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OVÍDIO E O IDEAL DE PUELLA DOCTA NA ELEGIA
ERÓTICA ROMANA1
Renata Cerqueira Barbosa2
Resumo
A Elegia Erótica Romana, é um tema que tem sido muito pesquisado por estudiosos de
áreas relacionadas aos Estudos Clássicos. Contudo, as pesquisas geralmente dizem
respeito à questão poética relacionada ao gênero elegíaco, ou tratam de autores
elegíacos e suas composições. Neste gênero literário, principalmente no que se refere à
poesia amorosa, os temas estão sempre relacionados às mulheres, amantes e seus
comportamentos morais e ideais, o que desperta a curiosidade de outras mulheres para
este tipo de leitura. O que esta poesia amorosa pode nos dizer sobre a educação das
mulheres? Neste sentido, o objetivo do presente trabalho diz respeito à elegia erótica e
a sua possibilidade de contribuição à educação das mulheres romanas.
Palavras-chaves
Elegia erótica; Ovídio; educação feminina.
1
Este artigo faz parte da pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Unicamp com a supervisão do
Prof. Pedro Paulo A. Funari.
2 Professora Doutora. Universidade Estadual de Londrina – Londrina, PR, Brasil. email:
[email protected]
Revista Heródoto. Unifesp. Guarulhos, v. 01, n. 01. Março, 2016. pp. 299-320.
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Abstract
The Erotic Roman Elegy is a topic that has been widely researched by scholars from
areas related to Classical Studies. However, the researches usually concern on the
poetic issue related to the elegiac genre, or address to elegiac authors and their
compositions. In this literary genre, especially when it comes to love poetry, the themes
are always related to women, lovers and their moral behaviors and ideals, which
arouses the curiosity of other women for this type of reading. What this love poetry
can tell us about the education of women? In this sense, the objective of this study
concerns to the erotic elegy and their possibility of contributing to the education of
Roman women.
Keywords
Erotic elegy, Ovid, women's education.
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Em total contraste com antigos pontos de vista defendidos por homens conservadores
da elite romana (Carcopino, s/d) e com a doutrina moral dos filósofos, como o
estoicismo, por exemplo, (Aubenque, 1981), estão as ideias não convencionais dos
poetas romanos que cantam o amor, da república tardia a época de Augusto. Catulo,
Tibulo, Propércio, Ovídio (poetas elegíacos) e outros expressam opiniões sobre as
mulheres, o comportamento feminino e as relações homem-mulher, que em muitos
aspectos, são uma inversão dos valores tradicionais: em sua poesia (provavelmente
fictícia) a amada é o partido dominante e seu poeta-amante, o servo humilde, que
coloca o seu amor-affair acima da perseguição romana tradicional a uma carreira
militar ou política (Veyne, 1985); (Filipe, 2002).
Parte dessa inversão de papéis e a atitude pouco convencional para com as mulheres
encontraram expressão nos poetas que admiravam a puella docta (James, 2003). Com
este termo bastante vago, poetas denotavam qualquer atrativo da jovem, atraente e
hábil mulher, na tríade educacional grega: poesia, música e dança. Aos olhos do poeta
os encantos de suas realizações, seu gosto pela poesia, dom para a música, a habilidade
na dança e conversa inteligente, classificação acima do nascimento e da riqueza,
compensavam sua suposta falta de virtudes tradicionais.
A Elegia erótica é uma das formas de arte mais sofisticadas de toda a história da
literatura; e também não existem muitas cuja natureza tenha sido mais desconhecida.
Dois ou três decênios antes do começo da nossa era, jovens poetas romanos, Propércio,
Tibulo e na geração seguinte Ovídio, decidiram cantar na primeira pessoa, com seu
verdadeiro nome, episódios amorosos e relacionar esses diversos episódios a uma só e
mesma heroína, designada por um nome mitológico; a partir de então os leitores
passaram a imaginar os poetas e suas amantes; Propércio e sua Cíntia, Tibulo e sua
Delia, Ovídio e sua Corina (Veyne, 1985).
Na Grécia e em Roma, os gêneros poéticos eram facilmente classificados segundo a
métrica na qual eram escritos, do mesmo modo que o são as danças conforme o ritmo;
esses versos de amor eram feitos em ritmo elegíaco3. Segundo Paul Veyne, “a elegia
romana é uma poesia que só requer o real para abrir uma fenda imperceptível entre ele
e ela...”, no caso o autor e a heroína; entre suas heroínas, poetas como Ovídio,
Propércio e Tibulo mendigavam noites de amor. No princípio estava estabelecido que
ela, a heroína, distribuiria seus favores como quisesse e a quem quisesse. Esta heroína
adorada por poetas nobres, não é uma dama nobre e sim uma mulher de vida
irregular, estariam prontos para tudo pela amada, menos desposa-la.
3
São poemas metrificados em dísticos, isto é, compostos de hexâmetro que se alterna com pentâmetro.
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O poeta e adorador, diz “eu” e fala de si mesmo com seu verdadeiro nome de
Propércio, de Tibulo, ou de Ovídio: é possível reencontrar seus traços nos poetas de
sua posteridade petrarquista e romântica. Os comentadores preferiram não saber
demais o que os amores elegíacos possuíam de pouco edificante. É possível que
Propércio, ou antes, o Ego que ele traz em cena, sofra menos com o ciúme do que
considera temíveis as correntes da paixão, que na Antiguidade era considerada como
uma fatalidade trágica, uma escravidão, uma ilustre desventura.
Sharon James (2003) afirma que a Elegia Erótica é um tema que tem sido muito
discutido, por duas razões principais. Em primeiro lugar, ela parece expressar a
emoção sentida, mas de forma inconsistente e autobiográfica, embora seja ao mesmo
tempo, preenchida com artifício. Em segundo lugar, os leitores condicionados pelo
romantismo que esperam sinceridade, espontaneidade e, frequentemente, biografia a
partir de sua poesia de amor, têm tropeçado nas ironias e obscuridades da elegia,
incapaz de reconciliar sua aparente emoção com o seu artifício evidente. O artigo de A.
W. Allen (1950) “Sincerity and the Roman Elegists” (Apud James, 2003: 7) provou que é
impossível derivar uma autobiografia factual de um poeta elegíaco ou a história real do
caso de amor aparentemente descrito em suas elegias; ele demonstrou que o que
poderia ser chamado de "a exigência de sinceridade" - a expectativa de que o amor à
poesia expressa necessariamente a emoção genuína do poeta - não é relevante para a
Elegia, que está mais preocupada com a poesia do que com a autobiografia ou em
recontar eventos factuais em qualquer caso histórico de amor. James afirma ainda, que
desde que se tem tentado demonstrar a natureza altamente trabalhada da elegia, a
exigência da sinceridade dificultou seu alcance (James, 2003: 3).
Esse importante trabalho de Sharon James (2003: 7-8) não quer sugerir, segundo ela,
que cada poema elegíaco romano deve ou deveria ser interpretado do ponto de vista
feminino, nem que tal perspectiva é dominante. Em primeiro lugar, há muitos elogios
individuais tendo pouco ou nada a ver com as mulheres ou amores heterossexuais, e,
em segundo, toda elegia amorosa Romana é esmagadoramente masculina em suas
perspectivas sonoras. Mas a elegia, tanto implícita como explicitamente, identifica o
seu objeto de amor preferido como uma puella docta - a "learned girl" que pode
entender, apreciar e avaliar as estratégias literárias de um determinado poema - e exige
uma estrutura de gênero de oposição parceria, em que o amante e sua puella envolvemse em sua tática estratégica, em uma coreografia complexa de oposição regular em
relação a união ocasional. Nessa parceria de oposição, o amante-poeta e a puella
compartilham valores e interesses importantes: eles desrespeitam a moralidade
convencional, ignoram a política, apreciam a poesia apreendida, bem como, a
habilidade em música e dança; além disso, seu status como puella, ao invés de uma
mulher respeitável, faz com que sua complicada relação seja possível. Finalmente,
como argumenta a autora, sua profissão e estado também governam os tipos de
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comunicação e persuasão dirigidas a ela. É genericamente necessário, portanto,
examinar o gênero, muitos de seus poemas individuais e topoi do ponto de vista dos
seus membros e destinatários do sexo feminino, bem como seus falantes do sexo
masculino.
Ao analisar a poesia elegíaca romana, James faz uma abordagem baseada na própria
elegia de amor. Seu foco esta em realidades materiais e sociais o que significa a não
discussão a partir de uma perspectiva linguístico-psicanalítica. A autora esta
interessada na posição social, na maneira combinada com o gênero elegíaco, que
governa a leitura da puella de forma genérica e da persuasão intensa que dirigiu seu
caminho. Esta abordagem é baseada em práticas históricas romanas, bem como eventos
biofisiológicos como o envelhecimento (que é devastador para a puella). A Elegia (para
não mencionar cultura romana antiga) estabelece a existência dentro de seu universo
de macho e fêmea, como ambos os sexos e gêneros, isto é, como corpos e como
conceitos culturais. Masculino e Feminino ocupam locais diferentes e mutáveis nas
relações sociais e sexuais elegíacas. A sua natureza exata é de fato uma das principais
preocupações da elegia - testemunhar as suas posições invertidas na hierarquia social,
designada pelo servitium amoris elegíaco ("escravidão de amor") e termos que domina
(amante) - como é a natureza exata das suas relações. Nas definições de ambos os sexos
masculino e feminino, e das suas relações, em constante mudança, com um princípio
organizacional, estrutural, e episódico primordial, a elegia finge querer que seus
homens e mulheres estejam no mesmo lado, por assim dizer, e, na verdade, por vezes,
eles estão, mas se eles sempre estivessem não haveria elegia. Sem a tensão fornecida
pela sua estrutura de gênero da oposição parceria, a elegia desmoronaria. A fluidez de
definições e relações de gênero da elegia variam de aparente reversão de ideologias de
gênero padrão para os romanos, para um reino de fantasia livre de exigências sociais e
costumes, em que o amante e amado são praticamente um. Estes são elementos
intencionais e conscientes, constituintes do gênero em si.
Do ponto de vista de Veyne (1995: 17), a elegia trata as mulheres de vida irregular
como heroínas da Fábula e os senhores como amantes febris. Para o autor, a elegia não
é um quadro do demi-monde, pois ela não descreve nada em absoluto e não impõe a
seus leitores que pensem na sociedade real; ela se passa num mundo de ficção em que
as heroínas são também mulheres levianas, e a realidade só é evocada por flashes, e por
flashes pouco coerentes; de uma página a outra, Delia, Cíntia ou Corina, poderiam ser
cortesãs, esposas adulteras, mulheres livres; o mais frequentemente, não se sabe o que
elas são e não se está preocupado com isso: são mulheres de vida “irregular”, é tudo.
Emily Hemelrijk
(1999) segue a
mesma
linha interpretativa. A liberdade,
comportamento e realizações sexuais livres, deram origem à suposição de que as
mulheres da poesia de amor romana são do demi-monde, mas o status social de amantes
dos poetas de amor não é clara e sua possível relação com as mulheres identificáveis
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permanece duvidosa. Esta irregularidade não é uma parte da vida de nossos poetas e
de sua suposta amante, mas uma peça de um sistema; ela representa a lei do gênero,
desempenha um papel que Paul Veyne chama de semiótico. Era apenas num segundo
tempo, que o leitor poderia relacionar esta ficção às esferas sociais um pouco livres da
época, - se tivesse o trabalho de se interrogar -; aliás, esta atribuição não acrescenta
nada ao poema, no máximo o leitor se divertia, vendo o quanto à ficção tinha
embelezado a realidade.
A ficção dispensa a realidade e a forma desmente o conteúdo: mas uma
sinceridade pode ser amaneirada; atendo-se ao texto, esta estética instituía
um equilíbrio indecidível entre a verdade e a representação teatral (Veyne,
1995: 17).
Os elegíacos romanos sentiam uma forte atração pelas crenças populares e pelas
antiguidades romanas. Fizeram poemas em que eles também lançaram ambiguidades
sobre esses temas no qual a verdade dogmática não se impunha mais aos espíritos
cultivados. Mas foram atraídos ainda mais por outro tema, o amor, que é uma “matéria
duvidosa” e subalterna, quando não se trata do amor conjugal e quando a heroína é
uma mulher de vida irregular ao invés de uma matrona. A elegia erótica guardará esta
tradição de rir das crenças populares, de imitar o texto das leis sagradas e dos ex-votos.
O “eu” elegíaco, permite um humor a mais: o poeta atribui a si a crença ingênua do
homem simples. E a falsa ingenuidade em matéria de religião é tradicional na elegia;
uma brincadeira consagrada era a de perguntar a uma amante uma dessas proezas de
piedade que era um pannychis, uma noite em que se privava completamente do sono
como promessa de piedade, sendo que o próprio poeta era o deus que a amada,
festejará na cama. Em suma, a elegia erótica era um gênero tal que nele se podia
brincar com as coisas sagradas e também com a moral e com o dever de fazer carreira
pública para servir ao império sem que haja consequência dessa brincadeira (Veyne,
1995: 48).
Segundo Paul Veyne, a elegia erótica, “quer seja mentira divertida quer transforme a
realidade em objeto de arte” é de origem helenística (James, 2003); (Too, 2001). Os
romanos sabiam há dois séculos que os amantes escreviam elegias sobre a casa de sua
amada. Fazia seis ou sete séculos que os gregos cantavam o amor, nas métricas mais
variadas, na primeira ou na terceira pessoa; no entanto para Veyne (1995: 48),
(...) saber se se havia omitido a cantar também, na primeira pessoa, em ritmo
elegíaco e se deixaram aos romanos à honra de terem sido os primeiros a fazêlo, não deixa de ter um interesse limitado e cuja resposta é não: já houve
elegias helenísticas onde o amor era cantado sob a ficção do ego, mesmo que
fossem elegias que chamamos erradamente de epigramas sob falso pretexto de
que são breves demais (...).
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Uma elegia compõem-se da repetição ad libitum de um elemento rítmico completo, o
dístico, e este dístico era a verdadeira unidade de base da elegia; entre os romanos, ele
oferece ordinariamente um sentido completo e seu final coincide com o da frase. De
acordo com Veyne, o poeta debulha seus dísticos um por um; dois ou três dísticos
constituirão uma elegia completa, que o autor chama de epigrama, e um único dístico
pode até ser um poema completo. Em termos tipográficos e anacrônicos, poder-se-ia
dizer que, para o leitor antigo, cada dístico era separado do seguinte como se fosse por
um branco, de tal modo, que no interior de uma mesma peça elegíaca, as
descontinuidades na sequência das ideias ou na narração o chocavam menos do que a
nós (Veyne, 1995: 68).
A Elegia era uma poesia divertida que compunha um quadro engraçado, embora
fantasista, da vida dos senhores galantes; era uma poesia de fazer rir; “a elegia é uma
amiga leviana, uma levis amica,” diz Ovídio em seus Remédios de amor. No entanto, era
costume lê-la como uma poesia para chorar. Os tormentos da vida galante eram
tomados ao pé da letra, enquanto que a elegia era divertida no fato de que não era para
ser levada a sério. É uma poesia sem ação, sem intriga que leva a um desfecho ou que
sustente uma tensão, e é por isso que nela o tempo não tem nenhuma realidade. O
antes e o depois não existem, e a duração também não.
Puella Docta: A Elegia como prática educativa
A educação transmitida ao ocidente trata-se de uma educação voltada aos jovens do
sexo masculino. Pensando na sociedade romana, em sua fase arcaica de base rural, a
educação assenta na tradição (mos maiorum) e na reverência para com os mais velhos e
os deuses (pietas). A criança está sujeita desde seu nascimento ao poder paternal (pátria
potestas). Isto não impede que a mãe seja a sua primeira mestra e aos sete anos, o pai
passa a ser o educador. Autores tardios como Tácito4 e Plínio o Moço5 confirmam que
era geralmente a mãe a primeira educadora e o pai o mestre-escola das crianças
romanas e nesse processo eles aprendiam de cor a Lei das Doze Tábuas. Para os
homens, a educação familiar termina, em regra geral, aos dezesseis anos com a
utilização da toga viril. Segue-se um ano de aprendizado no fórum, com um amigo da
4
Tácito. Diálogo sobre os oradores 28.4: “É que outrora cada filho, nascido de mãe casta, era educado
não no quarto minúsculo de uma ama paga, mas no grémio e no seio da mãe, cujo principal louvor era
guardar a casa e servir os filhos”.
5 Plínio-o-Moço. Cartas VIII.14.6: “A cada um servia o pai de mestre; e, quem não tinha pai, os mais
velhos e venerados lhe faziam as vezes”.
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família que seja “notável” e depois o serviço militar, para o qual o jovem foi preparado
pelos exercícios físicos, executados, não com uma finalidade opressiva, como entre os
gregos, mas para alcançar maior destreza e força.
Com a chegada do helenismo, esta educação altera-se com a formação de uma cultura
helenístico-romana. Este fato se verifica em grande escala, desde meados do séc. II a.C.
devido as conquistas romanas tanto no sul da Itália quanto no Mediterrâneo Oriental.
Vindos como prisioneiros de guerra, facilmente passavam a libertos e obtinham a
confiança das famílias romanas. Entre vários casos conhecidos, temos o de Políbio, a
quem Cipião Emiliano solicitou que tomasse conta da educação de seu filho, pois
achava que o conhecimento da tradição (mos maiorum) não seria suficiente e queria
enobrece-lo com a sophia grega. Nesse contexto, tem-se a difusão da filosofia estóica,
com Panécio e os poetas Lucílio e Terêncio. A este grupo de influência decisiva no
futuro da cultura romana, chamam de “Círculo dos Cipiões”. Este aprendizado com os
Gregos estende-se ao estrangeiro e os jovens romanos se aperfeiçoam na filosofia e na
retórica em Atenas e em Rodes (Pereira, 1989: 189).
Já no que diz respeito ao estudo das mulheres educadas na sociedade romana fica-se
impressionado pela escassez de mulheres de aprendizagem mencionadas em nossas
fontes. Nem mesmo a matrona docta, termo utilizado no título do livro de Emily
Hemelrijk (1999), é encontrado na literatura romana. É uma mistura de matrona,
classificada como uma mulher romana casada, e puella docta, cujos louvores foram
cantados na poesia de amor. Ambos os termos são carregados com os valores morais. A
matrona está intimamente associada com os valores femininos tradicionais, como a
castidade, a modéstia, austeridade, domesticidade e devoção ao marido e filhos. Em
contrapartida, a puella docta da poesia de amor do século de Augusto foi elogiada por
suas realizações culturais (em poesia, música e dança), mas aos olhos romanos
tradicionais sua moral levantou suspeitas; além disso, a puella docta típica não parece
ter pertencido à elite. Claro, palavras e prática social nem sempre coincidem, mas
detecta-se a falta de um termo para designar uma mulher respeitável, educada,
contrapondo a reputação duvidosa da puella docta, o que indica como os sentimentos
ambivalentes romanos eram no que diz respeito à educação das mulheres (Hemelrijk,
1999).
Uma vez que na sociedade romana do período, não havia conventos cristãos em que as
meninas poderiam ser ensinadas e que as mulheres pudessem retirar-se para dedicar
sua vida ao estudo e à oração (como acontecia na Idade Média) e, como não havia
nenhuma outra instituição, costumes ou oportunidades, existiam mulheres que
escolhiam outra alternativa para o casamento e a maternidade. É talvez compreensível
que quase não tenhamos ouvido falar de nenhuma mulher famosa que tenha sido
“docta” na sociedade romana. No entanto, como veremos, algumas mulheres da elite
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eram altamente qualificadas. Então, o que pode ter causado sua obscuridade no mundo
da educação?
Devemos ter em mente que na sociedade romana a educação e a aprendizagem eram
atividades tipicamente masculinas; conhecimento da cultura literária e as artes liberais
eram a marca do “cavalheiro” da elite romana. Para os homens educados da elite, além
de seu valor prático para uma carreira política, era um campo de competição e um
instrumento de diferenciação de classes: a exibição da educação distinguiam membros
da elite de membros de outras camadas. De qualquer forma, o estudo conferiu
prestígio e a educação era fundamental para o status social e atividades intelectuais, na
medida em que não contribuíam para importantes atividades aristocráticas, como a
política e a prática da lei. Pertenciam ao lazer (otium) e, portanto, de acordo com a
antiga noção republicana, de importância secundária6 (Hemelrijk, 1999; Pereira, 1989).
Durante o principado houve uma mudança na atitude em relação à educação: com a
paz e prosperidade do principado e o declínio do poder político da classe senatorial, as
atividades intelectuais ganharam estima. Isso deu mais espaço para atividades que
tinham pouco valor prático ou haviam sido consideradas frívolas antes, mas os
membros da classe senatorial sempre se mantiveram amadores em atividades
intelectuais literárias. A pretensão do amadorismo que respeita às atividades
intelectuais foi de grande importância para a atitude das classes superiores em relação
à educação e uma vida inteiramente dedicada ao estudo era incomum, uma vez que
estava entre os membros da classe equestre e decurial (embora em menor grau).
Este ethos amador também afetou as mulheres da elite; por um lado, pode ter facilitado
a sua participação, e, por outro, foi proibida a vida dedicada ao estudo, uma vez que
isso ia contra as tradições de sua classe (e sexo). É claro, o “lazer” das mulheres difere
fundamentalmente do “lazer” dos homens de sua classe: ao serem impedidas de
participação política e assuntos militares, as mulheres da classe superior, cujas vidas
passavam, ou era esperado que passassem na privacidade de suas casas e famílias,
foram condenadas a uma vida de otium (o que não quer dizer que elas não tinham nada
para fazer). Será que este otium lhes permitiu dedicar suas horas de lazer para estudar,
o que seria comparável ao otium honestum de seus pares masculinos? Não, não há
contraparte feminina do respeitoso doctus qualificado, o que denota um homem de
cultura, formado em artes liberais e conduta civilizada; no entanto docta às vezes é
usado para uma mulher, mas nem sempre é entendida como um elogio, isso não
implica que a educação foi considerada inadequada para todas as mulheres e que as
6
Mais informações a respeito do conceito de otium, consultar M. H. R. Pereira (1989) que trata do
conceito de Otium cum dignitate, em Cícero.
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distinções de classe eram de nenhuma consequência. As questões eram mais
complicadas: riqueza, histórico familiar e outros fatores relacionados com a posição
social das mulheres da elite interagiram com o gênero na determinação da natureza de
sua educação (Hemelrijk, 1999).
Na vida adulta algumas mulheres de classe alta voltaram para os temas que haviam
sido ensinadas durante sua juventude e continuaram seu estudo da poesia, matemática
ou filosofia. Essas mulheres educadas não eram universalmente admiradas na
sociedade romana, onde a opinião sobre elas variou de idealização da puella docta ao
desdém para com a literata “intolerável”. Hemelrijk (1999) questiona como esses
sentimentos contraditórios podem ser explicados. Existe alguma evolução no
julgamento feito às mulheres educadas na sociedade romana? Segundo a autora, havia
em especial, alguns objetivos na educação das mulheres de elite. A necessidade de uma
“educação moral”, “o ideal da maternidade educada”, onde se expressa os ideais de
educação da mulher conforme as fontes literárias, principalmente os escritos de
filósofos morais e senadores conservadores do período imperial, em que se ressaltam
os efeitos benéficos da educação sobre a moral das mulheres e o cumprimento de seu
papel tradicional de esposa e mãe. Além desses objetivos, as fontes moralizantes
valorizam “o papel social da matrona de classe alta” e a “educação como um sinal de
status social”.
Cynthia, a amada de Propércio, é um bom exemplo. Além de sua beleza, ela é elogiada
como uma musicista habilidosa, que colocou seus versos de amor na música e cantava
ao som de sua lira, como uma dançarina elegante, um conversador espirituoso e - por
último, mas não menos importante - uma mulher com um bom gosto para a poesia. De
fato, uma poetisa em si mesma, capaz de julgar e apreciar a poesia de seu amante como
seu crítico mais exigente. No entanto, essas realizações que ela compartilha com outras
puellae doctae como Corina de Ovídio, mais se assemelham aos encantos da cortesã
educada do que a erudição das respeitáveis mulheres da classe alta, tanto mais que
suas realizações literárias e musicais são retratadas como parte de sua atração erótica.
Sexualmente, ela parece independente: embora em alguns casos o marido seja
mencionado, a puella é retratada como livre para entreter conversa e até mesmo um
(secreto) caso de amor com seu poeta-amante.
Os Círculos Literários e a Divulgação
A literatura latina era uma questão de grupos de amigos ou “círculos”: amigos
desempenharam um papel importante no processo de escrita, revisão e “publicação”
de uma obra literária. Uma vez que um trabalho foi concebido e elaborado, passou por
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várias etapas antes de ser lançado ao público. Embora estes possam, é claro, variar
muito, cerca de três fases podem ser distinguidas. Em primeiro lugar, uma cópia era
enviada a um amigo próximo que foi convidado para comentar o assunto crítico. Em
seguida, após o trabalho ser revisto, seria lido por um pequeno grupo de amigos para
testar a sua recepção, ou cópias poderiam ser enviados a eles para a crítica. Se, depois
de uma ou mais revisões, o autor sentir que está suficientemente certo que esta foi a
sua versão final, cópias de apresentação eram enviadas para um grupo maior de
amigos, em primeiro lugar o homenageado - se houvesse um. Era nessa fase que o
trabalho se tornava público, ou para usar um termo anacrônico, “publicado”. Com
mais uma cópia, a circulação da obra agora estava fora do controle do autor: pessoas
desconhecidas para o autor poderiam copiar a partir do texto de um amigo, de uma
cópia em uma livraria ou cópia de um volume depositado em uma biblioteca pública -,
mas os dois últimos foram desenvolvimentos relativamente tardios. Amigos (e
patronos) desempenharam um papel importante também nesta fase da "publicação",
tendo em vista que poderiam ajudar a tornar o livro conhecido por um público mais
amplo por recomendá-lo aos seus amigos e conhecidos ou através da organização de
uma recitação pública (Hemelrijk, 1999: 147).
A amizade literária parece ter sido praticamente uma questão masculina: tanto quanto
sabemos, as mulheres quase não tiveram lugar nela. Embora poucas mulheres de classe
alta fossem lidas na poesia, algumas agiram como patronas para poetas, há apenas um
caso que talvez justifique a suposição de que uma mulher - sob determinadas
condições - poderia participar de um círculo literário: Sulpicia, a elegíaca.
Teoricamente é possível que as mulheres tenham tido seus próprios círculos literários
para distribuição dos seus trabalhos, mas para isso não há provas. O raro acesso das
mulheres, ou ausência total das amizades literárias masculinas deve ter sido um
obstáculo para as suas obras literárias: mesmo se tivessem a educação necessária, lazer
e talento para escrever poesias, faltavam-lhes o incentivo de amigos literatos que iriam
ler e criticar seu trabalho e promover a sua publicação. No entanto, os trabalhos de
todas as mulheres que escreveram poesias que temos conhecimento, devem ter tido
seus trabalhos circulados de uma forma ou de outra entre os homens instruídos, ou
não teríamos sabido da sua existência. Como elas conseguiram isso? A resposta mais
provável parece ser que, como as escritoras em outros períodos da história, elas
encontraram os contatos necessários para a produção e circulação de seu trabalho
através de seus parentes do sexo masculino.
Tomando Perilla como exemplo, sabemos ainda muito pouco. Ao que parece; nem
mesmo seu nome real foi preservado. Ela era a destinatária de uma “carta” poética de
Tristia de Ovídio (3.7), enviada a ela de Tomis. O nome “Perilla” deve ser um
pseudônimo: no Tristia Ovídio não menciona os nomes de seus destinatários, por medo
de embaraçara-los. Segundo Hemelrijk (1999: 149) este pseudônimo foi conhecido: o
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poeta de amor Ticida, ou Ticidas, contemporâneo de Catulo, o tinha usado, de acordo
com Apuleio, para esconder sua amada Metella; e o próprio Ovídio menciona Perilla
como pseudônimo de Metella que era celebrada por alguns poetas que ele não
menciona o nome. Ele pode tê-la escolhido como uma homenagem poética a esses
poetas que pertenciam à geração anterior.
Em seu poema, Ovídio se dirige a ela como uma mulher solteira e jovem, vivendo com
sua mãe: sua carta, personificada como uma mensageira irá encontrá-la, de modo que
ele a imagine sentada com sua mãe (um topos de castidade feminina) ou entre os seus
livros. A julgar pela forma como ele escreve sobre sua “modesta fortuna” e sua
biblioteca pessoal, ela pode ter pertencido à mesma classe (equestre) que o próprio
Ovídio. Ele frequentemente refere-se à relação íntima e cordial entre eles que datava
dos “tenros anos de infância” de Perilla, no qual ele era para ela “como um pai para
sua filha”. A partir dessas observações, foi assumido que Perilla era sua enteada de sua
terceira esposa de um casamento anterior. Há muito a dizer sobre este ponto de vista: a
relação longa e cordial de sua juventude em diante, a semelhança na forma como ele
descreve sua relação com a “Perilla” (como um pai para sua filha) e talvez também o
fato de que ele retrate Perilla como uma puella docta, mas enfaticamente como uma
casta. Se o nome da enteada de Ovídio foi Nerulla - que parece ter o cognome
Nerullinus para seu filho - isso daria um argumento adicional para sua identificação
com “Perilla” por causa da equivalência métrica do nome. No entanto, a segurança não
pode ser alcançada; a atitude paternal de Ovídio em direção a Perilla pode ter sido
significativa metaforicamente ou em algum outro relacionamento, embora
presumivelmente uma relação familiar, não possa ser descartada (Hemelrijk, 1999:
150).
A partir do poema de Ovídio, “Perilla” surge como uma jovem mulher de talento,
cujos dons poéticos ele estimulou. A parte mais interessante do poema é aquela em que
ele lida com a sua colaboração poética antes de seu banimento para Tomis. Ovídio
pergunta se ela manteve-se fiel à sua busca comum de compor versos e a lembra que
mantém sua ajuda para guiar seu talento, de sua primeira juventude em diante. Aqui
vemos uma jovem mulher trabalhando em sua poesia, assim como poetas masculinos
costumavam fazer quando se inicia uma carreira poética: ela é assiduamente
aconselhada e recomendada por um amigo mais velho. Ovídio reconhece seu talento
poético, o qual, como orgulhosamente observa, ele tinha sido o primeiro a descobrir:
“Eu era o primeiro a perceber isso nos tenros anos de sua infância, quando, como um
pai para sua filha, eu era o seu guia e companheiro [duxque comesque]”.7 A terminologia
7
Ovidio. Tristia,3.7.17-18: “primus id aspexi teneris in virginis annis, / utque pater natae duxque
comesque fui”.
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militar usada pela colaboração poética é comum, e mostra que ela foi aceita no mundo
masculino da amizade literária, em que um poeta mais velho, mais experiente, é tido
como “um líder e um colega soldado” usado para orientar os mais jovens. Segundo a
descrição de Ovídio, ele e Perilla leram e criticaram a poesia de cada um, uma
cooperação em que, sendo o poeta “sênior”, ele assumiu a liderança com firmeza:
Dum licuit, tua saepe mihi, tibi nostra legebam; saepe tui iudex, saepe
magister eram: aut ego praebebam factis modo versibus aures, / aut ubi
cesares, causa ruboris eram. (Ovid Trist.3.7.23-6.)
Neste poema, encontramos uma jovem participante, como uma parceira júnior, no
mundo masculino da amizade literária. Como fora deste poema nada se sabe sobre
Perilla, ela permanece sombria. Se ela é identificada como a enteada de Ovídio, ela
viveu sua vida adulta no anonimato, como a maioria das mulheres romanas: casou e
teve filhos. Ou, pode ter vivido como uma moça solteira, uma poetisa promissora como
no versículo citado, que foi estimulada por um poeta sênior, com uma poesia composta
com o objetivo de publicação. Se ela continuou a escrever durante a sua vida de casada
e se seus poemas foram finalmente publicados, não podemos dizer; também não há
qualquer menção a eles em nossas fontes.
As informações sobre Perilla são escassas, contudo, sobre Sulpícia encontramos mais
referências. Sulpicia é a única escritora feminina da poesia latina cuja obra é, pelo
menos em parte, preservada; seis elegias curtas dela chegaram até nós por meio do
corpus Tibullianum. Sulpícia era filha de Seruius Sulpicius Rufus, homem ligado à
política. Sua mãe parece ter sido Valéria, irmã de Messala, tendo este, após a morte do
cunhado, desempenhado um papel preponderante na educação e formação de Sulpícia
(Filipe, 2002). Como a produção poética do período de Augusto girava em torno de
círculos literários, como o de Mecenas, dos quais faziam parte, Horácio, Virgílio e
Propércio, entre outros, Sulpícia fazia parte do círculo de Marco Valério Messala
Corvino, juntamente com Tibulo, Lígdamo e posteriormente Ovídio (Paratore, 1983).
Encontramos as produções poéticas do grupo reunidas naquilo a que chamaríamos
hoje um “cancioneiro”, conhecido como Corpus Tibullianum, por ser Tibulo o poeta de
maior renome (Parker, 1994). O fato de haver passado a infância num meio não
convencional - levando em conta o que sabemos da formação de uma jovem romana pode ter contribuído para elevar o seu sentido de independência, bem como para
alguma liberdade na sua produção poética.
A poesia de Sulpicia usa seu próprio nome e identidade; dá a seu amado um nome
associado com a poesia; evade envolvimentos familiares; deseja isolamento com seu
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amado; procura ser conhecida publicamente por amá-lo; diferenciada pela elegância,
erudição, alta-classe é rival da prostituta comum; ressente a infidelidade do seu amado;
procura provas de que ele a ama em troca de sua devoção; e identifica a poesia como
meio de persuasão sexual. Onde ela identifica seu status como uma mulher de elite,
em contraste com a scortum, ela invoca desdém ao macho amante e poeta por um rival
de classe baixa. Partindo do fato de que Sulpicia é uma mulher de elite escrevendo uma
elegia amorosa, segue-se que a sua fala não precisa oferecer verso no lugar de dinheiro;
portanto, no caso dela, a poesia se liberta do impasse elegíaco. O que a elegia de
Sulpicia oferece principalmente é um meio de explorar a sexualidade feminina e
expressar a ansiedade sexual feminina e insegurança (James, 2003: 220). Assim, este
gênero de poesia que as mulheres gostam, e que se parece com as mulheres, permite
uma voz feminina para falar de suas próprias preocupações eróticas.
Significativamente, como Hallett (1989: 71) aponta, Sulpicia parece “retratar-se como
tendo muito em comum com a amante celebrada por seus colegas elegíacos
masculinos. ” A Elegia e a puella docta, permitem que Sulpicia experimente, na
concepção de Hallett, tanto a si mesma como “igual” e como “outra”. Lesbia de Catulo
e numerosas mulheres de Horácio não oferecem essa oportunidade. O sexo de Sulpícia
e seu status social, no entanto, provocam o encurtamento da trajetória de sua narrativa
poética. As parcelas habituais e argumentos de elegia não estão disponíveis para sua
fala, portanto, seus poemas são poucos e curtos, embora, graciosos e completos. Ela
oferece um lembrete poético significativo tanto da recepção do sexo feminino na elegia
amorosa, quanto às circunstâncias sociais não ditas que ditam e predeterminam as
resoluções do amor elegíaco (James: 2003, 220).
Os exemplos de Perilla e Sulpicia mostram duas etapas sucessivas no processo de
composição e de publicação de uma obra literária: colaboração poética (Perilla) e
“publicação” (Sulpicia). No entanto, a participação das mulheres no mundo da
amizade literária deve ter sido rara. Tanto quanto sabemos, os círculos literários
romanos normalmente eram compostos exclusivamente por homens; nenhuma poetisa
é mencionada entre os pupilos literários de Mecenas ou de qualquer outro patrono
literário. A metáfora militar (comesque duxque) utilizada para a cooperação poética entre
um poeta sênior e um mais novo - neste caso, aplicada entre Ovídio e Perilla - reflete
claramente o fato de que o mundo da produção literária era exclusivamente masculino.
No entanto, como vimos, as mulheres de talento podem ocasionalmente ter tido acesso
a círculos literários e aos canais de publicação; pelo menos, quando eles tiveram o
apoio de parentes do sexo masculino que eram poetas ou os próprios clientes literários
(Hemelrijk, 1999: 153).
Claro, duas poetisas do sexo feminino, todas escrevendo por volta do mesmo período
(a partir do meio do primeiro século a.C. para o início do primeiro século d.C.), não
provam que as mulheres talentosas não poderiam participar de um círculo literário ou
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publicar sua poesia, a menos que elas fossem incentivadas por parentes do sexo
masculino. É talvez possível que no final do primeiro e segundo séculos d.C., quando
escrever poesia era a moda entre os homens e, ao que parece, as mulheres da classe
alta, o acesso aos círculos literários tenha se tornado mais aberto para as mulheres. No
entanto, as poetisas discutidas aqui confirmam a opinião que o apoio por parentes do
sexo masculino foi fundamental.
Como os contatos literários e incentivos foram essenciais, o limitado acesso das
mulheres aos círculos literários restringiu severamente o número de mulheres que
estavam em condições de circular e publicar o seu trabalho. Embora isso não impeça
esforços na poesia, na privacidade de suas casas, seu relativo isolamento da vida
literária tornou quase impossível para elas fazer a sua poesia conhecida por seus
contemporâneos, e, assim, eventualmente, para nós. Os poucos casos que formam uma
exceção tem que ser considerados.
Ovídio e a Elegia Erótica
Os estudiosos se dividem sobre a finalidade, o efeito, e o sucesso da forma que Ovídio
brinca com o gênero poético, embora seja provavelmente seguro dizer que muitos, se
não a maioria, dos leitores encontram-no irreverente, muitas vezes chocante e
inadequado, por esse motivo, o resultado de seu trabalho é julgado inferior ao de seus
contemporâneos e antecessores (ver Boyd 1997: 1-12), apresentando estar em falta na
moral, estética, gosto, e caráter (James, 2003: 155). A Ars Amatoria e Amores têm sido
criticados por zombar, satirizar, parodiar ou tirar sarro das obras de Propércio e
Tibulo, bem como Catulo; como resultado o próprio Ovídio foi criticado como um
poeta inferior, e como pessoalmente e moralmente defeituoso. Na opinião de Sheron
James, tal crítica ignora os elementos “auto-paródicos” e divertidos da elegia como um
todo; ele falha ainda mais ao indagar porque satirizar um gênero é necessariamente
uma coisa ruim ou porque a sátira literária deve indicar compreensão ou apreciação do
gênero inadequado de um autor. Este tipo de crítica repousa sobre a interpretação
erronia e romântica da elegia e a exigência de sinceridade, motivo pelo qual a Elegia
não pode ser entendida como relatos de fatos reais, os acontecimentos são sempre
fictícios.
Na opinião de James (2003:155), Ovídio sabia muito bem o que estava fazendo em suas
obras Amores e Ars Amatoria. É relevante notar que o trabalhado persistente no gênero
elegíaco por vinte e sete anos, revendo e republicando Amores, acrescentando o livro III
a Ars e incluindo o Remedia Amoris ao seu corpus, enfim, dedicando tanto tempo de sua
vida à elegia, não era possível argumentar que ele não sabia o que estava fazendo. A
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autora toma como um dado, não apenas o fato de Ovídio considerar cada poema em
Amores adequado e necessário para o seu programa poético, mas também que sua
colocação deles é deliberada (particularmente a localização inicial de 1,7 e 1,14 e a
posição relativamente central de 2.13-: - 14) criado para mostrar as questões e
problemas específicos da elegia.
Muitos autores interpretam questões levantadas pela elegia de Ovídio como uma
ofensa as mulheres. Por que ele encontra espaço na elegia para poemas sobre sua
calvície súbita (1,14) e aborto (2,13-14), a condição priápica constante do amante poeta
(2,4) ou sua falha (3,7), a sua vontade de ser ao mesmo tempo explorador e
abertamente abusivo com sua amante e seus escravos (2,2-31 2,7-8) e assim por diante?
Porque a elegia de Ovídio expressa abertamente tanta falta de sinceridade e tão pouca
paixão e sofrimento elegíacos? Por que ele continua se concentrando tão atentamente
sobre a falta de sinceridade, decepção, infidelidade, e repulsa contra as mulheres?
Para James (2003:157) Ovídio não adiciona hipocrisia, exploração e pretensão na elegia
de amor romana - ele a coloca nua. Como Mack (1988: 62) aponta, “Ovídio nos oferece
vislumbres da vida real por trás das convenções elegíacas. Na vida real, as ações têm
consequências. Parte da análise das convenções de Ovídio implica trazer algumas
dessas consequências para o mundo ficcional da elegia”.
O efeito perturbador e desorientador que Amores e Ars têm em muitos leitores são
deliberados e estratégicos e devem ser considerados como um efeito de choque
projetado para fazer os leitores repensarem a elegia de amor. A carga primária contra
elegias amorosas de Ovídio é que elas se concentram demais no sexo, mas
relativamente pouco sobre o amor; isto é, que o seu discurso não parece ser realmente
referente ao amor com uma mulher, mas sim em busca de aventuras. Segundo James,
essas queixas sexuais poderiam muito bem ser corrigidas da seguinte forma: em
Amores, Ovídio presta atenção não para o coração, como Propércio e Tibulo são
pensados para fazer, mas para o corpo. Vale a pena notar que o corpo focado em
Amores é da puella. Em 1.141 o cabelo cai para fora; em 2,13-14 ela tem um aborto. Tudo
isso levou os leitores a concluir que tanto Ovídio quanto seu discurso homônimo estão
mais interessados no corpo do que na mente e no coração. E de fato o amante-poeta,
Ovídio, fala de amar o corpo de uma puella ao invés de sua personalidade. No entanto,
a autora argumenta que este aspecto da elegia de Ovídio - sua ênfase na carnalidade,
por assim dizer - revela a mesma base de toda a base elegíaca. É na atração sexual
masculina pela beleza feminina, que está simultaneamente o agente gerador do desejo
sexual do amante-poeta, o alvo físico de sua raiva quando ele percebe que ele não pode
controlar a puella. A exposição focada de Ovídio nas conexões entre a beleza feminina e
agressão sexual masculina revela retrospectivamente os mesmos fenômenos em
Propércio e Tibulo (James, 2003: 157-158).
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Conclusão
Questões referentes à educação das mulheres na antiguidade clássica é um tema com
muitas lacunas a serem preenchidas. As obras que temos acesso, sempre tratam da
educação do homem, geralmente referente à esfera pública e política, enquanto as
mulheres recebiam uma educação destinada à sua função esperada na sociedade, a de
ser mãe e esposa. Nesse sentido, a elegia erótica romana se destaca, ao passo que era
acessível às mulheres, com temas referentes a elas, que tratavam delas.
Nesse universo de leitura e leitores, muitas mulheres se sentiram seduzidas a escrever
suas próprias histórias, poesias e questões relacionadas ao seu cotidiano. No entanto,
devido ao fato da história, principalmente na antiguidade, ser escrita por homens,
esses relatos e escritas não nos foram acessíveis. Podemos contar apenas com poucas
fontes e relatos vindos das mulheres. Neste contexto a puella docta é a personagem que
foge aos padrões da respeitável matrona romana, devido, justamente ao acesso que
tinha ao mundo masculino vigente, e principalmente pela sua formação artística e
cultural.
Um caminho encontrado para tratar desta temática no artigo aqui exposto foi o de
demonstrar que por meio da poesia de Sulpícia e as correspondências de Ovídio com
Perilla, as mulheres tinham sim voz ativa, mas necessitavam da presença masculina
para tal divulgação, o que as tornava dependentes de seus círculos de amigos poetas e
escritores. Porém, o fato de fazerem parte de círculos literários já nos confirma sua
participação ativa na cultura escrita da sociedade romana.
A partir do final da república em diante, o número de mulheres educadas aumentou,
causando sentimentos contraditórios na sociedade do período. Senadores
conservadores, como Cícero e Salústio, defendiam a dignidade e virtudes tradicionais
para as suas mulheres e Salústio, defendida dignidade e virtudes tradicionais para as
mulheres de sua classe, e isso entrou em confronto com a vida de luxo e prazer
associada à cultura grega. Portanto, eles ignoraram a aprendizagem grega em mulheres
que eles respeitavam. Falavam da educação das mulheres e, especialmente, sua
habilidade em música e dança apenas quando queriam difamar adversários do sexo
feminino. Isso não significa que eles se opunham à educação das mulheres na vida
privada, mas em seus escritos eles colocaram a moralidade tradicional em primeiro
lugar. Em oposição ao ideal de Matrona, na elite, os poetas de amor da república tardia
e período de Augusto, como Propércio e Ovídio, idealizaram a puella docta, uma jovem
mulher de status social indefinido e moral sexual solta que era especialista na tríade
educacional grega de poesia, música e dança. Assim, vemos que as opiniões opostas
coexistiram, embora em diferentes grupos da sociedade: os poetas de amor eram
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jovens cavaleiros que se opunham aos rigorosos padrões morais prescritos de membros
da elite como reavivado na legislação moral de Augusto.
Num período mais tardio do principado, a imagem da mulher letrada e culta mudou.
O ideal de puella docta foi destituído de sua conotação de licença sexual e incorporado
aos ideais da vida de casado. Nas cartas de Plínio para e sobre sua esposa, a influência
das poesias de amor do período de Augusto são vistas: além de elogiar suas virtudes
tradicionais Plínio confessa publicamente o seu amor e até mesmo a sua paixão por sua
esposa de uma maneira incomum (e talvez até mesmo impensável) entre os homens de
sua classe, antes do império. Em suas cartas a Calpúrnia ele adota as convenções
literárias e imagens da poesia de amor. As cartas de Plínio demonstram a eventual
"domesticação" do ideal da puella docta por sua incorporação na vida conjugal. Assim, a
sofisticada e emocionante puella docta da poesia de amor se transformou na bemeducada e dedicada esposa.
No que diz respeito à elegia erótica de Ovídio, esta suscitou muitos debates de críticos
e estudiosos do tema. Alguns autores interpretaram a poesia amorosa de Ovídio, como
uma crítica e uma depreciação da imagem feminina, outros não, defendem a ideia de
que Ovídio “tocava na ferida” da sociedade e da família romana, ao propor as
atividades femininas que encantavam os homens. Muitas questões podem ser
levantadas ainda nesta perspectiva e vários trabalhos têm surgido a respeito do tema,
como as obras citadas de Emily A. Hemelrijk e Sharon James que tratam das matronas
letradas e cultas da sociedade romana e da imagem da puella na poesia elegíaca. O
trabalho de Yun Lee Too, também traz grande contribuição com informações sobre a
Educação na antiguidade clássica, que fogem dos estudos tradicionais e generalizantes
do tema. Trabalhos como estes relacionados à temática feminina contribuem com a
possibilidade de novas pesquisas que tratem das mulheres e sua participação pública
na sociedade romana.
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