RELATÓRIO-inverno - AGRITEC - Rede de Conhecimento das

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RELATÓRIO-inverno - AGRITEC - Rede de Conhecimento das
PRODUÇÃO EM AGRICULTURA BIOLÓGICA
VERSUS
PRODUÇÃO EM AGRICULTURA CONVENCIONAL
CULTURAS OUTONO - INVERNO
Divisão de Apoio ao Setor Agroalimentar
ANO 4 – 2012-2013
Isabel Barrote
Fernando Miranda
Na Figura 1 pode ver-se uma representação esquemática da rotação de outono-inverno que decorreu
na Quinta de Vairão. Com as culturas deste ano fecha-se o ciclo, durante o qual todas as culturas
ocuparam sucessivamente todos os talhões. É, portanto, altura de fazer o balanço sobre os pontos
fortes e fragilidades desta rotação, do comportamento de cada cultura dentro da rotação e a sua
adaptação ao modo de produção biológico.
Convém referir que na modalidade convencional, em vez do Adubo Verde, tivemos uma cultura de
Alho-porro.
Ano 1
(2009-2010)
Ano 2
(2010-2011)
Ano 3
(2011-2012)
Ano 4
(2012-2013)
Talhão 1
Talhão 2
Talhão 3
Talhão 4
Nabo
Fava
Couve Penca
Adubo Verde
Adubo Verde
Nabo
Fava
Couve Penca
Couve Penca
Adubo Verde
Beterraba
Fava
Fava
Couve Penca
Adubo Verde
Beterraba
Nabo
Figura 1 – Sucessão de culturas de outono-inverno no campo (modalidade biológica), ao longo dos
quatro anos de ensaio.
1
FAVA
Figura 2 – Desenvolvimento da cultura da fava em Agricultura Biológica (esquerda) e Agricultura
Convencional (direita) em 10 de dezembro.
A preparação do terreno, que consistiu de uma escarificação seguida de uma rotorfresagem, foi
realizada no início de setembro (dia 5). A sementeira, manual, ocorreu no dia 17 de setembro no local
definitivo, tendo sido utilizada semente da variedade Histal, tal como no ano anterior. Relativamente
ao ano transato, estas operações aconteceram com cerca de um mês de atraso porque verificamos
que a antecipação da cultura apresentava algumas desvantagens ao nível do controlo fitossanitário
sem uma contrapartida ao nível da produtividade. Com efeito, antecipando a sementeira, as plantas
desenvolveram durante o outono uma folhagem bastante densa, o que dificultou o arejamento e
entrada de luz, originando condições bastante favoráveis ao desenvolvimento de doenças.
Assim, para tentar contrariar estes efeitos, atrasamos a sementeira e diminuímos significativamente a
densidade. Em vez dos trilíneos habituais, com uma distância de 0,5m entre linhas, retiramos a linha
central e ficamos com linhas espaçadas de 1,0m. Também na linha alargamos o espaçamento entre
plantas, passando de 0,25m para 0,3m.
Na modalidade em AB instalamos um sistema de rega gota-a-gota após a sementeira. Também se
cobriu o solo das entrelinhas com tela, no entanto, como por vezes após a germinação das sementes
vários rebentos crescem para debaixo da tela, acabando por morrer, decidimos esperar que se desse
a emergência e acabamos por só conseguir colocar as telas no fim de outubro. Por isso, antes da
colocação das telas houve necessidade de cortar as ervas a 3 e 23 de outubro.
Na modalidade em AC o solo não foi coberto e fizeram-se duas intervenções para controlar as
infestantes, a primeira em 29 de outubro com uma passagem de motoenxada nas entrelinhas e a
segunda a 19 de novembro com uma sacha manual, que serviu para eliminar as ervas na linha e fazer
uma ligeira amontoa.
Nesta modalidade a cultura foi regada por aspersão e na modalidade em AB por gotejamento. Desde a
emergência até meados de outubro foram realizadas 6 e 9 regas, respetivamente, com uma duração
de 30 minutos cada e com uma frequência de 7 a 14 dias, dependendo das condições climatéricas.
Depois de meados de outubro, a ocorrência de precipitações tornaram desnecessárias as regas.
No dia 3 de janeiro colocaram-se os postes nas extremidades das linhas para tutoramento, com um fio
esticado de poste a poste para evitar que as plantas tombassem. Ao longo do ciclo da cultura foram-
2
se acrescentando mais alguns fios a diferentes alturas, acompanhando o crescimento das plantas (Fig.
3).
Figura 3 – Pormenor do sistema de tutoragem das favas.
Fertilização
A fertilização de fundo foi distribuída no dia 5 de setembro seguida de uma passagem de rotorfresa
para incorporação. Na parcela em AB distribuiu-se 300 kg de composto bem maturado produzido na
exploração a partir de matos e resíduos de hortícolas, e na parcela em AC aplicou-se 8 kg de um
adubo composto 7-14-14 e 10 kg de Corbigran, um corretivo à base de calcário magnesiano.
Agricultura Biológica
Instalação:
300 Kg de composto
Custo total estimado: 0 €
Agricultura Convencional
Instalação:
10 Kg de Corbigran
8 Kg de adubo 7:14:14
Custo total estimado: 6,67 €
Proteção fitossanitária
Tal como nos anos anteriores, as plantas foram muito atacadas pela Botrytis fabae, um fungo que
provoca uma doença conhecida por ‘mancha de chocolate’ devido às manchas de coloração
acastanhada que se espalham por folhas, caules e frutos. Para prevenir esta doença, decidimos adotar
uma medida cultural que foi reduzir substancialmente a densidade de sementeira (1,0 x 0,3m em vez
de 0,5 x 0,25m). Além disso, efetuamos 2 tratamentos fungicidas com hidróxido de cobre na parcela
em AB, e 6 tratamentos com várias substâncias ativas na parcela em AC (ver quadro abaixo) mas a
eficácia não foi a desejada, especialmente na parcela em AB, onde as plantas ficaram quase sem
folhas no final da produção.
3
Data
19/11
05/12
04/01
24/01
06/02
15/03
05/04
Agricultura Biológica
Hidróxido cobre +
Bacillus thuringiensis sub. kurstaki +
Molhante
Agricultura Convencional
Hidróxido cobre +
Lambda-cialotrina + Molhante
Mancozebe + Lambda-cialotrina + Molhante
Sabão potássico + Molhante
Hidróxido cobre + Molhante
Custo total estimado: 1,13 €
Folpete + Fenehexamida + Molhante
Mancozebe + Iprodiona + Molhante
Folpete + Iprodiona + Molhante
Hidróxido cobre + Fenehexamida + Molhante
Custo total estimado: 19,62 €
Colheitas e produção
Apesar de termos reduzido a densidade de sementeira para menos de metade, a produtividade foi
superior à do ano passado, tendo a da modalidade em AC sido a mais elevada dos 4 anos de ensaios.
Facilmente se conclui que estávamos, de facto, a utilizar densidades de sementeira demasiado
elevadas, que foram uma das causas principais das baixas produtividades verificadas nos anos
anteriores. Com efeito, a exuberância vegetativa criava condições muito favoráveis para o
desenvolvimento da Botrytis fabae dificultando, por outro lado, os tratamentos preventivos; acresce o
facto de, com frequência, a ocorrência de precipitações não permitir efetuar os tratamentos nas
alturas mais aconselháveis.
No caso particular da modalidade em AB, pelo facto de as plantas serem geralmente bastante mais
vigorosas do que as da modalidade em AC, criou problemas adicionais no controlo da Botrytis e os
tratamentos efetuados com o cobre foram bastante ineficazes, sobretudo por as condições
climatéricas não terem permitido que se efetuassem no ‘timing’ mais adequado.
Embora as produtividades tenham sido mais elevadas que as verificadas no ano anterior, ainda assim
foram bastante baixas, sobretudo no caso da modalidade em AB, o que nos leva a concluir que talvez
se pudesse ter ido um pouco mais longe na redução da densidade de sementeira.
Os valores da produção por talhão são os que constam do quadro abaixo, a que correspondem
produtividades de 3,58 e 14,5 t/ha, respetivamente.
Peso total (Kg)
Agricultura Biológica
43
Agricultura Convencional
174
Na figura 4 apresenta-se a evolução da produtividade nos quatro anos de ensaio.
4
Fig. 4 – Evolução da produtividade da fava nas duas modalidades ao longo dos quatro anos de ensaio
Na análise da evolução da produtividade ao longo dos anos, convém salientar três aspetos
importantes:
o
O primeiro é que as produtividades dos dois primeiros anos não podem ser comparadas com as
dos dois anos seguintes por se tratar de duas variedades distintas. Com efeito, começamos por
utilizar a variedade Aguadulce e depois mudamos para a variedade Histal. A variedade Aguadulce foi
escolhida por ser uma variedade precoce e que não se desenvolvia muito em altura, caraterísticas
que nos pareceram adequadas para as condições do ensaio. No entanto, no segundo ano do ensaio
as sementes que adquirimos dessa variedade apresentavam uma qualidade muito deficiente (muitas
sementes partidas e roídas), o que foi a causa principal da baixa taxa de germinação e,
consequentemente, da queda abrupta da produtividade. No terceiro ano, como não conseguimos
adquirir a mesma variedade com melhores garantias de qualidade, tivemos que optar por outra. Na
altura, a variedade Histal foi a alternativa que nos foi proposta e tivemos que aceitar. Convém
referir que, a propósito de variedades de fava, não tivemos outras opções de escolha porque, como
a época tradicional de sementeira na região é só por volta de outubro-novembro, nas datas em que
fizemos as sementeiras as sementes ainda não estavam disponíveis. Numa situação real, em que
pretendêssemos manter esta rotação, poderíamos recorrer à produção de semente própria para o
ano seguinte, quer reservando parte da produção do talhão ou fazendo um pequeno talhão noutro
local e mesmo noutra data, propositadamente para a produção de semente.
o
O segundo aspeto importante a salientar da observação da figura 4 tem a ver com a maior
produtividade da cultura em AC (se excetuarmos o primeiro ano). Esta tendência manteve-se,
apesar de todos os anos as culturas em AB apresentarem, durante a primeira metade do ciclo
cultural, um aspeto mais saudável e um desenvolvimento vegetativo superior, o que sempre
indiciava um maior potencial produtivo. O que aconteceu foi que este maior desenvolvimento
vegetativo teve um efeito contraproducente, quer porque as plantas ficavam mais suscetíveis aos
ventos fortes, que várias vezes provocaram estragos, quer porque a vegetação mais densa criava
5
condições mais favoráveis ao desenvolvimento de fungos como a Botrytis e impedia que as
pulverizações
com
fungicidas
atingissem
o
interior.
Também
se
verificou
que
o
maior
ensombramento da base das plantas originava um maior abortamento de flores, que acabavam por
só vingar na extremidade das plantas.
Este segundo aspeto vem reforçar a ideia que o maior sucesso desta cultura passaria pela adoção de
uma densidade de sementeira mais baixa que, como se viu, não conduziu a um abaixamento de
produção, e pela escolha de outra variedade mais adequada à época de sementeira, mais precoce e
com um desenvolvimento vegetativo menos exuberante. Seria também muito vantajoso procurar,
eventualmente entre o material genético existente no Banco de Germoplasma, uma variedade mais
rústica e que não fosse tão suscetível à Botrytis.
o
Por fim, o terceiro aspeto a salientar, e olhando para as datas de sementeira (ver quadro
abaixo), é que, contrariamente ao que se passou com as outras espécies, a antecipação da data de
sementeira/plantação, não conduziu a aumentos de produção, muito pelo contrário. De facto, no
caso da cultura da fava, a solução mais acertada passou por deslocar a sementeira para o período
entre o fim de setembro e a primeira quinzena de outubro e permitir que o ciclo se prolongasse até
finais de abril, o que, tendo em conta que a próxima cultura era a alface, era perfeitamente viável
sem perturbar a sequência de atividades subsequentes. Recordamos que a seguir à alface viria a
solarização, de modo que a alface teria que libertar o solo apenas em julho.
Ano 1
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Data de sementeira
08 de outubro
09 de setembro
09 de agosto
17 de setembro
6
COUVE PENCA
Figura 5 – Desenvolvimento da cultura de couve penca em Agricultura Biológica (esquerda) e em Agricultura
Convencional (direita) em 10 de dezembro
No dia 5 de setembro iniciou-se a preparação do terreno para a plantação. O terreno foi escarificado
para arrancar e retirar algumas ervas existentes e para descompactar o solo até cerca de 25 cm de
profundidade. De seguida procedeu-se à distribuição manual dos fertilizantes e à sua incorporação
com uma rotorfresa, que deixou o terreno bem destorroado e uniforme.
A plantação foi feita no dia 10 de setembro com plantas de penca da Póvoa em metade do talhão e
penca de Mirandela na outra metade. As plantas de penca da Póvoa foram produzidas aqui na
exploração e as pencas de Mirandela (var. Dauro) foram adquiridas a um viveiro da região (Viveiros
JAD, Póvoa de Varzim). A plantação foi feita num compasso de 0,5 x 0,5m, o que deu uma densidade
de 4 plantas/m2.
Antes da plantação instalou-se um sistema de rega gota-a-gota no talhão da modalidade em AB e
cobriu-se a superfície do terreno com palha. Esta cobertura do solo com palha teve como principal
objetivo reduzir o aparecimento de ervas infestantes. No entanto, apesar da cobertura, o controlo não
foi total, quer porque a palha continha algumas sementes, sobretudo de aveia, que germinaram e foi
preciso arrancar, quer porque a cobertura não foi perfeita e algumas sementes de infestantes
existentes no solo conseguiram penetrar a cobertura. Assim, as ervas que foram aparecendo, foram
arrancadas manualmente em 20 de setembro e 19 de outubro. Na modalidade em AC, o controlo de
infestantes foi feita exclusivamente por meios mecânicos: no dia 10 de outubro fez-se uma passagem
com motoenxada nas entrelinhas, complementada com uma sacha nas linhas, e no dia 29 de outubro
uma nova sacha manual.
As regas foram feitas com uma regularidade semanal, por gotejamento na modalidade em AB e por
aspersão na modalidade em AC, desde a plantação até início de outubro. Depois dessa data a
ocorrência de precipitações tornou desnecessária a realização de regas.
Fertilização
A fertilização de fundo foi feita no dia 6 de setembro na parcela em AB; recorreu-se apenas a
composto produzido na exploração a partir de matos, palhas, silagem de milho e restos de culturas
hortícolas. Na modalidade em AC foi feita a aplicação de calcário magnesiano (1 t/ha) para correção
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da acidez do solo e 667 kg/ha de adubo composto 7-14-14. A 10 de outubro, depois do controlo de
infestantes com a motoenxada, fez-se uma adubação de cobertura com 167 kg/ha de Nitro 22. As
quantidades aplicadas por talhão estão expressas no quadro abaixo.
Agricultura Biológica
Instalação:
300 Kg de composto
Cobertura:
Custo total estimado: 0 €
Agricultura Convencional
Instalação:
12 Kg de Calmag
8 Kg de adubo 7:14:14
Cobertura:
2 Kg de Nitro 22 com Ca e Mg
Custo total estimado: 7,97 €
Proteção fitossanitária
Como tem sido habitual, tivemos alguns problemas com a rosca logo após a plantação, sobretudo no
talhão da modalidade em AC. Nesta modalidade fez-se um tratamento com um inseticida em meados
de setembro (ver quadro abaixo) que foi suficiente para resolver a situação. Na modalidade em AB, a
dimensão do problema não justificou nenhuma medida.
As roscas são pragas polífagas de muitas culturas, incluindo quase todas as hortícolas, podendo atacar
as plantas nos seus vários estádios de desenvolvimento. As larvas têm hábitos noturnos, passando o
dia enterrados no solo e à noite vindo à superfície para se alimentar. Os danos são particularmente
graves na fase de plântula, pouco depois da plantação, pois cortam a planta ao nível do colo e comem
parcial ou totalmente a parte aérea.
Como a fêmea prefere fazer as posturas em solos secos e quentes, com vegetação escassa, encontra
condições muito favoráveis neste período do ano (fim de setembro, início de outubro). Na modalidade
em AB, a existência da cobertura do terreno com palha e o solo mais húmido podem ter contribuído
para desencorajar a postura neste talhão.
Na modalidade em AC os tratamentos preventivos contra míldio e ferrugem começaram 1 mês após a
plantação, tendo-se realizado 3 tratamentos ao longo do ciclo cultural. Contra as lagartas das folhas
foram feitos 4 tratamentos e, apesar disso, os prejuízos foram significativos, sobretudo a partir da
fase em que as plantas começam a formar repolho e a praga fica mais difícil de ser alcançada pelos
tratamentos.
Na modalidade em AB foram feitos 2 tratamentos contra lagartas com um produto à base de BT e
uma aplicação de cobre contra míldio e bacterioses.
Data
14/09
09/10
26/10
06/11
19/11
Agricultura Biológica
Agricultura Convencional
Lambda-cialotrina
Mancozebe + Lambda-cialotrina + Molhante
Bacillus thuringiensis sub. kurstaki +
Molhante
Bacillus thuringiensis sub. kurstaki +
Hidróxido de cobre + Molhante
05/12
Custo total estimado: 1,37 €
Lambda-cialotrina + Molhante
Hidróxido de cobre + Lambda-cialotrina +
Molhante
Mancozebe + Lambda-cialotrina + Molhante
Custo total estimado: 4,28 €
8
Colheitas e produção
As colheitas iniciaram-se no dia 20 de dezembro em ambas as modalidades. Como tem sido habitual,
as colheitas começaram pela penca de Mirandela, que é mais precoce e atinge tamanhos e pesos
superiores à penca de Póvoa. Assim, quando se iniciaram as colheitas da penca da Póvoa, 9 de janeiro
na modalidade em AB e 16 de janeiro na modalidade em AC, já as pencas de Mirandela tinha sido
quase todas colhidas.
Como se pode ver no quadro abaixo, a produção da modalidade em AB foi cerca de 20% superior à da
modalidade em AC. Pouco depois da plantação, as plantas da modalidade em AB começaram a
apresentar um maior desenvolvimento e um aspeto mais saudável, situação que se manteve durante
todo o ciclo cultural.
Penca Mirandela
Penca Póvoa
Peso limpo (Kg) TOTAL
Agricultura Biológica
119,0 (40,43% (*))
59,0 (26,11%)
178,0 (33,27%)
Agricultura Convencional
78,0 (30,59%)
52,0 (26,29%)
130,0 (28,44%)
(*) Percentagem da produção comercializável
Na figura 6 pode ver-se a evolução da produtividade ao longo dos 4 anos de ensaio. De salientar que
nos dois primeiros anos apenas se utilizou a penca da Póvoa, que tem produtividades bastante mais
baixas que a penca de Mirandela, que foi usada em metade do talhão nos dois últimos anos.
Fig. 6 – Evolução da produtividade média da couve Penca nas duas modalidades ao longo dos quatro anos de ensaio
No gráfico da figura não é possível detetar qualquer efeito do aumento da fertilidade do solo ao longo
dos anos nas produtividades da penca da modalidade em AB. Se esse efeito existe, ele é
completamente mascarado por outros efeitos mais fortes. Desde logo, o efeito da data de plantação,
sem dúvida, o que mais se fez sentir. Embora sempre se tentasse antecipar o mais possível a data de
9
plantação, por vezes não foi possível, por várias razões. No entanto, analisando o quadro com as
datas de plantação, apresentado abaixo, parece claro que a data de plantação foi determinante para a
produtividade. Este fator foi determinante sobretudo em anos de inverno mais frio, pois uma
antecipação da plantação nestas condições permitia um período de crescimento ativo mais longo.
Ano 1
Ano 2
Ano 3
Ano 4
Data de plantação
14 de outubro
17 de setembro
5 de agosto
10 de setembro
10
ADUBO VERDE/ALHO-PORRO
Figura 7 – Desenvolvimento das culturas da modalidade em Agricultura Biológica (adubo verde à esquerda) e em
Agricultura Convencional (alho-porro à direita) em 10 de dezembro.
Na modalidade em AB, a preparação do terreno foi feita no início de setembro (dia 5) com uma
escarificação seguida de uma rotorfresagem para incorporar o composto e para preparar a cama para
a semente. A sementeira do adubo verde realizou-se no dia 18 de setembro a lanço. O adubo verde
foi constituído por uma mistura de uma leguminosa (tremocilha) e duas gramíneas (centeio e aveia)
na proporção de 3:2:1 em peso (1720g de tremocilha, 980g de centeio e 490g de aveia). Após a
distribuição a lanço, as sementes foram incorporadas com ajuda de ancinhos. Durante a duração da
cultura foi feita apenas uma rega por aspersão no início de outubro. A consociação apresentou um
bom desenvolvimento vegetativo, como se vê na figura 7. No dia 9 de fevereiro, quando a tremocilha
se encontrava em floração, passou-se o corta-mato na parcela, para fragmentar as plantas e facilitar
o posterior enterramento. Após o corte, as plantas ficaram à superfície do terreno durante uma
semana antes de serem incorporadas.
Na modalidade em AC, a preparação do terreno para a plantação do alho-porro foi feita em 9 de
agosto com uma escarificação para arrancar algumas raízes da cultura anterior (curgete) e
descompactar o solo. Depois espalharam-se os fertilizantes (ver quadro abaixo) e de seguida passouse a rotorfresa para incorporar os fertilizantes e regularizar a superfície do solo. A plantação foi feita
no dia 10 de agosto num compasso de 0,50m entre linhas e 0,15m entre plantas na linha. A variedade
foi a Lancelot e as plantas foram adquiridas num Viveirista da região (Viveiros JAD).
As colheitas de alho começaram no dia 31 de janeiro e houve necessidade de dar a cultura por
terminada a 15 de março para não prejudicar a instalação da cultura seguinte. Ao contrário dos anos
anteriores, usou-se uma variedade ‘standard’ por não estar disponível a variedade híbrida usada nos
anos anteriores. A variedade Lancelot revelou-se bastante mais heterogénea e menos produtiva que a
Ashton, o que não é surpreendente. Em todo o caso, produziu 75kg de produto comercializável.
Atendendo aos resultados obtidos pela cultura de alho-porro ao longo destes anos, seria de repensar a
sua manutenção na rotação. Se se mantivesse, eventualmente, teríamos que avaliar a viabilidade de
encurtar um pouco a cultura anterior (curgete) em favor do aumento do ciclo do alho.
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Agricultura Biológica
Instalação:
300 Kg de composto
Custo total estimado: 0 €
Agricultura Convencional
6,6 Kg de Superfosfato de cálcio
4,2 Kg de Sulfato de potássio
2 Kg de Corbigran
2,5 Kg de Nitro 22
80 L de Nutrimais
Custo total estimado: 18,03 €
12
NABO - BETERRABA
Figura 10 – Desenvolvimento das culturas de nabo e beterraba em Agricultura Biológica (esquerda) e Agricultura
Convencional (direita) em 10 dezembro
Recordamos que, no ano passado, tínhamos substituído a cultura do nabo pela da beterraba, devido a
alguns insucessos culturais e por termos duas culturas da mesma família (couve e nabo) na rotação,
que se sucediam de dois em dois anos na mesma parcela, o que poderia, como o tempo, agravar
alguns problemas fitossanitários.
Este ano optamos, forçados por imperativos de ordem comercial, por uma solução intermédia, fazendo
metade da parcela com nabo e metade com beterraba. É que, embora do ponto de vista produtivo a
beterraba se tenha comportado melhor que o nabo, verificou-se um problema comercial que teve a
ver com a dificuldade de escoamento do produto. Isto pode alertar para um facto muito importante e
que nem sempre merece a atenção necessária: o prévio estudo de mercado. Assim, ao
estabelecermos a nossa rotação e a escolha das espécies, devemos conjugar uma escolha que seja
racional do ponto de vista agronómico, com uma escolha que seja viável do ponto de vista comercial.
Num outro contexto, a cultura da beterraba poderia ser perfeitamente viável e até mais rentável que o
nabo.
A preparação do terreno foi feita no dia 5 de setembro, começando com uma escarificação para
descompactar o terreno e arrancar algumas ervas existentes e depois uma passagem de rotorfresa
para incorporar os fertilizantes (que tinham sido distribuídos a seguir à escarificação) e para
regularizar o terreno.
O nabo (var. S. Cosme) foi semeado diretamente no local definitivo no dia 8 de setembro em metade
do talhão. A cultura da beterraba (var. Pablo) foi instalada no dia 24 de setembro, a partir de plantas
produzidas em tabuleiro e que foram adquiridas num viveiro da região (JAD Sementes). A distância
entre linhas foi de 0,50m nas duas culturas mas, no caso do nabo, a sementeira foi contínua ao longo
da linha, tendo sofrido mais tarde um desbaste e ficando as plantas a cerca de 0,10m umas das
outras; no caso da beterraba, a plantação foi feita com uma distância de 0,25m entre plantas na
linha.
Na modalidade em AB, antes da sementeira e plantação das culturas, foi instalado um sistema de rega
gota-a-gota e, no caso da cultura da beterraba, o terreno foi coberto com palha de aveia.
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Na modalidade em AC, as regas foram feitas por aspersão. Em ambas as modalidades, as regas foram
semanais até meados de outubro, tendo depois as precipitações suprido as necessidades em água das
culturas.
Para o controlo das infestantes, no caso da modalidade em AC, a monda foi manual, tendo ocorrido
duas intervenções na cultura do nabo (no fim de setembro e no fim de outubro) e uma na cultura da
beterraba (no fim de novembro). Na modalidade em AB fez-se a monda manual no nabo, com
intervenção no fim de setembro e meados de outubro. Na cultura da beterraba, em complemento da
cobertura do solo com palha, houve necessidade de arrancar algumas ervas que surgiram no fim de
setembro (sementes que existiam na palha) e em meados de novembro (em locais que ficaram menos
guarnecidos de palha).
Fertilização
Como tem sido habitual na modalidade em AB o único fertilizante utilizado foi o composto produzido
na exploração a partir de matos e resíduos de hortaliças. Foram incorporados 300 kg deste composto
(25 t/ha) no dia 5 de setembro.
Na modalidade em AC foi aplicado 8 kg de Ampor 7-14-14 e 12 kg de Calmag (um corretivo calcáriomagnesiano) no dia 6 de setembro.
Agricultura Biológica
300 Kg de composto
Custo total estimado: 0 €
Agricultura Convencional
8 Kg de adubo 7:14:14
12 Kg de Calmag
Custo total estimado: 7,26 €
Protecção Fitossanitária
Como medida preventiva, nas culturas da beterraba e do nabo em AC, foram feitos dois tratamentos
com fungicidas (no fim de outubro e no fim de novembro). Na modalidade em AB não se fez nenhum
tratamento fitossanitário.
Data
26/10
30/11
Agricultura Biológica
Custo total estimado: 0 €
Agricultura Convencional
Mancozebe + Lambda-cialotrina + Molhante
Difenoconazol + Molhante
Custo total estimado: 2,70 €
No final das culturas manifestaram-se duas pragas contra as quais não foi possível aplicar nenhuma
medida eficaz. Na cultura do nabo, aquando do engrossamento das raízes, apareceram algumas
excrescências ou galhas que se verificou serem devidas à falsa potra (Ceutorhynchus pleurostigma), a
larva de um pequeno coleóptero que tornou os nabos incomercializáveis.
Na cultura da beterraba, as raízes tuberosas foram atacadas por ratos, atraídos pela doçura da raiz,
que provocaram uma redução substancial da produtividade.
Colheitas e produção
14
Como consequência das pragas acima referidas, as produções de nabo (nabiças e grelos) e beterraba
foram irrisórias durante este ano. Decidimos não investir muito na colheita de nabiças, para que
pudéssemos ter uma maior produção de nabos, no entanto, estes ficaram deformados pela falsa potra
e totalmente incomercializáveis. As plantas mais atacadas foram arrancadas para que a praga não se
propagasse. Mais tarde, a produção de grelos também foi muito reduzida porque as plantas que
restaram ficaram muito debilitadas pelos danos provocados na raiz.
Agricultura Biológica
Agricultura Convencional
Nabiças (Kg/talhão)
6
14
Grelos (Kg/talhão)
13
5,5
Beterrabas (Kg/talhão)
11,5
0
Tem sido para nós evidente, ao longo do período em que acompanhamos o ensaio, que alguns dos
problemas fitossanitários que temos enfrentado com menos sucesso se devem ao facto de estarmos
instalados num local onde, durante várias décadas, se produziram culturas hortícolas com reduzida
preocupação ecológica. Um exemplo flagrante tem sido a perseguição implacável movida contra
cobras e lagartos (pelo medo que inspiram nos funcionários que trabalham no campo) e que tem
levado à sua irradicação com a consequente proliferação de ratos e toupeiras. Por outro lado, a
ocupação dos terrenos tem sido intermitente, muito dependente da instalação ou não de ensaios no
local ficando, por vezes, os terrenos em pousio sem que haja um controlo eficaz da produção de
sementes pelas ervas infestantes. Esta prática levou a que, ao fim de todos estes anos, os solos
contenham uma carga de sementes de infestantes que não foi fácil reduzir para um nível aceitável
durante este curto período de tempo em que decorreu o ensaio
Na continuação do ensaio teremos que dar maior importância à limitação natural de pragas
proporcionada pelos organismos auxiliares. Este é um aspeto a que não temos dado a devida atenção.
Para isso, teremos que fomentar a biodiversidade através, por exemplo, da instalação na proximidade
do ensaio de mais plantas que forneçam refúgio e alimento aos organismos auxiliares e de mais
plantas que tenham algum efeito repulsivo sobre pragas das culturas.
Vairão, julho de 2013
15

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