indicadores mundiais do setor elétrico - Nuca

Transcrição

indicadores mundiais do setor elétrico - Nuca
Projeto Provedor de Informações Econômico-Financeiro
do Setor de Energia Elétrica
INDICADORES MUNDIAIS DO SETOR ELÉTRICO –
AS EXPERIÊNCIAS LATINO-AMERICANAS DE
INTEGRAÇAO ENERGÉTICA
JULHO DE 2009
Rio de Janeiro
1
Índice
1 – SUMÁRIO EXECUTIVO.............................................................................................. 3
2 – O MERCADO COMUM DE ELETRICIDADE NA AMÉRICA CENTRAL ......... 4
3 – O MERCADO COMUM DE ELETRICIDADE NA COMUNIDADE ANDINDA . 6
4 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE BRASIL E PARAGUAI: A
CENTRAL HIDROELÉTRICA BINACIONAL ITAIPU ............................................... 9
5 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E URUGUAI: A
CENTRAL BINACIONAL DE SALTO GRANDE ........................................................ 12
6 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E PARAGUAI: A
CENTRAL BINACIONAL YACYRETÁ ........................................................................ 13
7 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E CHILE: A
CENTRAL SALTA ............................................................................................................ 14
8 – O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA BRASIL-PERU ................... 15
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 19
Nivalde J. de Castro*
Adriana Maria Dassie**
Danilo Delgado***
*
Professor do Instituto de Economia - UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico
Assistente de Pesquisa do GESEL-IE-UFRJ
***
Assistente de Pesquisa do GESEL-IE-UFRJ
**
2
1 – SUMÁRIO EXECUTIVO
A integração energética na América Latina será possível mediante a existência de
recursos energéticos suficientes para promover a integração da região, a partir da elaboração
de projetos multilaterais, tanto técnicos como regulatórios, que servirão para atender as
necessidades de mais de um país. O processo de integração exige a intensa participação dos
governos envolvidos, de tal modo que seja possível chegar a acordos que permitam a
superação de obstáculos que derivam dos variados desenhos de cada mercado e marcos
regulatórios que existem na região. O beneficio econômico de uma integração, seja avaliado
do ponto de vista social ou privado, deve ser o fator determinante do projeto de integração.
O presente relatório apresentará os casos de integração energética ocorridos ou ainda
em processo na América Latina. Primeiramente, será analisado o processo de integração
energética na América Central , abrangendo Costa Rica, Nicarágua, Panamá, El Salvador e
Guatemala. A segunda parte do relatório trata sobre a formação da Comunidad Andina de
Naciones, composto por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. A seção seguinte
trata da integração energética entre Brasil e Paraguai, através da Usina Binacional de Itaipu,
mostrando como foi formatada esta central geradora que atende o mercado de energia dos
dois países. As três seções seguintes abrangem acordos energéticos estabelecidos pela
Argentina com Chile, Uruguai e Paraguai, respectivamente.
Por fim, é realizada uma análise acerca do processo de integração energética que se
inicia entre Brasil e Peru, com o objetivo de construir seis novas usinas hidroelétricas na
região amazônica peruana, totalizando 7 GW de potência instalada, que seria utilizada para
atender os mercados brasileiros e peruanos.
3
2 – O MERCADO COMUM DE ELETRICIDADE NA AMÉRICA CENTRAL
A integração Energética na América Central teve início em 1976 com um acordo
firmado entre Honduras e Nicarágua. Em 1982, a interconexão ocorre entre Costa Rica e
Nicarágua e, em 1986, entre Costa Rica e Panamá e El Salvador e Guatemala, formando dois
subsistemas interconectados. Somente em 2003 ocorreu a integração entre Honduras e El
Salvador. A integração existente tem sido muito importante para o fornecimento de energia
elétrica excedente em cada país, basicamente energia hidráulica.
Diante das perspectivas de aproveitar um mercado elétrico com alcance regional, em
1996, assinou-se o Tratado Marco Del Mercado Eléctrico de América Central, ratificado
pelos seis países membros e que entrou em vigor em 1998. Neste tratado está a base jurídica
na qual se sustenta a criação de um mercado elétrico regional, que fortalece a infra-estrutura
do SIEPAC (Sistema de Interconexión Eléctrica para la América Central) e a construção de
uma linha de transmissão de alta voltagem que realize a interconexão dos países da região. O
sistema de transmissão regional inclui as instalações dirigidas a reforçar os sistemas elétricos
existentes, a construção da linha de interconexão de 250 KV, ligando a Guatemala ao
Panamá e as ampliações das subestações associadas.
Os principais benefícios do Mercado Eléctrico Regional – MER são os seguintes:
•
Aumento da segurança jurídica, redução do risco, maior facilidade de acesso às
fontes de financiamento e diminuição das taxas de juros, refletindo em menores preços no
mercado;
•
Melhoras tecnológicas na oferta pela existência de escala, resultando em menores
preços para a eletricidade;
•
Maior competição pela existência de mais agentes no mercado;
•
Melhor qualidade do serviço, resultado de uma infra-estrutura de transmissão
mais robusta e aplicação de critérios de qualidade e segurança uniforme; e
•
Mercado de serviços auxiliares, com o objetivo de melhorar a qualidade dos
serviços.
4
Os objetivos do SIEPAC são: apoiar a formação e consolidação do MER com o
propósito de facilitar a participação do setor privado no desenvolvimento de projetos
adicionais de geração elétrica e estabelecer a infra-estrutura de interconexão elétrica que
permita a troca de energia entre os participantes do MER.
O custo total para o desenvolvimento e construção da linha de interconexão e das
subestações do projeto foi estimado em US$ 330,0 milhões. Deste total, o BID liberou um
empréstimo no valor de US$ 240,0 milhões em 1997, com o restante sendo financiado por
instituições locais. A linha SIEPAC se conectará às redes nacionais de cada país mediante um
total de 28 acessos nas seguintes subestações: Guatemala – Norte, Panaluya e Guatemala,
estas na Guatemala; Ahuachapán, Nejapa e 15 de Septiembre, em El salvador; Rio Lindo e
Aqua Caliente, em Honduras; Planta Nicarágua e Ticuantepe, na Nicarágua. Cañas, Parrita,
Rio Claro e Palmar Norte, na Costa Rica e Veladero, no Panamá. O Gráfico nº. 1 apresenta a
rota que a linha de transmissão deverá percorrer ao final do projeto e as subestações que
deverão alimentar cada país participante.
Gráfico nº. 1
Mapa do projeto da linha de transmissão SIEPAC
Fonte: SIEPAC
5
3 – O MERCADO COMUM DE ELETRICIDADE NA COMUNIDADE
ANDINDA
Os países que compõem a Comunidad Andina de Naciones dispõem do seguinte
potencial energético:
• Bolívia: conta com a segunda maior reserva de gás natural da região, que tem a
Venezuela com as maiores reservas. Encontra-se entre os dez países com maiores
reservas hídricas da América Latina.
• Colômbia: concentra as maiores reservas de carvão da região. É o segundo país
com maior potencial hidrelétrico, além de estar entre os seis países latinoamericanos em reservas de petróleo.
• Equador: é o quarto país em reservas de petróleo e está entre os dez países com
maiores reservas hídricas da América Latina.
• Peru: é o terceiro país da América Latina em reservas hídricas, além de ser o
sexto em reservas de gás natural.
• Venezuela*: conta com as maiores reservas de petróleo da região e quinta maior
do mundo. Além disso, possui as maiores reservas de gás natural, é o quarto país
em reservas de carvão e o quinto em reservas hídricas na América Latina.
O processo de integração energética dos países membros da Comunidad Andina de
Naciones teve início em 1969 com a construção da linha de transmissão Zulia – La Fría,
ligando Colômbia e Venezuela. No entanto, a troca de energia entre os países nunca foi
significativa e sempre ocorreram em conseqüência de problemas de segurança no
fornecimento de energia. Essa linha de transmissão foi a base para que a integração
energética se desenvolvesse futuramente na região.
*
A Venezuela deixou de fazer parte da CAN em 2006 para se integrar ao Mercosul.
6
O marco histórico através do qual se desenvolve a integração energética entre os
países andinos – Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela – é um reflexo de que, para
fortalecer e aproveitar todas as potencialidades de uma integração elétrica entre países
vizinhos, os respectivos governos devem estabelecer um marco regulatório geral no qual as
regras de interconexão sejam estabelecidas. Este recebeu o nome de Reglas Fundamentales,
das quais convém destacar:
•
Os países membros não usarão de prática discriminatória entre os preços no seu
mercado interno e o mercado externo;
•
Haverá garantia, por parte dos países membros, de livre acesso às linhas de
transmissão destinadas a interconexão internacional;
•
Cada país deve operar sob condições competitivas;
•
O uso físico das interconexões será conseqüência do despacho econômico
coordenado dos mercados;
•
Os países membros não devem usar de práticas de subsídio e incentivo direto às
exportações de energia elétrica, o que será considerado prática anticompetitiva;
•
Cada país membro deverá incentivar a participação privada nos desenvolvimento
da infra-estrutura de transporte de eletricidade para a interconexão internacional.
A evolução do processo de interconexão elétrica da Comunidad Andina vem
permitindo definir ambiciosos planos para os próximos anos. Há previsão para construção de
uma interconexão da Bolívia com o SIEPAC, além de projetos que já se encontram em
construção, como é o caso da linha de transmissão que ligará Peru e Equador.
Para alcançar os níveis de interconexão previstos para o ano de 2010 será necessária
um investimento na ordem de US$ 800 milhões, valor que certamente refletirá sobre as
tarifas.
7
O consumo de eletricidade nos países que compõem o CAN vem mantendo uma
tendência de crescimento desde a década de 1970, como é possível observar no Gráfico nº. 2.
A capacidade instalada vem acompanhando essa tendência, conforme o Gráfico nº. 3. Porém,
se a tendência de crescimento do consumo se mantiver, é provável que haja uma dificuldade,
por parte de alguns países, em aumentar a capacidade de geração usando apenas os insumos
de que dispõem. Portanto, eis a importância de se promover a integração energética entre
estes países, pois será possível que as necessidades energéticas dos países deficitários possam
ser supridas por aqueles que possuem recursos excedentes às suas necessidades.
Gráfico nº. 2
Consumo de Energia Elétrica dos Países Membros da CAN
Fonte: Elaborado pelo GESEL-IE-UFRJ, com base nos dados Relatório CEPAL (2008)
Gráfico nº. 3
Capacidade Instalada dos Países Membros da CAN
Capacidad instalada para producir energía eléctrica
60 000,0
50 000,0
Venezuela
GWh
40 000,0
Perú
Ecuador
30 000,0
Colombia
20 000,0
Bolivia
10 000,0
2006
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
1972
1970
0,0
Anos
Fonte: Elaborado pelo GESEL-IE-UFRJ, com base nos dados do Relatório CEPAL(2008)
8
4 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE BRASIL E PARAGUAI: A
CENTRAL HIDROELÉTRICA BINACIONAL ITAIPU
A Usina Hidroelétrica Itaipu Binacional é um empreendimento internacional com o
objeto de aproveitar o potencial hidroelétrico do Rio Paraná e gerar eletricidade para
atender os mercados brasileiro e paraguaio. O ano da assinatura do Tratado de Itaipu, 1973,
coincidiu com a primeira crise do petróleo. Neste período, no qual os países são levados a
buscar alternativas para substituir o combustível fóssil, do qual o Brasil ainda não dispunha
em volume suficiente para não depender das exportações, a construção de Itaipu consolidou
a opção brasileira pela geração de energia através de fonte hidráulica, dobrando a
capacidade de geração elétrica pelo país no período.
A central tem capacidade instalada de 14.000 MW, sendo que as duas últimas
unidades geradoras entraram em operação em 2007. Com as 20 unidades geradoras em
atividade e o Rio Paraná em condições favoráveis, com chuvas em níveis normais em toda a
bacia, a geração poderá alcançar o patamar de 100 bilhões de kWh.
O Brasil foi o responsável pelo projeto de instalação e pelos investimentos
empregados na construção da usina, além de ter sido o financiador da parte pertencente ao
Paraguai. De acordo com os contratos estabelecidos entre os dois países, a energia elétrica
gerada é dividida igualmente entre os dois países. Como o Paraguai não consome toda a sua
parte – apenas 20% do total gerado já é suficiente para abastecer seu mercado interno –, os
80% restantes são vendidos para o Brasil, conforme observado no Gráfico nº. 4.
9
Gráfico nº. 4
Participação da Energia de Itaipu no Mercado Paraguaio
(em MW médio e em %)
Fonte: Itaipu Binacional
Em 2008 a usina produziu 94,7 milhões de MWh, que garantiu o suprimento de
87,3% de toda a energia elétrica consumida no Paraguai e 19,3% da demanda do sistema
interligado brasileiro, conforme observado no Gráfico nº. 5..
Gráfico nº. 5
Participação da Energia de Itaipu no Mercado Brasileiro
(em MW médio e em %)
Fonte: Itaipu Binacional
10
A operação da usina tem o objetivo de maximizar a utilização dos reservatórios
(energia disponível), nos períodos de baixas e altas afluências, atendendo as demandas do
sistema elétrico brasileiro e paraguaio. Evita-se verter água e otimiza-se a sua utilização na
produção de energia. O Gráfico nº. 6 apresenta o total de energia que Itaipu gerou nos anos
de 2004 a 2008.
Gráfico nº. 6
Total de Energia Produzida por Itaipu Binacional
(em MW médios)
Fonte: Itaipu Binacional
11
5 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E URUGUAI: A
CENTRAL BINACIONAL DE SALTO GRANDE
A central de Salto Grande está localizada 450 km ao norte de Buenos Aires e 500 km
de Montevidéu, cujo projeto começou a se desenvolver em 1938. A usina é equipada com 14
geradores, que representam uma potencia instalada de 1.890 MW. A central possui um centro
de controle responsável por operar o sistema elétrico da usina e coordenar as operações entre
os dois países por meio dos organismos encarregados do despacho, Despacho de Carga
Argentino (CAMMESA) e Uruguaio (UTE).
Com a finalidade de transportar a energia gerada na central até os centros de
consumo na Argentina e no Uruguai, a Comisión Técnica Mixta de Salto Grande (CTMSG)
construiu, entre os anos de 1977 e 1986, uma rede de transmissão com uma tensão de 500
kV composta por seis subestações e 1300 km de linhas aéreas. O Gráfico nº. 7 mostra a
evolução do montante de energia gerada pela usina que, pela média histórica, passou a
gerar mais energia a partir do ano de 2005.
Gráfico nº. 7
Evolução Anual da Energia Gerada pela UH de Salto Grande
Fonte: Comisión Técnica Mixta de Salto Grande
12
6 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E PARAGUAI:
A CENTRAL BINACIONAL YACYRETÁ
A represa hidrelétrica Yacyretá-Apipé foi construída sobre as quedas de YacyretáApipé no Rio Paraná, entre a província argentina de Corrientes e o departamento paraguaio
de Missiones. A central hidrelétrica é constituída de 20 grupos geradores de 155 MW cada
um, totalizando 3.100 MW de capacidade instalada. As primeiras unidades começaram a
gerar eletricidade em 1994.
A energia gerada por Yacyretá chega ao sistema argentino através de três linhas de
transmissão de 500 KV, que vinculam a central com o ponto de entrega na estação Rincón de
Santa Maria e, ao sistema paraguaio mediante uma linha de 220 Kv, até a subestação Ayolas.
A partir da estação Rincón de Santa Maria, duas linhas de 500Kv se conectam a rede
nacional em Salto Grande e em Puerto Bastiani. Durante o ano de 2007, o volume de energia
gerada pela central Yacyretá, manteve-se estável, conforme observado no Gráfico nº. 8.
Gráfico nº. 8
Energia Gerada pela Central Binacional Yacyretá
(em GWh)
1600
1400
1200
GWh
1000
800
600
400
200
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Jul
Ago Set
Out Nov Dez
Ano 2007
Fonte: Elaborado pelo GESEL-IE-UFRJ, com base no Informe Anual Mercado Eléctro Mayorista (2007)
13
7 – A INTERCONEXÃO ELÉTRICA ENTRE ARGENTINA E CHILE: A
CENTRAL SALTA
Esta central é outro exemplo de interconexão, pois não se trata de uma usina
hidrelétrica e sim de uma central de ciclo combinado (642 MW), situada na localidade de
Salta Argentina e ligada ao Sistema Interconectado Del Norte Grande de Chile. Ela foi
construída por uma empresa chilena para gerar eletricidade fazendo uso do gás natural
proveniente da Argentina, mas não fornece eletricidade para este país.
A linha de interconexão entre Chile e Argentina possui extensão total de 408 km e
potencia nominal de 777 MVA. Futuramente, espera-se conectar a central ao sistema
interconectado argentino, com o objetivo de fazer com que esta central forneça energia para
os dois países.
O Gráfico nº. 9 apresenta as principais ligações elétricas existentes e projetadas entre
alguns países da América Latina. Nele podemos verificar que a Central Salta é realmente o
único projeto de uma usina termoelétrica destinada à integração energética na região. Por ser
este mapa retirado do relatório da CEPAL, Série Recursos Naturales e Infresctrutua,
publicado em 2004, não está representado o projeto de integração energética entre Brasil e
Peru.
Gráfico nº. 9
Mapa das ligações elétricas, projetadas e existentes, entre Chile, Peru, Argentina,
Paraguai, Uruguai e Brasil.
Fonte: CEPAL – Série Recursos Naturales e Infraesctrutura, Nº 73
14
8 – O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA BRASIL-PERU
O processo de integração energética na América Latina se desenvolveu de forma
muito pontual, sem uma estratégia pré-definida. Há um potencial de recursos energéticos
existentes em praticamente todos os países que não está sendo utilizado para atender a
crescente demanda de energia elétrica da região, onde o Brasil pela sua dimensão econômica
pode agir como um fator importante para definir uma estratégia de integração.
Estudos recentes indicam que há uma forte complementaridade entre o Brasil e Peru,
pois este país tem um grande potencial hidroelétrico na sua floresta amazônica, ao mesmo
tempo em que enfrenta sérios problemas de suprimento de energia elétrica.
Em maio de 2009, foi assinado pelos Ministros de Minas e Energia do Brasil e do
Peru um acordo de integração energética para a construção de seis usinas hidrelétricas que
deverão abastecer os mercados de energia dos dois países. As usinas construídas possuem
aproximadamente 7.000 MW de potência instalada prevista e se situam na bacia amazônica
do território peruano, próximas ao estado do Acre, conforme a Figura nº.1.
Figura nº.1
Localização das Usinas Hidrelétricas do Convênio de Integração
Energética Brasil-Peru
Fonte: GAMA, Sinval. Peru Energy Sector Projects. (2009)
15
Com o intuito de se elaborar minimamente uma estratégia para a integração de
energia elétrica entre o Brasil e Peru, constata-se que a base para a integração é deter um
conhecimento sobre o marco regulatório do Peru, pois a integração só é possível tendo-se um
denominador comum dos respectivos marcos regulatórios.
Neste sentido, é necessário analisar as linhas gerais das regras que norteiam o setor
elétrico no Peru, uma vez que ambos os países deverão apresentar grande crescimento no
consumo energético nos próximos anos. No entanto, para o desenvolvimento de um marco
regulatório e institucional entre o Brasil e o Peru, é importante avaliar os níveis de oferta e
demanda de hidroeletricidade e de gás natural registrados nos dois países a fim de se
determinar as verdadeiras necessidades energéticas de cada um dos interessados. A Tabela
nº.1 apresenta o potencial hidrelétrico (MW) e a capacidade de geração hidrelétrica (MW) em
2006 do Brasil e do Peru.
Tabela nº. 1
Potencial Hidroelétrico e Capacidade de Geração Hidroelétrica de Brasil e Peru em
2006.
(em MW)
Potencial Hidroelétrico
Capacidade Instalada de
Geração Hidroelétrica
Brasil
260.000
72.013
Peru
61.832
3.214
TOTAL
321.832
75.227
Países
Fonte: OLADE 2006
A partir dos dados observados na tabela nº. 1, verifica-se que ambos os países
possuem um grande potencial hidroelétrico. Entretanto, ao se comparar a capacidade de
geração hidrelétrica com o potencial hidrelétrico dos dois países, pode-se perceber que há
subutilização dos recursos hidroelétricos no Peru, uma vez que a capacidade instalada de
geração hidroelétrica do país representa apenas 5,2% do total do seu potencial hidrelétrico.
16
A Tabela nº. 2 mostra a evolução do consumo de energia elétrica (TWh) entre 1997 e
2006 em cada um dos dois países.
Tabela nº. 2
Evolução do Consumo de Gás Natural. 1997-2006
(em Gm³)
1997
(em Gm³)
2005
(em Gm³)
2006
(em Gm³)
Taxa de Crescimento
Médio Anual 1997-2006
(em %)
Taxa de Crescimento
Médio Anual 2005-2006
(em %)
Brasil
7,6
22,5
24,5
14,0
8,9
Peru
0,4
3,8
4,0
28,8
6,4
Países
Fonte: OLADE 2006
De acordo com os dados apresentados, o Peru apresenta uma taxa média de
crescimento anual do consumo de energia elétrica entre 1997 e 2006 de 4,8%. No entanto, ao
se observar o período compreendido entre os anos de 2005 e 2006, verifica-se uma maior
taxa média de crescimento do consumo entre os dois países.
Deste modo, pode-se perceber que para um maior crescimento da demanda de energia
elétrica nos dois países, o suprimento dessa demanda poderá ser realizado através de um
melhor e maior aproveitamento dos recursos hidrelétricos disponíveis ainda não utilizados na
bacia amazônica do Peru.
A questão do marco regulatório é a base que deverá guiar qualquer acordo de
cooperação entre o Brasil e o Peru. Desta forma, o desenvolvimento de um marco regulatório
minimamente comum é necessário para garantir que os investimentos brasileiros na
construção de novas usinas hidroelétricas no Peru e o comércio de energia entre os dois
países busquem a modicidade tarifária e apresente um fornecimento confiável.
Por outro lado, um elemento importante da estratégia de integração energética entre
os dois países deve estabelecer as regras para a repartição da energia gerada entre os dois
países. Esta decisão, bem como todas as outras, deve estar apoiada em um tratado aprovado
pelos dois Congressos. Dado a quantidade de recursos hidroelétricos disponíveis no Peru e o
crescimento da demanda de energia elétrica, a base da integração deve ser a construção de
17
novas usinas hidroelétricas que sejam capazes de gerar energia para ambos os mercados, em
proporções a serem fixadas previamente. O despacho de carga deverá ser coordenado pelos
operadores de cada país. E a energia gerada será vendida de acordo com os preços praticados
no mercado de cada país em contratos de longo prazo. Excedentes poderão ser negociados
nos mercados spots.
Conclui-se, portanto, que a convergência para um marco regulatório comum que
garanta condições institucionais e econômicas para a integração energética irá permitir a
construção de hidroelétricas no Peru, usando-se toda a experiência e condições econômicas
existentes no Brasil.
18
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ANCAJIMA, A. Integración Energética Perú - Brasil: La libre disponibilidad de la
energia peruana y El precio justo. Diagnóstico del problema. Seminário Internacional
de Integração Energética Brasil-Peru. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
http://www.nuca.ie.ufrj.br/gesel/eventos/P_2009.05.14_IntegracaoBrasilPeru.htm#slides .
COMUNIDAD ANDINA DE NACIONES. Decisión 536, Marco general para
la interconexión subregional de sistemas eléctricos e intercambio intracomunitario de
electricidad. Em Reunión de la Comisión de la Comunidad Andina con los Ministros
de Energía. Cartagena, septiembre de 2002. Disponible en
(http://www.comunidadandina.org/normativa/dec/D536.htm)
DAMMERT, A.; CARPIO, RG; MOLINELLI, F. Regulación y supervisión del sector
eléctrico. Fondo Editorial de la Pontíficea Universidad Católica del Peru. Primera edición,
octubre de 2008.
GAMA, Sinval .Z. . Peru Energy Sector Projects. Seminário Internacional de Integração
Energética Brasil-Peru. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
http://www.nuca.ie.ufrj.br/gesel/eventos/P_2009.05.14_IntegracaoBrasilPeru.htm#slides .
WORLD ENERGY COUNCIL. Regional Energy Integration in Latin America and the
Caribbea. World Energy Council, 2008. Disponível em:
http://www.worldenergy.org/publications/regional_energy_integration_in_latin_america_a
nd_the_caribbean/default.asp .
19

Documentos relacionados