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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CURSO DE AGRONOMIA
FABIANA CHIAMULERA BORSATTI
PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ALHO (Allium sativum L.) LIVRE DE
VÍRUS
ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO
PATO BRANCO
2011
FABIANA CHIAMULERA BORSATTI
PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ALHO (Allium sativum L.) LIVRE DE
VÍRUS
Relatório de Estágio apresentado à disciplina de
Estágio Curricular Supervisionado, do Curso
Superior
de
Agronomia
da
Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como
requisito parcial para obtenção do título de
Engenheira Agrônoma.
Orientador: Prof. Dr. Wilson Itamar Godoy
Supervisor: Dr. Anderson Luiz Feltrim
PATO BRANCO
2011
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Ildo e Cleci Borsatti
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus pelas oportunidades que me são dadas
na vida, principalmente por ter conhecido pessoas e lugares interessantes, mas
também por ter vivido fases difíceis, que foram matérias-primas de aprendizado.
Também, agradeço aos meus pais, Cleci e Ildo Borsatti, sem os quais
não estaria aqui, por todo apoio e confiança, e por terem me fornecido condições
para me tornar a pessoa que sou.
As minhas irmãs, Fernanda, Flávia, Ângela e Alice que, apesar de
algumas brigas bobas, sempre me deram apoio e me incentivaram nas horas mais
difíceis. Á todos da minha família, tios, tias, avós e cunhados, que de alguma forma
contribuíram para a minha formação.
Ao meu orientador, Professor Dr. Wilson Itamar Godoy, pela amizade,
pelas oportunidades e colaboração com críticas e sugestões que muito contribuíram
na minha formação acadêmica. Agradeço aos demais professores do curso de
Agronomia, da UTFPR, pelos ensinamentos que foram passados ao longo do curso.
Ao meu supervisor de estágio, Dr. Anderson Luiz Feltrim, e também ao
Dr. Renato Vieira, por todo ensinamento, acompanhamento e tempo disponibilizado
durante o período de estágio.
Aos colegas e amigos, Flávia Chiamulera Borsatti, Vanessa Siega,
Heloísa Thomazi, Elias Kleina, Luciane Balzan, Adauto Cruz, Elouize Xavier,
Caroline Amadori e Renan Funguetto, por toda ajuda, amizade, alegrias e pelos
momentos compartilhados durante os anos de faculdade.
Agradeço as novas amizades conquistadas nos últimos meses, que
tornaram às 400 horas de estágio, longe de casa e da família, muito curtas. Silmara,
Gentil, Marcos, Danielle, Solange, Neusa, Margarete, Amazine e em especial a
amiga Poliana Francescatto pelo companheirismo e alegria contagiosa.
A meu namorado, Diego Luiz Bertinato, por todos estes anos de
amizade, compreensão, paciência e principalmente, confiança.
Enfim, a todas as pessoas, que de uma forma ou outra colaboraram para
a conclusão deste curso, meu sincero Obrigado!
EPÍGRAFE
"A principal meta da educação é criar homens que
sejam capazes de fazer coisas novas, não
simplesmente repetir o que outras gerações já
fizeram. Homens que sejam criadores, inventores,
descobridores. A segunda meta da educação é
formar mentes que estejam em condições de
criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se
propõe." (PIAGET, Jean)
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Sede da Estação Experimental de Caçador. ........................................... 13
Figura 2 - Folhas de alhos infectado e sadio ............................................................ 15
Figura 3 - Meristema de alho.................................................................................... 16
Figura 4 - Sala de limpeza e preparo ....................................................................... 17
Figura 5 - Sala de transferência ............................................................................... 18
Figura 6 - Sala de crescimento................................................................................. 18
Figura 7 - Autoclave ................................................................................................. 19
Figura 8 - Micro-ondas ............................................................................................. 19
Figura 9 - Balança de precisão................................................................................. 20
Figura 10 - Capela de fluxo laminar e lamparina de álcool ....................................... 21
Figura 11 - Microscópio estereoscópio ...................................................................... 21
Figura 12 - Cabine de fluxo laminar .......................................................................... 23
Figura 13 - Bulbo livre de vírus à esquerda e Bulbo infectado à direita .................... 31
Figura 14 - Bulbos selecionados ............................................................................... 33
Figura 15 - Pré-limpeza e tratamento com NaClO .................................................... 33
Figura 16 - Bulbilhos em termoterapia ...................................................................... 33
Figura 17- Pré-assepsia dos bulbilhos ...................................................................... 34
Figura 18 - Meristema ............................................................................................... 34
Figura 19 - Extração do meristema ........................................................................... 35
Figura 20 - Meristema isolado ................................................................................... 35
Figura 21 - Meristema com 30 dias de desenvolvimento .......................................... 36
Figura 22- Transferência para outro meio ................................................................. 36
Figura 23 - Limpeza do bulbilho ................................................................................ 37
Figura 24 - Bulbilho curado ....................................................................................... 37
Figura 25 - Telado antiafídico .................................................................................... 38
Figura 26 - Lavoura de alho livre de vírus em Fraiburgo - SC ................................... 38
Figura 27 - Problemas com erosão ........................................................................... 40
Figura 28 - Canteiros ................................................................................................. 41
Figura 29 - Plantio de alho semente .......................................................................... 44
Figura 30 - Índice visual de dormência ...................................................................... 45
Figura 31 - Espaçamento de plantio.......................................................................... 46
Figura 32 - Superbulbilhamento ................................................................................ 47
Figura 33 - Superbulbilhamento do alho ................................................................... 47
Figura 34 - 1 - Euphorbia heterophylla; 2 - Rumex obtusifolius L; 3 - Phoradendron
affine; 4 - Bidens pilosa L.; ................................................................................. 48
Figura 35 - Mão-de-obra na cultura do alho .............................................................. 49
Figura 36 - Ácaro e pulgões ...................................................................................... 50
Figura 37 - 1- Fusarium oxysporum; 2- Sclerotium rolfsii Sacc.; 3 - Puccinia allii
Rud.; 4 - Alternaria porri ................................................................................... 51
Figura 38 - Colheita ................................................................................................... 52
Figura 39 - Cura ........................................................................................................ 53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Preparação de soluções estoque do meio de Murashige & Skoog (1962)........... 29
Tabela 2 - Classificação de bulbos de alho segundo o maior diâmetro transversal. ............. 45
LISTA DE SIGLAS
ABA
Ácido abscísico
AIA
Ácido indolacético
AIB
Ácido indolbutírico
ANA
Ácido naftaleno acético
ATP
Adenosina Trifosfato
BA
Benziladenina
BOD
Biochemical Oxygen Demand
CIN
Cinetina
EDTA
Ácido Etilenodiamino Tetra-acético
ELISA
Enzyme – Linkd Immunosorbent Assay
EPAGRI
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
GARCLV
Garlic common latente vírus
GA3
Ácido giberélico
IVD
Índice visual de dormência
LYSV
Leek yellow stripe vírus
OYDV
Onion yellow dwarf vírus
pH
Potencial Hidrogeniônico
SC
Santa Catarina
TDZ
Thidiazuron
UTFPR
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
ZEA
Zeatina
2 ip
Isopentenil adenina
2,4 – D
Ácido 2-4 diclorofenóxiacético
LISTA DE SÍMBOLOS
cm
centímetro
ºC
graus Celcius
g
grama
g/l
grama por litro
ha
hectares
kg
quilograma
kg/N/ha
quilograma de nitrogênio por hectare
kg/cm2
quilogramas por centímetro quadrado
l
litro
l/ha
litros/hectare
m
metro
mg
miligrama
ml
mililitro
mm
milímetro
mM
miliMol
t
toneladas
t/ha
toneladas por hectare
R$/kg
reais por quilo
%
porcentagem
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 12
2.1 Descrições da empresa .................................................................................... 12
2.2 Região de atuação ............................................................................................. 13
2.3 Atividades desenvolvidas ................................................................................. 13
2.3.1 Alho livre de vírus .......................................................................................... 14
2.3.2 Cultura de tecidos .......................................................................................... 15
2.3.2.1 Limpeza viral dos tecidos meristemáticos ................................................ 16
2.3.3 Laboratório ..................................................................................................... 16
2.3.3.1 Preparo da cabine de fluxo laminar ........................................................... 22
2.4 Meios de cultura ................................................................................................ 23
2.4.1 Água ................................................................................................................ 24
2.4.2 Macronutrientes ............................................................................................. 24
2.4.3 Micronutrientes .............................................................................................. 25
2.4.4 Carboidratos ................................................................................................... 25
2.4.5 Vitaminas ........................................................................................................ 26
2.4.6 Reguladores do crescimento vegetal ou hormônios .................................. 26
2.4.7 Materiais de suporte....................................................................................... 28
2.4.8 pH .................................................................................................................... 28
2.4.9 Preparação dos meios ................................................................................... 28
2.5 Cultura de meristema de alho livre de vírus ................................................... 30
2.6 Procedimentos para plantio, termoterapia e preparo do alho para retirar o
meristema ................................................................................................................ 33
2.7 Lavoura do produtor de sementes, Volni Maciel ............................................ 39
2.7.1 Escolha do terreno ......................................................................................... 39
2.7.2 Preparo do solo .............................................................................................. 39
2.7.3 Encanteiramento ............................................................................................ 40
2.7.4 Rotação de culturas ....................................................................................... 41
2.7.5 Adubação ........................................................................................................ 42
2.7.5.1 Correção da acidez do solo ........................................................................ 42
2.7.5.2 Adubação química e orgânica .................................................................... 42
2.7.6 Cultivares ........................................................................................................ 43
2.7.7 Plantio de alho-semente ................................................................................ 43
2.7.8 Escolha da semente ....................................................................................... 44
2.7.9 Classificação da semente .............................................................................. 44
2.7.10 Época de plantio ........................................................................................... 45
2.7.11 Espaçamento de plantio .............................................................................. 46
2.7.12 Superbubilhamento ...................................................................................... 46
2.7.13 Plantas daninhas .......................................................................................... 48
2.7.14 Principais pragas.......................................................................................... 49
2.7.15 Principais doenças ....................................................................................... 50
2.7 15 Colheita ......................................................................................................... 51
2.7.16 Cura ............................................................................................................... 52
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
11
1 INTRODUÇÃO
O alho (Allium Sativum) é uma planta apomítica pertencente a família
Alliaceae (a mesma da cebola e da cebolinha), que se propaga através do plantio
dos bulbilhos aéreos formados na inflorescência ou dentes subterrâneos, que
também servem para o armazenamento de substâncias de reserva.
É cultivado na maioria dos países do mundo sendo uma cultura que possui
expressão mundial. Se reproduz através de bulbilhos aéreos formados na
inflorescência e através de dentes subterrâneos. A ausência de órgãos reprodutivos
viáveis não permite a produção de sementes botânicas verdadeiras e nem a
utilização de métodos convencionais de melhoramento genético.
Essa cultura é adaptada às regiões mais frias de Santa Catarina,
principalmente as cultivares de alho nobre, ou seja, as de ciclo tardio. Porém, estas
mesmas também podem ser cultivadas em regiões subtropicais, preferentemente
acima de 200m do nível do mar, desde que o alho-semente para estas seja
submetido a um tratamento de frio antes do plantio. No entanto, as cultivares de
ciclo precoce podem ser cultivadas em todo o Estado sem tratamento de frio. As
regiões de cultivo de cebola e batata-semente não são indicadas para o cultivo do
alho, devido a problemas ligados a aspectos fitossanitários (EPAGRI, 2002).
É uma cultura que apresenta um elevado custo de produção para o agricultor,
principalmente com a aquisição das sementes, com os insumos e mão-de-obra.
Porém tem se mostrado uma ótima alternativa de fonte de renda para os produtores
da região. O maior entrave desta cultura em todo o território nacional são os
problemas causados pelo vírus, que enfraquecem as plantas prejudicando seu
crescimento e produtividade. Uma alternativa que vem sendo usada para resolver
este problema, é a propagação de plantas livre de vírus através do meristema apical
caulinar.
Considerando todas as características da cultura do alho apresentadas acima,
optou-se por trabalhar com esta cultura durante o estágio final do curso. Como a
EPAGRI – estação experimental de Caçador é uma empresa que possui um trabalho
voltado para a pesquisa, e principalmente na área de hortaliças e pequenas culturas,
foi escolhida esta empresa para realizar o estágio curricular obrigatório.
12
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Descrições da empresa
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
S/A - EPAGRI foi criada em 1991 e atualmente está presente em todas as cidades
do estado com o objetivo de promover a recuperação, preservação, e utilização
sustentável dos recursos naturais, tornar competitiva a agricultura catarinense, e
também buscar o bem estar do meio agrícola (EPAGRI, 2011).
Esta empresa de importância indiscutível para o estado de Santa Catarina
consegue promover uma maior interação dos pesquisadores com os produtores
agrícolas, fomentando a transmissão de conhecimento entre as partes envolvidas,
resultando em benefícios mútuos.
Dentre as maiores estações destacam-se a de Chapecó que visa produzir
tecnologia para as pequenas propriedades, estação de Lages dedicada à produção
animal, Estação de Itajaí que trabalha com arroz irrigado e frutífero tropical, Estação
de Videira que trabalha com pesquisa em uvas e frutas de caroço, Estação de São
Joaquim que pesquisa maçã e uva e Estação de Caçador que trabalha com
pesquisa em maçãs, pêra, tomate, alho e piscicultura.
A estação experimental da EPAGRI de Caçador –SC, se destaca pelos
trabalhos com a produção integrada de tomateiro, manejo da cultura da macieira,
produção de mudas de hortaliças, análise de tecido foliar e cultura de tecidos.
13
Figura 1 - Sede da Estação Experimental de Caçador.
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.2 Região de atuação
As atividades referentes ao estágio curricular obrigatório foram desenvolvidas
durante o período de 01º de Agosto de 2011 a 14 de Outubro de 2011 na Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Estação
Experimental de Caçador, sob orientação do pesquisador Anderson Luiz Feltrim.
2.3 Atividades desenvolvidas
Durante o período de estágio foi acompanhada a produção de sementes de
alho livre de vírus, sendo o vírus um dos principais entraves da cultura. Estas
sementes são produzidas no laboratório de cultura de tecidos da EPAGRI, e após
passarem por um processo de verificação da existência ou não do vírus, elas são
levadas a um produtor conveniado com a empresa, que multiplica e comercializa as
14
sementes. Todo o processo da produção da semente, desde sua entrada no
laboratório até a colheita a campo, será descritos abaixo.
2.3.1 Alho livre de vírus
Doenças de plantas são causadas por fungos, bactérias, nematoides, vírus,
micoplasmas, viróides e rickétsias. Medidas efetivas de controle químico são
aplicadas para a maioria das doenças, exceto por aquelas causadas por vírus.
Geralmente esses patógenos não são transmitidos pela semente, mas tendem a se
acumular em plantas que são propagadas vegetativamente, tais como batata
(Solanum tuberosum), batata-doce (Ipomoea batatas), alho (Allium sativum) e
mandioca (Manihot esculenta) (TORRES et al,1998). Devido ao fato de não
existirem produtos químicos capazes de eliminar vírus, tem-se utilizado a cultura de
tecidos com o objetivo de se obter plantas de alta qualidade fitossanitária.
Todo o alho nobre cultivado no Brasil está infectado por um complexo viral
transmitido através de insetos durante o desenvolvimento da cultura na lavoura e por
ser uma cultura de multiplicação vegetativa a infecção por virose assume papel
determinante na qualidade do material propagativo, o que culmina na drástica
redução do rendimento da cultura.
Dentre os vírus relatados em alho, destacam-se os seguintes Potyvirus: Onion
yellow dwarf vírus (OYDV) e Leek yellow stripe vírus (LYSV). Além desses, o Garlic
common latente vírus (GarCLV, Carlavirus) e Allexivírus têm sua ocorrência relatada
no Brasil (FAJARDO, 1998).
Com a eliminação dos vírus, estima-se que a produtividade do alho possa ter
incremento de até 35%, sem aumento de custos. Hoje, a produtividade média do
alho em Santa Catarina é de aproximadamente 7,8t/ha – acima da média brasileira,
que é de 6,2t/ha. No entanto, a expectativa dos técnicos da Epagri com as novas
sementes é de que esse índice chegue a 12 t de bulbos por hectare no Estado.
15
Figura 2 - Folhas de alhos infectado e sadio
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.3.2 Cultura de tecidos
A cultura de tecidos vegetais é uma ferramenta com alto potencial de
aplicação no melhoramento vegetal. Ela pode ser utilizada desde a multiplicação de
material genético, para a troca e a avaliação de germoplasma, até a produção de
mudas livres de vírus. Para a multiplicação de material genético, pequenos
fragmentos de tecido vivo, chamados explantes, são isolados de um organismo
vegetal, desinfestados e cultivados assepticamente por períodos indefinidos em um
meio de cultura apropriado. O objetivo é obter nova planta idêntica à original, ou
seja, realizar uma clonagem vegetal de modo a obter um novo indivíduo, mantendose o genótipo idêntico ao do ancestral comum (ALVES et al, 2008).
O processo de limpeza de vírus consiste em cultivar meristemas e induzir a
formação
de
material
propagativo
geneticamente
idênticos
aos
parentais.
propagação, como por exemplo, algumas espécies nativas do Cerrado. Outro
exemplo de grande importância é a limpeza clonal, por meio da qual é possível, em
algumas espécies, como abacaxi, morango, citrus, batata e outros, a produção de
mudas livres de vírus (TORRES et al, 1998).
16
2.3.2.1 Limpeza viral dos tecidos meristemático
Meristemas são tecidos compostos de células não diferenciadas, envolvido
com síntese protoplasmática e formação de novas células por divisão mitótica. Sem
especificação, o termo refere-se normalmente ao meristema apical do caule (região
localizada numa depressão central que dá origem aos mais novos primórdios
foliares de tamanho variável entre espécies vegetais, normalmente formado por uma
porção de 60 a 100 células isodiamétricas indiferenciadas, que mantém
permanentemente as características embrionárias primárias e não possuem
plasmodesmas (GUERRA & NODARI, 2006).
Os vírus se translocam pela planta através de duas maneiras, pelo sistema
vascular e pelos plasmodesmas. Sendo assim, como o meristema não possui estas
estruturas, ele se mantem sadio.
Figura 3 - Meristema de alho
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.3.3 Laboratório
O laboratório de cultura de tecidos da EPAGRI – Estação experimental de
Caçador – SC, possui instalações com características apropriadas, bem como
equipamentos e normas de trabalhos que possibilitam a criação de um ambiente
com elevado nível de assepsia. As atividades realizadas dentro do laboratório são
17
limpeza e esterilização do material que será utilizado (no caso o alho), preparo de
material e meio de cultura, manipulação asséptica e incubação das culturas. Este
laboratório se divide da seguinte forma:

Sala de recepção - aonde ocorre à primeira limpeza do alho (remoção de raízes,
folhas e casca);

Sala de limpeza e de preparo - onde ficam os equipamentos, como autoclave,
geladeira, micro-ondas, destilador, pias, esterilizador, armários, reagentes, e
bancada aonde são preparados os meios de cultura (Figura 4);
Figura 4 - Sala de limpeza e preparo
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Sala de transferência – aonde se manipula assepticamente o material vegetal,
sendo um local exclusivo para a capela de fluxo laminar e as estantes para a
estocagem temporária dos meios de cultura já autoclavados, além de outros
materiais esterilizados destinados ao uso imediato (TORRES et al, 1998). Nesta sala
é realizada a extração do meristema do alho, não sendo, assim, permitida a
circulação de pessoas (Figura 5).
18
Figura 5 - Sala de transferência
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Sala de crescimento – é a área aonde as culturas são mantidas até o momento de
serem retiradas dos frascos. É dotada de estantes iluminadas, com prateleiras de 1
m de largura e distanciadas entre si de 40 – 45 cm, num total de 5 prateleiras cada
estante. A temperatura dessa sala é mantida a 25 Cº (Figura 6). O alho permanece
nesta sala em torno de 90 dias, e após este período é levado para um telado onde
passa pelo processo de aclimatação.
Figura 6 - Sala de crescimento
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Os equipamentos utilizados dentro do laboratório são os seguintes:
19

Autoclave – utilizada para esterilização de meios de cultura, vidrarias, água e outros
materiais. Este aparelho pode produzir calor seco ou úmido, que é mais eficiente
para esterilização, e já vem regulado para trabalhar a uma pressão de 1,05 kg/cm 2, o
que resulta numa temperatura de 121 ºC, que é a ideal (Figura 7).
Figura 7 - Autoclave
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Destilador e deionizador – são aparelhos utilizados para eliminação de sais
minerais da água.

Micro-ondas – aparelho de ampla utilização pois possui elevada rapidez de
operação, podendo ser utilizado para fusão de ágar ou de outros agentes
geleificantes (Figura 8).
Figura 8 - Micro-ondas
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
20

Estufa de secagem – aparelho elétrico eficiente para secagem de vidrarias e outros
materiais não líquidos.

Aquecedor de água – utilizado para lavagem eficiente de frascos contendo meio de
cultura sólidos.

Refrigerador doméstico – usado para manutenção de solução estoque e reagentes
diversos.

Freezer – usado para estocagem de reagentes que exigem temperatura abaixo de
zero grau centígrado, e produz temperatura de até 10 graus centígrados negativos.

Balança de precisão – aparelho de alto custo imprescindível para a pesagem de
quantidades mínimas de fitorreguladores, possui precisão de 0,1 mg e capacidade
de até 200 g (Figura 9).
Figura 9 - Balança de precisão
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Medidor de pH – aparelho necessário para determinação e ajuste do pH de meios
de cultura.

Agitador magnético - útil como auxiliar na dissolução de reagentes e determinação
de pH, muitas vezes é utilizado junto com aquecimento do meio.

Capela de fluxo laminar – imprescindível para os trabalhos de manipulação
asséptica. É mantida na sala de transferência, com elevado nível de assepsia. Esse
equipamento força a passagem de ar por meio de um filtro bacteriológico, de modo
que seja criado um ambiente estéril com pressão positiva, que evita a entrada de ar
externo contaminado. Essa capela possui uma lâmpada ultravioleta, que é ligada 15
minutos antes de iniciar o trabalho, para esterilização do ambiente (Figura 10).
21
Figura 10 - Capela de fluxo laminar e lamparina de álcool
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Lamparina de álcool – é utilizada na esterilização dos instrumentos cirúrgicos e
flambagem de boca de frascos, por meio de chama produzida pela queima de álcool
puro (Figura 10).

Microscópio estereoscópico – utilizado para facilitar na extração do meristema
(Figura 11).
Figura 11 - Microscópio estereoscópio
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.

Suporte para tubo de ensaios – são utensílios feitos de plástico que podem ser
autoclavados. Destinam-se a manter os tubos de ensaio na sala de cultura, para que
recebam luz adequada.

Termômetros – para monitorar a temperatura da sala de culturas são utilizados
termômetro e máxima e de mínima, para outras determinações de temperatura, são
empregados termômetros comuns de laboratórios.
22

Frascos para regentes – são frascos de 250 a 500 ml, de boca estreita, com tampa
de pressão, de material plástico utilizados para armazenar solução estoque.

Vidrarias de laboratório – inclui-se aqui vidraria típica de laboratório, como
béqueres, erlenmeyers, provetas, buretas, pipetas e placas de Petri. Os béqueres e
erlenmeyers são usados normalmente para o preparo de soluções, sendo que suas
medidas variam de 25 a 2.000 ml. As provetas são usadas para medições mais
precisas de volumes, sendo, assim, graduadas. As buretas de 250 ml são utilizadas
para dispensar meios nutritivos nos frascos de culturas. As pipetas são utilizadas
para dosar pequenos volumes de reagentes, dispondo-se de um conjunto que varia
de 1 a 10 ml. As placas de Petri autoclavadas constituem a base estéril sobra a qual
o operador, na capela de fluxo laminar, mantém o material vegetal a ser preparado
para entrar nos frascos de culturas, ou para ser subdividido e transferido para outros
frascos, nas fases de multiplicação e enraizamento (TORRES et al, 1998).

Pissetas – são frascos plásticos, que, quando pressionados, liberam um fino jato de
água; usados para lavação de eletrodos de peagâmetros, remoção delicada de
precipitados e outro afins semelhantes (TORRES et al, 1998).
2.3.3.1 Preparo da cabine de fluxo laminar
Ligar a cabine e fazer assepsia com álcool puro;
Levar todos os utensílios para o interior da cabine ligada, de preferência já
esterilizados em autoclave;
Manter as portas sempre fechadas, usar máscara e álcool 70% para esterilizar as
mãos durante o trabalho;
23
Figura 12 - Cabine de fluxo laminar
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.4 Meios de cultura
Meios de cultivo são combinações de sais minerais (macro e micronutrientes),
carboidratos, vitaminas e reguladores de crescimento. Podem ser sólidos
(adicionando-se ágar ou outro agente para geleificação) ou líquidos, de acordo com
o protocolo para o sistema de cultivo. Os meios nutritivos utilizados para as culturas
fornecem as substâncias essenciais para o desenvolvimento dos tecidos e
controlam, em grande parte, o padrão do desenvolvimento in vitro (TORRES, 1998).
A constituição do meio é baseada nas exigências das plantas quanto aos nutrientes
minerais, com algumas modificações para atender em necessidades específicas.
Um dos primeiros meios de cultura desenvolvidos foi o de White (1942). Esse
meio apresenta baixo nível de nitrogênio e de potássio, restringindo o seu uso para
muitas células; entretanto, esta formulação com baixa concentração em sais, é
usada em muitas situações. O meio MS (MURASHIGE E SKOOG, 1962) foi uma das
primeiras formulações melhoradas usadas em cultura de tecidos de plantas,
apresentando altos níveis de nitrato, potássio e amônio (GUERRA & NODARI,
2006).
De acordo com Caldas et al. (1990) apud Torres (1998) os principais
componentes de uso mais frequente nos meios de cultura são:
24
2.4.1 Água
É o componente em maior quantidade do meio de cultura. Pode ser uma fonte
potencial de impurezas que pode afetar crescimento de tecidos in vitro. Para melhor
controle deve-se usar água destilada, bidestilada e deionizada. A utilização de água
de torneira pode comprometer o desenvolvimento da cultura.
2.4.2 Macronutrientes
a) Nitrogênio – nutriente que difere dos demais pelo fato de apresentar-se na
forma de cátion (amônio) e ânion (nitrito e nitrato).
b) Fósforo - Necessário para a síntese do ATP e na organogênese o fósforo
está envolvido na diferenciação da parte aérea, pois reverte o efeito das auxinas.
c) Potássio – entra como íon acompanhante do nitrato, fosfato ou cloreto.
Ativador de várias enzimas do metabolismo de carboidratos e proteínas.
d) Enxofre - utilizado na forma de sulfato ou na forma de aminoácidos (cistina,
cisteína e metionina). Envolvido no metabolismo energético na formação do
fosfosulfato de adenosina, constituinte da tiamina, biotina e coenzima A. Sua
absorção é relacionada à assimilação do nitrogênio e, independentemente, do pH
(SANTIAGO, 2001).
e) Cálcio – apresenta limitações na sua translocação na planta intacta, que,
às vezes, são observadas também in vitro. Como esse nutriente depende da
transpiração da planta para seu transporte no xilema, às condições de alta umidade
do ar que se estabelecem in vitro podem induzir deficiência de cálcio em partes
aéreas em micropopagação.
f) Magnésio - usado na forma de sulfato de magnésio. É um dos componentes
importante de vias metabólicas que utilizam ATP, mesmo em tecidos de calos e de
raízes que não são fotossintetizantes, e portanto, não sintetizam clorofila.
25
2.4.3 Micronutrientes
a) Ferro - É adicionado ao meio na forma de quelato de ferro com EDTA
(etilenodiamino
tetra-acetato).
Envolvido
nas
reações
de
oxi-redução
nos
organismos vivos.
b)
Molibdênio
-
é
adicionado
na
forma
de
molibidato
de
sódio
(Na2MoO4.2H2O).
c) Cobre - é usado como sulfato de cobre. É um cátion que em dose acima do
normal é fitotóxico às culturas. Constituinte da enzima plastocianina que é
importante componente do transporte de elétrons.
d) Cloro - é essencial para a fotossíntese, sendo utilizado como íon
acompanhante do potássio.
e) Zinco - é adicionado ao meio como sulfato de zinco (ZnSO4.7H2O).
Importante nas reações de oxi-redução das plantas.
f) Manganês – utilizado como sulfato de manganês (MnSO4.H2O). Essencial
no metabolismo para a reação de Hill na fotossíntese, quando a molécula de água é
quebrada produzindo elétrons e oxigênio.
g) Cobalto - é usado como cloreto de cobalto e está envolvido na expansão
foliar.
h) Boro – é adicionado ao meio como ácido bórico (H3BO3).
i) Sódio – pode entrar na composição de meios nutritivos, em concentrações
muito variáveis, como íon acompanhante de algum elemento essencial.
2.4.4 Carboidratos
As células, tecidos e plântulas cultivadas in vitro não encontram condições
adequadas de iluminação e concentração de CO2 e, às vezes, não apresentam
teores de clorofila suficientes para realizar fotossíntese. A sacarose é o carboidrato
mais usado nos meios de cultura, sendo que esse açúcar suporta as mais altas
taxas de crescimento na maioria das espécies. A concentração de 3% é a mais
usada (CALDAS et al, 1998).
26
2.4.5 Vitaminas
Vitaminas são compostos orgânicos que, em baixas concentrações,
desempenham funções reguladoras catalíticas no metabolismo celular. A vitamina
mais comumente usada em cultura de tecidos é a tiamina. A concentração de
tiamina no meio MS é de 0,1 mg.l-1, sendo aumentada de 0,4 a 10 mg.l-1 para
culturas específicas (LINSMAIER & SKOOG, 1965). A outras vitaminas utilizadas
incluem ácido nicotínico (B3) e piridoxina (B6), nas concentrações de 0,5 mg.l-1 cada
(CALDAS et al, 1998). Embora as vitaminas sejam adicionadas ao meio antes da
autoclavagem, a esterilização a frio é recomendada.
A tiamina, na forma de tiamina – pirofosfato, é um co-fator essencial para
reações críticas da respiração aeróbica, a fotossíntese e a biossíntese de alguns
aminoácidos e terpenóides em planta. A piroxidina está envolvida na biossíntese de
aminoácidos aromáticos que formam a auxina AIA endógena, e na biossíntese de
alcaloides. Embora tenha sido verificado que essas vitaminas desempenham
funções essenciais na planta, outras vitaminas também exercem papéis importantes.
Portanto, o efeito benéfico da inclusão de determinada vitamina no meio nutritivo
dependerá, em grande parte, da capacidade de biossíntese de cada um nos tecidos
ou órgãos cultivados (CALDAS et al, 1998).
O Mio-inositol é um componente do meio MS e da maioria de outros meios
em uso atualmente. A concentração mais usada desse composto é de 100 mg.l -1.
Em comparação com as concentrações dos hormônios e das vitaminas (0,1 a 10
mg.l-1). A do mio-inositol usada nos meios de cultura é elevada (CALDAS et al,
1998).
2.4.6 Reguladores do crescimento vegetal ou hormônios
As auxinas e as citocininas são as classes de reguladores de crescimento
mais utilizadas na cultura de tecidos. A formação de raiz, parte aérea e calo em
culturas de tecidos é regulada pela disponibilidade e interação dessas duas classes
de reguladores de crescimento (SKOOG & MILLER, 1980).
27
As várias auxinas (AIA, AIB, ANA, 2,4 – D, e picloran) dão respostas
diferentes in vitro. As auxinas são termo-estáveis, não decompondo quando
autoclavadas. AIA (ácido indol-3-acético) é uma auxina instável, que se degrada
facilmente pela luz ou pela atividade microbiana que a transforma em triptofano. A
auxina 2,4-D é bastante usada para a indução de calos e tem o efeito de supressão
da morfogênese. As auxinas 2,4-D e ANA são sintéticas e têm efeitos semelhantes
às auxinas de ocorrências naturais, sendo mais estáveis à degradação (GUERRA &
NODARI, 2006).
As citocininas são derivadas da adenina (aminopurina) e têm um papel
fundamental na diferenciação e regeneração de plantas na maioria das espécies
(SANTIAGO, 2001). Induzem a divisão celular, proliferação e morfogênese da parte
aérea. As citocininas mais usadas em cultura de tecidos são a cinetina (CIN),
benziladenina (BA), zeatina (Zea), isopentenil adenina (2ip) e thidiazuron (TDZ)
(GUERRA & NODARI, 2006).
O ácido giberélico (GA3) é usado, algumas vezes, em cultura de meristemas,
na recuperação de plantas livres de vírus. O GA 3 deve ser dissolvido em água com
pH ajustado a 5,7 ou em base (NaOH 1N). As soluções estoques devem ser
preparadas na hora (GUERRA & NODARI, 2006).
O ácido abscísico (ABA) está envolvido na dormência e abscisão de folhas e
frutos. Na cultura de tecidos o papel deste composto está envolvido principalmente
na maturação de embriões obtidos na embriogênese somática (GUERRA &
NODARI, 2006).
Soluções estoque de hormônios, com exceção do AIA, podem ser mantidas
no congelador por alguns meses sem perda das suas atividades. Quase todos os
hormônios são pouco solúveis em água. Recomenda-se dissolver as auxinas (ácidos
orgânicos) em base (KOH ou NaOH 0,1 N), na proporção de 3 gotas da base para
cada 10 mg de auxina. As citocininas (bases orgânicas) devem ser dissolvidas em
ácido (HCl 0,1N) na mesma proporção usada para as auxinas. No entanto as
citocininas se dissolvem em bases com certa facilidade (CALDAS et al, 1998).
28
2.4.7 Materiais de suporte
Os meios de cultura podem ser líquidos ou sólidos, sendo que a cultura em
meio líquido normalmente exige algum tipo de suporte ou agitação para fornecer o
oxigênio necessário para a respiração do explante. Os meios sólidos ou semi-sólidos
são solidificados com ágar, um polissacarídeo obtido pela purificação de algas
marinhas. A concentração usada varia de 0,6% a 1% (de 6 a 10 g/L). O ágar impuro
é constituído de polissacarídeos, aminoácidos, sais, açúcar, etc., devendo ser
lavado em água destilada antes de ser usado. O ágar é alcalino, líquido à
temperatura de 80°C e se solidifica à 40°C. É necessária a aquisição de ágar de boa
qualidade, pois podem ser tóxicos em algumas condições de cultivo (TORRES,
1998).
2.4.8 pH
O pH dos meios nutritivos em culturas de células vegetais é normalmente
ajustado com HCl ou NaOH, depois de adicionar todos os componentes para um
valor ligeiramente ácido, entre 5 e 6 (TORRES, 1998). Recomenda-se este valor
para formulações líquidas. Em meios gelificados com ágar, o pH deve ser ajustado
em 5,7, pois em pH 5,0, ocorre a hidrólise de polissacarídeos, enquanto que em pH
6,0-6,2 verifica-se a precipitação de sais (GEORGE, 1996).
2.4.9 Preparação dos meios
No laboratório de cultura de tecidos da EPAGRI, as soluções estoque para o
meio MS ficam prontas e armazenadas na geladeira. As concentrações de cada
componente estão apresentadas na Tabela 1. As soluções estoque dos hormônios
utilizados também ficam prontas e armazenadas no congelador, por no máximo um
29
mês. A sacarose e o mio-inositol, que são utilizados em quantidades elevadas, são
pesados cada vez que se prepara um meio nutritivo.
Tabela 1 - Preparação de soluções estoque do meio de Murashige & Skoog (1962).
Solução
Composto
[ ] Sol. Estoque (g/l)
MACRO
Preparar
Preparar
1L (g)
500 mL (g)
NH4NO3
33
33
16,5
(Usar 50
KNO3
38
38
19,0
mL/L de
CaCl2.2 H2O
8,8
8,8
4,4
meio de
KH2PO4
3,4
3,4
1,7
MgSO4.7 H2O
7,4
7,4
3,7
1L (g)
500 mL (g)
cultura
Ferro
(10 mL/L)
Na2EDTA.2 H2O
3,720
3,72
1,86
FeSO4.7 H2O
2,780
2,78
1,39
1L (g)
500 mL (g)
MICRO
MNSO4.H2O
3,380
3,380
1,690
ZNSO4.7 H2O
1,720
1,720
0,860
(Usar 5
H3BO3
1,240
1,240
0,620
mL/L de
KI
0,166
0,166
0,083
meio de
CuSO4.5 H2O
0,005
0,005
0,0025
Na2MoO4.2 H2O
0,050
0,050
0,025
CoCl2.6 H2O
0,005
0,005
0,0025
200 mL (g)
100 mL (g)
cultura
Vitaminas
Tiamina. HCl
0,02
0,0040
0,0020
(Usar 5
Ácido nicotínico
0,1
0,0200
0,0100
mL/L de
Piridoxina.HCl
0,1
0,0200
0,0100
meio de
Glicina
0,4
0,0800
0,0400
Mio-Inositol
20
4,000
2,000
cultura
FONTE: Murashige, T.; Skoog, F. A.; (1962).
Os meios são esterilizados, após distribuídos nos frascos ou vasilhames de
cultura, por autoclavagem a 121 ºC (1 Kg.cm-2) por 15 a 20 minutos (CALDAS et al.,
1990).
30
2.5 Cultura de meristema de alho livre de vírus
O cultivo de meristemas, ápices caulinares (MARGARA, 1988), e gemas
axilares (PIERIK, 1990), resultam nos métodos de multiplicação in vitro mais
facilmente utilizados e mais seguros para obtenção de “cópias uniformes ou
semelhantes”, isentas de variações indesejáveis (MARGARA, 1988). Estes métodos
também têm sido utilizados com êxito na superação de contaminação patogênica
(CALDAS et al., 1990), na recuperação de plantas livres de vírus ou na conservação
e intercâmbio de germoplasmas. Em resumo, o ápice meristemático é uma estrutura
organizada, que pode desenvolver-se diretamente da parte aérea em meio de
cultura adequado, sem passar pela fase de calo (TORRES et al., 1998).
A cultura de ápices caulinares uma estratégia para o estabelecimento de
estoque de plantas matrizes livres de vírus. Esse método baseia-se na premissa de
que a concentração desse patógeno distribui-se não uniformemente na planta
infectada. Basicamente, a metodologia consiste na excisão da cúpula meristemática
apical com um ou dois primórdios foliares (onde ainda não se observa conexão
vascular com os tecidos das plantas), podendo ser cultivada em meio nutritivo
adequado para diferenciação e desenvolvimento dos sistemas caulinar e radicular
(TORRES et al, 1998).
Na EPAGRI – estação experimental de Caçador – SC, plantas de alho livre de
vírus apresentam desenvolvimento vegetativo superior do que as plantas não livre
de vírus, e também se destacam em relação ao aumento da produtividade e
qualidade dos bulbos, conforme pode ser observado na Figura 13.
31
Figura 13 - Bulbo livre de vírus à esquerda e Bulbo infectado à direita
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Segundo Torres et al (1998), os fatores mais importantes na recuperação de
plantas livre de vírus são: as condições de desenvolvimento da planta – matriz, tipo
e tamanho do explante, influência sazonal, termoterapia, eletroterapia, meio e
condições de cultura.
a) Condições de desenvolvimento da planta matriz
O estado fitossanitário, fisiológico e nutricional da planta doadora de explante
influencia o sucesso de obtenção de plantas livres de vírus. A planta doadora de
explantes deve ser desenvolvida em condições de casa de vegetação ou câmara de
crescimento, sem nenhum estresse biótico ou abiótico, devendo estar em fase de
crescimento ativo. As influências sazonais devem ser observadas. Em condições
ambientais adversas, as plantas apresentam uma paralisação temporária de
crescimento, num estado conhecido por dormência. Nessa condição, as exigências
de termo de fotoperíodo para superar a dormência devem ser satisfeitas antes de
utilizar a planta como fonte de explantes (TORRES et al, 1998).
b) Explantes
A probabilidade de se isolar tecidos livres de vírus e outros agentes causadores
de doenças está inversamente relacionada ao tamanho do explante (MURASHIGE,
1977).
32
c) Termoterapia
A termoterapia consiste na exposição do bulbilho do alho temperatura de 38
ºC por um período de 10 dias. A associação de altas temperaturas com a cultura de
tecidos tem aumentado à eficiência da recuperação de plantas livres de vírus de
alho. Após esse tratamento, o explante é excisado e cultivado in vitro (TORRES et
al, 1998).
A termoterapia pode ser feita de duas maneiras: a seco, ou úmido. A
termoterapia a seco consiste em deixar o alho exposto a 38 ºC por um período de 30
dias na BOD. Já na termoterapia úmida, o alho é plantado em bandejas que
possuam areia e vermiculita e permanece a uma temperatura de 38 ºC por 10 dias,
sendo que esta areia Essa diferença de tempo ocorre porque, quando o alho está
em altas temperaturas e em condições de umidade, as chances de ocorrer à
proliferação de agente fitopatógenos são elevadas. Por isso, as sementes são
retiradas antes da BOD.
Durante o período de estágio, a EPAGRI estava realizando a termoterapia
úmida, porém a ocorrência de fungos era bastante grande, estragando mais de 70%
das sementes. Por este motivo, de acordo com o pesquisador da estação, Renato
Vieira, as próximas sementes que serão trabalhadas, passarão por um processo de
termoterapia a seco, tentando, desta maneira, diminuir a incidência de fungos.
d) Indexação de vírus em plantas
A indexação se refere aos testes realizados para demonstrar se a planta está
ou não infectada por vírus. As técnicas adotadas variam de acordo com as
condições de cada laboratório, com os vírus testados e com o número de amostras
analisadas. No laboratório de culturas de tecidos da EPAGRI, é adotado um método
sorológico chamado ELISA (Enzyme – Linkd Immunosorbent Assay), que é eficiente,
rápido e com ele pode ser testada um grande número de amostras por vez. Uma
desvantagem desse método é a necessidade de ter anti-soro específico para cada
vírus a ser testado.
33
2.6 Procedimentos para plantio, termoterapia e preparo do alho para retirar
o meristema
a) Adquirir alho não livre de vírus de produtores da região;
Figura 14 - Bulbos selecionados
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
b) Vernalizar os bulbos de alho durante 60 dias (4 a 7 ºC);
c) Fazer o tratamento dos bulbilhos em hipoclorito 1,5% (20 minutos);
Figura 15 - Pré-limpeza e tratamento com NaClO
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
d) Plantar os bulbilhos em bandejas com areia e vermiculita autoclavadas e colocar
na BOD (10 dias a 39ºC);
Figura 16 - Bulbilhos em termoterapia
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
34
e) Colher as plantas de alho da bandeja (após a termoterapia);
Figura 17- Pré-assepsia dos bulbilhos
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
f)Lavar bem, descascar os bulbilhos, retirar o excesso de raízes e cortar as folhas;
g) No laboratório, lavar mais uma vez com H2O destilada;
h) Na cabine colocar as sementes em álcool 70% por 30 segundos;
i) Drenar o álcool e em seguida adicionar sobre o alho em recipiente hipoclorito
1,5%, 2 gotas de tween e deixar durante 20 minutos;
j) Drenar o hipoclorito e efetuar 3 lavagens com H2O destilada;
k) Localizar o meristema;
Figura 18 - Meristema
Fonte: Lucini (2003)
l) Fazer e excisão do meristema com bisturi e microscópio estereoscópio;
35
Figura 19 - Extração do meristema
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Figura 20 - Meristema isolado
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
m) Colocar em tubo de ensaio com meio de cultura;
n) Levar para sala de crescimento por aproximadamente 30 dias, aonde receba 16
horas de luz diariamente, com temperatura controlada;
36
Figura 21 - Meristema com 30 dias de desenvolvimento
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
o) Fazer a transferência para outro meio de cultura com hormônios de bulbificação;
Figura 22 - Transferência para outro meio
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
p) Deixar nesse meio por aproximadamente 60 dias;
q) Tirar as plântulas do meio de cultura;
r) Lavar os bulbilhos em água corrente e deixa-los em cima de papel toalha, dentro
do laboratório para secar;
37
Figura 23 - Limpeza do bulbilho
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Figura 24 - Bulbilho curado
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
s) Bulbilhos são levados para o telado, por onde permanecerão por dois anos, sendo
que no primeiro ano somente aumentarão de tamanho, formando um bulbilho maior,
e no segundo ano será formado o bulbo.
38
.
Figura 25 - Telado antiafídico
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
t) Levar bulbilhos para o campo;
Figura 26 - Lavoura de alho livre de vírus em Fraiburgo - SC
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
No campo, os bulbilhos-semente serão plantados e no primeiro ano servirão
somente para multiplicação. Sendo que o produtor não irá comercializa-los. Já no
39
segundo ano uma parte dos bulbilhos será comercializada para produtores
comerciais e outra parte, permanecerá na propriedade para que sejam novamente
multiplicados.
A EPAGRI fornece semente livre de vírus todos os anos para um produtor
conveniado, Sr. Volni Maciel, da cidade de Fraiburgo, que possui 34 ha plantados
com alho. O Sr. Volni se compromete em multiplicar estas sementes e vender para
os produtores comerciais. A EPAGRI disponibiliza assistência técnica para este
produtor, porém, ele conta com o acompanhamento de um responsável técnico, que
trabalha com ele há 16 anos, sempre buscando se manter informado sobre as novas
tecnologias de produção de alho.
2.7 Lavoura do produtor de sementes, Volni Maciel
2.7.1 Escolha do terreno
Os terrenos para o plantio do alho devem ser bem drenados, de meia
encosta, já cultivados e corrigidos. Evitar terrenos úmidos e/ou sombreados. Dar
preferência a solos soltos, de elevada fertilidade. (EPAGRI, 2002).
No terreno escolhido para o plantio de alho da lavoura do Sr. Volni Maciel,
foram realizadas amostragem de solo em diversos pontos, e então enviadas a um
laboratório de análise de solo, para então serem efetuadas as devidas correções, de
acordo com os resultados mostrados na análise.
2.7.2 Preparo do solo
O preparo antecipado do solo – 35 a 45 dias antes do plantio – é importante, pois
deixara o canteiro totalmente destorroado, facilitando dessa maneira o plantio.
Nessa fase o tratorista tem uma importância muito grande, já que o encanteiramento
40
deve ser uniforme, com a mesma largura nos entre canteiros e bem destorroado
(LUCINI, 2011)
O solo aonde será plantado o alho é bastante revolvido, sendo que são
realizadas diversas operações, visando o destorroamento completo deste solo. No
solo do Sr. Volni primeiramente foi realizada uma sobsolagem, seguida de uma
subsolagem cruzada, duas gradagens, um riscador e uma enxada rotativa para o
encanteiramento.
Devido a todas essas operações realizadas no solo, e por este ser um solo nu
(completamente sem cobertura), é importante que seja um solo com menor
declividade possível, para evitar problemas com erosão, o que trará muitas perdas
para o produtor. A lavoura do Sr. Volni possui uma declividade baixa, porém devido
ao excesso de chuva, ele teve problema com erosão (Figura 27).
Figura 27 - Problemas com erosão
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.7.3 Encanteiramento
Essa operação é realizada com enxada rotativa de 1,58 m de largura. Com
isso se tem um canteiro de 1,30 m de mesa. O intervalo entre-canteiros é de 0,40 m
em média. A altura do canteiro deve ser baixa em solos de lombadas e alto em solos
baixos, onde se acumula mais água (LUCINI, 2011).
41
Figura 28 -: Canteiros
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.7.4 Rotação de culturas
A rotação de culturas é uma prática recomendável para o alho, adotando esta
prática de manejo, fica mais fácil prevenir a cultura de agentes nocivos, como
fitopatógenos. Porém não é qualquer cultura que é recomendada para que seja feita
a rotação de culturas com o alho. Por exemplo, para evitar problemas com a doença
Fusariose (Fusarium solani), que ataca o alho, não se deve utilizar feijão ou soja
para a rotação, pois ambos aumentariam a contaminação deste patógeno no solo.
Neste caso a rotação deve ser efetuada com gramíneas, ou outras culturas não
suscetíveis.
Segundo o responsável técnico da lavoura do Sr. Volni, é possível utilizar a
mesma área para o plantio do alho durante, no máximo, 3 anos, sem problemas com
doenças. Porém, após estes 3 anos, só deve retornar a plantar a cultura na mesma
área após 12 anos.
42
2.7.5 Adubação
2.7.5.1 Correção da acidez do solo
A correção da acidez do solo deve ser realizada, no mínimo, de quatro a seis
meses antes do plantio, utilizando calcário dolomítico com PRNT superior a 80% ou
associação de calcário dolomítico com calcítico. A quantidade a ser aplicada deve
seguir a “Recomendação de Adubação e Calagem para os Estados do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina” com base no índice SMP, para elevar o pH do solo de 6,0 a
6,5. Esta correção deve ser efetuada a cada quatro anos, de acordo com a análise
de solo (EPAGRI, 2002)
2.7.5.2 Adubação química e orgânica
No momento da adubação da cultura do alho, são utilizadas fontes químicas
e/ou orgânicas, fornecendo basicamente nitrogênio, fósforo, potássio, zinco e boro.
Este ano, na lavoura do Sr. Volni foi utilizada 3 t/ha de esterco de frango e mais
2t/ha de adubo químico na base.
A adubação de cobertura do nitrogênio foi efetuada em duas épocas. A
primeira adubação foi feita aos 30 dias após o plantio, época em que normalmente
terminam as reservas do bulbilho-semente e as folhas tornam-se verde-amareladas,
antecipando a senescência das folhas mais velhas que, por sua vez, favorece a
entrada de bacterioses, para esta etapa foi utilizado 70 Kg/N/ha. A segunda
adubação de cobertura foi efetuada 12 dias após a diferenciação dos bulbilhos, onde
foi aplicado 100 Kg/N/ha.
43
2.7.6 Cultivares
Existe inúmeras cultivares de alho sendo comercializadas no mercado
brasileiro, porém a maioria destas não são devidamente classificadas e separadas, o
que faz com que, muitas vezes, os agricultores adquiram materiais de baixa
qualidade e produtividade. Por isso é importante que se conheça o material que está
comprando e suas características agronômicas.
As diferentes cultivares de alho são classificadas conforme a duração do
ciclo, exigências de fotoperíodo e temperatura, sendo elas:
Cultivares precoces (Comuns) – possuem ciclo em torno de 120 a 130 dias, é
menos exigente em fotoperíodo e frio, tem larga adaptação em regiões brasileiras de
temperaturas diferenciadas, possui grande número de bulbilhos (20 – 25), de cor
branca ou arroxeadas, e tem um menor valor comercial, se comparada com as
demais cultivares. Dentre as cultivares precoces destacam-se: Cará e Gigante de
Curitibanos (BORTOLOSSI, 2011).
Cultivares de ciclo tardio (Nobres) - possuem ciclo de 160 a 210 dias, são mais
exigente em fotoperíodo (13 horas) e em frio, apresenta bulbo graúdos com menor
número de bulbilhos (8 – 10) , de cor externa esbranquiçada, tem alta capacidade de
conservação e alta cotação comercial. Dentre as cultivares de ciclo tardio destacamse: Chonan, Quitéria, Esmeralda e Jonas, Ito. (BORTOLOSSI, 2011).
Na lavoura de Fraiburgo foram plantadas as cultivares Ito, Caçador, Quitéria,
Esmeralda e Jonas, sendo as 3 primeiras livre de vírus.
2.7.7 Plantio de alho-semente
O plantio manual do alho é o melhor modo, pois permite que todos os
bulbilhos – sementes sejam plantados com o ápice para cima (Figura 29), formando,
assim, uma lavoura uniforme e com mais probabilidade de brotação (EPAGRI,
2002). Se gasta na faixa dos 12 a 15 dias/homens por hectare, que são
remunerados por dia, sendo pago 15 centavos por metro. A marcação onde será
feito o plantio deve ser bem visível e sem torrão, assim, consequentemente, o
44
rendimento da mão de obra será superior. O rendimento médio de plantio varia de
200 a 400 metros de canteiro por dia por trabalhador (LUCINI, 2003).
Figura 29 - Plantio de alho semente
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.7.8 Escolha da semente
O alho responde em produtividade de acordo com a qualidade do bulbilho –
semente, sendo que este fator representa um custo total de produção de até 50 %.
Por isso é importante que, para a lavoura a qual se destina para sementes, sejam
dispensadas excelentes condições nutricionais, de manejo e fotossanitárias
(EPAGRI, 2002). O lote de alho que manifestar problemas com nematóide, fusarium
e podridão branca deve ser descartado (LUCINI, 2003)
O fator que pode ser considerado de maior importância para o plantio do alho
é a escolha da semente, aonde deve ser considerado o tamanho, época de escolha
e sanidade das mesmas.
2.7.9 Classificação da semente
O bulbilho é classificado por tamanho após a debulha, já que se planta de
maneira distinta cada grupo de peso de bulbilho. Essa classificação é realizada no
rolo de classificar com cilindro e malhas. Os bulbilhos que caem na primeira peneira
45
são descartados (menores que 1,5 gramas/bulbilho) e comercializados para a
indústria, já os demais são plantados. Normalmente a segunda e terceira peneira é
repassada
visando
uma
melhor
classificação
dos
bulbilhos
(1,5
a
3,0
gramas/bulbilho) (LUCINI, 2003).
O tamanho da semente considerado ideal é o das peneiras 5, 6 e 7 (Tabela ),
que apresentam maior reserva de energia e melhores condições para seu
desenvolvimento a campo.
Tabela 2 - Classificação de bulbos de alho segundo o maior diâmetro
transversal.
TAMANHOS DIÂMETRO HORIZONTAL (mm)
PREÇO (R$/Kg)
7
> 55
3,0
6
47 - 54
2,7
5
42 - 46
2,2
4
37 - 41
1,8
3
32 - 36
1,5
Fonte: Ministério da Agricultura – Portaria nº 242 de 17 de setembro de 1992.
2.7.10 Época de plantio
A época de plantio depende da variedade a ser plantada. Essa época é
determinada pela brotação do bulbilho que varia de acordo com as condições de
armazenamento do alho-semente. A brotação é de fácil visualização, basta cortar o
bulbilho longitudinalmente. O ideal é plantar o alho quando o mesmo apresenta 90%
de IVD (Figura 30). Recomendam-se as seguintes épocas de plantio, de acordo com
as cultivares: Caçador, Jonas e Ito no mês de junho; Chonan de 10 de junho a 10 de
julho; Quitéria, São Valentin e/ou Esmeralda final de junho a final de julho (LUCINI,
2003);
Figura 30 - Índice visual de dormência
Fonte: Lucini (2003)
46
2.7.11 Espaçamento de plantio
O ideal é que as perdas nos entre canteiros sejam pequenas. O espaço nos
entre canteiros deve ser de 0,40 m. A “mesa” do canteiro deve ser de 1,20 a 1,30
metros. O plantio deve ser longitudinal, com 4, 5 ou 6 fileiras em cima do canteiro.
No sistema de plantio de 5 linhas, a distância entre as mesmas é de 25 cm, variando
apenas dentro da linha de 10 a 12 cm., de acordo com o peso dos bulbilhos LUCINI,
2003).
No sistema de plantio de 6 linhas, que é o utilizado na lavoura do Sr. Volni,
recomenda-se usar 3 linhas duplas, no espaçamento de (10 X 38 X 10 X 38 X 10 )
nas fileiras e de 12 cm entre plantas (Figura 31) dentre das linhas de acordo com o
peso dos bulbilhos, época de plantio e variedade. O stand por ocasião da colheita é
de 300-330.000 plantas/hectare para bulbilhos graúdos e de 330-360.000
plantas/hectare para bulbilhos médios. Quanto maior o stand, maior será a
produtividade, mas menor será o tamanho do alho colhido (LUCINI, 2003).
Figura 31 - Espaçamento de plantio
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.7.12 Superbubilhamento
O superbulbilhamento (Figura 32) ou pseudoperfilhamento constitui um dos
maiores problemas na cultura do alho, principalmente nas cultivares que produzem o
47
chamado “alho nobre”. É uma anomalia genético-fisiológica que se caracteriza pela
brotação dos bulbilhos antes da colheita. Os brotos novos crescem através do
pseudocaule e emergem nas axilas das folhas, dando a planta o aspecto de uma
ramificação abundante (LUCINI, 2003). Vários fatores têm sido relacionados como
influentes no superbrotamento como: fotoperíodo, temperatura, cultivares, nitrogênio
e irrigação (LUCINI, 2003). Apesar dos cuidados, na lavoura do Sr. Volni ainda teve
problemas com superbulbilhamento, como pode ser observado na figura 33.
Figura 32 - Superbulbilhamento
Fonte: Lucini (2003)
Figura 33 - Superbulbilhamento do alho
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
48
2.7.13 Plantas daninhas
Sério problema par a cultura do alho que possui desenvolvimento inicial lento.
As folhas de alho, por serem eretas, cobrem imperfeitamente o solo até a
diferenciação, permitindo germinação de plantas daninhas. O período crítico de
competição vai dos 20 dias após o plantio até a diferenciação. As principais plantas
daninhas são: Euphorbia heterophylla, Rumex obtusifolius L., Phoradendron affine e
Bidens pilosa L. (LUCINI, 2003).
Figura 34 - 1 - Euphorbia heterophylla; 2 - Rumex obtusifolius L; 3 - Phoradendron affine; 4 Bidens pilosa L.;
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Nos primeiros 60 dias da lavoura do Sr. Volni, começaram a surgir a erva
Phoradendron affine, que é popularmente conhecida como erva de passarinho e é
de difícil controle.O Sr. Volni estava aplicando o herbicida Totril que é um herbicida
de contato, absorvido pelas folhas e cujo princípio ativo é o ioxinil. A dose utilizada
pelo produtor é de 300 ml/ha, porém, por ser uma dose muito baixa (já que o
recomendado é de 1,5 l/ha), não estava surgindo efeito.
O Sr. Volni ficou receoso
em aumentar a dose, pois acredita que pode acarretar em fitotoxidez para as plantas
49
de alho. Desta maneira, ele contratou mão- de-obra, e esta erva foi controlada
manualmente.
Figura 35 - Mão-de-obra na cultura do alho
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
2.7.14 Principais pragas
O principal inseto que ataca a cultura do alho é o Tripes spp. Um inseto
pequeno, cerca de 1 mm, que raspa as folhas, suga a seiva das plantas deixando
manchas prateadas nas folhas, que amarelecem e secam. O controle dessa praga
se da através de rotação de culturas, ou inimigo natural, sendo um deles a
tesourinha (LUCINI, 2003).
Outra praga que afeta a cultura do alho são os ácaro dos bulbos, que vivem
nas dobras das folhas e sobre os bulbilhos. No campo causa deformação das folhas.
Já no armazém provoca o chochamento bulbilhos. O controle dessa praga se da
com pulverização de acaricidas (LUCINI, 2003).
Para o controle de Tripes, o produtor utiliza o inseticida Engeo Pleno, na dose
de 250 ml/ha. Este inseticida é sistêmico, de contato e ingestão, do grupo químico
neonicotinóide e piretróide
50
Figura 36 - Ácaro e pulgões
Fonte: Lucini (2003)
2.7.15 Principais doenças
Inúmeras doenças atacam a cultura do alho. Um dos problemas que mais
contribuem para o agravamento da severidade das doenças nessa cultura é a falta
de variedades resistentes. Entre as doenças que mais causam prejuízo para a
cultura do alho destacam-se: Ferrugem (Puccinia allii Rud), Alternária (Alternaria
porri,) Podridão branca (Sclerotium cepivorum Berkeley) e Podridão de esclerócio
(Sclerotium rolfsii Sacc).
51
y
x
Figura 37 - 1- Fusarium oxysporum; 2- Sclerotium rolfsii Sacc.; 3 - Puccinia allii Rud.; 4 Alternaria porri
Fonte: Estágio supervisionado. Caçador, SC. Out. 2011.
Para o controle de Ferrugem, o produtor utiliza o fungicida Cabrio Top
(Pyraclostrobin + Metiram), na dose de 600 l/ha. Cabrio Top é um produto que
apresenta duplo modo de ação, atuando como inibidor do transporte de elétrons nas
mitocôndrias das células dos fungos, inibindo a formação de ATP, essencial nos
processos metabólicos dos fungos. Cabrio Top apresenta excelente ação protetiva,
devido a sua atuação na inibição da germinação dos esporos, desenvolvimento e
penetração dos tubos germinativos (BASF, 2011)
2.7 16 Colheita
A colheita do alho é manual, sendo passada uma lâmina, para cortar as raízes e
facilitar o arranquio do solo. Depois de arrancado o alho é deixado em cima dos
canteiros para o processo de pré-cura, aonde permanece de 2 a 4 dias. Após a précura, o alho é amarrado, colocado em carretas agrícolas e transportado até o
52
barracão onde será pendurado para secar. O trabalhador com prática consegue
arrancar 300 m/homem/dia (LUCINI, 2003).
Figura 38 - Colheita
Fonte: Lucini (2003)
A colheita na lavoura do Sr. Volni sempre foi manual, porém este ano, o
produtor importou duas máquinas de colher alho. Como a colheita iniciou nos
primeiros dias do mês de novembro, não foi possível acompanha-la durante o
período de estágio. O produtor afirmou que ainda tem dúvidas sobre a colheita
mecanizada, pois, como nunca trabalhou com ela, não sabe quais serão os
resultados.
2.7.17 Cura
A cura do alho é realizada nos barracões destinados a esse fim. É quando há
perda do excesso de umidade pela planta e a continuação da transferência de
substâncias orgânicas das folhas para o bulbo. Assim há a cicatrização dos ápices
dos bulbilhos que favorece o armazenamento. O barracão deve ser ventilado para
evitar mofo, e o alho vai permanecer lá em torno de 30 dias (LUCINI, 2003).
53
Figura 39 - Cura
Fonte: Lucini (2003)
54
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o período de estágio, foi possível conhecer e estudar a cultura do
alho, suas principais características, meio de produção, dificuldades encontradas e
resultado estimado da cultura.
Também, foi bastante trabalhado com a produção de sementes de alho livre
de vírus, uma tecnologia de mais de 40 anos, que vem sendo desenvolvida há uns
10 anos pela EPAGRI, e ultimamente, tem mostrado resultados positivos.
Proporcionando, assim, aos produtores da região, um alho mais sadio e
consequentemente, mais produtivo.
Com o final do estágio, foi possível concluir que a cultura do alho, se bem
manejada, e contando com um pouco de sorte nas condições climáticas importantes
para seu pleno desenvolvimento, pode ser uma cultura de altíssima fonte de renda
para pequenos produtores, pois apesar do elevado custo de produção por área,
apresenta uma renda líquida bastante alta.
55
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