tentativa de suicídio no ijf
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TENTATIVA DE SUICÍDIO NO IJF Sâmia Karine Moraes Ribeiro Ana Cláudia Coelho Brito Serviço de Psicologia - IJF Apresentação do trabalho A concepção do suicídio construída ao longo da História Conceituação do suicídio O Suicídio no IJF Perfil dos pacientes Estudo de caso Reflexões finais O suicídio ao longo da história Ato de violência que coloca a existência humana em xeque Conceito e concepções construídas ao longo do tempo Antiguidade As Moiras teciam o destino e cortavam o fio da vida quando necessário – em nenhuma circunstância a morte dependia do homem Grécia e Roma antiga O Estado grego e o senado romano tinham o poder de vetar ou autorizar o suicídio e até direito de induzí-lo. Ex: Sócrates Grande sentimento de pertença à comunidade. Os Estados grego e romano não aceitavam a transgressão do espírito comunitário. Suicida era privado de honras fúnebres. Judaísmo e cristianismo A condenação do suicídio passou a ter uma relevância teológica Renascimento O homem no plano superior da cultura. Algumas personalidades preconizavam o direito de escolher o momento de morrer. Iluminismo A partir do século XVII diminui a repressão ao suicídio – o suicida é um sujeito infeliz Revolução Francesa O Estado não se sentia na obrigação de castigar o suicida – a conduta não compromete a estabilidade do Estado Revolução Industrial Grandes transformações políticas, culturais, tecnológicas e científicas X moral vitoriana Fortalecimento dos vínculos familiares e o suicídio foi considerado um ato de vergonha, recusado e mantido segredo na família (Tabu). Sinal de doença mental - olhar da psiquiatria Durkheim – suicídio como um fenômeno social – perda da capacidade de integração e socialização do indivíduo Século XX Momento de intensas transformações tecnológicas e presenças de grandes guerras. Paradoxo- Paz mundial atrelada a uma política baseada em recursos destrutivos (cultura suicida) Século XXI Desafios: globalização e fundamentalismo religioso Mundialização: homogeneização cultural entre os países A integração religiosa como fator de proteção ao suicídio. E no oriente? Comportamento suicida Todo ato que o indivíduo causa lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. Conceito Mortes em que o indivíduo, voluntaria e conscientemente, executou um ato ou adotou um comportamento que ele acreditava que determinaria sua morte Suicídio: “a morte de si mesmo” – do autoextermínio à morte decorrente de situações de risco (amplitude do conceito) Suicídio e auto-destruição humana TS: querer morrer e viver ao mesmo tempo (dilema) Atos suicidas: o sobrevivente, muitas vezes, nos coloca em dúvidas quanto à voluntariedade e a consciência das consequências de seu ato Continuum Falar em suicídio (plano verbal) Pensamento suicida (ato existe virtualmente) Ameaça suicida (anúncio do ato) Gesto suicida TS Ambivalente TS Deliberada Suicídio Exitoso Características do suicídio Suicídios inconscientes Reações de aniversário Processos identificatórios patológicos Características do suicídio Homicídio precipitado pela vítima A vítima não efetua diretamente o ato, mas estimula ou provoca alguém para efetuá-lo Fantasias inconscientes relacionadas ao suicídio Influência dos fatores genéticos, biológicos, psicológicos, sociais, históricos e culturais – não é unicausal Não é a morte que o sujeito busca, mas substitutos fantasiados. Fantasias recorrentes em casos de TS Busca de uma “outra vida” – paraíso. Ex.: suicídios coletivos Reencontro e auto-punição: situações de luto patológico/melancolia. Ex.: morte de um parceiro Vingança: altamente agressivo também em relação ao sobrevivente – As pessoas próximas deverão se sentir culpadas Pedido de ajuda O que representa o ato? Pedido de ajuda: o sujeito costuma comunicar sua desesperança e desespero ao ambiente incluindo, por vezes, planos suicidas. Chamado de atenção - apelo Forma de se livrar do sofrimento O suicídio e a dimensão psicológica Freud: compreensão do processo doloroso do luto e os aspectos mais destrutivos do dualismo pulsional (pulsão de vida e pulsão de morte). Luto e melancolia: No luto o sujeito chora a perda do objeto amado. Já na melancolia, o sujeito faz o luto de seu próprio eu (identificação com o objeto perdido). O suicídio e a dimensão psicológica Abordagem sistêmica: atos suicidas estão intrinsecamente relacionados à dinâmica do funcionamento familiar Enfoque cognitivo: pensamento dicotômico e a rigidez cognitiva – pouca flexibilidade para mudar as estratégias de resolução dos problemas O suicídio e a dimensão psicológica Shneidman: Classificações da morte (intencional, subintencional e não-intencional). Três dimensões do modelo teórico do suicídio: dor, perturbação e pressão O suicídio é a melhor saída que o sujeito encontra para solucionar um sofrimento intenso e insuportável O suicídio e a dimensão psicológica As 10 generalidades do suicídio, segundo Shneidman Generalidade Especificação 1. Busca de solução É o propósito 2. Cessação da consciência É o alvo 3. Dor insuportável É o estímulo 4. Necessidades psicológicas frustradas É o estressor 5. Desamparo - desesperança É a emoção 6. Ambivalência É o estado afetivo 7. Rigidez É o estado perceptivo 8. Fugir, escapar É a ação 9. Comunicação da intenção É o ato interpessoal 10. Padrões de enfrentamento existencial É consistência O suicídio e a dimensão psicológica Existem 3 características próprias do estado em que se encontra a maioria das pessoas com risco de suicídio: Ambivalência: viver X morrer Impulsividade: normalmente desencadeado por eventos negativos do cotidiano Rigidez/constrição: tudo ou nada. Suicídio é tido como a única saída para o sujeito Fases de alerta: depressão, desesperança, desamparo e desespero Ideias sobre o suicídio que levam ao erro “Se eu perguntar sobre suicídio, poderei incentivar o paciente a fazê-lo” – importância do Vínculo “Ele está ameaçando cometer suicídio apenas para manipular” – sujeito quando usa esse recurso está precisando de ajuda “Quem quer se matar, se mata mesmo” – Imobilismo terapêutico Ideias sobre o suicídio que levam ao erro “Quem quer se matar não avisa” – cerca de ⅔ das pessoas que se matam haviam comunicado, de alguma maneira, sua intenção a amigos e familiares. “Suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)” – Na verdade é uma dor psíquica insuportável “No lugar dele, eu também me mataria” – Identificação com o paciente IJF e sua importância no atendimento às vítimas de Tentativas de Suicídio Hospital de referência em trauma/violência Presença de serviços especializados: Ceatox, Emergência, CTQ e UTI Atuação direta da Psicologia e Psiquiatria junto aos pacientes de TS Crescimento expressivo da demanda Fonte: Ceatox IJF Agente Tóxico ANO 2010* ANO 2011 Agrotóxico Agrícola 173 205 Agrotóxico doméstico 10 27 Água Sanitária 12 76 Alimento 1 - Cosméticos 1 - Droga de abuso 2 42 Medicamentos 162 302 Plantas 1 - Produtos químicos industriais 4 37 Produtos veterinários 15 31 Raticida 25 45 Crescimento expressivo da demanda Pacientes com T.S. no CTQ Ano Número de pacientes Ano 2009 33 Ano 2010 26 Ano 2011 25 Fonte: CTQ-IJF Impacto na equipe de saúde Os motivos e a condição de vida do paciente são subestimados Sentimentos de raiva e repulsa quando o paciente apresenta repetidas TS ou baixa letalidade Pouca vinculação pode comprometer o início ou prosseguimento dos atendimentos especializados Observações importantes para equipe de saúde Evite mostrar-se chocado ou emocionado com a história do paciente Não faça o problema parecer trivial Atenção para não deixar o paciente numa posição de inferioridade Evite fazer perguntas indiscretas Cuidado com os julgamentos (certo X errado) Serviço de Psicologia Busca ativa dos pacientes Interlocução com a equipe de saúde Acolhimento do paciente e da família Atendimento psicológico História da internação Anamnese do paciente (tentativas anteriores, evento traumático, história de vida) Significado do ato para o paciente Impacto na família Encaminhamentos Perfil do usuário Quem é o paciente que procura o IJF após uma tentativa de suicídio? Perfil do usuário Unidade procedente: Corredores da emergência – 56,8% Risco 1 – 29,5% CTQ – 3,9% Emergência pediátrica – 1,9% Sexo Masculino – 50,9% Feminino – 49,1% Perfil do usuário Idade: 12 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 61 a 70 anos 71 a 80 anos - 31,4% - 29,5% - 15,7% - 19,6% - 1,9% - 1,9% Procedência: Interior do estado - 49% Fortaleza - 47,1% Outros estados - 3,9% Perfil do usuário Religião: Sem religião - 66,7% Evangélico não praticante - 13,7% Evangélico - 7,9% Católico – 4% Outros - 7,7% Profissão: Estudante - 23,5% Não trabalha - 27,4% Desempregado - 11,7% Pedreiro - 7,8% Agricultor - 3,9% Comerciante – 3,9% Outros – 21,8% Perfil do usuário Estado civil: Solteiro - 62,8% Solteiro com companheiro fixo - 13,7% Casado - 11,7% Separado - 9,9% Viúvo - 1,9% Filhos: Sem filhos - 71,6% 1 filho - 1,9% 2 filhos - 15,5% 3 filhos - 6,6% 4 filhos - 4,4% Perfil do usuário Escolaridade: Não estudou - 9,8% Ensino Fundamental I - 27,4% Ensino Fundamental II - 25,4% Ensino Médio - 29,4% Ensino Superior incompleto - 4,1% Não informado - 3,9% Moradia: Própria - 68,6% Alugada - 25,4% Morador de rua - 3,9% Presídio - 1,9% Perfil do usuário Agente causador: Carbamato (chumbinho) - 37,4% Medicamentos - 39,3% Chumbinho + drogas + álcool - 1,9% Chumbinho + remédios - 1,9% Pesticida - 3,9% Carrapaticida - 3,9% Queimadura - 3,9% Ingestão de ácido muriático - 5,9% Enforcamento - 1,9% Reincidência: 1ª Tentativa - 55% Reincidente - 45% Perfil do usuário Antecedentes psíquicos: Depressão - 60,7% Alcoolismo - 17,6% Transtornos psicóticos - 23,5% Transtorno de ansiedade - 29,4% Uso de drogas ilícitas - 21,5% Impulsividade - 62,7% Agressividade - 45% Labilidade emocional - 29,4% Tratamento em saúde mental Não - 67,9% Sim - 32,1% Segue o tratamento? Sim – 15% Não – 85% Perfil do usuário TS na família: Não - 74,5% Sim - 25,5% Mudança de humor nos últimos tempos: Diferentes manifestações relacionadas ao humor depressivo (tristeza, choro fácil, angústia, irritabilidade) Perfil do usuário Paciente verbalizou seu desejo de morrer? Sim - 72,6% Não - 27,4% Quando? No último ano - 2,7% Nos últimos 3 meses - 10,8% No último mês - 32,4% Na última semana - 5,4% No dia do ocorrido - 21,6% Sempre fala - 27,1% Motivos alegados pelos pacientes Dificuldades no relacionamento afetivo - 32,3% Dificuldades no relacionamento familiar - 22,3% Transtorno mental prévio - 13,4% Dependência química - 10,3% Perdas de pessoas queridas/luto patológico - 7,4% Conflitos diante da escolha sexual - 4,4% Transtorno de conduta - 2,9% Problema financeiro - 1,4% Depressão pós-parto - 1,4% Timidez exacerbada - 1,4% Paciente envolvido com a lei - 1,4% Família com forte componente depressivo - 1,4% Estudo de caso S.T.F., 17 anos Intoxicação Exógena por medicamentos: 2 comprimidos de Marevam + 2 comprimidos de Flanax 3ª tentativa de suicídio Estudo de caso Abordagem inicial do companheiro – visivelmente desorganizado. História de vida: Mais velha de 3 filhos do casal. Sempre teve dificuldade no contato com os pais. Trabalhavam muito e não conversavam com ela. A mãe “zombava” da filha para as tias. Abusada sexualmente aos 9 anos pelo irmão mais velho (parte de pai) – “ficou com nojo de sexo” Quando contou aos pais o ocorrido, eles não acreditaram e sua mãe passou a chamar-lhe de “puta” Estudo de caso Aos 16 anos, conheceu o atual namorado e os pais a abandonaram. Desde então, resolver morar com ele. Refere depressão, mudança brusca de humor, desesperança, crises de ansiedade generalizada, dependência afetiva do companheiro e impulsividade Atendimento com o namorado e a paciente: relataram que a garota é “lésbica”, embora nunca tenha se relacionado com mulher antes. Pediu ao companheiro para fazer tratamento para mudar de sexo e o mesmo aceitou. Está em tratamento há 10 meses. Nesse intervalo, ele tentou se matar 3 vezes – “problema com os hormônios” Encaminhamento: Pravida Desafios Equipe de Saúde: Importância de reconhecer a TS como algo relacionado a uma condição de sofrimento humano Sub-notificação Estima-se que o número de pacientes que tentam suicídio supera em 10 vezes o número de suicídio exitoso Ampliação da rede de saúde para o acolhimento dessa demanda
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