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conexão PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 | Nº 5 jornaldoppe.wordpress.com PROGRAMA DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS | UFRGS REPORTAGEM DE CAPA Guerreiras pacíficas Em Porto Alegre, a bicicleta, que pode resolver vários problemas da modernidade, ainda está ligada a desvantagens e preconceitos Elena Maria Reichl, Alemanha “Compra um carro!”, “Sai da rua!”. Esses são comentários pacíficos que eu já encontrei entre ofensas mais graves e carros passando muito perto ao meu lado no caminho diário do centro ao Campus do Vale. Felizmente, também há motoristas respeitosos que se comportam dum jeito gentil e, na maioria das vezes, chego sem incidentes maiores. De qualquer forma, eu não quero deixar meu hábito de usar a bicicleta como meio de transporte principal. Jamais trocaria o sentimento de liberdade por um lugar apertado no ônibus ou horas de engarrafamento dentro dum carro. Andar de bicicleta oferece muitas vantagens para o corpo humano. Além de ser uma ajuda contra a obesidade, que afeta 55% da população porto-alegrense, segundo matéria do Jornal da Universidade (maio/2015). A atividade física aumenta a produção dos hormônios serotonina e dopamina, que são os principais responsáveis pela nossa sensação de felicidade. No que se refere ao meio ambiente, a bicicleta é a melhor opção de meio de transporte, pois não há produção de CO2 nem perturbação com barulho. Além disso, ela ocupa pouco espaço, o que é um fator importante quando uma população cresce com rapidez. A cidade de Porto Alegre teve um aumento populacional de 23% entre 1990 e 2012. Atualmente, conta com mais de 1,5 milhão de pessoas, sem considerar a região metropolitana. Além do número de habitantes, o que vem aumentando também é a quantidade de automóveis. Conforme um estu- do desenvolvido por Gustavo de Carvalho Lana, doutorando em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais, a evolução da frota na Grande Porto Alegre fará com que, em 2040, a região tenha 2,98 milhões de veículos, o que representaria um crescimento de 97,4% em relação a 2012, ano base da pesquisa, quando existiam 1,5 milhão de veículos. Em certa medida, isso resulta do fato de que a compra de automóveis foi estimulada. Em maio de 2012, o governo brasileiro lançou um pacote de medidas, no qual se destacou a redução do IPI (imposto sobre produtos industrializados) para carros novos. O objetivo era melhorar a situação econômica do Brasil. De fato, levou muitas pessoas a comprar um carro, mas no fim das contas o país está em crise mesmo assim, e um aumento drástico do trânsito se reflete nas ruas. Motoristas - O taxista Everton Correia, 48, dirige há 15 anos nas ruas de Porto Alegre. “A situação do trânsito em Porto Alegre é muito ruim. Há muitos carros na rua, os motoristas também não ajudam.” O motorista profissional reclama do egoísmo na rua, que se mostra, por exemplo, no bloqueio dos sinais, o que causa engarrafamentos principalmente nos horários de maior trânsito, entre seis e oito horas da noite. Também lamenta a falta de cooperação entre taxistas, motoristas de carro e de ônibus e ciclistas. Mauricio Diello Reolon tem 39 anos, sendo 19 de experiência profissional como motorista de ônibus da linha T6. Sua avaliação sobre o tráfego revela as principais problemáticas que há em Porto Alegre nesse assunto: “Não chega a ser uma guerra, mas não chega a ser pacífico também. O nosso transporte coletivo é muito ruim; sem incentivo (do governo) as pessoas deixam de usá-lo. Não tem ciclovia... a pessoa opta pelo carro.” A falta de ciclovias é um grande obstáculo que impede o uso da bicicleta, em vez do carro, em todas as ruas da cidade. O desenvolvimento de novas ciclovias acontece de um jeito tão lento em Porto Alegre que o jornal Zero Hora publicou, em maio deste ano, uma série especial em que revela a confusão na organização e realização dos projetos. Por isso, a cidade ganhou menos que quatro quilômetros de novas ciclovias em um ano. Assim, o ciclista é forçado a andar pela rua e se expor ao perigo dos veículos mais pesados. No caso do arquiteto Joel Fagundes, 60, isso levou a sua morte. Ele foi atropelado por um motorista de taxi na Zona Norte de Porto Alegre em fevereiro deste ano. Pedalada em bando atropelou 11 ciclistas de propósito. Abaixo do vídeo da cena do atropelamento no Youtube, encontram-se vários comentários de apoio ou de desprezo ao ato do motorista, entre eles, destaco o comentário de “senhoresfunny2”: “PEDALAR É PRA QUEM É POBRE BURRO QUE QUER SER ATROPELADO [...]”. No Brasil, também é uma questão de status social quando se trata da decisão de andar de carro ou usar outros meios de transporte. Quem fica dentro de um carro se isola das pessoas que andam a pé ou de bicicleta ou que usam o transporte público e, assim, foge do desconforto estrutural. Para estabelecer a bicicleta como meio de transporte principal para uma grande parte da população de Porto Alegre, são necessárias mudanças profundas no jeito de se pensar a organização da cidade. Não faltam exemplos bemsucedidos de outros municípios brasileiros. São Paulo, por exemplo, recebeu 200 quilômetros de novas ciclovias desde 2014. Atualmente, na Avenida Ipiranga, caminho para o Vale, está sendo construída uma ciclovia. Pequenos passos para tornar a bicicleta um meio de transporte mais tranquilo em Porto Alegre. Espera-se que, no futuro, a capital gaúcha tenha um trânsito mais gentil, seguro e inofensivo ao meio ambiente, o que traria benefícios para todos os cidadãos. Luis Eduardo Kochhann Para tornar minha pedalada do centro até o Campus do Vale mais segura e agradável, eu ando muitas vezes em conjunto com outros estudantes que se organizam num grupo de Facebook (partiupedalvale). Além de ser divertido andar com amig@s, esperamos chamar mais atenção dos motoristas e aumentar a nossa visibilidade como participantes legítimos do trânsito. Entretanto, a realidade no lado direito da rua não chega a ser fácil. Por isso muitos ciclistas se organizam na Massa Crítica, movimento que luta por melhores condições para o ciclismo. A maioria dos motoristas de Porto Alegre ainda não chegou a aceitar a bicicleta como meio de transporte de direitos iguais ao carro, como é o caso nas cidades da Alemanha e de muitos outros países do mundo. Um caso extremo aconteceu numa manifestação da Massa Critica em 2011, quando um motorista A caminho do Campus do Vale com um grupo organizado pelo Facebook 2| CIDADANIA CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 RUAS para as PESSOAS Num mundo globalizado, é difícil conhecer o vizinho, mas em Porto Alegre alguns moradores estão redescobrindo os espaços públicos Erika Argaez, Colômbia Naomi Martin, Reino Unido Valeria Bermudez, Colômbia Hoje em dia, pode-se ter uma rede de amigos pelo mundo; o difícil é saber o nome do vizinho para trocar um “bom dia”. Porém, Porto Alegre está vivendo o ressurgimento de uma ideia antiga: a boa vizinhança. Durante a semana, as ruas da capital gaúcha veem muito fluxo humano, mas muitos espaços ficam desolados durante o fim de semana, tornando-se pouco frequentados pela insegurança e falta de luz nas ruas, entre outras questões. “A cidade acaba sendo um lugar muito agressivo para as pessoas, e a gente perdeu o costume de ter bons vizinhos”, diz Cristian Figueroa, estudante colombiano que mora em Porto Alegre faz dois anos. Atualmente, pouca gente costuma sair e aproveitar o seu entorno, que antigamente era um espaço para conviver e compartilhar com vizinhos, trocando as notícias do dia e se conectando com o seu bairro. Essa convivência na rua foi se perdendo aos poucos, e muitas pessoas começaram a fechar suas portas, decidindo ficar na segurança das suas casas. Entretanto, há um par de anos, a capital gaúcha está ex- perimentando uma tentativa de reaproximação das pessoas com o seu bairro e a sua cidade. Isso se consegue através de um movimento de confraternização entre vizinhos, conhecidos e desconhecidos. Essa nova tendência porto-alegrense, que tem como objetivo ocupar os espaços públicos, visa a levar música, gastronomia e arte para as ruas para despertar de novo a convivência entre os indivíduos. Esses eventos passaram a integrar a rotina dos gaúchos e de todos os que visitam a cidade, pois acontecem em ruas, parques, praças, museus, entre outros espaços públicos. No dia 31 de maio, aconteceu o Festival Mais Bonito do Mundo na rua Gonçalo de Carvalho, considerada pelos gaúchos como a rua mais bonita do mundo. Participaram do evento não só vizinhos locais mas também moradores de todos os bairros. Mas o que levou as cerca de quatro mil pessoas a se reunirem nesta rua num domingo qualquer? Durante o evento, com a luz da tarde pintando todo o ambiente de uma cor nostálgica, velhos vizinhos trocaram novidades, amigos estudantes compartilharam cervejas artesanais, enquanto olhavam as ofertas dos brechós montados na calçada, e famílias se jun- taram para escutar música ao vivo embaixo da sombra das árvores que delineam a rua. Sentia-se no ar um clima de confraternização, e todos pareciam não ter preocupação nenhuma no mundo: “Eu adoro eventos de rua, porque o clima me faz bem. O ar é melhor, o ambiente é mais livre para a circulação”, comenta João Ilha, estudante de Geologia da UFRGS. “A ocupação do espaço público mostra que existe uma comunidade ali” Por trás desses eventos, aparentemente tão espontâneos e livres, existem muitas organizações e movimentos que estão se coordenando para torná-los realidade. Thiago Couto, jornalista e um dos responsáveis pela organização do festival, ressalta: “o que a gente mais luta nesses eventos é, primeiro, pela ocupação do espaço público, porque mostrando que a gente está na rua mostramos que existe uma comunidade ali, e que o poder público tem que ver que ali está acontecendo algum tipo de movimentação”. A ideia não é que as pessoas se reúnam e se divirtam um domingo só, mas que isso seja parte de um movimento, ou seja, uma série de eventos em que se consegue mudar, aos poucos, a perspectiva e a relação que os cidadãos têm com sua cidade. “A gente tem que se reeducar para conviver de novo nos espaços públicos sem medo, com segurança, porque a gente tem medo de ocupar esses espaços em função da falta de segurança na cidade”, ressalta Brittes Francisca, uma vizinha que mora no bairro Floresta há vinte anos. Álvaro Carvalho, dono de um café na Cidade Baixa, que participou no festival como vendedor num brechó, reflete: “as ruas em Porto Alegre estão cada vez mais voltadas para a passagem de carros, e, com esses eventos ocupando esses espaços, nós lembramos que as ruas são lugar de pedestres e não só de carros.” Quanto mais se ocupa os espaços públicos, mais consciência se gera no cidadão para retomar as suas responsabilidades e direitos para com a sua cidade. Mas será que esses eventos sociais realmente têm a capacidade de gerar um impacto positivo a longo prazo? Ainda é cedo demais para saber se o Festival Mais Bonito do Mundo gerará uma mudança no bairro Floresta, mas Thiago Couto, membro fundador de La Casa de Pandora, espaço colaborativo e uma das instituições organizadoras do festival e de dois eventos anteriores para incentivar a boa vizinhança na rua Comendador Azevedo, salienta o potencial dessas realizações. “Depois dos eventos [na Comendador Azevedo], com as pessoas se conhecendo mais, a gente já vê hoje, por exemplo, às 18h ou 19h os vizinhos indo tomar um chimarrão na frente de casa ou saindo com o cachorro para passear. Então, acho que nesse sentido o evento melhorou a questão de segurança”, comenta. Não é uma mudança que vai se conseguir da noite para o dia, mas, como o poeta porto-alegrense Élvio Vargas pondera, “é uma tentativa, acho, de se comunicar, de abrir a guarda”. Esses eventos marcam um passo para reconectar o cidadão com sua cidade. Com cada encontro, ele abre mais a guarda e relembra como é bom conviver e compartilhar com os vizinhos, criando não só amigos mas também uma rede de cidadãos que se orgulham e se preocupam em cuidar de suas ruas e da sua Porto Alegre. Naomi Martin Valeria Bermudez Vizinhos e cidadãos de Porto Algre curtindo a rua mais bonita da cidade Músicos animando o Festival Mais Bonito do Mundo na Rua Gonçalo de Carvalho CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 |3 ENSAIO Será que a grama do vizinho é mais verde? Uma investigação sobre as origens e as repercussões do complexo de vira-lata brasileiro em face do resto do mundo Eléonore Pierrat, França Maël Le Gallic, França Quando chegamos no Brasil, percebemos uma contradição entre a imagem que nós temos e a que os brasileiros têm sobre seu país. Para nós, o Brasil apresenta um dos maiores PIB do mundo e uma taxa de pobreza reduzida pela metade entre os anos de 2000 (22%) e 2010 (11%). Em resumo, um país do futuro. Porém, ouvimos dos brasileiros que o país deles é inferior a outros, como os Estados Unidos ou países da Europa, em vários assuntos (educação, saúde, infraestrutura etc.). Esse fenômeno se expressa, entre outros, por uma desvalorização total do Brasil e uma idealização dos países comparados, como, por exemplo, achar que não há metrôs lotados, moradores de rua ou ladrões na França. Logo antes do começo da Copa do Mundo de futebol de 1958 – que o Brasil ganhou pela primeira vez –, o jornalista esportivo Nelson Rodrigues publicou na revista Manchete uma crônica em que descreveu o complexo de vira-lata como “a inferioridade em que o Brasileiro se coloca voluntariamente em face do resto do mundo”. O elemento mais recorrente que encontramos, e que demonstra esse complexo, foi a pergunta “Por que escolheu o Brasil?”. Este ensaio apresenta a pesquisa que desenvolvemos para entender essa falta de fé dos brasileiros em si. Complexo de vira-lata revela desigualdades A maioria dos brasileiros que conhecemos não tem uma boa imagem dos seus dirigentes e sempre cita a política e o corolário da corrupção como um dos maiores problemas. Um exemplo é o escândalo da Petrobras, que começou em março de 2014 envolvendo empreiteiras e políticos. Isso resultou num amplo debate sobre corrupção política que mostra o quanto o mundo político é movido por interesses individuais da elite. Com isso em mente, buscamos no livro de Sérgio Buarque da Holanda, Raízes do Brasil, alguma explicação histórica para a corrupção no Brasil. O autor refere-se ao começo da colonização pelos portugueses, que foram o que ele chama de “aventureiros”. O conceito de aventureiro tem vários rostos: um deles é de “buscar novas experiências, acomodar-se do provisório, e preferir descobrir a consolidar”. Uma das consequências disso é a sede “de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis”. Um outro traço ibérico que influenciou o espírito brasileiro é a importância do prestígio pessoal, que se mede com o mérito e se conquista por atos de alta virtude. Segundo o autor, esse “personalismo” resultou na frouxidão das instituições e na falta de coesão social, porque, de fato, o ibérico não renuncia às veleidades em benefício do grupo ou dos princípios. A sucessão dos sistemas políticos no Brasil mostrou a permanência da herança ibérica. A ditadura militar foi um regime personalista, visto que o poder estava História na França e ativista pelos direitos associado a alguns indivíduos enquanto dos afro-brasileiros, o exemplo do racisos outros eram reduzidos à obediência. mo no Brasil ilustra a ideia de auto-reaHoje, a forma de oligarquia que ainda lização. Ele salienta os efeitos nefastos do detém o poder transformou “os lemas da complexo de vira-lata sobre a capacidade democracia liberal” em “conceitos pura- dos afro-brasileiros de reclamarem os mente ornamentais, ou declamatórios, seus direitos. O tabu da escravidão e do sem raízes fundidas na realidade”. racismo persiste no Brasil e inibe a consEssa visão da política trouxe várias trução de uma identidade afro-brasileira consequências no âmbito social, o que suficientemente forte para possibilitar explica em parte o complexo de vira-lata. um movimento social capaz de mudar a O artigo de Luis Weis e Jurandir Freire situação de dominação da parte branca Costa, “Brasileiro condena Brasileiro”, de sobre a parte negra da população. 1996, na revista Superinteressante, aponta Assim, percebe-se como o complexo uma contradição entre a herança dos va- de vira-lata revela a desigualdade profunlores democráticos e a realidade da vida: da da sociedade brasileira. Em 2012, de “ser brasileiro significa herdar a tradição acordo com os números do Banco Mundemocrática na qual somos todos iguais dial, o índice de Gini do Brasil foi de 0,527. perante a lei e onde o direito à vida, à Esse índíce sintetiza a desigualdade de saliberdade e à busca da felicidade é uma lário: ele vale 1 se cada pessoa ganha uma propriedade inalienável de cada um de parte igual da riqueza produzida no ano e nós; na realidade, ser brasileiro significa vale 0 se uma pessoa tem toda a riqueza viver em um sistema socioeconômico in- do país. Desde 2010, ele é estável e clasjusto, onde a lei só existe para os pobres e sifica o Brasil, em média, como o 6º país para os inimigos e onde os direitos indivi- mais desigual do mundo. Já na colonizaduais são monopólio dos poucos que têm ção pelos portugueses, a sociedade foi dimuito”. Para Jurandir, uma das reações vidida entre nativos e escravos de origem dos brasileiros é de se desinteressar pela africana, de um lado, e colonizadores, do política e se desvaoutro, distinguinlorizar por aceitar do-se entre si pelo conviver com tantrabalho manual O complexo de vira-lata tos compromissos daqueles (e depois na ética deles. Uma pela dependência revela a desigualdade outra é que “o indiao salário) que enprofunda da sociedade víduo adere à ética carna o contrário da sobrevivência ou mesmo da herança brasileira à lei do vale-tudo: do ideal de nobreza pensa escapar à deibérico. Entretanto, linquência, tornansegundo Deri Sando-se delinquente”. Consequentemente, tana, depois do governo de Lula, muitas ninguém confia nos outros fora do círcu- pessoas pobres conseguiram melhorar lo dos amigos e da família. sua situação material, e a democracia funÉ interessante fazer um paralelo com cionou em relação a alguns assuntos, tais as recentes manifestações contra a pre- como o acesso dos negros à universidade sidenta Dilma Rousseff em fevereiro de e das mulheres aos empregos masculinos. 2015, reclamando, por parte de alguns, Na sua opinião, a classe superior branca sua destituição para o retorno da dita- não aceita ver pessoas que eram socialdura militar. Para esses manifestantes, mente inferiores começarem a acessar os a ditadura pareceu mais desejável que mesmos entretenimentos e exigir mais a confusão da democracia. Entretanto, direitos que antigamente. Assim, eles vão Buarque da Holanda salienta que “os re- à rua para protestar contra o governo de gimes discricionários [...] representam, Dilma Rousseff e proteger o que sobra dos no melhor caso, um disfarce grosseiro, seus privilégios. Esse grupo social teria não uma alternativa pela anarquia”. O interesse na conservação do complexo de corolário da obediência é sempre a vio- vira-lata: ele usaria os órgãos midiáticos lência, e encontra também ilustração nos para atingir esse objetivo. Em particular, eventos da atualidade brasileira, como, o pesquisador aponta a responsabilidade por exemplo, na manifestação em Curi- da televisão, que tem uma quase exclusitiba contra um projeto de alteração das vidade para divulgar informação e uma regras de aposentaria dos servidores esta- proximidade muito grande entre a oligarduais no estado do Paraná, que foi repri- quia e o poder político. mida violentamente pela polícia militar em abril de 2015. Acabar com o complexo de vira-lata Assumir uma tal imagem da sua Os brasileiros não idealizam seu país; identidade nacional tem um poder de pelo contrário, colocam acima de tudo os “auto-realização”, insiste Jurandir: des- Estados Unidos, a Europa Ocidental, em prezar-se assim só ajuda a convencer os particular a Alemanha e a Itália, e o Japão, outros de que não é possível mudar o revela o artigo da Superinteressante, refestatus quo e derrotar o banditismo. Para rido anteriormente. Percebemos também Deri Santana, doutorando e professor de que a França tem um grande prestígio no Brasil. Isso mostra como os brasileiros buscam fora do país modelos e soluções para os problemas. Eles acreditam na perfeição das instituições democráticas, na riqueza generalizada e na ausência de problemas de integração das minorias étnicas. Deri Santana afirma que, na grande maioria dos casos, essas crenças baseiamse na ignorância sobre a vida nesses países. Além disso, a mídia brasileira não divulga informações internacionais que mostram a complexidade desses países, e os brasileiros não as buscam. No caso dos EUA, a identificação esconde seu imperialismo cultural e econômico, pois a maioria da população brasileira nem percebe como seu país é recolonizado por aqueles. Caleb Alves, professor de antropologia da arte na UFRGS, pensa que a idealização do estrangeiro vem de uma estratégia de fuga para não olhar e não tratar dos problemas do país. Segundo ele, o desenvolvimento de uma cultura brasileira sintética no cruzamento das três influências étnicas do país pode ser um passo muito positivo para acabar com o complexo de vira-lata. Algumas premissas já existem, mas o desenvolvimento de uma arte própria está ainda em gestação. Depois de colocar em perspectiva esses elementos históricos e sociológicos, podemos entender de onde vem o complexo de vira-lata, como conta a história do Brasil e revela o tabu da escravidão. Ele é uma manifestação da transformação do país deixando pouco a pouco de funcionar sobre os princípios herdados da colonização e da tradição oligarquista para criar um jeito novo. Nosso ponto de vista de estrangeiros morando no Brasil é que é certo que falta infraestrutura, planejamento do uso público dos recursos, tais como água e um sistema eficiente de saúde. Pode ser também que a situação política e econômica tenha piorado. Entretanto, encontrar dificuldades para solucionar problemas da sociedade não é uma característica exclusivamente brasileira. Na Europa, os problemas maiores apenas são diferentes porque nossas histórias são diferentes. Por exemplo, o Brasil não encontra (ainda) a necessidade de construir uma política de imigração de massa, não conhece tensões religiosas, nem deve financiar um sistema de aposentadoria e de saúde cada vez mais caro porque a população envelhece. Além disso, no dia a dia sentimo-nos bem no Brasil; nossas condições de vida não pioraram. Isso não é só questão de câmbio de moeda; tem a ver com o estilo e o nível de vida dos estudantes brasileiros da UFRGS (pelo que nós podemos enxergar). Eles são parecidos com os nossos na França, apesar das diferenças culturais não serem desprezíveis. Não sabemos se o Brasil é melhor ou pior que os outros países, mas com certeza não sentimos nenhuma necessidade de voltar logo, dada a beleza da natureza e da gente do Brasil. 4| CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 RELACIONAMENTOS Namoro internacional No ano novo chinês, quando Tian foi cantar com Rafael, não imaginou que ele se tornaria seu namorado André Chen, China Arquivo Pessoal O termo intercâmbio está se tornando um assunto relevante: nos últimos anos, houve um aumento quase linear do número de intercambistas. Em 2011, o governo brasileiro iniciou o programa Ciência Sem Fronteiras, enviando bolsistas oriundos de 850 instituições para estudar em 2.733 universidades no exterior, conforme dados informados pelo Ministério da Educação. Ao mesmo tempo, as instituições brasileiras também participam desse grande fluxo de internacionalização através de iniciativas como o Programa de Português para Estrangeiros (PPE) da UFRGS e o Mais Médicos, que recebem estudantes e profissionais do exterior. Hoje em dia, fazer um intercâmbio cultural ou profissional está no planejamento de cada vez mais jovens e adultos. O intercâmbio não é mais simplesmente uma troca educacional mútua; os intercambistas têm ampliado o conteúdo desse termo: aprender uma língua nova, enfrentar as diferenças entre as culturas e, de repente, entrar num namoro internacional. Foi o intercâmbio que levou a chinesa Tian Li a encontrar seu amor e se envolver num namoro internacional. Nesse relacionamento, ela e seu companheiro vêm enfrentando desafios ligados aos conflitos culturais e acabam descobrindo caminhos diferentes para o futuro. Tian Li acha que vale a pena publicar um livro para contar as suas histórias de namoro com o gaúcho Rafael Papageorgiou. “O Rafa e eu enfrentamos juntos muito mais desafios nesse relacionamento do que outros casais, tais como a distância, o apoio da família, a integração na cultura do outro, o trabalho dos dois. Mas, felizmente, estamos superando uma por uma as dificuldades e caminhando no caminho certo”, revela a menina de 23 anos, formada no curso de Português da Universidade de Comunicação da China (UCC) em 2014 e que está num relacionamento sério com o gaúcho há mais de dois anos. Em agosto de 2012, através do convênio entre a UCC e a UFRGS, Tian e seus colegas vieram para o Brasil no terceiro ano da faculdade e foram recebidos para fazer intercâmbio de um ano no Instituto de Letras da UFRGS, frequentando cursos no PPE. Para muitos alunos chineses, ao chegarem num país novo, entrar no Facebook é a melhor maneira de conhecerem as pessoas e de se integrarem na sociedade local. Ao se tornar uma novata do Facebook, Tian começou a receber várias solicitações de amizade dos universitários da UFRGS, entre elas a do Rafael, aluno de História do quarto ano e estudante de mandarim por três anos. Os dois eram somente amigos de Facebook e demoraram uns meses até se encontrarem pessoalmente em função de uma oportunidade em que deviam preparar uma música chinesa para cantar juntos na festa de ano novo chinês. “A partir do nosso primeiro encontro, percebi algo especial nele, e aí combinamos mais passeios até que ele me pediu em namoro.” Para esse casal, o maior desafio, em vez de serem as línguas, são as diversas diferenças culturais entre a China e o Brasil. Tian nasceu numa família tradicional no sul da China e respeita muito a opinião dos seus pais. “No início, eles não declararam a posição deles sobre nosso namoro, mas eu não ia continuar o namoro sem a atitude clara e favorável deles. Eu sempre perguntava a eles se existiam dúvidas e tentava explicar-lhes bem”, lembra. Para o namoro ser aceito pela família de Tian, o casal teve de provar que Rafael dominava bem o mandarim, conhecia bem a cultura chinesa e conseguiria um bom trabalho na China. A integração na cultura chinesa foi um processo árduo. Desde as formas de tratamento da família até a etiqueta num jantar. “O Rafa fez muitos sacrifícios, na verdade, e tínhamos muitas brigas nessa integração, mas havíamos nos preparado para enfrentar esse desafio antes de namorarmos e valeu a pena termos feito essas mudanças.” O casal namorou dois anos a distância, mas o espaço que os separa está diminuindo. Primeiro, Rafael conseguiu uma bolsa para estudar mandarim em Tianjian, cidade perto de Pequim, onde Tian mora. Um ano depois, os dois foram contratados pelo maior sistema de busca da China, Baidu.com. Eles trabalham em Pequim e em São Paulo. “Estamos tentando conseguir o visto de trabalho do Rafa. Pretendemos morar juntos na China um dia. E esse dia está chegando”, revela Tian, com expectativas. OLHAR NÔMADE A estrangeira e a cidade Não há terras estrangeiras. É o viajante apenas que é o estrangeiro. Robert Louis Stevenson vive à beira de alguns mal-entendidos. Para começar, vive à beira de um rio Como estrangeira, navegando a vida que não é rio. O Guaíba é um estuário” em terras distantes, já considerei bastan- – mas, claro, Porto Alegre não é a únite como as diferentes cidades onde mo- ca cidade que vive à beira de alguns mal rei durante alguns meses, talvez alguns -entendidos. Nos primeiros dias, mesmo anos, formam parte do mapa sentimen- saindo com um mapa, o estrangeiro não tal da minha vida. De acordo com Maria está protegido de cair nas armadilhas da Rita Kehl, uma cidade é composta por sua nova cidade: ruas enganosas de dois “milhões de mapas sentimentais recor- nomes, escadas que não chegam a lugar tados pelas pequenas histórias de vida nenhum e prédios que mudam de endede seus habitantes”. Porém, hoje em dia reço sem avisar a ninguém. Talvez a ciexiste tanto fluxo humano, habitantes dade faça de propósito e, desde seu “olho que trocam sua cidade pela promessa de onividente, de quem olha de cima”, semelhores oportunidades ou na procura gundo Benito Schmidt, ela observa todos de aventura, que as pessoas também ter- que se deixam ser enganados. Talvez seja uma prova da cidaminam sendo marde, para testar a lealcadas pelas cidades dade do estrangeiro por onde passam, Existem algumas fases e ver se ele é como seja por um dia ou os demais que chepor uma década. de aceitação entre o esgaram, passearam, Eu, como milhões trangeiro e a cidade tiraram suas fotos e de outros, sou os lusaíram; ou pode ser gares por onde pasque ele seja diferensei, e sempre tento te? deixar algo de mim nos lugares que mais O momento em que o estrangeiro me marcaram. Apesar de ser uma relação íntima decide ficar na cidade e torná-la sua seque cada estrangeiro tem com sua cida- gunda casa marca o começo da última de adotada, existem algumas verdades fase de aceitação entre aquele e esta. Deiuniversais e fases pelas quais nenhum xando no passado os mal-entendidos, o estrangeiro pode evitar passar, como estrangeiro ganha a confiança da cidao primeiro ataque da cidade. No mo- de. Na fase de aceitação, o estrangeiro mento em que pisa a terra do seu novo traça toda a cidade, construindo rotinas destino, independentemente se ele esti- e criando memórias tanto fantásticas ver pronto ou não, a cidade ataca seus como cotidianas. As lembranças dos pricinco sentidos e, nesses primeiros dias, meiros encontros dentro da cidade cauo estrangeiro experimenta a cidade mais sam risada para o estrangeiro e tudo o intensamente do que qualquer nativo. que parecia estranho e diferente já é norEle sente o cheiro fantasma de peixe que mal. Durante sua viagem pela cidade, o viaja com o vento do mar até a cidade, estrangeiro também se transformou sem ele escuta a melodia das conversas que perceber. Não é mais a alma perdida que não consegue entender, ele encontra andava pelas ruas sem direção. Agora, ele prazer em saborear uma fruta desconhe- caminha com propósito, sabe o que fazer cida num mercado público, mas apren- e por onde ir, e, entre toda a multidão, ele de rápido que nem toda experiência parece como mais um homem da cidade. De sua parte, a cidade já não se esnova é tão deliciosa quando prova outro prato sem perguntar seus ingredientes e conde atrás de só alguns poucos pontos fica com um sabor amargo na boca. Nos turísticos e museus e, finalmente, abre primeiros dias, cada canto da cidade de- suas portas ao estrangeiro, mostransencadeia mil surpresas e, para o estran- do seu ser verdadeiro: de sua casa mais geiro novato, pode ser uma experiência majestosa até a mais periclitante. O esacabrunhadora, ou pode despertar sua trangeiro vê e aceita tudo, conseguindo curiosidade para explorar e conhecer apreciar a beleza nas imperfeições da todos os segredos que a cidade esconde cidade, porque, conforme Italo Calvino, “de uma cidade, não aproveitamos suas nas suas ruas. A segunda fase pela qual cada es- sete ou setenta e sete maravilhas, mas trangeiro precisa passar se chama de a resposta que dá às nossas perguntas”. mal-entendidos inevitáveis. Esse fenô- Cada estrangeiro tem seus motivos para meno é documentado no livro Traçando viajar: muitos estão tentando resolver Porto Alegre, de Luís Fernando Verissi- perguntas cujas respostas não lhes ocormo e Joaquim da Fonseca, que ressaltam rem estando na sua cidade natal e talvez as peculiaridades, assumidas como nor- esta nova cidade desperte no estrangeiro mais pelos habitantes, que podem ser a perspectiva que lhe estava faltando para um tropeço ao estrangeiro recém chega- finalmente responder a essas perguntas do à cidade. Por exemplo: “Porto Alegre existenciais. Naomi Martin, Reino Unido CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 |5 ENTREVISTA Opção de comida vegetariana, FINALMENTE Gustavo Diehl A UFRGS é uma das últimas universidades federais a implantar cardápio com comida vegetariana. O RU6 oferece carne de soja como opção alternativa à carne Glória (Yang He), China Guilhe (Hyeong Yi), Coreia Íris (Caihong Guo), China Ricardo (Xingzhu Zhou), China Sophie Lepage, França O Restaurante Universitário (RU) 6 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Campus do Vale, abriu no dia 13 de abril com a opção de comida vegetariana. Para três entrevistados no local, ter essa opção é muito necessário e até uma responsabilidade da universidade. Enquanto a UFRGS só abriu o novo RU com a opção vegetariana naquele mês, muitas universidades federais no Brasil já dispunham dessa opção faz tempo. Por que você opta pela comida vegetariana? Victor Santos (Professor da UFRGS): Não é um tipo de gosto, mas uma questão política, devido à questão das mortes dos animais. Também tem uma galera muito grande que é por causa da religião. Yulia Panteleeva (estudante de Língua Portuguesa, 25 anos): Porque no meu país, a Rússia, eu recebi uma alimentação baseada em carne e carboidratos. Eu senti a falta de verduras no cardápio e, há 6 anos, resolvi mudar meus hábitos. Era uma questão de provar algo diferente e ter uma alimentação saudável, mas isso varia de uma pessoa para outra. Adão Diaz (biólogo, 47 anos): Na verdade, estou fazendo regime. Carnes assadas no Brasil são geralmente bem salgadas. Para baixar a pressão, eu tive que tirar a carne do meu prato, e aí entrou a comida vegetariana. O que você acha da comida vegetariana? Yulia Panteleeva: Eu mato minha fome com alimentos cheios de vitaminas e minerais, que são mais leves e fáceis para digerir do que carnes. O Brasil ainda é um iniciante nesta área. Aqui em Porto Alegre, tem uma cultura em torno da carne, do churrasco. Esses hábitos levam tempo para se mudar. Adão Diaz: O problema não é o sabor, é que com uma alimentação vegetariana eu sinto fome pouco tempo depois de comer! Eu perdi muito peso recentemente, então estou provavelmente comendo as coisas certas, mas não é fácil quando preciso de uma nova refeição já uma hora depois do almoço. Mas eu não sou vegano, eu não poderia deixar de comer laticínios, queijos em particular! Se não tivesse a opção vegetariana, o que você iria comer? Victor Santos: Eu traria alguma comida de casa, mas é difícil. Comeria no RU3 também, só que não comeria a carne. Yulia Panteleeva: Claro, eu não passaria fome. No RU, sempre tem a opção de feijão com arroz, que sustenta bem, sem esquecer das frutas na sobremesa. A comida do RU6 é gostosa? Yulia Panteleeva: Os molhos de legumes são excelentes, só que a carne é sempre de soja. Parece uma opção vegana em vez de vegetariana, caso em que ovos, por exemplo, seriam aceitos também. Adão Diaz: Gostosa sim, mas também não se trata de cozinha ‘Cordon Bleu’. Pagamos quase nada, então não reclamamos muito. Você acha que a opção vegetariana é realmente necessária na faculdade? Victor Santos: Sim, porque já que é uma universidade que acolhe tantos tipos de gêneros diferentes e diversidade, acho que é uma responsabilidade da UFRGS oferecer comida vegetariana para respeitar essa diversidade em relação aos vegetarianos também. Yulia Panteleeva: Acho sim. A faculdade tem que oferecer opções nutritivas para todos, levando em conta as diferenças entre nós. Temos alunos de várias culturas, religiões e convicções. E a opção vegetariana para mim é mais interessante do que só feijão e arroz. Eu pago R$ 1,30 por uma opção equivalente a um prato com carne. Por exemplo, hoje temos pedaços de soja e molho de berinjela e tomates. Não seria justo pagar isso e só receber arroz e feijão. Adão Diaz: Aqui temos estudantes do mundo inteiro, de várias religiões e grupos étnicos. O Hinduísmo, Budismo, Judaísmo e Islamismo têm regras e limites que têm a ver com o consumo da carne. E não se pode ignorar pessoas com intolerância a proteínas animais. A faculdade tem que atender a todos, e a opção vegetariana é um jeito simples de satisfazer vários grupos diferentes com uma refeição. Antes da construção do RU6, havia pedidos ou movimentos na universidade? Victor Santos: Existiam sim. Não necessariamente construir um novo RU, mas pelo menos deixar um espaço separado para vegetarianos. Yulia Panteleeva: Os estudantes pediram a opção vegetariana. Aconteceu porque tinha um desejo bem forte por parte dos estudantes. Você pensa que ter a opção vegetariana quer dizer que a universidade é mais moderna? Victor Santos: Mais ou menos. Outras universidades públicas já têm faz tempo. As federais de Santa Catarina e do Paraná já têm. Acho que a UFRGS é uma das últimas que implantaram a opção de comida vegetariana. E na verdade, esse é o único RU da universidade que tem essa opção. Quais são os outros esforços que a UFRGS poderia fazer para melhorar as refeições no RU6? Victor Santos: Não somente oferecer carne de soja, soja, soja. Colocar outra forma de proteína. Tem outras! conexão Nº 5 | Julho de 2015 Expediente Coordenação: Gabriela Bulla e Margarete Schlatter Edição: Felipe Ewald Projeto gráfico: João Brum Colaboração: Caroline Wink, Camila Alexandrini, Bruna Morelo e Laura Moreira Contato: [email protected] Confira mais textos no site: jornaldoppe.wordpress.com 6| CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 GASTRONOMIA Essas são comidas autênticas do Oriente? Se alguém pergunta qual a comida gaúcha mais representativa, todas as pessoas vão responder que é o churrasco. A gastronomia é uma das características mais destacadas de uma cultura. Hoje em dia, aqui em Porto Alegre, há oferta de comida de outros países, de várias culturas, devido à presença de imigrantes no Brasil. A gastronomia mais exótica deve ser a oriental, tal como a chinesa, a coreana e a japonesa, que vieram do outro lado do mundo. Mas será que as comidas orientais representam bem as suas culturas em Porto Alegre? Enfrentam dificuldades encontrando novas circunstâncias e novos públicos? Perante os problemas, as comidas orientais mudaram ou ainda mantêm suas características autênticas? A originalidade vai desaparecer ou surgirá uma nova originalidade? Vamos descobrir com o Conexão PPE em três restaurantes de comida chinesa, coreana e japonesa. Restaurante chinês Restaurante coreano pusemos mais molho e, ao mesmo tempo, deixamos mais salgados.” Em relação ao que muitos brasileiros acham – a impressão de que a comida chinesa é muito oleosa – Zhao afirma: “os pratos fritos, que na verdade a gente não come tanto ou come na hora, sempre ficam com mais óleo quando são feitos algumas horas antes. O formato buffet, de fato, não combina muito com a comida chinesa”. “A culinária chinesa varia demais de região para região, por isso é difícil apontar um prato tão marcante como o sushi da culinária japonesa. A concepção da medicina chinesa também é muito recorrente nos pratos. Devo dizer que a comida chinesa é muito saudável. Mas, por causa da falta de ingredientes e temperos, só podemos nos esforçar para manter a originalidade e, ao mesmo tem- po, satisfazer o gosto das pessoas aqui.” A proprietária se diverte quando algum cliente lhe diz que os pratos no seu restaurante são mais deliciosos do que na China. “É que a gente fez adaptações.” Mas, agora, os restaurantes chineses parecem um pouco decadentes, porque a comida japonesa prevalece, já que é mais simples e menos oleosa, comenta Zhao. O restaurante Jing Long começou a oferecer vários tipos de sushi para garantir e atrair mais clientes. “Mas ainda tem bastantes clientes sim. Se eles acham que é legal, vão chamar amigos ou familiares para comer aqui juntos. Eles curtem frango xadrez, rolo primavera e massa semifrita. No ano passado, um programa de televisão veio pra cá e gravou uma receita de frango xadrez”, acrescenta. O Basak Oriental abriu há menos de um ano. Ele oferece comidas orientais, que são feitas pelo chefe de cozinha que aprendeu culinária no Vietnam, na Tailândia, em Singapura e na China. Os clientes podem provar cheiros e sabores diversificados da comida asiática. Porém, na verdade, os pratos principais são da culinária coreana. O nome do restaurante, “Basak”, que significa crocante em coreano, mostra o seu orgulho em relação aos pratos fritos. O restaurante usa a farinha de mandioca, que não contem glúten, para as pessoas que não podem consumi-lo e cria uma maneira de a parte de fora ser crocante e a de dentro macia. Ademais, se pode experimentar comida vegetariana, como o “jabchae”, que em coreano significa vários legumes oferecidos para os reis feudais da Coreia. Essa é uma opção nova e favorável para os vegetarianos. Por causa desses esforços com respeito à saúde, o restaurante é mais procurado por clientes de terceira idade e famílias. O dono do estabelecimento, Jong Daniel, diz que os brasileiros têm poucos conhecimentos sobre a comida coreana. Ele mencionou uma reportagem que trata do Kimchi (a comida coreana mais típica, couve chinesa fermentada com pimenta vermelha), que foi considerada a comida mais saudável do mundo. Jong acrescenta: “Se fizermos mais esforço pela nossa cultura e pelo nosso país, a comida coreana vai certamente ser bem mais procurada e reconhecida por todo o mundo.” Hyeong Yi Figurando entre as três mais ricas no mundo, a culinária chinesa é difundida em todos os continentes. Em Porto Alegre, atualmente existem mais de 10 restaurantes chineses. “Quanto à comida chinesa, uma pergunta ocorre a muitos brasileiros: os chineses comem cachorros? Muita gente já até deu uma resposta afirmativa na sua mente”, aponta Zhao Jianying, dona do restaurante chinês Jing Long, situado no centro da cidade. “Mas o fato é que na China quase ninguém come cachorro. Nem sei de onde veio esse preconceito estranho.” O restaurante, que foi inaugurado há 10 anos, fez muitas adaptações nos pratos para satisfazer o gosto dos brasileiros. “Por exemplo, eles gostam de pratos com molho. Então nos pratos meio ‘secos’ Divulgação Guilhe (Hyeong Yi), Coreia Ricardo (Xingzhu Zhou), China Fonte www.zomato.com Restaurante japonês O restaurante Sakae’s tem oferecido comida japonesa há mais de 40 anos, desde 1973. Este é um dos poucos lugares em Porto Alegre onde se pode conhecer a comida autêntica japonesa, inclusive o sushi, que os jovens adoram hoje em dia. O restaurante é efetivamente popular. De famílias a artistas, pessoas de profissões e classes diferentes frequentam o lugar. O dono, Tadao Ecchuya, nasceu numa família pescadora em Hiroshima. Até hoje, ele ainda faz pessoalmente o sushi à mão, apesar de sua idade avançada. Em relação à necessidade de adaptação, ele assumiu uma atitude crítica. “Antigamente, quando não tinha os materiais necessários para cozinhar a comida japonesa, eu tinha que substituir alguns ingredientes, mas hoje já pode reaparecer perfeitamente o sabor tradicional da comida japonesa por causa do desenvolvimento da tecnologia de conservação, do transporte e do mercado”, afirma. Dessa forma, o Sr. Tadao tem se dedicado a manter a originalidade da comida japonesa: “uns brasileiros ainda têm medo de comer peixe cru e preferem somente salmão”. Ele mede o peso exato dos alimentos e seleciona esmeradamente os molhos, como shoyu e miso. Por fim, arremata: “Vou trabalhar para que os brasileiros acolham mais a comida japonesa”. Nossos irmãos e irmãs esquecidos Chris Taafe, Austrália Qual é o objetivo da vida? Qual é o propósito da vida? Para vários de nós, as respostas variariam entre ser bem sucedido, ter uma família, ganhar dinheiro, ser feliz... Mas lembremos que existiram as antigas tribos indígenas e que para eles os objetivos da vida eram muitos, mas a sobrevivência talvez estivesse em primeiro lugar. Para eles, o foco era achar comida e encontrar proteção contra as intempéries. Para muitos de nós, essa vida não existe mais, pois nós sempre temos comida disponível e um teto sobre nossas cabeças, tudo na ponta de nossos dedos. Essa vida dos índios e dos povos antigos já era, né? Então, eu estou aqui para te contar que essa vida continua para uma parte do povo do Brasil – os moradores de rua. De acordo com o site www.moradoresderua.org.br, “no Brasil há cerca de 192 milhões de habitantes, segundo o censo do IBGE. Entre 0,6% a 1% é de população de rua”. O Brasil tem 1,8 milhão de pessoas sem lar ou condições básicas de vida. Esse grupo ainda está lutando para achar comida para sobreviver, além de proteção contra o frio e a chuva. Normalmente, eu ando dentro do meu grupo social, mas a educação, como muitas vezes acontece, me deu uma visão sobre a parte oculta, que nunca tinha percebido, da sociedade em que vivo. Eu sempre vejo os moradores de rua dormindo nas calça- das; já passei por cima deles sem prestar qualquer atenção. Você sabe, né? Todos nós já fizemos isso! A tendência seria de eu continuar a fazer isso, mas, durante a aula de Literatura Brasileira no PPE, nós fizemos uma análise de escritores marginais, especificamente dos escritores do jornal que se chama Boca de Rua. Eles são moradores de rua que se tornaram escritores, não só para receber um pouco de dinheiro para ajudar na vida deles, Pela primeira vez em nossas vidas, nós vimos mais que moradores de rua, vimos irmãos, irmãs, humanos mas sobretudo para melhorar as suas vidas e ganhar autoestima. Assim, eles se tornaram jornalistas escrevendo e relatando o que está acontecendo nas ruas, nas praças. Eles escrevem sobre os desafios e os preconceitos que encontram e se orgulham dos vários projetos que estão desenvolvendo. O jornal é um olhar perspicaz de suas vidas e vale a pena ler, mas a pepita de ouro foi quando eles vieram à nossa aula no Campus do Vale e ficaram conosco por mais de três horas. Durante esse tempo, nós vimos muito mais que as pessoas sujas dormindo na rua que nós costumamos ignorar; vimos pessoas com corações imensos, cada um com uma história cheia de tristezas, felicidades e esperanças. Pela primeira vez em nossas vidas, nós vimos mais do que moradores de rua, vimos irmãos, irmãs, humanos. Nós ouvimos histórias de abusos da polícia, histórias trágicas de assassinatos e estupros, os desafios da fome e da sobrevivência na rua, vimos o orgulho das conquistas do Boca de Rua e os seus desejos. Cada indivíduo tem seus demônios para superar, e essas pessoas sofrem com dificuldades ainda maiores na superação de seus demônios, mas eles não fogem desse fato. Foram educados, honestos e simpáticos com todos nós o dia inteiro. Um dia imenso, cheio de aprendizagem! O que eu aprendi? Eu aprendi que nós temos um grupo dentro da nossa sociedade que, apesar de viver ao nosso lado, na verdade, vive mesmo é na periferia de nossa vista. Eu desafio você, como eu me desafiei, a olhar diretamente para eles, interagir com eles, conhecê -los. Eu já comecei com Sandro, um morador de rua que mora em frente ao meu prédio: olhei diretamente para ele, interagi com ele e agora eu o conheço e ele me conhece! Quando você vai começar? Talvez isso lhe ajude mais do que a eles! FOTOS Arquivo Pessoal Divulgação Em sentido horário: os jornalistas do Boca de Rua na UFRGS; Chris com Sandro, seu vizinho de rua; capa de exemplar do jornal Boca de Rua Arquivo Pessoal RELATO |7 PROSA DO PROFESSOR CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 O que os alunos me ensinaram Ingrid Frank Ramos, Brasil Nunca pensei que ensinar português para falantes de outras línguas seria tão enriquecedor. Nunca pensei que, ensinando português para falantes de outras línguas, eu aprenderia tanto sobre a minha própria língua e a minha cultura. Nunca pensei que meus alunos me ensinariam tanto sobre a vida, sobre o respeito às diferenças, sobre o verdadeiro sentido de ensinar e aprender. E foi tudo isso que aprendi ao longo da minha experiência no PPE. Comecei a dar aulas no PPE em 2007, ainda como aluna de graduação. Confesso que, naquela época, eu acreditava que minha tarefa era essencialmente ensinar aos alunos a língua na qual eu havia sido socializada. Que bom que eu estava errada. Logo nas primeiras aulas, comecei a entender que ser professora de português para falantes de outras línguas é muito mais do que isso. Poderia elencar diversos episódios que me levaram a compreender uma perspectiva diferente da minha ou até que me levaram a repensar a minha própria visão de mundo, mas prefiro falar de um sentimento cujo sentido eu só aprendi genuinamente ao longo da minha experiência no PPE: o sentimento de gratidão. Lembro que, no final do primeiro semestre que lecionei português no PPE, uma aluna chinesa chamada Tatá foi me procurar na sala dos professores. Tatá era uma aluna que já havia estudado português por dois anos, mas que, no início do semestre em que fui sua professora, ainda apresentava bastante dificuldade para se expressar. Essa dificuldade, no entanto, foi gradativamente superada ao longo das nossas aulas e, no final do semestre, ela já conseguia participar com fluência e confiança. Quando Tatá me chamou na sala dos professores, inicialmente achei estranho, pois não imaginava o que ela poderia querer tratar comigo. Ela, então, me explicou que voltaria para a China no dia seguinte, e que não poderia fazer isso sem antes falar comigo. Depois de conversarmos um pouco sobre as suas dificuldades iniciais e de recordarmos situações que aconteceram ao longo do semestre, ela me abraçou forte e disse: “Obrigada, Ingrid. Você é muito... você é muito... professora”. Fui tomada de surpresa por essa demonstração genuína de carinho, e fiquei sem reação. Pra mim, eu só havia feito o meu trabalho: como ela mesma havia dito, “ser professora”. Por que, então, ela teria me agradecido tão efusivamente por eu simplesmente ter feito meu trabalho? Ao longo dos anos seguintes, fui me acostumando com situações como essa e, aos poucos, entendi melhor essas demonstrações de sentimento dos alunos. No final de cada semestre, diversos deles me agradeciam pelas aulas. Recebi inúmeros presentinhos de alunos de países diversos. Um aluno coreano me presenteou com uma caixinha pintada à mão por sua mãe. Alunos africanos terminaram o semestre com discursos inflamados de agradecimento pelas aulas. Uma aluna congolesa foi internada no hospital e, a cada visita minha, ela me apresentava com orgulho aos médicos e enfermeiras, dizendo que eu era a professora dela, e que por isso ela falava tão bem português... Apesar de, até hoje, ainda acreditar que eu apenas fiz o meu trabalho, descobri que esses alunos me ensinaram, de todas essas maneiras, o significado de gratidão. Ser grato é um sentimento nobre, porque significa reconhecer algo que o outro fez, e que esse algo foi importante para você. Provavelmente meus alunos também soubessem que eu apenas sempre fiz o meu trabalho. Mas para eles isso era irrelevante. Mais importante era demonstrar seu reconhecimento pelo que a gente aprendeu juntos na sala de aula. Provavelmente a Tatá e todos os outros alunos que me agradeceram pelas aulas ao longo dos anos que trabalhei no PPE sequer imaginam que o seu agradecimento foi tão importante pra minha vida e pra minha formação como professora. Mas eu jamais vou esquecer que foram eles que me ensinaram, a cada vez que disseram “obrigado”, que ser professora é muito mais do que ensinar uma língua. E hoje posso dizer com convicção que sou grata a eles por isso, já que eles me ensinaram o que é gratidão. CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | JULHO DE 2015 Trajetórias FOTOS Arquivo Pessoal Barrett Thornton Eu nasci em Edmonton, Canadá, e morei lá até os doze anos. Eu tenho um irmão e duas irmãs. Quando nós moramos em Edmonton, meu pai construiu um avião na garagem. Eu me tornei interessado em aviação muito jovem. Quando era criança, minha família se mudou três vezes. Nossa última mudança foi para Calgary, depois de morarmos em Whitehorse, norte do Canadá, e em Chilliwack, perto de Vancouver. Quando eu terminei o ensino médio, eu aprendi a voar e depois obtive o certificado de treinamento. Eu me tornei um instrutor de voo e ensinei por vários anos. Eu comecei numa empresa aérea em 1973 e voei até 2010 com a Air Canada, quando eu me aposentei. Eu voei para todos os continentes, exceto Antártica, e conheci mais de 50 países. Fui casado duas vezes, tive cinco filhos e tenho quatro netos. Eu conheci o Brasil Haris Najeeb Meu nome é Haris Najeeb, eu tenho 26 anos. Tenho duas irmãs e dois irmãos. Nasci na cidade de Faisalabad, que é a terceira grande metrópole do Paquistão e também um importante centro industrial no coração do País. Eu concluí o ensino médio com notas altas e fiz um exame competitivo para a admissão no Instituto Governamental de Engenharia, onde fui bem-sucedido e completei minha graduação em engenharia de teleco- nos últimos anos e decidi ficar em Porto Alegre. Fui apresentado para a Alessandra, minha atual esposa, uma Gaúcha, há três anos. Neste tempo, eu também voei um Boeing 777 em um contrato em Mumbai, India e Istambul. Eu sempre gostei de velejar, muitas vezes no Caribe e na costa oeste do Canadá com os amigos. Uma outra atividade que espero continuar, mas agora não frequentemente, é o esqui, pois, naturalmente, o Canadá tem neve em abundância. Eu amo filmes e muitos tipos de música, em particular jazz, country e western, mas agora descobri a Bossa Nova e vou continuar a explorar a música brasileira também. Gosto de ler biografias. Recentemente, eu comecei a trabalhar para a Aero Speak como professor de aviação e Inglês para ajudar a preparar os candidatos para o exame da ANAC, para tornarem-se qualificados para voar internacionalmente. Agora devo aprender português! Orientada pela professora Bruna Morelo, nossa turma de Básico I conta aqui um pouco de sua trajetória. Escolhemos fotos para mostrar ao leitor um momento significativo para cada um de nós. Às vezes nos faltam palavras, mas há muitas estratégias para falarmos mais sobre nós e nos conhecermos melhor. Erna Velija Me chamo Erna Velija. Eu sou fotógrafa. Nasci e fui criada em Prizren, Kosovo, parte sul da antiga Yugoslavia. Em 2004, eu fui para Sofia, na Bulgária, para fazer uma graduação em fotografia. Durante meu tempo lá, desenvolvi uma série de projetos independentes, alguns dos quais eu apresentei em exposições. Na Bulgária, eu experimentei diferentes formatos fotográficos: fiz fotografia comercial para várias revis- James Grayson municações. Nesse mesmo ano, realizei um projeto para detectar e acompanhar objetos em movimento. Eu trabalhei na ZhongXing Telecom (ZTE) como engenheiro de site. Depois mudei minha profissão, começando a trabalhar como jornalista no Jang Group Media of Pakistan. Em 2015, eu vim para o Brasil, estou vivendo em Porto Alegre agora e estou fazendo o curso Básico 1 (Português para Estrangeiros) na UFRGS porque quero fazer Mestrado em Engenharia Elétrica nesta universidade. Meu nome é James e eu nasci em 23 de novembro de 1964, em Sheffield, no norte da Inglaterra. Em 1983, eu fui para Londres e trabalhei como mensageiro de bicicleta em uma agência de viagens e como barman. Em 1997, me mudei para Newport, South Wales, onde estudei cinema e vídeo na universidade. Então, eu trabalhei como editor de vídeo. Em 2005, eu fiz um filme sobre um grupo de torcedores do Grêmio e seu ritual de jogo, mas, após a Batalha dos Aflitos, ninguém estava interessado no meu filme!!! Em 2009, eu decidi viver em Porto tas de estilo de vida; fotografia de arte para exposições e projetos pessoais; e fotografia documental para alguns jornais e revistas de notícias. Em 2007, me mudei para Nova York, onde eu trabalhei como fotógrafa freelancer. Também estive envolvida em pesquisa de campo em Porto Príncipe, no Haiti, por muitos anos. Sempre me interessei pelo Brasil. Atualmente estou vivendo e fotografando em Porto Alegre, no estado Rio Grande do Sul, e, por isso, estou aprendendo português. Alegre com minha namorada gaúcha, que eu conheci em Newport. Eu me tornei professor de inglês e, desde então, trabalhei no Brasil, no Vietnã e na Arábia Saudita. Agora eu voltei e quero aprender português para que eu possa me tornar um verdadeiro gaúcho! Eu tenho quatro grandes amores na minha vida (não incluindo a minha namorada!!): futebol, viagens, música (punk, grunge) e filmes da Europa Oriental. Meu sonho é ver um jogo de futebol em todos os países do mundo. Eu escolhi uma equipe de cada país e até agora eu vi 37 de um total de 208. Talvez seja impossível, mas vou tentar!