A Oratória como um fortalecimento do marketing pessoal

Transcrição

A Oratória como um fortalecimento do marketing pessoal
A Oratória como um fortalecimento
do marketing pessoal do profissional
de Administração
Carolina Arantes Pereira Barcellos
Isabela Passos Vieira
Claudius Rodrigo de Barros Carvalho
Thiago Alex Sandro Lopes
resumo
Este artigo foi elaborado visando
analisar a importância do domínio
em Oratória para os profissionais
de Administração. Para tanto, foram realizadas entrevistas com três
profissionais de Recursos Humanos
e três profissionais da Oratória. Tal
análise apontou a Oratória como fator diferencial para o Administrador,
especialmente o recém formado, e
considerou a mesma como habilidade essencial para o fortalecimento
do marketing pessoal do profissional em questão.
Palavras-Chave
Administrador de empresas, Oratória, Marketing Pessoal.
INTRODUÇÃO
A Oratória surge por uma necessidade do homem de se expressar bem
e fazer-se compreender, ou seja, é um conjunto de regras que constituem
a arte do bem falar. E a capacidade de se comunicar bem é também uma
exigência de mercado, que procura pessoas com qualificações profissionais,
competências multifuncionais e várias disponibilidades.
Porém, ao tentar ingressar no mercado de trabalho os profissionais
recém-formados se deparam com diversas situações em que lhes é exigido
o domínio dessa arte. Inicialmente, a entrevista de emprego, que exige
uma comunicação clara, objetiva e direta, para que o candidato à vaga
passe uma boa imagem de quem é e do que sabe a quem lhe estiver entrevistando. E são inúmeras as situações cotidianas que devem ser vivenciadas por um futuro administrador, dentre elas estão as apresentações
de projetos, reuniões, os treinamentos, trabalhos em equipe, as palestras,
bem como os momentos de comprar ou vender um produto, apresentar
processos e resultados.
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
153
Diante de tal temática, questiona-se por que a Oratória é importante
para os recém-formados do Curso Administração de Empresas?
Tendo em vista o tema e o problema de pesquisa evidenciado, o objetivo deste estudo é analisar a importância do domínio em Oratória para
o profissional de Administração, e verificar as exigências do mercado para
com o novo profissional, para a melhora de seu marketing pessoal.
Disserta-se a seguir sobre o medo que ocorre no momento da expressão oral e sobre o perfil profissional exigido pelo mercado atual.
O Medo de Falar em Público
O medo - característica humana, é visto dentro da Oratória como a
principal emoção a dificultar o pronunciamento do discurso, impedindo
que o orador se exponha publicamente.
Carnegie (1999) aponta que o medo é o que derrota as pessoas
em suas expectativas, o autor afirma ser um sentimento que demonstra
o desejo de fugir de algo que produza danos, sendo um surto de ação
destinado a evitar a dor – um mecanismo de defesa.
Um estudo realizado nos EUA, por Thonssen & Gilkinson citado por
Carvalho (2004) aponta que os sintomas do medo são: nervosismo antes
de se levantar para falar; dificuldade em procurar com calma as palavras;
voz estranha; tremor nas pernas; falta de ar; e o embaralhar das palavras
pelo medo do esquecimento.
Na definição proposta por Cohen, citado por Polito (1993), o medo
- mecanismo de defesa acarreta um processo de liberação de adrenalina
no sangue, descontrolando o organismo, provocando tremor nas pernas,
secura ou excesso de saliva na boca, tremor na voz entre outros. O autor
afirma que o medo surge da possibilidade de se acreditar que algo possa
sair errado em uma apresentação, e que as principais causas do medo
advêm do desconhecimento do assunto; da falta de prática de falar em
público e falta de conhecimento de si próprio.
O medo, todavia, também é utilizado como um acessório natural que
ajuda a melhorar o discurso, devido às mudanças químicas que ocorrem
no organismo, trazendo benefícios ao orador, como o dinamismo e o
entusiasmo.
154
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
O Perfil do Profissional: exigências do mercado
Carvalho (2004) relata que atualmente valorizam-se mais as pessoas
com capacidade de enxergar oportunidades de mercado, prevenindo riscos
e desenvolvendo ações de curto e médio prazo, para garantir o crescimento sustentado da empresa. As novas qualidades exigidas englobam
capacidade de influenciar pessoas, facilidade de promover mudanças,
uma continua capacidade de aprender, bom desenvolvimento em redes
de relacionamentos e flexibilidade intercultural. No entanto, existe uma
competência tida como primordial: gerenciamento do capital humano,
ou seja, saber lidar, promover, motivar, incentivar pessoas. Como exercer
tais funções se não for por meio da própria fala?
Segundo Luzardo (2006), a Oratória deixou de ser uma arte,
tornando-se uma necessidade atual de todo e qualquer novo profissional.
A desenvoltura verbal se tornou um requisito de inserção no mercado exigente e competitivo de hoje em dia. Alguns fatores explicam esse fato:
•
não se admitem mais discursos demagógicos, pois os mesmos
se encontram ultrapassados;
•
a comunicação tornou-se mais complexa devido á multiplicidade
dos recursos tecnológicos;
•
deve-se falar muito, em pouco tempo, de forma clara e objetiva,
na hora e para o público certo;
•
o mundo globalizado gira em torno de reuniões produtivas e
decisões inteligentes;
•
as informações se processam em tempo real, por isso, devem
ser passadas, de forma esclarecedora e sucinta, promovendo um
feedback constante.
De acordo com Pinto (2006), uma pesquisa realizada pela Creative
Education Foundation e divulgada pelo Jornal do Brasil, aponta as habilidades requeridas pelas 200 maiores empresas do mundo, estadando por
ordem de importância, dentre as três primeiras o Trabalho em Equipe;
Habilidades Interpessoais e Comunicação Oral.
Para Lenaga, citado por Carvalho (2004), o executivo deve possuir
todas as características acima citadas, além de ser capaz de delinear uma
visão para a empresa e ter coragem para levá-la a atingir seus objetivos.
Deve também ser o principal interlocutor, tendo a habilidade de conver-
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
155
sar com qualquer pessoa, visando ao alinhamento estratégico. Carvalho
(2004, p.33) cita algumas competências as quais os executivos devem
contemplar:
•
Liderança estratégica: É a chave para o sucesso dos executivos.
Muitos sabem fazer bem seu trabalho, mas não possuem visão
estratégica do negócio.
•
Comunicação: Alguns conseguem enxergar uma visão de futuro,
constroem equipes de alta performance, mas têm dificuldade
para ouvir o próximo e , também, para se expressar de forma
clara e objetiva, necessitando muitas vezes da tecla SAP, ou seja,
uma pessoa da empresa que o compreenda e consiga traduzir a
mensagem a todos .
•
Inteligência emocional: é ela que vai ajuda a manter o equilíbrio
em situações de pressão e estresse. E é justamente ela que acaba
facilitando qualquer outra.
Polito, em entrevista com Bispo (2006) diz que se os candidatos a uma
vaga de emprego possuírem mais ou menos o mesmo preparo intelectual,
a mesma formação, a mesma experiência, ou seja, o mesmo grau técnico,
seria escolhido o que fosse mais bem articulado, mais comunicativo, mais
expressivo, mais persuasivo.
Luzardo (2006) cita ainda que, infelizmente, as habilidades da comunicação são competências que ninguém aprende na escola. Os jovens
chegam à fase adulta sem ter tido oportunidades constantes da prática
de postura, de respiração, de articulação da fala, de memorização, de
fichamento para apresentação e de uso de recursos audio-visuais.
Nova (2006) completa dizendo que em muitos casos, a qualidade
de um trabalho é julgada pela forma como é apresentado e não como é
escrito ou editado, o que acaba sendo prejudicial, uma vez que, mesmo o
conteúdo estando interessante e bem escrito, o que mais chama a atenção
é a apresentação oral.
A partir desse panorama teórico seguem os procedimentos metodológicos da presente pesquisa.
Material e Método
Os sujeitos que participaram deste estudo foram selecionados de acordo com a sua formação e experiência profissional, portanto participaram
da pesquisa três profissionais de Recursos Humanos e três profissionais de
156
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
Oratória, com faixa etária de 40 a 55 anos, sendo dois do gênero feminino
e quatro do gênero masculino.
Os três profissionais de Oratória são professores, um deles é diretor
e educador e outro é palestrante e escritor. Cabe ressaltar que um dos
participantes da pesquisa é referência na área de Oratória e autorizou sua
apresentação neste estudo – o profissional Reinaldo Polito.
E com relação aos profissionais de Recursos Humanos, os mesmos
são também professores, pós-graduados e dentre eles um é gerente de
Recursos Humanos.
O tipo de pesquisa utilizado foi de natureza exploratória com análise
qualitativa. O instrumento de coleta de dados foi a entrevista realizada em
forma de perguntas previamente estruturadas, as quais foram respondidas
na forma oral (pessoalmente) ou virtual (e-mail).
Resultados e Discussões
Estão elencadas a seguir as categorias de análise, e em um primeiro
momento as respostas dos profissionais de Oratória:
Categoria 1:
A área profissional em que é usada a Oratória
Houve um consenso entre os profissionais entrevistados com relação
à área profissional em que a Oratória precisa ser utilizada. Todos acham
importante o domínio em Oratória como um item para o fortalecimento
do marketing pessoal de todos os profissionais.
Suj. 1: Em todas as áreas o profissional pode se destacar por
usar a oratória, porém para profissionais de alto nível
hierárquico a necessidade aumenta.
Suj. 2: Trata-se de um diferencial para qualquer profissional,
como um marketing pessoal.
Suj. 3: Não há quem não precise de comunicação nos dias
atuais.
A Oratória tornou-se um fator chave para todas as áreas de atuação
profissional, uma vez que enriquece a comunicação e as relações entre
pessoas. Nada melhor para qualquer profissional do que se munir de
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
157
competências a fim de fortalecer seu marketing pessoal.
Categoria 2:
Os motivos para a busca de qualificação em Oratória.
O principal motivo pela busca dessa qualificação está, na opinião
dos profissionais entrevistados, na necessidade de se entrar ou se manter no mercado de trabalho, buscando sempre aumentar habilidades e
competências.
Suj. 1: Busca por competência profissional e mais segurança
nas apresentações.
Suj. 2: Para demonstrar credibilidade e competência, transformando informação em conhecimento.
Suj. 3: Melhor desempenho na comunicação e vencer o medo
da fala pública.
O mundo atual está cada vez mais moderno, e os clientes mais exigentes. De frente a essa nova situação, o profissional busca pela excelência
no serviço oferecido, seja para ingressar ou para se manter no mercado
de trabalho.
Categoria 3:
Oratória: Exigência de Mercado ou diferencial?
Os profissionais relataram que o domínio em Oratória é tanto uma
exigência de mercado quanto um diferencial, uma vez que a necessidade
de se comunicar é uma constante nos dias atuais, em diversos setores, e
quanto melhor for essa comunicação, mais destaque a pessoa adquire.
Suj. 1: Não se admite hoje um profissional que não saiba se
expressar bem.
Suj. 2: Diferencial exigido pelo mercado de trabalho.
Suj. 3: Exigência e Diferencial.
A partir das entrevistas e da fundamentação teórica deste estudo,
analisamos que o domínio em Oratória vai além de um diferencial, mas
sim, uma necessidade de mercado.
Seguem agora as categorias das entrevistas com os profissionais de
Recursos Humanos:
158
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
Categoria A:
A oratória como um fator de diferencial no processo de seleção,
para contratação de profissionais.
Com relação a essa questão, os profissionais firmam a importância do
domínio na área de atuação do candidato, mas não deixam de apontar a
importância da Oratória como um diferencial em um processo seletivo.
Suj. 1: Fator fundamental na área da educação.
Suj. 2: A maioria das vagas exige essa competência.
Suj. 3: Uma das principais ferramentas que a empresa possui
para atingir resultados.
Mais uma vez nos deparamos com essa nova realidade, ou seja, as
empresas exigem do profissional novas competências. O mercado pede
um novo profissional, mas qualificado e com diferencial.
Categoria B:
O perfil do candidato recém formado em Administração e diferenciais.
Os profissionais mostraram opiniões diferentes, mas apontam para
um perfil de competências e qualificações profissionais.
Suj. 1: Conhecer bem sua especialização e saber se relacionar.
Suj. 2: Ambição, visão estratégica, liderança e capacidade
de articulação.
Suj. 3: Cursos e pesquisas na área desejada. Deve ser dinâmico, comunicativo e ter visão holística.
De todos os perfis citados pelos profissionais, e de todos relatados no
presente estudo, pelo menos um diferencial está ligado à comunicação.
Uma boa desenvoltura em Oratória certamente seria um diferencial.
Categoria C:
A necessidade de dominar a Oratória para o acadêmico em Administração.
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
159
Todos concordaram que a Oratória é um elemento especial na qualificação do profissional de Administração.
Suj. 1: Uma competência a mais.
Suj. 2: A necessidade é indubitável.
Suj. 3: Necessidade fundamental.
Como o profissional de Administração se deparará com diversas
situações em que lhes será exigido uma boa desenvoltura verbal, afirmarmos ser imprescindível o domínio da mesma para um bom desempenho
profissional.
CONCLUSÃO
Conclui-se com este estudo que a Oratória é essencial para o fortalecimento do marketing pessoal do futuro administrador. Conhecendo
a necessidade do mercado pela busca de profissionais comunicativos,
persuasivos, com múltiplas competências e que manejem bem seus conhecimentos, torna-se fundamental adquirir mais habilidades, dentre elas
a arte de falar bem.
Algumas características identificadas como competências diferenciadas estão diretamente ligadas à Oratória, como exemplo, a habilidade de
incentivar pessoas, de estabelecer boas relações interpessoais e liderar.
Foi constatado também que a Oratória é de uso múltiplo, envolvendo diversas características e competências, possibilitando até mesmo o
aprimoramento delas.
A partir do referencial teórico apresentado e ao fim da análise das
entrevistas com os profissionais, ficou clara a necessidade dos novos profissionais de Administração dominarem essa arte, uma vez que o mercado
de trabalho busca o diferencial.
160
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
REFERÊNCIAS
BISPO, Patrícia. A comunicação verbal influencia o desempenho? Disponível
em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=3984&org=3> Acesso em 02
out. 2006.
CARNEGIE, Dale. Como falar em público e influenciar pessoas no mundo
dos negócios. Rio de Janeiro: Record,1999.
CARVALHO, Gumae. Melhor gestão de pessoas. São Paulo: Segmento,
2004.
LUZARDO, Silvio. Desmistificando a oratória. Disponível em: <http://www.
hr.com.br/ler.php?cod=4256&org=3> Acesso em 03 out. 2006.
NOVA, Milton Roberto Sales Lagoa. A Importância de falar bem. Disponível
em: <http://www.rh.com.br/ler.php?cod=4373&org=3> Acesso em 02
out. 2006.
PINTO, Sandra Regina da Rocha. Capacitação profissional do Administrador:
uma investigação sobre as habilidades requeridas e a formação universitária adquirida. Disponível em: <http://www.informal.com.br/artigos/rhos.
atm> Acesso em 05 out. 2006.
POLITO, Reinaldo. Técnicas e segredos para falar bem. São Paulo: IOB
Publicações Jurídicas, 1993.
ABSTRACT
This article was written to analyze the importance of the experience
in Oratory for managers. For that reason, was realized with six professionals who have been connecting with the market, thereof three with
experience in Human Resource Area and three in Oratory Area. In fact,
the Oratory was considered an essential skill for managers and the critical
factor to strengthening for their personal marketing.
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006
161
Isabela Passos Vieira, Claudius Rodrigo de Barros Carvalho e Thiago
Alex Sandro Lopes
Graduandos do 4º ano do Curso de Administração de Empresas da FATEA
do ano de 2006.
Carolina Arantes Pereira Barcellos
Mestre em Fonoaudiologia, Assessora Escolar, Docente das Faculdades
Integradas Teresa D’Ávila.
162
janus, lorena, ano 3, nº 4, 2º semestre de 2006