v. 3 - Colégio Energia Rio do Sul

Transcrição

v. 3 - Colégio Energia Rio do Sul
Língua Portuguesa B – 1ª série – Ensino Médio – v. 3
Exercícios
Professor(a), lembramos que as datas indicadas como início e término de uma escola literária têm
objetivo meramente didático, uma vez que a produção artística de modo geral vai sendo construída à
medida que vão se desenvolvendo as relações humanas, científicas, políticas, sociais e econômicas.
Desse modo, quando se indica uma data/evento/obra como elemento(s) propulsor(es) de uma linguagem artística, pretende-se oferecer ao aluno informações histórico-cronológicas que lhe possibilitem
ampliar as referências que já possui sobre a produção literária em estudo.
Suas leituras prévias e as de seus alunos enriquecerão o estudo, especialmente na relação com o
momento sócio-histórico em que o tema estiver sendo tratado, resgatando textos, imagens e outros,
inclusive de escolas literárias trabalhadas em volumes anteriores, evidenciando o que difere, o que
permanece ou evolui, o que é novo ou surge como reação ao que se tinha.
Em relação às questões discursivas, cabe ressaltar que não pretendemos apresentar respostas únicas
e definitivas; a intenção é contribuir com indicativos de interpretação, possibilidades de sentido,
alternativas para a provocação de discussão a respeito do questionamento apresentado.
No endereço apresentado a seguir, você encontra uma apresentação sobre o Arcadismo que pode
contribuir com as suas aulas.
Slide 1 – Educacional www.educacional.com.br/upload/.../Arcadismo_Geral_Brasil.ppt Similares
Formato do arquivo: Microsoft Powerpoint - Visualização rápida
A proposta de trabalho que inicia este material pressupõe que antes da leitura da imagem o
aluno tenha acesso a informações sobre o autor
dessa obra, assim como sobre as características
de sua produção artística. Para tanto, sugerimos
que se encaminhe junto aos alunos uma pesquisa
sobre o pintor francês Jean-Antoine Watteau ou
que se assista com eles a um vídeo disponível no
seguinte endereço: http://tvescola.mec.gov.br/
index.php?option=com_zoo&view=item&item_
id=720. Nesse local, além de informações mais
detalhadas sobre a obra Embarque para Citera/
Peregrinação para Citera e seu pintor, os alunos poderão observar com maior nitidez os
detalhes da obra em questão e obter algumas
informações sobre a simbologia da cena registrada pelo artista. Além do vídeo, sugerimos
a você, professor(a), a leitura de uma resenha
sobre a obra de Norbert Elias A peregrinação de
Watteau à ilha do amor, disponível em:<http://
w w w. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? p i d = S 0 1 0 2 69922005000100011&script=sci_arttext>.
A seguir disponibilizamos um texto adaptado para este material com algumas informações sobre
a obra Embarque para Citera/Peregrinação para Citera, de Watteau.
Embarque para Citera – Jean-Antoine Watteau (texto adaptado)
É um quadro do gênero de
ilustração das festas galantes
ou festas elegantes. Representa
uma ideia própria da poesia
francesa: uma viagem a uma
ilha de bem-aventurados na
qual reside o amor. Conta-se
que desde a Antiguidade essa
ilha tinha um templo dedicado a
Afrodite/Vênus, deusa do amor.
Citera representaria o símbolo
dos prazeres amorosos.
Propõe-se uma leitura dessa
composição de Watteau a partir
da direita para a esquerda, da
escultura do busto de uma deusa
(à direita) à popa do barco, através de uma diagonal formada
por vários casais em diferentes
atitudes amorosas. Esses casais
ocupam o primeiro plano e se
dirigem para um barco sobre o
qual dois remadores se preparam para marchar.
Watteau estabeleceu um
verdadeiro equilíbrio dentro
do quadro, distribuindo adequadamente seus diferentes
elementos. Por um lado pôde
compensar o desequilíbrio cria-
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do pelas linhas verticais entre as
árvores e o eixo da estátua. Por
outro distribuiu os diferentes
casais estruturando um ritmo
admirável na pintura, com um
sutil sentido de continuidade
entre os grupos de figuras que
compõem a obra.
Watteau pintou com pinceladas rápidas e vibrantes, sem
precisão nas linhas. As cores são
belas, predominando os cálidos
dourado e rosa, que estão acompanhados do verde ou do azul.
Mediante contrastes e gradações
de luz, representa os raios do sol
que assinalam, possivelmente,
o final do dia. Essa clareza descendente acrescenta mistério
ao quadro, criando confusão,
uma vez que não se sabe se os
casais estão chegando à ilha ou
se, pelo contrário, preparam-se
para abandoná-la.
A paisagem é idealizada, com
grandes árvores que dominam
todo o segundo plano. O lado
esquerdo está dominado pelo
azul do mar e do céu e pelo
rosado das montanhas longínquas. Essa misteriosa paisagem
neblinosa na distância recorda
as paisagens de Rubens e Leonardo da Vinci.
Os personagens são pequenos, mas foram minuciosamente
tratados, com especial atenção
aos efeitos de luz sobre as roupas
que vestem. Há neles elementos
alusivos a uma caminhada: cajados, capas (pelerines) e chapéus
de peregrinos.
Simbolismos na obra
Há na obra numerosos símbolos mitológicos, como a estátua de pedra que
representa Vênus, deusa do amor, ou a
popa da barca em forma de concha. Há
outros indícios mitológicos, como os anjos
(cupidos ou querubins) suspensos no ar.
Alude-se também, de maneira simbólica,
ao erotismo ou ao amor carnal.
Assim, o barco teria forma de cama, os
casais enlaçados evocam o amor, que se
interpreta como uma viagem das personagens à ilha de Citera, uma peregrinação
para a ilha dos prazeres e do amor.
O escultor Rodin considerava que Watteau havia representado uma cena de teatro
que enquadrava três ações sucessivas entre
os casais em destaque: proposição e súplicas do homem à mulher que duvida de
seu amor – o que a faz parecer indiferente
–, aceitação da amante convencida desse
amor e abandono do casal. O verdadeiro
sentido está na atitude ambígua dos casais
da direita, que representam passos ou momentos opostos ao cortejo: a vulgaridade,
o atraso, a indecisão e o amor.
Os três casais do primeiro plano representariam as etapas da sedução dos
apaixonados. Da direita para a esquerda,
observamos:
•o elogio galante. Um jovem, como o Cupido, atira
flechas no vestido da moça, como um alerta sobre
a sedução que começa entre ela e o galã com o
qual mantém uma conversa;
•o convite à dança. O galã, de pé, toma a jovem
mulher pelas mãos e convida-a a levantar-se;
•o enlace. É um terceiro casal que se dirige para
o barco. A jovem olha para trás com nostalgia,
como se lamentasse deixar a ilha onde passou
horas felizes, ainda que possivelmente lamente
a indiferença de sua paixão anterior. O casal está
acompanhado por um cachorro, que simboliza a
fidelidade.
À distância, uma série de figuras sobe a um soberbo
barco com querubins que o sobre­voam.
O mistério que envolve o quadro é que ele pode
provocar mais de uma interpretação, diferentemente
do que possa parecer à primeira vista: tanto é possível
encontrar indícios de que os casais estão chegando à
ilha, como de que estão saindo dela. Não se verifica
no quadro nenhum protesto social, comparando aristocratas e pessoas do povo, mas uma representação do
universo do teatro, inspirado na comédia.
Uma interpretação do tema é que o ato de deixar
a Ilha de Citera representa o abandono dos prazeres
da sedução para o amor concreto e real. Pode-se dizer que representaria uma passagem do sonho para a
realidade.
(Disponível em: <http://pt.wikilingue.com/es/Peregrinaci%C3%B3n_%C3%A0_ilha_de_Citera>. Acesso em: 14 jul. 2010.)
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Embarque para Citera, de Jean-Antoine Watteau, 1717.
Professor(a), para facilitar a análise da obra, se possível apresente a imagem em versão ampliada
– em lousa digital ou data-show.
01)Primeiro plano (da escultura para o barco)
a)Nesta cena aparecem homens e mulheres adultos, agrupados aos pares, além dos querubins.
b)É importante que os alunos percebam que na cena as pessoas estão dispostas em casais, com
exceção dos dois homens que seguram o barco com os remos. Pode-se deduzir que os pares
sejam casais apaixonados que desfrutam da companhia um do outro, que estão namorando.
c)Os três casais que estão em destaque – sob a grande árvore – parecem pertencer a uma classe
social mais abastada, considerando-se a aparência deles – as cores, as sobreposições de tecidos,
penteados, calçados e meias (homens). Quanto aos casais mais próximos do barco, por estarem
distantes, há poucas condições de observar detalhes de suas vestes. Percebe-se que usam roupas
de um colorido menos vibrante e que alguns homens utilizam chapéu.
d)Os anjinhos, querubins ou cupidos são personagens mitológicos que pertencem a um mundo
idealizado, distante do mundo concreto e real. Espera-se, no entanto, que os alunos percebam
essas figuras aladas como cupidos, que são personagens eminentemente mitológicos, símbolos
do amor. A presença de cupidos nesse ambiente intensifica o clima de namoro que os casais
e a própria Citera representa. O maior número de querubins ou cupidos sobre o barco pode
possibilitar a compreensão de que aquele é o barco do amor, ou um barco que transporta casais apaixonados para o paraíso do amor – a Ilha de Citera. Se no lugar de querubins o artista
tivesse representado crianças (ou bebês), a ideia de idealização, ainda assim, permaneceria,
pois seria irreal que crianças levitassem sobre as pessoas e o lugar. Mas crianças pairando no
ar (sem asas) não reforçariam a ideia de ilha do amor, dos prazeres amorosos, o santuário do
amor, que é o sentido de Citera.
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02)Segundo plano (o ambiente)
a)O lugar retratado é predominantemente
natural. Vê-se a estátua da deusa do amor
e árvores. Em destaque uma frondosa árvore sob a qual estão alguns casais. Mais
adiante o azul que pode representar o céu
ou a água e uma cadeia de montanhas ao
longe. Embora contenha duas construções
humanas – um barco e uma estátua –, o
que se destaca nesse ambiente é a natureza, privilegiando o convívio das pessoas
com o ambiente natural.
03)A mensagem
a)Há alguns elementos que indicam características desse local como a ilha mitológica
do amor e dos prazeres, tais como: a estátua de uma deusa do universo mitológico,
a predominância de casais de namorados
e a presença de querubins.
b)Festas galantes ou festas elegantes são expressões que nomeiam obras produzidas
antes da Revolução Francesa, consideradas de estilo rococó, que registravam
festas, bailes, comemorações em grandes
salões, adoção de roupas desse período,
enfim, registros dos encontros da aristocracia. Receberam esse nome porque
retratavam o ócio da sociedade cortesã da
época, que via o artista como capataz ou um
funcionário que registrava a vida dos aristocratas. Essas obras não se preocupavam
em promover a crítica social.
Espera-se que os alunos percebam que as
representações das festas elegantes apenas
retratavam com a maior fidelidade possível
a aparência dessas festas da aristocracia,
apresentando-as como ideais, como ambientes idílicos ou que remetiam a um ideal
da classe social retratada, a exemplo da obra
em estudo.
c)Se relacionarmos o ambiente retratado
nessa obra ao seu título (Embarque para
Citera/Peregrinação para Citera) e a partir
disso analisarmos as imagens tendo como
referência que Citera é uma ilha grega –
compreendida na época como a ilha do
amor e dos prazeres, um espaço mitológico
de sonhos e idealizações –, podemos entender que a obra de Watteau tem o objetivo de
representar uma passagem entre o real e o
imaginário. Desse modo, é possível compreender que o título da obra seja referência a
uma viagem que deixa o mundo concreto
e real rumo à ilha do amor e dos prazeres,
onde prevalecem os sonhos e a fantasia.
Professor(a), é importante discutir com os alunos que a leitura e compreensão de uma imagem,
especialmente de uma obra de arte, estão diretamente relacionadas às informações que o leitor tem
sobre o conteúdo a ser lido. Se no caso específico da obra de Watteau não soubéssemos que Citera é
uma ilha grega e não tivéssemos a informação de que em 1717 ela era considerada a ilha mitológica
do amor e dos prazeres, não seria possível compreendê-la como a representação de uma passagem
de um ambiente real e concreto (qualquer lugar ou nação) para outro imaginário (Citera).
Soneto XIV
04)O poeta vê os campos como um bem que se
transfere para o espírito (gênio/modo de ser) do
pastor como o bem da inocência. O campo é um
lugar de paz, e essa paz contamina os pastores.
05)Embora o pastor não tenha boa aparência,
na verdade ele é um cortesão interiormente, ou seja, um nobre cuja nobreza é
disfarçada por sua aparência simples.
É interessante chamar a atenção do aluno para a diferença existente entre a imagem de campo/
pastor, relacionada ao que há de positivo e bom, e a de cidade/corte ao que há de desprezível/
mal.
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Língua Portuguesa B
06)Ali se refere aos lugares de pastoreio e Aqui
às cidades ou centros urbanos. Os campos de
pastoreio são referenciados como o lugar de
amor e sinceridade, e a cidade como local de
sofrimento e de ausência de valores verdadeiramente humanos e dignos.
urbano, que poderia acarretar o isolamento
do indivíduo da sociedade em geral, ou que
colocar em prática esse projeto de vida seria
criar um lugar idealizado, uma espécie de
"ilha da fantasia", que seria capaz de repelir
a maldade.
07)Ali não há fortuna que soçobre seria equivalente a Ali não existe fortuna que naufrague,
que afunde, que desapareça. Isso é considerado um bem do pobre, porque a vida simples do campo é avessa à fortuna, vaidade e
ostentação, comuns nos centros urbanos.
11)A certeza dos amigos do peito, dos limites
do corpo e nada mais. A certeza que o eu
lírico quer ter revela a ausência de ambição,
contraria as expectativas próprias do mundo
capitalista de acúmulo de bens, propondo
uma valorização maior do ser.
08)A intenção do poeta é valorizar o campo, a
vida no campo; por isso diz que ali é lugar
de sinceridade e amor. A imagem do campo
é idealizada, um local puro, inocente, onde
as perturbações que acometem o viver não
conseguem penetrar. Para potencializar essa
ideia, diz que a vida nos centros urbanos
se caracteriza pela mentira, a hipocrisia, a
traição. Se o amor pode respirar apenas no
campo, então se pode dizer que ele é sufocado
na cidade, devido à mentira e à hipocrisia.
12)Carneiros e cabras pastando solenes no
meu jardim tem o sentido da convivência
pacífica, seres se respeitando, vivendo em
perfeita harmonia no mesmo hábitat. Outra possibilidade de interpretação é a que
reafirma a oposição ao ambiente urbano e
a valorização da simplicidade do ambiente
rural.
09)Tanto o Soneto XIV, de Cláudio Manuel da
Costa – campo e pastoreio –, quanto Embarque para Citera – Ilha mitológica do amor –,
de Watteau, indicam a idealização de um
lugar como possibilidade de felicidade, de
paraíso ou de boas influências (soneto). Outro
aspecto comum às duas obras é a valorização
da natureza, do lugar idealizado, especialmente daqueles em que as construções humanas são quase inexistentes, que apresentam
pouca interferência humana. Entretanto, é
importante destacar que na obra de Watteau,
se considerarmos os casais dispostos em primeiro plano, constatamos que a classe social
em evidência é a aristocracia. Contrariamente,
Cláudio Manuel da Costa prefere enaltecer a
simplicidade da vida dos pastores.
Casa no campo (música)
10)O projeto de vida defendido nessa composição é o de uma vida simples, longe da cidade e
perto dos amigos, lugar onde se possa viver livremente com tudo o que é precioso a alguém.
Pode-se pensar que o tipo de vida proposto
implicaria o abandono de um estilo de vida
13)Plantar meus amigos, discos e livros. Essa
metáfora pode significar que o eu lírico deseja ter sempre por perto seus amigos, discos
e livros.
Ficar do tamanho da paz. Isto é, encontrar
um lugar (casa no campo) onde se possa
ficar em paz, plenamente, sem espaço para
conflitos, com tranquilidade.
Destacam-se a seguir outras expressões que
possuem sentido figurado e que podem ser
compreendidas como metáfora, ou seja, uma
comparação em que não se explicita o termo
comparado, nem o termo comparativo, nem o
ponto de comparação (Campedelli; Souza,
1999):
O silêncio das línguas cansadas – pode-se ficar em silêncio por várias razões: por não
se ter o que dizer, por não se querer dizer ou
porque se quer apenas descansar. O silêncio
das línguas cansadas é o silêncio de quem sabe
o que dizer, mas prefere descansar ou se calar
momentaneamente.
A esperança de óculos – os óculos são um
acessório que auxilia o ser humano a enxergar
melhor, com mais nitidez, a ver melhor como
as coisas são. Assim, pode-se dizer que querer
uma esperança de óculos é querer uma espeLíngua Portuguesa B
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rança consciente do mundo a sua volta, não uma
esperança ingênua, infundada ou impossível.
É importante dialogar com os alunos e verificar
como eles compreendem outras expressões poéticas (versos), como ter somente a certeza dos amigos
do peito e nada mais; somente a certeza dos limites
do corpo; ter um filho de cuca legal e outras.
14)Embora a composição analisada seja da década
de 70, portanto muito posterior à produção de
Cláudio Manuel da Costa (1768) e ainda mais
distante da obra de Watteau (1717), há em
comum entre essas obras o sonho humano de
encontrar um local ideal, próximo à natureza,
onde se possa ser feliz, cercado de bons amigos
ou de pessoas que façam o bem. O ideário de
viver feliz com a simplicidade do campo está
presente tanto na obra do poeta Cláudio Manuel
da Costa quanto na de Zé Rodrix, Tavito e do
pintor francês. Watteau, no entanto, é o grande
intérprete do refinamento das elites francesas
do século XVIII, antes da Revolução Francesa.
Mesmo assim, cenas campestres e referências
pastoris constituem o seu universo temático, a
exemplo dos textos do Arcadismo.
16)E
•Em “Que alegre campo! Que manhã tão
clara!” fica evidente a exaltação da natureza, o bucolismo.
• Em Amores (observe-se a grafia com
inicial maiúscula) o autor faz alusão a
cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido, valorizando
a cultura greco-romana.
17)B
I. Incorreta. O imperativo afirmativo do
verbo ouvir é OUVE TU (Presente do
Indicativo de ouvir é tu ouves), e não
ouça.
II. Correta. A forma verbal VÊ está no
imperativo e expressa um convite do
eu lírico para que a amada se delicie
com ele do belo cenário.
III. Incorreta. A forma verbal VÊS está no
presente do modo indicativo (tu vês) e
não significa que a amada já viu o que
seu amado lhe mostrou
Como perceber a poesia árcade
18)22
15)A proposta de viver no campo presente na composição de Zé Rodrix e Tavito atende ao ideário
árcade do fulgere urbem (fugir da cidade): quero
uma casa no campo [...]/ compor muitos rocks
rurais [...]/carneiros e cabras pastando [...].
Ao instituírem a natureza como refúgio para o
poeta, os compositores brasileiros aproximam-se do desejo de busca do locus amoenus (lugar
ameno): onde eu possa ficar do tamanho da
paz [...]/ nada mais. Dessa forma, reforçam
a intenção de aurea mediocritas, ou seja, de
uma vida simples em relação ao consumismo
e ao desejo desenfreado de acúmulo de bens
materiais (plantar e colher com as mãos/ [...]
tamanho ideal, pau a pique e sapê [...]). No
entanto, esse estilo de vida deverá ser rico em
realizações espiri­tuais (amigos, discos e livros
[...]/ filho de cuca legal / ficar do tamanho da
paz [...]). Carpe diem – viver o momento presente intensamente, cada dia como se fosse o
último – é uma atitude neoclássica que pode
ser observada no último verso: meus discos e
livros e nada mais.
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Língua Portuguesa B
O Arcadismo no Brasil
AUTORES BRASILEIROS
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)- Soneto XIII
Sobre a poesia de Cláudio Manuel da Costa
[...] O amor aparece na poesia de Cláudio,
a exemplo de outros autores, como o sentimento que vivifica, e sua perda é igualada
à desumanização e à morte: [...] A busca da
amada está presente de maneira direta em
quase todos os sonetos e, naqueles em que
esse tema não é explícito, a melancolia do
texto e a ideia de um poema maior mantêm a
continuidade da falta. Nessa busca, o pastor
canta o nome de várias mulheres, sendo Nise
sua "figura predileta" (Lopes, 1975, p. 21). O
chamado "ciclo de Nise" (p. 30), composto por
16 sonetos, sendo 12 em português e 4 em italiano, apresenta a mulher amada que se torna
a presença mais marcante dos sonetos. Assim
como Dante exaltou Beatriz, Petrarca cantou
Laura, Camões teve Natércia como amada e Tomás Antônio Gonzaga tornou-se o Dirceu de sua
Marília, o arcadismo de Cláudio o transformou
no lírico de Nise. Em Hesíodo, aparece o nome
Nesea; em Camões, existe uma ninfa marinha
com o nome Nise. Alguns consideram que Nise
provém da combinação das letras do nome Inês,
que possui sua origem em Agnes, significando
a pureza. No entanto, nenhum desses nomes
serve como referência para a Nise pastoril de
Cláudio Manuel da Costa. A mulher amada
por Cláudio, geralmente nomeada por Nise,
apresenta-se como a "desejada inacessível"
(Lopes, 1975, p. 22) e possui como provável
imagem prototípica a Nise cantada por Virgílio
e que não cede aos apelos de Damon.
O jogo de espelhos provocado pela inacessibilidade da amada que se faz presente na lembrança cria um duplo sofrimento, pois, ausente
no mundo externo e presente no mundo interno,
Nise inscreve o amor impossível, configurando
a falta: "É uma temática em que Cláudio não
tem competidores em nossa língua. A tomada
de consciência da falta por meio da auto-observação e do estrago causado pelo sentimento
da perda". (Lopes, 1997, p. 127) Dentre todos
os sonetos de Cláudio Manuel da Costa, o mais
conhecido, que faz parte do ciclo de Nise, é o
de número XIII, "que é o mais verdadeiro dos
poemas que tratam do delírio amoroso" [...].
O pastor Fido mostra-se sempre fiel ao amor
de Nise, que, com total liberdade, se apresenta
como o desejo que se torna difícil de alcançar.
Levando em consideração que a poesia do grupo
mineiro é a representação artística dos ideais
libertários que não se fizeram possíveis, não é
improvável que Nise, "o mais querido nome de
mulher" (Lopes, 1975, p. 21) presente nos sonetos de Cláudio, seja a configuração da liberdade,
desejada e amada, mas que ficou reservada para
um período tardio.
(MELO, Walter. Disponível em: <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/psicousp/v18n1/
v18n1a06.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.)
Soneto XIII
19)Pode-se dizer que o eu lírico é alguém que
procura muito por Nise e não a encontra;
sua amada é inacessível (LOPES). O corpo
de eu lírico entra em desespero: a vista se
dilata, os olhos giram, suspira desesperado
sem encontrá-la. No 4º verso o pronome te
junta-se ao verbo encontrar (encontrar-te).
20)O contexto nos permite deduzir que:
•O sentido de cuido no verso 7 pode ser entendido como fico atento, presto atenção,
escuto com cuidado.
•O sentido de cuidei, no verso 8, pode ser
achei/pensei que ouvia.
21)O eu lírico pede às grutas, aos troncos e aos
grandes penhascos que mostrem Nise caso ela
se esconda entre eles. É como se a natureza
exercesse o papel de confidente, participando
da desventura amorosa do poeta, escutando
suas queixas, sendo testemunha de seu desespero.
22)Para que o eu lírico não sofresse desventura
seria necessário que existisse eco, que ao
menos o eco repetisse seu chamado. Como
isso não acontece, ele vê como certa essa
desventura.
23)Pode-se dizer que na realidade Nise não existe, pelo menos no cenário descrito, pois ele
não a encontra em lugar algum e nem sequer
consegue ouvir o nome dela. Mesmo quando
pensa ouvir o nome da amada, confirma a
seguir que isso não acontecia – era mentira
(verso 7).
Pode-se dizer que na realidade Nise não existe. Nise era sua amada idealizada, era fruto de
sua imaginação.
24)De acordo com a norma culta, utiliza-se o
advérbio aonde somente em contextos que
indicam movimento. No entanto, em Onde
estás? o verbo estar não indica movimento e
é a ele que se referem os advérbios seguintes:
Aonde? Aonde? Uma das justificativas possíveis para a utilização do advérbio aonde é a
importância dada à regularidade do número
de sílabas poéticas – a métrica –, que permite
aos poetas certa flexibilidade no uso da linguagem, a chamada licença poética. Outra
forma de explicar a utilização de aonde num
contexto linguístico que solicita a utilização
de onde pode ser a que transcrevemos a seguir, de um texto da professora Maria Tereza
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de Queiroz Piacentini, que pode esclarecer o
uso que Cláudio Manuel da Costa fez desses
advérbios, em meados de 1700, no Soneto XIII.
Onde/Aonde
M. T. Piacentini
tem ligação com onde/aonde, qual seja, o verbo
principal (o que vem por último). É o caso desta
frase, retirada da revista IstoÉ:
•Na terça-feira, antes de viajar para Madri,
onde foi receber o prêmio "Príncipe de
Astúrias", o presidente Fernando Henrique
Cardoso estava preocupado com a retomada da onda de violência nos Estados.
Desde logo devo esclarecer [...] que na fala
pouco se faz distinção entre onde e aonde – a
diferença de pronúncia é pequena, então não se
costuma reparar muito nisso. Aliás, na língua
clássica essa distinção não existia. [...]
Onde = lugar em que/ em que (lugar). Indica
permanência, o lugar em que se está ou em que
se passa algum fato. Complementa verbos que
exprimem estado ou permanência e que normalmente pedem a preposição em:
Uma frase que merece comentário à parte:
Nossos produtos vão até onde (ou aonde?) você
está.
Como se pode usar até a ou simplesmente
até (pela questão da ambiguidade de que falei
no artigo Não Tropece na Língua, n. 4), valem
as duas formas:
•Onde estás? – Em casa.
•Você sabe onde fica o Sudão? – Na África.
•Onde moram os sem-terra?
•Não entendo onde ele estava com a cabeça
quando falou isso.
•De onde você está falando?
•Não sei onde me apresentar nem a quem me
dirigir.
Só que, nesse caso, tão importante quanto
escrever corretamente é escrever com estilo.
Voto, portanto, na frase (1).
Aonde = a que lugar. É a combinação da preposição a + onde. Indica movimento para algum
lugar. Dá ideia de aproximação. É usado com os
verbos ir, chegar, retornar e outros que pedem a
preposição a. Exemplos:
•Aonde você vai todo dia às 9 horas? –
A Brusque.
•Sabes aonde eles foram? – Ao cinema.
•A mulher do século 21 sabe muito bem aonde quer chegar.
•Não sei aonde ou a quem me dirijo.
•Aonde nos levará tamanha discussão?
•Faz três dias que saiu do Incor, aonde deverá
retornar brevemente para uma revisão.
•Estavam à deriva, sem saber aonde ir.
•Há lugares no universo aonde não se vai
sozinho.
É preciso atentar para a colocação desses termos quando complementam uma locução verbal
com o verbo auxiliar ir, que pode confundir o
redator. O que interessa observar é o verbo que
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Língua Portuguesa B
1.Nossos produtos vão até onde você quiser.
2.Nossos produtos vão até aonde você quiser.
(Disponível em: <http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=40&rv=Gramatica>. Acesso
em: 28 jul. 2010.)
25)Se o pássaro quiser ser inconveniente, ou
se não tiver ciência dos tormentos que o eu
lírico vive, deve cantar para trazer-lhe um
doce contentamento. Mas se, contrariamente, quiser ser favorável a ele, deverá erguer
o corpo, romper os ares e procurar a amada
do eu lírico.
26)Segunda estrofe – 1o verso: não cantes/ não
cantes – Imperativo negativo;
2º verso: Se me queres ser propício (quer
dizer: se queres agradar a mim) – a locução
verbal está no presente do indicativo;
3º verso: Eu te dou (presente do indicativo)
que me faças (presente do subjuntivo).
Se considerarmos que a forma verbal do
primeiro verso (não cantes – imperativo
negativo) é repetida, poderemos dizer que o
modo indicativo é predominante na segunda
estrofe, pois está presente no 2º e 3º versos.
27)A trajetória até a casa de Marília expressa no
poema envolve os seguintes lugares: Sobe
a serra, e se cansares/Descansa num
tronco dela. (3ª estrofe)
Passa uma formosa ponte,/Passa a segunda e a terceira. (5ª estrofe)
O leitor pode observar que o sujeito lírico
direciona o seu olhar para a paisagem
geográfica de Minas e também recria
as construções da cidade de Vila Rica,
tais como: a ponte, a igreja, o palácio e
a janela da casa de Marília.
(LEAL, Rachel Pantalena. Disponível em: <http://www.mafua.ufsc.br/rachelpantalena.html>. Acesso em: 28 jul. 2010.)
Esse roteiro assinalado pelo eu lírico
sugere uma paisagem acidentada com serra, árvores e rios (três pontes). Assim, essa
paisagem pode ser considerada incompatível com um lugar ameno (locus amoenus)
próprio dos pastores, afinal Vila Rica possui
uma topografia íngreme e montanhosa,
muito distante do ideal propício a campos
de pastagem e rebanhos. Percebe-se, no
entanto, a preocupação do poeta em registrar a valorização da natureza árcade – essa
que se revela como referência importante,
idealizada, que compõe o cenário poético.
28)Marília mora em um palácio, como indica o verso Tem um palácio defronte. A
casa onde habita sua Marília é idealizada
ou possui características opostas àquelas
que seriam próprias da simplicidade da
moradia de uma pastora, pois um palácio é destinado à moradia de pessoas
nobres, monarcas, alguém do alto poder
eclesiástico, de um chefe de Estado, etc.
Obs.: Os alunos podem entender que a
primeira questão se refere à localização
da “casa” (palácio) de Marília. Uma
possível resposta:
A casa em que se encontra Marília,
localiza-se em Minas Gerais, depois de
Porto Estrela, no alto da serra, onde há
árvores em uma grande terra, ao lado
esquerdo de uma igreja nova, após três
pontes (uma delas formosa) e em frente
a um palácio. Pela descrição, observa-se
que a casa deve se localizar em região
próxima à área urbana.
29)Verso 23: É da sala onde assiste/ A minha Marília
bela
a)O verbo assiste, nesse contexto, pode ser
compreendido como o local onde se encontra
a amada do poeta: é da sala onde permanece/
onde está a minha Marília bela. Outra possibilidade de interpretação é: ao pé da porta há
uma rasgada janela – a da sala – onde Marília
vê (o mundo). É lá que o passarinho pode
encontrá-la.
b)Aonde acompanha o verbo assistir, e se considerarmos que seu sentido nesse contexto é
o de indicar o lugar onde Marília vê/está, a
norma culta atual indicaria o uso de onde, não
de aonde.
30)a)Nesse contexto a palavra talhe faz referência
ao corpo de Marília e pode ser entendida como
porte ou configuração física da amada.
b)Marília é uma moça alegre (risonha) e a mais
bela de todas (a mais formosa)
c)Rosto redondo, sobrancelhas arqueadas, cabelos negros e finos, pele clara – a mais formosa.
Ela é descrita como um modelo de beleza.
[...] Marília que é, por sua vez, descrita fisicamente como uma mulher bela, pois possui o "semblante redondo", as "sobrancelhas arqueadas",
as "faces cor-de-rosa", as "carnes de neve" e os
"cabelos negros e finos". E é entre todas as mulheres a mais formosa, representando um modelo
de beleza e perfeição como a própria natureza
árcade.
[...] A personagem Marília "surpreendentemente
e em assimetria com os outros personagens da
Arcádia (poetas ou amadas) é a única a manter
o seu nome literário o tempo inteiro" (ZAGURY,
1973. p.85). Nos cinco poemas que tratam da personagem Marília, diferentes imagens femininas
são construídas, tais como a Pastora, a amada
que borda o lenço do exílio, a inconformada e a
velha. Os poemas: o "Romance LXX ou do lenço
do exílio", a "Imaginária serenata" e o "Romance
LXXIII ou da Inconformada Marília" vão explorar
o sofrimento amoroso; já os poemas: o "Retrato de
Marília em Antônio Dias" e o "Romance LXXXV
ou do testamento de Marília" referem-se à velhice
da mulher.
(OLIVEIRA, Ilca Vieira de. Disponível em: <http://www.ufesc.br/seminariomulher/anais/pdf/ilca%20
viera%20de%20oliveira.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2010.)
Língua Portuguesa B
9
31)O momento em que a parte II da poesia lírica de Gonzaga foi produzida era de intensa
movimentação política no Brasil. Sabe-se
que Tomás Antônio Gonzaga foi um inconfidente mineiro preso e deportado para
Moçambique, onde morreu. Provavelmente
esse contexto histórico é relevante para que
se analise os versos da última estrofe: Dize,
que sou eu quem te mando,/Que vivo nesta
masmorra,/ Mas sem alívio penando. Esses
versos permitem a compreensão de que o eu
lírico encontrava-se num cárcere ou prisão
subterrânea e que sofria muito (penando sem
alívio) distante de sua amada Marília. Assim,
percebe-se uma coincidência entre o estado
do poeta e o do eu lírico.
Obs.: Professor, na última estrofe desse poema há uma vírgula que a norma culta não
recomendaria. Tal situação possibilita que se
proponha aos alunos o seguinte desafio: Na
última estrofe da Lira XXXVII há uma vírgula
que, segundo a norma-padrão, foi utilizada
inadequadamente. Qual é? Explique.
Espera-se que o aluno perceba que a segunda
vírgula dessa estrofe – Dize, que sou eu – é
inadequada, pois a expressão que sou eu não
deveria ser separada do verbo dizer, uma vez
que lhe completa o sentido, exercendo a função de complemento verbal (objeto direto).
32)Relembrando: o modo imperativo é formado a
partir do presente do indicativo e do presente
do subjuntivo. Do presente do indicativo,
derivam-se a segunda pessoa do singular (tu)
e do plural (vós), retirando-se a letra s. As
demais pessoas (ele, nós, eles) conjugam-se
como o presente do subjuntivo. O imperativo
negativo é o presente do subjuntivo conforme
foi utilizado por Gonzaga na 2ª estrofe – Não
cantes, mais não cantes.
O imperativo é utilizado para manifestar ordem ou apelo pela concretização da ação. São
ações não realizadas que o falante quer ver
consumadas. A leitura do poema possibilita
entender que o eu lírico ordena ao passarinho
que faça com que ele encontre sua amada.
Ergue o corpo, os ares rompe,
Procura o Porto Estrela,
Sobe a serra, e se cansares,
Descansa num tronco dela.
10
Língua Portuguesa B
Toma de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.
Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda e a terceira
Tem um palácio defronte.
Segundo o professor Sérgio Nogueira, o imperativo não é tão violento (no sentido de
ordem) como se imagina. Pode ser utilizado
como um convite para que a pessoa faça
aquilo que está sendo aconselhada. Assim,
o verbo na forma imperativa não é utilizado
apenas para dar ordem, mas também para
fazer um convite, aconselhar e, até, implorar.
Talvez seja essa a intenção do eu lírico na lira
XXXVII, pois na época em que publicou esse
poema (1799 – Parte II de Marília de Dirceu)
estava preso por ser um dos inconfidentes
mineiros e por isso não conseg bservar nos
últimos versos – Dize, que sou quem te mando, / Que vivo nesta masmorra, / Mas sem
alívio penando.
O professor Nogueira aponta ainda que há
também um lado psicológico para o uso do
imperativo, que seria utilizar essa forma
verbal como um recurso para fazer o outro
prestar mais atenção, focar naquilo que se
está dizendo, sem necessariamente parecer
uma ordem.
Extraído e adaptado de <http://oglobo.globo.com/emprego/na-hora-de-dar-dicas-uso-do-imperativo-chama-atencao-ao-que-se-esta-falando-3165254>. Acesso em: 03.jul.2012.
33)A alternativa B é a única que não está de acordo com os recursos de construção do texto de
Tomás Antonio Gonzaga, pois o predomínio
de períodos curtos por si só não é suficiente
para facilitar a compreensão e assimilação
das ideias nele contidas.
Cartas chilenas - Carta 1
Professor(a), sobre Cartas chilenas, de Tomás
Antônio Gonzaga, sugerimos os seguintes endereços eletrônicos que podem ampliar os seus
conhecimentos sobre essa obra árcade:
• www.bibliotecadigital.unec.edu.br/ojs/index.php/unec02/article/
• http://dominiopublico.qprocura.com.br/dp/92933/As-cartas-chilenas-sob-uma-perspectiva-da-historiografia-linguistica.html
34)a)Esses versos poderiam ser assim escritos:
[O que poderás contar de tanto valor, que
valham tanto quanto vale] dormir em cama
macia, confortável, em noite fria, com chuva
de granizo e ventos fortes que movimentam
grandes ramos das árvores?
b)
Acorda, se ouvir queres coisas raras./Que
coisas, (tu dirás), que coisas podes/Contar
que valham tanto, quanto vale/ Dormir a
noite fria em mole cama,/Quando salta a
saraiva nos telhados/E quando o sudoeste
e outros ventos/Movem dos troncos os frondosos ramos?
Critilo procura motivar/convencer Dorotheo
(ou aqueles que leem sua carta) de que as
notícias que contará são dignas de se abandonar todo o conforto de que se desfruta
para tomar conhecimento das novidades
que anunciará.
Professor(a), seria interessante ressaltar
que, embora as Cartas chilenas tenham
sido endereçadas a Dorotheo, foram lidas
pelo público em geral e pode-se compreender também que tal solicitação (Acorda
se queres ouvir coisas raras) seja dirigida
ao povo brasileiro, mais especificamente
ao povo mineiro, sobre a exploração a que
está sendo submetido por seu governo.
Resumo de Dom Quixote
35)O trecho a que a questão se refere é: Não falta
tempo em que do sono gozes:/Então verás
leões com pés de pato/Verás voarem tigres e
camelos. Nesse trecho, Critilo diz a Dorotheo
que mais tarde ele poderá dormir (não faltará
tempo), mas se ele acordar para o que está
acontecendo, verá muitos absurdos tais como:
leões com pés de pato, e tigres e camelos voando. Isso quer dizer que, se ele prestar atenção
a sua volta, poderá ver os absurdos que estão
acontecendo.
36)Os incultos gentios mencionados no verso 44 é
uma referência aos índios, àqueles que não são
civilizados, entre os quais existem nações que
furam os beiços, outras que matam os pais que
ficam debilitados quando envelhecem. Todas
essas notícias já são velhas para o(s) leitor(es)
da carta. Não é sobre os índios as novidades
que o narrador pretende contar. Essa referência
a eles nesse contexto é um modo de motivar
o(s) leitor(es) para a novidade que virá.
Contudo, professor, seria interessante
chamar a atenção dos alunos para o modo
como o texto refere-se aos índios, as características que salienta desse povo. Muito
provavelmente hoje não se faria referência
aos índios desse jeito.
Após o nosso – Cavaleiro da Triste Figura
– ler tantos livros de cavalaria andante, enlouquece, veste uma armadura velha e convida
seu vizinho Sancho Pança, um ingênuo e materialista lavrador, para ser seu fiel escudeiro,
que aceita seguir o fidalgo pela promessa de
uma ilha governar. Saem pelo mundo querendo Dom Quixote endireitar o que está torto.
Pensando em salvar os fracos e oprimidos,
donzelas em perigo e tantos outros injustiçados, faz confusões com rebanho de ovelhas,
atos de bravura diante de leões, declarações à
amada Dulcineia e ao encontrar moinhos de
vento, confunde-os com gigantes. Se Cervantes
ao início de sua obra teve a intenção de apenas
satirizar os livros de cavalaria, foi além, ao
mostrar a eterna luta do homem vivendo entre
o sonho e a realidade e sua obra transformou-se num verdadeiro sentido universal da vida.
Revela sentimentos, paixões, fraquezas e grandezas do ser humano. Sua história extrapolou
os limites da literatura e da arte para se fazer
presente em momentos da vida de todos nós.
Dom Quixote e Sancho Pança tornaram-se
símbolos e protótipos da vida humana. Quixotismo incorporou-se no vocabulário de todas
as línguas para designar o comportamento
daquele que sobrepõe a fantasia à realidade,
o idealismo ao realismo o desprendimento à
conveniência. Há em Dom Quixote uma identidade com as pessoas reais, já que o homem
está sempre aquém da imagem que faz de si
mesmo e dos ideais a que aspira. Entretanto,
muitas vezes também somos Sancho Pança
por cobiça (ou outro intuito qualquer) e não
por idealismo. Sancho Pança dispôs-se a se
meter naquela aventura e deixar-se levar pelo
delírio do amo, ainda que em troca de nada,
ou melhor, em troca de preferir o sonho à banalidade do real.
(Disponível em: <http://pt.shvoong.com/humanities/1625947-dom-quixote-sancho-pan%C3%A7a-identidade/>.)
Língua Portuguesa B
11
Sua abnegação pelo amigo é tal que Sancho Pança
dedica sua vida a ajudar Dom Quixote sem pensar em
seus próprios interesses.
Tema central: Pelo Tratado de Madri,
celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas,
no Uruguai, deveriam passar da Espanha
a Portugal. Os portugueses ficariam com
Sete Povos das Missões e os espanhóis,
com a Colônia do Sacramento. Sete Povos
das Missões era habitada por índios e
dirigida por jesuítas, que organizaram a
resistência à pretensão dos portugueses. O
poema narra o que foi a luta pela posse da
terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire
de Andrade. Basílio da Gama dedica o
poema ao irmão do Marquês de Pombal
e combate os jesuítas abertamente.
[...]
37)Primeiramente, Sancho Pança é o amigo ingênuo
e inseparável do herói Dom Quixote, personagem
principal do romance do espanhol Miguel de Cervantes, na viagem que empreendem até a ilha em
que vão governar. Sancho está sempre pronto para
ajudar o enlouquecido herói a transpor os piores
obstáculos, superando todas as dificuldades que
ele e o fidalgo encontram durante a viagem. Entretanto, é um aventureiro que se deixa levar pelo
delírio de seu amo, preferindo o sonho à realidade.
Um imitador à Sancho Pança que no contexto das
Cartas Chilenas pode ser compreendido como um
chefe que irá governar sobrepondo a fantasia à realidade, o idealismo ao realismo, o desprendimento
à conveniência.
Resumo da narrativa
38)Ele vai contar a história do regente da Capitania
das Minas Gerais (nosso Chile) entre 1783 e 1788,
o senhor Luís da Cunha Meneses – portanto trata-se da história de um político, e da forma como ele
governava.
Diferente do modelo camoniano de
dez cantos Basílio da Gama opta por um
poema épico de apenas cinco cantos,
constituídos por versos brancos, ou seja,
versos sem rimas.
39)Os quatro últimos versos do texto: Que o gesto,
mais o traje nas pessoas/Faz o mesmo que fazem
os letreiros/Nas frentes enfeitadas dos livrinhos,/
Que dão, do que eles tratam, boa ideia, segundo o
contexto, significam que o modo como as pessoas
agem, aliado à forma como se vestem, indica quem
elas são, anuncia como se organizam interiormente,
do que gostam, em que acreditam.
Canto I: Saudação ao General Gomes
Freire de Andrade. Chegada de Catâneo.
Desfile das tropas. Andrade explica as
razões da guerra. A primeira entrada dos
portugueses enquanto esperam reforço
espanhol. O poeta apresenta já o campo
de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e,
voltando no tempo, apresenta um desfile
do exército luso-espanhol, comandado
por Gomes Freire de Andrade.
José Basílio da Gama (1741-1795)
Professor, sugerimos um endereço onde é possível
encontrar outras informações sobre a obra O Uraguai,
de José Basílio da Gama: <http://profalufonseca.blogspot.com/2007/09/baslio-da-gama-o-uraguai-uma-epopia.html>. A seguir transcrevemos uma análise
dessa obra.
Canto IV - A morte de Lindoia
Análise da obra: O Uraguai, poema épico de 1769,
critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do
autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas
defendiam os direitos dos índios para serem eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno
dos eventos expedicionários e de um caso de amor e
morte no reduto missioneiro.
12
Língua Portuguesa B
Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É
relatado o encontro entre os caciques Cepê
e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio
Uruguai. O acordo é impossível porque os
jesuítas portugueses se negavam a aceitar
a nacionalidade espanhola. Ocorre então
o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo
dos europeus. Cepé morre em combate.
Cacambo comanda a retirada.
Canto III: O General acampa às margens
de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa
e sonha com o espírito de Cepê. Este incita-o a
incendiar o acampamento inimigo. Cacambo
atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois,
regressa para a sede. Surge Lindoia. A mando de Balda, prendem Cacambo e matam-no
envenenado. Balda é o vilão da história, que
deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em
lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte
crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões
a Lindoia: a índia "vê" o terremoto de Lisboa,
a reconstituição da cidade pelo Marquês de
Pombal e a expulsão dos jesuítas.
Canto IV: Maquinações de Balda. Pretende
entregar Lindoia e o comando dos indígenas
a Baldeta, seu filho. O episódio mais importante: a morte de Lindoia. Ela, para não se
entregar a outro homem, deixa-se picar por
uma serpente. Os padres e os índios fogem
da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O
exército entra no templo. O poema apresenta
então um trecho lírico de rara beleza:
Abandona a linguagem mitológica, mas ainda adota o maravilhoso, apoiado na mitologia indígena.
Foge, assim, ao esquema tradicional, sugerido pelo
modelo imposto em língua portuguesa, Os Lusíadas. Por todo o texto, perpassa o propósito de crítica
aos jesuítas, que domina a elaboração do poema.
A oposição entre rusticidade e civilização, que
anima o Arcadismo, não poderia deixar de favorecer, no Brasil, o advento do índio como tema
literário. Assim, apesar da intenção ostensiva de
fazer um panfleto antijesuítico para obter as graças
de Pombal, a análise revela, todavia, que também
outros intuitos animavam o poeta, notadamente
descrever o conflito entre a ordenação racional da
Europa e o primitivismo do índio.
Variedade, fluidez, colorido, movimento, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do
poema, não obstante equilibrados e serenos. Ele
será o modelo do decassílabo solto dos românticos.
Além dessas, outras características notáveis
do poema são:
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!
Sensibilidade plástica: apreende o mundo sensível com verdadeiro prazer dos sentidos. Recria
o cenário natural sem que a notação do detalhe
prejudique a ordem serena da descrição.
Com a chegada das tropas de Gomes
Freire, os índios se retiram após queimarem
a aldeia.
[...]
Senso da situação: o poema deixa de ser a
celebração de um herói para tornar-se o estudo
de uma situação: o drama do choque de culturas.
Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta
dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas,
colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas.
Eram opiniões que agradavam ao Marquês de
Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José
I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade
que respeita e protege os índios sobreviventes.
Simpatia pelo índio, que, abordado inicialmente por exigência do assunto, acaba superando no
seu espírito o guerreiro português, que era preciso
exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar.
Como filho da "simples natureza", ele aparece não
só por ser o elemento esteticamente mais sugestivo,
mas por ser uma concessão ao maravilhoso da
poesia épica.
Apreciação crítica
O poema é escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, mas é possível
perceber a sua divisão em partes: proposição,
invocação, dedicatória, narrativa e epílogo.
Devido ao tema do índio, durante todo o Romantismo, o nome de Basílio da Gama foi talvez
o mais frequente, quando se tratava de apontar
precursores da literatura nacional. Convém, entretanto, distinguir neste poeta o nativismo do
interesse exterior pelo exótico, havendo mesmo
predomínio deste, pois o indianismo não foi para
ele uma vivência, foi antes um tema arcádico
transposto em linguagem pitoresca.
Língua Portuguesa B
13
O preto africano lhe feriu a sensibilidade
também, tendo sido o primeiro a celebrá-lo no
poemeto Quitúbia, mostrando que a virtude é
de todos os lugares.
Basílio foi poeta revolucionário com seu
poema épico. Enquanto Cláudio trazia ao Brasil
a disciplina clássica, Basílio, sem transgredi-la
muito, mas movendo-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levava à Europa o
testemunho do Novo Mundo.
(Disponível em: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/
o/o_uraguai>.)
40)Embora se encontrem características do lugar em outros versos, tem-se a descrição do
lugar até o 8º verso.
a)De acordo com as informações contidas
no poema, é possível imaginar que o
lugar que Lindoia escolhe para morrer
fica numa floresta com alta densidade
de árvores, por isso é uma parte negra e
escura do bosque, ... ao pé de uma lapa
cavernosa, quer dizer próximo a uma
caverna, local onde existe água corrente
(rouca fonte que murmura), numa curva
onde há relva além de rosas e jasmins.
b)Lindoia preferia a morte a entregar-se a
outro homem que não fosse Cacambo,
seu grande amor. Então escolhe um lugar
na floresta onde existiriam serpentes que
pudessem picá-la e assim morreria envenenada, de modo que não seria mulher de
outro homem.
41)Caitutu lança a flecha (versos 25 – 35) e
atinge a serpente na testa, e a boca, e os
dentes (verso 29) cravando a flecha com a
serpente num tronco onde o irado monstro
se contorce e deixa escorrer sangue e veneno.
42)A morte de Lindoia não foi acidental, pois
foi ela própria quem escolheu o lugar e como
morrer – a voluntária morte (verso 48). Ela
foi ferida no peito, onde o irmão encontra as
marcas dos dentes da serpente e reconhece
no rosto da irmã os sinais do veneno.
43)Cacambo é o nome do esposo amado de
Lindoia – nome que ela havia registrado na
entrada da gruta onde tudo aconteceu.
14
Língua Portuguesa B
José de Santa Rita Durão – (1722-1784)
Uma bem humorada descoberta do Brasil
Caramuru – (Fragmento – Canto II)
Enquanto a luta se desenvolve, Diogo, magro
e enfermo para a gula dos canibais, veste a armadura e, munido de fuzil e pólvora, sai para
ajudar os seis companheiros que serão comidos.
Na fuga, muitos índios buscam esconderijo na
gruta, inclusive Gupeva que, ao se deparar com
o lusitano, saindo daquele jeito, cai prostrado,
tremendo; os que o seguiam fazem o mesmo;
todos acham que o demônio habita o fantasma-armadura.
Álvares Correia, que já conhecia um pouco a
língua dos índios, espera amansá-los com horror
e arte. Levantando a viseira, convida Gupeva a
tocar a armadura e o capacete. Observa, amigavelmente, que tudo aquilo o protege, afastando o
inimigo, desde que não se coma carne humana.
Ainda aterrorizado, o chefe indígena segue-o
para dentro da gruta, onde Diogo acende a candeia, levando-o a crer que o náufrago tem poder
nas mãos.
Sob a luz, vê, sem interesse, tudo que o branco
retirara da nau. Aqui, o poeta, louva a ausência
de cobiça dessa gente. Entre os objetos guardados pelos náufragos, Gupeva encanta-se com
a beleza da virgem em uma gravura. Tão bela
assim não seria a esposa de Tupã? Ou a mãe de
Tupã? Nesse momento, encantado pela intuição
do bárbaro, Diogo o catequiza, ganhando-lhe,
assim a dedicação.
Saindo da gruta, o índio, agora manso e
diferente, fala a seu povo Tupinambá, ao redor
da gruta. Conta-lhes sobre o feito do emboaba,
Diogo, e que Tupã o mandara para protegê-los.
Para banquetear o amigo, saem para caçar. Durante o trajeto, Álvares Correia usa a espingarda,
aterrorizando a todos que exclamam e gritam:
Tupã Caramuru! Desde esse dia, o herói passa
a ser o respeitado Caramuru - Filho do Trovão.
Querendo terror e não culto, Diogo afirma-lhes
que, como eles, é filho de Tupã e a este, também, se humilha. Mas que como filho do trovão,
(dispara outro tiro) queimará aquele que negar
obediência ao grande Gupeva.
Nas estrofes seguintes, o poeta descreve os
costumes da selva. Caramuru instala-se na aldeia,
onde imensas cabanas abrigam muitas famílias,
que vivem em harmonia. Muitos índios
querem vê-lo, tocá-lo. Outros, em sinal de
hospitalidade, despem-no e colocam-no sobre a rede, deixando-o tranquilo. Paraguaçu
é uma índia, de pele branca e traços finos e
suaves. Apesar de não amar Gupeva, está na
tribo por ter-lhe sido prometida. Como sabe
a língua portuguesa, Diogo quer vê-la. Após
o encontro os dois estão apaixonados.
José de Santa Rita Durão (1722-1784)
(Disponível em: <http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/
ArcadisPreromant/O_CARAMURU_DURAO.htm>.)
Das pesquisas que eu fiz sobre Diogo Álvares Correa, o Caramuru, boa parte delas
entre os índios do Brasil é esta que passo a
interessados como eu sou pela História do
Brasil. Segundo amealhei, o fidalgo da casa
real Diogo Álvares, originário do norte de
Portugal, Viana do Castelo, nascido por volta
de 1473, foi parar na Bahia entre 1509 e 1511,
como náufrago de uma embarcação francesa.
Alguns historiadores dizem que ele viajava para São Vicente, por volta de 1510,
quando naufragou nas proximidades do Rio
Vermelho, na baía de Todos os Santos. Seus
companheiros foram mortos pelos Tupinambás, mas ele conseguiu sobreviver e passou
a viver entre os índios, de quem recebeu o
apelido de Caramuru.
Bem acolhido que foi por causa do seu
célebre tiro certeiro que abateu uma gaivota
que voava na praia, os índios, que não conheciam armas de fogo, logo o apelidaram
de Caramuru. O morubixaba chefe da tribo
lhe deu uma das filhas, chamada Paraguaçu.
Ao longo de 60 anos manteve contatos com
novos europeus que aportavam na Bahia.
As relações comerciais com os normandos levaram-no entre 1526-1528 a visitar a
França, onde a sua Paraguaçu foi batizada
em Santo-malos, com o nome de Catarina
(Katherina Du Bresil) em homenagem a
Catherine dês Granches, esposa de Jacques
Gartier. Na mesma ocasião foi também batizada outra índia Tupinambá com o nome
de Perrine, o que fundamenta a lenda de que
várias índias, por ciúmes, se jogaram ao mar
para acompanhar Caramuru quando este
partia para a França com Paraguaçu.
Catarina Paraguaçu e Caramuru tiveram vários filhos e filhas, Ana, Genebra,
Apolônia, Graça, Gabriel, Gaspar e Jorge Álvares,
que casaram com moças da corte que vieram com
Martim Afonso de Souza, dos quais descendem as
mais importantes famílias da aristocracia baiana.
Caramuru foi sepultado no Mosteiro de Jesus, dos
jesuítas, em Salvador, onde depois foi enterrada a
sua mulher Paraguaçu.
(Disponível em: <http://www.artigonal.com/literatura-artigos/diogo-alvares-correa-o-caramuru-888033.html>.)
Obs.: Na primeira estrofe, no verso 7, aparece o
verbo crer – “... a Grécia creu”. Pode-se aproveitar
para comentar sobre esse verbo, que é irregular.
Esse verbo aparece em outros poemas com outras
flexões.
Formas Nominais:
Infinitivo: crer
Gerúndio: crendo
Particípio: crido
Perfeito do Indicativo
eu cri
tu creste
ele creu
nós cremos
vós crestes
eles creram
Reflexões sobre o texto
44)A expressão selvagem rude presente no primeiro
verso desse trecho refere-se ao indígena.
45)A ação descrita na primeira estrofe desse trecho
descreve o modo como os índios brasileiros acendiam o fogo. Eles esfregavam um graveto (lenho)
no outro e a partir dessa fricção produziam o
fogo.
46)Roupas, barris de pólvora ou outros pertences
oriundos do naufrágio não eram artigos que interessassem aos nossos índios. Eles não conheciam
esses objetos, por isso não poderiam desejá-los,
ou ter interesse em possuí-los. Assim, a expressão
apeteça nesse contexto tem sentido de desejar
intensamente, aspirar, pretender, cobiçar.
Para o narrador, tais pertences não despertavam o
interesse de gente nada avara, isso quer dizer que
nossos índios não se importavam em acumular
coisas, eram desapegados de bens materiais, não se
interessavam por estocar artigos que não usavam.
Língua Portuguesa B
15
47)Dom Diogo fica admirado ao perceber que
os indígenas não manifestam qualquer admiração pela quantidade de ouro e prata que
veem acumulados dizendo: Nação feliz! Que
ignora o que é cobiça. Desse modo ele revela
a característica positiva dos nossos indígenas
de não ver sentido em acumular o que para
eles não tem utilidade.
54)A
55)D
56)D
57)C
58)B
48)a)O objeto que encanta Gupeva é uma pintura num quadro precioso.
c)A imagem do quadro é a imagem de uma
mulher, pois é vista como a Mãe da formosura, parecia uma pessoa tão digna que
deveria ser mãe de Tupá (= tupã – nome
utilizado pelos índios para designar o Deus
cristão). O quadro que Gupeva admira é a
imagem de Nossa Senhora – mãe de Jesus.
A alternativa correta é a B. A oposição feita
por Cláudio Manuel da Costa entre a metrópole e a colônia é semelhante à dicotomia
entre a cidade e o campo, temática árcade. O
poeta viveu em Portugal na civilidade e quando retorna ao Brasil depara-se novamente
com a rusticidade dos “montes” e “outeiros”.
59)A
49)A explicação entre parênteses nessa estrofe
(pergunta o Bárbaro) refere-se ao índio Gupeva. Os colonizadores portugueses viam
os índios brasileiros como um povo muito
diferente deles – os civilizados – e dirigiam-se a eles como selvagens, bárbaros.
A, pois o poeta se dirige ao seu interlocutor e
utiliza o vocativo, como se falasse aos montes, ao destino: Torno a ver-vos, ó montes; o
destino.
O ARCADISMO E A LITERATURA FEMININA
50)O pronome esse – da estrofe em análise –
refere-se a Deus – ou seja, aquele que se
assenta no sol sobre os céus.
51)Quando o índio, ao admirar a imagem do
quadro, soube que a mulher ali estampada
era a Mãe de Tupá, disse que não podia ser,
pois divindade não tem mãe. Essa declaração
do índio Gupeva fez o português explicar a
ele quem era a imagem do quadro segundo os
princípios cristãos. Diogo explica que Deus
eterno fez-se humano/E sem lesão da própria
Virgindade,/ A Donzela o gerou, que pisa a
Lu, Digna Mãe de Tupá, Mãe minha, e tua.
(Nossa Senhora – a Virgem Maria, mãe de
Jesus)
52)Estão corretas as alternativas A, C, D, E.
A alternativa B está incorreta, pois Cláudio
Manuel da Costa incorporou em suas obras
o espírito bucólico próprio do arcadismo, o
espírito dos pastores.
53)Estão corretas as alternativas B, C, D, E.
A alternativa A está incorreta porque o nome
da índia é Lindoia.
16
Língua Portuguesa B
Arcadismo brasileiro
Obs.: Professor(a), Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira nasceu em São João
del-Rei em 1758 — e morreu em São Gonçalo
do Sapucaí, em 24 de maio de 1819 – foi uma
poetisa árcade brasileira.
Há outra escritora brasileira conhecida como
Bárbara Heliodora – (Bárbara Heliodora Carneiro de Mendonça). Ela nasceu no Rio de
Janeiro – RJ, em 1923. É colunista do jornal
O Globo. Crítica, ensaísta, professora e tradutora. Acompanha a atividade teatral desde
os anos 60, especializada na obra de William
Shakespeare.
Conselhos a seus filhos
60)Não. Embora diferente, a ortografia é bastante
semelhante, o que permite o reconhecimento
das palavras. Os termos desconhecidos, tais
como os dos versos: De taful o quarto voto e
Em jogos de paro e tópo não chegam a com-
prometer a compreensão geral das respectivas
estrofes.
61)Explicitamente a autora dirige-se aos filhos,
que, por se tratar de substantivo masculino,
poderia ser traduzido por meninos – certamente, pela mensagem, adolescentes e jovens.
Na primeira estrofe ela aconselha a refletir
sobre o que se lê, já que é a reflexão que
possibilita que as pessoas se tornem sábias,
e não a mera leitura mecânica. Diz também
que, para se viver bem, é necessário ponderar
sobre o que se lê, pensar, analisar.
62)Certamente, já que ela mesma foi exemplo
de emancipação feminina. Os conselhos dados caracterizam-se como sugestões de boas
maneiras para a vida em sociedade em geral;
não há especificidade que caiba apenas aos
“meninos”, embora o título seja: Conselho a
seus filhos.
63)Quando se fala deixa-se a mensagem, a informação a mercê do ouvinte; permitindo que
ele tenha maior liberdade de interpretação,
já que a fala é efêmera. Essa ideia é ratificada
quando faz referência ao ditado: “quem conta
um conto, aumenta um ponto”. A escrita, ao
contrário, documenta o que é dito, limitando
as possibilidades de expressão e interpretação
pela possível comprovação da mensagem.
64)Desde a primeira estrofe, Heliodora chama
a atenção para a importância da reflexão, da
análise a respeito do que se lê (e certamente,
ouve e vê). Assim, fecha o poema dizendo que
teria mais o que aconselhar mas que, como
não dispõe de tempo para isso, deixa para o
leitor a responsabilidade de concluir sobre o
que diria usando da sua capacidade de análise
e raciocínio.
65)Conforme o comentário apresentado em resposta à questão anterior, Heliodora explicita
sua preocupação com a racionalidade, com a
necessidade de se refletir sobre o que se lê,
com a importância de se analisar objetivamente (com o uso dos cinco sentidos) o que
se fala e se ouve em uma conversa. Imitando
os clássicos, a autora preocupa-se em “ser
simples, racional, inteligível”. Utiliza uma
linguagem simples e direta – sem exageros,
sem rebuscamento – para tratar de questões
comuns do relacionamento humano geral,
sem subjetividade.
Nos versos Neste tormentoso mar/D'ondas
de contradicções, /De caras a corações/A muitas legoas que andar os termos mar e ondas
e mesmo léguas (comumente utilizado para
se referir a grandes distâncias, especialmente
relacionadas ao mar) são utilizados, por meio
de metáforas, em referência à natureza. A expressão “rebanho”, na antepenúltima estrofe,
também remete à natureza e ao ambiente pastoril: rebanho de ovelhas.
Romantismo – século XIX
Amor, meu grande amor
66)Amor, meu grande amor é uma composição
contemporânea e, portanto, não foi produzida durante o período do Romantismo.
Mesmo assim, ela apresenta a característica
fundamental desse período literário que é a
subjetividade expressa pelo uso da 1ª pessoa
do singular (eu). Além disso, a opinião popular considera essa uma música romântica
porque fala de amor.
67)Os versos dão a entender que o amor, a paixão e as palavras não têm hora para chegar,
aparecem nas vidas das pessoas inesperadamente.
68)Se considerarmos que o amor próprio do
Romantismo é eterno, razão de vida; que
quando não se realiza é motivo de morte,
concluiremos que o amor cantado nessa canção difere do amor tipicamente romântico.
Nessa canção espera-se que o amor Só dure
o tempo que mereça ... Enquanto me tiver/
Que eu seja
O último e o primeiro ...
69)Não há questão 69 – apenas apresenta os
textos da questão 70.
70)E
Os três textos afirmam que homem não chora
verdadeiramente por amor. Se chora, está
Língua Portuguesa B
17
mentindo. Suas lágrimas são utilizadas
para enganar a mulher.
O que se pode compreender das proposições:
a)Nos versos, os autores se referem ao
choro do homem;
b)os autores afirmam que, quando o
homem chora é falsidade;
c)não fazem referência à poesia;
d)essa ideia foi expressa apenas na música interpretada por Frejat – e em outro
verso;
e)alternativa correta – quando o homem
chora por amor é falsidade.
71)Espera-se que os alunos concluam que
segundo os autores dos três textos (Bandeira, Macedo e Boldrin – e também
Frejat, que interpreta a música), quando
o homem chora por uma mulher, chora
lágrimas de crocodilo, ou seja, trata-se de
falsidade, de mentira. Esse sentimento se
mantém nos diferentes séculos em que
vivem os autores (e intérprete – Frejat).
É interessante observar que são três homens que fazem essa declaração e que,
nos dois primeiros casos, o eu lírico se
dirige a mulheres próximas (a irmã e
Tereza) como se quisessem, em demonstração de amizade e cuidado, alertá-las.
Os versos negritados afirmam que é
próprio do homem não chorar por amor,
independentemente da época em que
vivam. A música interpretada por Frejat
é ainda mais radical: homem não chora
(nem por amor, nem por dor).
Romantismo – Contexto históricocultural
Poema de Byron traduzido por João
Cardoso de Menezes e Souza
72)A característica essencial do Romantismo
é o subjetivismo ou o individualismo,
perceptível no texto pelo uso da primeira pessoa do discurso (eu). O poema
de Byron apresenta tal característica na
maioria das estrofes:
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Língua Portuguesa B
Quando o tempo me houver trazido esse momento,
Em meu leito de morte ondule, Esquecimento,
(1a estrofe)
Não quero (eu) ver ninguém ao pé de mim carpindo,
Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio;
(2a estrofe)
Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo,
Receio a placidez quebrar de um peito amigo,(3a
estrofe)
Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro.
73)Nesse poema de Byron é possível perceber o
sentimentalismo exacerbado, um distanciamento
da felicidade e realização pessoal do eu lírico
aliados à forte presença da tristeza e do desejo
de morte. O eu lírico quer morrer sozinho, não
quer ninguém perto de si, quer apenas o silêncio,
sem luto oficial. Somente o amor poderá trazer
ao eu lírico a paz derradeira.
74)O poema de Lord Byron apresenta o pessimismo
exagerado próprio dos românticos, com o uso
intenso do subjetivismo concretizado no texto
pelo uso da 1ª pessoa do discurso. É um poema
lírico uma vez que o texto expressa emoções e
sentimentos do eu lírico.
75)A um agrupamento de quatro versos por estrofe
chamamos quadras ou quartetos.
76)B
A ocorrência que marca profundamente a produção Barroca é o conflito religioso. A oposição entre duas forças (o teocentrismo medieval – que a
Igreja queria reimplantar – e o antropocentrismo
renascentista – que o homem não queria perder
impulsiona o homem desse período a buscar
conciliação entre razão e fé, espiritualismo e
materialismo, carne e alma. Assim, a consciência de que a vida é efêmera e, por isso, precisa
ser aproveitada antes que acabe representa um
sentido contraditório ao homem barroco, pois
gozar a vida implica pecar e, a quem peca, não
há salvação.
77)30
78)A
ríodo inicia com o pronome relativo que,
deve-se alterar a colocação do pronome
oblíquo, colocando-o em próclise, ou seja,
antes do verbo trocou.
79)C
Romance de uma caveira (Alvarenga e
Ranchinho)
80) a)O fato de um texto possuir a palavra romance em seu título e de seu primeiro
verso afirmar Eram duas caveiras que
se amavam, ou seja, mencionar amor
pode indicar que o texto aborde um
relacionamento amoroso, porém não necessariamente a visão de amor defendida
pelo Romantismo, possui características
muito peculiares. Desse modo, pode-se
compreender que a postura da caveira ao
trocar o caveiro por um novo amor não
é compatível com os ideais amorosos do
Romantismo, pois nesse período o amor é
eterno, e no texto, quando trocavam juras
de amor, a caveira dizia que pelo caveiro
de amor morria (verso 7). O caveiro, no
entanto, assume os princípios do amor
romântico, pois ao perceber a traição ou
a impossibilidade de continuar o relacionamento com sua amada: matou-se de um
modo romanesco (verso 14). Isto é, não
seria mais possível viver com o desamor
da caveira.
b)São elementos humorísticos no texto: o
relacionamento amoroso de duas caveiras,
o encontro dos enamorados no cemitério, a
paixão da caveira por um defunto fresco...
c)Sentados os dois sobre a sepultura.
d)O caveiro tomou uma bebedeira e cometeu
suicídio. Por mais incrível que pareça,
esse era o modo idealizado pelo Romantismo para solucionar as dores do amor
não correspondido, mais especificamente
por aqueles que defendiam os princípios
pregados pelos poetas do "mal do século",
ou 2ª geração romântica.
e)O mais adequado a uma linguagem formal
seria:
81)23
A única afirmativa incorreta é a 08, porque
a terra estrangeira é diferente para o eu lírico de cada poema. Para Canção do exílio, a
nação estrangeira é Portugal; e para o Texto
II é o Brasil.
82)V – V – F – V – V.
83)30
A afirmativa 01 faz referência à Carta de
Pero Vaz de Caminha – texto da literatura
informativa.
84)A
85)C
86)a) Passam tantas visões sobre meu peito/
palidez de febre meu semblante cobre.
b)Um nome de mulher... e vejo terna (doce,
sensual)/No véu suave de amorosas sombras.
c)Inutilmente a chamo, em vão (as) minhas
lágrimas.
87)A
88)O conflito do eu lírico entre sonho e realidade pode ser observado nos seguintes versos:
Acordo palpitante [...] inda a procuro;
Imploro uma ilusão [...] tudo é silêncio!/Só
o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos, nunca
virás iluminar meu peito/Com um raio de
luz desses teus olhos?
O caveiro tomou uma bebedeira e matou-se de um modo romanesco por causa
dessa ingrata caveira que o trocou por um
defunto fresco.
89)Expressões do poema que caracterizam a
amada podem ser encontradas nos versos:
e vejo lânguida/No véu suave de amorosas
sombras/Seminua, abatida, a mão no seio,/
Perfumada visão romper a nuvem,/Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras.
A norma culta sugere que o pronome pessoal do caso reto ele seja substituído pelo
oblíquo o. Como a última oração desse pe-
90)O poema fala de um amor inacessível e
distante. É um amor que não se concretiza e
que faz parte dos sonhos do eu lírico, como
Língua Portuguesa B
19
podemos observar especialmente nos versos
seguintes:
E sem na vida ter sentido nunca/Na suave
atração de um róseo corpo [...]
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas/
Passam tantas visões sobre meu peito!
91)O poema de Álvares de Azevedo em estudo
apresenta subjetividade, expressa através da
individualidade (uso de primeira pessoa do
discurso) e de uma visão pessimista sobre
a vida e o amor. A felicidade e realização
amorosa são metas inatingíveis, por isso a
tristeza e a infelicidade se fazem presentes.
Essas características constituem traços marcantes tanto nos poemas de Azevedo quanto
nos de outros poetas da segunda geração do
Romantismo.
92)a) Alugo (três mil réis) por uma tarde/Um
cavalo de trote que piada (que esparrela!)
b)ela irritada/Bateu-me a janela.../ou Bateu-me a janela na cara (sobre as ventas)
c)A calça inglesa/Rasgou-se no cair de meio
a meio,/O sangue pelas ventas me corria/
Foi o resultado de um sonho de amor
(ou Foi o que o que recebi em troca de
um sonho de amor) Em paga do amoroso
devaneio! [...]
93)De acordo com o poema, o namoro do eu
lírico com Dulcineia era um namoro à
distância (2ª estrofe: Só para erguer meus
olhos suspirando/À minha namorada na
janela [...]). Talvez nem a própria Dulcineia
soubesse que era namorada do "poeta", pois
segundo o que indica no poema ele enviava
flores e versos que furtava de algum poeta (3ª
estrofe).
Na 4ª estrofe, encontra-se a afirmação de
que ele ficava extremamente tímido quando
estava próximo a Dulcineia – junto dela/Nem
ouso suspirar de acanhamento [...]
poema a felicidade e a realização amorosa
como objetivos inatingíveis, já que a intenção
do eu lírico de namorar Dulcineia é frustrada; e a realização amorosa não se confirma,
pois a amada, que estava na janela, fecha-a
repentinamente (bate com a janela na cara do
enamorado), impossibilitando a realização
dos objetivos do amante.
96)D
97)O poema de Casimiro de Abreu Meus oito
anos, obra da segunda geração romântica,
é marcado pelo saudosismo da infância
(Oh! Que saudades que tenho – 1º verso)
e esse sentimento está fortemente relacionado a lembranças da infância (Que amor,
que sonhos, que flores,/Naquelas tardes
fagueiras/À sombra das bananeiras,/Debaixo dos laranjais! – 1ª estrofe; O mar é
– lago sereno,/O céu – um manto azulado,
– 2ª estrofe; Que aurora, que sol, que vida/
Que noites de melodia/... O céu bordado
d'estrelas,/A terra de aromas cheia/As ondas
beijando a areia/E a lua beijando o mar! – 3ª
estrofe). Em todas as estrofes encontram-se
as lembranças do eu lírico relacionadas à
natureza. Esse poema em especial expressa
a saudade de tempos que não voltam mais –
sente saudade das carícias da mãe, dos beijos
da irmã, mas não propriamente de amores
perdidos ou não correspondidos.
98)Meus oito anos é um poema simples, de linguagem simples, pois a maioria das frases foi
construída na ordem direta, e o vocabulário
utilizado está muito próximo ao da linguagem coloquial.
94)29
99)A descrição dos sentimentos que remetem à
infância revela as sensações individuais do
poeta e a sua visão particular. O subjetivismo
é marcado no texto pelo uso de primeira pessoa do discurso – eu, minha – e pelas flexões
do verbo na primeira pessoa do singular.
95)Pode-se dizer que a subjetividade está presente no poema Namoro a cavalo na medida
em que no episódio relatado encontra-se utilização do discurso em primeira pessoa (eu,
meu, minha etc.). Confirma-se também nesse
100)Além das características românticas já mencionadas nas questões anteriores, podem-se
distinguir outros traços marcantes na poesia
de Casimiro de Abreu que são característicos do Romantismo literário, tais como:
20
Língua Portuguesa B
• O pessimismo decorrente do "mal do século" – o presente é duro demais, a felicidade
e a realização não estão acessíveis, fazem
parte do passado, da infância;
•A saudade se revela na melancolia e na
referência à terra natal (aquela de sua
infância) que em muitos poemas aparece
como nacionalismo;
•O uso de adjetivos como força expressiva
capaz de qualificar e ao mesmo tempo de
expressar muitos sentimentos. Os adjetivos
para os românticos têm o poder de ampliar
o sentido conotativo das palavras, imprimindo ao texto uma carga emotiva para
expressar a natureza e as paixões humanas.
O uso repetido de alguns adjetivos nos
textos românticos tornou-se verdadeiro
lugar-comum na produção desse período
literário: doce, fagueira, inocência, mimoso, ingênuo, infeliz, fatal, puro, cândido,
celestial, etc;
•A abundância de interjeições e exclamações,
criando um tom de exaltação retórica.
101)As funções predominantes são a emotiva,
pois há um eu lírico expressando emoções,
e a poética, uma vez que estamos diante de
um texto literário.
Professor(a), transcrevemos a seguir um texto sobre a produção poética romântica que
pode contribuir no trabalho com os alunos.
Pequena conversa sobre a mulher
na poesia romântica
Poesia romântica
• Primeira geração
• Segunda geração
• Terceira geração
Entretanto, essa ideia que carregamos desde sempre transforma-se num grande erro
quando se trata de literatura. "Romântico"
no sentido literário é muito diferente de
"romântico" no sentido figurado. O romantismo a que nos referimos a torto e a direito
por aí não corresponde de jeito nenhum ao
movimento artístico burguês do século XIX,
e, quando muito, é apenas uma face muito
pequena e deformada dele.
Embora o exagero sentimental seja marca
registrada, esse período literário tem outros
traços, bem particulares e até estranhos para
quem não conhece o movimento. Por exemplo: dizer que um escritor é romântico pode
significar que ele é satânico. Ou que gosta da
noite e do sobrenatural, ou que é religioso,
ou que é promíscuo, indianista, medieval,
burguês, ou que gosta de mulheres mortas...
Romantismo é um movimento amplo. Sua
compreensão se torna mais fácil se percebermos que dentro dele cabem coisas sem relação
alguma com o sentido tradicional da palavra,
e, às vezes, sem aparente relação entre si.
Na verdade, falando de poetas românticos,
eles são tão diversos entre si que temos o
hábito de estudá-los em 3 grupos, ou 3 gerações. Essa divisão é bem imperfeita e não
serve para a prosa, mas estudá-la é uma
forma de entender como o poeta romântico
se comporta em cada uma dessas 3 épocas.
Interessante é observar que, a cada comportamento, existe uma forma de amar diferente
e, portanto, um ideal de perfeição e beleza
diferente, o que gera a necessidade de uma
nova musa. Assim, da mesma forma que existem 3 gerações românticas, há 3 mulheres
românticas. E convido o leitor a conversar
sobre cada uma delas.
Poesia romântica
Primeira geração
Eis aqui uma conversa informal sobre o papel
da mulher na poesia romântica. E, pra começo de conversa, acho conveniente cutucar
meu leitor com uma pergunta simples: o que
é poesia romântica? Todos temos uma noção
intuitiva disso. Esse assunto povoa nossa
mente com elementos doces. Traz em si a
ideia de flores, estrelas, amores, é novela,
fofura, geralmente enternece mulheres e
entedia homens.
Na poesia da primeira geração, o amor é
angelical, idealizado e – palavra-chave –
cortês. Lembra bastante o trovadorismo
medieval, no qual o homem é um cavaleiro,
e a mulher verdadeira princesa, a mais bela
dentre todas. Ela é jovem, adolescente e virgem, puríssima, imaculada. O homem dá-se
por muito feliz se puder apenas cantar sua
senhora, cobrir-lhe de glórias e andar seguindo seus pés, pensando nela, apenas. Mesmo
Língua Portuguesa B
21
no plano do pensamento, não observamos
sensualidade, muito menos sexo. O amor é
puro, o homem é protetor submisso, e nada
de concreto se realiza entre os amantes, devido à enorme distância entre ambos. Há muita
contemplação e pouca ação, como podemos
perceber na estrofe de Gonçalves Dias:
Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mi*,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi
[...]
autores, rendendo muitos casos de mortes
prematuras. Era raro um poeta chegar aos 30
anos.
Justamente por ser tão triste e conflituoso, o
ultrarromântico se reconhece um "precito",
ou seja, um maldito. E ele não quer macular
sua amada virgem com isso. Assim, forte
característica da geração é o medo de amar,
em conflito com o forte desejo de consumar
o amor. Casimiro resume bem:
Se te fujo é que adoro e muito,/És bela – eu
moço; tens amor, eu – medo!
A moça continua virgem, porém, frequentemente é vista seminua, desejável e inatingível. O poeta "mal do século" deseja aquilo
que não pode ter. Então, quer esquecer,
divagar no passado, beber, morrer [...]
Segunda geração
Aqui, já temos um início de sensualidade,
apesar de fortemente reprimida e muito
conflituosa. Ineditamente, o poeta sugere
que deseja carnalmente a amada, porém,
em virtude da idealização feminina extrema,
ele se sente inferior e indigno de tocá-la. Por
isso, Casimiro de Abreu diz:
Vampiro infame, eu sorveria em beijos/Toda
a inocência que teu lábio encerra.
De modo geral, esses poetas são perturbados.
Fruto de uma época caótica, em que a humanidade viu desmancharem-se as promessas
de igualdade da Revolução Francesa, eles
observam a permanência das injustiças no
mundo com desespero.
Preferem então fugir dessa realidade insuportável. Fazem isso de várias formas: ora
lembram saudosos os momentos da infância,
ora refugiam-se nos prazeres do álcool, do
sexo (byronismo), ora afagam com carinho
a ideia de morrer. Sim, com carinho. A atração pela morte é uma constante na segunda
geração romântica.
Por isso, nem é de se admirar que seja forte,
aqui, o gosto por mulheres magras, pálidas,
e, muitas vezes, mortas. A segunda geração
é chamada ultrarromantismo ou "mal do século". Realmente, nesse período a sociedade
literária passou por uma onda de desespero e
depressão que abalou seriamente a vida dos
22
Língua Portuguesa B
Terceira geração
Já aqui, a realização é plena: deseja-se e faz-se. Impossível falar de poesia romântica de
terceira geração sem falar no poeta baiano
Castro Alves. Podemos até dizer que ele foi
responsável por uma revolução da forma
de conceber e tratar a mulher romântica.
Foi quem primeiro retirou a moça de seu
altar de virgindade e perfeição para jogá-la, literalmente, na cama. Em Castro Alves,
acabaram-se as idealizações e veio, forte, a
consumação erótica do amor.
Castro Alves gosta de mulheres reais: elas
têm cheiro, gosto, seios e corpo à mostra,
fazem sexo, gritam, choram. Algumas são
inclusive prostitutas. O apelo sensorial é
muito forte.
E o poeta dos escravos, como ficou conhecido
por sua poesia social, soube transplantar
para a lírica amorosa o gosto pelas imagens
monumentais, tornando sua poesia ao mesmo tempo erótica e lírica, interessante, pois,
até para os mais acanhados.
De modo geral, o poeta posiciona-se claramente contra os desesperos e medos
ultrarromânticos. Castro Alves ama a vida
e gosta mesmo é de fazer amor.
Boa noite, Maria!
Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria!
É tarde [...] é tarde [...]
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite!... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos [...]
Mas não mo digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos
[...]
amor carnal, voraz, voluptuoso, possível.
Há vocábulos que fazem referência a essa
paixão, a esse amor-desejo: volúpia, sangue, ardente, leito, seio, morro, desfaço-te. Há também expressões com a mesma
conotação romântico-sensual: noites andaluzas, sangue ardente, trenos da vida,
leito de amor, seio brilha, desfaço-te a
mantilha.
(Jéssica Callou. Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/151890>. Acesso em: 27 set. 2010.)
102)a)Espera-se que os alunos percebam que a
relação amorosa, assim como a proximidade entre os amados, é diferente em cada
uma das estrofes.
Na estrofe I, o amado está distante, porém
mesmo longe sente o seu perfume e segue
os passos de seu amor. O amor nessa estrofe é contemplativo e contido. Encontramos referências ao poeta italiano Tasso, e
o eu lírico, ao encarná-lo, passa a sentir
um amor profundamente idealizado por
sua amada Eleonora. (Encontra-se nesse
primeiro verso a utilização de vocábulos
à moda dos românticos clássicos: alma e
sonhadora.)
Na estrofe II, as palavras remetem à sensualidade, mas a amada ainda é distante,
inatingível, pois aparece seminua em
sonhos e na imaginação do poeta. Nessa
segunda estrofe, o eu lírico deixa de lado
o plano espiritual e assume o plano terreno e, propriamente, amoroso. Para isso,
ele pede ajuda aos ícones da literatura
amorosa: Romeu e Julieta – os célebres
personagens de Shakespeare. A referência
a Romeu e Julieta possibilita ao eu lírico
descrever psicológica e fisicamente sua
condição à amada, fazendo alusão ao
amor transcendental, capaz de superar
as barreiras sociais.
Na estrofe III, percebe-se a proximidade
entre os amantes, o eu lírico faz referência
a um amor que se realiza e, diferentemente das estrofes anteriores, o amado não
se contenta apenas com o sonho e a idealização do contato físico. Nessa estrofe,
o amor dá lugar ao desejo ardente, à volúpia, à paixão descontrolada. Há vários
signos, nessa estrofe, que comprovam a
concretude desse amor. É um amor espiritual e sublime que abre passagem para o
b)A relação do eu lírico com sua amada se
concretiza na terceira estrofe:
Sobre o leito do amor teu seio brilha [...]/
Eu morro, se desfaço-te a mantilha [...]
103)a)O poeta diz que sua alma é como uma face
sonhadora. Pode-se deduzir que a fisionomia de uma pessoa sonhadora caracteriza-se por um olhar distante, perdido e por um
comportamento distraído e ausente.
b)A paráfrase de teu lânguido poeta pode
ser teu mórbido (doentio) poeta ou Sou
teu Romeu [...] teu doce poeta/teu sensível poeta.
c)Don Juan é um conquistador, um amante
irresistível para as mulheres. Do mesmo
modo posiciona-se o eu lírico do poema
de Castro Alves. Nesse poema – Os três
amores – o eu lírico posiciona-se como
amante irresistível.
d)Espera-se que os alunos percebam que há
diferenças entre o eu lírico posto em cada
uma das estrofes. Mas pode-se dizer que o
poeta Castro Alves, de certa forma, transgride a concepção do amor romântico
na medida em que esse amor ultrapassa
o plano da idealização e mistura-se ao
amor concreto, objetivo e carnal. Essa
intencionalidade do poeta resulta em
um poema em que cada uma das estrofes
apresenta o eu lírico posicionando-se de
modo diferente em relação à amada e à
concepção de amor.
Na primeira estrofe, ele está distante da
amada e sua relação com ela também é
distante. Trata-se da alusão a um amor
não realizado, sublime, sereno, referente
à primeira fase da poesia lírico-amorosa
romântica.
Na segunda estrofe, embora os enamorados
estejam fisicamente distantes, há entre eles
uma relação de maior proximidade e de
Língua Portuguesa B
23
muita sensualidade, e a relação amorosa
possui o perfil da segunda geração romântica.
Na terceira estrofe, o eu lírico vive a
paixão e não para no plano do ideal, ao
contrário, ele mescla esse ideal romântico
ao palpável, ao objetivo.
Enfim, nesse poema o amor não possui
apenas uma face, mas três faces de uma
única mulher. A mulher, para o poeta, é
idealizada, mas ao mesmo tempo pura
e sensual. É Eleonora, Julieta e Júlia, a
Espanhola.
104)E
105)Professor(a), antes de os alunos produzirem
o texto solicitado nesta questão, sugerimos
que se organize um período de leitura em
voz alta de poemas de Castro Alves. A produção poética desse autor visa à oratória,
tanto que ficou conhecido como poeta declamador, pois soube como nenhum outro
poeta de seu tempo fazer poemas que comoviam plateias, utilizando a linguagem como
instrumento para sensibilizar, impressionar
e incitar o público.
Uma atividade com a leitura declamatória
de poemas de Castro Alves possibilitará
aos alunos apreciarem a obra desse autor,
conhecerem tanto a poesia lírica quanto a
social, perceberem o quanto sua obra se
destaca entre os poetas românticos, além
de proporcionar-lhes o reconhecimento
das diferentes dimensões de um poema (a
dimensão da linguagem, da sonoridade, das
imagens, dos significados).
A respeito da elaboração do texto que esta
questão solicita, acredita-se que a discussão
em sala sobre as questões 22 e 23 proporcionem aos alunos os subsídios necessários
para essa produção.
106)B
O texto 7 – Boa-noite (Castro Alves). Apresentamos no material didático do aluno
apenas um trecho do poema, pois o objetivo
é evidenciar a concepção de amor e de mulher na poética do Romantismo brasileiro.
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Língua Portuguesa B
Transcrevemos a seguir um trecho de um
artigo que analisa essa obra.
[...]
Em Boa-noite, poema de 1868, a epígrafe
em francês, extraída da cena dos jardins
dos Capuletos, indica a fonte inspiradora
desse poema. Mais uma vez, o poeta busca
em Shakespeare o mote para seus versos.
Nessa epígrafe, Julieta tenta convencer Romeu de que é do rouxinol, ave que canta à
noite, o canto ouvido e não da cotovia, que
anuncia a chegada do dia. Julieta não quer
que o amado se vá.
Boa-noite inicia com o eu lírico anunciando que "é tarde" e ele "vai embora". Essas
duas atitudes proclamadas são constantes
em outros poemas de Castro Alves. A sensação de abandono por parte do eu lírico
é mais um ponto em comum com a figura
donjuanesca, já que cabe a esse personagem
seduzir e depois abandonar. No entanto,
nesse poema, o abandono não se concretiza, antes instaura a sedução ao espaço
poético, introduzindo o jogo sensual: da
necessidade de ir e do desejo de ficar.
Nas duas primeiras estrofes, entende-se que
o eu lírico, mesmo anunciando sua partida, almeja ficar e se sente seduzido pela
amada, como se pode ver em: Boa-noite,
Maria! É tarde [...] é tarde .../Não me apertes assim contra teu seio. e Boa-noite! [...]
E tu dizes – Boa-noite./[...]/Mas não digas
assim por entre beijos .../Mas não mo digas
descobrindo o peito,/– Mar de amor onde
vagam meus desejos.
Na terceira estrofe, o eu lírico chama por
Julieta e segue a se referir a ela até a oitava
estrofe. As cenas sensuais, pendendo ao
erotismo, seguem uma gradação de volúpia que alimenta ainda mais a vontade de
ficar. A descrição do espaço amoroso, assim como a descrição do corpo da mulher,
alimenta-o com o fogo da paixão. Nesse
instante, as imagens são ligadas à noite,
tempo dos amantes: Boa-noite, a lua, é tarde, cabêlo preto, a frouxa luz da alabastrina
lâmpada e negro e sombrio firmamento.
[...]
(Disponível em: <http://www.cintiabarreto.com.br/artigos/castroalves-liricaamorosa.
shtml#ixzz10CCyZvbx>. Acesso em: 30 set. 2010.)
107)a)Espera-se que os alunos percebam que a
relação amorosa mencionada no Texto 3
(Álvares de Azevedo) é diferente daquela
expressa no Texto 7 (Boa-noite – Castro
Alves). Em Azevedo a relação amorosa
é idealizada, não se consuma, embora
seja evidenciada a sensualidade – Meus
olhos turvos se fechar de gozo,/Seminua,
abatida, a mão no seio,/Só o leito deserto,
a sala muda! Mesmo assim, o eu lírico
expressa seu desejo e sua intenção. Diferentemente, a relação amorosa no poema
Boa-noite de Castro Alves é real, concreta,
pois há descrição do contato físico – não
me apertes assim contra teu seio, por
entre beijos, descobrindo o peito.
b)A amada, para Álvares de Azevedo, é uma
donzela a que o poeta se refere de modo
genérico. Essa amada tem corpo róseo, um
nome de mulher (qualquer um), lânguida, seminua..., sabe-se ao certo que ela é
distante, que embora o poema apresente
características dela, não é possível determinar quem ela é. Ela pode ser sonho,
delírio, não se materializar. No poema
de Castro Alves é diferente. A amada se
materializa e relaciona-se concretamente
com o eu lírico. Seu poema refere-se a
uma amada em especial – Maria, que está
materialmente próxima ao eu lírico.
c)Os dois poemas (Álvares de Azevedo e
Boa- noite, de Castro Alves) apresentam
características determinantes do Romantismo, que são a presença da paixão, da
emoção e da liberdade, características
relacionadas ao subjetivismo. Esse último expresso nos dois poemas pelo uso
da primeira pessoa do singular. A paixão
pode ser observada em ambos os poemas,
evidenciando-se pelo sentimento de amor
em realização (Castro Alves) ou a se realizar (Azevedo).
Percebe-se também nos dois poemas em
estudo a presença do amor romântico.
Um amor que se situa no tempo presente, intenso e verdadeiro, como o bem
mais importante da existência humana.
A mulher – eixo do amor romântico – é
divinizada, cultuada, pura. Contudo, em
Castro Alves esse amor se materializa,
e em Álvares de Azevedo ele é fruto da
idealização do eu lírico. Essa diferença de
proximidade da relação amorosa é o que
indica que a obra de Azevedo seja didaticamente considerada da segunda geração
romântica e que a obra de Castro Alves
pertença à terceira geração romântica.
108)No verso Não me apertes assim contra teu
seio a preposição contra reforça o sentido de
apertar ou de oposição de um corpo contra
outro, que é um sentido importante desse
enunciado. Ao substituir essa preposição
por outra sem alterar o sentido, poderíamos
ter:
•Não me apertes assim bem junto a teu seio.
A locução prepositiva bem junto a permitiria manter a ideia de apertar um corpo
contra o outro.
Embora alterando um pouco o sentido,
poderia ser também:
•Não me apertes assim no teu seio. Com a
preposição no (= em+o) a ideia inicial de
oposição entre os corpos perde a ênfase
e salienta-se a forma como ela aperta seu
amado, ou o lugar onde ela o aperta.
•Não me apertes assim ao teu seio. A preposição ao acrescenta ao enunciado o sentido
do meio utilizado para apertar um corpo
contra a outro.
109)O poema de onde foi retirado esse verso
(penúltimo) é Boa-Noite de Castro Alves
(Texto 7). Em Tu dizes que eu menti?...
pois foi mentira [...], a conjunção pois tem
o sentido de "oposição", indica "contraste",
equivale a mas, porém etc.
110)A
Os poemas de Castro Alves ficaram conhecidos como poemas-discurso; foram elaborados muito mais para serem declamados
para o grande público do que para serem
lidos.
111)E
Para Castro Alves a escravidão era motivo
de vergonha nacional. Ele ficou conhecido
como o poeta dos escravos, uma vez que
o abolicionismo era a temática de maior
destaque de sua poesia social.
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112)D
A única alternativa incorreta é a I, porque as personagens
femininas de Castro Alves proporcionam a realização plena:
deseja-se e faz-se. Ele foi responsável por uma revolução da
forma de conceber e tratar a mulher romântica. Foi quem primeiro retirou a moça de seu altar de virgindade e perfeição
para torná-la concreta. Em Castro Alves, acabaram-se as idealizações e veio, fortemente, a consumação erótica do amor.
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113)C
114)C

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