Encasulamento e Colheita dos Casulos

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Encasulamento e Colheita dos Casulos
Notas de Aula de ENT 110 – Sericicultura
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ENCASULAMENTO
Bosques: Vários tipos de bosques podem ser utilizados para o encasulamento
do bicho-da-seda. No Brasil, os sericicultores usam o bosque do tipo
"taturana", que são feitos de plástico, e os bosques de papelão, com 156
"células" de encasulamento, que são muito utilizados (Figura 20).
Bosque Tipo "Papelão"
Bosque Tipo "Taturana"
Figura 20. Tipos de bosque utilizados na sericicultura (Fonte: FAO,1990).
Bosqueamento: Ao final do período de alimentação, as lagartas cessam sua
alimentação, tornando-se “transparentes” e amareladas, e erguem a cabeça
procurando um suporte para subir, estando prontas para o encasulamento.
Inicialmente, poucas lagartas apresentam o comportamento de erguer o corpo
à procura de um substrato. Estas devem ser coletadas manualmente e
colocadas nos bosques. Quando 10% das lagartas apresentarem esse
comportamento, deve-se colocar os bosques da seguinte maneira:
Primeiro dia – retirar os bosques dos suportes do teto e colocá-los sobre
as camas de criação por 24 horas. Espera-se que aproximadamente
50% das lagartas subam nos bosques nesse dia.
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Segundo dia – retirar os bosques das camas de criação, colocá-los nos
suportes do teto e alimentar as lagartas que permaneceram nas camas
por 24 horas.
Terceiro dia - retirar novamente os bosques dos suportes do teto e
colocá-los sobre as camas de criação por 24 horas. Espera-se que o
restante das lagartas suba nos bosques nesse dia.
Quarto dia - retirar os bosques das camas de criação, colocá-los nos
suportes do teto e limpar as camas de criação.
Essa operação deve ser realizada por duas pessoas. Aquelas lagartas
que não subirem nos bosques até o quarto dia de bosqueamento deverão ser
separadas, alimentadas e colocadas manualmente nos bosques quando
apresentarem o comportamento de erguer o corpo à procura de um substrato.
Densidade de lagartas nos bosques: O tamanho e o número dos bosques
deve ser calculado em função do número de lagartas criadas, para não
prejudicar a qualidade do casulo. A densidade excessiva de lagartas produz
casulos duplos, desuniformes, de pouca qualidade, não alcançando preço
desejado no mercado. Nos bosques tipo taturana, a densidade de lagartas não
deve ultrapassar 250 lagartas por metro linear de bosque, e no de papelão,
são utilizados 17 jogos para cada caixa de lagarta criada, sendo que cada jogo
é formado por 13 bosques de papelão unidos por uma armação de madeira.
Os jogos são dispostos perpendicularmente ao sentido da cama.
Colheita do casulo: No casulo, a lagarta inicia a pupação no terceiro ou
quarto dia do início de encasulamento. No início a pupa tem a cutícula fina,
macia e amarelada; depois de seis ou sete dias do início do encasulamento, a
pupa se torna dura e marrom-escura, estando pronta para ser colhida. A
colheita do casulo antes deste período pode danificar a pupa; quando feita
depois, pode ocorrer a emergência dos adultos, danificando o casulo. Um
método recomendado para a determinação da época correta da colheita é
abrir alguns casulos ao acaso e verificar se a pupa está marrom-escura.
Antes da colheita deve-se retirar as lagartas mortas, os casulos
incompletos, finos, furados, etc., e abrir os janelões para arejar o ambiente. A
colheita pode ser feita com as mãos ou com ganchos de arame apropriados
para serem utilizados nos bosques tipo taturana. Nos bosques de papelão, os
casulos são retirados com o auxílio do “pente”, que é uma estrutura de
madeira semelhante a um pente, em que cada ponta encaixa-se num orifício
do bosque, permitindo a retirada do casulo. Para isso, os bosques são
retirados das armações e encaixados num suporte tipo mesa vazada, em que
é passado o “pente”.
Seleção e limpeza dos casulos: A limpeza dos casulos é feita com uma
máquina manual ou motorizada chamada de peladeira ou limpadora de
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casulos (Figura 21), que retira a "anafaia", ou seja, a seda de má qualidade e
mal formada que envolve o casulo. Essa limpeza proporciona um melhor
aspecto ao casulo e facilita o seu manuseio e seleção. Além disso, retiram-se
os casulos finos, duplos, calcinados, manchados, furados, incompletos, etc.
Figura 21. Peladeira
CORRADELLO, 1987).
motorizada
para
limpeza
dos
casulos
(Fonte:
Classificação dos casulos: O preço do casulo depende da sua qualidade,
que é determinada através de uma classificação. Assim, o sericicultor deve
conhecer as especificações e os critérios de classificação de seu produto,
tentando melhorar sua qualidade. Os casulos são classificados em:
Casulos de primeira - são sadios, limpos, uniformes na cor e tamanho,
sem manchas e com crisálidas vivas (Figura 22).
Casulo de segunda - são aqueles que possuem pequenas manchas ou
defeitos (Figura 22), destacando-se:
manchas internas: causada por lagartas ou crisálidas mortas ou
feridas, devido à colheita efetuada antes do tempo;
manchas externas: causadas por lagartas mort as ou por suas
fezes, principalmente quando o encasulamento é desigual;
defeitos de bosque: causado por erros de emboscamento ou por
bosques inadequados;
casca fina: causada por criações fracas;
casulos furados: causado por parasitos ou predadores das
crisálidas ou pela emergência do adulto;
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casulos duplos: geralmente formados por duas lagartas e de
difícil fiação. São difíceis de serem distinguidos dos casulos de
primeira.
a
e
b
c
f
d
g
Figura 22. Defeitos comuns em casulos do bicho-da-seda: (a) casulo de
primeira; (b) manchado; (c) riscado; (d) furado; (e) sujo; (f) duplo e (g) irregular
(Fonte: FAO, 1990).
CÁLCULO DO PERCENTUAL DE DEFEITOS
o
1 ) retirar ao acaso do lote cerca de 1% dos casulos.
o
2 ) pesar 500 g dessa amostra.
o
3 ) separar e pesar os casulos de primeira e de segunda da amostra, segundo
o critério de classificação acima.
o
4 ) calcular o percentual de cada tipo.
% casulos defeituosos = peso casulos defeituosos (g) ÷ 500 g x 100.
Ex: peso casulos defeituosos = 30 g.
% Casulos Defeituosos = (30 ÷ 500) x 100 = 6%
CÁLCULO DO TEOR DE SEDA
o
1 ) separar 30 casulos de primeira da amostra de 500g.
o
2 ) pesar os 30 casulos.
o
3 ) cortar as extremidades dos casulos e retirar as crisálidas e os espólios.
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o
4 ) pesar os casulos vazios.
o
5 ) calcular o teor de seda bruta.
% seda bruta = (peso 30 casulos vazios ÷ peso 30 casulos “cheios”) x 100
o
6 ) calcular o teor de seda líquida (desconto-padrão de 24 a 28%).
% seda líquida = % seda bruta x 0,76 (para um desconto de 24%)
% seda líquida = % seda bruta x 0,72 (para um desconto de 28%)
o
7 ) descontar um valor calculado sobre a porcentagem de defeitos (Tabela 14).
Tabela 14. Porcentagem de defeitos dos casulos e seus respectivos
descontos.
Porcentagem
de Defeitos
0a3
3,1 a 4
4,1 a 5
5,1 a 6
6,1 a 7
7,1 a 8
8,1 a 9
Descontos (%)
0
1
2
3
4
5
7
Porcentagem de
Defeitos
9,1 a 10
10,1 a 11
11,1 a 12
12,1 a 13
13,1 a 14
14,1 a 15
-
Descontos (%)
8
10
11
12
13
15
-
Ex: peso 30 casulos cheios = 60 g
peso 30 casulos vazios = 14 g
% seda bruta = (14 ÷ 60) x 100 = 23,33%
% seda líquida = 23,33 x 0,76 = 17,7%
Como a % de casulos defeituosos = 6%, então o desconto na tabela será de
3% do teor de seda líquida.
% seda líquida no lote = 17,7 - 3% = 14,7%
Limpeza e desinfecção dos barracões: Ao término da criação deve-se limpar
as instalações, retirando os restos de cama e detritos; limpar os equipamentos
e materiais usados, principalmente os bosques; desinfetar o ambiente e os
equipamentos, sendo utilizado os seguintes produtos:
Formol: utilização da solução a 3% (o formol é comercializado em
2
solução a 37%, devendo o ser diluído), aplicando-se 3 litros/m nas
horas mais quentes do dia, pois sua ação é aumentada em
o
temperaturas acima de 25 C; após a pulverização, o barracão deve
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ser mantido fechado por dois dias, esperando-se mais quatro dias
para começar outra criação.
Cloreto de cal: diluir 1 kg do produto em 100 litros de água, pulverizar
2
3 litros/m . A solução deve ser preparada pouco antes da pulverização
para não perder o efeito desinfetante.
2
Hipoclorito de sódio: preparar solução 1:200 e pulverizar 3 litros/m .
Sedanil 600 SC: uso exclusivo em sericicultura na desinfecção e
limpeza de instalações, equipamentos e utensílios. Deve ser diluído
em água na proporção de 1:3000, ou seja, 10 ml do produto em 30
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litros de água, e aplicados 3 litros da solução/m , pulverizando
uniformemente as superfícies ou por meio de imersão.
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INDUSTRIALIZAÇÃO DA SEDA
Casulo: Tem a função de proteger a pupa do bicho-da-seda contra seus
inimigos naturais e condições ambientais adversas. O peso do casulo verde
varia de 1,5 a 2,5 gramas e, quando submetido à secagem, perde em média
40% de seu peso.
Composição: O casulo é composto de três partes: a casca, a pupa e o
espólio. A casca do casulo é tecida pela lagarta cruzando os filamentos uns
sobre os outros em forma de "S" ou "8", formando vários extratos. O fio vai
ficando cada vez mais fino à medida que o casulo vai sendo construído. Sua
camada mais interna fica reduzida a fios finíssimos que formam um véu
chamado "tela". A casca possui pequenos orifícios (interstícios), que permitem
a passagem de água e ar. A casca corresponde a 17 a 25% do peso do
casulo, enquanto a pupa corresponde a 75% e o espólio, a 0,6%.
Forma e cor: O casulo da espécie de origem japonesa tem a forma de
amendoim, os da chinesa são elipsoidais e o das européias, elipsoidal mais
alongada. Os híbridos têm forma intermediária à dos pais. A cor dos casulos
varia de branco a amarelo, principalmente. Entretanto, existem os verdes,
verdes-pálidos, róseos e ouro.
Natureza do filamento: O fio de seda do casulo é composto de dois
filamentos soldados paralelamente. A fibroína é o principal componente e a
sericina é a substância aglutinante que envolve a fibroína. O filamento do
casulo é contínuo, variando entre 800 a 1500 m de comprimento e 2 a 3
"deniers" de espessura (1 denier = 0,05g/450 metros de fio). Desta forma, um
fio pesa de 0,1 a 0,15 g.
Composição do fio: Fibroína = 72 a 80%, sericina = 19 a 27%, gordura e cera
= 0,5 a 1%, carboidratos = 1 a 1,5%, corantes e outros = 1 a 1,5%.
Fatores que afetam a qualidade do casulo: Região de bicho-da-seda;
quantidade de alimento ingerido; qualidade da folha fornecida; condições
ambientais e método de bosqueamento.
Recebimento do casulo: Os casulos devem ser entregues à fábrica antes da
emergência das mariposas, que ocorre entre 10 a 15 dias após a colheita. Na
fábrica, os casulos sofrem uma segunda seleção, semelhante àquela feita pelo
produtor, e são encaminhados para a sufocação e secagem. A sufocação tem
a finalidade de evitar a emergência das mariposas. Os casulos são submetidos
o
a uma corrente de vapor entre 100 a 110 C por 30 minutos, o que é suficiente
para matar as mariposas dentro dos casulos. Depois a temperatura é baixada
o
gradativamente até atingir 40 a 50 C, completando o processo de secagem
em 7 a 8 horas. Após a secagem os casulos são classificados segundo sua
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forma e consistência, armazenados por 90 dias para completar a secagem e
levados para a fiação.
EXAME DO CASULO
Aspecto morfológico: Classifica o casulo pela forma em: esféricos, ovais e
cintados.
Propriedades físicas:
- comprimento da baba fiável: mede o comprimento do fio que pode ser fiado.
Varia de 800 a 1500 metros, podendo chegar a 2800 metros em alguns
casulos. É medido pelo aparelho aspa.
- título da baba: mede o número de "denier" do fio. Em geral, o fio começa com
3,5 denier e termina com 1,5.
- porcentagem de seda: mede a riqueza em seda do casulo pela relação entre
o seu peso sem a crisálida e com a crisálida. A porcentagem de seda crua
varia de 15 a 20%
Propriedades dinamométricas
- tenacidade: mede a resistência do fio à ruptura sob determinado peso
(gramas por 1 denier). É medida pelo serígrafo. Varia de 2,5 a 3,0 gramas
por denier.
- alongamento: mede o alongamento do fio do repouso até a ruptura. Em geral,
os fios de seda produzidos no Brasil alongam-se de 20 a 21,2%. Também é
medido pelo serígrafo.
- coesão da baba: mede o grau de aglutinação dos filamentos que formam o
fio. É medido pelo coesímetro.
Propriedades químicas: Mede principalmente a porcentagem de sericina que
é responsável pela dureza do fio. Consiste em tratar uma certa quantidade de
fios, de peso conhecido, com produtos químicos que extraem a sericina, e
depois determinar a quantidade desta substância por diferença no peso.
Fiação: É realizada por máquinas manuais, semi-automáticas e automáticas
denominadas fiandeira. Nas fiandeiras manuais, cada pessoa cuida de seis
cabos, confeccionando 200 metros de fio por minuto. Nas semi-automáticas,
cada pessoa cuida de 20 a 40 fios, produzindo 500 a 1000 metros de fio por
minuto. As fiandeiras automáticas surgiram no Japão por volta de 1945 e
aumentaram ainda mais o rendimento da produção de fios, com menor custo.
Cozimento dos casulos: Os casulos devem ser cozidos em água fervente ou
vapor para amolecer a sericina, permitindo que o filamento seja mais
facilmente desenrolado, evitando a ruptura e o embaraçamento dos fios
durante a bobinagem. O cozimento consta de três fases: pré-tratamento;
cozimento a vapor e pós-tratamento.
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Bobinagem: É o processo que visa encontrar a ponta do fio e desenrolar o
casulo. Nesse processo, vários casulos são desenrolados juntos para formar
um fio de determinada espessura. Assim, para fazer um fio de 21 deniers são
necessários sete casulos de três "deniers". As bobinas desse processo são de
60 a 70 cm de diâmetro.
Rebobinagem: Processo utilizado para facilitar a embalagem dos fios e
prepará-los em "meadas" de largura e peso uniformes, que são embalados em
fardos de 60kg e comercializados. As bobinas, nesse processo, são de 150 cm
de diâmetro.
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