ESCÂNDALO BRE
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ESCÂNDALO BRE
ESCÂNDALO BRE-X OU EBX? Sei que muitos leitores conhecem a história da estória (fraude) criada pela BRE-X. Contudo, sei também que os profissionais da mineração de minha geração desconhecem tal evento que marcou historicamente a negociação de ativos minerais em bolsas. Resumidamente, pode-se dizer que a estória da BRE-X começou em 1995, quando, David Walsh, fundador da empresa, junto ao geólogo John Felderhoff, resolveu impulsionar a companhia com a compra do “Eldorado” da floresta tropical de Bornéo (Indonésia), que na época ficara conhecido como o “gigantesco jazigo de ouro de Busang”. Para certificar o depósito, contratou o geólogo Michael de Guzman, que divulgou publicamente a informação de que a jazida possuía 6.500 toneladas de ouro – quase 8% dos recursos mundiais da commodity. A partir desse instante, as ações da BRE-X alcançaram valores “astronômicos”, chegando a bater em maio de 1996, o pico de C$ 275.00, valorizando a empresa em C$ 4,4 bilhões, que na época representavam quase U$ 6,0 bilhões. No entanto, em março de 1997, a história da BRE-X começou a ruir quando uma das maiores mineradoras de metais base do mundo, Freeport MacMoRan, que já possuía 15% do presumido depósito, enviou uma equipe de técnicos para investigá-lo. Poucos dias depois, a empresa informou que a jazida de Busang possuía quantidade “insignificante de ouro”. Um dia após a essa notícia, as ações da BRE-X haviam despencado 82%, levando a “bancarrota” milhares de investidores. Em dezembro de 1997, a BRE-X quebrou. Depois dessa “crise” de confiança, que obrigou a criação de agentes e normas reguladoras severas das bolsas de valores que lançam empresas mineradoras, surge no Brasil, alguns anos depois, o “fenômeno” econômico, personificado em Eike Batista. Em uma ascensão meteórica, elevou sua fortuna, que em 2000 era de aproximadamente U$ 1,0 bilhão, para “absurdos” U$ 34,5 bilhões no final de 2011, sendo considerado pela revista Forbes, o sétimo homem mais rico do mundo. Seu patrimônio foi alavancado por meio da abertura pública consecutiva das empresas “X” na BOVESPA, pertencentes a holding EBX. Para valorizar seu conglomerado, Eike contratou o “melhor” time de executivos brasileiros em atividade, oferecendo os melhores salários e prêmios do mercado, batizando-os de “dream team”, com alusão à seleção de basquete norte-americana. O sonho era obter resultados multiplicados - por esse motivo o uso da letra “X”. À primeira vista, era brilhante o modelo de negócio vendido por Eike, pois criava um conglomerado fortemente integrado, que por fim, visava minimizar o risco das variações de preços decorrentes das inter-safras, oscilações cambiais, aumento de demanda ou custos de oportunidade. Porém, da mesma forma que a EBX se fortalecia ao garantir o engrenamento entre suas subsidiárias, a integração vertical fortalecia a possibilidade de uma quebra generalizada, caso uma única engrenagem falhasse. No dia 27 de junho de 2012, o anúncio da petroleira OGX, que drasticamente revisava a estimativa de produção diária de barris para o poço desenvolvido no campo de Tubarão Azul – de 20 mil para 5 mil barris/dia, fez com que suas ações fossem altamente depreciadas pela falta de credibilidade, perdendo nesse mesmo dia, cerca de R$ 10,7 bilhões. No dia 01 de julho do corrente ano, a petroleira anunciou a inviabilidade dos campos Tubarão Areia, Tubarão Tigre e Tubarão Gato. Além disso, informou que os poços em produção no campo Tubarão Azul poderão cessar ao longo do ano de 2014. As péssimas notícias publicadas produziram uma quebra em cadeia, desencadeada pela falta de confiança do mercado em relação às operações da EBX. Em decorrência disso, Eike Batista perdeu 92% de sua fortuna – notícia veiculada no mês passado pela revista Bloomberg. Logo, pulverizam-se as possibilidades de recuperação da aplicação de capital por parte do investidor, que, incauto, acreditou e financiou o “sonho” de Eike Batista. Não se deve esquecer que todo o povo brasileiro, ainda hoje, financia o grupo EBX, uma vez que o BNDES emprestou a empresa, a soma de R$ 10,4 bilhões. Será que Eike pagará tal dívida? Neste ponto, convenientemente, pergunto-lhes: é essa empresa que o Ministro Edson Lobão reporta entre as grandes e médias? Como não “aventureira”? Por fim, deixo uma última pergunta: quais as semelhanças entre o escândalo BRE-X e a EBX? Deixarei que respondam. Todavia, tenho certeza que não compreenderá apenas a última letra! Por Wagner Linhares, Geólogo.