11 Barcelos, Luciana

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11 Barcelos, Luciana
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BANCO DE DENTES BOVINOS DA UNITRI: UMA REALIDADE A PARTIR DE
2011
BARCELOS, Luciana Mendes (Unitri) [email protected]
FARIA, Rodrigo Antônio (Unitri) [email protected]
FALLEIROS, Claudio Melo de (Unitri) [email protected]
CARVALHO, Paulo Jose (Unitri) [email protected]
RESUMO: A disponibilidade de dentes humanos para uso em pesquisas e em
atividades
de
ensino
laboratorial
tem
diminuído
progressivamente,
assim
recentemente, pesquisas científicas “in vitro” na área odontológica têm sido
aplicadas em dentes bovinos extraídos de animais não-vivos, uma vez que os
Comitês de Ética em Pesquisa encorajam o uso do dente bovino em alternativa ao
dente humano. Entretanto, ressalta-se que não foi encontrado na literatura
informações sobre a procedência dos dentes bovinos nem a existência de Bancos
de Dentes Bovinos - BDB. Assim, o objetivo deste trabalho foi apresentar a
implantação do BDB do curso de Odontologia do Centro Universitário do Triângulo Unitri com apoio de Iniciação Científica pela FAPEMIG. Após implantação do BDB Unitri em 2011, as coletas de dentes bovinos ocorreram no frigorífico Real
Distribuidora de Carnes Ltda., respeitando normas de biossegurança adequadas. A
entrada e saída dos dentes foram computadas, obtendo-se, assim, o controle do
número em estoque. Como resultados iniciais foram coletados 207 dentes bovinos,
sendo que desse total, 42 foram liberados para uso acadêmico. Diante do exposto,
ressalta-se que o BDB-Unitri já é uma realidade, e está alcançando os resultados
esperados ao regulamentar corretamente este banco de órgãos e fornecer com
biossegurança dentes bovinos para o ensino e pesquisa odontológica.
Palavras-chave: biossegurança, dentes bovinos, pesquisa odontológica.
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INTRODUÇÃO
A evolução da Odontologia nos aspectos preventivos e restauradores
curativos têm proporcionado maior valorização do órgão dentário. Dessa forma a
cada dia que passa, as pessoas estão se conscientizando ainda mais sobre a
valorização do órgão dentário e principalmente sua importância quando parte da
saúde bucal como um todo. Com isso o fornecimento de dentes humanos para fins
de aprendizado e pesquisas está se tornando cada vez mais escasso devido à
diminuição das extrações dentárias. Assim, Campos et al. (2008) relataram que
dentes bovinos têm sido usados como substitutos para testes in vitro em diversas
pesquisas na área odontológica, pois dentes humanos são morfológica e
histologicamente semelhantes aos dentes de outros mamíferos, todavia o tamanho e
disponibilidade fazem dos incisivos bovinos uma preferência para pesquisas.
Entretanto, não foi encontrado na literatura relatos de como são realizadas as
coletas destes dentes bovinos nem da existência formal e legal de um Banco de
Dentes Bovinos - BDB.
O caminho ético e legal da utilização dos dentes bovinos, seja em pesquisas,
procedimentos clínicos ou laboratoriais, precisa estar na mentalidade de todos os
profissionais, alunos e professores. Dentro desse contexto, O BDB é uma instituição
sem fins lucrativos, que passa a assumir importante função ética, com o intuito de
eliminar o comércio ilegal de dentes de origem humana, que ainda existe nas
faculdades de Odontologia apesar do crescimento da organização de Bancos de
Dentes humanos em algumas faculdades. É importante ressaltar que o dente é um
órgão do corpo humano e, como tal, está submetido à Lei de Transplantes Brasileira
(lei 9434 de 04/02/1997), a qual prevê pena de 3 a 8 anos de reclusão e multa para
quem remover post-mortem órgãos, tecidos e partes do corpo humano de pessoas
não identificadas. O Código Penal também prevê pena de 1 a 3 anos de reclusão
para aqueles que violarem sepultura (Artigo 210) e o Conselho Nacional de Saúde
exige os termos de consentimento livre e esclarecido dos sujeitos como forma de
“respeito à dignidade humana” (Resolução 196 de 10/10/1996).
Cabe também ao BDB zelar pela eliminação da infecção cruzada pelo grande
potencial de contaminação que existe no manuseio indiscriminado de dente humano
extraídos. O BDB é organizado de forma a relacionar-se apropriadamente com a
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faculdade, universidade ou outra instituição a qual pertence, respeitando-se suas
necessidades e regulamentos. É fundamental um controle de seus procedimentos
internos, que incluem a separação e o estoque de dentes, assim como o cadastro e
o arquivamento das fichas das doações.
Dentro deste enfoque, este inovador projeto do Banco de Dentes Bovinos
(BDB) da Unitri foi implantado em 2011, com apoio FAPEMIG, dentro do programa
de Iniciação Científica da Pós-Graduação da Unitri. Ressalta-se que este projeto
BDB-Unitri existe atualmente em parceria ao Banco de Dentes Humanos da Unitri, o
qual foi devidamente regulamentado e criado em 2010 após aprovação pelo Comitê
de Ética da Unitri (Parecer número 715776) e possui uma sala própria em estrutura
adequada com pias, bancadas, armários e geladeira.
O Banco de Dentes Bovinos funciona como um Banco de Órgãos, mantendo
um acervo de dentes preservados, em condições que possibilitem sua utilização em
pesquisas e treinamento laboratorial pré-clínico na graduação. Para que um Banco
de Dentes seja instituído, deve-se realizar uma campanha para educação e
orientação dos acadêmicos, bem como a padronização dos métodos de esterilização
e armazenamento do órgão dental.
JUSTIFICATIVA
Atualmente, tem-se observado uma grande dificuldade na obtenção de dentes
extraídos de humanos, seja para estudo por alunos de graduação ou para pesquisa
odontológica. O avanço dos programas de odontologia preventiva e social e de
novas técnicas restauradoras, associado a uma melhor conscientização sobre a
valorização do órgão dental tem reduzido cada dia o número de exodontias, dessa
forma dentes humanos muitas vezes não estão disponíveis em número suficiente
para propósito de pesquisas, por tais motivos dentes bovinos têm sido usados como
substitutos para testes in vitro em diversas pesquisas na área odontológica.
CAMPOS et al, (2008) salientam que o uso de dentes bovinos justifica-se por
apresentarem algumas vantagens tais como facilidade de serem conseguidos em
matadouro, possuírem grandes tamanhos e superfícies largas. Cada mandíbula é
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composta por oito incisivos (Figura 1) que possuem superfície relativamente plana e
o seu tamanho permite que, em alguns casos, do mesmo dente seja feita mais de
uma amostra e, ainda, sendo os animais sacrificados aproximadamente na mesma
idade pode-se
e então controlar a faixa etária dos dentes e seu tempo de
armazenamento. Estes dentes são de fácil aquisição e não são dispendiosos.
Figura 1. Carcaça de mandíbula bovina
Um Banco de Dentes nas Faculdades de Odontologia seja humano ou bovino
é de suma importância, pois assim os dentes utilizados pelos alunos e profissionais
têm origem comprovada, pois todos os dentes armazenados nos bancos de dentes
bovinos têm doação consentida
conse
pelo responsável, além
m dos mesmos serem obtidos
por motivos alheios a estudos e pesquisas.
METODOLOGIA
A partir do primeiro semestre de 2011, foi estabelecida uma parceria com o
frigorífico Real Distribuidora de Carnes Ltda., em caráter espontâneo e sem nenhum
vínculo financeiro, cuja autorização foi devidamente assinada pela diretoria do
estabelecimento. De acordo com as instruções dadas pela médica-veterinária
médica
do
frigorífico, as extrações de dentes bovinos foram realizadas sempre pela manhã nos
animais abatidos no mesmo dia. O local reservado para as extrações foi em um
galpão onde são descartadas as carcaças de mandíbulas bovinas. Vale ressaltar
que o tempo entre o abate dos bovinos até o momento das extrações se iniciarem foi
em média de 30 minutos. Sob uso de equipamento de proteção individual em
respeito às normas de biossegurança, as extrações foram realizadas com chave de
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fenda e alicate para serviços gerais (Figuras 02 e 03). Os movimentos realizados
para extração dos dentes foram descolamento do periodonto com chave de fenda e
movimento de luxação, preensão e tração com alicate comum.
Figura 2. Extração de dente bovino com o uso de
chaves de fendas e alicate comum de serviços
gerais.
Figura 3. Dente bovino após extração
Após a coleta foi feita uma desinfecção por 24 horas em solução de
hipoclorito de sódio, sendo a limpeza dos dentes realizada em água corrente. A
seguir os dentes sofreram raspagem e remoção de restos orgânicos da superfície do
dente com uso de lâminas de bisturi adaptadas ao cabo e também com curetas de
periodontia (Figuras 04 e 05). Logo após foi realizada a separação e
acondicionamento em recipientes com tampa plástica, armazenamento em soro
fisiológico e em geladeira, sendo ainda identificados
identificados por data da coleta.
Figura 4. Dentes bovinos sendo preparados
para limpeza.
Figura 5. Limpeza dos dentes bovinos com
lamina de bisturi acoplado ao seu cabo.
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DISCUSSÃO E RESULTADOS
As coletas dos dentes bovinos foram feitas pela manhã devido o abate bovino
ocorrer neste período, sendo esta uma norma deste frigorifico pois à tarde se fazem
os abates de suínos. O uso de EPIs tais como, calça, blusa fechada, gorro, máscara,
capacete de segurança, protetor de ouvido e botas de borracha foram cedidos pelo
frigorifico por serem necessários para evitar acidentes no local, sendo uma regra
para o deslocamento em áreas de riscos do frigorífico conforme instruções da
médica-veterinária responsável. Contudo, para maiores cuidados de biossegurança,
o uso de luvas de borracha e óculos de proteção foram também adotados durante as
extrações para a nossa própria segurança, conforme designado pela Norma
Regulamentadora 06 (BRASIL, Portaria SIT/DSST 194/2010).
Em relação às manobras técnicas para extração dos dentes bovinos, foi
constatado serem bem difíceis devido às características anatômicas dos incisivos e
da mandíbula dos bovinos, por isso, ao invés de instrumental odontológico, foram
utilizadas chaves de fenda para movimentos de descolamento do periodonto. O uso
de alicates comuns para movimentos de luxação, preensão e tração desses dentes
se fez necessário devido ao tamanho dos dentes não sendo possível utilização de
fórceps. Após acondicionar em potes com hipoclorito de sódio para desinfecção e
amolecimento dos restos orgânicos, o material coletado foi transportado para a Sala
do Banco de Dentes Humanos da Unitri onde foram realizadas as limpezas e
armazenamentos. A limpeza desses dentes também foi considerada complicada
pois os dentes foram extraídos com bastante tecido periodontal, o que ocasionou
maior gasto de tempo para serem devidamente removidos, sendo aproximadamente
40 minutos para cada 10 dentes. O armazenamento em potes plásticos com soro
fisiológico e em geladeira, de acordo com as orientações de Imparato et al. (2003),
foi realizado para que os dentes não sofram alterações físico/químicas.
Ressalta-se que estes cuidados de extração e limpeza dos dentes extraídos de
bovinos foram devidamente adotados apesar da literatura não informar nada a
respeito, pois vários autores nem sequer informaram as condições das coletas nem
onde conseguiram seus espécimes, tais como XAVIER et al. (2009); DONASSOLO
et al. (2007); DUTRA-CORRÊA (2005); NASCIMENTO et al. (2005);
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DONASSOLO et al. (2007) Cita que devido a limitações éticas e de
disponibilidade de dentes humanos, as avaliações in vitro materiais odontológicos
têm sido realizadas com dentes de animais, principalmente em incisivos bovinos, por
sua facilidade de obtenção. E de acordo com DONASSOLO et al. (2007) o objetivo
do estudo foi avaliar in vitro a dureza superficial de dentes humanos e bovinos, em
esmalte e em dentina superficial, testando a hipótese de que há diferenças nos
valores de microdureza entre os dois substratos(esmalte ou dentina) e os três tipos
de dentes (bovinos e humanos decíduos ou permanentes). Porém mais uma vez não
foi encontrado ainda na literatura nenhuma procedência de dentes bovinos usados
para pesquisa na odontologia.
Como resultados efetivos em 2011 foram coletados um total de 249 dentes
bovinos sendo que 42 dentes bovinos foram cedidos para alunos do curso de
Odontologia do Centro Universitário do Triangulo, para procedimentos didáticos.
Para a cessão e/ou empréstimo o aluno ou pesquisador deve preencher uma ficha
cadastral para que se tenha controle do destino do órgão. A entrada e saída dos
dentes foram computadas, obtendo-se, assim, o controle do número em estoque. Os
termos de doação foram registrados e arquivados, assim como todas as fichas
cadastrais dos alunos e pesquisadores.
CONCLUSÃO
Concluímos que o BDB-Unitri tornou-se um projeto viável frente este modelo
de coleta de dentes bovinos em frigoríficos, possibilitando assim, o correto
fornecimento destes órgãos para futuras atividades de ensino e pesquisa.
AGRADECIMENTO
A aluna Luciana Mendes Barcelos agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais-Fapemig a bolsa de Iniciação Científica recebida.
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REFERÊNCIAS
CAMPOS et al. O Uso de Dentes Bovinos como Substitutos de Dentes Humanos em
Pesquisas Odontológicas: Uma Revisão da Literatura. Pesq Bras Odontoped Clin
Integr, João Pessoa, 8(1): 127-132, jan./abr. 2008.
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DUTRA-CORRÊA, M.; Avaliação das propriedades térmicas, químicas e
mecânica relacionando dente bovino e dente humano. São José dos Campos;
s.n; 2005. 170 p. (Dissertação de Mestrado apresentada a Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Odontologia de São José dos campos)
NASCIMENTO et al., Resistência ao desgaste de materiais odontológicos
comparados
FEMEC/UFU,
aos
esmaltes
dentário humano
Uberlândia-MG,
2005.
e
bovino
15º
POSMEC.
Disponível
em:
http://www.posgrad.mecanica.ufu.br/posmec/15/pdf/POSMEC048.pdf
Acesso em:
05/03/2010
XAVIER, et al.; Avaliação da rugosidade do esmalte de dentes bovinos clareados
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IMPARATO, J.C.P. et al. Banco de dentes humanos. Curitiba, Editora Maio, 2003.
DONASSOLO; Et al. Avaliação da microdureza superficial do esmalte e da dentina
de dentes bovinos e humanos (permanentes e decíduos) Rev. Odonto Ciênc., Porto
Alegre, v. 22, n. 58, p. 311-316, out./dez. 2007
GUIMARÃES et al. Efeito do tratamento endodôntico e da radiação gama do
Cobalto-60 na resistência flexural e dureza da dentina radicular humana e
bovina.
2010.
Disponível
em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/viewFile/4443/3229>. Ac
esso em 06 de setembro de 2011.

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