2015Trabalhos Completos SNPTO GT9III SNPTOPRANCHAS DE

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2015Trabalhos Completos SNPTO GT9III SNPTOPRANCHAS DE
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PRANCHAS DE COMUNICAÇÃO PARA PACIENTES HOSPITALIZADOS
Autores: Miryam Bonadiu Pelosi; Janaína Santos Nascimento; Vera Lúcia Vieira de
Souza.
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
INTRODUÇÃO
No contexto hospitalar, um número significativo de pacientes que necessita de
cuidados de saúde está permanentemente ou temporariamente incapacitado de se
comunicar, e essa condição dificulta sua relação com os profissionais de saúde e
familiares, o atendimento de suas necessidades básicas e gera dificuldades diagnósticas.
Além disso, estes pacientes podem ficar frustrados, nervosos e deprimidos.
Nessa perspectiva, a introdução da comunicação alternativa (CA) torna-se
fundamental. A CA é uma das áreas da Tecnologia Assistiva e a sua introdução pode
contribuir de forma decisiva para o aumento da integração dos pacientes com
dificuldades de fala ou escrita, tornando-os mais autônomos no seu tratamento e durante
a sua hospitalização. Ela inclui todas as formas de comunicação, diferentes da oral, que
são utilizadas para expressar os pensamentos, desejos, necessidades e ideias
(AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION, 2011).
Destaca-se que os sistemas de comunicação podem ser utilizados como auxiliares
primário ou suplementar para as pessoas com dificuldades de fala ou escrita, e podem
ser classificados como sistemas apoiados ou não apoiados. Nos sistemas simbólicos não
apoiados, a pessoa com dificuldade comunicativa utiliza apenas o seu corpo para se
comunicar. Esses sistemas incluem os gestos, os sinais manuais, as vocalizações e as
expressões faciais.
Já os sistemas simbólicos apoiados requerem além do corpo da pessoa, ou seja, o
uso de recursos que envolvam objetos ou equipamentos para produzir uma mensagem.
Os recursos podem ser de baixa ou de alta tecnologia e os mais comuns são: cartões,
pranchas de comunicação em forma de pastas, livros, fichários, pasta-arquivo;
comunicadores de voz gravada ou sintetizada, dispositivos móveis e o computador
(PELOSI, 2007).
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As pranchas de comunicação alternativa, enfoque da presente pesquisa, são
dispositivos simples que consistem em superfícies sobre as quais são dispostos os
símbolos. As pranchas são personalizadas considerando-se as possibilidades cognitivas,
visuais e motoras do usuário, e podem estar soltas ou agrupadas em álbuns ou cadernos.
O seu uso pode acontecer por meio do olhar ou apontar e da varredura.
Além destas condições, torna-se fundamental considerar a adequação ao
contexto, e o treinamento dos profissionais de saúde envolvidos no cuidado destes
pacientes e dos seus familiares, em relação ao uso das pranchas.
A literatura científica tem evidenciado que a comunicação é essencial para o
cuidado no contexto hospitalar, ressaltando que as habilidades do paciente em se
comunicar, e participar no seu tratamento, influencia nos resultados alcançados.
Entretanto, ainda existe uma escassez de pesquisas sobre a utilização da CA neste
contexto.
OBJETIVO
Avaliar as pranchas mais comumente indicadas pelos terapeutas ocupacionais
para favorecer a comunicação de pacientes hospitalizados.
MÉTODO
O estudo possui delineamento observacional, analítico e transversal, com
amostra sistemática de 68 pacientes com dificuldades comunicativas internados em dois
hospitais da região sudeste, que tiveram os prontuários e os registros das evoluções da
Terapia Ocupacional analisados.
Utilizou-se, inicialmente, a técnica de análise categorial, com posterior
construção de planilhas eletrônicas no software Microsoft Excel. Na segunda etapa foi
realizada a análise descritiva, por meio Statiscal Package for Social Sciences (SPSS)
versão 17.0.
Esta investigação faz parte do projeto “Implementação da Comunicação
Alternativa para os pacientes com dificuldades de fala”, aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos, sob o parecer nº 66/11.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo a maior parte dos pacientes tinha mais de 60 anos. Tal
achado pode ser explicado pelo aumento do número dos idosos na população brasileira.
Atualmente, indivíduos com idade igual e acima dos 60 anos correspondem a
aproximadamente 12,1% da população brasileira, o que representa 23,6 milhões de
pessoas (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).
Concernente ao sexo e o local de internação, houve predomínio um pouco maior
do sexo feminino (59,0%) em relação ao masculino (41,0%), majoritariamente
internados na clínica médica (41,0%), na neurologia (21,5%) e nos Centros de Terapia
Intensiva (CTI) (17,5%).
As dificuldades comunicativas estavam relacionadas principalmente a problemas
como a traqueostomia (35,5%), doença de base (23,5%), afasia (18,0%) e entubação
(12,0%). Pesquisa realizada em CTI, com objetivo de descrever as possibilidades
comunicativas dos pacientes internados, mostrou que 59,0% dos pacientes não podiam
se comunicar por estarem traqueostomizados, 22,0% por afasia, e 19,0% por
encontrarem-se entubados (PALMEIRAS; BETTINELLI; PASQUALOTI, 2013).
Outro estudo conduzido com pacientes com câncer também encontrou dados
condizentes ao do presente estudo, tendo a traqueostomia (45,0%) como a causa mais
predominante da impossibilidade de comunicação oral (RODRIGUEZ; BLISCHAK,
2010).
As estratégias comunicativas inicialmente utilizadas pelos pacientes da presente
pesquisa foram os gestos e a mímica facial (74,0%). Apesar disso, os mesmos não
apresentavam apenas um tipo de comunicação, mas combinavam mais de uma
alternativa.
Estes achados foram divergentes dos encontrados em um estudo com 162
pacientes adultos internados em diferentes Centros de Terapia Intensiva, que obteve
predomínio de movimentos da cervical (84,0%), seguido de sinais com as mãos
(56,2%). No entanto, corroboram em relação à combinação de mais de uma alternativa
para se comunicar (THOMAS; RODRIGUEZ, 2013).
As estratégias adotadas pelos pacientes podem ser ineficientes, e resultar em
pacientes frustrados, nervosos e deprimidos devido à dificuldade dos profissionais em
compreenderem a informação (PELOSI, 2005). Tais dificuldades podem ser acentuadas
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devido à presença de tubos, de edema na face e cavidade oral, e pela contenção de
membros superiores (RODRIGUEZ; BLISCHAK, 2010; RODRIGUEZ et al., 2012).
Zubow e Hurting (2013) verificaram, em levantamento realizado em diferentes
estudos que abordavam pacientes com dificuldades comunicativas, que os principais
prejuízos para esses pacientes perpassavam pela dificuldade de participar do
planejamento de seu tratamento; de tomar decisões em pró da sua qualidade de vida;
dificuldades em informar os profissionais que os assistiam de sintomas novos ou de
mudanças ocorridas; e a dificuldade em expressar a insatisfação com o atendimento
recebido (ZUBOW; HURTING, 2013).
Para a indicação das pranchas, o terapeuta ocupacional avaliava o paciente nos
seguintes aspectos: possibilidades cognitivas; visuais; motoras; e psicossociais.
Ademais, colhia o relato dos profissionais que o acompanhava, e pesquisava seus
desejos e interesses, que eram respondidos a partir de sinalizações afirmativas e
negativas.
Esta avaliação determinava o tema; a quantidade de símbolos a ser empregado; o
número de pranchas necessárias para atender a demanda do paciente; a escolha da
técnica de seleção; e o posicionamento ideal do recurso e do paciente. Desta forma, para
a indicação destes recursos tornava-se imprescindível a presença de profissionais
capacitados na área de Comunicação Alternativa, que é por essência uma área
interdisciplinar.
As pranchas de comunicação foram construídas com auxílio do software
Boardmaker, e as mesmas foram impressas e plastificadas. As mais utilizadas,
considerando toda a amostra, foram:
1.
“Alfabeto” (62%) (Figura 1 e 2).
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Figura 1 e 2: Prancha com as letras do alfabeto (Imagem própria)
2.
“Necessidades básicas” (54,5%) (Figura 3 e 4).
Figura 3 e 4: Prancha de necessidades básicas (Imagem própria).
3. “Atividades e Conversas” (47,0%) (Figura 5, 6 e 7).
Figura 5: Prancha com opções de atividades (Imagem própria).
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Figura 6 e 7: Prancha com opções de conversa (Imagem própria).
4. “Dúvidas e perguntas” (39,5%) (Figura 8).
Figura 8: Prancha sobre dúvidas e perguntas (Imagem própria).
5.
“Posicionamento” (38,0%) (Figura 9).
Figura 9: Prancha de posicionamento (Imagem própria).
6. “Sim e Não” (35,5%) (Figura 10 e 11).
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Figura 10 e 11: Prancha de Sim e Não (Imagem própria).
7. “Dor” (29,5%) (Figura 12 e 13).
Figura 12 e 13: Prancha de Sim e Não (Imagem própria).
Ressalta-se que as pranchas foram utilizadas pelos pacientes com várias
combinações, incluindo organizações de duas até 10 pranchas. Os arranjos foram os
mais variados, dependendo da necessidade do paciente, e, em nenhum deles, o
percentual ultrapassou 3% da amostra. Apenas as pranchas de “Alfabeto” (28,0%) e a
de “Sim e Não” (7,0%) foram utilizadas como prancha única.
Estudo realizado por Mota e França (2010) em Brasília–DF, com pacientes
hospitalizados com dificuldades comunicativas, identificou que as pranchas mais
importantes, a partir do relato dos enfermeiros, para os pacientes com traqueostomia
foram à de “Necessidades básicas” e a prancha com as letras do alfabeto (MOTA;
FRANÇA, 2010), corroborando com os dados da pesquisa. No entanto, as pranchas do
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referido estudo foram confeccionadas com figuras de revistas e livros.
As dificuldades de indicação das pranchas de comunicação pelos terapeutas
ocupacionais estiveram relacionadas às condições dos pacientes quanto à flutuação da
sua condição; a condição cognitiva; a presença de delirium; e sedação.
Outra questão importante a ser destacada está relacionada à adesão da equipe.
Muitas vezes as pranchas foram guardadas no armário do paciente. O relato de que não
havia tempo de introduzi-las na rotina do cuidado, também esteve presente.
Estas dificuldades podem ser explicadas pela necessidade de atenção à questões
mais imediatas como os cuidados físicos e os de segurança. Soma-se a isso, a complexa
administração de medicamentos e as dificuldades para o uso dos recursos de
Comunicação Alternativa (RADTKE et al., 2012).
Desta forma, para que a indicação dos recursos de comunicação seja efetiva, é
fundamental que os profissionais que trabalham no cuidado destes pacientes possam ser
treinados para usá-los (CERANTOLA; HAPP, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo apontou que as pranchas mais indicadas pelos terapeutas
ocupacionais foram as de “alfabeto” e a de “necessidades básicas”, e que os arranjos
foram os mais variados, dependendo da necessidade de cada paciente.
Além disso, verificou-se que no contexto hospitalar esta indicação depende da
condição motora do paciente na situação de internação, da sua capacidade cognitiva e
sensorial, do seu nível de alerta, da sua motivação, e do seu desejo e necessidade de se
comunicar. Somado a isto, é imprescindível considerar as características do hospital
onde o paciente está internado, o setor da internação e a equipe que o assiste. Por fim, o
treinamento e a habilitação dos profissionais de saúde para que esses possam ofertar
recursos que favoreçam a comunicação do paciente.
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