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PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 | Nº 5
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PROGRAMA DE PORTUGUÊS
PARA ESTRANGEIROS | UFRGS
REPORTAGEM DE CAPA
Guerreiras pacíficas
Em Porto Alegre, a bicicleta, que pode resolver vários problemas da modernidade, ainda está ligada a desvantagens e preconceitos
Elena Maria Reichl,
Alemanha
“Compra um carro!”, “Sai
da rua!”. Esses são comentários pacíficos que eu já encontrei entre ofensas mais graves
e carros passando muito perto
ao meu lado no caminho diário do centro ao Campus do
Vale. Felizmente, também há
motoristas respeitosos que se
comportam dum jeito gentil
e, na maioria das vezes, chego
sem incidentes maiores. De
qualquer forma, eu não quero
deixar meu hábito de usar a
bicicleta como meio de transporte principal. Jamais trocaria o sentimento de liberdade por um lugar apertado no
ônibus ou horas de engarrafamento dentro dum carro.
Andar de bicicleta oferece
muitas vantagens para o corpo humano. Além de ser uma
ajuda contra a obesidade, que
afeta 55% da população porto-alegrense, segundo matéria do Jornal da Universidade
(maio/2015). A atividade física
aumenta a produção dos hormônios serotonina e dopamina,
que são os principais responsáveis pela nossa sensação de felicidade.
No que se refere ao meio
ambiente, a bicicleta é a melhor opção de meio de transporte, pois não há produção
de CO2 nem perturbação com
barulho. Além disso, ela ocupa
pouco espaço, o que é um fator
importante quando uma população cresce com rapidez. A
cidade de Porto Alegre teve um
aumento populacional de 23%
entre 1990 e 2012. Atualmente,
conta com mais de 1,5 milhão
de pessoas, sem considerar a região metropolitana.
Além do número de habitantes, o que vem aumentando
também é a quantidade de automóveis. Conforme um estu-
do desenvolvido por Gustavo
de Carvalho Lana, doutorando
em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais, a
evolução da frota na Grande
Porto Alegre fará com que,
em 2040, a região tenha 2,98
milhões de veículos, o que representaria um crescimento de
97,4% em relação a 2012, ano
base da pesquisa, quando existiam 1,5 milhão de veículos.
Em certa medida, isso resulta do fato de que a compra
de automóveis foi estimulada.
Em maio de 2012, o governo
brasileiro lançou um pacote de
medidas, no qual se destacou a
redução do IPI (imposto sobre
produtos industrializados) para
carros novos. O objetivo era
melhorar a situação econômica
do Brasil. De fato, levou muitas
pessoas a comprar um carro,
mas no fim das contas o país
está em crise mesmo assim, e
um aumento drástico do trânsito se reflete nas ruas.
Motoristas - O taxista Everton
Correia, 48, dirige há 15 anos
nas ruas de Porto Alegre. “A
situação do trânsito em Porto
Alegre é muito ruim. Há muitos carros na rua, os motoristas
também não ajudam.” O motorista profissional reclama do
egoísmo na rua, que se mostra,
por exemplo, no bloqueio dos
sinais, o que causa engarrafamentos principalmente nos horários de maior trânsito, entre
seis e oito horas da noite. Também lamenta a falta de cooperação entre taxistas, motoristas de
carro e de ônibus e ciclistas.
Mauricio Diello Reolon
tem 39 anos, sendo 19 de experiência profissional como motorista de ônibus da linha T6.
Sua avaliação sobre o tráfego
revela as principais problemáticas que há em Porto Alegre
nesse assunto: “Não chega a ser
uma guerra, mas não chega a
ser pacífico também. O nosso transporte coletivo é muito
ruim; sem incentivo (do governo) as pessoas deixam de usá-lo.
Não tem ciclovia... a pessoa opta
pelo carro.”
A falta de ciclovias é um
grande obstáculo que impede o
uso da bicicleta, em vez do carro, em todas as ruas da cidade.
O desenvolvimento de novas
ciclovias acontece de um jeito
tão lento em Porto Alegre que
o jornal Zero Hora publicou,
em maio deste ano, uma série
especial em que revela a confusão na organização e realização
dos projetos. Por isso, a cidade
ganhou menos que quatro quilômetros de novas ciclovias em
um ano.
Assim, o ciclista é forçado
a andar pela rua e se expor ao
perigo dos veículos mais pesados. No caso do arquiteto Joel
Fagundes, 60, isso levou a sua
morte. Ele foi atropelado por
um motorista de taxi na Zona
Norte de Porto Alegre em fevereiro deste ano.
Pedalada em bando
atropelou 11 ciclistas de propósito.
Abaixo do vídeo da cena do atropelamento no Youtube, encontram-se
vários comentários de apoio ou de
desprezo ao ato do motorista, entre
eles, destaco o comentário de “senhoresfunny2”: “PEDALAR É PRA
QUEM É POBRE BURRO QUE
QUER SER ATROPELADO [...]”.
No Brasil, também é uma questão de status social quando se trata
da decisão de andar de carro ou usar
outros meios de transporte. Quem
fica dentro de um carro se isola das
pessoas que andam a pé ou de bicicleta ou que usam o transporte público e, assim, foge do desconforto
estrutural.
Para estabelecer a bicicleta
como meio de transporte principal para uma grande parte da população de Porto Alegre, são necessárias mudanças profundas no
jeito de se pensar a organização da
cidade. Não faltam exemplos bemsucedidos de outros municípios
brasileiros. São Paulo, por exemplo,
recebeu 200 quilômetros de novas
ciclovias desde 2014.
Atualmente, na Avenida Ipiranga, caminho para o Vale, está sendo
construída uma ciclovia. Pequenos
passos para tornar a bicicleta um
meio de transporte mais tranquilo
em Porto Alegre. Espera-se que, no
futuro, a capital gaúcha tenha um
trânsito mais gentil, seguro e inofensivo ao meio ambiente, o que
traria benefícios para todos os cidadãos.
Luis Eduardo Kochhann
Para tornar minha pedalada do
centro até o Campus do Vale mais
segura e agradável, eu ando muitas
vezes em conjunto com outros estudantes que se organizam num grupo de Facebook (partiupedalvale).
Além de ser divertido andar com
amig@s, esperamos chamar mais
atenção dos motoristas e aumentar a
nossa visibilidade como participantes legítimos do trânsito.
Entretanto, a realidade no lado
direito da rua não chega a ser fácil.
Por isso muitos ciclistas se organizam na Massa Crítica, movimento
que luta por melhores condições
para o ciclismo. A maioria dos motoristas de Porto Alegre ainda não
chegou a aceitar a bicicleta como
meio de transporte de direitos iguais
ao carro, como é o caso nas cidades
da Alemanha e de muitos outros
países do mundo.
Um caso extremo aconteceu
numa manifestação da Massa Critica em 2011, quando um motorista
A caminho do Campus do Vale com um grupo organizado pelo Facebook
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CIDADANIA
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­ PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
RUAS para as PESSOAS
Num mundo globalizado, é difícil conhecer o vizinho, mas em Porto Alegre alguns moradores estão redescobrindo os espaços públicos
Erika Argaez, Colômbia
Naomi Martin, Reino Unido
Valeria Bermudez, Colômbia
Hoje em dia, pode-se ter
uma rede de amigos pelo mundo; o difícil é saber o nome do
vizinho para trocar um “bom
dia”. Porém, Porto Alegre está
vivendo o ressurgimento de uma
ideia antiga: a boa vizinhança.
Durante a semana, as ruas
da capital gaúcha veem muito
fluxo humano, mas muitos espaços ficam desolados durante
o fim de semana, tornando-se
pouco frequentados pela insegurança e falta de luz nas ruas,
entre outras questões. “A cidade acaba sendo um lugar muito
agressivo para as pessoas, e a
gente perdeu o costume de ter
bons vizinhos”, diz Cristian Figueroa, estudante colombiano
que mora em Porto Alegre faz
dois anos. Atualmente, pouca
gente costuma sair e aproveitar
o seu entorno, que antigamente era um espaço para conviver
e compartilhar com vizinhos,
trocando as notícias do dia e se
conectando com o seu bairro.
Essa convivência na rua foi se
perdendo aos poucos, e muitas
pessoas começaram a fechar
suas portas, decidindo ficar na
segurança das suas casas.
Entretanto, há um par de
anos, a capital gaúcha está ex-
perimentando uma tentativa
de reaproximação das pessoas
com o seu bairro e a sua cidade. Isso se consegue através de
um movimento de confraternização entre vizinhos, conhecidos e desconhecidos. Essa nova
tendência porto-alegrense, que
tem como objetivo ocupar os
espaços públicos, visa a levar
música, gastronomia e arte para
as ruas para despertar de novo
a convivência entre os indivíduos. Esses eventos passaram
a integrar a rotina dos gaúchos
e de todos os que visitam a cidade, pois acontecem em ruas,
parques, praças, museus, entre
outros espaços públicos.
No dia 31 de maio, aconteceu o Festival Mais Bonito
do Mundo na rua Gonçalo de
Carvalho, considerada pelos
gaúchos como a rua mais bonita do mundo. Participaram do
evento não só vizinhos locais
mas também moradores de todos os bairros. Mas o que levou
as cerca de quatro mil pessoas
a se reunirem nesta rua num
domingo qualquer?
Durante o evento, com a
luz da tarde pintando todo o
ambiente de uma cor nostálgica, velhos vizinhos trocaram
novidades, amigos estudantes
compartilharam cervejas artesanais, enquanto olhavam as
ofertas dos brechós montados
na calçada, e famílias se jun-
taram para escutar música ao
vivo embaixo da sombra das
árvores que delineam a rua.
Sentia-se no ar um clima de
confraternização, e todos pareciam não ter preocupação nenhuma no mundo: “Eu adoro
eventos de rua, porque o clima
me faz bem. O ar é melhor, o
ambiente é mais livre para
a circulação”, comenta João
Ilha, estudante de Geologia da
UFRGS.
“A ocupação do espaço público mostra
que existe uma comunidade ali”
Por trás desses eventos,
aparentemente tão espontâneos e livres, existem muitas
organizações e movimentos
que estão se coordenando
para torná-los realidade. Thiago Couto, jornalista e um dos
responsáveis pela organização
do festival, ressalta: “o que a
gente mais luta nesses eventos
é, primeiro, pela ocupação do
espaço público, porque mostrando que a gente está na rua
mostramos que existe uma comunidade ali, e que o poder
público tem que ver que ali
está acontecendo algum tipo
de movimentação”. A ideia não
é que as pessoas se reúnam e
se divirtam um domingo só,
mas que isso seja parte de um
movimento, ou seja, uma série
de eventos em que se consegue
mudar, aos poucos, a perspectiva e a relação que os cidadãos
têm com sua cidade.
“A gente tem que se reeducar para conviver de novo nos
espaços públicos sem medo,
com segurança, porque a gente tem medo de ocupar esses
espaços em função da falta de
segurança na cidade”, ressalta
Brittes Francisca, uma vizinha
que mora no bairro Floresta há
vinte anos.
Álvaro Carvalho, dono de
um café na Cidade Baixa, que
participou no festival como
vendedor num brechó, reflete:
“as ruas em Porto Alegre estão
cada vez mais voltadas para a
passagem de carros, e, com esses
eventos ocupando esses espaços, nós lembramos que as ruas
são lugar de pedestres e não só
de carros.” Quanto mais se ocupa os espaços públicos, mais
consciência se gera no cidadão
para retomar as suas responsabilidades e direitos para com a
sua cidade. Mas será que esses
eventos sociais realmente têm a
capacidade de gerar um impacto positivo a longo prazo?
Ainda é cedo demais para
saber se o Festival Mais Bonito
do Mundo gerará uma mudança
no bairro Floresta, mas Thiago
Couto, membro fundador de
La Casa de Pandora, espaço colaborativo e uma das instituições organizadoras do festival e
de dois eventos anteriores para
incentivar a boa vizinhança na
rua Comendador Azevedo, salienta o potencial dessas realizações. “Depois dos eventos
[na Comendador Azevedo],
com as pessoas se conhecendo mais, a gente já vê hoje, por
exemplo, às 18h ou 19h os vizinhos indo tomar um chimarrão
na frente de casa ou saindo com
o cachorro para passear. Então,
acho que nesse sentido o evento melhorou a questão de segurança”, comenta.
Não é uma mudança que
vai se conseguir da noite para o
dia, mas, como o poeta porto-alegrense Élvio Vargas pondera, “é uma tentativa, acho, de se
comunicar, de abrir a guarda”.
Esses eventos marcam um passo para reconectar o cidadão
com sua cidade. Com cada encontro, ele abre mais a guarda
e relembra como é bom conviver e compartilhar com os
vizinhos, criando não só amigos mas também uma rede de
cidadãos que se orgulham e se
preocupam em cuidar de suas
ruas e da sua Porto Alegre.
Naomi Martin
Valeria Bermudez
Vizinhos e cidadãos de Porto Algre curtindo a rua mais bonita da cidade
Músicos animando o Festival Mais Bonito do Mundo na Rua Gonçalo de Carvalho
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ENSAIO
Será que a grama do vizinho é mais verde?
Uma investigação sobre as origens e as repercussões do complexo de vira-lata brasileiro em face do resto do mundo
Eléonore Pierrat, França
Maël Le Gallic, França
Quando chegamos no Brasil, percebemos uma contradição entre a imagem
que nós temos e a que os brasileiros têm
sobre seu país. Para nós, o Brasil apresenta um dos maiores PIB do mundo e uma
taxa de pobreza reduzida pela metade entre os anos de 2000 (22%) e 2010 (11%).
Em resumo, um país do futuro. Porém,
ouvimos dos brasileiros que o país deles
é inferior a outros, como os Estados Unidos ou países da Europa, em vários assuntos (educação, saúde, infraestrutura etc.).
Esse fenômeno se expressa, entre outros,
por uma desvalorização total do Brasil
e uma idealização dos países comparados, como, por exemplo, achar que não
há metrôs lotados, moradores de rua ou
ladrões na França. Logo antes do começo
da Copa do Mundo de futebol de 1958 –
que o Brasil ganhou pela primeira vez –,
o jornalista esportivo Nelson Rodrigues
publicou na revista Manchete uma crônica em que descreveu o complexo de
vira-lata como “a inferioridade em que
o Brasileiro se coloca voluntariamente
em face do resto do mundo”. O elemento
mais recorrente que encontramos, e que
demonstra esse complexo, foi a pergunta
“Por que escolheu o Brasil?”. Este ensaio
apresenta a pesquisa que desenvolvemos
para entender essa falta de fé dos brasileiros em si.
Complexo de vira-lata revela desigualdades
A maioria dos brasileiros que conhecemos não tem uma boa imagem dos
seus dirigentes e sempre cita a política e
o corolário da corrupção como um dos
maiores problemas. Um exemplo é o escândalo da Petrobras, que começou em
março de 2014 envolvendo empreiteiras
e políticos. Isso resultou num amplo debate sobre corrupção política que mostra
o quanto o mundo político é movido por
interesses individuais da elite. Com isso
em mente, buscamos no livro de Sérgio
Buarque da Holanda, Raízes do Brasil,
alguma explicação histórica para a corrupção no Brasil. O autor refere-se ao começo da colonização pelos portugueses,
que foram o que ele chama de “aventureiros”. O conceito de aventureiro tem vários
rostos: um deles é de “buscar novas experiências, acomodar-se do provisório, e
preferir descobrir a consolidar”. Uma das
consequências disso é a sede “de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos,
de posições e riquezas fáceis”.
Um outro traço ibérico que influenciou o espírito brasileiro é a importância
do prestígio pessoal, que se mede com
o mérito e se conquista por atos de alta
virtude. Segundo o autor, esse “personalismo” resultou na frouxidão das instituições e na falta de coesão social, porque,
de fato, o ibérico não renuncia às veleidades em benefício do grupo ou dos princípios. A sucessão dos sistemas políticos no
Brasil mostrou a permanência da herança
ibérica. A ditadura militar foi um regime
personalista, visto que o poder estava História na França e ativista pelos direitos
associado a alguns indivíduos enquanto dos afro-brasileiros, o exemplo do racisos outros eram reduzidos à obediência. mo no Brasil ilustra a ideia de auto-reaHoje, a forma de oligarquia que ainda lização. Ele salienta os efeitos nefastos do
detém o poder transformou “os lemas da complexo de vira-lata sobre a capacidade
democracia liberal” em “conceitos pura- dos afro-brasileiros de reclamarem os
mente ornamentais, ou declamatórios, seus direitos. O tabu da escravidão e do
sem raízes fundidas na realidade”.
racismo persiste no Brasil e inibe a consEssa visão da política trouxe várias trução de uma identidade afro-brasileira
consequências no âmbito social, o que suficientemente forte para possibilitar
explica em parte o complexo de vira-lata. um movimento social capaz de mudar a
O artigo de Luis Weis e Jurandir Freire situação de dominação da parte branca
Costa, “Brasileiro condena Brasileiro”, de sobre a parte negra da população.
1996, na revista Superinteressante, aponta
Assim, percebe-se como o complexo
uma contradição entre a herança dos va- de vira-lata revela a desigualdade profunlores democráticos e a realidade da vida: da da sociedade brasileira. Em 2012, de
“ser brasileiro significa herdar a tradição acordo com os números do Banco Mundemocrática na qual somos todos iguais dial, o índice de Gini do Brasil foi de 0,527.
perante a lei e onde o direito à vida, à Esse índíce sintetiza a desigualdade de saliberdade e à busca da felicidade é uma lário: ele vale 1 se cada pessoa ganha uma
propriedade inalienável de cada um de parte igual da riqueza produzida no ano e
nós; na realidade, ser brasileiro significa vale 0 se uma pessoa tem toda a riqueza
viver em um sistema socioeconômico in- do país. Desde 2010, ele é estável e clasjusto, onde a lei só existe para os pobres e sifica o Brasil, em média, como o 6º país
para os inimigos e onde os direitos indivi- mais desigual do mundo. Já na colonizaduais são monopólio dos poucos que têm ção pelos portugueses, a sociedade foi dimuito”. Para Jurandir, uma das reações vidida entre nativos e escravos de origem
dos brasileiros é de se desinteressar pela africana, de um lado, e colonizadores, do
política e se desvaoutro, distinguinlorizar por aceitar
do-se entre si pelo
conviver com tantrabalho
manual
O complexo de vira-lata
tos compromissos
daqueles (e depois
na ética deles. Uma
pela dependência
revela a desigualdade
outra é que “o indiao salário) que enprofunda da sociedade
víduo adere à ética
carna o contrário
da sobrevivência ou
mesmo da herança
brasileira
à lei do vale-tudo:
do ideal de nobreza
pensa escapar à deibérico. Entretanto,
linquência, tornansegundo Deri Sando-se delinquente”. Consequentemente, tana, depois do governo de Lula, muitas
ninguém confia nos outros fora do círcu- pessoas pobres conseguiram melhorar
lo dos amigos e da família.
sua situação material, e a democracia funÉ interessante fazer um paralelo com cionou em relação a alguns assuntos, tais
as recentes manifestações contra a pre- como o acesso dos negros à universidade
sidenta Dilma Rousseff em fevereiro de e das mulheres aos empregos masculinos.
2015, reclamando, por parte de alguns, Na sua opinião, a classe superior branca
sua destituição para o retorno da dita- não aceita ver pessoas que eram socialdura militar. Para esses manifestantes, mente inferiores começarem a acessar os
a ditadura pareceu mais desejável que mesmos entretenimentos e exigir mais
a confusão da democracia. Entretanto, direitos que antigamente. Assim, eles vão
Buarque da Holanda salienta que “os re- à rua para protestar contra o governo de
gimes discricionários [...] representam, Dilma Rousseff e proteger o que sobra dos
no melhor caso, um disfarce grosseiro, seus privilégios. Esse grupo social teria
não uma alternativa pela anarquia”. O interesse na conservação do complexo de
corolário da obediência é sempre a vio- vira-lata: ele usaria os órgãos midiáticos
lência, e encontra também ilustração nos para atingir esse objetivo. Em particular,
eventos da atualidade brasileira, como, o pesquisador aponta a responsabilidade
por exemplo, na manifestação em Curi- da televisão, que tem uma quase exclusitiba contra um projeto de alteração das vidade para divulgar informação e uma
regras de aposentaria dos servidores esta- proximidade muito grande entre a oligarduais no estado do Paraná, que foi repri- quia e o poder político.
mida violentamente pela polícia militar
em abril de 2015.
Acabar com o complexo de vira-lata
Assumir uma tal imagem da sua
Os brasileiros não idealizam seu país;
identidade nacional tem um poder de pelo contrário, colocam acima de tudo os
“auto-realização”, insiste Jurandir: des- Estados Unidos, a Europa Ocidental, em
prezar-se assim só ajuda a convencer os particular a Alemanha e a Itália, e o Japão,
outros de que não é possível mudar o revela o artigo da Superinteressante, refestatus quo e derrotar o banditismo. Para rido anteriormente. Percebemos também
Deri Santana, doutorando e professor de que a França tem um grande prestígio no
Brasil. Isso mostra como os brasileiros
buscam fora do país modelos e soluções
para os problemas. Eles acreditam na
perfeição das instituições democráticas,
na riqueza generalizada e na ausência de
problemas de integração das minorias étnicas. Deri Santana afirma que, na grande
maioria dos casos, essas crenças baseiamse na ignorância sobre a vida nesses países.
Além disso, a mídia brasileira não divulga
informações internacionais que mostram
a complexidade desses países, e os brasileiros não as buscam. No caso dos EUA,
a identificação esconde seu imperialismo
cultural e econômico, pois a maioria da
população brasileira nem percebe como
seu país é recolonizado por aqueles.
Caleb Alves, professor de antropologia da arte na UFRGS, pensa que a idealização do estrangeiro vem de uma estratégia de fuga para não olhar e não tratar dos
problemas do país. Segundo ele, o desenvolvimento de uma cultura brasileira sintética no cruzamento das três influências
étnicas do país pode ser um passo muito
positivo para acabar com o complexo de
vira-lata. Algumas premissas já existem,
mas o desenvolvimento de uma arte própria está ainda em gestação.
Depois de colocar em perspectiva esses elementos históricos e sociológicos,
podemos entender de onde vem o complexo de vira-lata, como conta a história
do Brasil e revela o tabu da escravidão.
Ele é uma manifestação da transformação do país deixando pouco a pouco de
funcionar sobre os princípios herdados
da colonização e da tradição oligarquista
para criar um jeito novo. Nosso ponto de
vista de estrangeiros morando no Brasil é
que é certo que falta infraestrutura, planejamento do uso público dos recursos, tais
como água e um sistema eficiente de saúde. Pode ser também que a situação política e econômica tenha piorado. Entretanto, encontrar dificuldades para solucionar
problemas da sociedade não é uma característica exclusivamente brasileira. Na
Europa, os problemas maiores apenas são
diferentes porque nossas histórias são
diferentes. Por exemplo, o Brasil não encontra (ainda) a necessidade de construir
uma política de imigração de massa, não
conhece tensões religiosas, nem deve financiar um sistema de aposentadoria e de
saúde cada vez mais caro porque a população envelhece. Além disso, no dia a dia
sentimo-nos bem no Brasil; nossas condições de vida não pioraram. Isso não é só
questão de câmbio de moeda; tem a ver
com o estilo e o nível de vida dos estudantes brasileiros da UFRGS (pelo que nós
podemos enxergar). Eles são parecidos
com os nossos na França, apesar das diferenças culturais não serem desprezíveis.
Não sabemos se o Brasil é melhor ou pior
que os outros países, mas com certeza não
sentimos nenhuma necessidade de voltar
logo, dada a beleza da natureza e da gente
do Brasil.
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CONEXÃO PPE |
­ PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
RELACIONAMENTOS
Namoro
internacional
No ano novo chinês, quando Tian foi cantar com Rafael, não
imaginou que ele se tornaria seu namorado
André Chen, China
Arquivo Pessoal
O termo intercâmbio está se tornando um assunto relevante: nos últimos
anos, houve um aumento quase linear
do número de intercambistas. Em 2011,
o governo brasileiro iniciou o programa Ciência Sem Fronteiras, enviando
bolsistas oriundos de 850 instituições
para estudar em 2.733 universidades no
exterior, conforme dados informados
pelo Ministério da Educação. Ao mesmo tempo, as instituições brasileiras
também participam desse grande fluxo
de internacionalização através de iniciativas como o Programa de Português
para Estrangeiros (PPE) da UFRGS e o
Mais Médicos, que recebem estudantes
e profissionais do exterior.
Hoje em dia, fazer um intercâmbio
cultural ou profissional está no planejamento de cada vez mais jovens e adultos. O intercâmbio não é mais simplesmente uma troca educacional mútua; os
intercambistas têm ampliado o conteúdo desse termo: aprender uma língua
nova, enfrentar as diferenças entre as
culturas e, de repente, entrar num namoro internacional.
Foi o intercâmbio que levou a chinesa Tian Li a encontrar seu amor e se
envolver num namoro internacional.
Nesse relacionamento, ela e seu companheiro vêm enfrentando desafios ligados aos conflitos culturais e acabam
descobrindo caminhos diferentes para
o futuro.
Tian Li acha que vale a pena publicar um livro para contar as suas histórias de namoro com o gaúcho Rafael Papageorgiou. “O Rafa e eu enfrentamos
juntos muito mais desafios nesse relacionamento do que outros casais, tais
como a distância, o apoio da família, a
integração na cultura do outro, o trabalho dos dois. Mas, felizmente, estamos
superando uma por uma as dificuldades
e caminhando no caminho certo”, revela
a menina de 23 anos, formada no curso
de Português da Universidade de Comunicação da China (UCC) em 2014 e
que está num relacionamento sério com
o gaúcho há mais
de dois anos.
Em agosto de
2012, através do
convênio entre a
UCC e a UFRGS,
Tian e seus colegas
vieram para o Brasil no terceiro ano
da faculdade e foram recebidos para
fazer intercâmbio
de um ano no Instituto de Letras da
UFRGS, frequentando cursos no PPE.
Para muitos alunos chineses, ao chegarem num país novo, entrar no Facebook
é a melhor maneira de conhecerem as
pessoas e de se integrarem na sociedade
local. Ao se tornar uma novata do Facebook, Tian começou a receber várias solicitações de amizade dos universitários
da UFRGS, entre elas a do Rafael, aluno
de História do quarto ano e estudante de
mandarim por três anos. Os dois eram
somente amigos de Facebook e demoraram uns meses até se encontrarem
pessoalmente em função de uma oportunidade em que deviam preparar uma
música chinesa para cantar juntos na festa de ano novo chinês. “A partir do nosso
primeiro encontro, percebi algo especial
nele, e aí combinamos mais passeios até
que ele me pediu em namoro.”
Para esse casal, o maior desafio, em
vez de serem as línguas, são as diversas
diferenças culturais entre a China e o
Brasil. Tian nasceu numa família tradicional no sul da China e respeita muito
a opinião dos seus pais. “No início, eles
não declararam a posição deles sobre
nosso namoro, mas eu não ia continuar
o namoro sem a atitude clara e favorável
deles. Eu sempre perguntava a eles se
existiam dúvidas e tentava explicar-lhes
bem”, lembra. Para o namoro ser aceito
pela família de Tian, o casal teve de provar que Rafael dominava bem o mandarim, conhecia bem a cultura chinesa e
conseguiria um bom trabalho na China.
A integração na cultura chinesa foi um
processo árduo. Desde as formas de tratamento da família até a etiqueta num
jantar. “O Rafa fez muitos sacrifícios, na
verdade, e tínhamos muitas brigas nessa
integração, mas havíamos nos preparado para enfrentar esse desafio antes de
namorarmos e valeu a pena termos feito
essas mudanças.”
O casal namorou dois anos a distância, mas o espaço que os separa está
diminuindo. Primeiro, Rafael conseguiu
uma bolsa para estudar mandarim em
Tianjian, cidade perto de Pequim, onde
Tian mora. Um ano depois, os dois foram contratados pelo maior sistema de
busca da China,
Baidu.com. Eles
trabalham em Pequim e em São
Paulo. “Estamos
tentando conseguir o visto de
trabalho do Rafa.
Pretendemos morar juntos na China um dia. E esse
dia está chegando”,
revela Tian, com
expectativas.
OLHAR NÔMADE
A estrangeira
e a cidade
Não há terras estrangeiras. É o viajante apenas que é o estrangeiro.
Robert Louis Stevenson
vive à beira de alguns mal-entendidos.
Para começar, vive à beira de um rio
Como estrangeira, navegando a vida que não é rio. O Guaíba é um estuário”
em terras distantes, já considerei bastan- – mas, claro, Porto Alegre não é a únite como as diferentes cidades onde mo- ca cidade que vive à beira de alguns mal
rei durante alguns meses, talvez alguns -entendidos. Nos primeiros dias, mesmo
anos, formam parte do mapa sentimen- saindo com um mapa, o estrangeiro não
tal da minha vida. De acordo com Maria está protegido de cair nas armadilhas da
Rita Kehl, uma cidade é composta por sua nova cidade: ruas enganosas de dois
“milhões de mapas sentimentais recor- nomes, escadas que não chegam a lugar
tados pelas pequenas histórias de vida nenhum e prédios que mudam de endede seus habitantes”. Porém, hoje em dia reço sem avisar a ninguém. Talvez a ciexiste tanto fluxo humano, habitantes dade faça de propósito e, desde seu “olho
que trocam sua cidade pela promessa de onividente, de quem olha de cima”, semelhores oportunidades ou na procura gundo Benito Schmidt, ela observa todos
de aventura, que as pessoas também ter- que se deixam ser enganados. Talvez seja
uma prova da cidaminam sendo marde, para testar a lealcadas pelas cidades
dade do estrangeiro
por onde passam,
Existem algumas fases
e ver se ele é como
seja por um dia ou
os demais que chepor uma década.
de aceitação entre o esgaram, passearam,
Eu, como milhões
trangeiro e a cidade
tiraram suas fotos e
de outros, sou os lusaíram; ou pode ser
gares por onde pasque ele seja diferensei, e sempre tento
te?
deixar algo de mim nos lugares que mais
O momento em que o estrangeiro
me marcaram.
Apesar de ser uma relação íntima decide ficar na cidade e torná-la sua seque cada estrangeiro tem com sua cida- gunda casa marca o começo da última
de adotada, existem algumas verdades fase de aceitação entre aquele e esta. Deiuniversais e fases pelas quais nenhum xando no passado os mal-entendidos, o
estrangeiro pode evitar passar, como estrangeiro ganha a confiança da cidao primeiro ataque da cidade. No mo- de. Na fase de aceitação, o estrangeiro
mento em que pisa a terra do seu novo traça toda a cidade, construindo rotinas
destino, independentemente se ele esti- e criando memórias tanto fantásticas
ver pronto ou não, a cidade ataca seus como cotidianas. As lembranças dos pricinco sentidos e, nesses primeiros dias, meiros encontros dentro da cidade cauo estrangeiro experimenta a cidade mais sam risada para o estrangeiro e tudo o
intensamente do que qualquer nativo. que parecia estranho e diferente já é norEle sente o cheiro fantasma de peixe que mal. Durante sua viagem pela cidade, o
viaja com o vento do mar até a cidade, estrangeiro também se transformou sem
ele escuta a melodia das conversas que perceber. Não é mais a alma perdida que
não consegue entender, ele encontra andava pelas ruas sem direção. Agora, ele
prazer em saborear uma fruta desconhe- caminha com propósito, sabe o que fazer
cida num mercado público, mas apren- e por onde ir, e, entre toda a multidão, ele
de rápido que nem toda experiência parece como mais um homem da cidade.
De sua parte, a cidade já não se esnova é tão deliciosa quando prova outro
prato sem perguntar seus ingredientes e conde atrás de só alguns poucos pontos
fica com um sabor amargo na boca. Nos turísticos e museus e, finalmente, abre
primeiros dias, cada canto da cidade de- suas portas ao estrangeiro, mostransencadeia mil surpresas e, para o estran- do seu ser verdadeiro: de sua casa mais
geiro novato, pode ser uma experiência majestosa até a mais periclitante. O esacabrunhadora, ou pode despertar sua trangeiro vê e aceita tudo, conseguindo
curiosidade para explorar e conhecer apreciar a beleza nas imperfeições da
todos os segredos que a cidade esconde cidade, porque, conforme Italo Calvino,
“de uma cidade, não aproveitamos suas
nas suas ruas.
A segunda fase pela qual cada es- sete ou setenta e sete maravilhas, mas
trangeiro precisa passar se chama de a resposta que dá às nossas perguntas”.
mal-entendidos inevitáveis. Esse fenô- Cada estrangeiro tem seus motivos para
meno é documentado no livro Traçando viajar: muitos estão tentando resolver
Porto Alegre, de Luís Fernando Verissi- perguntas cujas respostas não lhes ocormo e Joaquim da Fonseca, que ressaltam rem estando na sua cidade natal e talvez
as peculiaridades, assumidas como nor- esta nova cidade desperte no estrangeiro
mais pelos habitantes, que podem ser a perspectiva que lhe estava faltando para
um tropeço ao estrangeiro recém chega- finalmente responder a essas perguntas
do à cidade. Por exemplo: “Porto Alegre existenciais.
Naomi Martin, Reino Unido
CONEXÃO PPE ­| PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
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ENTREVISTA
Opção de comida vegetariana, FINALMENTE
Gustavo Diehl
A UFRGS é uma das últimas universidades federais a implantar cardápio com comida vegetariana. O RU6 oferece carne de soja como opção alternativa à carne
Glória (Yang He), China
Guilhe (Hyeong Yi), Coreia
Íris (Caihong Guo), China
Ricardo (Xingzhu Zhou), China
Sophie Lepage, França
O Restaurante Universitário
(RU) 6 da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS),
no Campus do Vale, abriu no
dia 13 de abril com a opção de
comida vegetariana. Para três
entrevistados no local, ter essa
opção é muito necessário e até
uma responsabilidade da universidade. Enquanto a UFRGS
só abriu o novo RU com a opção
vegetariana naquele mês, muitas
universidades federais no Brasil
já dispunham dessa opção faz
tempo.
Por que você opta pela comida vegetariana?
Victor Santos (Professor da
UFRGS): Não é um tipo de gosto, mas uma questão política,
devido à questão das mortes dos
animais. Também tem uma galera muito grande que é por causa
da religião.
Yulia Panteleeva (estudante
de Língua Portuguesa, 25 anos):
Porque no meu país, a Rússia, eu
recebi uma alimentação baseada
em carne e carboidratos. Eu senti a falta de verduras no cardápio
e, há 6 anos, resolvi mudar meus
hábitos. Era uma questão de
provar algo diferente e ter uma
alimentação saudável, mas isso
varia de uma pessoa para outra.
Adão Diaz (biólogo, 47
anos): Na verdade, estou fazendo
regime. Carnes assadas no Brasil são geralmente bem salgadas.
Para baixar a pressão, eu tive que
tirar a carne do meu prato, e aí
entrou a comida vegetariana.
O que você acha da comida vegetariana?
Yulia Panteleeva: Eu mato
minha fome com alimentos
cheios de vitaminas e minerais,
que são mais leves e fáceis para
digerir do que carnes. O Brasil
ainda é um iniciante nesta área.
Aqui em Porto Alegre, tem uma
cultura em torno da carne, do
churrasco. Esses hábitos levam
tempo para se mudar.
Adão Diaz: O problema não
é o sabor, é que com uma alimentação vegetariana eu sinto
fome pouco tempo depois de comer! Eu perdi muito peso recentemente, então estou provavelmente comendo as coisas certas,
mas não é fácil quando preciso
de uma nova refeição já uma
hora depois do almoço. Mas eu
não sou vegano, eu não poderia
deixar de comer laticínios, queijos em particular!
Se não tivesse a opção vegetariana, o que você iria comer?
Victor Santos: Eu traria alguma comida de casa, mas é difícil. Comeria no RU3 também, só
que não comeria a carne.
Yulia Panteleeva: Claro, eu
não passaria fome. No RU, sempre tem a opção de feijão com
arroz, que sustenta bem, sem esquecer das frutas na sobremesa.
A comida do RU6 é gostosa?
Yulia Panteleeva: Os molhos
de legumes são excelentes, só que
a carne é sempre de soja. Parece
uma opção vegana em vez de vegetariana, caso em que ovos, por
exemplo, seriam aceitos também.
Adão Diaz: Gostosa sim,
mas também não se trata de cozinha ‘Cordon Bleu’. Pagamos quase nada, então não reclamamos
muito.
Você acha que a opção vegetariana
é realmente necessária na faculdade?
Victor Santos: Sim, porque
já que é uma universidade que
acolhe tantos tipos de gêneros diferentes e diversidade, acho que é
uma responsabilidade da UFRGS
oferecer comida vegetariana para
respeitar essa diversidade em relação aos vegetarianos também.
Yulia Panteleeva: Acho sim.
A faculdade tem que oferecer
opções nutritivas para todos, levando em conta as diferenças entre nós. Temos alunos de várias
culturas, religiões e convicções.
E a opção vegetariana para mim
é mais interessante do que só feijão e arroz. Eu pago R$ 1,30 por
uma opção equivalente a um prato com carne. Por exemplo, hoje
temos pedaços de soja e molho
de berinjela e tomates. Não seria
justo pagar isso e só receber arroz
e feijão.
Adão Diaz: Aqui temos estudantes do mundo inteiro, de
várias religiões e grupos étnicos.
O Hinduísmo, Budismo, Judaísmo e Islamismo têm regras e limites que têm a ver com o consumo da carne. E não se pode
ignorar pessoas com intolerância
a proteínas animais. A faculdade
tem que atender a todos, e a opção vegetariana é um jeito simples de satisfazer vários grupos
diferentes com uma refeição.
Antes da construção do RU6, havia pedidos ou movimentos na
universidade?
Victor Santos: Existiam
sim. Não necessariamente construir um novo RU, mas pelo menos deixar um espaço separado
para vegetarianos.
Yulia Panteleeva: Os estudantes pediram a opção vegetariana. Aconteceu porque tinha
um desejo bem forte por parte
dos estudantes.
Você pensa que ter a opção vegetariana quer dizer que a universidade é mais moderna?
Victor Santos: Mais ou menos. Outras universidades públicas já têm faz tempo. As federais
de Santa Catarina e do Paraná já
têm. Acho que a UFRGS é uma
das últimas que implantaram a
opção de comida vegetariana. E
na verdade, esse é o único RU da
universidade que tem essa opção.
Quais são os outros esforços que
a UFRGS poderia fazer para melhorar as refeições no RU6?
Victor Santos: Não somente
oferecer carne de soja, soja, soja.
Colocar outra forma de proteína.
Tem outras!
conexão
Nº 5 | Julho de 2015
Expediente
Coordenação: Gabriela Bulla e Margarete Schlatter
Edição: Felipe Ewald
Projeto gráfico: João Brum
Colaboração: Caroline Wink, Camila Alexandrini,
Bruna Morelo e Laura Moreira
Contato: [email protected]
Confira mais textos no site: jornaldoppe.wordpress.com
6|
CONEXÃO PPE |
­ PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
GASTRONOMIA
Essas são comidas autênticas do Oriente?
Se alguém pergunta qual a comida gaúcha
mais representativa, todas as pessoas vão responder que é o churrasco. A gastronomia é uma das
características mais destacadas de uma cultura.
Hoje em dia, aqui em Porto Alegre, há oferta de
comida de outros países, de várias culturas, devido à presença de imigrantes no Brasil. A gastronomia mais exótica deve ser a oriental, tal como
a chinesa, a coreana e a japonesa, que vieram do
outro lado do mundo. Mas será que as comidas
orientais representam bem as suas culturas em
Porto Alegre? Enfrentam dificuldades encontrando novas circunstâncias e novos públicos? Perante os problemas, as comidas orientais mudaram
ou ainda mantêm suas características autênticas?
A originalidade vai desaparecer ou surgirá uma
nova originalidade? Vamos descobrir com o Conexão PPE em três restaurantes de comida chinesa, coreana e japonesa.
Restaurante chinês
Restaurante coreano
pusemos mais molho e, ao mesmo
tempo, deixamos mais salgados.”
Em relação ao que muitos brasileiros acham – a impressão de que a
comida chinesa é muito oleosa –
Zhao afirma: “os pratos fritos, que
na verdade a gente não come tanto ou come na hora, sempre ficam
com mais óleo quando são feitos
algumas horas antes. O formato
buffet, de fato, não combina muito
com a comida chinesa”.
“A culinária chinesa varia demais de região para região, por
isso é difícil apontar um prato tão
marcante como o sushi da culinária japonesa. A concepção da
medicina chinesa também é muito
recorrente nos pratos. Devo dizer
que a comida chinesa é muito saudável. Mas, por causa da falta de
ingredientes e temperos, só podemos nos esforçar para manter
a originalidade e, ao mesmo tem-
po, satisfazer o gosto das pessoas
aqui.” A proprietária se diverte
quando algum cliente lhe diz que
os pratos no seu restaurante são
mais deliciosos do que na China.
“É que a gente fez adaptações.”
Mas, agora, os restaurantes
chineses parecem um pouco decadentes, porque a comida japonesa prevalece, já que é mais
simples e menos oleosa, comenta
Zhao. O restaurante Jing Long começou a oferecer vários tipos de
sushi para garantir e atrair mais
clientes. “Mas ainda tem bastantes clientes sim. Se eles acham que
é legal, vão chamar amigos ou familiares para comer aqui juntos.
Eles curtem frango xadrez, rolo
primavera e massa semifrita. No
ano passado, um programa de televisão veio pra cá e gravou uma
receita de frango xadrez”, acrescenta.
O Basak Oriental abriu há
menos de um ano. Ele oferece
comidas orientais, que são feitas pelo chefe de cozinha que
aprendeu culinária no Vietnam, na Tailândia, em Singapura e na China. Os clientes
podem provar cheiros e sabores diversificados da comida
asiática.
Porém, na verdade, os pratos principais são da culinária
coreana. O nome do restaurante, “Basak”, que significa
crocante em coreano, mostra
o seu orgulho em relação aos
pratos fritos. O restaurante
usa a farinha de mandioca,
que não contem glúten, para as
pessoas que não podem consumi-lo e cria uma maneira de a
parte de fora ser crocante e a
de dentro macia. Ademais, se
pode experimentar comida vegetariana, como o “jabchae”,
que em coreano significa vários legumes oferecidos para
os reis feudais da Coreia. Essa
é uma opção nova e favorável
para os vegetarianos. Por causa desses esforços com respeito à saúde, o restaurante é mais
procurado por clientes de terceira idade e famílias. O dono
do estabelecimento, Jong Daniel, diz que os brasileiros têm
poucos conhecimentos sobre a
comida coreana. Ele mencionou uma reportagem que trata
do Kimchi (a comida coreana
mais típica, couve chinesa fermentada com pimenta vermelha), que foi considerada a comida mais saudável do mundo.
Jong acrescenta: “Se fizermos
mais esforço pela nossa cultura
e pelo nosso país, a comida coreana vai certamente ser bem
mais procurada e reconhecida
por todo o mundo.”
Hyeong Yi
Figurando entre as três mais
ricas no mundo, a culinária chinesa é difundida em todos os
continentes. Em Porto Alegre,
atualmente existem mais de 10
restaurantes chineses.
“Quanto à comida chinesa,
uma pergunta ocorre a muitos
brasileiros: os chineses comem
cachorros? Muita gente já até deu
uma resposta afirmativa na sua
mente”, aponta Zhao Jianying,
dona do restaurante chinês Jing
Long, situado no centro da cidade. “Mas o fato é que na China
quase ninguém come cachorro.
Nem sei de onde veio esse preconceito estranho.”
O restaurante, que foi inaugurado há 10 anos, fez muitas adaptações nos pratos para satisfazer o
gosto dos brasileiros. “Por exemplo, eles gostam de pratos com molho. Então nos pratos meio ‘secos’
Divulgação
Guilhe (Hyeong Yi), Coreia
Ricardo (Xingzhu Zhou), China
Fonte www.zomato.com
Restaurante japonês
O restaurante Sakae’s tem oferecido comida japonesa há mais
de 40 anos, desde 1973. Este é um
dos poucos lugares em Porto Alegre onde se pode conhecer a comida autêntica japonesa, inclusive o
sushi, que os jovens adoram hoje
em dia.
O restaurante é efetivamente popular. De famílias a artistas,
pessoas de profissões e classes
diferentes frequentam o lugar.
O dono, Tadao Ecchuya, nasceu
numa família pescadora em Hiroshima. Até hoje, ele ainda faz
pessoalmente o sushi à mão, apesar de sua idade avançada. Em relação à necessidade de adaptação,
ele assumiu uma atitude crítica.
“Antigamente, quando não tinha
os materiais necessários para cozinhar a comida japonesa, eu tinha
que substituir alguns ingredientes, mas hoje já pode reaparecer
perfeitamente o sabor tradicional
da comida japonesa por causa do
desenvolvimento da tecnologia de
conservação, do transporte e do
mercado”, afirma. Dessa forma, o
Sr. Tadao tem se dedicado a manter a originalidade da comida japonesa: “uns brasileiros ainda têm
medo de comer peixe cru e preferem somente salmão”. Ele mede o
peso exato dos alimentos e seleciona esmeradamente os molhos,
como shoyu e miso. Por fim, arremata: “Vou trabalhar para que os
brasileiros acolham mais a comida
japonesa”.
Nossos irmãos e irmãs
esquecidos
Chris Taafe, Austrália
Qual é o objetivo da vida?
Qual é o propósito da vida? Para
vários de nós, as respostas variariam entre ser bem sucedido, ter
uma família, ganhar dinheiro,
ser feliz... Mas lembremos que
existiram as antigas tribos indígenas e que para eles os objetivos
da vida eram muitos, mas a sobrevivência talvez estivesse em
primeiro lugar. Para eles, o foco
era achar comida e encontrar
proteção contra as intempéries.
Para muitos de nós, essa vida
não existe mais, pois nós sempre
temos comida disponível e um
teto sobre nossas cabeças, tudo
na ponta de nossos dedos. Essa
vida dos índios e dos povos antigos já era, né?
Então, eu estou aqui para te
contar que essa vida continua
para uma parte do povo do Brasil
– os moradores de rua. De acordo com o site www.moradoresderua.org.br, “no Brasil há cerca
de 192 milhões de habitantes,
segundo o censo do IBGE. Entre
0,6% a 1% é de população de rua”.
O Brasil tem 1,8 milhão de
pessoas sem lar ou condições
básicas de vida. Esse grupo ainda está lutando para achar comida para sobreviver, além de
proteção contra o frio e a chuva.
Normalmente, eu ando dentro
do meu grupo social, mas a educação, como muitas vezes acontece, me deu uma visão sobre a
parte oculta, que nunca tinha
percebido, da sociedade em que
vivo. Eu sempre vejo os moradores de rua dormindo nas calça-
das; já passei por cima deles sem
prestar qualquer atenção. Você
sabe, né? Todos nós já fizemos
isso!
A tendência seria de eu continuar a fazer isso, mas, durante
a aula de Literatura Brasileira no
PPE, nós fizemos uma análise
de escritores marginais, especificamente dos escritores do jornal que se chama Boca de Rua.
Eles são moradores de rua que
se tornaram escritores, não só
para receber um pouco de dinheiro para ajudar na vida deles,
Pela primeira vez em
nossas vidas, nós vimos
mais que moradores de
rua, vimos irmãos, irmãs, humanos
mas sobretudo para melhorar as
suas vidas e ganhar autoestima.
Assim, eles se tornaram jornalistas escrevendo e relatando o
que está acontecendo nas ruas,
nas praças. Eles escrevem sobre
os desafios e os preconceitos que
encontram e se orgulham dos
vários projetos que estão desenvolvendo.
O jornal é um olhar perspicaz de suas vidas e vale a pena
ler, mas a pepita de ouro foi
quando eles vieram à nossa aula
no Campus do Vale e ficaram
conosco por mais de três horas.
Durante esse tempo, nós vimos
muito mais que as pessoas sujas
dormindo na rua que nós costumamos ignorar; vimos pessoas
com corações imensos, cada um
com uma história cheia de tristezas, felicidades e esperanças.
Pela primeira vez em nossas vidas, nós vimos mais do que moradores de rua, vimos irmãos,
irmãs, humanos. Nós ouvimos
histórias de abusos da polícia,
histórias trágicas de assassinatos
e estupros, os desafios da fome e
da sobrevivência na rua, vimos o
orgulho das conquistas do Boca
de Rua e os seus desejos.
Cada indivíduo tem seus
demônios para superar, e essas
pessoas sofrem com dificuldades ainda maiores na superação
de seus demônios, mas eles não
fogem desse fato. Foram educados, honestos e simpáticos com
todos nós o dia inteiro. Um dia
imenso, cheio de aprendizagem!
O que eu aprendi? Eu
aprendi que nós temos um grupo dentro da nossa sociedade
que, apesar de viver ao nosso
lado, na verdade, vive mesmo é
na periferia de nossa vista. Eu
desafio você, como eu me desafiei, a olhar diretamente para
eles, interagir com eles, conhecê
-los. Eu já comecei com Sandro,
um morador de rua que mora
em frente ao meu prédio: olhei
diretamente para ele, interagi
com ele e agora eu o conheço e
ele me conhece! Quando você
vai começar? Talvez isso lhe ajude mais do que a eles!
FOTOS Arquivo Pessoal
Divulgação
Em sentido horário: os jornalistas
do Boca de Rua
na UFRGS; Chris
com Sandro, seu
vizinho de rua;
capa de exemplar
do jornal Boca de
Rua
Arquivo Pessoal
RELATO
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PROSA DO
PROFESSOR
CONEXÃO PPE ­| PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
O que os alunos me ensinaram
Ingrid Frank Ramos, Brasil
Nunca pensei que ensinar português para falantes de outras línguas
seria tão enriquecedor. Nunca pensei
que, ensinando português para falantes de outras línguas, eu aprenderia
tanto sobre a minha própria língua
e a minha cultura. Nunca pensei que
meus alunos me ensinariam tanto
sobre a vida, sobre o respeito às diferenças, sobre o verdadeiro sentido de
ensinar e aprender. E foi tudo isso que
aprendi ao longo da minha experiência no PPE.
Comecei a dar aulas no PPE em
2007, ainda como aluna de graduação. Confesso que, naquela época,
eu acreditava que minha tarefa era
essencialmente ensinar aos alunos a
língua na qual eu havia sido socializada. Que bom que eu estava errada.
Logo nas primeiras aulas, comecei a
entender que ser professora de português para falantes de outras línguas
é muito mais do que isso. Poderia
elencar diversos episódios que me
levaram a compreender uma perspectiva diferente da minha ou até
que me levaram a repensar a minha
própria visão de mundo, mas prefiro
falar de um sentimento cujo sentido
eu só aprendi genuinamente ao longo
da minha experiência no PPE: o sentimento de gratidão.
Lembro que, no final do primeiro semestre que lecionei português
no PPE, uma aluna chinesa chamada Tatá foi me procurar na sala dos
professores. Tatá era uma aluna que
já havia estudado português por dois
anos, mas que, no início do semestre em que fui sua professora, ainda
apresentava bastante dificuldade para
se expressar. Essa dificuldade, no entanto, foi gradativamente superada ao
longo das nossas aulas e, no final do
semestre, ela já conseguia participar
com fluência e confiança. Quando
Tatá me chamou na sala dos professores, inicialmente achei estranho,
pois não imaginava o que ela poderia
querer tratar comigo. Ela, então, me
explicou que voltaria para a China no
dia seguinte, e que não poderia fazer
isso sem antes falar comigo. Depois
de conversarmos um pouco sobre as
suas dificuldades iniciais e de recordarmos situações que aconteceram
ao longo do semestre, ela me abraçou
forte e disse: “Obrigada, Ingrid. Você
é muito... você é muito... professora”. Fui tomada de surpresa por essa
demonstração genuína de carinho,
e fiquei sem reação. Pra mim, eu só
havia feito o meu trabalho: como ela
mesma havia dito, “ser professora”.
Por que, então, ela teria me agradecido tão efusivamente por eu simplesmente ter feito meu trabalho?
Ao longo dos anos seguintes,
fui me acostumando com situações
como essa e, aos poucos, entendi
melhor essas demonstrações de sentimento dos alunos. No final de cada
semestre, diversos deles me agradeciam pelas aulas. Recebi inúmeros
presentinhos de alunos de países
diversos. Um aluno coreano me presenteou com uma caixinha pintada à
mão por sua mãe. Alunos africanos
terminaram o semestre com discursos inflamados de agradecimento
pelas aulas. Uma aluna congolesa foi
internada no hospital e, a cada visita minha, ela me apresentava com
orgulho aos médicos e enfermeiras,
dizendo que eu era a professora dela,
e que por isso ela falava tão bem português...
Apesar de, até hoje, ainda acreditar que eu apenas fiz o meu trabalho,
descobri que esses alunos me ensinaram, de todas essas maneiras, o significado de gratidão. Ser grato é um
sentimento nobre, porque significa
reconhecer algo que o outro fez, e que
esse algo foi importante para você.
Provavelmente meus alunos também
soubessem que eu apenas sempre fiz
o meu trabalho. Mas para eles isso era
irrelevante. Mais importante era demonstrar seu reconhecimento pelo
que a gente aprendeu juntos na sala
de aula.
Provavelmente a Tatá e todos os
outros alunos que me agradeceram
pelas aulas ao longo dos anos que
trabalhei no PPE sequer imaginam
que o seu agradecimento foi tão importante pra minha vida e pra minha
formação como professora. Mas eu
jamais vou esquecer que foram eles
que me ensinaram, a cada vez que
disseram “obrigado”, que ser professora é muito mais do que ensinar
uma língua. E hoje posso dizer com
convicção que sou grata a eles por
isso, já que eles me ensinaram o que
é gratidão.
CONEXÃO PPE ­| PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015
Trajetórias
FOTOS Arquivo Pessoal
Barrett Thornton
Eu nasci em Edmonton, Canadá, e
morei lá até os doze anos. Eu tenho um
irmão e duas irmãs. Quando nós moramos em Edmonton, meu pai construiu
um avião na garagem. Eu me tornei
interessado em aviação muito jovem.
Quando era criança, minha família se
mudou três vezes. Nossa última mudança foi para Calgary, depois de morarmos em Whitehorse, norte do Canadá,
e em Chilliwack, perto de Vancouver.
Quando eu terminei o ensino médio, eu
aprendi a voar e depois obtive o certificado de treinamento. Eu me tornei um
instrutor de voo e ensinei por vários
anos. Eu comecei numa empresa aérea em 1973 e voei até 2010 com a Air
Canada, quando eu me aposentei. Eu
voei para todos os continentes, exceto
Antártica, e conheci mais de 50 países.
Fui casado duas vezes, tive cinco filhos e
tenho quatro netos. Eu conheci o Brasil
Haris Najeeb
Meu nome é Haris Najeeb, eu tenho
26 anos. Tenho duas irmãs e dois irmãos.
Nasci na cidade de Faisalabad, que é a
terceira grande metrópole do Paquistão
e também um importante centro industrial no coração do País. Eu concluí o
ensino médio com notas altas e fiz um
exame competitivo para a admissão no
Instituto Governamental de Engenharia,
onde fui bem-sucedido e completei minha graduação em engenharia de teleco-
nos últimos anos e decidi ficar em Porto
Alegre. Fui apresentado para a Alessandra, minha atual esposa, uma Gaúcha,
há três anos. Neste tempo, eu também
voei um Boeing 777 em um contrato em
Mumbai, India e Istambul. Eu sempre
gostei de velejar, muitas vezes no Caribe e na costa oeste do Canadá com os
amigos. Uma outra atividade que espero continuar, mas agora não frequentemente, é o esqui, pois, naturalmente, o
Canadá tem neve em abundância. Eu
amo filmes e muitos tipos de música,
em particular jazz, country e western,
mas agora descobri a Bossa Nova e vou
continuar a explorar a música brasileira
também. Gosto de ler biografias. Recentemente, eu comecei a trabalhar para a
Aero Speak como professor de aviação
e Inglês para ajudar a preparar os candidatos para o exame da ANAC, para
tornarem-se qualificados para voar internacionalmente. Agora devo aprender
português!
Orientada pela professora Bruna Morelo, nossa turma de Básico I conta aqui um
pouco de sua trajetória. Escolhemos fotos para mostrar ao leitor um momento
significativo para cada um de nós. Às vezes nos faltam palavras, mas há muitas
estratégias para falarmos mais sobre nós e nos conhecermos melhor.
Erna Velija
Me chamo Erna Velija. Eu sou fotógrafa. Nasci e fui criada em Prizren,
Kosovo, parte sul da antiga Yugoslavia.
Em 2004, eu fui para Sofia, na Bulgária,
para fazer uma graduação em fotografia. Durante meu tempo lá, desenvolvi
uma série de projetos independentes,
alguns dos quais eu apresentei em exposições. Na Bulgária, eu experimentei diferentes formatos fotográficos: fiz
fotografia comercial para várias revis-
James Grayson
municações. Nesse mesmo ano, realizei
um projeto para detectar e acompanhar
objetos em movimento. Eu trabalhei na
ZhongXing Telecom (ZTE) como engenheiro de site. Depois mudei minha
profissão, começando a trabalhar como
jornalista no Jang Group Media of Pakistan. Em 2015, eu vim para o Brasil,
estou vivendo em Porto Alegre agora e
estou fazendo o curso Básico 1 (Português para Estrangeiros) na UFRGS porque quero fazer Mestrado em Engenharia Elétrica nesta universidade.
Meu nome é James e eu nasci em 23
de novembro de 1964, em Sheffield, no
norte da Inglaterra. Em 1983, eu fui para
Londres e trabalhei como mensageiro
de bicicleta em uma agência de viagens e
como barman. Em 1997, me mudei para
Newport, South Wales, onde estudei cinema e vídeo na universidade. Então,
eu trabalhei como editor de vídeo. Em
2005, eu fiz um filme sobre um grupo
de torcedores do Grêmio e seu ritual
de jogo, mas, após a Batalha dos Aflitos,
ninguém estava interessado no meu filme!!! Em 2009, eu decidi viver em Porto
tas de estilo de vida; fotografia de arte
para exposições e projetos pessoais; e
fotografia documental para alguns jornais e revistas de notícias. Em 2007,
me mudei para Nova York, onde eu
trabalhei como fotógrafa freelancer.
Também estive envolvida em pesquisa
de campo em Porto Príncipe, no Haiti,
por muitos anos. Sempre me interessei
pelo Brasil. Atualmente estou vivendo
e fotografando em Porto Alegre, no
estado Rio Grande do Sul, e, por isso,
estou aprendendo português.
Alegre com minha namorada gaúcha,
que eu conheci em Newport. Eu me
tornei professor de inglês e, desde então, trabalhei no Brasil, no Vietnã e na
Arábia Saudita. Agora eu voltei e quero
aprender português para que eu possa
me tornar um verdadeiro gaúcho! Eu
tenho quatro grandes amores na minha
vida (não incluindo a minha namorada!!): futebol, viagens, música (punk,
grunge) e filmes da Europa Oriental.
Meu sonho é ver um jogo de futebol em
todos os países do mundo. Eu escolhi
uma equipe de cada país e até agora eu
vi 37 de um total de 208. Talvez seja impossível, mas vou tentar!