Estabilização (Linha Freática a + 15,0m).......................................................................................... 85 Figura 5.14 Análise de Estabilidade para a Barragem com Bermas de Estabilização (Linha Freática a + 18,0m).......................................................................................... 86 Figura 5.15 Carta de Risco da Barragem de Calcinados........................................... 91 xiv Lista de Tabelas Tabela 2.1 Composição Mineralógica dos Litotipos da área da Mina Cuiabá.......... 13 Tabela 2.2 Dados de produção de ouro na Planta Industrial do Queiroz................. 21 Tabela 2.3 Características Gerais das Barragens da Planta do Queiroz.................... 25 Tabela 2.4 Relação dos Instrumentos Instalados nos Sistemas de Disposição de Rejeitos da Planta do Queiroz..................................................................................... 32 Tabela 3.1 Características gerais da Barragem de Calcinados.................................. 34 Tabela 3.2 Volumes para construção do Maciço com rejeitos ciclonados................ 37 Tabela 3.3 Dados das redes de percolação dos drenos da figura 3.8........................ 50 Tabela 3.4 Dados das redes de percolação dos drenos da figura 3.10...................... 52 Tabela 4.1 Quantidades de rejeitos depositados no maciço e no reservatório da Barragem de Calcinados............................................................................................. 57 Tabela 4.2 Resultado do Ensaio de Recuperação do NA – Instrumento PZ-02........ 67 Tabela 5.1 Parâmetros Geotécnicos Utilizados nas Análises de Estabilidades......... 72 Tabela 5.2 Dados Comparativos dos Valores de FS para as condições Atuais (Geometria Atual x Geometria Original).................................................................... 81 Tabela 5.3 Valores de FS para a Barragem de Calcinados....................................... 87 Tabela 5.4 Leituras Piezométricas para níveis de Alerta e Emergência.................. 88 Tabela 5.5 Planilha de Controle das Leituras Piezométricas - Barragem de Calcinados................................................................................................................... xv 89 CAPÍTULO 1 1 - INTRODUÇÃO 1.1 Proposta do Trabalho A região do município de Nova Lima nasceu, cresceu e se desenvolveu graças às atividades de mineração do ouro, presentes na região desde 1725, com o início das explorações da Mina de Morro Velho. O desenvolvimento urbano ocorreu nas proximidades da área industrial e hoje estas duas áreas convivem no mesmo ambiente. Em função da proximidade dos núcleos populacionais e das exigências ambientais atuais, as estruturas de mineração requerem maior atenção e adoção de procedimentos mais conservadores em termos de segurança. A Anglogold Ashanti Mineração possui atualmente na região duas áreas industriais, sendo uma no centro do município, atualmente com as operações paralisadas e outra no Bairro do Galo, cerca de seis quilômetros da primeira, denominada Planta Industrial do Queiroz, onde são processados os minérios das minas atualmente em operação e dispostos os rejeitos gerados. O sistema de deposição de rejeitos é composto por três barragens e cinco valas de lama, localizados no vale do Queiroz, na bacia hidrográfica do Rio das Velhas. Este trabalho teve por objetivo principal analisar as condições operacionais atuais da Barragem de Calcinados, bem como simular as condições de estabilidade para época de desativação do sistema, traçando um paralelo entre as duas geometrias, a que conforma atualmente a barragem (alteamento para jusante) e outra que foi aquela do projeto original (alteamento pela linha de centro) e que fora modificada após alguns anos de operação. Este trabalho também avaliou a confiabilidade do sistema de instrumentação e analisou as principais vantagens e desvantagens, resultantes da mudança da geometria da 1 barragem. Para as análises de estabilidade, foi utilizado o programa de computador SLOPE/W, comercialmente disponível. A Barragem de Calcinados abriga em seu reservatório os rejeitos provenientes do processo de ustulação, caracterizados como não inertes, da planta de pirometalurgia do minério sulfetado da Mina de Cuiabá. O estudo foi desenvolvido nas seguintes etapas: - avaliação do anteprojeto e do projeto original da barragem com a geometria definida para alteamentos por linha de centro, com a caracterização dos dados construtivos; - avaliação da confiabilidade da instrumentação instalada; - análises de estabilidade do talude de jusante, definindo níveis de controle em função de faixas pré-definidas de fatores de risco; - análises de estabilidade do talude de jusante para a geometria original para compará-las com as análises para a geometria atual. Numa abordagem específica, foram as seguintes as atividades desenvolvidas neste estudo: ● revisão bibliográfica dos relatórios emitidos durante as fases de anteprojeto, projeto executivo e construção da Barragem de Calcinados; ● identificação das características construtivas da barragem e definição dos parâmetros geotécnicos adotados; ● apresentação dos dados da instrumentação da barragem; ● execução de testes de avaliação de confiabilidade dos instrumentos instalados no maciço; ● cálculo de estabilidade do talude de jusante da barragem para a geometria atual e para a geometria original; ● definição da carta de risco para a Barragem de Calcinados, com base nos valores de referência para as leituras piezométricas dos instrumentos da barragem, em termos de níveis de normalidade, atenção e emergência; ● análise comparativa das análises de estabilidade para as duas geometrias estudadas; 2 ● implementação da metodologia de controle e monitoramento estabelecida no presente trabalho para as demais estruturas de contenção de rejeitos do grupo Anglogold Ashanti no continente Sul Americano. 1.2 Metodologia e Fases do Estudo Como etapa preliminar dos estudos, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica geral dos documentos técnicos existentes na Anglogold Ashanti Mineração, associados ao anteprojeto, projeto executivo e construção da Barragem de Calcinados e inspeções de campo e de auditorias para avaliação das condições de operação, monitoramento e manutenção da estrutura geotécnica. Para avaliação da confiabilidade da instrumentação instalada, foram executados testes de funcionabilidade dos piezômetros e dos medidores de nível d’água, que constituíram basicamente no processo de enchimento dos mesmos com água e cronometragem do tempo até a estabilização da coluna d´ água nos mesmos. A partir da constatação da eficiência dos instrumentos e tomando os dados da geometria da barragem, natureza e parâmetros geotécnicos dos materiais empregados na construção, extraídos de relatório técnico de análises de resultados de ensaios de laboratório, teve início os trabalhos de análises de estabilidade do talude de jusante, inicialmente para a geometria atual e, posteriormente, para a geometria original da barragem. Foi utilizado o programa computacional SLOPE-W, desenvolvido pelo Geo-Slope International Ltd do Canadá, aplicando-se o método de Spencer, que satisfaz as condições de equilíbrio de forças e de momentos. As pressões de água no corpo do maciço e da fundação foram obtidas considerando-se a linha freática coincidente com a linha piezométrica obtida através da instrumentação instalada. 3 Mediante estas análises, foram definidos os níveis de segurança e a Carta de Risco da Barragem, através de valores limites adotados para as leituras piezométricas de referência. Os critérios dos controles foram expressos por: FS > 1,50 – Condição Normal; mobilização de 67% da resistência 1,30 < FS > 1,50 – Condição de Nível de Alerta ;mobilização da resistência entre 67% e 76% FS < 1,30 – Condição de Nível de Emergência; mobilização acima de 76% da resistência. 1.3 Estruturação da Dissertação Este trabalho é subdividido em 6 Capítulos, incluindo-se um capítulo de introdução, 5 capítulos relativos ao desenvolvimento do tema e um último para conclusões e sugestões para pesquisas complementares. No Capítulo 1, apresenta-se uma exposição resumida do escopo e dos objetivos do trabalho, sistematizando-se a metodologia e as fases dos estudos propostos, bem como o plano de estruturação geral da dissertação. No Capítulo 02, faz-se uma abordagem geral do Distrito Aurífero da Região de Nova Lima, destacando a sua localização e dados da Planta Metalúrgica do Queiroz. Neste capítulo, são abordados também os temas relacionados à geologia regional, a caracterização da área onde está inserida a planta de beneficiamento e o sistema de disposição de rejeitos da planta metalúrgica. Este capítulo discorre ainda sobre uma revisão bibliográfica a respeito de alguns conceitos e particularidades relacionadas às barragens de rejeitos, no tocante aos métodos adotados para o alteamento dessas estruturas, a conceituação e a importância da drenagem interna e externa, bem como discorre sobre as características gerais das barragens e valas de lama do sistema de disposição de rejeitos e do sistema de instrumentação das estruturas. Neste capítulo descreve-se os principais aspectos do processo de beneficiamento industrial do minério aurífero e geração de rejeitos. No Capítulo 03, relata-se especificamente os aspectos gerais da Barragem de Calcinados, incluindo-se a descrição das principais feições características da geologia 4 local, histórico, dados hidrológicos, parâmetros geotécnicos dos materiais de construção e fundação e a metodologia construtiva. Neste capítulo também, faz-se uma análise do projeto original da barragem, com a geometria de alteamento pela linha de centro, traçando um diagnóstico a respeito das análises de estabilidade estudadas à época da concepção do projeto, tanto para barragem inicial , de pé e final. Neste capítulo também são relatados os estudos realizados para a fundação e o sistema de drenagem interna da Barragem de Calcinados, onde se procurou relatar em detalhes todas as possibilidades de percolação de águas através do maciço da barragem, bem como sobre o sistema de drenagem interna construído. No Capítulo 04, aborda-se o diagnóstico atual da barragem como estrutura de contenção de rejeitos, sendo descritos os principais aspectos do processo de beneficiamento industrial do minério aurífero e a geração de rejeitos, a metodologia construtiva do maciço, o sistema de segurança da barragem, o sistema de recirculação de águas, a proteção do talude de jusante e os testes de eficiências dos instrumentos de monitoramento da estrutura. No Capítulo 05, são realizadas as análises de estabilidade do talude de jusante da Barragem de Calcinados, incluindo-se simulações de casos específicos de estudos e traçando-se um paralelo entre a geometria original e a atual, no diagnóstico dos coeficientes de segurança encontrados. Adicionalmente, estabelece-se a Carta de Risco da barragem, bem como a definição dos níveis de controle da mesma em termos das situações de normalidade, alerta e emergência. No Capítulo 06, São apresentadas as principais conclusões deste trabalho em relação à Barragem de Calcinados, em termos de diagnóstico atual e futuro (época de desativação do sistema) de suas condições operacionais, quanto aos registros da instrumentação geotécnica e quanto às análises de sua estabilidade. Enfatizou-se também as principais vantagens e desvantagens provocadas pela mudança da geometria construtiva bem como a influência do nível da barragem próxima de Cocuruto sobre a de Calcinados. Finalmente, são feitas algumas sugestões de pesquisas e estudos complementares. 5 CAPÍTULO 2 2 – GÊNESE, PROCESSAMENTO E GERAÇÃO DE REJEITOS DE OURO NA PLANTA INDUSTRIAL DO QUEIROZ. 2.1 – Localização e Acessos A Planta Industrial do Queiroz está situada no Município de Nova Lima/MG, próximo à divisa com o Município de Raposos, em região da Bacia Hidrográfica do Córrego do Queiroz, afluente do Rio das Velhas (Figura 2.1), na região do chamado Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Figura 2.1 – Localização da Planta Industrial do Queiroz (AngloGold Ashanti). A Planta Metalúrgica do Queiroz possui uma área útil de 480.000 m2, incluindo, além da planta de beneficiamento industrial propriamente dita, três barragens e cinco valas para disposição de rejeitos. O acesso ao empreendimento, partindo-se de Belo 6 Horizonte, pode ser feito através da rodovia MG-030, que liga Nova Lima a Belo Horizonte a uma distância aproximada de 30 km. A planta possui duplo circuito, denominado Cuiabá-Raposos, alimentado pelo minério da Mina de Cuiabá, transportado por meio de um teleférico com 15 km de extensão e capacidade nominal instalada de 830.000 toneladas de minério por ano. A produção média mensal (2005) é de 515 kg de ouro, 60 kg de prata e 12.000 toneladas de ácido sulfúrico. O circuito Raposos é alimentado por minérios de minas menores do entorno de Nova Lima e está atualmente paralisado. No circuito de Cuiabá, cujo minério manifesta a presença de grafite que reduz a recuperação do ouro no processo industrial, foi necessário introduzir a tecnologia de ustulação, que queima a grafite e permite uma maior recuperação do ouro. Uma vez que o processo de ustulação retém os gases de SO2, foi viabilizada a construção de uma fábrica de ácido sulfúrico. Parte do material resultante da ustulação volta para receber o processo de cianetação, e os resíduos são encaminhados para Barragem de Calcinados e valas de lama arsenical. Estes processos são detalhados em itens subseqüentes deste capítulo. 2.2 – Geologia Regional O Quadrilátero Ferrífero compreende uma área de 7.200 km2, localizada na porção centro-sul do estado de Minas Gerais. Em face à ocorrência de grandes depósitos minerais, particularmente de ferro, ouro e manganês, e pelas características específicas em termos geológicos, à região tem sido alvo, desde o Século XVIII, de diversos estudos e pesquisas. Desde os estudos pioneiros realizados por Derby (1906), diversos pesquisadores buscaram detalhar e reinterpretar a estratigrafia regional da área, destacando-se os trabalhos Guimarães (1931), Dorr (1969), Ladeira (1980), Alkmin et al. (1988) e Endo (1997). O Quadrilátero Ferrífero é composto por três unidades litoestratigráficas (Castro, 2004). A primeira unidade é formada pelo Complexo Metamórfico, que contém o embasamento cristalino, seguido de seqüências vulcano-sedimentares do tipo 7 greenstone belt, representadas pelo Supergrupo Rio das Velhas. A terceira unidade, sobreposta discordantemente às outras duas, constitui as seqüências plataformais do proterozóico inferior, que correspondem ao Supergrupo Minas, Grupo Sabará e Grupo Itacolomi, sobrepostas por coberturas sedimentares mais recentes, que constituem as Bacias do Gandarela e Fonseca. O Supergrupo Rio das Velhas, de ocorrência regional na área do empreendimento, é constituído por rochas metavulcânicas e metassedimentares sobrepostas discordantemente ao embasamento cristalino e compreende a unidade de maior expressão em área no Quadrilátero Ferrífero. Dorr (1969) dividiu o Supergrupo Rio das Velhas em dois grupos denominados Nova Lima (inferior) e Maquiné (superior). O Grupo Maquiné é dividido em duas formações: uma unidade basal, a Formação Palmital (O’ Rourke, 1958 apud DORR, 1969), composta por quartzitos sericíticos, filitos quartzosos e filitos, e uma unidade de topo, a Formação Casa Forte (Gair, 1962, apud Nalini, 1993) que é composta por quartzitos sericíticos, cloríticos a xistosos e filitos. As principais megaestruturas do Quadrilátero Ferrífero estão representadas pelas seqüências metassedimentares do Supergrupo Minas (Figura 2.2). Figura 2.2 – Mapa representativo das principais feições morfoestruturais do Quadrilátero Ferrífero (modificado de Dorr, 1969). 8 Destacam-se, entre estas estruturas, o Homoclinal da Serra do Curral, no extremo norte; o Sinclinal Moeda, a oeste; o Sinclinal Dom Bosco, ao sul; o Sinclinal Santa Rita, a leste; os Sinclinais de Gandarela e Ouro Fino, a centro-oeste, tendo a sudoeste do Sinclinal Gandarela o Sinclinal Vargem do Lima; e o “Uplift Rio das Velhas”, conectado a sudeste com o Anticlinal de Mariana. Além destas estruturas principais, podem ser citados também os dois grandes sistemas de falhas, denominadas de Sistemas de Falhas Fundão-Cambotas e da Água Quente a leste, e o Sistema de Falha do Engenho ao sul. No estudo mais recente da modelação do arcabouço estrutural do Quadrilátero Ferrífero, Endo (1997) propõe que a evolução tectônica do Quadrilátero Ferrífero é interpretada como sendo o resultado da superposição de três ciclos tectono-deformacionais principais: Jequié, Transamazônico e Brasiliano. O ciclo orogênico Jequié ocorreu no intervalo entre 2.780 a 2.555 Ma, sobre condições metamórficas de fácies xisto-verde a anfibolito médio e, em um regime tectônico transpressional, com plano de fluxo N-S, vertical. Este ciclo é composto por três eventos tectônicos distintos. O ciclo orogênico Transamazônico é constituído por dois eventos tectônicos compressionais e dois eventos extensionais, alternados, que ocorreram em um intervalo mínimo entre 2.250 a 1.900 Ma, em condições metamórficas de fácies xisto-verde baixo a anfibolito. Neste ciclo, os eventos podem ser interpretados como dois megaeventos tectônicos progressivos, cuja evolução ocorreu em regime transpressional. Já o ciclo orogênico Brasiliano é constituído de dois eventos tectônicos desenvolvidos em regime transpressional, com plano de fluxo NE-SW e em condições metamórficas de fácies xisto-verde. 2.3 - Distrito Aurífero de Nova Lima O Distrito Aurífero de Nova Lima, situado na porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, abrange um número expressivo de ocorrências de ouro, destacando-se as minas de Morro Velho (Grande e Velha), Raposos, Faria, Bicalho, 9 Morro da Glória, Engenho D’Água, Bela Fama atualmente com as atividades de produção temporariamente paralisadas (Figura 2.3). Fig. 01 - Mapa Geológico do Quadrilátero Ferrífero Belo Horizonte Sabará 1 com a localização das 3 principais minas Raposos 2 4 14 Santa Bárbara 5 Nova Lima 6 8 79 10 11 13 Proterozóico Supergrupo Minas 9 Morro da Glória 2 Juca Vieira Arqueano 12 Supergrupo Rio das Velhas Minas 1 Cuiabá Itabirito 10 Esperança 3 Lamego 4 Raposos 11 Engenho D’água 5 Morro Velho 12 Paciência 6 Bela Fama 13 Córrego do Sítio 7 Bicalho Complexos graníticos Ouro Preto 14 São Bento 8 Faria 0 5 10 15 20 25 Km Escala Figura 2.3 – Mapa Geológico do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais com a Localização das Principais Minas de Ouro da AngloGold Ashanti. Nesta região, o ouro ocorre em corpos sulfetados ou quartzosos, ambos associados a zonas de alteração hidrotermal, encaixados na seqüência vulcano-sedimentar do Greenstone Belt Rio das Velhas (Grupo Nova Lima). Os corpos sulfetados são os mais abundantes, hospedados nos metassedimentos químicos (BIF e lapa seca). Ocorre também em lentes conglomeráticas na Formação Casa Forte sem nenhuma ocorrência expressiva até o momento (Vieira e Oliveira, 2001). Atualmente, a principal mina da Anglogold Ashanti em operação no Brasil está situada no município de Sabará/MG. O depósito de Cuiabá é a principal mineralizaçao aurífera da região do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, explorado na maior mina em 10 operação subterrânea para ouro no Brasil. Encaixa-se em rochas arqueanas da base do Supergrupo (Geenstone Belt) Rio das Velhas, ao sul do Craton do São Francisco. Localmente, ocorre uma seqüência de andesíticos-basálticos, com intercalações de metassedimentos detríticos, um horizonte de metabasalto toleítico e um nível de formação bandada com fácies carbonato compondo a Unidade Inferior. Esta é sobreposta por uma seqüência de metapelitos e metatulfos riolíticos / riodacíticos. Trata-se de uma estrutura em anticlinal do segundo evento com o flanco norte invertido e um pseudofechamento na região de corpo ‘Galinheiro Extensão’, dado por uma série de cisalhamentos e pequenos cavalgamentos. Os corpos de sulfetos associados à formação bandada ocorrem no centro de uma zona de alteração hidrotermal, onde se tem basaltos e andesitos sericitizados e carbonatizados ou cloritizados. O sulfeto é essencialmente pirita, tendo como acessório a arsenopirita, pirrotita e, em menor proporção, blenda, galena, calcopirita, ilmenita, hematita, marcassita e magnetita em ganga quartzo-carbonática. Quase todo o ouro está incluso nas bordas dos grãos de pirita na forma de inclusões e ao longo de fraturas e contatos dos grãos, e sua precipitação esta intimamente relacionada a reações de interação fluido-rocha, por sulfetaçao dos carbonatos. A pirita apresenta-se freqüentemente em bandas milimétricas a centimétricas, muito contínuas e finamente espaçadas, sugerindo origem singenética; entretanto, a terminação das bandas sulfetadas em fraturas sugere um extenso processo de substituição. Estudos microtexturais sugerem que a sulfetaçao ocorreu em três estágios, de cedo a tardi-tectônicos, tendo a deposição principal do ouro ocorrido no estágio sin-tectônico. Um máximo de deposição do ouro foi simultâneo com o início do enriquecimento em arsênio na pirita e/ou estágio incipiente de deposição de arsenopirita, o que esta especialmente registrado nos corpos de minério.Esse máximo corresponde a valores decrescentes da atividade de enxofre,ass,entre a faixa de equilíbrio de formação da pirrotita e arsenopirita 11 2.4 - Geologia e Gênese do Ouro na Mina de Cuiabá A mineralização na área da mina está associada essencialmente a um único nível de formação ferrífera bandada, que se insere numa seqüência máfica da porção inferior do Grupo Nova Lima. As rochas máficas encaixantes das mineralizações auríferas estão bem modificadas pela percolação de fluidos hidrotermais gerando, de fora para dentro, zonas concêntricas de cloritização, carbonatação e sericitização (Figura 2.4). A estrutura da mina é uma dobra tubular, do tipo bainha, porém mais fechada e abrindo-se em profundidade, com a zona de fechamento já erodida. Figura 2.4 – Mapa geológico da Mina de Cuiabá (Vial e Vieira, 2002). 12 A Tabela 2.1 apresenta a composição mineralógica típica dos litotipos de ocorrência local na Mina de Cuiabá. Tabela 2.1 – Composição mineralógica dos litotipos da área da Mina de Cuiabá. mineral pirita pirrotita arsenopirita grafite sílica carbonatos enxofre outros ouro % 10,04 2,50 1,02 0,32 40,0 5,90 6,50 33,72 7,50 g/t A formação ferrífera bandada apresenta-se como uma tira dobrada com cerca de 5 metros de espessura, tendo na base os basaltos sericitizados (X2), por vezes os metapelitos (X1) e, no topo, uma camada de filito grafitoso (FG). É caracterizada por bandamentos milimétricos ou centimétricos, onde se alternam bandas de quartzo poligonizado com bandas de ankerita, siderita e quartzo. As bandas carbonáticas apresentam freqüentemente coloração negra dada pela presença de grafita. É ligeiramente mais quartzosa do que as formações da região de Raposos e Faria, sendo a magnetita extremamente rara. Os corpos de minério são constituídos por sulfetos maciços, bandados ou disseminados na formação ferrífera bandada, exceto os corpos Galinheiro FW e Viana, que constituem veios e pequenas vênulas de quartzo nas zonas de sericitização com sulfeto disseminado. Os corpos sulfetados hospedados na BIF são subdivididos nos tipos I e II (Vieira, 1988). O tipo I (Figura 2.5) é constituído por pirrotita (55%), pirita (22%) e arsenopirita (23%), em zonas de cisalhamento paralelas ou subparalelas ao acamamento com veios de quartzo associados. Estas zonas alternam-se com BIF não cisalhada, apresentando ramificações e migrando dentro da camada de BIF da base ao topo. 13 Figura 2.5 – BIF com corpo sulfetado Tipo I em zona de cisalhamento. Os corpos sulfetados Tipo II (Figura 2.6) são constituídos por pirita (91%), pirrotita (6%) e arsenopirita (3%), preenchendo fraturas juntamente com o quartzo e substituindo as bandas de carbonato na BIF, de modo simétrico ou assimétrico à fratura. Acima do nível 04 da mina ocorre essencialmente o tipo II e, abaixo deste nível, o tipo II é progressivamente substituído pelo tipo I. Figura 2.6 – BIF com corpo sulfetado Tipo II em veio de quartzo. 14 Os veios e vênulas de quartzo mineralizados são geralmente de quartzo fumê, com carbonato e alguma albita associada. Apresentam-se com dimensões variadas, estando boudinados e paralelos às foliações. O ouro pode ocorrer livre no quartzo embora predomine o ouro associado aos sulfetos. Estes estão disseminados nos xistos hidrotermalizados (X2) próximo ao contato com os veios e subordinadamente dentro do próprio quartzo. O ouro forma com a prata uma liga na razão 7:1 (Ribeiro e Rodrigues, 1998) em grãos xenomórficos ou em filetes nas fraturas dos grãos de sulfeto. O ouro associado a pirrotita é o ouro mais grosseiro de 50 a 120 micras, geralmente presente nas bordas dos grãos. O ouro associado à pirita está essencialmente incluso variando de 10 a 50 micras. O ouro associado a arsenopirita e à ganga é geralmente menor do que 10 micras sendo que, na arsenopirita, o mesmo ocorre incluso e, na ganga, ocorre incluso ou na interface dos grãos (Vieira, 1991b). Estratigraficamente, abaixo da camada de BIF (no centro da dobra tubular), ocorrem basaltos comumente albitizados, semelhantes a andesitos. São derrames de basaltos maciços ou em pillows com variolitos, constituídos por subcamadas de plagioclásio albitizado. Em termos petrográficos, o enriquecimento em ferro é dado pela presença dos minerais anfibólio (actinolita), clorita rica em ferro e epidoto. A evolução estrutural é explicada como decorrente dos efeitos de dobramento impostos a uma dobra não cilíndrica deformada por um cisalhamento posterior, sendo o eixo maior da dobra subparalelo à direção do cisalhamento (Vieira, 1991b; Toledo, 1997). A direção de estiramento é, portanto, coincidente com o eixo de dobramento, tendo 125/36º em superfície e tendendo a se tornar horizontal em profundidade. A foliação é subparalela ao acamamento e cisalhamentos desenvolveram-se ao longo da foliação, tornando-se condutos para a ascensão dos fluidos hidrotermais. O metamorfismo regional é de grau fraco, com temperaturas entre 350 e 430°C, e o hidrotermalismo é caracterizado por uma elevada concentração de CO2 (carbonato abundante), maior 15 proporção de água e a presença de K, S, Au, As, B e Ba, dentre outros elementos (Vieira, 1991). 2.5 – Processamento do Minério de Ouro na Planta do Queiroz A usina de beneficiamento é parte integrante da cadeia produtiva da mineração e tem influência direta sobre os custos operacionais do empreendimento, estando estes intimamente relacionados com a forma de ocorrência do minério bruto; desta forma, a caracterização mineralógica dos minérios passa a constituir fator de extrema relevância na escolha das alternativas de processo de tratamento mais adequadas. De uma maneira geral, os minérios de ouro podem ser classificados em dois tipos: • minérios de processamento direto (free milling): o minério de ouro ocorre em grãos discretos que, após britagem e/ou moagem, tornam-se diretamente acessíveis para a cianetação. • minérios refratários: os minérios não apresentam níveis adequados de extração do metal quando submetidos diretamente ao processo de cianetação convencional; entre estes, podem ser caracterizados os seguintes subtipos: (i) minérios refratários que apresentam o ouro encapsulado em sulfetos: requerem uma etapa inicial de tratamento oxidativo, como a ustulação, a bioxidação ou a oxidação sob pressão, para que sejam alcançados níveis adequados de extração do metal para as fases subseqüentes de processamento; (ii) minérios refratários contendo matéria carbonosa ativa: o principal método de pré-tratamento é a ustulação; (iii) minérios refratários que apresentam ouro finamente disseminado em silicatos: a moagem fina torna-se imperativa para expor as partículas do metal ao agente lixiviante; (iv) minérios contendo minerais sulfetados reativos como a pirrotita, marcassita, calcosita e outros, que podem apresentar refratariedade moderada: estes 16 minerais são solúveis em solução de cianeto e geram um consumo elevado do agente lixiviante; neste caso, uma etapa de pré-aeração da polpa é realizada normalmente antes da lixiviação do minério para possibilitar a extração do ouro e reduzir o consumo de cianeto. Em minerações de ouro, na maioria das vezes, o custo operacional de usinas de beneficiamento de minérios não refratários varia entre 25 a 30% do custo operacional do empreendimento. No caso de minério refratário, a contribuição da usina para os custos operacionais da unidade situa-se, normalmente, na faixa de 45 a 55%. Estes custos tendem a crescer exponencialmente no caso de minas mais profundas e isto tem sido a causa da desativação de muitas minas subterrâneas profundas em todo o mundo. Neste cenário, impõe-se, em escala cada vez maior, a necessidade de adequação das minas em atividade, com a implantação de fluxogramas que maximizam o lucro operacional e o aumento de produtividade. No caso do distrito aurífero de Nova Lima, aproximadamente 96% da produção anual de ouro proveniente de minas está baseada no tratamento de minérios não refratários de naturezas distintas por processos de concentração gravítica e cianetação. Os minérios oriundos das minas são processados na Planta do Queiroz, por meio de dois circuitos distintos, denominados Circuito Cuiabá (minério refratário) e Circuito Raposos (minério não refratário), em função da composição mineralógica. No Circuito Cuiabá, o minério bruto (tamanhos inferiores a 18”) extraído da mina é trazido até a superfície por meio de “skips” e descarregado no circuito de britagem, que reduz a granulometria do minério para 9 mm. O minério britado é, então, transportado até a Planta do Queiroz por meio de um teleférico com 15 km de extensão, para processamento industrial, que é subdividido em três etapas distintas: Tratamento Mecânico, Hidrometalurgia e Pirometalurgia. O tratamento mecânico compreende os processos de moagem, concentração gravimétrica, flotação e espessamento. A fase hidrometalúrgica engloba os processos de lixiviação, filtragem, precipitação, adsorção com carvão ativado e eluição. A fase final, 17 correspondente à etapa pirometalúrgica do tratamento, compreende aos processos de ustulação, planta de ácidos e de tratamento de efluentes (Figura 2.7). Teleférico Flotação Filtragem Ustulação Tratamento de Efluentes Silos Moagem Barragem Rapaunha Fábrica de Ácido Lixiviação/ CCD CIP Gravimetria Precipitação Fundição Eluição Barragem Calcinado Ouro e Prata Figura 2.7 – Fluxograma da Planta de Beneficiamento de Ouro de Queiroz • Tratamento Mecânico No tratamento mecânico as operações são compostas por moagem e classificação por hidrociclones, concentração gravimétrica, flotação, espessamento e filtragem. A moagem tem a função de reduzir o tamanho das partículas do minério de modo que fiquem finas o suficiente para permitir a recuperação do ouro nas etapas subseqüentes. Atingindo-se o grau de liberação necessário, expõem-se as partículas finas para posterior tratamento físico–químico, conseguindo-se, desta forma, uma extração em torno de 93% do ouro contido no minério bruto. Na concentração gravimétrica, um conjunto de mesas concentradoras processa o minério moído oriundo da descarga dos moinhos, obtendo-se concentrado que é enviado para fusão e refino; nesta etapa, recuperam-se 25% do ouro alimentado. O rejeito da concentração gravimétrica é submetido a uma etapa de classificação por hidrociclones 18 que classificam o material em underflow e overflow. O underflow é composto pela fração grosseira de minério que é retornada para os moinhos. O overflow dos hidrociclones, que é composto das frações finas dos minérios moídos, é adensado em espessador e, após adensado em forma de polpa, é enviado para a etapa subseqüente de flotação. A etapa de flotação consiste na separação entre os materiais nobres (ouro, sulfetos e grafite) na forma de um concentrado em que o teor de ouro passa de 7 para 30 ppm e o teor de enxofre de 6,5 para 32%, obtendo-se uma massa flotada em torno de 20% da massa alimentada e a separação da ganga, que permanece no rejeito. O resultado final da etapa de flotação é a obtenção de uma concentração de minerais que se encontram associados ao ouro no minério. A extração obtida é em torno de 96% do ouro contido no minério nesta fase do processo. Daí, o rejeito é ciclonado, sendo a fração grosseira (underflow) utilizada no enchimento (back–fill) da Mina Velha e na construção do maciço da Barragem de Calcinados e a fração fina (overflow), depositada na barragem de rejeitos de Rapaunha. Após produzido, o concentrado de sulfetos é bombeado para o espessador de concentrado, para ser submetido à primeira etapa de desaguamento. O underflow deste espessador é bombeado para a unidade de filtragem; a água recuperada é recirculada para a flotação e o cake de concentrado, com uma porcentagem de sólidos adequada, é enviado para a fase pirometalúrgica do tratamento. • Pirometalurgia Na pirometalurgia, cujo material de input é o concentrado de sulfetos, as unidades industriais são denominadas de Ustulação, Planta de ácidos e Tratamento de Efluentes. Na etapa de ustulação, o concentrado é submetido ao processo de calcinação e, para tal, utiliza-se um forno autotérmico denominado ustulador, onde são gerados gases contendo dióxido de enxofre e sólidos calcinados. A capacidade instalada deste 19 equipamento é de 5,5t/h de enxofre, equivalentes a 17t/h de concentrado contendo um teor de 32% de enxofre. Na etapa de processo na planta de ácido, os gases contendo dióxido de enxofre são adequadamente processados e os compostos sulfurosos são convertidos em ácido sulfúrico. O resíduo sólido do ustulador que contém o ouro é designado como calcinado, sendo produzido a uma temperatura de 750oC e, após resfriado, sua polpa é adensada em um espessador; o underflow que contém o calcinado na forma de polpa é enviado para a etapa de hidrometalurgia e o overflow, para a estação de tratamento de efluentes. Na etapa de Tratamento de Efluentes, o overflow do espessador de calcinados, que tem características ácidas, devido à oxidação dos sulfetos no ustulador, recebe tratamento especial para neutralização. • Hidrometalurgia Na hidrometalurgia, o underflow do espessador de calcinado, adensado na forma de polpa, é submetido a processos de lixiviação, filtragem, precipitação, adsorção (CIP), eluição (desorção) e bombeamento, para recuperação do ouro residual contido. A primeira etapa da hidrometalurgia compreende a lixiviação. A lixiviação é realizada em tanques aerados denominados ‘pachucas’. Adiciona-se cal, sob a forma de leite, para se obter o controle adequado do pH. A lixiviação propriamente dita, que é feita utilizando-se o reagente cianeto, deve ser conduzida em pH acima de 10,5. A função do cianeto é promover a solubilização do ouro contido no calcinado, permitindo, assim, a sua extração. O cianeto de sódio, em contato com a polpa e em presença de oxigênio do ar, promove a solubilização de cerca de 94% do ouro contido. Após a lixiviação, a polpa de calcinado é processada na etapa de filtragem para a separação dos sólidos e do licor rico em ouro solúvel. O filtrado (licor) é, então, clarificado e submetido a uma etapa de precipitação com zinco em pó, cujo processo é 20 denominado ‘processo Merrill Crowe’, obtendo-se, nesta operação, um precipitado contendo 30% de ouro que é enviado para as etapas de fusão e refino. O calcinado, após a filtragem e ainda contendo ouro recuperável, é recomposto sob a forma de polpa e encaminhado para uma segunda etapa de lixiviação e, em seguida, para a etapa de adsorção com carvão ativado. A etapa de adsorção com carvão ativado, conhecida como CIP, tem por objeto a remoção final do ouro solúvel presente na polpa através do contato com carvão ativado. Esta adsorção é feita em um conjunto de tanques em série, onde a polpa é introduzida com fluxo descendente e o carvão ativado com fluxo ascendente. O carvão ativado contido nos tanques vai adsorvendo o ouro à medida que entra em contato com a polpa. Na etapa seguinte de eluição, o carvão adsorvido é submetido a um banho com solução de soda cáustica e cianeto, em temperatura elevada, promovendo-se a desorção do ouro, que é transferido do carvão ativado para a solução. A solução enriquecida é enviada para a etapa de precipitação de ouro e o carvão ativado é regenerado em forno rotativo e retornado para o processo nos tanques de adsorção. Após o último tanque de adsorção, os rejeitos dos calcinados são, finalmente, bombeados e depositados em uma barragem de contenção, cujo nome identifica a natureza dos rejeitos – Barragem de Calcinados. A Tabela 2.2 e a Figura 2.8 apresentam a evolução da produção de ouro na Planta Industrial do Queiroz, desde a sua implantação em 1985 (até 2003). Tabela 2.2 – Dados de produção de ouro na Planta Industrial do Queiroz. Anos Kg ouro 1985 99 1986 1464 1987 3285 Toneladas de minério (milhares) 23 264 527 638 627 672 651 692 702 713 14,5 88,81 77,4 90,80 91,41 70,8 92,96 90,99 74,4 90,71 89,31 73,3 90,90 91,81 74,1 92,79 92,12 81,2 92,76 92,17 91,8 93,08 90,98 98,1 1996 5219 1997 5473 1998 6077 1999 6142 2000 6112 2001 6258 2002 6325 2003 6285 2004 6639 950 92,9 95,6 130,0 871 93,1 95,6 131,0 Recuperação CB Recuperação RP Acido Produzido Anos Kg ouro 1995 4756 1988 3813 1989 3770 1990 3895 1991 3845 1992 4381 Toneladas de minério (milhares) 713 806 839 885 876 911 932 930 Recuperação CB Recuperação RP Acido Produzido 93,37 92,65 101,1 91,89 91,76 87,8 93,82 92,86 90,4 92,35 93,31 101,4 93,32 93,81 114,8 93,04 93,01 112,2 92,88 93,48 128,4 91,78 95,04 113,1 21 1993 4508 1994 4964 1000 900 800 ktonneladas 700 600 500 400 300 200 100 0 ktonnes 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 23 264 527 638 627 672 651 692 702 ANO 713 713 806 839 885 876 911 932 930 950 Figura 2.8 – Histórico de Toneladas de minério processadas na Planta do Queiroz (circuitos Cuiabá e Raposos). 2.6 – Sistema de Disposição de Rejeitos da Planta do Queiroz Convencionalmente, os rejeitos são dispostos em barramentos, sob a forma de polpa, pelo processo de aterro hidráulico (Klohn, 1981; Vick, 1983; Kupper, 1991; Gomes, 2005). As barragens de aterro hidráulico são estruturas construídas para reter os rejeitos e os efluentes oriundos da planta de beneficiamento e, geralmente, são construídas em duas etapas distintas. A primeira etapa consiste na construção de um dique de partida, geralmente em solo compactado, e a segunda etapa corresponde à construção contínua, por alteamentos sucessivos, comumente utilizando a fração grossa dos rejeitos. O método do aterro hidráulico é muito atrativo e vantajoso, principalmente pelas características de produção e transporte dos rejeitos, o que permite praticar custos baixos quando comparados aos aterros convencionais executados com solo compactado. A construção é realizada comumente pela própria mineradora que define a velocidade da construção com base em suas necessidades de disposição, o que permite também a diluição dos custos de construção ao longo da vida útil da estrutura. Esta metodologia construtiva permite também, no decorrer da execução, revisões periódicas no projeto em função das variações das características do rejeito. 22 Considerando o processo de ciclonagem para a formação de uma praia de aterro hidráulico, verifica-se o aumento da utilização deste tipo de tecnologia para separar a parcela fina dos rejeitos (Troncoso e Verdugo, 1985). A grande vantagem da utilização deste procedimento está no aumento dado à estrutura pela manutenção de um alto coeficiente de permeabilidade ao se evitar que a fração fina seja disposta na área do aterro. Estas preocupações já refletem uma evolução no processo construtivo das barragens de aterros hidráulicos, objetivando controlar o processo de segregação antes da deposição na praia. O controle de densidade do material do aterro é um dos aspectos mais críticos a ser considerado no projeto de aterros hidráulicos. Os aterros hidráulicos são particularmente susceptíveis aos processos de liquefação devido às condições de deposição que favorecem a formação de depósitos arenosos fofos e saturados. Desta forma, a obtenção de uma densidade relativamente alta é essencial para a estabilidade da estrutura sob condições estáticas e dinâmicas. Em relação às metodologias construtivas, barragens de contenção de rejeitos contemplam as técnicas de alteamento para montante, jusante e por linha de centro, mantendo-se, neste último caso, inalterada a posição do eixo original da barragem para os alteamentos subseqüentes (Gomes, 2005). No caso de minas de ouro, praticamente todo o minério que alimenta a planta de beneficiamento é transformado em rejeito, já que os teores de ouro incorporado aos minérios são da ordem de gramas por tonelada. Assim sendo, são geradas enormes quantidades de rejeitos e, conseqüentemente, as barragens para contenção destes resíduos têm experimentado um aumento significativo nos últimos tempos, em termos de porte e dos volumes acumulados. No Brasil, há barragens de rejeitos com alturas superiores a 100 m e volumes acumulados da ordem de milhões de m3, ou seja, assemelhando-se definitivamente aos grandes projetos das barragens associadas às usinas hidrelétricas. No complexo do Queiroz em Nova Lima, as empresas de mineração locais sempre mantiveram, provavelmente desde 1944, um sistema de deposição, por processo de aterro hidráulico, dos rejeitos oriundos do processamento de minérios auríferos. 23 Inicialmente, o sistema constava de uma barragem interposta ao vale do Queiroz, no bairro do Galo, em Nova Lima/MG (denominada Barragem do Queiroz), a qual assegurou a deposição dos rejeitos produzidos até meados de 1954, com a acumulação, neste período, de cerca de 2,5 milhões de m3. A partir de 1981, este sistema foi ampliado com a construção de mais duas barragens, denominadas Rapaunha e Cocuruto, que passaram a operar no final de 1982, além de uma terceira, a Barragem de Calcinados, construída no ano de 1986, de forma a adequar o sistema às necessidades decorrentes da expansão da empresa com o denominado Projeto Cuiabá-Raposos. (Figura 2.9). Figura 2.9 – Sistemas de Disposição de Rejeitos da Planta do Queiroz. Estas barragens, de um modo geral, foram concebidas de forma a serem alteadas à medida em que se dá o esgotamento da capacidade de acumulação pelos rejeitos lançados (Tabela 2.3). 24 Tabela 2.3 – Características Gerais das Barragens da Planta do Queiroz Barragem Tipo Altura Crista Volume de Vertedouro (m) (m) área da bacia (m2) reservação (m3) Cocuruto terra 42 280 4.000.000 tulipa 447.000 Rapaunha terra 58 350 17.400.000 canal 1.437.521 52 380 3.900.000 Não existe 548.948 Calcinados rejeitos O sistema de disposição de rejeitos conta, além das três barragens anteriormente citadas, com mais cinco valas impermeabilizadas com geomembranas para a deposição da chamada ‘lama arsenical’, oriunda da planta de tratamento de efluentes da fase pirometalúrgica da planta (Golder, 2004). 2.6.1 – Barragem do Cocuruto A Barragem do Cocuruto, com maciço em argila compactada, foi implantada em 1983, a partir de uma antiga barragem com alteamentos para jusante, quando se iniciou a deposição de rejeitos oriundos da antiga Planta Metalúrgica de Nova Lima. Esta planta beneficiava os minérios das minas Velha, Grande e outras menores situadas no entorno do município de Nova Lima. A deposição de rejeitos em seu reservatório ocorreu até o ano de 1985, quando foi esgotada a sua capacidade de armazenamento. Nesta ocasião os rejeitos passaram a ser lançados em outra barragem, denominada de Rapaunha. Em recentes estudos, constatou-se a necessidade de se proceder a um alteamento adicional de 2m à barragem do Cocuruto, para que a mesma pudesse ser adequada a uma condição de borda livre suficiente para suportar a precipitação máxima provável de projeto, ficando a crista atual posicionada na elevação 806,0 m e o nível do reservatório na elevação 801,0 m. Atualmente o seu reservatório recebe apenas a água proveniente da barragem do Rapaunha e da drenagem geral da área (Figura 2.10). A torre do vertedor acopla-se a 25 uma galeria em concreto armado, com seção transversal de 2,40 m x 1,20 m e declividade de 2,5%, que atravessa o maciço e liga-se a uma tubulação em aço, com diâmetro de 1,30 m e declividade de 22%, que se estende até o córrego Queiroz à jusante da barragem. Figura 2.10 – Vista geral da Barragem do Cocuruto. A descarga dos efluentes tem a qualidade monitorada à jusante, antes de ser lançada no Rio das Velhas. Nas proximidades do vertedor em tulipa, uma estação de bombeamento mantém a recirculação de água para aproveitamento no processo metalúrgico do beneficiamento do minério. A empresa possui um planejamento de elevar a atual crista até a elevação 826,0 m (alteamento de mais 20 m), caso ocorra necessidade de disposição de rejeitos depois de exaurida a capacidade de reservação da Barragem do Rapaunha, atualmente em operação. 26 2.6.2 – Barragem do Rapaunha A barragem de rejeitos do Rapaunha foi construída em 1985, à montante e simultaneamente à barragem do Cocuruto. A barragem, de maciço em solo compactado, encontra-se atualmente em operação, em cujo reservatório estão sendo depositados os rejeitos inertes do processo de tratamento dos minérios da Mina de Cuiabá. A barragem do Rapaunha (Figura 2.11) está situada no Vale do Queiroz e foi projetada pelo método de alteamentos para jusante, de acordo com as demandas de enchimento do reservatório. A capacidade total de deposição em seu reservatório é de cerca de 17.400.000 m3 (Mineração Morro Velho, 2001). A barragem possui no interior do maciço um filtro de areia vertical, que é interligado a um tapete horizontal. As suas ombreiras foram tratadas com injeções de calda de cimento para redução da permeabilidade dos maciços naturais. Figura 2.11 – Vista geral da Barragem do Rapaunha. Até hoje foram executados quatro alteamentos na barragem e sua crista encontra-se na elevação 855,0 m, com o nível d’ água do reservatório na elevação 849,0 m. Quando a 27 sua capacidade de reservação estiver totalmente comprometida, a empresa passará a lançar os rejeitos na barragem alteada de Cocuruto, conforme exposto anteriormente. Os rejeitos são lançados na porção mais a montante da barragem, sedimentando-se em direção ao maciço, perto do qual forma-se um pequeno lago (Figura 2.11). Na ombreira esquerda está localizado o sistema extravasor que permite a saída da água em direção à barragem do Cocuruto. O extravasor é do tipo poço, em seção retangular com base igual a 1,20 m e altura igual a 1,50 m e construído em sua totalidade. À medida que são dispostos os rejeitos no interior do reservatório, placas de concreto vão sendo posicionadas na torre de captação dessa estrutura para controlas os níveis de acumulação dos rejeitos. 2.6.3 – Barragem de Calcinados A barragem de rejeitos de calcinados foi construída em 1986, adjacente à barragem do Rapaunha (Figura 2.12) e teve sua operação iniciada naquele mesmo ano, com o armazenamento dos rejeitos calcinados processados na planta industrial do Queiroz. Figura 2.12 – Vista geral das barragens de Calcinados e de Rapaunha. 28 A concepção de projeto implica que a barragem de Calcinados receba os efluentes da Estação de Tratamento de Efluentes existente e, desta forma, deve funcionar em circuito fechado A grande maioria da água resultante de percolação pelo maciço, seja através do tapete drenante, pela fundação ou decorrentes de chuvas sobre o talude de jusante é coletada e bombeada novamente para o reservatório da barragem (Golder, 2003). O processo de concentração faz uso também de parte do volume acumulado neste reservatório, através de uma estação de bombeamento montada sobre balsas no mesmo e que possui uma capacidade de recalque de 240 m3/h. O maciço inicial constituía-se de um núcleo de aterro argiloso compactado, tendo sua crista situada na elevação 830,0 m e um dique a jusante, para confinamento do rejeito, com crista na elevação 815,0 m. Os maciços dos alteamentos utilizaram como material de construção o underflow da ciclonagem de rejeitos gerados no processo, sendo empregado o método construtivo por linha de centro, até ter-se atingido a elevação 846,0 m. A partir desta elevação, o alteamento foi executado utilizando o método construtivo para jusante, com material ciclonado do rejeito originário do circuito de Raposos e do rejeito da flotação, alternadamente. O último alteamento foi finalizado em outubro de 2002, resultando no coroamento na elevação 860,0 m que, segundo o projeto, constitui a cota final desta barragem. Por se tratar de barragem com maciço alteado utilizando o underflow da ciclonagem dos rejeitos do processo, os rejeitos são lançados no reservatório nas proximidades do maciço. Assim, o reservatório apresenta uma configuração na qual a água armazenada é separada do maciço da barragem pelos rejeitos depositados, o que melhora as condições de estabilidade geotécnica do maciço. Nas condições atuais, a barragem possui altura máxima de 52m. Por segurança, implantou-se um vertedouro de emergência em seção circular, com diâmetro de 800 mm, declividade de 1% e soleira situada na elevação 845,30 m, instalado na ombreira direita da barragem. Um antigo sistema extravasor de emergência, situado no fundo do reservatório e que atravessava todo o maciço, foi totalmente desativado e preenchido com material granular devido aos vazamentos ocorridos nas juntas de concretagem. 29 Uma vez que o reservatório da barragem contém efluentes do processo de tratamento dos rejeitos e das drenagens das valas de lama arsenical, o vertedouro dessa estrutura foi idealizado para não operar, sendo que está prevista uma borda livre igual a 3 m na fase final de encerramento, compatível com arranjos similares ao adotado na Barragem de Calcinados. Para minimizar o aporte de águas resultantes de drenagem da área a montante de seu eixo, implantou-se ainda um canal em seção trapezoidal que intercepta as contribuições de parte dessa área, conduzindo-as, de forma controlada, às barragens do Rapaunha e do Cocuruto. 2.6.4 – Valas de Lama de Arsenato Férrico No início da operação da Planta do Queiroz, a precipitação do arsênio ocorria sob a forma de arsenato de cálcio que, associado a sulfato de cálcio, produzia uma lama de gesso arsenical que passou a ser depositada em valas, sob aprovação do COPAM (Conselho de Política Ambiental). Posteriormente, adotou-se uma nova tecnologia de operação, na qual o arsênio passou a ser precipitado sob a forma de arsenato férrico. Devido ao caráter de segurança específico inerente à natureza destes resíduos, impõemse cuidados especiais quanto aos procedimentos de sua disposição final. De 1987 a 1991, os rejeitos arsenicais foram depositados em valas abertas em encostas situadas ao norte das instalações da Planta de Queiroz (designadas como Valas “A” e “B”), sendo o material transportado até o local por meio de caminhões com caçamba especial. Estas duas valas eram impermeabilizadas com argila e mantinham drenagem por gravidade até o reservatório da barragem de Calcinados. As valas foram utilizadas até meados de 1991, quando se atingiu a capacidade máxima de estocagem, de cerca de 13.500 m3. Por ocasião da desativação destas valas, a área foi recuperada, com revegetação do local e estabilização do sistema de drenagem pluvial. A partir de 1992, foi iniciada a deposição na chamada Vala “C”, construída sob uma nova concepção de projeto, baseado na adoção de um sistema de impermeabilização das paredes e do fundo da vala com uma manta sintética em PEAD (Polietileno de alta densidade) com 1,0mm de espessura (Figura 2.13). 30 Figura 2.13 – Vala “D” de deposição da lama arsenical. Adicionalmente, foram implantados um sistema de drenagem coletora da fração líquida contida na lama depositada e seu lançamento seguro até a um ponto de bombeamento para uma ETE (Estação de Tratamento de Efluentes), situada à jusante da barragem de Calcinados, transporte em condições seguras e estritamente condicionadas ao domínio da Planta de Queiroz, além de medidas de monitoramento permanente da água do lençol freático no entorno da vala. Estas mesmas premissas subsidiaram os projetos das novas valas “D” e “E”, atualmente em fase de operação. 2.6.5 – Instrumentação das Barragens e Valas A instrumentação geotécnica em barragens para contenção de rejeitos tem o objetivo de fornecer dados periódicos sobre o real comportamento da barragem durante a sua construção, operação e pós-operação, quanto a tensões, deformações, poropressões, posição do lençol freático e vazões, permitindo a correlação com as premissas e validação ou não das hipóteses de projeto. Em determinadas situações, estes registros implicam em tomada de decisões em tempo hábil, de forma a se evitar incidentes ou até mesmos riscos quanto à segurança do empreendimento (Gouvêa, 2004). 31 A natureza e os objetivos deste monitoramento podem ser bastante variados, sendo os instrumentos comumente implantados nas seções mais críticas da barragem, tanto na fundação como no próprio aterro da barragem. A escolha dos tipos de instrumentos a serem adotados depende de fatores tais como confiabilidade do instrumento, precisão e facilidade de leitura, facilidade de instalação, tempo de resposta, interferência na construção, versatilidade do instrumento, dificuldades operacionais para sua aquisição e custo global (Fonseca, 2003). No caso particular dos sistemas de disposição de rejeitos (barragens e valas) da Área Industrial do Queiroz, foram instalados piezômetros, medidores de nível d’água, marcos fixos, medidores de vazão e réguas linimétricas para a medição do nível do reservatório (Tabela 2.4). Tabela 2.4 – Relação dos Instrumentos Instalados nos Sistemas de Disposição de Rejeitos da Planta do Queiroz sistema de piezômetros disposição Medidores marcos medidor de de NA superficiais vazão Cocuruto 04 03 - 01 Rapaunha 05 05 03 01 Calcinados 05 03 03 - Vala “A” - - - - Vala “B” - 02 - - Vala “C” - 03 - - Vala “D” - 03 - - Vala “E” - 03 - - Subtotal 14 22 06 02 Total 44 A relevância destes estudos pode ser caracterizada pela adoção, por parte da Anglogold Ashanti, de uma sistemática específica de controle e de monitoramento das estruturas de contenção de rejeitos da Planta do Queiroz, com critérios uniformes e definição de 32 procedimentos para caracterização e quantificação dos riscos associados ao comportamento geotécnico. Esta metodologia está regulamentada através do “Guide Line” internacional da empresa, sendo que, neste contexto, a Barragem de Calcinados foi adotada como referência para aplicação desta metodologia (monitoramento e controle através de carta de risco) a todas as demais instalações da empresa localizadas na América do Sul. 33 CAPÍTULO 3 3 – CONCEPÇÂO E PROJETO DA BARRAGEM DE CALCINADOS 3.1 – Concepção Geral da Barragem A Barragem de Rejeitos de Calcinados foi projetada em 1986, em duas etapas distintas (Tabela 3.1), visando o armazenamento dos rejeitos calcinados oriundos da planta de beneficiamento industrial do Queiroz. Tabela 3.1 – Características gerais da Barragem de Calcinados. Dados Principais 1a Etapa 2a Etapa Altura Máxima 30 52 Comprimento da crista 120 380 Cota da Crista (m) 830,0 860 Largura da crista (m) 8 12 Área do reservatório 56.000 m2 372.000 m2 Volume do reservatório 530.700 m3 3.905.000 m3 NA máximo 827,0 m 857,0 m Nível do rejeito 827,0 m 857,0 m A concepção de projeto estabelecia inicialmente a construção inicial de uma barragem homogênea em solo compactado com 30 metros de altura (dique de partida), situada no eixo da futura barragem de rejeitos e um dique de pé, situada à jusante e com altura da ordem de 14 metros (Branco, 1985). O espaço disponível entre as duas barragens seria, então, preenchido com o underflow proveniente da ciclonagem dos rejeitos de flotação da planta do Queiroz. Assim, a barragem inicial foi construída até a elevação 830,0m com materiais oriundos das áreas de empréstimos, constituídos por solos residuais, predominantemente solos silto-arenosos de média plasticidade e, a partir desta cota, foram executados sucessivos 34 alteamentos, utilizando-se o rejeito underflow do processo de beneficiamento do minério. Estes mesmos materiais foram utilizados na construção do dique de pé. A conformação final da geometria projetada para a barragem (Figura 3.1a) foi definida por um talude de montante com inclinação 1V:2H e por um talude de jusante com inclinação de 1V:2,5H, sendo implantadas bermas a cada 10 m de desnível, com largura de 3,0 m. Para o controle das águas de percolação através da fundação e do maciço, construiu-se um tapete drenante a jusante da linha de centro da barragem, com 1,0 m de espessura e estendendo-se até as ombreiras. Figura 3.1 – Arranjos e Geometrias da Barragem de Calcinados. 35 Nas ombreiras foram construídos vários drenos sanduíches, em seção trapezoidal, utilizando brita, areia e geotêxteis, que foram conectados ao tapete drenante. O tapete drenante descarrega as águas percoladas em um poço situado a jusante do dique de pé e estas são recalcadas novamente ao reservatório por um sistema de bombas instalado no local, constituindo, assim, um circuito fechado. O talude de jusante da barragem e a crista estão protegidos contra a erosão das águas de chuvas por meio do plantio de vegetação à base de gramíneas e leguminosas. O sistema de drenagem superficial é composto por canaletas tipo meia cana em concreto, posicionadas em cada berma, que descarregam em canaletas periféricas e situadas nas ombreiras, sendo as águas coletadas posteriormente conduzidas até o pé da barragem para descarte no reservatório da Barragem do Cocuruto. 3.2 – Mudanças da Geometria da Barragem Razões operacionais levaram a empresa a modificar o processo de alteamento original da barragem por linha de centro para um sistema de alteamento para jusante, a partir da elevação 846 m. A principal razão para isso foi resultante da necessidade de se reduzir o volume do barramento em termos dos volumes dos rejeitos de flotação e do Circuito Raposos, fornecedores de material de construção da barragem. Em 1993, a empresa iniciou estudos para utilização dos rejeitos para enchimento (back fill) das minas subterrâneas de Raposos e Velha, comprometendo, portanto, a disponibilidade destes rejeitos como materiais de construção da Barragem de Calcinados (Barbosa, 1994). Neste sentido, alguns estudos foram realizados para avaliar as demandas dos volumes de rejeitos necessários para construção da barragem pelos métodos de linha de centro e para jusante. A tabela 3.2 apresenta as comparações destes dados para cada método de alteamento, a partir da elevação 846,50 m. Face aos resultados obtidos desses estudos, a empresa decidiu então, pela mudança do método construtivo da barragem, viabilizando a utilização do rejeito para aplicação no enchimento das minas subterrâneas na região de Nova Lima e Raposos e conseqüentemente obtendo uma melhoria nos processos de lavra. 36 Tabela 3.2 - Volumes para Construção do Maciço com Rejeitos Ciclonados. Volume de rejeitos através do Volume de rejeitos através do método pela linha de centro método por jusante 830,0 / 846,50 270.000 m3 método não utilizado 846,50 / 870,00 1.180.000 m3 727.000 m3 Elevação Estes estudos demonstraram um ganho significativo na capacidade de armazenamento do reservatório, visto que a crista da barragem estaria sendo deslocada para jusante (Figura 3.3b); além disso, a opção pelo método de alteamento por jusante implicou uma redução da ordem de 38% no volume de rejeitos necessários para construção da etapa adicional da barragem (Figura 3.3c) Outra consideração importante que contribuiu para a decisão de mudança do método de alteamento da barragem foi relativa à questão operacional da manutenção da bateria de ciclones e das tubulações do rejeitoduto que, no método pela linha de centro, demandavam constantes desmontagens e reposicionamento das linhas e dos ciclones. Com a face de jusante livre, os trabalhos de ciclonagem tornaram-se ininterruptos, com uma aceleração das atividades do processo construtivo da barragem. e obtenção de uma borda livre bem maior, incorporando à estrutura, portanto, um maior coeficiente de segurança. Esses estudos foram aprovados e imediatamente colocados em operação a partir de meados de 1994 quando a barragem se encontrava com altura aproximada de 46 metros. O alteamento da barragem foi concluído em 2002, quando a crista da barragem atingiu a elevação de 860,0 m, perfazendo uma altura final de 52m do maciço. Face à particularidade do armazenamento de rejeitos não inertes, a barragem de Calcinados foi projetada para operar em circuito fechado, sendo as águas de percolação pelo maciço ou pela fundação captadas por um sistema de drenagem e conduzidas até a uma estação de bombeamento para retorno ao reservatório. Em um dos extremos do reservatório, próximo à ombreira esquerda, instalou-se uma estação de bombeamento para transporte da água até a planta de tratamento de efluentes onde, após atingir os níveis permitidos 37 pela legislação ambiental, as águas efluentes são lançadas na barragem do Rapaunha, para posterior descarte no Rio das Velhas a jusante. Para a segurança hidráulica da barragem, foi implantado um vertedor de emergência em seção circular, com diâmetro igual a 800 mm, declividade de 1% e soleira na elevação 845,30 m, projetado para ser alteado até a elevação 857,50m. Este vertedor foi idealizado para nunca entrar em operação, visto que o reservatório contém efluentes do processo de tratamento dos rejeitos e da drenagem das valas de lama arsenical. Neste sentido, foi prevista uma borda livre de 3m na fase de desativação do sistema, em consonância aos cálculos hidrológicos para uma precipitação máxima prevista com duração crítica de dois dias (Golder, 2004). Este sistema de emergência foi implantado em substituição ao sistema original que apresentou problemas estruturais. Com efeito, na concepção original, a estrutura contava com uma galeria de segurança atravessando todo o maciço da barragem e elevando-se ao longo da ombreira direita, com aberturas tipo flauta. Assim, para o caso de ocorrência de falha no sistema de bombeamento, simultaneamente à ocorrência de elevadas precipitações, as águas excessivas seriam escoadas por este sistema para jusante, evitando-se assim a possibilidade de colapso da barragem por galgamento. Entretanto, esta galeria apresentou problemas estruturais em função de recalques excessivos e vazamentos nas juntas, comprometendo a sua integridade e conduzindo à sua completa desativação. Para diminuir o aporte de volume de águas de chuvas no interior do reservatório, o projeto previu ainda a construção de um sistema corta-rios na elevação 870 m, direcionando todas as águas para descarte a montante na barragem do Rapaunha. 3.3 – Estudos Geológicos e Geotécnicos das Fundações da Barragem Toda a área do empreendimento da Barragem de Calcinados, quer do ponto de vista de suas fundações e do domínio do reservatório, quer do ponto de vista de materiais de 38 empréstimos para a execução da estrutura de barramento, foi objeto de detalhados estudos geológicos e geotécnicos. Praticamente toda a área onde a barragem foi implantada está assente em materiais oriundos dos processos de intemperismo de biotita xistos do Grupo Nova Lima (Branco, 1985). Trata-se, a rigor, de um metassedimento pelítico com pouca contribuição vulcânica, designado como quartzo-carbonato-clorita-sericita-xisto contendo grafita. Medidas de atitudes da foliação dessas rochas variaram entre E-W/55S e N20W/55SW. As fraturas presentes nestas litologias apresentam atitudes próximas a N47E/40NW. Ocorrem, ainda, variações composicionais representadas por quartzo-carbonatossericita-xistos, quartzo-ankerita-xistos e metarenitos carbonásticos, todos com direção geral NW-SE e dispostos em lentes delgadas. Estas litologias ocorrem predominantemente na porção SW da área em questão. Em toda área ocorrem diques delgados de diabásio, de direção geral NE-SW e localmente NNW-SSE. Esses diques são tardios, pois ocorrem cortando e, algumas vezes, deslocando todas as rochas de ocorrência prévia de direção NW-SE. Estas rochas apresentam-se bastante intemperizadas a meia encosta e, principalmente, no topo das elevações. Por outro lado, no fundo dos talvegues, predominam pequenas coberturas de solos residuais, enquanto o xisto encontra-se apenas semi-intemperizado; as sondagens executadas mostraram a sua presença quase inalterada, mesmo a pequenas profundidades. A xistosidade na área da barragem apresenta-se com posição bastante homogênea, com predominância de planos segundo N30E com mergulhos em torno de 500 para SE, ortogonalmente ao eixo principal da barragem, apresentado, assim, condições favoráveis às condições de estabilidade das fundações e das ombreiras como também em relação a estanqueidade do reservatório. Complementarmente, verificou-se que a região a jusante da barragem apresenta a presença de uma camada aluvionar sobre os solos residuais de biotita xistos, atualmente afogada pelo nível da barragem do Cocuruto. 39 Na região da ombreira esquerda foram identificados solos constituídos de argila siltosa, com profundidades variáveis entre 2 e 10 m, que foram utilizados para a construção do maciço de partida da barragem. Em paralelo, foram executados ensaios para investigação do comportamento do lençol freático e as condições de permeabilidade dos maciços locais. Os ensaios de fluxo d’água nos horizontes de solos permitiram a definição de um programa de injeções de calda de cimento para assegurar uma melhor impermeabilização das fundações da barragem. Os trabalhos de sondagens geotécnicas e ensaios realizados previamente conduziram os trabalhos de limpeza, escavação e preparo das fundações da barragem desde a etapa do dique de partida até a barragem final. 3.4 – Estudos Hidrológicos Estudos hidrológicos específicos foram realizados na época da concepção do projeto, para a determinação das intensidades de chuvas tomando-se diferentes tempos de recorrência (50, 100, 200, 500 e 1000 anos), utilizando-se dados disponíveis das regiões de Belo Horizonte e Nova Lima. O estudo também contemplou a análise do balanço hídrico referentes ao aporte no reservatório da barragem das águas pluviais, de nascentes e da polpa dos rejeitos. Destas análises, concluiu-se que o reservatório iria operar como regulador de vazão, recebendo e acumulando os picos de cheias e descarregando fluxos residuais a uma vazão máxima de 240 m3/h. As elevações do nível d’água foram consideradas pequenas e compatíveis com os níveis de segurança previstos. Mais recentemente, novos estudos foram realizados (Golder, 2003) adotando-se o critério da precipitação máxima prevista, objetivando a verificação da possibilidade de galgamento da barragem, hipótese totalmente descartada devido a grande borda livre existente à época do estudo. 40 Após a definição da posição final da estrutura, foram definidas as curvas cotas – volumes para a barragem (Figura 3.2). 3.5 – Instrumentação da Barragem A instrumentação do maciço é constituída por uma linha central de seis piezômetros tipo Casagrande, situando dois deles a montante, um na crista e mais três no talude de jusante, além de três medidores de nível d’água no talude de jusante e três marcos superficiais localizados na crista (Figura 3.3). 41 Cota X Volume Geometria Projeto m m3 805 - 810 11.700,00 815 59.200,00 820 147.700,00 830 530.700,00 840 1.250.000,00 850 2.236.700,00 860 3.570.700,00 870 5.570.700,00 42 As leituras de monitoramento são realizadas periodicamente a cada quinze dias e têm demonstrado que as poropressões medidas nos maciços e fundações da barragem atendem as condições de segurança. Similarmente, as leituras do monitoramento dos deslocamentos verticais e horizontais, obtidas pelos marcos superficiais estão sendo realizadas desde 1998 e os resultados apresentam-se bastante consistentes, sem ocorrência de dados discrepantes ou alarmantes. Figura 3.3 – Seção instrumentada (piezométrica) da Barragem de Calcinados. 3.6 – Sistema de Drenagem Interna e Análises de Percolação A drenagem interna da Barragem de Calcinados foi projetada como uma série de drenos filtros, executados sob a barragem de pé e sob a barragem principal construída pela deposição de rejeitos ciclonados, seguindo anteprojeto preparado pela Anglo American Corporation South Africa Ltda. Além deste aspecto pouco convencional, o projeto incluiu a condição de submersão do talude de jusante até cerca de 24m de altura, em função da elevação do reservatório da Barragem de Cocoruto, localizada a jusante da barragem de Calcinados. 43 Assim, o sistema de drenagem interna da barragem foi projetado de forma a não lançar as águas percoladas diretamente à jusante, como seria o procedimento convencional, e sim, concentrar este fluxo para um poço situado na parte baixa do talude de jusante, a partir do qual a água seria bombeada para o reservatório a montante. Com a elevação do reservatório da Barragem de Cocuruto a jusante, o poço original seria lacrado, passando as águas a serem coletadas a partir de um novo poço, com topo previsto acima da cota 824,0m e fora do alcance das águas da barragem situada à jusante. Desse poço, as águas passariam a ser redirecionadas ao reservatório de montante também por bombeamento, estimado da ordem de 50 a 60 m3/h. Tais condicionantes implicaram a adoção de procedimentos específicos para as análises de percolação através do maciço e das fundações da Barragem de Calcinados, de forma a incorporar estas diferentes situações de operação. Os estudos comportaram, então, análises de percolação para a barragem com reservatório pleno (em regime permanente de fluxo) e análises de percolação através do talude de jusante, pela elevação futura do nível d’ água do reservatório da Barragem do Cocuruto (acarretando a submersão parcial do talude de jusante da Barragem de Calcinados). 3.6.1 – Análises de Percolação das Águas do Reservatório de Calcinados A primeira situação estudada considerou a hipótese da percolação através da barragem inicial (dique de partida), assente sobre fundação impermeável e sob reservatório pleno com crista na cota 830,0m, sem levar também em consideração o aterro construído com a disposição dos rejeitos calcinados à jusante (Figura 3.4). A hipótese de fundação impermeável seria assegurada pelos processos de injeção das caldas de cimento aplicadas na fase de tratamento do maciço rochoso local. Nestas análises, admitiu-se a hipótese de isotropia do aterro à permeabilidade e adotou-se um valor de coeficiente de permeabilidade igual a 6,4 x 10-8 cm/s para o material de aterro, obtido a partir de ensaios realizados em laboratório. 44 Figura 3.4 – Rede de fluxo para a Barragem de Calcinados: Dique de Partida sob Reservatório Pleno e Fundação Impermeável. A vazão por metro linear de barragem será dada por : q = 6,4 x 10-8 . 3000. 2,40/8. 100 = 0,0058cm3/s/m de barragem e, para uma área de influência de comprimento L = 70m, ter-se-ia que: q = 0,0058cm3/s/m x 70m = 0,0244 l/min. Na hipótese de efeitos apenas parciais das cortinas de injeção, a solução anterior foi revista admitindo-se a condição de barragem assente sobre uma fundação permeável, definida por uma camada de aproximadamente 15 m de espessura com um coeficiente de permeabilidade da ordem de 1,0 x 10-4 cm/s (Figura 3.5). Para fins do traçado da rede de fluxo, admitiu-se a hipótese de meio homogêneo e isotrópico à permeabilidade, igualando-se as permeabilidades do material do aterro e do solo de fundação. Nos cálculos, adotou-se um valor de k = 1,0 x 10-4 cm/s, condição mais crítica dos materiais analisados, em termos de condutibilidade hidráulica, reavaliando-se, então, as vazões totais de percolação através da barragem. 45 Figura 3.5 – Rede de fluxo para a Barragem de Calcinados: Dique de Partida sob Reservatório Pleno e Fundação Permeável. Nestas condições, a vazão por metro linear de barragem será dada por : q = 1,0 x 10-4. 3000. 3,40/6,3. 100 = 16,2 cm3/s/m de barragem e, para uma área de influência de comprimento L = 70m, ter-se-ia que: q = 16,2 cm3/s/m x 70m = 68,04 l/min. Uma terceira análise de projeto contemplou a barragem inicial com a geometria anterior e assente em fundação permeável, considerando adicionalmente a disposição de rejeitos à montante. Nesta hipótese, o depósito de rejeitos foi admitido como constituído por camadas alternadas de rejeitos calcinados e não calcinados, tendo uma inclinação de aproximadamente 1V:5H, com a crista da barragem e o NA do reservatório elevados até a cota 834,0m (Figura 3.6). No arranjo proposto, a disposição de rejeitos, à montante da barragem inicial, tem o efeito de desempenhar a função de um tapete impermeabilizante, dificultando a percolação das águas através do maciço da barragem. 46 Figura 3.6 – Rede de fluxo para a Barragem de Calcinados: Dique de Partida sob Reservatório Pleno, Fundação Permeável e Depósito de Rejeitos Ciclonados à Montante. Por meio de ensaios de laboratório, a permeabilidade dos rejeitos calcinados variou entre 1,60 x 10-6 e 1,7 x 10-5 cm/s e a permeabilidade dos rejeitos não calcinados variou entre 0,40 x 10-6 e 2,5 x 10-6 cm/s. Nos cálculos, admitiu-se um valor médio e igual a 5 x 10-5 cm/s para o depósito de rejeitos. Para o arranjo previsto, a vazão por metro linear de barragem será dada por : q = 5,0 x 10-5. 3400. 3,35/7,3. 100 = 7,80 cm3/s/m de barragem e, para uma área de influência de comprimento L = 100m, ter-se-ia que: q = 7,80 cm3/s/m x 100m = 46,80 l/min. Estes resultados demonstram uma efetiva ação impermeabilizante do depósito de rejeitos à montante da barragem inicial, implicando em uma redução de cerca de 31% da vazão total percolada em relação à condição anterior. 47 3.6.2 – Análises de Percolação pelo Talude de Jusante Para estas séries de análises, as condições de fluxo no talude de jusante da Barragem de Calcinados foram estabelecidas em função da posição do NA do reservatório da Barragem do Cocuruto situada a jusante. Numa abordagem inicial, para o NA da Barragem do Cocuruto na cota 814,0m, ou seja, correspondente à cota do topo do dique de pé e para a seção transversal situada no eixo da barragem, os fluxos tendem a ser direcionados para o poço de drenagem situado no limite do tapete impermeabilizante, através do talude de jusante à montante e através do talude e da fundação à jusante do poço de drenagem do dique de pé (Figura 3.7). Figura 3.7 – Rede de fluxo para o talude de jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 814,0m (seção transversal principal). O material de construção do dique de pé é o mesmo da barragem inicial, tendo, portanto um coeficiente de permeabilidade de 6,4 x 10-8 cm/s. A fundação da barragem foi assumida como sendo permeável, caracterizada por um coeficiente de permeabilidade igual a 1,0 x 10-4 cm/s. 48 Como a percolação à jusante do poço de drenagem ocorre através do maciço da barragem de pé e da fundação da mesma, a rede de fluxo foi construída admitindo-se materiais homogêneos e isotrópicos para o maciço e para a fundação, adotando-se um valor médio de k = 5,0 x10-8 cm/s para estes materiais. Analogamente aos cálculos anteriormente apresentados tem-se que: qmont = 6,4 x 10-8. 1650. 12/3. 100 = 0,042 cm3/s/m de barragem qjus = 5,0 x 10-5. 1650. 7/10. 100 = 5,78 cm3/s/m de barragem e, admitindo-se uma faixa de influência de 45 metros de comprimento, ter-se-ia que: q = 5,82 cm3/s/m x 45m = 15,71 l/min. Uma análise similar foi feita para uma seção alternativa, situada cerca de 10m da seção transversal principal, em que o sistema de drenagem é formado por 4 drenos longitudinais (Figura 3.8). Figura 3.8 – Rede de fluxo para o talude de jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 814,0m (seção a 10m da seção principal). 49 Na seção afastada do eixo, foram obtidas quatro redes de percolação, uma para cada dreno cortado transversalmente (Tabela 3.3). Tabela 3.3 - Dados das redes de percolação dos drenos da Figura 3.8. dreno Nf Nq H (m) 1 13 12 14,0 2 6 7 12,5 3 5 9 12,0 4 1 17 11,5 Nf : número de tubos de fluxo da rede; Nq : número de quedas de potencial da rede H: carga hidráulica total Observa-se que parte das águas absorvidas pelo dreno 1 atravessam o maciço e outra parte percola através da fundação da barragem de pé. No caso deste dreno e em analogia às considerações anteriores, adotou-se um valor de k = 5,0 x 10-5 cm/s nos cálculos, tal que: q = [6,4 X 10-8 (6/7 x 1250 + 5/9 x 1200 + 1/17 x 1150) + + 5,0 x 10-5 x 13/12 x 1400] x 100 = 7,59 cm3/s/m de barragem Admitindo-se, para esta seção, uma faixa de influência de 25 metros para cada lado da barragem, resulta que: q = 7,59 cm3/s/m x 25m x 2 = 22,77 l/min. Assim, a vazão total a ser direcionada ao poço de drenagem será, então, dada por: q = 15,71 + 22,77 = 38,5 l/min. Numa segunda abordagem, admitiu-se o NA da Barragem do Cocuruto na cota 824,0m, para ambas as seções analisadas previamente (Figuras 3.9 e 3.10). 50 Figura 3.9 – Rede de fluxo para o talude de jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 824,0m (seção transversal principal). Figura 3.10 – Rede de fluxo para o talude de jusante da Barragem de Calcinados: Dique de pé, Fundação Permeável e NA à cota de 824,0m (seção a 10m da seção principal). Para ambas as seções, a percolação da água, a montante do poço de drenagem, ocorre através do maciço da barragem de pé (k = 6,4 x 10-8 cm/s) e do rejeito depositado no talude de montante desta barragem (valores de k variando entre 0,4 x 10-6 e 2,5 x 10-6 cm/s). Para o traçado da rede de fluxo, admitiu-se um valor médio de k igual a 1,5 x 10-6 cm/s, em função da hipótese de homogeneidade e isotropia destes materiais. 51 Quanto às águas à jusante do poço, as redes de percolação obtidas e os coeficientes de permeabilidade admitidos foram os mesmos das análises anteriores (cota do reservatório na cota 814,0m), variando-se apenas o potencial de carga hidráulica total disponível. Para a seção principal, resulta que: qmont = 1,5 x 10-6. 2650. 18/3. 100 = 2,39 cm3/s/m de barragem qjus = 5,0 x 10-5. 2650. 7/10. 100 = 9,28 cm3/s/m de barragem e, admitindo-se uma faixa de influência de 80 metros de comprimento, ter-se-ia que: q = 11,67 cm3/s/m x 80m = 55,97 l/min. Na seção afastada do eixo, foram obtidas quatro redes de percolação, uma para cada dreno cortado transversalmente (Tabela 3.4). Tabela 3.4 - Dados das redes de percolação dos drenos da Figura 3.10. dreno Nf Nq H (m) 1 13 12 24,0 2 6 7 22,5 3 5 9 22,0 4 9 11 21,0 Nf : número de tubos de fluxo da rede; Nq : número de quedas de potencial da rede H: carga hidráulica total Portanto, a vazão total para a seção afastada do eixo será dada por: q = [1,5 X 10-6 (6/7 x 2250 + 5/9 x 2200 + 9/11 x 2100 + 5/13 x 1800) + + 5,0 x 10-5 x 13/12 x 2400] x 100 = 13,83 cm3/s/m de barragem Admitindo-se, para esta seção, uma faixa de influência de 40 metros para cada lado da barragem, resulta que: 52 q = 13,83 cm3/s/m x 40m x 2 = 66,38 l/min. Assim, a vazão total a ser direcionada ao poço de drenagem será, então, dada por: q = 55,97 + 66,38 = 122,35 l/min. Na fase inicial do empreendimento, a vazão das águas naturais do fundo do vale captadas pelos drenos foi da ordem de 1,8 l/s.. Antes da execução da cortina de impermeabilização com injeções de cimento, estas vazões eram da ordem de 5 l/s. Durante o período de chuvas, esta vazão deve atingir 4 l/s. A percolação de montante calculada com a crista da barragem na cota 830,0m alcança um máximo de 1,14/s. A percolação de jusante nesta fase, com água abaixo da cota 814,0m, será inferior a 0,64 l/s. O total de águas no sistema de drenagem interna será então da ordem de 5,78 l/s. Em etapas futuras, previu-se uma tendência de pequena queda na percolação de montante, devido à ação de tapete impermeabilizante desempenhado pelo depósito de rejeitos à montante (da ordem de 1 l/s). Por outro lado, como a elevação do NA deverá aumentar a vazão das águas naturais de 4 para 6 l/s e como a percolação de jusante com a elevação do NA da barragem do Cocuruto deverá alcançar até 2,0 l/s, estimou-se a vazão máxima dos drenos como sendo igual a 1 + 6 + 2 = 9 l/s. O esgotamento destas águas é vital para o funcionamento do sistema e, desta forma, incorporando ainda um fator de segurança, o mesmo foi dimensionado para recalcar até 15 l/s. As análises de estabilidade dos taludes da barragem foram efetuadas, tanto para a fase de construção como sob fluxo em regime permanente, utilizando-se os ábacos de Bishop – Morgenstern, tal que: FS = m - nru sendo FS o coeficiente de segurança do talude e m e n, fatores adimensionais, que dependem do número de estabilidade, ângulo de atrito do solo e geometria do talude e 53 ru, o chamado parâmetro das poropressões (expresso pelo valor médio das relações entre a poropressão medida e a tensão vertical total atuante em diferentes pontos do maciço) . Nas análises, os parâmetros geotécnicos adotados para os rejeitos de flotação foram os seguintes: c = 10 kPa , φ = 30° e γ = 18,0 kN/m3, enquanto que, para o solo compactado doas aterros da barragem inicial e do dique de pé foram os seguintes: c = 10 kPa , φ = 32° e γ = 16,5 kN/m3. Todas as análises foram estabelecidas de modo a se estabelecer um valor mínimo de FS igual a 1,5. 54 CAPÍTULO 4 4 – DIAGNÓSTICO E CONDIÇÕES OPERACIONAIS ATUAIS DA BARRAGEM DE CALCINADOS 4.1 – Disposição e Quantidades de Rejeitos Conforme mencionado anteriormente, os minérios provenientes de diferentes minas são processados na Planta Metalúrgica do Queiroz através de dois circuitos distintos, dependendo da composição mineralógica do minério de origem. A fração grosseira do ouro contido é recuperada em circuitos gravimétricos e as frações finas são recuperadas em circuitos hidrometalúrgicos e pirometalúrgicos, conforme o tipo de minério processado. No Circuito Cuiabá, os rejeitos de flotação são ciclonados, sendo a fração grosseira (underflow) utilizada como material de enchimento (back–fill) da Mina Velha e como material de construção do maciço da Barragem de Calcinados, enquanto a fração fina (overflow) é lançada no reservatório da Barragem de Rapaunha. Por outro lado, na fase hidrometalúrgica do processo de tratamento, após o último tanque de adsorção, os rejeitos dos calcinados (oriundos dos produtos calcinados na fase de ustulação), sob a forma de polpa, são bombeados e depositados na Barragem de Calcinados (Figura 4.1). No primeiro caso, os rejeitos de flotação são ciclonados por meio de baterias de ciclones instalados na própria Barragem de Calcinados, que utiliza, desta forma, o produto direto do underflow como material dos alteamentos da barragem, enquanto uma tubulação específica ou ‘rejeitoduto’ conduz e promove o lançamento dos rejeitos calcinados em forma de polpa no reservatório da barragem (Figura 4.1). Enfatizou-se previamente também que, em função da necessidade de utilização dos rejeitos de flotação como material de enchimento das minas subterrâneas de Raposos e Velha, com conseqüente redução dos volumes disponíveis para a construção da barragem de Calcinados, o projeto da barragem teve de ser readaptado e condicionado 55 às novas premissas, mediante a modificação do processo de alteamento por linha de centro para um sistema de alteamento para jusante, a partir da elevação 846,0 m. Figura 4.1 - Barragem de Calcinados: lançamento dos rejeitos em forma de polpa. A barragem entrou em operação em 1987, sendo os rejeitos acumulados na área física intermediária às locações da barragem inicial e do dique de pé, pelo método de alteamento por linha de centro. A nova metodologia construtiva (alteamento para jusante) foi implementada a partir de meados de 1994, quando a barragem se encontrava com altura aproximada de 46 metros e tal reestruturação implicou uma redução da ordem de 38% no volume de rejeitos necessários para a execução da etapa adicional da barragem. O alteamento da barragem foi concluído em 2002, quando a crista da barragem atingiu a elevação de 860,0 m, perfazendo uma altura final de 52m do maciço. Note-se um certo balanceamento das quantidades de rejeitos armazenados como materiais de construção e 56 de contenção na barragem (Tabela 4.1). Até 2004, foram armazenados 1.734.201t de rejeitos no reservatório e 1.578.468t de rejeitos no maciço da barragem. Tabela 4.1 – Quantidades de rejeitos depositados no maciço e no reservatório da Barragem de Calcinados. ano 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 total rejeitos depositados no rejeitos depositados reservatório da barragem (t) maciço da barragem (t) 67.032 57.561 63.656 57.561 65.261 57.561 68.189 57.561 66.958 57.561 76.092 57.561 80.067 57.561 86.823 57.561 89.653 52.406 86.224 86.674 80.925 99.797 90.019 217.815 99.772 226.729 104.369 192.658 153.642 176.439 136.897 65.462 136.382 0 182.240 0 1.734.201 1.578.468 no 4.2 – Barragem e Obras Auxiliares A Barragem de Calcinados constitui uma estrutura de contenção de rejeitos em aterro hidráulico, com 52m de altura e 286m de crista, talude de montante com inclinação 1V:1H e talude de jusante com inclinação de 1V:2,5H, com bermas a cada 10 m de desnível, com largura de 3,0 m. A geometria atual e uma vista geral da Barragem de Calcinados estão mostradas na Figura 4.2, incorporando o depósito dos rejeitos ciclonados, a barragem inicial e o dique de pé. O maciço inicial constitui-se de um núcleo de aterro argiloso compactado, tendo 57 sua crista situada na elevação 830,0 m e um dique de pé a jusante, para confinamento do rejeito, com crista na elevação 815,0 m. 58 Figura 4.2 – Geometria atual e vista geral da Barragem de Calcinados. 59 4.2.1 – Sistema Extravasor A Barragem de Calcinados foi projetada com um sistema extravasor de segurança, na forma de uma galeria em concreto armado estendendo-se sob o maciço da barragem e o reservatório e apoiando-se na ombreira direita no sistema tipo flauta. Em se tratando de um circuito fechado, a previsão era de que tal sistema somente entraria em operação em caso de emergências, por comprometimento do sistema de bombeamento ou por meio de uma precipitação muito atípica na região do reservatório. Em 1995, constatou-se a presença de uma dolina de um metro de diâmetro na região da praia de rejeitos, próxima à ombreira direita, na projeção vertical da galeria de segurança. Paralelamente ao efeito da formação da dolina, a equipe de operação da barragem verificou a ocorrência de rejeitos calcinados na estrutura de descarga da galeria, o que permitiu concluir que a galeria apresentava perda de continuidade e colapso localizado. Tal fato ocorreu basicamente por problemas de recalques da estrutura de concreto ou por ruptura das junta de dilatação da galeria. Face à impossibilidade de acesso à região comprometida da galeria, em função da seção transversal reduzida e ao grande potencial de riscos de acidentes, a empresa optou por desativar este sistema extravasor. Assim, procedeu-se ao tamponamento total da galeria, por meio do seu preenchimento com rejeitos calcinados e, na porção final da galeria, foi construído um grande filtro invertido, dimensionado para retenção das partículas sólidas e drenagem da polpa dos rejeitos infiltrados. Para a substituição do sistema desativado, implantou-se um vertedouro de emergência em seção circular, com diâmetro de 800 mm, declividade de 1% e soleira situada na elevação 845,30 m, instalado na ombreira direita da barragem. Com a elevação do depósito de rejeitos, na região de acesso ao vertedouro foi construída uma galeria vertical tipo tulipa, alteada à medida em que ocorra o alteamento do nível dos rejeitos no reservatório da barragem. Na situação atual, com a crista da barragem na Elevação 860,0m, este vertedouro encontra-se incorporado ao maciço da barragem. Pretende-se, futuramente, implantar um novo vertedouro de superfície na Elevação 857,0m. 60 4.2.2 – Dique de Proteção das Balsas Com o avanço da praia de rejeitos em direção ao fundo do vale, região no qual estavam posicionadas as bombas para recirculação de água do reservatório, a equipe de manutenção e operação da barragem decidiu pela construção de um dique de proteção para o sistema de bombeamento, com o objetivo de se evitar que os rejeitos se aproximassem da posição de sucção. Assim, em 1996, o dique foi construído em arco (Figura 4.3) com dimensões na crista de 10,0 x 30,0 metros e altura total de oito metros, com 3m de borda livre, utilizando-se material granular da pilha de estéril da Mina de Raposos. Após a construção, o dique passou a ser parte integrante do sistema, sendo inspecionado a cada quatro meses e submetido a alteamentos sucessivos à medida em que tal procedimento mostrou-se necessário. Figura 4.3 – Dique de proteção do sistema de bombeamento. Esta solução trouxe um grande benefício à eficiência do sistema de bombeamento por reduzir substancialmente os procedimentos de manutenção periódica, permitindo ainda manter a locação da balsa em um único ponto de sucção (Figura 4.4). Na ausência deste 61 dique de proteção, a sistemática usual consistia em uma contínua realocação do sistema de bombeamento na área de captação do reservatório. Figura 4.4 – Sistema de bombeamento e recirculação de água. 4.2.3 - Proteção do talude de jusante Após a conclusão da construção do maciço, com o coroamento da crista na elevação 860,0 m, a empresa, em parceria com a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), instituição federal de pesquisas nas áreas de agricultura e pecuária, iniciou os trabalhos de proteção com cobertura vegetal do talude de jusante, com o objetivo principal de se evitar a formação de sulcos erosivos e garantir uma estética adequada à estrutura. Tal prática, porém, mostrou-se extremamente difícil, pelo grande desafio de se encontrar espécies resistentes ao ambiente formado pelo underflow do rejeito ciclonado, 62 visto que a experiência não cogitava a possibilidade de se importar solo para aplicação sobre o rejeito. Assim, procedeu-se inicialmente a uma fase de experimentação do plantio de gramíneas e leguminosas diretamente sobre os rejeitos de flotação. O experimento ocorreu na época de seca (junho a setembro) e, para tanto, foi montado um sistema de irrigação em uma área de 100 m2. Foi selecionado um coquetel de treze espécies de sementes de gramíneas e leguminosas, que foram aplicadas diretamente sobre o rejeito. Os resultados foram excelentes e, a partir destas observações prévias, implantou-se a semeadura em todo o talude de jusante, nos períodos chuvosos subseqüentes, obtendose os objetivos de proteção superficial e melhoria do aspecto visual da barragem. Figura 4.5 – Proteção com cobertura vegetal do talude de jusante. 4.3 – Ensaios de Recuperação do Nível D’água A estabilidade de uma barragem de rejeitos é fortemente influenciada pelo nível d’água no interior de seu maciço. Assim, torna-se necessário o monitoramento da linha freática, comportamento mais freqüentemente adotado na Anglogold Ashanti fazendo-se uso de piezômetros Casagrande ou de medidores de nível d’água. 63 Os piezômetros Casagrande são constituídos por um tubo de PVC em cuja extremidade inferior é acoplada uma célula porosa (de cerâmica ou bronze sinterizado) ou um bulbo drenante (comumente na forma de um trecho perfurado do tubo envolvido com geotêxtil). A célula de pressão fica inserida numa base de material drenante e confinada num trecho limitado (usualmente de 1,0 a 1,5 m) por uma camada selante (usualmente bentonita ou solo-cimento), utilizada para vedar o espaço anular entre o tubo e o furo. Em superfície, o instrumento deve ser devidamente protegido contra atos de vandalismo (Fonseca, 2003). No caso da Barragem de Calcinados, foram instalados 07 piezômetros, constituídos basicamente em um tubo plástico de 26 mm de diâmetro, tendo, na sua extremidade inferior, uma célula de 60 mm de diâmetro totalmente perfurada e preenchida com areia com 1000 mm de comprimento (Figura 4.6). A ponta da extremidade inferior é selada com massa plástica e um cap de tamponamento. A parte superior imediatamente posicionada sobre a célula (corpo) é obstruída com selo de cimento e posteriormente com solo cimento até a superfície onde é construído um pequeno selo de concreto. O medidor de nível d’água é de construção mais simples, constando basicamente de um tubo plástico perfurado em todo o seu comprimento com um tampão no fundo. As principais vantagens deste tipo de instrumento são: elevada confiabilidade, simplicidade, durabilidade e custos reduzidos, bem como a possibilidade de verificação do seu desempenho. Como desvantagens principais, podem ser citadas as seguintes: alto tempo de resposta para materiais de baixo valor de permeabilidade; interferência na praça de construção; não é adequado para a determinação das poropressões no período de construção; não permite a medição de pressões negativas; restrições de localização à montante da linha d’água e maiores dificuldades de acesso aos terminais de leitura em relação a outros tipos de instrumento. Em função do diâmetro do furo de sondagem, podem ser instalados dois ou mais instrumentos em um mesmo furo. 64 Figura 4.6 – Piezômetros Casagrande instalados na Barragem de Calcinados. Com o objetivo de se verificar a eficiência dos piezômetros tipo Casagrande e os medidores de nível d’água, foram realizados testes de eficiência denominados upset tests ou ensaios de recuperação. Estes procedimentos de campo constituem comumente parte integrante das atividades de operação e manutenção dos sistemas de disposição de rejeitos da Anglogold Ashanti. Os testes foram realizados no final do período de seca, durante o mês de setembro, contando com a colaboração da equipe operacional da empresa que disponibilizou os recursos necessários. Todos os instrumentos instalados na barragem de Calcinados foram submetidos a estes ensaios e os resultados obtidos são descritos a seguir. 4.3.1 – Metodologia do Teste Inicialmente executou-se o trabalho de aferição topográfica das elevações de cada instrumento e foi feita a checagem com os dados anteriores (Figura 4.7). Este 65 procedimento foi de fundamental importância, visto que, para alguns instrumentos, estes dados estavam equivocados, o que certamente comprometeria a representatividade dos futuros trabalhos de análises de percolação e de estabilidade da barragem. Figura 4.7 – Checagem das elevações da instrumentação. Após esta checagem topográfica inicial, foram aferidas as profundidades efetivas de cada instrumento, sendo utilizado para esta atividade uma esfera de aço presa a uma corda de nylon. A esfera era descida dentro do instrumento até que a ela tocasse o fundo do mesmo. O comprimento da descida era medido através de uma trena graduada e a profundidade confrontada contra aquela constante à época da instalação dos instrumentos. De posse dos dados de elevação do topo dos instrumentos, da profundidade e do nível d’água de trabalho, procedeu-se à realização do ensaio propriamente dito, em duas fases distintas. Após o preenchimento de todo o tubo do instrumento com água e, de posse de um cronômetro e uma trena, foram, então, anotadas periodicamente as variações do nível d’ água ao longo do tubo com os respectivos tempos (Figura 4.8) para todos os instrumentos da barragem. Estes registros foram efetuados até se atingir a equalização do NA no tudo dos instrumentos. 66 Figura 4.8 – Teste de Recuperação do Nível D’Água dos Piezômetros. O princípio do teste de recuperação é que a coluna d’água no interior do tubo do instrumento tenderá a ser dissipada para o maciço através da célula drenante do instrumento, indicando uma condição de fluxo livre e, conseqüentemente, condições operacionais adequadas do piezômetro. O tubo do instrumento deve estar permanentemente exposto à pressão atmosférica e, para isto, sua tampa dispõe de uma pequena abertura com cerca de 5 mm de diâmetro. 4.3.2 – Resultados dos Ensaios de Recuperação Os resultados típicos dos ensaios realizados estão indicados na Tabela 4.2 e na Figura 4.9, para o caso do piezômetro PZ02. Os resultados correspondentes aos demais ensaios estão apresentados no Anexo I deste trabalho. Tabela 4.2 – Resultados do Ensaio de Recuperação do NA –PZ 02. Cota de topo Profundidade NA Cota do NA Tempo (min) 0,5 846,046 13,32 832,726 Profundidade Elevação (m) 0,97 845,076 67 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 17 19 21 23 25 27 29 34 39 44 51 61 71 81 91 101 111 121 141 161 181 201 221 241 1440 1,39 1,84 2,23 2,62 2,99 3,32 3,65 3,97 4,24 4,51 4,77 5,01 5,24 5,46 5,69 6,1 6,49 6,85 7,19 7,51 7,8 8,08 8,7 9,2 9,66 10,35 10,87 11,26 11,56 11,81 12,02 12,2 12,35 12,44 12,63 12,77 12,88 12,97 13,04 13,36 68 844,656 844,206 843,816 843,426 843,056 842,726 842,396 842,076 841,806 841,536 841,276 841,036 840,806 840,586 840,356 839,946 839,556 839,196 838,856 838,536 838,246 837,966 837,346 836,846 836,386 835,696 835,176 834,786 834,486 834,236 834,026 833,846 833,696 833,606 833,416 833,276 833,166 833,076 833,006 832,686 Barragem de Calcinados PZ 02 848,00 846,00 844,00 842,00 840,00 m 838,00 836,00 834,00 832,00 830,00 828,00 0, 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 17 19 21 23 25 27 29 34 39 44 51 61 71 81 9 101 11 1 12 1 14 1 16 1 18 1 20 1 22 1 24 1 14 1 40 826,00 minutos Nível original Leitura PZ Figura 4.9 – Curva do Teste de Recuperação do Nível D’Água do Piezômetro PZ 02. Em condições normais, o nível d’ água no interior do tubo tenderá a retornar á sua posição original, ao final do ensaio. Quando a permeabilidade do meio for elevada, o tempo de recuperação será imediato, ao passo que, numa condição de baixa permeabilidade, este fluxo será lento, podendo levar dias para o retorno ao nível d’água original. Durante a realização dos testes de recuperação, pôde-se constatar que os medidores de nível d’ água comportam-se de maneira diferente dos piezômetros. Com efeito, enquanto que nos piezômetros a descida da água pode ser medida continuadamente, nos medidores de nível d’ água isto não acontece pois, devido ao fato do tubo ser todo perfurado, o esvaziamento é afetado pelo fluxo intersticial do próprio maciço, tornando estas medidas, desta forma, sem representatividade. 69 Com base nos resultados destes ensaios e na efetiva caracterização dos níveis piezométricos no maciço da Barragem de Calcinados, tornou-se possível estabelecer as condições de fluxo e de geração das poropressões internas, que subsidiaram, então, as análises de estabilidade para as atuais condições operacionais da barragem. Estas análises são apresentadas no capítulo seguinte deste trabalho. 70 CAPÍTULO 5 5 – ANÁLISES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE JUSANTE DA BARRAGEM DE CALCINADOS 5.1 – Considerações Iniciais Para as análises de estabilidade do talude de jusante da Barragem de Calcinados, este estudo admitiu a condição de fluxo em regime permanente, a partir da seção de maior altura da barragem, utilizando valores de parâmetros geotécnicos obtidos através dos ensaios de laboratório realizados previamente. O estudo considerou ainda a geometria do projeto atual, com os alteamentos para jusante e a geometria do projeto original, com os alteamentos por linha de centro. As análises de estabilidade foram efetuadas com base nos princípios de equilíbrio limite, utilizando-se o método de Spencer, por meio do programa computacional SLOPE/W, versão 5.0, desenvolvido pelo Geo-Slope International do Canadá.O método de Spencer satisfaz as condições de equilíbrio das forças e momentos e admite que as forças entre as lamelas têm a mesma direção. O Programa SLOPE/W é um programa bastante utilizado na prática da engenharia geotécnica, por oferecer uma ampla gama de recursos de análises e uma interface bastante amigável com o usuário.O programa permite, por exemplo, a consideração de diferentes materiais, geometrias complexas, definição de superfícies de ruptura pelo próprio usuário, hipóteses de inclusão dos efeitos das poropressões nas análises, simulação de carregamentos, e outros. Nos casos estudados, as análises de estabilidade contemplaram superfícies potencialmente instáveis de geometria circular, definidas a partir da variação da malha de centros e raios, com pesquisa automática e generalizada para obtenção do FSmin a partir da aplicação dos princípios de equilíbrio inseridos no contexto do Método de Spencer. Para isso, deve-se buscar uma configuração de forma que o menor fator de 71 segurança esteja localizado no meio da malha de centros de superfície de ruptura formando linhas concêntricas de isovalores de FS. Nas análises de estabilidade, foram utilizados os parâmetros geotécnicos indicados na Tabela 5.1, obtidos a partir de ensaios triaxiais drenados realizados previamente (Geolabor, 1995) e análise sob tensões efetivas. Tabela 5.1 – Parâmetros Geotécnicos Utilizados nas Análises de Estabilidade. Material γ (KN/m3) c (kPa) φ (graus) Aterro 19 20 20 Fundação 19,8 30 28 Rejeito 16 0 35 No estudo realizado, as subpressões da água no corpo do maciço e da fundação foram obtidas considerando-se a linha freática coincidente com a linha piezométrica obtida através da instrumentação instalada. Esta hipótese simplificadora é considerada satisfatória para os estudos em questão. A linha freática considerada como atual corresponde à maior leitura piezométrica obtida durante o período de monitoramento (cerca de um ano). Posteriormente, foram elaboradas análises considerando uma variação do nível freático, verificando-se a sensibilidade das análises e dos coeficientes de segurança a eventuais variações do NA do reservatório. Para a fase de fechamento e desativação, o estudo estimou a posição da linha freática para um NA de montante na Elevação 857,0 m e com o NA de jusante na Elevação 824,0 m, condição imposta pelo possível enchimento do reservatório da Barragem de Cocuruto, situada imediatamente à jusante da Barragem de Calcinados. 5.2 – Análises de Estabilidade As análises de estabilidade para o talude de jusante, foram elaboradas para diferentes situações, visando estabelecer os coeficientes de segurança da barragem sob condições 72 operacionais distintas e na hipótese de desativação. Desta forma, foram considerados 06 diferentes cenários para as análises realizadas: - condição atual, com o NA de montante na elevação 843,0 m e geometria do projeto atual; - condição atual, com o NA de montante na elevação 843,0 m e geometria do projeto original; - condição de elevação do NA de montante até a elevação 857,0 m, representativa da condição final de operação do empreendimento e geometria do projeto atual; - condição de elevação do NA de montante até a elevação 857,0 m, representativa da condição final de operação do empreendimento e geometria do projeto original; - condição de fechamento da barragem, com o NA de montante na elevação 857,0 m e o NA de jusante na elevação 824,0 m (imposição do enchimento do reservatório da Barragem do Cocuruto) e geometria do projeto atual; - condição de fechamento da barragem, com o NA de montante na elevação 857,0 m e o NA de jusante na elevação 824,0 m (imposição do enchimento do reservatório da Barragem do Cocuruto) e geometria do projeto original. 5.2.1 – Condição Atual e de Elevação do NA de Montante - Geometria Atual As análises de estabilidade da Barragem de Calcinados foram implementadas a partir da condição atual da barragem, com NA situado na Elevação 843,0m e a partir do modelo de fluxo ajustado aos registros atualizados de piezometria em campo, após os ensaios de recuperação (upset tests) e aos condicionantes do sistema de drenagem interna da barragem. O estudo demonstrou que, para a situação de operação atual, o coeficiente de segurança mínimo obtido foi de FS = 1,601 pelo método de Spencer e pelo software GeoSlope (Figura 5.1). Esse valor reflete uma condição adequada para a operação do sistema de disposição de rejeitos, superior ao valor convencionalmente adotado em análises desta natureza (FS = 1,50). Especificamente neste caso, verificou-se que a superfície crítica de ruptura tende a 73 passar pelo aterro compactado da barragem de pé e uma pequena fração tende a evoluir ao longo do maciço construído com os rejeitos ciclonados. ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-001.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 0 2.00 Caso 1 - Projeto atual NA EL. 843,00 m Linha piezométrica atual 0 1.80 2.0 00 1.9 00 0 1 .7 0 El 870 860 Pz3 Pz2 850 Pz4 Pz5 Pz6 840 830 820 1.601 1.800 ã ( ) 880 Underflow Overflow Aterro 810 Aterro 800 790 780 Pz7 Fundação 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 Distância Horizontal (m) 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.1 – Análise de Estabilidade para Geometria Atual e NA Atual. A partir desta análise de referência, foram processadas análises complementares no sentido de se avaliar a influência específica da variação da posição da linha freática no interior do maciço da barragem. Para tal, foram simuladas elevações das colunas d’ água nos piezômetros instalados, correspondentes a elevações de 5,0m, 8,0m, 10,0m 15,0m e 18,0m. A análise da estabilidade efetuada para uma condição de elevação de 5,0m da linha freática está indicada na Figura 5.2. Neste caso, o nível d’água do reservatório estaria na elevação 848,00 m. Nesta simulação, o coeficiente de segurança mínimo encontrado foi igual a 1,50 (limite dos valores aceitáveis de FS), com a superfície crítica de ruptura tendendo a passar pelo dique de pé e por parte do talude construído com rejeitos, entre as elevações 822,00m e 832,00 m. 74 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-002.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer Caso 2 - Projeto atual NA EL. 848,00 m Linha piezométrica +5 m 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Underflow Overflow Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 1.500 Pz4 Pz2 850 1.600 1.700 0 1.90 00 1.8 880 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 Distância Horizontal (m) 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.2 – Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 5,0 m. Para a elevação do nível d’água do reservatório até a Elevação 853,00 m, cerca de 10,0 metros acima da situação atual, a linha piezométrica estaria deslocada para cima da ordem de 8,0 metros em relação à posição atual. Para esta simulação, o coeficiente de segurança mínimo encontrado pela sistemática das análises adotadas foi de 1,415, com a superfície crítica de ruptura tendendo a passar pelo dique de pé e parte do talude construído com rejeitos, próximo à elevação a elevação 830,0 m (Figura 5.3). Este coeficiente é inferior ao limite mínimo recomendado para este tipo de empreendimento, correspondendo a uma condição de alerta em termos da segurança da barragem. Nesta hipótese, o monitoramento dos registros piezométricos tenderia a ser bastante detalhado e repetido com freqüência, de forma a acompanhar a evolução das leituras. Numa primeira alternativa, estes valores poderiam tornar-se estáveis e a operação da barragem seria desenvolvida a contento. Porém, numa segunda alternativa, estes valores poderiam demonstrar uma tendência de evolução e, assim, tornar-se-ia 75 indispensável à adoção de medidas corretivas no sentido de se restabelecer os níveis de normalidade da estabilidade geotécnica da estrutura. ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-003.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 1.600 1.800 1.700 Caso 3 - Projeto atual NA EL. 853,00 m Linha piezométrica +8 m 1.500 1.415 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 850 Underflow Overflow Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 Distância Horizontal (m) 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.3 – Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 8,0 m. Ainda para a elevação do nível d’água do reservatório até a Elevação 853,00 m, cerca de 10,0 metros acima da situação atual, mas com uma elevação também de 10,0m da linha piezométrica, o coeficiente de segurança mínimo encontrado pela sistemática das análises adotadas foi de 1,336, com a superfície crítica de ruptura tendendo a passar pelo dique de pé e parcialmente pelo de rejeitos (Figura 5.4). Analogamente, foram feitas simulações para elevações da linha piezométrica da ordem de 15,0m e 18,0m em relação à posição atual, correspondentes a um nível d’água do reservatório situado na Elevação 857,00 m, cerca de 14,0 metros acima da situação atual. Nestas hipóteses, foram obtidos valores mínimos de FS = 1,167 e FS = 1,067, respectivamente (Figuras 5.4 e 5.5). Em ambas as situações, a posição da superfície de ruptura manteve-se inalterada em relação aos casos anteriores. Tais valores implicariam uma condição crítica de operação da barragem e, desta forma, estudos específicos deveriam ser implementados visando basicamente promover a depleção da linha 76 piezométrica muito elevada no interior do maciço. Para a posição prevista para a linha freática pelo Programa SEEP, o coeficiente de segurança obtido foi igual à FS =1,399 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-004.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 1.400 1.700 1.500 1.600 Caso 4 - Projeto atual NA EL. 853,00 m Linha piezométrica +10 m 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 1.336 Pz5 Pz6 840 830 Pz4 Pz2 850 Underflow Overflow 820 Aterro 810 Pz7 Aterro 800 790 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Distância Horizontal (m) Figura 5.4 – Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 10,0 m. ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-005.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 1.167 Pz4 Pz2 850 1.200 1.500 1.400 880 1.300 Caso 5 - Projeto atual NA EL. 857,00 m Linha piezométrica +15 m Underflow Overflow Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 Distância Horizontal (m) 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.5 – Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 15,0 m. 77 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-006.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 1.10 0 1.400 1.200 1.3 00 Caso 6 - Projeto atual NA EL. 857,00 m Linha piezométrica +18 m 1.067 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 850 Underflow Overflow Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 Distância Horizontal (m) 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.6 – Análise de Estabilidade para Projeto Atual e Linha Freática a + 18,0 m. 5.2.2 – Condição Atual e de Elevação do NA de Montante - Geometria Original Numa segunda abordagem, com o objetivo de se estabelecer uma análise comparativa entre os projetos original e modificado (atual) da Barragem de Calcinados, procedeu-se a análises da estabilidade da barragem considerando o projeto original para as condições atuais de operação, ou seja, com a simulação da linha freática na posição atual (definida pelas leituras atuais dos piezômetros instalados) e o nível d’água de jusante posicionado na elevação 803,00, correspondente ao nível da barragem de Cocuruto situada imediatamente à jusante a de Calcinados. Neste caso, o coeficiente de segurança encontrado foi igual à FS = 1,637 (Figura 5.7), ligeiramente superior ao encontrado na análise anterior que foi de FS = 1,601 (projeto atual, alteamento para jusante). Analogamente, a superfície de ruptura ficou posicionada sobre o aterro compactado do dique de pé, com um pequeno trecho incorporando o aterro construído com os rejeitos ciclonados. 78 2.000 0 1.90 1.9 00 Caso 8 - Projeto original NA EL. 843,00 m Linha piezométrica atual 2.000 A NGLOGOLD A SHA NTI MINERA ÇÃ O LTDA A NÁ LISE DE ESTA BILIDA DE - BA RRA GEM DE CA LCINA DOS File Name: BGR-C-CA -A E-008.slz Last Saved Date: 24/10/2005 A nalysis Method: Spencer 1.7 00 1.800 1.80 0 1.900 880 1.637 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 Pz5 840 830 820 Pz6 Underf low Overf low A terro 810 A terro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 Distância Horizontal (m) 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.7 – Análise de Estabilidade para Projeto Original com Linha Freática Atual. De acordo com uma correlação direta entre os resultados obtidos, poder-se-ia concluir, aparentemente, que, a mudança da metodologia construtiva tenha sido inadequada. As análises subseqüentes conduzem a uma conclusão diversa, como será demonstrado a seguir. Com efeito, similarmente aos estudos realizados para condição do projeto atual com elevações da linha freática, também para o projeto original foram realizadas simulações nas mesmas condições para as devidas comparações dos valores obtidos em ambas as situações. As Figuras 5.8 e 5.9 apresentam, por exemplo, as análises correspondentes às condições de elevação da linha freática de 15m e de 18m, respectivamente (NA de montante na elevação da condição de fechamento, ou seja na cota 857,00 m e o NA de jusante na elevação 803,00 m). Na primeira simulação, o valor do coeficiente de segurança mínimo foi de FS = 1,211 enquanto que, para a elevação de 18m, o valor de FS foi igual a 1,159, valores substancialmente inferiores àqueles normalmente adotados em projetos convencionais de barragens. 79 1.500 1.500 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BA RRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-009a.slz Last Saved Date: 25/11/2005 Analysis Method: Spencer 1.40 0 1.400 1.600 Caso 9a - Projeto original NA montante EL. 857,00 m NA jusante EL. 803,00 m Linha piezométrica +15 m 1.30 0 1.500 0 1.60 880 1.211 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 Pz5 840 830 820 Pz6 Underflow Overf low Aterro 810 790 Fundação 780 770 Pz7 Aterro 800 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 Distância Horizontal (m) 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.8 – Análise de Estabilidade para Projeto Original e Linha Freática a + 15,0 m. 1.400 1.200 1.500 1.400 Caso 9b - Projeto original NA montante EL. 857,00 m NA jusante EL. 803,00 m Linha piezométrica +18 m 1.400 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-009b.slz Last Saved Date: 28/11/2005 Analysis Method: Spencer 1.500 1.159 880 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 840 830 820 810 Pz5 Underflow Overf low Pz6 Aterro Aterro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 Distância Horizontal (m) 260 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.9 – Análise de Estabilidade para Projeto Original e Linha Freática a + 18,0 m. 80 Para a posição prevista para a linha freática pelo programa de elementos finitos SEEP/W, o coeficiente de segurança obtido foi igual à FS =1,513. A Tabela 5.2 apresenta a síntese das correlações entre os valores de FS obtidos em ambas as situações de projeto. Tabela 5.2 – Dados Comparativos dos Valores de FS para as Condições Atuais (Geometria Atual x Geometria Original). Projeto NA.Montante Atual NA.Jusante Original Avaliação Posição da Freática Valores de FS 843 803 atual 1,601 1,637 Pior 848 803 +5m 1,500 853 803 +8m 1,415 853 803 + 10 m 1,336 857 803 + 15 m 1,167 1,211 Pior 857 803 + 18 m 1,067 1,159 Pior 857 803 prevista 1,513 5.2.3 – Condição Final e Elevação do NA de jusante - Geometria Atual Na condição projetada para o encerramento das operações da Barragem de Calcinados (condição final), definida pela posição do nível d’água do reservatório na elevação 857,0 m, cerca de 14 metros acima da posição atual, e o nível d’água de jusante devido à barragem do Cocuruto cerca de 20m acima do nível atual, o coeficiente de segurança mínimo encontrado foi igual à FS = 1,583, valor admissível para projeto. Esta condição está apresentada na Figura 5.10. Constata-se que os efeitos decorrentes da elevação do NA a jusante, em função do avanço do reservatório da Barragem do Cocuruto, propicia uma melhoria significativa das condições de estabilidade da barragem. Com efeito o coeficiente de segurança da 81 barragem passou de um valor FS = 1,067 (elevação do NA a jusante na elevação 803,0m) para um valor de FS = 1,583 (elevação do NA a jusante na elevação 824,0m). 1.800 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-007.slz Last Saved Date: 6/10/2005 Analysis Method: Spencer 1.600 Caso 7 - Projeto atual Situação no fechamento NA montante EL. 857,00 m NA jusante El. 824,00 m 00 1.7 1.700 1.583 1.700 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 850 Underflow Overflow Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 Distância Horizontal (m) 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.10 – Análise de Estabilidade para Geometria Atual e NA Final. 5.2.4 – Condição Final e Elevação do NA de Jusante - Geometria Original Neste caso, o estudo simulou as condições de estabilidade da Barragem de Calcinados admitindo-se a geometria do projeto original (alteamento pela linha de centro) e a condição prevista para a fase de fechamento (condição final), com o NA de montante na elevação 857,00 m e a de jusante na elevação 824,0m. A Figura 5.11 mostra a posição da linha freática estimada em função das condições de contorno nesta situação, sendo obtido um coeficiente de segurança mínimo de FS = 1,454. Em comparação a uma condição similar e para a geometria atual (análise anterior), verifica-se que se obtém uma condição de estabilidade mais favorável em termos do projeto modificado; os coeficientes de segurança obtidos foram de 1,583 no projeto atual e de 1, 454 no projeto original, uma variação da ordem de 10%. Uma segunda observação a ser ressaltada é que os estudos prévios de projeto indicavam valores de FS 82 substancialmente maiores que os calculados nestas análises (que foram da ordem de FS=1,80), provavelmente associados a parâmetros geotécnicos mais favoráveis. 1.600 1.600 1.700 A NGLOGOLD A SHA NTI MINERA ÇÃ O LTDA A NÁ LISE DE ESTA BILIDA DE - BA RRA GEM DE CA LCINA DOS File Name: BGR-C-CA -A E-010.slz Last Saved Date: 24/10/2005 A nalysis Method: Spencer 1.50 0 Caso 10 - Projeto original Situação no f echamento NA montante EL. 857,00 m NA jusante EL. 824,00 m 1.80 0 1.454 880 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 840 830 820 810 Pz5 Underf low Overf low Pz6 A terro A terro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 Distância Horizontal (m) 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.11 – Análise de Estabilidade para Geometria Original e NA Final. 5.2.5 – Condição Atual - Geometria Atual Estabilizada Com a recente proposta de implantação de uma nova barragem de contenção de rejeitos na planta da Mina de Cuiabá, a possibilidade de disposições futuras de rejeitos na Barragem de Cocuruto fica inteiramente comprometida, o que torna sem sentido o aumento crescente da estabilidade da Barragem de Calcinados em função do avanço operacional do reservatório da Barragem do Cocuruto (Figura 5.11). Assim, retorna-se às premissas de projeto baseadas na disposição futura dos rejeitos sem uma correspondente alteração da condição do NA de jusante. Conforme exposto nas análises anteriores, a condição final da barragem (reservatório de montante na Elevação 857,0m) para a geometria atual implicaria em valores de coeficientes de estabilidade totalmente incompatíveis com a segurança da barragem no caso de uma elevação 83 brusca da linha freática atual (FS = 1,167 e FS = 1,067, para elevações de 15m e 18m, respectivamente). Desta forma, impõe-se o estudo de alternativas para garantir uma adequada estabilização da barragem no caso de tais condicionantes críticos. Para tanto, outras simulações e análises de estabilidade complementares foram realizadas, com o objetivo de definir uma nova geometria para o maciço, capaz de garantir os níveis de segurança desejáveis. A solução mais adequada admitiu, para a geometria do projeto atual com alteamentos pelo método de jusante, a construção de duas bermas de estabilização a jusante, sendo uma na elevação 820,00 m, com 20 metros de largura e outra na elevação 810,00 m, com 10 metros de largura (Figura 5.12). ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: ESTABILIZAÇAO.slz Last Saved Date: 28/11/2005 Analysis Method: Spencer Projeto atual - estabilização Última Etapa de Alteamento NA EL. 857,00 m 880 870 Berma de Estabilização Elevação (m) 860 850 840 830 820 810 Underflow Overflow 20,00 Aterro 2,5 10,00 1 Aterro 800 790 El. 820,00 2,5 El. 810,00 1 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 Distância Horizontal (m) 380 400 Figura 5.12 – Barragem de Calcinados com Bermas de Estabilização. As análises foram estabelecidas considerando-se que as bermas sejam construídas com aterro compactado, devido ao fato de haver pouca disponibilidade de rejeitos underflow atualmente na Planta Metalúrgica do Queiroz, uma vez que, conforme já mencionado, 84 420 Escala 1:2000 este material tem sido amplamente utilizado no sistema de back fill para enchimento das minas. Os resultados destas análises estão apresentados nas Figuras 5.13 e 5.14, para as elevações de 15,0m e 18,0m da linha freática, respectivamente. Os parâmetros geotécnicos adotados foram aqueles obtidos a partir de ensaios de laboratório (Geolabor, 1994). Os coeficientes de segurança obtidos foram iguais a FS = 1,574 para a simulação da subida da linha freática em 15 m e FS = 1,456 para a simulação da subida da freática em 18 m. Em função do valor de referência de FS = 1,50 estabelecido para o projeto, as bermas de estabilização permitiram a obtenção de condições aceitáveis, em função dos valores de FS em torno deste valor e por implicar uma solução simples e passível de ser executada pela própria mineradora. 1.650 Caso 1 - Projeto atual - estabilização Última Etapa de Alteamento NA EL. 857,00 m Linha piezométrica +15 m 1.70 0 1.600 1.574 1.650 1.650 1.650 1. 1.750 700 A NGLOGOLD A SHANTI MINERAÇÃ O LTDA A NÁLISE DE ESTA BILIDADE - BA RRA GEM DE CA LCINA DOS File Name: BGR-C-CA-AE-011.slz Last Saved Date: 28/11/2005 A nalysis Method: Spencer 50 1.7 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 850 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 Underflow Overf low Aterro A terro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 Distância Horizontal (m) 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.13 – Análise de Estabilidade para a Barragem com Bermas de Estabilização (Linha Freática a + 15,0 m). 85 1.600 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-012.slz Last Saved Date: 28/11/2005 Analysis Method: Spencer 0 55 1. 1.55 0 Caso 2 - Projeto atual - estabilização Última Etapa de Alteamento NA EL. 857,00 m Linha piezométrica +18 m 1.6 50 1. 60 0 1.5 50 1.500 1.5 50 1.456 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 850 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 Underflow Overf low Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 Distância Horizontal (m) 280 300 320 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 Figura 5.14– Análise de Estabilidade para a Barragem com Bermas de Estabilização (Linha Freática a + 18,0 m). Na tabela 5.3, apresenta-se à síntese geral de todas as análises de estabilidade implementadas para a avaliação das condições geotécnicas da Barragem de Calcinados, considerando-se diferentes geometrias de projeto e diferentes condições operacionais. Os valores apresentados para os coeficientes de segurança englobam também as análises correspondentes a uma proposta de estabilização da barragem, por meio de bermas na sua configuração final, de forma a garantir uma condição de FS em torno de 1,50. Observa-se, em termos gerais, que a barragem apresenta valores admissíveis para FS, tanto em termos do projeto original como o efetivamente implantado, à exceção dos casos de elevação acentuada da linha freática através do maciço da barragem, condição crítica contornada pela adoção da solução baseada em bermas de estabilização. 86 Tabela 5.3 – Valores de FS para a Barragem de Calcinados. Caso Projeto Condição El. do NA de Nível montante (m) freático FS 1 Atual Atual 843,0 Atual 1,601 2 Atual Subida do NA 848,00 +5m 1,500 3 Atual Subida do NA 853,00 +8m 1,415 4 Atual Subida do NA 853,00 + 10 m 1,336 5 Atual Subida do NA 857,00 + 15 m 1,167 6 Atual Subida do NA 857,00 + 18 m 1,067 7 Atual Fechamento 857,00 Estimada 1,583 8 Original Atual 843,00 Atual 1,637 9 Original Subida do NA 857,00 Estimada 1,513 10 Original Fechamento 857,00 Estimada 1,454 11 Original Fechamento 857,00 + 15 m 1,211 12 Original Fechamento 857,00 + 18 m 1,159 13 Atual Fechamento com 857,00 + 15 m 1,574 857,00 + 18 m 1,456 subida do NA e berma de equilíbrio. 14 Atual Fechamento com subida do NA e berma de equilíbrio. 5.3 – Cartas de Risco para a Barragem de Calcinados Com base nas análises realizadas, procedeu-se à elaboração da carta de risco da barragem quanto a movimentos de massa, admitindo-se a hipótese de um escorregamento rotacional e a possibilidade da variação da posição da linha freática. A carta de risco constitui uma ferramenta de extrema praticidade para controle operacional de uma barragem, permitindo a efetiva avaliação do comportamento geotécnico da estrutura. Assim, à medida que se tem os dados da instrumentação e do 87 monitoramento, pode-se imediatamente definir a posição da linha freática e aferi-la aos valores de referência. Em particular, este dispositivo deve caracterizar-se por uma aplicação generalizada e abrangente e prover, de forma simples e objetiva, uma avaliação global das condições de estabilidade da obra geotécnica em questão. No caso da Barragem de Calcinados, estes procedimentos compreendem a definição das leituras para os instrumentos instalados na seção de maior altura para a caracterização dos níveis de emergência, alerta e normal (Tabela 5.4). Os coeficientes de segurança adotados para preparação da Carta de Risco da Barragem de Calcinados foram os seguintes: • FS = 1,10 : Nível de Emergência • FS = 1,30: Nível de Alerta • FS = 1,50 : Nível Normal de Operação Tabela 5.4 – Leituras Piezométricas para Níveis de Alerta e Emergência* Instrumento Nível de Alerta Nível de Emergência Cota Piezométrica (m) Cota Piezométrica (m) Pz 02 853,00 857,00 Pz 03 852,00 854,00 Pz 04 838,00 844,50 Pz 04N 838,50 845,00 Pz 05 834,50 839,50 Pz 05N 835,00 840,00 Pz 06 830,00 833,50 Pz 07N 806,00 807,00 * Seção de altura máxima da barragem Este estudo permitiu ainda estabelecer uma metodologia de controle e monitoramento, bastante simples, porém muito eficiente, por meio de uma planilha de controle e 88 acompanhamento das leituras dos piezômetros (Tabela 5.5). Nesta planilha, desenvolvida em ambiente Excel, o operador tem uma informação direta e imediata da situação operacional da barragem, com base no lançamento dos dados de campo. A metodologia consiste no lançamento direto dos registros piezométricos na planilha, associada com os níveis prescritos na Carta de Risco, de acordo com a seguinte código de cores: - Verde: situação normal de operação - Amarelo: situação de alerta - Vermelho: situação de emergência Tabela 5.5 – Planilha de Controle das Leituras Piezométricas - Barragem de Calcinados. PZ Nº 02 Nº 03 Nº 04 Nº 04 N 04/08/05 22/08/05 09/09/05 849,61 849,61 849,61 849,61 849,61 849,61 832,01 832,01 832,01 832,01 832,01 832,01 836,12 836,18 836,23 836,25 836,27 0,00 13,49 13,43 13,38 13,36 13,34 13,34 861,05 861,05 861,05 861,05 861,05 861,05 829,95 829,95 829,95 829,95 829,95 829,95 822,96 822,94 822,93 822,92 822,93 0,00 38,09 38,11 38,12 38,13 38,12 38,12 854,27 854,27 854,27 854,27 854,27 854,27 803,15 803,15 803,15 803,15 803,15 803,15 819,50 819,50 819,50 819,50 819,50 0,00 34,77 34,77 34,77 34,77 34,77 34,77 852,83 852,83 852,83 852,83 852,83 852,83 801,83 801,83 801,83 801,83 801,83 801,83 814,12 814,10 814,10 814,07 814,10 0,00 38,71 38,73 38,73 38,76 38,73 38,71 89 27/09/05 12/10/05 27/10/05 Nº 05 Nº 05 N Nº 06 845,18 845,18 845,18 845,18 845,18 845,18 791,27 791,27 791,27 791,27 791,27 791,27 816,53 816,53 816,53 816,53 816,53 0,00 28,65 28,65 28,65 28,65 28,65 28,65 843,39 843,39 843,39 843,39 843,39 843,39 789,39 789,39 789,39 789,39 789,39 789,39 813,36 813,32 813,30 813,27 813,18 0,00 30,03 30,07 30,09 30,12 30,21 30,29 840,21 840,21 840,21 840,21 840,21 840,21 786,83 786,83 786,83 786,83 786,83 786,83 814,16 814,16 814,16 814,16 814,16 0,00 26,05 26,05 26,05 26,05 26,05 26,05 A Tabela 5.4 ilustra um certo conjunto de dados da planilha, onde ficam evidenciados os seguintes aspectos: - as leituras dos instrumentos são feitas em períodos quinzenais; - as leituras estão apresentadas por instrumentos (blocos de 4 linhas); - a quarta linha indica a profundidade do NA lida no instrumento a partir do topo do piezômetro (cuja elevação constitui os dados da primeira linha); - a terceira linha indica a elevação do NA no instrumento (a cor verde indica uma situação normal de operação), em relação à elevação da base do piezômetro (cujos valores são dados na segunda linha do bloco); - a diferença dos valores correspondentes entre a segunda e a terceira linha indica a altura da coluna d’ água no instrumento à época das medições. A Figura 5.15 mostra a Carta de Risco para a Barragem de Calcinados, em função das leituras piezométricas obtidas em sua seção de altura máxima (leituras em azul), que são, então, confrontadas com os valores de referência prescritos para as condições 90 normais de operação, alerta e emergência (gráficos expressos em cores verde, amarelo e vermelho, respectivamente). Níveis piezométricos (maciço) X Niveis de Segurança 860 855 850 845 840 835 830 825 820 815 810 Nº 02 Nº 03 Nº 04 FS 1,5 Nº 04 N FS 1,3 Nº 05 FS 1,1 Nº 05 N Atual Figura 5.15 – Carta de Risco da Barragem de Calcinados. 91 Nº 06 CAPÍTULO 6 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES FINAIS 6.1 – Considerações Finais Atualmente as reservas minerais das minas da região da cidade de Sabará (Minas de Cuiabá e Lamego) têm sido incrementadas de maneira substancial, à medida que os trabalhos de pesquisas geológicas são realizadas, utilizando modelagens sofisticadas e sondagens detalhadas. Nas minas da região de Nova Lima (atualmente com as operações paralisadas), as reservas já foram muito estudadas e o seu potencial, tanto a nível de teor do minério aurífero como em termos dos volumes inferidos, aguardam um melhor momento econômico para que possam voltar a ser operadas. Em empreendimentos de mineração, particularmente envolvendo a prospecção de minérios de ouro que ocorrem em concentrações baixíssimas (praticamente 99% do volume de minério tratado transforma-se em rejeito), torna-se um grande desafio estabelecer, de forma criteriosa e racional, um modelo gerencial otimizado de disposição dos grandes volumes de rejeitos gerados no processo de beneficiamento industrial. De acordo com o planejamento atual de exploração das Minas de Cuiabá e Lamego, considera-se que a Planta Industrial do Queiroz deverá processar minérios até o ano de 2019, gerando aproximadamente 10.734.849 m3 de rejeitos, dos quais 1.612.903 m3 de rejeitos calcinados, que deverão ser armazenados na Barragem de Calcinados. A capacidade de armazenamento desta barragem é da ordem de 2.652.865 m3. No complexo do Queiroz em Nova Lima, desde 1944, o processo de disposição dos rejeitos tem sido feito pela técnica de aterro hidráulico. Diferentes barragens foram construídas ao longo dos anos para aumentar a capacidade de estocagem do complexo, culminando, em 1986, com a execução da Barragem de Calcinados, implantada de 92 forma a adequar o sistema às necessidades decorrentes da expansão da empresa com o denominado Projeto Cuiabá-Raposos (Capítulo 2). A concepção inicial do projeto desta barragem estabelecia a construção inicial de uma barragem homogênea em solo compactado com 30 metros de altura (dique de partida), situada no eixo da futura barragem de rejeitos e um dique de pé, situada à jusante e com altura da ordem de 14 metros, com o espaço disponível entre as duas barragens destinado a ser preenchido com o underflow proveniente da ciclonagem dos rejeitos de flotação da planta do Queiroz. Assim, a barragem inicial foi construída até a elevação 830,0m com materiais oriundos das áreas de empréstimos, constituídos por solos residuais, predominantemente solos silto-arenosos de alta plasticidade e, a partir desta cota, foram executados sucessivos alteamentos, utilizando-se o rejeito underflow do processo de beneficiamento do minério. Estes mesmos materiais foram utilizados na construção do dique de pé. Razões operacionais levaram a empresa a modificar o processo de alteamento original da barragem por linha de centro para um sistema de alteamento para jusante, a partir da elevação 846 m. A principal razão para isso foi resultante da necessidade de se reduzir o volume do barramento em termos dos volumes dos rejeitos de flotação. Estes estudos demonstraram que a opção pelo método de alteamento por jusante implicou uma redução da ordem de 38% no volume de rejeitos necessários para construção da etapa adicional da barragem (Capítulo 3). O alteamento da barragem foi concluído em 2002, quando a crista da barragem atingiu a elevação de 860,0 m, perfazendo uma altura final de 52m do maciço. Face à particularidade do armazenamento de rejeitos não inertes, a barragem de Calcinados foi projetada para operar em circuito fechado, sendo as águas de percolação pelo maciço ou pela fundação captadas por um sistema de drenagem e conduzidas até a uma estação de bombeamento para retorno ao reservatório. Para a estimativa da vida útil do reservatório da Barragem de Calcinados, adotou-se a taxa de assoreamento obtida através da batimetria. Acredita-se que este valor esteja mais próximo da realidade de campo, ao se comparar com os dados fornecidos 93 diretamente pela planta metalúrgica, em função de um grande número de variáveis (partição de sólidos na polpa, vazões inconstantes, panes no sistema de bombeamento e outros) na representatividade dos registros. O presente trabalho teve como objetivo principal estabelecer uma ampla reavaliação do comportamento da Barragem de Calcinados, em face de suas premissas de projeto, construção e dos registros e leituras da instrumentação instalada, traçando um paralelo entre a geometria projetada e aquela efetivamente adotada. Estes estudos foram baseados nas análises de estabilidade da barragem, para diferentes condições operacionais, a partir dos dados atualizados a partir da instrumentação geotécnica instalada, submetida previamente a trabalhos de recuperação e de avaliação de desempenho. 6.2 – Conclusões ● Quanto ao diagnóstico atual e às condições operacionais da barragem Na avaliação global das condições atuais de operação da Barragem de Calcinados no âmbito da Planta Metalúrgica de Queiroz, os principais resultados e conclusões obtidos neste trabalho foram os seguintes: (i) de acordo com os dados disponíveis da última batimetria realizada (em novembro de 2004), a vida útil do reservatório foi estimada em 18,84 anos com lançamentos de rejeitos até a elevação 857,00 m, para um free board de 3,0 m. O volume para se atingir a elevação citada é da ordem de 2.110.000 m3, o que corresponde a 3.255.000 toneladas de rejeitos. Analisando o plano de produção da empresa (ver Anexo C), constata-se que, até o final de operação, a empresa pretende beneficiar um total de 16.639.017 toneladas de minério, dos quais 15% serão transformados em rejeitos calcinados, com uma geração total de 2.500.000 toneladas, correspondentes a 1.612.903 m3. Neste sentido, conclui-se que o reservatório tem capacidade mais que suficiente para armazenar todo o 94 rejeito a ser gerado até o ano de 2019, com um volume residual de segurança de aproximadamente 500.000 m3; (ii) com base nas análises de estabilidade realizadas neste trabalho, pode-se concluir que, a nível de capacidade de reservação do reservatório da Barragem de Calcinados, a decisão de se mudar a geometria da barragem foi plenamente justificada; (iii) outros benefícios resultantes da opção pela mudança da geometria da barragem foram caracterizados nos estudos implementados. Dentre os mais significativos, merecem ser destacados o menor volume de rejeitos do tipo underflow passíveis de serem utilizados na construção do maciço, gerando, assim, um menor custo global de construção (mão de obra, bombeamento e ciclonagem, manutenção dos equipamentos, etc) (iv) Adicionalmente, o projeto modificado permitiu um acréscimo significativo da velocidade de construção, permitindo-se dispor de um free board de mais de 20m. Com a redução do volume de rejeitos, foi possível utilizar ainda o saldo para uso no sistema de enchimentos das galerias das minas subterrâneas (backfill), tornando, desta forma, mais viável as atividades de desenvolvimento e produção das Minas Velha e de Raposos onde havia escassez de material estéril para construção dos aterros. (v) Outro benefício importante desta mudança de concepção foi de natureza operacional: a tubulação de adução de rejeitos para os ciclones e de recalque para a Barragem do Rapaunha, que anteriormente necessitava de realocações periódicas, pôde ficar posicionada definitivamente num mesmo patamar, reduzindo assim, os custos operacionais. A conclusão precoce da construção do maciço permitiu também a antecipação dos serviços de cobertura vegetal dos taludes, o que não apenas melhorou o aspecto visual da estrutura, como praticamente eliminou a formação de focos erosivos, induzidos por chuvas e/ou ação de ventos locais. 95 (vi) Considerando a natureza não inerte dos resíduos armazenados na Barragem de Calcinados e em função das novas exigências da legislação ambiental, seria recomendado, na situação atual, uma complementação de projeto que incluísse a implantação de um sistema de impermeabilização ao longo de todo o reservatório para os novos projetos para rejeitos similares ao de calcinado. ● Quanto a instrumentação geotécnica da Barragem de Calcinados A Barragem de Calcinados possui um sistema de instrumentação simples e eficiente, composto de piezômetros tipo Casagrande, medidores de nível d’água e marcos superficiais. O controle e monitoramento do desempenho geotécnico da barragem estão centralizados nos registros piezométricos periódicos efetuados nos instrumentos posicionados sobre o aterro. Assim, com o objetivo de se verificar a garantia da consistência e da representatividade das leituras dos instrumentos, em termos das análises de estabilidade da barragem, procedeu-se a um programa de aferição dos mesmos através de ensaios de equalização e funcionabilidade, denominado up set tests. Neste item, podem ser caracterizados como principais resultados do trabalho os seguintes pontos: (i) os piezômetros tipo Casagrande responderam bem aos ensaios e foram caracterizados como instrumentos confiáveis; (ii) para os medidores de nível d’água, os testes mostraram-se ineficientes e inadequados, visto que o enchimento da coluna dos instrumentos demandou enorme tempo. Tais observações levaram à conclusão de que a elevada permeabilidade do aterro permitia a fuga da água introduzida ao instrumento, além de provocar erosões no ponto de apoio do instrumento, facilmente perceptível ao se aferir à profundidade do instrumento após a execução dos testes; 96 (iii) A dissipação instantânea ocorrida nos ensaios realizada nos medidores de nível d’água, observados em praticamente todos os ensaios realizados, indica uma elevada permeabilidade dos rejeitos tipo underflow utilizados como materiais de construção do aterro. ● Quanto às análises de estabilidade da Barragem de Calcinados. Após os testes de verificação da funcionabilidade dos piezômetros e medidores de nível d’água, foram processadas as análises de estabilidade da Barragem de Calcinados, fundamentadas em princípios e abordagens convencionais da Engenharia Geotécnica. Nestes estudos, utilizou-se o programa computacional SLOPE/W, cujos princípios foram aplicados à seção de máxima altura da barragem (52 m), com base em valores de parâmetros geotécnicos efetivos obtidos através da execução de ensaios de laboratório. As subpressões de água no corpo do maciço e da fundação foram obtidas considerandose a linha freática coincidente com a linha piezométrica obtida através da instrumentação instalada. Esta hipótese simplificadora é considerada satisfatória para os estudos em questão (DAM, 2005). Neste item, os principais resultados e conclusões encontrados foram os seguintes: (i) em função dos resultados das análises de sensibilidade, observa-se que o fator de segurança da Barragem de Calcinados é bem sensível à variação do nível d’água do reservatório; (ii) nas condições atuais de operação, a Barragem de Calcinados apresenta uma estabilidade global satisfatória, com o fator de segurança da ordem de 1,601, superior ao valor FS = 1,500 convencionalmente adotado para segurança de barragens sob regime permanente de fluxo. Nesta condição, 97 considera-se que a barragem é estável, devendo ser objeto apenas de manutenção periódica e de acompanhamento da instrumentação; (iii) para a condição de subida do nível d’água de montante até a elevação 857,00 m, no entanto, poderá ocorrer a elevação dos níveis piezométricos atuais, provocando uma diminuição do coeficiente de segurança encontrado. Neste caso, poderão ocorrer valores inferiores ao desejável e é recomendável pois, que a subida do nível d’água de montante seja feita de forma gradual e controlada, com acompanhamento constante da instrumentação. Caso sejam detectadas elevações significativas dos níveis piezométricos no maciço de jusante, deverão ser tomadas outras medidas estabilizadoras, tais como a construção de bermas de equilíbrio, simuladas neste estudo; (iv) para a condição no fechamento, com o alteamento do nível d’água de jusante até a elevação 824,00 m, provocado pelo alteamento da barragem de Cocuruto posicionada a jusante, o coeficiente de segurança torna a se elevar, atingindo um valor da ordem de FS = 1,583. Porém, esta possibilidade hoje é considerada pela mineradora como pouco provável de acontecer, uma vez que a construção de uma nova barragem de contenção de rejeitos na área da Mina de Cuiabá deverá liberar totalmente a capacidade adicional de armazenamento de rejeito pela Barragem de Rapaunha, tornando inoperante a Barragem do Cocuruto; (v) as análises efetuadas mostraram ainda que o projeto original (alteamento pela linha de centro), para condição atual, apresentava um coeficiente de segurança da ordem de FS = 1,637, ligeiramente superior ao apresentado pelo projeto atual, que é de 1,601. Entretanto, para condição no fechamento, com o nível d’água de montante na elevação 857,0 m e o de jusante na elevação 824,0 m, esta situação se inverte: para o projeto original, o coeficiente de segurança nesta condição era de 1,454 e, para o projeto atual, este coeficiente é igual a 1,583. 98 (vi) as análises de estabilidade realizadas para a Barragem de Calcinados para a condição de fechamento, com a subida do NA de montante até a elevação 857,0 m, sem a correspondente subida do NA de jusante até a elevação 824,0 m, indicaram a necessidade de construção de bermas de equilíbrio para estabilização a jusante. Para tanto este estudo simulou situações , onde se previu a construção das bermas de equilíbrio nas elevações 820,00 m, com 20 m de largura e outra na elevação 810,00 m com 10 m de largura. Esta simulação demonstrou que se pode garantir um FS = 1,50 para uma condição de variação da linha piezométrica atual de até 15 m. A geometria adotada garante um coeficiente de segurança próximo a 1,50 mesmo para uma ascensão de 18 m da linha piezométrica atual. Portanto, sugere-se a construção das duas bermas de estabilização a jusante e a continuidade de acompanhamento da instrumentação instalada para aferir e monitorar a evolução das leituras piezométricas futuras; (vii) a sistematização dos procedimentos de controle e monitoramento da barragem foi estabelecida mediante a elaboração de uma Carta de Risco, tendo sido definidas as leituras de controle dos instrumentos instalados no corpo da barragem, para três diferentes níveis de controle: nível normal (FS = 1,50), nível de alerta (FS = 1,30) e nível de emergência (FS = 1,10). A utilização destes princípios de avaliação de risco foi facilitada pela implementação de uma planilha de controle específica, elaborada em ambiente Excel. 6.3 – Sugestões Finais A implantação do modelo de Carta de Risco, conforme estabelecido neste estudo, a partir de valores de referência das leituras piezométricas extraídas dos instrumentos instalados em barragens de rejeitos, mostrou-se bastante consistente e objetivo, recomendando-se, então, a sua implantação nas demais barragens de contenção de 99 rejeitos e sedimentos em todas as unidades da Anglogold Ashanti Mineração no continente Sul Americano, o que se efetivou em seguida e encontra-se em andamento. Sugere-se ainda que, além do controle piezométrico, sejam mantidos os procedimentos para inspeções visuais periódicas das barragens tais como especificados e descritos no manual de operações de cada estrutura, de forma a complementar e/ou ratificar os dados oriundos da instrumentação de campo. Como sugestões complementares, oriundas da experiência adquirida ao logo deste trabalho, propõe-se: • realizar análises probabilísticas, em conjunto com as análises determinísticas, para uma aferição complementar e integrada das condições de segurança operacionais da Barragem de Calcinados. • Implementar novas seções de monitoramento para subsidiar novas análises de estabilidade da barragem. 100 7- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA • ALKMIN F.F & MARSHAK S. (1998). Trans-Amazonian orogeny in the southern São Francisco craton region, Minas Gerais, Brazil: evidence for Paleoproterozoic collision and collapse in the Quadrilátero Ferrífero. Precambrian Research. • ANGLOGOLD ASHANTI, CIRCUITO CUIABÁ (2004) • BARBOSA,E.A (1994). Mineração Morro Velho Ltda, Sistemas De Rejeitos, Relatórios De Inspeções Internas. • BRANCO, JOSÉ JAIME (1985). Relatório de Projeto da Barragem de Calcinados. • CASTRO, W.J e GOMES, R.C (2005). 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VIEIRA, F.W.R e OLIVEIRA, G.A.I (2001).Principais Depósitos Minerais do Brasil, Volume III. 102 ANEXOS ANEXO A ANÁLISE DE ESTABILIDADE COMPLEMENTAR 104 1.700 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-004a.slz Last Saved Date: 23/5/2006 Analysis Method: Spencer 1.600 Caso 4a - Projeto atual NA montante EL. 857,00 m NA jusante 803,00 m Linha piezométrica estimada 1.6 1.500 00 1.700 1.399 880 870 Pz3 Elevação (m) 860 Pz5 Pz6 840 830 820 810 Pz4 Pz2 850 Underflow Overf low Aterro Aterro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 Distância Horizontal (m) Geometria atual, linha piezométrica estimada 105 360 380 400 420 Escala 1:2000 1.900 1.700 1.700 1.800 1.800 Caso 8a - Projeto original NA EL. 848,00 m Linha piezométrica + 5 m 1.900 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-008a.slz Last Saved Date: 23/5/2006 Analysis Method: Spencer 880 1.547 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 840 830 820 810 Pz5 Underflow Overf low Pz6 Aterro Aterro 800 790 Pz7 Fundação 780 770 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 Distância Horizontal (m) Geometria original, elevação do NA + 5 m 106 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 1.700 1.800 1.600 1.600 1.700 Caso 8b - Projeto original NA EL. 853,00 m Linha piezométrica + 8 m 1.800 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-008b.slz Last Saved Date: 23/5/2006 Analysis Method: Spencer 880 1.479 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 Pz5 840 830 820 810 Underflow Overf low Pz6 Aterro Aterro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 Distância Horizontal (m) Geometria original, elevação do NA + 8 m 107 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 1.700 ANGLOGOLD ASHANTI MINERAÇÃO LTDA ANÁLISE DE ESTABILIDADE - BARRAGEM DE CALCINADOS File Name: BGR-C-CA-AE-008c.slz Last Saved Date: 23/5/2006 Analysis Method: Spencer 880 1.600 1.500 1.600 1.800 1.600 1.700 1.800 Caso 8c - Projeto original NA EL. 853,00 m Linha piezométrica + 10 m 1.427 Pz2 870 Pz3 Pz4 Elevação (m) 860 850 Pz5 840 830 820 810 Pz6 Underflow Overf low Aterro Aterro 800 790 Fundação 780 770 Pz7 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 Distância Horizontal (m) Geometria original, elevação do NA + 10 m 108 340 360 380 400 420 Escala 1:2000 ANEXO B ENSAIOS DE RECUPERAÇÃO DOS PIEZÔMETROS 109 Barragem de Calcinados PZ 03 Barragem de Calcinados PZ 02 860,00 848,00 846,00 850,00 844,00 842,00 840,00 838,00 m m 840,00 836,00 830,00 820,00 834,00 832,00 810,00 830,00 828,00 39 21 0 29 73 14 40 15 0 19 24 17 14 15 12 13 11 8 9 10 7 5 6 3 4 1 0, 5 2 800,00 826,00 mi nut os minutos Ní vel original Nível original Leit ura PZ Barragem de Calcinados PZ 04 Leitura PZ Barragem de Calcinados PZ 04N 840,00 860,00 850,00 835,00 840,00 m m 830,00 825,00 830,00 820,00 810,00 820,00 800,00 815,00 28 0 60 70 50 40 25 30 20 15 8 9 10 7 5 6 3 4 2 2, 5 1, 5 1, 0 0, 3 77 97 11 7 13 7 37 42 47 57 67 24 26 28 30 32 16 17 18 20 22 12 13 14 15 7 8 9 10 11 3 4 5 6 2 2, 5 1 1, 5 0, 5 790,00 810,00 m inutos minutos Leitura PZ Nível original 80 90 10 0 11 0 12 0 13 0 21 0 24 0 27 0 30 0 33 0 36 0 38 14 0 40 60 70 30 40 50 5 10 20 2 3 1 m 0, 2 0, 3 0, 5 70 845,00 840,00 835,00 830,00 825,00 820,00 815,00 810,00 805,00 800,00 795,00 m inutos Nível original Leitura PZ Barragem de Calcinados PZ-MN 05N 90 11 0 13 0 19 0 25 0 33 0 39 0 45 0 50 0 14 40 16 2 19 0 2 86 0 10 40 08 0 40 50 60 15 20 30 6 10 5 2 4 3 1 m Barragem de Calcinados PZ 05 850,00 845,00 840,00 835,00 830,00 825,00 820,00 815,00 810,00 805,00 800,00 4 Nível original minutos Leitura PZ Nível original Barragem de Calcinados PZ 06 Leitura PZ Barragem de Calcinados PZ 07 840,00 806,50 835,00 806,00 830,00 805,50 m 820,00 815,00 810,00 805,00 805,00 804,50 800,00 795,00 minutos Nível original minutos Leitura PZ Nível original 110 10 0 12 0 14 0 16 0 19 0 21 0 86 40 60 70 80 40 50 25 30 5 10 15 20 3 4 2 5 1, 1 0, 25 0, 5 0, 75 0 14 4 36 5 42 5 30 5 18 5 24 5 12 0 80 10 0 50 60 40 15 20 30 6 10 5 4 2 1 804,00 3 m 825,00 Leitura PZ ANEXO C PLANO DE PRODUÇÃO 111 Anos Cuiabá MSOL Total 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 866.163 1.236.968 1.295.495 1.252.639 1.193.225 1.193.152 1.193.301 1.193.162 1.193.268 1.193.049 1.193.263 1.193.045 1.022.843 889.117 133000 170000 170000 98000 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 999.163 1.406.968 1.465.495 1.350.639 1.193.225 1.193.152 1.193.301 1.193.162 1.193.268 1.193.049 1.193.263 1.193.045 1.022.843 889.117 Programa de produção 2006 a 2019 1.600.000 1.400.000 toneladas 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 ANEXO D GRÁFICO DE MASSA DEPOSITADA Barragem do Calcinado ano 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 jan/06 fev/06 total Controle deposição de massa acumulada Massa de calcinado Massa depositada no Maciço da depositado na barragem Barragem 67.032 57.561 63.656 57.561 65.261 57.561 68.189 57.561 66.958 57.561 76.092 57.561 80.067 57.561 86.823 57.561 89.653 52.406 86.224 86.674 80.925 99.797 90.019 217.815 99.772 226.729 104.369 192.658 153.642 176.439 136.897 65.462 136.382 0 145.864 0 273.205 0 15.727 0 13.065 0 1.999.822 1.578.468 Massa de sólido depositado na Barragem de Calcinado 300.000 275.000 250.000 225.000 200.000 175.000 150.000 125.000 100.000 75.000 50.000 25.000 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 0 ja 5 n/ 0 fe 6 v/ 06 0 114 ANEXO E PRODUÇÃO DE MINÉRIO 115 Diretoria de Operação Gerência Mina Cuiabá LIFE OF MINE - L06 / L21 - Ref.: MAY/2005 Jun/Dec 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Total Minério de desenvolvimento 62.419 52.007 48.531 147.430 109.254 119.173 115.235 74.656 113.526 79.834 128.900 209.167 183.128 217.008 52.087 1.712.354 Teor do desenvolvimento 6,.39 6,56 4,72 4,54 6,24 4,84 5,20 4,10 4,47 3,99 4,60 4,73 4,89 4,53 4,19 4,85 Minério da lavra 415.99 814.081 1.200.508 1.148.065 1.143.385 1.074.053 1.077.917 1.118.645 1.079.636 1.113.434 1.064.150 984.096 1.009.917 805.835 812.601 14.861.522 Teor da lavra 7,86 8,14 8,25 7,98 7,86 8,21 7,73 7,60 7,66 7,58 7,50 7,69 7,49 7,74 8,57 7,85 Total de Minério 477.619 866.089 1.249.039 1.295.495 1.252.639 1.193.225 1.193.152 1.193.301 1.193.162 1.193.268 1.193.049 1.193.263 1.193.045 1.022.843 864.688 16.573.877 Teor total 7,67 8,04 8,11 7,59 7,72 7,88 7,49 7,38 7,36 7,34 7,18 7,17 7,09 7,06 8,30 7,54 Minério para Tratamento 530.327 866.163 1.236.968 1.295.495 1.252.639 1.193.225 1.193.152 8.193 1.193.162 1.193.268 1.193.049 1.193.263 1.193.045 1.022.843 889.117 16.639.017 Teor do Tratamento 7,67 8,04 8,12 7,59 7,72 7,88 7,49 7,38 7,36 7,34 7,18 7,17 7,09 7,06 8,29 7,54 Kg OZ 3.762 122,434 6.440 9.337 9.145 8.995 8.739 8.309 8.193 8.164 8.149 7.970 7.955 7.865 6.712 6.856 207.052 300.181 294.012 289.181 280.962 267.131 263.398 262.479 262.008 256.236 255.769 252.875 215.812 220.428 116.590 3.749.958 ANEXO F GRÁFICO PIEZOMETRIA /0 4 2 6 /04 /0 4/ 3 1 04 /0 5 2 2 /04 /0 6 2 1 /04 /0 7 2 3 /04 /0 8/ 0 6 04 /1 0 0 5 /04 /1 1 1 0 /04 /1 2/ 1 3 04 01 1 6 /0 5 /0 2 2 4 /05 /0 3 2 5 /05 /0 4/ 2 7 05 /0 5 2 8 /05 /0 6 0 4 /05 /0 8/ 0 9 05 /0 9 1 2 /05 /1 0/ 1 7 05 /1 1 2 1 /05 /1 2/ 2 4 05 /0 1 2 8 /06 /0 2/ 2 8 06 /0 3/ 06 08 P iezom etros 840,00 845 835,00 844 830,00 843 825,00 842 820,00 841 815,00 840 810,00 839 118 N .A . Piezometria Barragem de Calcinado PZ 02 PZ 03 PZ 04 PZ 04N PZ 05 PZ 05N PZ 06 N.A. ANEXO G PLUVIOMETRIA Período 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 JAN FEV 595,6 271,8 125,0 414,0 146,4 300,2 751,3 452,8 185,9 145,6 70,6 212,2 71,1 0,0 48,3 367,3 92,8 379,9 179,9 83,8 INDICEPLUVIOMÉTRICOMENSALEACUMULADODOANO( AreasdasBarragensdaAnglogold) mm/mês MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total/ano Máximo Mínimo 228,0 59,3 0,0 0,0 2,0 37,2 235,6 361,4 923,5 361 0,0 327,7 134,7 37,3 31,8 1,0 0,0 81,5 144,3 126,2 270,7 1821,4 596 0,0 97,4 67,0 32,6 0,0 0,0 0,0 30,5 229,5 397,5 286,0 1624,5 398 0,0 144,6 21,7 3,0 1,0 1,0 0,0 8,4 58,7 325,0 371,0 1130,5 371 0,0 6,8 31,5 7,2 7,2 47,0 17,8 77,9 68,4 306,9 336,7 1321,4 414 0,0 121,0 31,0 0,0 8,2 27,7 64,2 106,6 123,1 453,8 413,5 1543,8 454 0,0 74,6 1,8 37,6 0,0 0,0 0,0 80,6 20,0 223,3 371,3 1476,7 371 0,0 141,3 12,1 24,2 0,0 1,0 0,0 12,6 28,0 200,3 246,8 1510,4 751 0,0 139,6 100,3 29,6 34,8 48,7 0,0 0,0 70,6 113,8 446,3 1816,4 453 0,0 262,8 30,9 47,9 21,9 8,9 5,4 133,3 17,7 338,4 395,0 1628,0 395 5,4 229,4 146 83,8 P lu v io m e tria 2 0 0 0 ,0 1 8 0 0 ,0 1 6 0 0 ,0 1 4 0 0 ,0 mm 1 2 0 0 ,0 1 0 0 0 ,0 8 0 0 ,0 6 0 0 ,0 4 0 0 ,0 2 0 0 ,0 0 ,0 1996 1997 1998 1999 2000 p lu v i o m e t r i a 2001 M á x im o 120 2002 M in im o 2003 M é d ia 2004 2005 2006 ANEXO H GEOMETRIAS 121 122 ANEXO I VOLUME DE ÁGUA PERCOLADA 123 124 ja n/ 06 no v/ 05 se t/0 5 ju l/0 5 m ai /0 5 ja n/ 05 m ar /0 5 no v/ 04 se t/0 4 ju l/0 4 m ai /0 4 ja n/ 04 m ar /0 4 Vazão m3/mês Vazão de Bombeamento da Bomba Haulpt 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 ANEXO J MASSA DE REJEITOS 125 RAPOSOS / MINA VELHA / ESP. SANTO CUIABÁ Mês/Ano 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Rejeito da Flotação Massa de Fill bombeado Para Raposos Para Mina Velha 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 34.931 Para o Maciço Calc. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 15.765 120.006 Rejeito da Flotacao Calcinado Depositado Rapaunha 1.847.800 460.485 1.387.315 161.634 274.289 290.491 285.358 52.406 85.674 84.032 97.809 109.228 188.615 206.459 187.549 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Maciço barragem de Calcinado Calcinado 0 0 0 0 0 0 0 0 460.485 52.406 85.674 99.797 217.815 0 67.032 63.656 65.261 68.189 66.958 76.092 80.067 86.823 89.653 86.224 80.925 90.019 4.237.861 539.855 523.740 524.924 469.426 Barragem Rapaunha 430.627 441.374 416.125 460.286 Total 1999 541.566 0 78.561 151.151 311.854 99.772 222.794 75.578 147.216 23.189 78.561 0 226.729 99.772 459.070 Total 2000 634.233 0 98.053 139.628 396.553 104.369 163.885 53.030 110.855 28.205 98.053 0 192.658 104.369 507.408 Total 2001 592.552 0 101.274 88.684 402.594 153.642 254.257 87.755 166.502 49.812 101.274 0 176.439 153.642 569.096 Total 2002 604.096 0 126.253 28.535 449.308 136.897 200.229 36.927 163.302 0 126.253 0 65.462 136.897 612.610 Total 2003 635.415 0 79.386 0 556.029 136.382 162.688 0 162.688 0 79.386 0 0 136.382 718.717 Total 2004 679.555 0 0 0 679.555 145.864 47.198 0 47.198 0 0 0 0 145.864 726.753 Total 2005 730.988 0 0 0 730.988 165.960 0 0 0 107.245 0 0 0 273.205 730.988 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 jan/06 fev/06 mar/06 Total 2006 0 0 67.032 63.656 65.261 68.189 66.958 76.092 80.067 86.823 89.653 86.224 80.925 90.019 Clean Up Massa de Fill bombeado Para Para Mina Raposos Velha 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 106.249 0 81.895 34.931 23.472 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 106.249 81.895 23.472 2.850.546 0 0 0 0 0 0 0 2.850.546 430.627 335.125 318.465 281.877 Rejeito Circuito Raposos Depositado Depositado no Maciço no de Rapaunha Calcinado TOTAL ( t ) 0 0 Acumulado até 9.017.363 211.616 518.458 543.769 7.743.521 1.863.785 3.910.623 1.033.696 2.876.927 208.451 518.458 211.616 1.577.464 1.971.030 10.620.448 Dez/2005