Sabores e lembranças da infância

Transcrição

Sabores e lembranças da infância
4
SÁBADO
24 DE AGOSTO DE 2013
FOTOS: CAIO ESTEVES
BRINQUEDOS Christian Magnes tem vários bonecos, entre eles Batman, Rambo e Jaspion. “Quero usá-los com meus filhos”
TEMAS INFANTIS E ROMÂNTICOS Fabiana Silva ainda guarda sua coleção de papel de carta. “Amava a coleção Amar É”
➤ DOCE PASSADO
Hoje, no Dia da Infância, jundiaienses falam de personagens, brinquedos e doces que remetem à época em que eram crianças
Sabores e lembranças da infância
FABIANO MAIA
CONCEIÇÃO PACHECO
[email protected]
R
elembrar a infância - seja por meio de guloseimas, brinquedos, músicas ou personagens - é sempre
muito prazeroso. E hoje, quando se comemora o Dia da Infância, por que não lembrar
de alguns destes itens, como
os drops coloridos, da marca
Docile, que vinham com sete
balas em forma de comprimido para dor de cabeça. Ou dos
heróis da década de 80, como
Rambo e Michelangelo, o clássico jogo da memória Genius
e os delicados papéis de carta
da coleção Amar É.
Para muitos jundiaienses e
comerciantes da Região, estas
recordações estão mais vivas
do que nunca. Ana Piola, 36,
sabe bem do que estamos falando. “Toda semana passo na
doceria, pois já não consigo ficar sem esses doces”, conta
ela, com olhos atentos nas
prateleiras.
Iguarias como o guardachuva de chocolate (aquele
com gordura hidrogenada), o
bico-lito, conhecido como ‘pirulito do Chaves’, os drops,
suspiros, sorvete de maria mole , coração de abóbora e batata, o doce de banana no copinho, geleia d’água (aquela vermelha e amarela) e os enormes sacos de salgadinho de pa-
lito ou cebola já fazem parte
de sua lista de compras. “Gosto de todos os doces, mas o do
abóbora é o melhor, este eu
compro toda semana. Na minha casa este coraçãozinho já
virou tradição e faz eu me lembrar dos tempos de infância
no Paraná”, conta Ana.
Brinquedos
Quando se fala em brinquedos, Christian Magnes,
28, tem um acervo bem divertido em seu guarda-roupas.
Os Cavaleiros do Zodíaco,
Rambo, Jiban, Jaspion, Batman, o Tommy (Power Rangers branco), o Tokkei Winspector e o Michelangelo, das
Tartarugas Ninja, se tornaram verdadeiras relíquias.
“Não consigo me desfazer destes brinquedos, quero usá-los
com meus filhos”, conta.
Formado em computação
gráfica, Christian acredita que
os brinquedos da atualidade
são tecnológicos demais, enquanto os antigos despertam
a criatividade. “Quando a
criança pega seus heróis e vilões, diversas histórias e situações inusitadas surgem. Eu
brincava quase todos os dias
com os mesmos brinquedos e
tudo era diferente.”
Papel de carta
Os papéis de carta foram
uma verdadeira febre na déca-
GULOSEIMAS Ana Piola não consegue ficar sem os drops Docile, coração de abóbora e batata e doce de banana no copinho
da de 80. Fabiana de Andrade
e Silva, 36, professora de educação infantil, ainda guarda
com carinho a coleção que fez
quando era adolescente. “Na
minha época as trocas dos papéis de carta estreitavam as relações de amizade, ficávamos
horas fazendo isso”, diz ela, ao
apontar seus papéis prediletos. “Gostava dos temas infantis e românticos, amava os papéis da Ambrosiana e os da coleção Amar É.”
Fabiana conta, ainda, que
quando se casou deu uma das
pastas de sua coleção para
suas sobrinhas. “Me partiu o
coração quando as vi recortando ou escrevendo nos papéis,
queria que elas guardassem
da mesma forma que eu os
guardei por 25 anos. Mas entendi que quem nutre um sentimento por eles sou eu e não
elas. Então, não poderia exigir
tanto zelo.”
Parque e filmes
Gostar dos bons tempos de
infância acabou rendendo
uma oportunidade de emprego para Thaís Geron, 28, que
há um mês trabalha no Parque da Xuxa, em São Paulo.
“Sempre fui ligada nesta época (anos 80), que faz parte do
que sou hoje. Tenho bonecas
e álbuns de figurinhas que
eram da minha mãe e das minhas tias, e pretendo guardálos também para meus futuros filhos.”
Entre seus ídolos de infância estão os Rebeldes, as Chi-
Comerciantes investem
em público saudosista
O comércio da Região também está
de olho nos apaixonados por
infância. Lojas se especializam no
conserto e venda de brinquedos,
enquanto as distribuidoras e
docerias apostam nas guloseimas
que remetem aos anos 70 e 80.
Para o casal Marcelo Rosa e Lilian
Silva tudo começou em 2000,
quando inauguraram na Lapa, em
São Paulo, uma loja especializada
no conserto de brinquedos antigos
e videogames (na época a febre era
N64, Game Cube, Playstation 1 e o
Mega Drive). “Estamos desde então
no mercado atendendo diversas
marcas de brinquedos, produtos
para bebê e games”, relembram.
Com o crescimento da demanda,
no início do ano, inauguraram a loja
Toy Company, em Jundiaí.
“Percebemos uma procura grande
por assistência de brinquedos das
empresas que trabalhamos em
parceria aqui na Região, então,
resolvemos investir na assistência
especializada por aqui", explica
Lilian.
Relíquias como Genius, Pense
quititas, a Família Dinossauro, a novela Carrossel e a Xuxa, é claro. As lembranças hoje servem de inspiração em
seu trabalho. “Os personagens são mágicos para as
crianças. Elas querem te abraçar, tirar fotos. É um amor puro e verdadeiro. É muito gratificante ver os olhinhos delas
brilhando. E eu me divirto.
Me jogo e viro criança de novo”, revela.
E na correria entre casa e
trabalho, Thais ainda encontra um tempinho para reviver
os bons tempos. “Gosto tanto
desta época que assisto a nova
versão de Chiquititas. E mais:
tenho vários LPs da Xuxa guardados.”
O remake de “Os Smurfs
2”, de Raja Gosnell, foi um verdadeiro presente para Daniele de Fátima Silva, 31. “Amo
os Smurfs, esses homenzinhos azuis, foram um marco
na minha infância”, ressalta .
Para ela, encarar a fila
com a molecada para ver um
bom filme infantil não é constrangimento nenhum. “Sei
que tem muita gente da minha idade com vontade de ir
ao cinema, mas sente vergonha, eu não. Dou risada, me
divirto e acabo relembrando
os bons momentos da minha
infância, e esqueço a correria
e preocupações do dia a dia”,
diz Daniele.
FOTOS: CAIO ESTEVES
Bem, Maximus, Teddy Ruxpin,
Master System, Atari, Ferrorama,
bonecas, motos, veículos elétricos e
carrinhos de controle remoto são as
peças mais recebidas na loja.
“Geralmente a demanda é pelo
conserto destes brinquedos dos
anos 70 e 80, pois, quem na
época era criança, hoje já é pai e
mãe, e quer reformar os brinquedos
para dar de presente aos seus
filhos”, comenta Lilian.
EXPOSIÇÃO Ursinhos carinhosos, carros e jogos, como o Boca Rica, da Estrela, estão entre as raridades do Museu do Brinquendo, que funciona num sebo em Jundiaí
Doces Antigos
Já o comerciante Flávio Felicioni
conta que herdou de seu pai a
distribuidora XV, por lá, os doces
mais procurados são o coração de
abóbora, canudo de leite e paçoca
de amendoim. “Os clientes
também procuram muito pelos
salgadinhos de milho e pipocas.”
Flávio conta que há 15 anos,
quando a maioria das fábricas de
doces era de pequeno porte e
começaram a ser compradas por
grandes marcas como a Nestlé,
chegou a pensar que os doces
mais antigos fossem extintos do
mercado. Hoje vê que novas
marcas destes doces começaram
a surgir e se modernizaram.
Em média, a distribuidora vende
de 1 mil a 1.200 caixas de doces
antigos por mês. Os preços variam
de R$ 0,10 a R$ 50. Para Flávio, a
grande diferença entre a venda
dos doces que remetem aos anos
70 e 80, para os mais novos é a
publicidade. “As crianças de hoje
pedem um doce pela figurinha que
é divulgada na embalagem ou por
que viram um comercial na TV,
Serviço
Conserto de Brinquedos - Toy Company - rua Vinte e Três de Maio, 22, Jundiaí - Telefone (11) 3395-9068 / 3395-9069
enquanto os doces mais antigos
vem da tradição entre os adultos".
Museu dedicado ao brinquedo
O sebo “O Barato da Cultura”
abriga, há sete anos, o Museu do
Brinquedo. Porém, sua coleção é
bem mais antiga. Guardada por
Maurício Ferreira, dono do sebo,
há décadas, agora são raridades e
estão expostas ao público.
“Tenho um tico-tico e um triciclo
que são de 1930. Mas, o que faz
sucesso mesmo são os
brinquedos da década de 70 e
80, como os indiozinhos que
vinham num achocolatado de
brinde, a galinha que bota ovos
(na época vinha junto com o caldo
de galinha), o Toppo Giggio, o
lango-lango , o Fofão e os
carrinhos bate-bate”, conta
Maurício.
O sebo é procurado por muitos
colecionadores e tem um acervo
que vai desde caixinhas de fósforo
até brinquedos raros. Mas os
brinquedos só são comercializados
quando há um repetido no acervo,
ou se foi fabricado após partir da
década de 1990,
“Nossa intenção é preservar a
história de uma das melhores
fases de nossas vidas: a infância.”
Maurício ainda ressalta que muitos
colecionadores insistem na venda
de algumas peças, porém, ele
sempre explica que o acervo é um
'presente' para a população. Para
manter o acervo cada vez mais
atrativo, ele sempre acompanha
leilões pela internet para comprar
mais peças antigas. (C.P.)
Museu do Brinquedo - O Barato da Cultura - rua Dr. Torres Neves, 153 - Centro, Jundiaí - Telefone (11) 22816-3387 / 2449-2140
Doces Antigos - Distribuidora XV - rua Barão do Rio Branco, 115, Vila Arens - Jundiaí - Telefone (11) 4587-5480

Documentos relacionados