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Ano IX - Nº 31 - Outubro/Novembro/Dezembro 2008 Impressa em papel reciclado Eficiência EnErgética Será o Brasil a grande potência energética do Século XXI? EntrEvista dilma pEna A Secretária de Energia e Saneamento do Estado de São Paulo fala sobre a importância da energia elétrica no processo do saneamento. Página 6 E muito mais... > > > > Fenasan 2009 artigos técnicos opinião “Causos” do saneamento Editorial 12, 13 e 14 de agosto de 2009 Pavilhão Amarelo do Expo Center Norte São Paulo/SP e d a d i l i b Sustenta caminho pararsalização do unive ntal ie b m a o t n e m sanea Envie seu trabalho até 31/03/09. A comunicação de aceite/recusa aos autores será feita a partir de 30/04/2009. para tEmário complEto E Envio dE trabalhos, acEssE: www.fenasan.com.br/encontrotecnico valores de inscrição do XX Encontro técnico Categoria visite também: Até 30/06 A partir de 01/07 Associados e autores de trabalho 95,00 110,00 Congressistas 300,00 350,00 Estudantes 150,00 170,00 Obs.: associado AESABESP autor de trabalho é isento. Limitado a uma isenção por trabalho inscrito. rEALizAçãO 4 | SaneaS AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp PAtrOCíniO OrgAnizAçãO Informações: Fone / Fax: 11 3871 3626 [email protected] outubro / novembro / dezembro | 2008 1 FEnasan 2009 120 16m H ² 18m² 16m 3 ² WC. Masc. H WC . Fe Tele f m. one s ² 18m 120 16m 5 3m /11/08 outubro / novembro / dezembro | 2008 18m 120 ² 7 ² a1 16m 200 120 12m ² 2 ² a1 100 ² 1 3m 110 7 18m 111 2 1 120 8m² 9 16m Ru •Ebara Indústrias e Comércio Básico do Estado de ao Paulo •Ebro Stafsjö do Brasil Importação e •Abimaq – Associação Brasileira Exportação de Válvulas de Indústria de Máquinas e • Organização Ecosan Equipamentos para Saneamento •Edra Saneamento Básico Indústria e Equipamento, com a Ilha Sindesan Comércio (Sindicado Nacional das Indústrias •Eletrônica Santerno Indústria e Comércio de Equipamentos para Saneamento •Emec Brasil Sist. Tratamento de Água Básico), formada por um “pool” de •Emicol Eletro Eletrônica empresas que atendem o setor de •Enmac Engenharia de Materiais Compostos saneamento. •ABS Indústria de Bombas Centrífugas •ESA Eletrotécnica Santo Amaro •Acquasan Equipamentos para •Exatta Precisão em Dosagem Tratamento de Água e Efluentes •Famac Indústria de Máquinas •Aerzen do Brasil •Fernco do Brasil •Ag Solve Monitoramento Ambiental •FGS Brasil Indústria e Comércio •Albrecht Equipamentos Industriais •Fluid Feeder Indústria e Comércio •Allonda Comercial de Geossintéticos •GE Fanuc do Brasil Ambientais •Getesi Indústria de Equipamentos •Amanco Brasil Eletrônicos e Sistemas •Amitech Brasil Tubos •Glass Ind. e Com. de Bombas Centrífugas e •Aquamec Equipamentos Equipamentos •AVK Válvulas do Brasil •Guarujá Equipamentos para Saneamento •Bombas Leão •Helmut Mauell do Brasil •Brasbom Comercial Importação e •Hidroductil Tubos e Conexões Exportação •Hidrosul -Máquinas Hidráulicas Hidrosul •Bugatti Brasil Válvulas •Hidro Solo Indústria e Comércio •Centroprojekt do Brasil •Higra Industrial •CMR4 Engenharia e Comércio Ltda. •Huesker Caetano Tubos •Imbil - Indústria e Manutenção de Bombas •Conexões Especiais do Brasil ITA •Continuum Chemical Latin America •Interativa Indústria, Comércio e •C.R.I. Bombas Hidráulicas Representações •Danfoss do Brasil Indústria e Comércio •Interlab Distribuidora de Produtos •De Nora do Brasil Científicos •Degrémont Tratamento de Águas •Invel Comércio Indústria e Participações •Digitrol Indústria e Comércio •ITT Brasil Equipamentos para Bombeamento •Dinatécnica Indústria e Comércio e Tratamento de Água e Efluentes •Dositec Bombas Equipamentos e •Kanaflex Indústria de Plásticos Acessórios •Kemwater Brasil 111 0 24m 111 4 121 18m² 1 1 121 8m² 16m 3 ² 12m 204 ² 12 •KSB Bombas Hidráulicas 12m 06 ² 2m •Lamon Produtos 3m •Sabesp – Companhia de Saneamento ² Ru 110 8 ² a WC em ída d .M e Se solidificando, a cada ano, como o maior eventoastécnico-mercadológico rgê doe c. nci a saneamento ambiental do País e um dos maiores em escala mundial, a Fenasan 2009 já conta com os mais influentes expositores do mercado nesse segmento. hão (colunas,etc.). ² 110 6 18m Presenças confirmadas na Fenasan 2009 S HIDRANTE Telefones ² 3 18m 120 •Máquinas Agrícolas Jacto •Mark Grundfos •Marte Balanças e Aparelhos de Precisão •Masterserv - Controle de Erosão e Comércio •Niagara Comercial 74me Controle •Nivetec Instrumentação ² •Nunes Oliveira Máquinas e Ferramentas •Pieralisi do Brasil •Plastimax Indústria e Comércio •Poly Easy do Brasil Indústria e Comércio •Proacqua Processos de Saneamento de Efluentes e Comércio •Prominas Brasil Equipamentos •Restor Comércio e Manutenção de Equipamentos Eletromecânicos •Saint - Gobain Canalização •Sampla do Brasil Indústria e Comércio de Correias •Sondeq Indústria de Sondas e Equipamentos •Sparsol Indústria e Comércio de Equipamentos Industriais •Tecniplás Tubos e Conexões •Tigre Tubos e Conexões •Uziseal Comércio Reparos de Peças Industriais •Vibropac Indústria e Comércio de Equipamentos •Vika Controls Comércio de Instrumentos e Sistemas •Wam do Brasil Equipamentos Industriais •Wastec Brasil Comércio de Produtos Químicos •Weatherford Indústria e Comércio •Weir do Brasil SaneaS | 5 AE ÍndiCE ExpEdiEntE Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp DIRETORIA EXECUTIVA Presidente - Luiz Yukishigue Narimatsu Vice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes 1º Secretário - Nizar Qbar 2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior 1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck 2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile 12 Eficiência matéria tEma energética EntrEvista 6 Dilma Pena OpiniãO 10 Automação como elemento estratégico de competitividade matéria sabEsp 24 Programa de eficiência energética visãO dE mErcadO 29 João Guilherme Sabino Ometto infOrmE cOmErcial 30 Renato Monticelli artigO técnicO 32 Eficiência hidráulica e redução do consumo de energia elétrica - O Estudo de Caso do Extremo Norte da RMSP 37 Eficiência Energética como Indicador na Gestão de Sistemas de Tratamento de Esgoto - ETEs “causOs” dO sanEamEntO 45 Quero-quero, futebol e Sabesp. Quanta confusão! palavra dE amigO 46 Dirce Rascado fala sobre Sylvio Leite 6 | SaneaS DIRETORIA ADJUNTA Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs Diretor de Esportes - Gilberto Margarido Bonifácio Diretor de Pólos - José Carlos Vilela Diretora Social - Cecília Takahashi Votta Diretor Técnico - Choji Ohara CONSELHO DELIBERATIVO Aram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto Borghi, Luis Américo Magri, Marcos Clébio de Paula, Nélson César Menetti, Olavo Alberto Prates Sachs, Ovanir Marchenta Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume Hiraichi CONSELHO FISCAL José Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e Paulo Eugênio de Carvalho Corrêa Pólos da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP Coordenador - Aram Kemechian Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos Santos Leste - Luis Eduardo Pires Regadas Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira Oeste - Evandro Nunes de Oliveira Ponte Pequena - Mercedino Carneiro Filho Sul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi Pólos AESABESP Regionais Coordenador - Helieder Rosa Zanelli Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior Franca - Marcos Marcelino de Andrade Cason Itapetininga - Rubens Calazans Filho Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho CONSELHO EDITORIAL - Jornal AESabesp Sonia Regina Rodrigues (Coordenadora) FUNDO EDITORIAL Silvana de Almeida Nogueira (Coordenadora) Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Eliana Kitahara, José Antonio de Oliveira Jesus, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia da Silva Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri Coordenador do site: Luis Américo Magri JORNALISTA RESPONSÁVEL Maria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081 Assistente de Redação: Walter Prandi Foto de Capa: Odair Faria PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Neopix Design [email protected] www.neopixdesign.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 [email protected] www.aesabesp.com.br outubro / novembro / dezembro | 2008 editorial Necessidade de Tecnologia e Planejamento para Produção de Energia O tema desta edição da Revista Saneas, “Eficiência Energética”, nos mostra uma das mais concretas esperanças para alcançarmos a sustentabilidade do milênio, mesmo em meio à turbulência do sistema financeiro mundial. Hoje, somos conscientes de que não bastam injeções de crédito para se garantir a qualidade de vida do Planeta. É preciso também enfrentar as conseqüências do aquecimento global e potencializar a empregabilidade da tecnologia, a serviço da preservação. O Brasil possui a maior reserva hídrica mundial e o maior potencial de geração de energia hidrelétrica, apesar do uso aproximado de somente 30% dessa capacidade. Em recente seminário realizado em São Paulo, o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que “a energia elétrica será o carro-chefe da economia em 2009”. Mas o ministro apresentou ainda perspectivas de investimentos para aumento na geração de energias limpas, como eólica, nuclear, solar, biodiesel e etanol. A crise financeira também foi assunto nesse debate, no qual foi dado o seguinte recado: “Empresários: sejam prudentes, mas não temam a crise. Não dêem a ela proporções maiores do que as reais. Não haverá atrasos de um dia sequer no cumprimento dos prazos dos projetos do governo para a geração de energia”, enfatizou o Ministro, endossando o coro de nossas lideranças na garantia de que o país será pouco afetado pela crise internacional. Apesar dos nossos mais sinceros votos de que a previsão do Ministro esteja certa, o fato é que a necessidade de tecnologia e planejamento para produção de energia, além de incentivos fiscais, é prioridade dentro dos resultados que esperamos. outubro / novembro / dezembro | 2008 Dentro desse contexto, a entrevista com a Secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, Dilma Pena, nessa edição, que aborda a eficiência energética no setor de saneamento, traz a confirmação da atenção do Governo Federal na continuidade do financiamento de obras com recursos do FGTS e do BNDES, mas também aponta a questão fiscal como um dos principais entraves. “Há uma carga tributária excessiva que incide sobre o faturamento das empresas de saneamento do país”, admite a Secretária, que sugere a desoneração de PIS e COFINS, o que traria cerca de R$ 1,4 bilhão por ano a mais para o sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Nessa edição, ainda apresentamos todas as formas de energias convencionais e alternativas em nossa matéria tema, que reforça a importância do Brasil no cenário internacional desse setor. E nos artigos técnicos escolhidos para esse número há exemplos de otimização da eficiência energética, desenvolvida tanto por profissionais técnicos da Sabesp, quanto de outros núcleos de excelência em saneamento. E essa “expertise” também se traduz na visão profissional das seções “Opinião” e “Visão de Mercado”, assinadas por especialistas em seus respectivos campos de atuação. E para acentuar a visão humanística nos bastidores do nosso setor, esta Revista caprichou nas duas sessões que têm feito muito sucesso entre os nossos profissionais: a “Causos do Saneamento”, com histórias que dão aquele ar de graça ao nosso dia a dia, e a “Palavra de Amigo”, que mexe com a emoção dos leitores, por meio da valorização de um dos bens mais preciosos da espécie humana: a amizade. Uma boa leitura a todos e votos de muito sucesso e realizações em 2009! Eng. Luiz Narimatsu Presidente da AESabesp Saneas | 7 entrevista Dilma Pena Dilma Pena é Secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Sob a sua coordenação estão cinco entidades de saneamento e energia do Estado: Sabesp, Cesp, Arsesp, DAEE e Emae . Foi Diretora de Saneamento da Secretaria de Política Urbana do Ministério de Planejamento, na gestão do Ministro José Serra, atual Governador do Estado de São Paulo. Mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP - Escola de Administração de Empresas de São Paulo), também é presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Saneamento. Secretária aborda a eficiência energética no setor de saneamento 8 | Saneas Saneas: O Brasil é detentor de uma matriz de energia elétrica fortemente baseada na geração hídrica e no uso eficiente da água. Em São Paulo também a sinergia entre água e energia é uma base estrutural decisiva para a excelência do Estado? Dilma Pena: Sim. Para o atendimento da Carga Própria do Estado de São Paulo, no que se refere a energia elétrica, o acumulado até outubro de 2008 foi de 107.332 GWh, e as usinas de energia elétrica em operação no Subsistema Interligado no Estado de São Paulo produziram 59.239 GWh no mesmo período. Desse total de geração no Estado, 98% são de origem hidroelétrica, sem contar os autoprodutores e co-geradores. Desta forma, ficam evidentes a sinergia e a importância desses quesitos para o desenvolvimento sustentado do Estado de São Paulo. Saneas: Quanto do consumo total de energia elétrica do Brasil é consumido pelo setor de saneamento? E os investimentos empregados nesse setor são adequados à necessidade do consumo da água e da implantação do esgotamento sanitário no País? Dilma Pena: O consumo de energia elétrica na produção e distribuição de água para abastecimento e de coleta e tratamento de esgotos é bastante alto: são necessários cerca de 2.150 GWh médios para a operação da Sabesp, o que representa cerca de 1,87% do que o Estado de São Paulo consome. Representa ainda a terceira maior despesa da empresa, pouco superior a R$ 470 milhões em 2007. A energia elétrica é um dos insumos mais intensamente utilizados no processo produtivo não só do setor de saneamento como em toda a cadeia produtiva e, por isso mesmo, é alvo de diversas ações de controle e de redução de custos. No caso da Sabesp, há alguns anos vem sendo empreendido um amplo programa de eficiência de energia elétrica, o que buscamos aperfeiçoar a partir de 2007. Esse programa abrange aspectos de geren- ciamento dos contratos de energia, de melhoria da eficiência das instalações e o aproveitamento dos potenciais de geração de energia elétrica nas próprias plantas da empresa. As ações de gestão em energia elétrica compreendem, por exemplo, a otimização dos contratos com as concessionárias, o que representou uma economia de R$ 3,5 milhões desde janeiro deste ano. A partir de 2009 espera-se reduzir essa conta em R$ 680 mil por ano por intermédio da mudança de classe de tensão de algumas unidades; a migração para o Mercado Livre de energia proporcionou, por sua vez, uma redução de R$ 40 milhões na despesa com esta utilidade em 2007. Dentre as ações relacionadas à melhoria das instalações, como adequação de sistemas e equipamentos e alteração de rotinas operacionais, estão sendo realizados diagnósticos de grandes instalações como o almoxarifado de materiais, as EEAB Rio Grande e Guarapiranga, o Booster São José, a ETE São Miguel Paulista, entre outras. Estima-se um investimento de R$ 7 milhões que poderá obter uma economia de energia de 6 mil MWh/ano, ou o consumo de uma localidade de 12 mil habitantes. Além disso, a empresa persegue continuamente as metas de redução nas perdas de água visto que os sistemas de produção e distribuição de água respondem por quase 87% do consumo de energia elétrica na companhia. Quanto ao aproveitamento do potencial de geração de energia elétrica na Sabesp, além do inventário que se está realizando, foram identificadas oportunidades importantes no vertedouro da Cascata, na ETA Guaraú e na ETE Barueri e os projetos para gerar energia estão avançando. Saneas: Com o sancionamento da Lei do Saneamento Básico, em janeiro de 2007, já pode se afirmar que um novo ciclo de expansão dos investimentos, com respaldos legais e normas estabelecidas pelo processo de regulação, apresentou resultados concretos? outubro / novembro / dezembro | 2008 entrevista Dilma Pena: Por redefinir o regramento geral da prestação dos serviços de saneamento no Brasil e apesar de persistirem dúvidas quanto à titularidade destes serviços, a aprovação do marco regulatório representa um avanço importante. Especialmente porque cria condições para que novos investimentos sejam aportados ao setor, de maneira perene e sustentável, capaz de fazer frente aos desafios de universalizar os serviços de água e esgotos e contribuir decisivamente para a despoluição ambiental. Um dos aspectos inovadores da legislação em vigor diz respeito à necessidade de constar, nos contratos de programa que estão sendo celebrados entre os municípios e os prestadores de serviços, um programa de investimentos. Esse programa deverá ser compatível com o plano municipal de saneamento e tem como objetivo equacionar o financiamento das ações necessárias à universalização dos serviços no prazo estabelecido pela municipalidade como adequado. Assim, uma nova base de relacionamento entre o prestador de serviços e o poder local tem sido construída. Um exemplo deste novo momento do saneamento no Brasil é a evolução do processo de renovação dos contratos de programa entre a Sabesp e os municípios cujas concessões vencerão em breve ou venceram recentemente. O Estado, sua concessionária estadual e cada um dos 158 municípios nesta situação estabeleceram uma agenda de negociação transparente e voltada ao alcance de resultados concretos para resolver a questão dos déficits de cobertura dos serviços e a ampliação dos níveis de eficiência na sua prestação, pactuando as metas e os investimentos requeridos para que isso seja possível. Esses contratos, por sua vez, estão sendo regulados e fiscalizados pela Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), cujo papel é atuar como árbitro da relação entre município e prestador de serviços para garantir o cumprimento dos acordos. Dentre eles estão 12 contratos de programa que foram formalizados com municípios cuja prestação dos serviços era feita de modo precário, sem contrato de concessão ou outro tipo de ajuste. O modelo tem sido tão bem-sucedido que outros 21 municípios optaram por antecipar o momento da renovação dos contratos com a Sabesp e participar do processo decisório de alo- Você não precisa seguir por esse caminho para reparar tubulações subterrâneas Pipe Patch é um sistema patenteado, com uma tecnologia inovadora para reabilitação sanitária rápida, sem emendas e buracos nas ruas. Isso diminui o trânsito e não estraga o visual da cidade. Pipe Patch tem capacidade para reparar tubulações que variam de 2 a 16 polegadas de diâmetro. Com Pipe Patch você repara o que for necessário. Apenas o que for necessário. Seja um profissional Pipe Patch www.fernco.com Processo de seleção para vendedores, [email protected] representantes, empreiteiros, parceiros | 2008 outubro / novembro / dezembro Tel 11 4062 0216 Mande CV para [email protected] REPRESENTANTE OFICIAL Saneas | 9 w w w. S 1 E o n l i n e . c o m entrevista cação de R$ 5,9 bilhões entre 2007 e 2010 do orçamento empresarial da Sabesp para investimento na ampliação e melhoria dos sistemas existentes. Saneas: O Ministério das Cidades estima investimentos da ordem R$ 200 bilhões, num horizonte de 20 anos, para se atingir a universalização dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no País. O Estado de São Paulo concorda com esses números? Dilma Pena: Além de recursos vultosos - muito superiores ao investido nas duas últimas décadas - é requerido muito esforço para alcançar a universalização dos serviços até 2020. Se mantido o volume de recursos investidos nos últimos anos no Brasil, cerca de 0,22% do PIB/ano, a universalização só será alcançada daqui a 60 anos, o que é inadmissível. O Governo de São Paulo tem contribuído fortemente para aumentar os níveis de cobertura dos serviços no país. No que se refere à coleta de esgotos nas áreas urbanas, por exemplo, o Estado de São Paulo apresenta índice próximo de 90%. É o maior índice de cobertura dos Estados da Federação e apresenta-se 1,7 ponto percentual acima dos índices de 2001, de acordo com os números da PNAD 2007 do IBGE. Caso São Paulo fosse excluído do total nacional, a coleta de esgoto urbano por meio de rede coletora no Brasil seria quase 10 pontos percentuais menor. Observa-se comportamento semelhante no que diz respeito ao abastecimento de água, urbano e rural, por rede: entre 2001 e 2007 atingiu 97,3%, um aumento de 1 ponto percentual no período. Se não considerada a participação de São Paulo nos números nacionais, o índice brasileiro - que caiu de 89,1% para 88,9% entre estes anos - sofreria uma redução de aproximadamente 3 pontos percentuais. Foi possível obter esses resultados com investimentos da ordem de R$ 15,5 bilhões nos últimos doze anos, R$ 9 bilhões somente em obras e serviços de esgotamento sanitário. No atual governo serão investidos mais de R$ 7 bilhões no total. A meta é elevar o índice de cobertura em todos os municípios e ampliar, nos municípios cujos serviços sejam operados pela Sabesp, de 78% para 84% a coleta e de 63% para 82% o tratamento de esgotos. Para tanto, programas articulados entre si e com as demais políticas públicas de desenvolvimento urbano e meio ambiente foram criados no atual governo, para 10 | Saneas preencher lacunas importantes, e foi dada continuidade a outros programas que, ao longo do tempo, têm trazido benefícios à população. Essas ações compreendem, além da expansão da cobertura dos serviços, investimentos em recuperação e proteção de mananciais, combate a perdas, estímulo ao uso racional do recurso hídrico, a busca de alternativas para o aproveitamento energético dos resíduos sólidos urbanos, dentre outras. Especial destaque é dado à parceria entre Estado e municípios para viabilizar obras e serviços de saneamento e infra-estrutura hídrica. A interlocução e o apoio mútuo entre as esferas de governo são aspectos fundamentais para resolver a questão da universalização e para resolver o passivo existente nas áreas periféricas das metrópoles brasileiras. Saneas: Qual é percentual e como é avaliado o índice geral de perdas de água em São Paulo? A mensuração leva em conta as perdas físicas por vazamentos, extravasamentos e ligações clandestinas? E os consumos não faturados também obedecem à mesma forma de avaliação? Dilma Pena: As perdas estão diretamente ligadas às condições da infra-estrutura instalada e à eficiência operacional e comercial. Não existe, no entanto, consenso sobre um único indicador de perdas, mas a referência internacional aponta para o conceito de balanço hídrico trazido pela International Water Association IWA. Nele, as perdas são caracterizadas como aparentes, decorrentes de falhas na medição dos hidrômetros ou existência de fraudes e ligações clandestinas, e reais, as quais têm a ver com vazamentos e extravasamentos em reservatórios, redes e ramais. Para cada uma dessas grandes categorias de perda as estratégias para combate são específicas. Para as perdas reais, há uma parcela com potencial de recuperação, ou seja, que pode ser controlada e ter seu volume reduzido por meio de medidas como gerenciamento da pressão, controle ativo de vazamentos, agilidade e qualidade nos reparos da rede e pelo gerenciamento da infra-estrutura instalada. No que se refere às perdas aparentes, o melhor gerenciamento da hidrometria, a atualização dos cadastros do prestador de serviços e o combate às irregularidades são medidas importantes para reduzi-las. O índice de perdas recomendado pela IWA como parâmetro de eficiência é o de perdas por ligação, medido em litros por dia. A Sabesp trabalha atualmente outubro / novembro / dezembro | 2008 entrevista “A energia elétrica é um dos insumos mais intensamente utilizados no processo produtivo não só do setor de saneamento como em toda a cadeia produtiva e, por isso mesmo, é alvo de diversas ações de controle e de redução de custos.” com um índice médio de perda de 467 litros por ligação por dia. É um número ainda alto, embora demonstre uma tendência de queda nos últimos anos (em 2000 era de 553 litros/ligação/dia) influenciada pelo aprimoramento tecnológico da empresa e da execução exitosa de um plano integrado de combate às perdas. Mas é preciso avançar mais para aproximar o desempenho operacional de todos os prestadores - além da Sabesp - aos padrões internacionais visto que a água é um recurso escasso, imprescindível à vida e às atividades humanas e com valor econômico. Por isso o Governo de São Paulo iniciou um amplo programa de recuperação das águas paulistas (o REÁGUA), e o combate às perdas é uma das suas dimensões mais importantes. O edital para a seleção de projetos a serem financiados - com recursos do Tesouro e do Banco Mundial - já foi lançado e está disponível no site da Secretaria de Saneamento e Energia (www.saneamento.sp.gov.br). Saneas: Está previsto um novo racionamento de energia elétrica, a partir do ano 2009. A eficiência no uso de água e energia pelas prestadoras de serviço de saneamento pode minimizar os efeitos dessa previsão? Dilma Pena: A possibilidade de um racionamento para o ano de 2009 é improvável, graças às providências em andamento no sentido de implantação de novos empreendimentos de geração e transmissão e também devido à crise econômico-financeira mundial, que pode diminuir o ritmo de crescimento do país e o consumo de energia elétrica. No entanto, é fundamental que a execução dos empreendimentos planejados tenha seus ciclos de maturação e de entrada em operação a tempo e a hora compatíveis com a evolução e a perspectiva de consumo, diretamente relacionado com a situação econômica do país. Independentemente da ocorrência ou não de um racionamento, é fundamental um posicionamento proativo das prestadoras de serviço de saneamento em razão de sua representatividade no consumo de energia elétrica do segmento de serviços públicos. Assim, a eliminação de desperdícios e a introdução de sistemas eficientes no uso de energia, bem como o de outubro / novembro / dezembro | 2008 água, são fundamentais para a eficiência econômica desses setores básicos de infra-estrutura no Estado. Saneas: De que forma as instâncias do governo federal têm contribuído para que se avance na gestão energética no setor de saneamento? Dilma Pena: O bom relacionamento e o estabelecimento de parcerias com as demais instâncias de governo, tanto a União como os municípios, é necessária e tem sido proveitosa. No caso do Governo Federal, reconhecemos que a área de saneamento tem recebido atenção especial pela continuidade no financiamento de obras com recursos do FGTS e do BNDES e pelo aporte de recursos do PAC no setor. As discussões no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética e os encaminhamentos propostos também têm sido bastante satisfatórios, assim como a interlocução qualificada que temos com as agências de águas e de energia elétrica (ANA e Aneel). No entanto, um dos principais gargalos enfrentados pelo saneamento é a questão fiscal. Há uma carga tributária excessiva que incide sobre o faturamento das empresas de saneamento do país. Um dos pontos que buscamos equacionar o entendimento com o Governo Federal é a desoneração de PIS e COFINS, o que traria cerca de R$ 1,4 bilhão por ano a mais para financiar ações de expansão e melhoria dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Saneas: Especificamente em São Paulo existe um plano de ação diferenciado para a otimização da eficiência energética no setor de saneamento? Dilma Pena: Independentemente do vínculo e da área de atuação das empresas de saneamento operando no Estado de São Paulo, todas elas estão conscientes de seu papel quanto à importância da introdução da racionalização no uso de energia elétrica e água. Esse posicionamento se deve ao importante papel desempenhado por essas empresas na sociedade e pelas diretrizes das modernas técnicas de gestão que hoje já estão incorporadas, pois, se a água é sua matéria-prima fundamental, a energia elétrica é, normalmente, o seu segundo componente de custo. Saneas | 11 OPINIÃO Tânia Mara Pereira Marques Tânia Mara Pereira Marques é Engenheira Eletricista na modalidade Telecomunicações, especialista em Processamento de Dados e em Redes de Computadores, Mestre em Engenharia de Produção com ênfase em Automação e Integração de Sistemas. Atua há 20 anos na Sanepar, tendo trabalhado em sistemas de comunicação e redes de dados corporativas e há 10 anos trabalha na manutenção de sistemas automatizados, participando ainda como coordenadora do comitê técnico de elaboração do Plano Diretor de Automação da Sanepar. É membro da ISA (International Society for Automation) há 8 anos, trabalhando como voluntária na Diretoria da Seção ISA de Curitiba. site ISA-D4: www. isadistrito4.org.br mail: taniam@ sanepar.com.br fone: (41) 3330 3790 12 | Saneas “ Automação como elemento estratégico de competitividade” gram a rotina das empresas e já apresentam Esta edição da revista Saneas inicia o resultados positivos. A implantação de tecnoano de 2009 com o tema Eficiência Energélogias de automação nos processos produtitica em Saneamento. Em face de uma crise vos de saneamento vem sendo adotada como global cujos impactos ainda não temos como padrão, nos projetos e obras do setor, seguinmensurar plenamente, precisamos lançar do as orientações iniciais do PROCEL. um olhar mais amplo e visualizar também Poderíamos falar aqui sobre muitas iniciaas oportunidades que o cenário nos oferece. tivas das empresas de saneamento em tanSob esta perspectiva, não poderíamos ter um tos aspectos que compõe um programa de tema melhor do que a Eficiência Energética eficiência energética, mas gostaria de dar um em nosso setor, que oferece tantas possibilienfoque na questão da automação em saneadades de bons resultados. mento. Em novembro de 2008, Em 1998, quando comecei a minha caminhada profissional Programas de controle a ISA-D4 (International Society for Automation - Distrito 4) na automação aplicada em sae redução de perdas realizou, numa parceria com a neamento, estudos do PROCEL integram a rotina AESABESP, uma mesa redonda (Programa Nacional de Conserdas empresas e já intitulada Desafios da Automavação de Energia Elétrica) indiapresentam resultados ção em Saneamento, durante o cavam possibilidades de grandes positivos. Congresso Brazil Automation reduções de desperdício de enISA Show 2008. Participaram ergia em nosso setor, justificandeste evento as empresas CESAN, COPASA, do um enfoque em saneamento. Passados dez SABESP e SANEPAR, trazendo experiências e anos, em 2008, indicadores do mesmo PROCEL compartilhando expectativas futuras quanto mostraram que a energia elétrica ainda é o à automação. O Eng. Afonso Celso de Souza segundo item de custo no saneamento, repreOliveira e o Prof. Dr. Celso Munaro apresensentando um consumo aproximado de 2,5% taram a palestra “Estudo de Alternativas Tecda matriz energética do país. nológicas para Automação e Controle de EsO que mudou neste período em relação à tações de Tratamento de Água da CESAN”. A eficiência energética em nosso setor? Muito COPASA apresentou “Desafios da Integração do que se orientava como ações há dez anos de Sistemas de Automação”, através da Eng. atrás, hoje faz parte do conjunto de prioriSelma Parreira Capanema. O Eng. Jose Bosco dades das empresas de saneamento. PrograFernandes de Castro representou a SABESP mas de controle e redução de perdas inte- outubro / novembro / dezembro | 2008 OPINIÃO “A chave do sucesso na aplicação da automação está na qualificação das pessoas, para que elas possam projetar e implantar adequadamente os sistemas automatizados, além de interpretar as informações recebidas dos sistemas supervisórios e tomar as ações necessárias, sejam operacionais ou de manutenção.” falando sobre “Sistemas de Automação: Uma Ferramenta para o Aumento da Lucratividade na Operação” e a SANEPAR trouxe sua experiência através do Eng. Pedro Augusto Mikowski, com a palestra “Otimização Operacional com Uso de Sistema de Supervisão e Controle”. Nas apresentações das quatro empresas houve aspectos muito importantes que mostram a evolução na forma como a automação é vista hoje nas empresas de saneamento: a CESAN, por exemplo, inseriu a automação como um de seus objetivos estratégicos e está elaborando um Plano Diretor de Automação. Tratar a automação como elemento estratégico de competitividade também foi uma abordagem da SABESP. Um ponto comum em todas as apresentações foi a questão da integração dos sistemas de automação com sistemas corporativos e o tratamento das informações de supervisão, possibilitando a sua análise nas diversas instâncias de gestão e operacionais, além da tomada de decisões. Outro ponto comum foi a preocupação com a qualificação de todos os profissionais envolvidos no trabalho com sistemas automatizados, desde operadores, projetistas, implantadores e pessoal de manutenção. Temos uma nova visão de automação surgindo. Muitos de nós já enfrentaram os imensos desafios da integração das “ilhas” de automação e aprendemos que dados não são relevantes se não podem ser transformados em informação e suporte na tomada de decisão, em todos os níveis de gestão de uma empresa. Mas, a integração apenas não basta para que se obtenha resultados positivos com a au- outubro / novembro / dezembro | 2008 tomação. Mais do que equipamentos e softwares, precisamos de conhecimento e qualificação em relação às tecnologias aplicadas e às ações operacionais e de planejamento realizadas com base nas informações recebidas através de sistemas de supervisão. A chave do sucesso na aplicação da automação está na qualificação das pessoas, para que elas possam projetar e implantar adequadamente os sistemas automatizados, além de interpretar as informações recebidas dos sistemas supervisórios e tomar as ações necessárias, sejam operacionais ou de manutenção. A ISA-D4 está propondo a formação de um grupo de trabalho de automação em saneamento, como uma forma de fomentar a discussão e o aprendizado da automação no setor. Através desta publicação, este convite se estende a todos que queiram contribuir e fazer parte do grupo, podendo entrar em contato através de mail ou telefone. Precisamos compartilhar as nossas experiências e buscar soluções comuns aos nossos desafios tecnológicos, para construir o caminho da qualificação na automação em saneamento e atingir os resultados que precisamos e temos a competência para atingir. Saneas | 13 matéria tEma Eficiência EnErgética Será o Brasil a grande potência energética do Século XXI? Quando se fala em “crise mundial”, hoje, a questão não se restringe ao tumulto provocado pela explosão da bolha de crédito dos EUA, espalhando-se pelos mercados da Europa e da Ásia. O que difere o choque do final de 2008 da recessão de 1929 é que o assombro não está somente no âmbito financeiro. Existem mais dois fatores que potencializam o tamanho da preocupação com o futuro: o enfrentamento do aquecimento global e a empregabilidade da eficiência energética. Para superá-lo, exige-se uma série de mudanças nas produções dos processos industriais, com um foco direcionado na geração de energia. O setor energético, muito provavelmente, é que irá apresentar as grandes soluções para a sustentabilidade do milênio e concentrar as maiores cabeças pensantes do Planeta. O convite, feito por Barack Obama, ao ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1997 e pioneiro nas pesquisas de energias renováveis limpas, Steven Chu, para ser Secretário de Energia dos EUA, confirma o peso da preocupação. O potencial energético brasileiro também tem um lugar preponderante no cenário mundial, posto que o Brasil possui a maior reserva hídrica do Planeta e o maior potencial de geração de energia hidrelétrica. Os dados, constantes do estudo “Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil: Uma Contribuição para o Debate”, recentemente divulgado pelo Banco Mundial (Bird), dá uma dimensão da nossa capacidade de crescimento. Ainda, segundo este levantamento, somente 30% do potencial hidrelétrico brasileiro economicamente viável está em operação ou construção. Mas se o País usar, integralmente, a capacidade disponível, somada ao etanol e ao biodiesel, em pouco tempo se tornará candidato preferencial ao título de “potência energética do Século XXI”. 14 | SaneaS Julho / Agosto / setembro | 2008 matéria tema Energia hidrelétrica: o império das águas Desde os povos mais antigos que construíram as rodas de água para moinhos, o processo de geração de energia hidrelétrica obedece ao mesmo princípio: um corpo, ao cair, ganha velocidade, que à medida que esta for aumentada, ganha energia. Sendo assim, o homem construiu as grandes usinas hidrelétricas, que constituem a utilização da energia dos planos inclinados dos rios para a posterior geração da eletricidade. De acordo com dados de portais de informações do setor, hoje, um quinto de toda energia elétrica do mundo é produzido pelo aproveitamento dos cursos de água. Contudo, o fluxo das águas de um rio não se apresenta uniforme durante o ano inteiro, sendo influenciado pelas condições climáticas: as chuvas aumentam o volume na estação das águas e dá-se o inverso na estação das secas. Sendo assim, é necessário estudar muito bem o regime de um rio antes de começar a edificação de uma usina. Se uma usina hidrelétrica for projetada para trabalhar com a vazão mínima, nas cheias ela se inundará e desperdiçará muita água; se, ao contrário, for projetada para aproveitar as cheias, suas turbinas ficarão quase paralisadas no período das secas. Os rios mais adequados para a construção de hidrelétricas são os dotados de maiores desvios, mas são justamente estes os mais sujeitos a grandes variações da vazão. Então, para o aproveitamento de rios desse tipo, é necessário regularizar a vazão, a fim de que a usina possa funcionar o ano inteiro, com toda a potência instalada. A construção de barragens sólidas, que possibilita estancar o leito de um rio é a principal forma de estrutura para o funcionamento de uma usina. Nesse paredão as águas vão se acumulando. Quando o rio está muito baixo ou quase seco, são abertas as comportas conforme a necessidade, obtendo-se dessa maneira uma vazão média constante o ano todo. Não é só para o funcionamento de hidrelétricas a utilidade da construção de barragens. Elas também são apropriadas para a irrigação da área, fornecimento de água para fins industriais, a alimentação dos canais navegáveis, a criação de peixes e também para atenuar as cheias mais violentas, impedindo o rio de alagar as regiões ribeirinhas. Por obedecer a especificações diferenciadas dos regimes dos rios a serem contidos, não há represas iguais, ainda que obedeça a padrões básicos de estruturação. Suas singularidades são constituídas por cada projeto outubro / novembro / dezembro | 2008 Saneas | 15 matéria tema diferente e independente. A montagem e a utilização das barragens devem atender a cálculos e precauções excepcionais. Um dos cuidados requeridos diz respeito à preparação dos apoios da represa. Estes apoios (a ancoragem) devem ser constituídos de maneira a permitir que a comporta não tenha infiltrações de água, que, com o tempo, podem abrir uma fenda e minar pela base a estrutura da barragem. De acordo com a variação da temperatura, dá-se a dilatação ou contração da estrutura, podendo este fato provocar rachaduras, com resultados desastrosos. Para prevenir acidentes deste tipo, o paredão é erguido com a superposição de blocos, que devem separados por juntas de dilatação, constituídas de betume e com maleabilidade para adaptar-se às variações das dimensões dos blocos. Desviada a água, ela penetra em tubos de grande diâmetro, chamadas tubos de carga, através dos quais desce até chegar às turbinas, cujas paletas ela irá movimentar. As turbinas em geral são montadas no mesmo eixo do dínamo, de forma que o movimento provocado pela energia mecânica de água no rotor da turbina resultará em eletricidade no gerador. A água depois volta ao rio, através dos canais de descarga. Muitas vezes, devido às irregularidades das condições pluviométricas e à conseqüente diminuição do volume dos cursos de água, as usinas hidrelétricas necessitam da complementação de usinas termoelétricas (movimentadas pelo vapor produ-zido através da queima de combustível). Na verdade, dois terços das usinas geradoras existentes no mundo no início da década de 70 eram acionadas a vapor. Os combustíveis mais comumente empregados em usinas termelétricas são o carvão e o petróleo. Queimados, aquecem a água contida em grandes caldeiras, produzindo vapor com temperatura elevada e alta pressão. A eletricidade, assim que produzida, deve ser distribuída aos consumidores, a muitos quilômetros de distância. É conduzida através de cabos, em linhas de transmissão. No condutor, que é um cabo nu, suspenso de grandes estruturas metálicas, parte da energia se perde, transformando-se em calor. Assim utilizam-se elevados valores de tensão, chegando até 500 000 volts. Os alternadores das usinas, contudo, por limitações de tamanho, em geral, produzem cerca de 10.000 volts. Faz-se necessário, portanto, elevar a tensão, o que se consegue por meio de transformadores estáticos. Ao aproximar-se dos locais de consumo, a tensão é novamente rebaixada, ainda através de transformadores. Temos no centro-sul do Brasil uma das mais ricas 16 | Saneas regiões em potencial hidrelétrico do mundo. Só no trecho médio do Tietê, foram construídas as usinas de Barra Bonita, Álvaro Sousa Lima, Ibitinga e Promissão. Um dos conjuntos hidrelétricos mais importantes é o de Urubupungá, formado pelas usinas de Jupiá e Ilha Solteira, operando com potência total de 4,6 milhões de quilowatts. Em princípio de 1974, a potência instalada do conjunto era de 2,04 milhões de quilowatts (1,2 milhão de quilowatts de Jupiá e 840.000 de Ilha Solteira). A Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional é considerada a maior hidrelétrica do mundo em potência instalada. Há informações que será superada, quando entrar em funcionamento a plena capacidade da Hidrelétrica de Três Gargantas, na China. Mas, em capacidade de geração continuará sendo a mais importante, visto que o regime hidrológico do rio Paraná apresenta maior fluxo de água que o Rio Yangtzé, continente asiático). A potência instalada da Usina é de 14.000 MW (megawatts), com 20 unidades geradoras de 700 MW. Oriunda de um projeto conjunto entre o Brasil e o Paraguai, ela foi construída no rio Paraná, no trecho de fronteira entre os dois países, 14 quilômetros ao norte da Ponte da Amizade. A área do projeto se estende desde Foz do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Este, no Paraguai, ao sul, até Guaíra (Brasil) e Salto del Guairá (Paraguai). As obras foram iniciadas em 1973, no rio Paraná. Seu funcionamento começou em 1984, sendo que em 1988 passou a operar com plena capacidade instalada de 12,6 milhões de quilowatts. A Usina é responsável responsável pela geração de 95% da energia elétrica consumida no Paraguai e 24% de toda a demanda do mercado brasileiro. A energia gerada por Itaipu e destinada ao Brasil é transmitida pela empresa Furnas Centrais Elétricas S.A. outubro / novembro / dezembro | 2008 matéria tema 10 motivos para priorizar a hidreletricidade Representantes de mais de 170 países chegaram a um consenso na Conferência de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (2002), e no 3o Fórum Mundial da Água, em Kyoto (2003): toda geração hidrelétrica é renovável e merecedora de apoio internacional. Leia, abaixo, as dez razões que os levaram a esta conclusão. 1. Hidreletricidade é uma fonte renovável de energia. A hidreletricidade usa a energia da água corrente, sem reduzir sua quantidade, para produzir eletricidade. Portanto, todos os empreendimentos hidrelétricos, de pequeno ou grande porte, a fio d’água ou de armazenamento, enquadram-se no conceito de fonte de energia renovável. 2. A hidreletricidade viabiliza a utilização de outras fontes renováveis. As usinas hidrelétricas com reservatório de acumulação oferecem flexibilidade operacional incomparável, uma vez que podem responder imediatamente às flutuações da demanda de eletricidade. A flexibilidade e capacidade de armazenamento das usinas hidrelétricas as tornam o meio mais eficiente e econômico para dar suporte ao emprego de fontes intermitentes de energia renovável, como a energia solar ou a energia eólica. 3. A hidreletricidade promove a segurança energética e a estabilidade dos preços. A água dos rios é um recurso doméstico e, ao contrário do combustível ou gás natural, não está sujeita a flutuações de mercado. Além disso, a hidreletricidade é a única grande fonte renovável de eletricidade e sua relação custo-benefício, eficiência, flexibilidade e confiabilidade ajudam a otimizar o uso das usinas térmicas. 4. A hidreletricidade contribui para o armazenamento de água potável. Os reservatórios das usinas hidrelétricas coletam a água da chuva, que pode então ser usada para consumo ou para irrigação. Ao armazenar água, eles protegem os aqüíferos contra o esgotamento e reduzem nossa vulnerabilidade a inundações e secas. 5. A hidreletricidade aumenta a estabilidade e a confiabilidade do sistema elétrico. A operação dos sistemas elétricos depende de fontes de geração rápidas e flexíveis para atender às demandas de pico, manter os níveis de tensão do sistema e restabelecer prontamente o fornecimento após um blecaute. A energia gerada por instalações hidrelétricas pode ser injetada no sistema elétrico mais rapidamente do que a de qualquer outra fonte energética. A capacidade das usinas hidrelétricas de irem do zero à produção máxima, de forma rápida e previsível, as tornam excepcionalmente adequadas para atender às alterações de consumo e fornecer serviços ancilares ao sistema elétrico que mantenham o equilíbrio entre a oferta e a demanda de eletricidade. outubro / novembro / dezembro | 2008 6. A hidreletricidade ajuda a combater mudanças climáticas. O ciclo de vida da hidreletricidade produz quantidades muito pequenas de gases do efeito estufa (GHG – “greenhouse gases”). Ao emitir menos GHG que usinas movidas a gás, carvão ou petróleo, a hidreletricidade pode ajudar a retardar o aquecimento global. Embora somente 33% do potencial hidrelétrico disponível tenha sido aproveitado, a hidreletricidade atualmente evita a emissão de GHG correspondente à queima de 4,4 milhões de barris de petróleo diariamente, em âmbito mundial. 7. A hidreletricidade melhora o ar que respiramos. As usinas hidrelétricas não produzem poluentes do ar. Muito freqüentemente, elas substituem a geração a partir de combustíveis fosseis, reduzindo assim a chuva ácida e a fumaça. Além disso, os empreendimentos hidrelétricos não geram subprodutos tóxicos. 8. A hidreletricidade oferece contribuição significativa para o desenvolvimento. As instalações hidrelétricas trazem eletricidade, estradas, indústria e comércio para as comunidades, desenvolvendo assim a economia, ampliando o acesso à saúde e à educação, melhorando a qualidade de vida. A hidreletricidade é uma tecnologia conhecida e comprovada há mais de um século. Seus impactos são bem compreendidos e administráveis, mediante medidas de mitigação e compensação de danos. Ela oferece um vasto potencial e está disponível onde o desenvolvimento é mais necessário. 9. Hidreletricidade significa energia limpa e barata para hoje e amanhã. Com um tempo médio de vida de 50 a 100 anos, os empreendimentos hidrelétricos são investimentos de longo prazo que podem beneficiar diversas gerações. Eles podem ser facilmente atualizados para incorporar tecnologias mais recentes e têm custos muito baixos de operação e manutenção. 10. A hidreletricidade é um instrumento fundamental para o desenvolvimento sustentável. Os empreendimentos hidrelétricos que são desenvolvidos e operados de forma economicamente viável, ambientalmente sensata e socialmente responsável, representam desenvolvimento sustentável em sua melhor concepção. Isto é, “desenvolvimento que atende hoje às necessidades das pessoas, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987). Fontes: IHA – International Hydropower Association NHA USA – USA National Hydropower Association INHA – Indian National Hydropower Association NHA Nepal – Nepal Hydropower Association CHA – Canadian Hydropower Association Saneas | 17 matéria tema Hidrogênio: o combustível do século XXI A utilização do hidrogênio, como forma de energia, embora acene para o mundo moderno, não é exatamente uma novidade. O escritor Júlio Verne, em seu livro “A ilha misteriosa”, publicado em 1874, fez a previsão de que a água e o hidrogênio seriam o “carvão do futuro”. O Brasil se encontra na vanguarda no que se refere às pesquisas que vão contribuir para o uso do hidrogênio como combustível e na geração de energia. “Em alguns anos, já teremos geradores de energia nas indústrias e nas próprias residências e carros movidos a hidrogênio circulando pelas ruas”, antecipa o professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Paulo Emílio Valadão de Miranda, que coordena o Laboratório de Hidrogênio da Coppe, desta Universidade, que já possui ônibus movido com esse combustível, que deverá circular inicialmente na cidade universitária, na Ilha do Fundão, e logo passará a trafegar por uma rota convencional, transportando passageiros pelas ruas do Rio de Janeiro. Esse laboratório é um dos condutores do trabalho que vem sendo desenvolvido no Brasil, cujo objetivo é viabilizar o uso do hidrogênio como combustível e como fonte de energia. Para isso, pesquisadores da Coppe vêm buscando formas de tornar seguro seu armazenamento, para tanto, seus cientistas estão desenvolvendo pilhas a combustível de óxido sólido, que são geradores de energia elétrica baseados no uso do hidrogênio. Vantagens do hidrogênio 1- Veículos movidos a hidrogênio não terão motor à combustão. Os motores serão elétricos, o que evitará a poluição do meio ambiente. 2- O processo de geração de energia é descentralizado. Não será necessário construir hidrelétricas gigantescas, como Itaipu. O hidrogênio pode ser produzido a partir de várias fontes: água, combustíveis fósseis e biomassa. Essa produção pode ainda ser feita com o aproveitamento da energia solar ou eólica. 3- Fonte renovável, inesgotável e não poluente. A produção de energia pode ser realizada em qualquer lugar. 4- A geração de energia por meio de pilhas a combustível é pelo menos duas vezes mais eficaz do que a obtida pelos processos tradicionais. Previsões de especialista para o uso do hidrogênio 1- Em 5 anos: a indústria automobilística lançará em escala comercial veículos movidos a hidrogênio; crescerá o número de aparelhos eletrônicos que utilizam a energia gerada a partir dessa forma de energia. 2- Em 10 anos: geradores de energia à base de hidrogênio serão instalados em unidades residenciais e empresas. 3- Em 20 anos: a utilização do hidrogênio será disseminada por toda a sociedade, tanto como combustível quanto na geração de energia. O uso massificado do elemento reduzirá os custos de implantação dos sistemas. 18 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 matéria tema Energia solar: o sol nasceu para todos A adoração dos homens pelo sol se perpetua há milênios. Se conseguíssemos ver de sua superfície a Terra, perceberíamos que ela é um ponto girando a uma distância de 150 milhões de quilômetros e que recebe algo como a energia de 10 bilhões de Itaipus. Para que possamos utilizar a energia do sol que chega à superfície da Terra, precisamos de transdutores que convertam tal energia diretamente em energia elétrica. O aproveitamento dessa energia começou a ser utilizada em 1959 nos EUA, como forma de geração de energia elétrica para os satélites. A forma mais simples de aproveitamento de energia solar é aquela feita por relógios e calculadoras solares, buscada para lugares isolados, distantes das redes elétricas, para o abastecimento de equipamentos importantes de telemedições e telecomunicações, pois, devido a sua instalação e localização, acabam utilizando a energia solar como fonte energética para seu funcionamento. outubro / novembro / dezembro | 2008 O funcionamento dos transdutores de energia solar, chamadas de células fotovoltaicas (nome dado devido ao efeito que ocorre nesses transdutores - efeito fotovoltaico), tem a sua origem na fabricação de células solares, semelhante à produção dos chips de computadores, baseada em materiais semicondutores. A matéria-prima básica utilizada é o silício. Ele é purificado, com a extração de impurezas, e fundido num cristal cilíndrico. Depois, esse cilindro é cortado por uma serra de dentes de diamante em fatias muito finas. Essas lâminas passam por etapas de limpeza e recozimento em fornos de alta temperatura, quando se difunde fósforo sobre elas. A reunião de uma camada contaminada com fósforo ao silício constitui a junção semicondutora responsável pelo funcionamento da célula fotovoltaica. A junção semicondutora é constituída por dois semicondutores: um do tipo N (possui excesso de elétrons livres) e uma do tipo P (possui falta de elétrons, chamado de lacunas). A constituição dessa junção faz com que se impeça que os elétrons livres e lacunas se recombinem estabelecendo, assim, uma ligação entre os terminais da célula. Quando esses painéis são expostos à fonte de luz, os fótons (partículas de luz) excitam os elétrons do semicondutor e esses elétrons se deslocam, gerando corrente elétrica. A corrente elétrica produzida ao ligarmos uma carga (uma lâmpada, por exemplo) entre os terminais dos painéis não depende do calor (pelo contrário, o rendimento da célula solar cai quando sua temperatura aumenta) e sim da quantidade de luz incidente e da área da célula. Por isso, as células solares continuam a operar mesmo sob céu nublado. Saneas | 19 matéria tema Biomassa: a utilização da matéria orgânica Em um processo chamado fotossíntese, as plantas capturam energia do sol e transformam em energia química. Esta energia pode ser convertida em eletricidade, combustível, calor por vários processos. As fontes orgânicas que são usadas para produzir energias usando esses processos são chamadas de biomassa. Contudo, nem toda a produção primária do planeta passa a incrementar a biomassa vegetal, pois parte dessa energia acumulada é empregada pelo ecossistema na sua própria manutenção. As vantagens do uso da biomassa na produção de energia são o baixo custo, o fato de ser renovável, permitir o reaproveitamento de resíduos e ser bem menos poluente que outras fontes de energia como o petróleo ou o carvão. Os mais comuns combustíveis da biomassa são resíduos agrícolas, madeira e plantas como cana-deaçúcar, que são colhidas com o propósito de gerar energia. Entretanto, é possível converter o lixo municipal em combustíveis para o transporte, indústrias e mesmo residências! Já existem milhares de casas e indústrias que utilizam biomassa como energia. De acordo com o Banco Mundial, 50 a 60% da energia nos países em desenvolvimento vêm da biomassa, e metade da população mundial cozinha com madeira. A geração de energia por queima da madeira cresceu de 200 megawatts em 1980 para 7.800 megawatts, no início deste século. A renovação da biomassa ocorre através do ciclo do carbono. A queima da biomassa ou de seus derivados provoca a liberação de CO2 na atmosfera. As plantas, através da fotossíntese, transformam esse CO2 nos hidratos de carbono, liberando oxigênio. Assim, a utilização da biomassa, desde que não seja de forma predatória, não altera a composição da atmosfera. A biomassa se destaca pela alta densidade energética e pelas facilidades de armazenamento, conversão e transporte. A semelhança entre os motores com utilização de biomassa e os que utilizam energias fósseis é outra vantagem. Dessa forma, a substituição das formas de obtenção de energia não teria impacto tão grande na indústria automobilística. Embora a utilização de biomassa como fonte de energia traga fantásticas vantagens, é importante ressaltar que se deve ter um amplo controle sobre as áreas desmatadas. Um exemplo disso foi a expansão da indústria de álcool no Brasil, onde várias florestas foram desmatadas para dar lugar a plantações de cana-deaçúcar. Por isso a preocupação ambiental, mais do que nunca, deve ser priorizada. Processos da obtenção da biomassa: 1- Combustão direta: é a queima do material por aquecimento direto. Biomassa como madeira, lixo, palha e biogás podem ser queimados para produzir gases quentes ou aquecimento de vapor d’água. 2- Pirólise: trata-se da degradação térmica por calor na ausência de oxigênio. Biomassa como madeira, lixo, e outros, são utilizados, e produzem gases, óleo combustível e carvão. 3- Digestão anaeróbica: converte matéria orgânica numa mistura de metano e dióxido de carbono. Misturas de lixo, esgoto, restos de indústrias de alimentos, fezes de animais, e água são colocadas em um tanque de digestão, na ausência de oxigênio. 4- Fermentação alcoólica: álcool combustível é produzido fermentando-se o açúcar da cana e, então, separando-se o álcool da mistura por destilação. Além da cana, o trigo, a beterraba, a batata, a mandioca, o papel, a cerragem e a palha, por conter açúcar ou celulose, também podem ser convertidos para álcool, por meio da fermentação. 20 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 matéria tema Etanol: um orgulho brasileiro Uma das mais aplaudidas alternativas ao uso do petróleo é uma solução brasileira, desde a década de 70, que agora volta com força total, colocando o Brasil como uma vitrina para o consumo mundial. Quem tem mais de 30 anos, se lembra do famoso “slogan” do início do Proálcool: “Carro a álcool: um dia você ainda vai ter um”. Porém, o mercado do petróleo saiu da grande crise do final da década de 70 (início dos anos 80) e o governo reviu seu projeto. Sendo assim, o combustível nacional e renovável não recebeu mais o estímulo governamental e a indústria privada não o desenvolveu sem a mão do estado a guiá-la. Os primeiros carros a álcool faziam com que seus motoristas os deixassem ligados durante um tempo, com o afogador acionado, para que ele esquentasse. O cenário hoje é bem outro: os automóveis com flexibilidade de absorção bicombustível: álcool e gasolina são a preferência dos consumidores conscientes. Para transitar orgulhosamente com um veículo abastecido com etanol, basta ligar e sair, pois todos os componentes atingiram as condições ideais de funcionamento. A experiência em larga escala da produção e uso do etanol no Brasil é, sem dúvida alguma, um exemplo que vem sendo seguido e debatido em países e em reuniões internacionais. A ação local, com impacto global em termos ambientais, faz do álcool um produto de extrema importância para a rápida resposta que o mundo deve dar às reduções de emissões dos gases do efeito estufa. Além do foco ambiental, o etanol provoca em países como o Brasil, entre outros, impactos econômico-sociais de primeira grandeza, como a melhoria da renda rural, a reconhecida capacidade de distribuição desses efeitos na cadeia produtiva sucroalcooleira; geração de empregos em larga escala; redução de dependência externa de petróleo e melhoria da balança comercial. A propagação da produção e do uso do etanol nos vários países é, de forma relevante, salutar caminho de desenvolvimento local e global. Combustível ecologicamente correto, o álcool não afeta a camada de ozônio e é obtido de fonte renovável. Como é obtido a partir da cana-de-açúcar, ajuda na redução do gás carbônico da atmosfera, através da fotossíntese nos canaviais. Outras vantagens ambientais, ainda relacionadas à fase de plantio/cultivo da cana-de-açúcar, são o aumento da umidade do ar e a retenção das águas da chuva. Seguindo recomendações específicas, pode ser misturado ao diesel e à gasolina, como também pode ser utilizado sem aditivos, sem que com isso o motor dos veículos sofra danos. outubro / novembro / dezembro | 2008 Saneas | 21 matéria tema Biodiesel: uma energia gerada por fontes renováveis Segundo a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, A transesterificação é processo mais utilizado atu- biodiesel é um “biocombustível derivado de biomassa almente para a produção de biodiesel. Consiste numa renovável para uso em motores a combustão interna reação química dos óleos vegetais ou gorduras animais com ignição por compressão ou, conforme regula- com o álcool comum (etanol) ou o metanol, estimulada mento, para geração de outro tipo de energia, que por um catalisador, da qual também se extrai a glicerina, possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de produto com aplicações diversas na indústria química. origem fóssil”. O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo Na verdade, trata-se de um combustível biode- diesel de petróleo em motores ciclodiesel automotivos gradável derivado de fontes renováveis, que pode ser (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc) obtido por diferentes processos tais como o craquea- ou estacionários (geradores de eletricidade, calor, etc). mento, a esterificação ou pela transesterificação. Sua Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diver- produção pode ser feita a partir de gorduras animais sas proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel ou de óleos vegetais, existindo dezenas de espécies de petróleo é chamada de B2 e assim sucessivamente, vegetais no Brasil que podem ser utilizadas, tais como até o biodiesel puro, denominado B100. mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, dentre outras. 22 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 matéria tema Eólica: uma energia trazida pelo vento Uma grande aliada do meio ambiente, a energia eólica é considerada a energia mais limpa do Planeta. Simbolizada como uma dádiva trazida pelo vento, a energia eólica é obtida pelo movimento do ar. Trata-se de uma abundante fonte de energia, renovável, limpa e disponível em todos os lugares. Os moinhos de vento foram inventados na Pérsia no séc.V. Eles foram usados para bombear água para irrigação. Os mecanismos básicos de um moinho de vento não mudaram desde então: o vento atinge uma hélice que ao movimentar-se gira um eixo que impulsiona uma bomba (geradora de eletricidade). Na busca da origem desta energia, notamos que os ventos são gerados pela diferença de temperatura da terra e das águas, das planícies e das montanhas, das regiões equatoriais e dos pólos do planeta Terra. Portanto, a quantidade de energia disponível no vento varia de acordo com as estações do ano e das horas do dia. A topografia e a rugosidade do solo também tem grande influência na distribuição de frequência de ocorrência dos ventos e de sua velocidade em um local. Além disso, a quantidade de energia eólica produzida numa região depende das características de desempenho, altura de operação e espaçamento horizontal dos sistemas de conversão de energia eólica instalados. A avaliação precisa do potencial de vento em uma região é o primeiro e fundamental passo para o aproveitamento do recurso eólico como fonte de energia. Para se mensurar o potencial eólico de uma região é necessária a coleta de dados de vento com precisão e qualidade, capaz de fornecer um mapeamento eólico do local. As hélices de uma turbina de vento são diferentes das lâminas dos antigos moinhos porque são mais aerodinâmicas e eficientes. Elas tem o formato de asas de aviões e usam a mesma aerodinâmica. Em movimento, ativam um eixo que está ligado à caixa de mudança e, através de uma série de engrenagens, a velocidade do eixo de rotação aumenta. O eixo de rotação está conectado ao gerador de eletricidade que com a rotação em alta velocidade gera energia. Um aerogerador consiste num gerador elétrico movido por uma hélice, que por sua vez é movida pela força do vento. A hélice pode ser vista como um motor a vento, cuja quantidade de eletricidade que pode ser gerada pelo vento depende de quatro fatores: • da quantidade de vento que passa pela hélice • do diâmetro da hélice • da dimensão do gerador • do rendimento de todo o sistema outubro / novembro / dezembro | 2008 Saneas | 23 matéria tema Embora o mercado de usinas eólicas esteja em crescimento no Brasil, ele já movimenta 2 bilhões de dólares no mundo. Existem 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, com capacidade instalada da ordem de 13.500 MW. A energia eólica pode garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, pode criar 1,7 milhão de novos empregos e reduzir a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas. Os campeões de uso dos ventos são a Alemanha, a Dinamarca e os Estados Unidos, seguidos pela Índia e a Espanha. No âmbito nacional, o estado do Ceará destaca-se por ter sido um dos primeiros locais a realizar um programa de levantamento do potencial eólico, que já é consumido por cerca de 160 mil pessoas. Outras medições foram feitas também no Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, litoral do Rio de Janeiro e de Pernambuco e na ilha de Marajó. A capacidade instalada no Brasil é de 20,3 MW, com turbinas eólicas de médio e grande porte conectadas à rede elétrica. Vários estados brasileiro seguiram os passos do Ceará, iniciando programas de levantamento de dados de vento. Hoje existem mais de cem anemógrafos computadorizados espalhados pelo território nacional. Um mapa preliminar de ventos do Brasil, gerado a partir de simulações computacionais com mo-delos atmosféricos é mostrado na figura acima. Considerando o grande potencial eólico do Brasil, confirmado através de estudos recentes, é possível produzir eletricidade a custos competitivos com centrais termoelétricas, nucleares e hidroelétricas, com custo reduzido. 24 | Saneas Mapa das potencialidades eólicas do Brasil. Dados da CBEE Impactos e Problemas Apesar de não queimarem combustíveis fósseis e não emitirem poluentes, fazendas eólicas não são totalmente desprovidas de impactos ambientais. Elas alteram paisagens com suas torres e hélices e podem ameaçar pássaros se forem instaladas em rotas de migração. Emitem certo nível de ruído (de baixa freqüência), que pode causar algum incômodo. Além disso, podem causar interferência na transmissão de televisão. O custo dos geradores eólicos é elevado, porém o vento é uma fonte inesgotável de energia. E as plantas eólicas têm um retorno financeiro a um curto prazo. Outro problema que pode se citado é que em regiões onde o vento não é constante, ou a intensidade é muito fraca, obtem-se pouca energia. outubro / novembro / dezembro | 2008 matéria tema Biogás: a energia vinda da metabolização de materiais orgânicos O biogás é um combustível gasoso com um conteúdo energético elevado semelhante ao gás natural, composto, principalmente, por hidorcarbonetos de cadeia curta e linear. Pode ser utilizado para geração de energia elétrica, térmica ou mecânica em uma propriedade rural, contribuindo para a redução dos custos de produção. No Brasil, os biodigestores rurais vêm sendo utilizados, principalmente, para saneamento rural, tendo como subprodutos o biogás e o biofertilizante. O desenvolvimento de tecnologias para o tratamento e utilização dos resíduos é o grande desafio para as regiões com alta concentração de produção pecuária. A restrição de espaço e a necessidade de atender cada vez mais as demandas de energia, água de boa qualidade e alimentos, tem colocado alguns paradigmas a serem vencidos, os quais se relacionam principalmente à questão ambiental e a disponibilidade de energia. Ressalta-se que a crise energética e a alta dos preços do petróleo tem sido determinante uma procura por alternativas energéticas no meio rural. O processo de digestão anaeróbia (biometanização) consiste de um complexo de cultura mista de microorganismos, capazes de metabolizar materiais orgânicos complexos, tais como carboidratos, lipídios e proteínas para produzir metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). outubro / novembro / dezembro | 2008 A presença de vapor d’água, CO2 e gases corrosivos no biogás in natura, constitui-se o principal problema na viabilização de seu armazenamento e na produção de energia. A remoção de água, CO2, gás sulfidrico, enxofre e outros elementos através de filtros e dispositivos de resfriamento, condensação e lavagem é imprescindível para a confiabilidade e emprego do biogás. Fontes utilizadas na elaboração dessa matéria: • Portal Ambiente Brasil • Portal BR Petrobrás • Portal Gesgroup/ usinfo.state.gov • Portal Greenpeace Saneas | 25 matéria saBEsp ProgrAmA DE EFIcIêNcIA ENErgéTIcA ADRIANO ANAIA PEREIRA - Gerente do Departamento de Gestão de Energia – TOG, da Sabesp. A energia elétrica é insumo essencial para as atividades da Sabesp, sendo responsável pelo funcionamento dos equipamentos que fazem a captação, tratamento e distribuição de água, bem como, para coleta e tratamento dos esgotos. Em 2007, a Sabesp respondeu por cerca de 1,87% de toda a energia elétrica consumida no Estado de São Paulo, com gastos de aproximadamente R$ 472,3 milhões. A seguir alguns dados sobre o consumo de energia elétrica na Sabesp em 2007: (%) Consumo (GWh) (%) GasTo (R$ mIlhões) (%) 11 0,2 965,0 44,9 161,0' 34,1 Média (A4) 1.037 19,4 1.034,1 48,1 257,3 54,5 Baixa (B3) 4.293 80,4 148,6 6,9 54,0 11,4 Totais 5.341 Classe de Tensão nº de InsTalações Alta (A2) 2.147,7 472,3 Nesse contexto, diversas áreas da Sabesp vêm desenvolvendo projetos com o objetivo de identificar oportunidades de melhoria nos equipamentos e nos processos. O resultado esperado é uma maior eficiência, com diminuição do consumo de energia e conseqüente redução dos custos de operação, contribuindo para aumentar a competitividade da nossa empresa. Cada vez mais, a questão energética tem estado presente nas decisões, não só pelo aspecto de custo, mas também pelas implicações climáticas que as emissões associadas ao consumo de energia acarretam. Nesse contexto, em julho de 2007, a Sabesp, através do Departamento de Gestão de Energia colocou em prática o Programa de Eficiência Energética, com as seguintes ações principais: Revisão dos Contratos Celebrados com as Concessionárias de Energia Elétrica Programa de Eficiência Energética Gestão da Energia Elétrica Mudança da classe de tensão das instalações Melhoria da Eficiência Energética das Instalações Migração de Novas Instalações para o Ambiente de Contratação Livre Geração de Energia Elétrica 26 | SaneaS outubro / novembro / dezembro | 2008 MATÉRIA SABESP A seguir, um breve descritivo de cada uma das ações: 1.Gestão da Energia Elétrica 1.1.Revisão dos Contratos Celebrados com as Concessionárias de Energia Elétrica: Cada instalação da Sabesp possui diversas cargas elétricas instaladas e características próprias de funcionamento. O somatório da potencia, em kW, destas cargas nos dá uma idéia da potência instalada. Porém, nem todos os equipamentos funcionam ao mesmo tempo. Desta forma, para representar o que realmente está funcionando é cobrado nas contas de energia o que chamamos de demanda da instalação, que representa a potencia em kW, verificada em intervalos de 15 minutos. Outro item que aparece na conta de energia é o consumo de energia da unidade consumidora, expresso em kWh. Na conta de energia elétrica de pequenos consumidores, como por exemplo as residências, cobra-se apenas a energia utilizada expressa em kWh (consumo). Médios e grandes consumidores pagam tanto pela energia quanto pela demanda. Os consumidores de energia podem ser divididos nas seguintes categorias: • Consumidores do Grupo B (Baixa Tensão): Residências, Iluminação Pública, Consumidores Rurais, e todos os demais usuários alimentados em baixa tensão; • Consumidores do Grupo A (Média e Alta Tensão) Tarifação Convencional: Pequenas indústrias ou instalações comerciais que não estejam enquadradas na Tarifação Horo-Sazonal (THS), normalmente com demanda abaixo de 300 kW; • Consumidores do Grupo A (Média e Alta Tensão) Tarifação Horo-Sazonal: Grandes consumidores, ali- mentados em alta tensão, e normalmente com demanda acima de 300 kW (para alguns consumidores, o enquadramento ou não à THS é facultativo). Conhecer o perfil de consumo de energia elétrica de cada instalação, e compreender a estrutura tarifária e os cálculos dos valores expressos nas notas fiscais de energia elétrica são fatores importantes para a correta tomada de decisão da melhor opção tarifária. O resultado da análise permite que o contrato firmado entre a concessionária e a unidade consumidora torne-se adequado às necessidades desta, podendo implicar em redução de despesas. Entende-se como melhor opção tarifária a estrutura ou modalidade tarifária cujo valor do importe é menor. O importe é o valor em reais da soma das parcelas referentes ao consumo e a demanda do fornecimento de energia elétrica para determinada unidade consumidora. Considerando, a grande quantidade de instalações da Sabesp do grupo A, que dificultaria a análise manual e a escolha da melhor modalidade tarifária, foi desenvolvida no Departamento de Gestão Energia uma ferramenta computacional, que a partir dos dados históricos extraídos das faturas de energia elétrica, simula e determina a melhor modalidade tarifária e demanda a serem contratadas para cada uma das unidades consumidoras. Foram analisadas 1048 unidades consumidoras, e alterados 436 contratos de fornecimento junto às concessionárias de distribuição a custo zero. Essa medida proporcionou à Sabesp uma economia de R$ 3,51 milhões em 2008. 1.2.Mudança da Classe de Tensão das Instalações: A mudança de tensão de fornecimento de baixa tensão para média tensão é outra maneira de reduzir as despesas com a energia elétrica, tendo que vista que as tarifas do grupo B (baixa tensão) são superiores as tarifas do grupo A (média e alta tensão). Desta forma, para unidades consumidoras do grupo B com elevado consumo de energia pode ser vantajosa a migração para o grupo A. A decisão é baseada em estudo de viabilidade técnica-econômica, que analisa se a redução de gastos com energia elétrica que seria obtida numa eventual migração para o grupo A compensaria o investimento na construção de posto de transformação que possibilitaria receber a energia em media tensão, e ainda, se existem condições técnicas para tal, quais sejam: disponibilidade de área para construção do posto de transformação outubro / novembro / dezembro | 2008 (cerca de 11 m²), e existência de rede da concessionária em tensão primária no local. Assim sendo, foram analisadas 169 instalações da Sabesp, e constatada a viabilidade técnica-econômica para migrar 55 instalações para o grupo A. Dando sequência foram contratadas as obras para construção dos postos de transformação, com investimentos da ordem de R$ 1,5 milhões. Até a presente data foram concluídos e energizados 2 postos de transformação. Os demais estão em fase final de execução. Para os 02 postos energizados foi constatada a redução de aproximadamente 35% nos gastos com energia elétrica, e o prazo para retorno do investimento será de 16 meses. Saneas | 27 MATÉRIA SABESP 1.3.Migração de Novas Instalações para o Ambiente de Contratação Livre - ACL A partir da concessão dos serviços públicos, em especial os de distribuição de energia, conforme Lei nº 8987, de 13 de fevereiro de 1995; Lei nº 9074, de 07 de julho de 1995, que estabelece normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões dos serviços públicos (em especial artigos 15 e 16, que tratam das opções de compra de energia elétrica por parte dos consumidores); e, mais recentemente, da Lei nº 10848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, ensejaram um novo ambiente de mercado para a comercialização da energia disponível, com vantagens expressivas para os grandes consumidores, denominado “Ambiente de Contratação Livre” (nova denominação do “Mercado Livre”). Essa nova configuração possibilita ao consumidor que se enquadra nas exigências legais requeridas, a aquisição direta de energia. A partir dos preços baixos da energia elétrica decorrentes da sobra conjuntural, em 2004 e 2005, a Sabesp migrou 11 unidades consumidoras do Ambiente de Contratação Regulada - ACR (antiga denominação do “Mercado Cativo”) para o chamado Ambiente de Contratação Livre - ACL, tendo alcançado uma economia de R$ 124,5 milhões (até nov/08). Considerando, que a Sabesp possui diversas outras instalações potencialmente livres, as quais podem ser tratadas como consumidores especiais, após a Resolução ANEEL nº 247, de 21 de dezembro de 2006, a Sa- besp contratou consultoria especializada para realizar um estudo comparativo das alternativas de suprimento de energia elétrica, a fim de avaliar a viabilidade ou não da migração para o ACL. Os estudos mostraram que nenhuma instalação atingiu um nível de retorno que justificasse a migração para o ACL. A principal razão deve-se ao quadro atual de escassez de oferta de eletricidade, resultando em significativos aumentos nos preços do insumo adquirido diretamente das geradoras, ou seja, sem a interferência das concessionárias de distribuição, portanto, a tendência atual é que os preços pagos pelos consumidores livres em relação aos cativos sejam menos discrepantes. Adicionalmente, destaca-se que as empresas de água, esgoto e saneamento têm desconto nas tarifas de energia elétrica para as unidades que estão no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), conforme estabelece o Decreto nº 62.724, de 17 de maio de 1968. O percentual de redução nas tarifas é definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, sendo atualmente de 15%. Contudo, a Sabesp está atenta ao comportamento dos preços da energia de fontes convencionais e alternativas, buscando permanentemente no mercado opções para o suprimento de energia elétrica às referidas instalações, que resultem numa economia comparativamente ao mercado cativo. 2.Melhoria da Eficiência Energética das Instalações A maneira como utilizamos a energia elétrica é uma questão chave neste processo e por isso o aumento da eficiência energética das operações nas empresas é imprescindível para se atingirem os objetivos do novo modelo de desenvolvimento, tanto pela diminuição da intensidade energética global, como pelo aumento dos correspondentes resultados econômicos. A eficiência energética constitui-se como uma valiosa oportunidade para as empresas, mais uma vez, se afirmarem como parte da solução, com criação de valor real para o negócio e simultaneamente para a sociedade e para o ambiente. Diante disso, uma grande consumidora de energia como a Sabesp não pode deixar de demonstrar seu engajamento no processo de racionalização do uso da energia elétrica que, mais do que uma ação pontual, deve ser 28 | Saneas concebida como política permanente da instituição. A execução dos trabalhos foi dividida nas seguintes etapas: 1ª etapa: Escolha das Instalações A seleção das instalações foi feita através de avaliações energéticas preliminares de diversas Unidades Consumidoras, e consulta as unidades da Sabesp responsáveis pela operação e/ou manutenção das referidas unidades consumidoras. Foram selecionadas 7 unidades consumidoras, que juntas apresentam um consumo médio mensal de 19.500 MWh, equivalente ao consumo de uma cidade com 450 mil habitantes, e gastos da ordem de R$ 3,7 milhões por mês. outubro / novembro / dezembro | 2008 MATÉRIA SABESP A avaliação energética preliminar indicou que o potencial de redução no consumo de energia elétrica é de 500 MWh por mês, o que corresponde a 2,57% do consumo atual. A seguir um resumo das principais ações propostas para redução do consumo: • Adequação de sistemas (duplicação de adutora, setorização de zonas de abastecimento com redução de pressão); • Adequação de equipamentos (redimensionamento e utilização de motores e bombas mais eficientes); • Alteração de rotinas operacionais (automação, desligamento em horário de ponta, otimização da operação). 2ª etapa: Elaboração do Diagnóstico Energético A elaboração do diagnóstico energético compreende analisar a situação atual das instalações e equipamentos, e identificar e propor ações com viabilidade técnica-econômica de implantação, visando a eficientização do consumo de energia. Representa a etapa inicial da definição de um plano de eficiência energética. O diagnóstico deverá ser realizado nas seguintes etapas: • auditoria energética da instalação - análise do histórico de consumo da instalação, num horizonte mínimo de 12 meses para identificar a sazonalidade típica; • visita técnica para conhecimento geral - levantamento das instalações e das condições técnicas dos equipamentos; • identificação dos desperdícios e das possibilidades de intervenções técnicas - para reduzir o consumo de energia e/ou deslocar demanda do horário de ponta; • avaliação econômica das medidas propostas - determinando as economias de recursos projetadas, o investimento necessário, a taxa interna de retorno e o tempo de retorno dos investimentos. 3ª etapa: Implementação das Ações propostas no Diagnóstico Energético A última etapa compreende a implementação das ações propostas no diagnóstico energético. 3.Geração de Energia Elétrica Nos sistemas de saneamento ambiental existem diversos potenciais energéticos que podem perfeitamente ser aproveitados e hoje são quase que totalmente desperdiçados. Uma Estação de Tratamento de Esgotos utilizando o processo de lodos ativados é constituída por duas fases: líquido e sólido. Nas unidades de digestão, os lodos adensados primários e secundários são transferidos para os digestores anaeróbicos. No processo de digestão realizado pelas bactérias metanogênicas, ocorre à liberação do gás, com predominância de metano (CH4) que é utilizado para a homogeneização do lodo, no tempo em que ele permanece digerindo. O excesso desse gás pode ser aproveitado para geração de energia elétrica. Nos sistemas de abastecimento de água existem potenciais quando se desloca água, principalmente na fase de adução de água bruta, ou quando se transporta água de outras bacias (transposição de bacias) por intermédio de túneis e canais, como também a energia dos efluentes das ETEs nos pontos de lançamentos, ou mesmo no ponto de chegada na estação de tratamento. Neste interim, a Sabesp intenciona aproveitar o potencial energético existentes nas suas instalações, que atualmente são dissipados por processos de perdas. outubro / novembro / dezembro | 2008 Sistema Produtor Cantareira O Sistema Cantareira é um complexo sistema composto por cinco bacias hidrográficas e seis reservatórios interligados por túneis, canais e sistemas de bombeamento, que fornecem cerca de 33 m³/s, sendo responsável pelo abastecimento de água para metade da população da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. • Analisando esse sistema de várias represas em desníveis, interligadas por túneis, além de locais com dissipação de energia por intermédio de válvulas e estruturas de concreto, foram identificados sítios com potencial de aproveitamento energético a saber: • Bacia de Tranquilização da Estação de Tratamento de Água Guaraú, ao lado da estrutura de válvulas dissipadoras existentes, onde seria instalada a PCH Guaraú, com capacidade de gerar uma potência de 4,2 MW a um custo de aproximadamente R$ 10,8 milhões (2008); • Estrutura de dissipação, inserida numa barragem existente, com a formação de um pequeno reservatório, logo após o desemboque do Túnel 5, denominada Vertedouro da Cascata. Essa estrutura de dissipação em rampa dentada é necessária para dissipar a energia de um desnível de 10,2m, formado entre o N.A. do reservatório de Atibainha e o canal que conduz água para o rio Juqueri. Uma PCH instalada nesta estrutura terá Saneas | 29 MATÉRIA SABESP capacidade de gerar 2,9 MW a um custo da ordem de R$ 7,3 milhões (2008). Nestes dois casos citados, considerou-se a vazão aduzida de 33m³/s. Chegada da água bruta na ETA Guaraú - Dissipação Vertedouro da Cascata Estação de Tratamento de Esgotos Barueri A ETE Barueri utiliza o processo de lodos ativados. Os lodos adensados primários e secundários são recalcados para os digestores anaeróbicos. O gás resultante da digestão do lodo é enviado ao gasômetro. Atualmente, uma parte do gás é utilizada na geração de calor, para manter a temperatura nos biodigestores garantindo assim a qualidade do processo, e o restante queimado em 3 ”flares”. Objetivando um melhor aproveitamento do gás, foram realizados estudos que indicaram a viabilidade de implementação de uma Pequena Central Termoelétrica - PCT, com produção firme de 3,0 MW utilizando 30 | Saneas motores de ciclo Otto, com cogeração, a um custo da ordem de R$ 9,0 milhões (2008). O sistema incorpora um processo de tratamento dos gases de escape para redução de emissão de NOx e COx. ETE Barueri Nos dois casos, os estudos foram concluídos, e aguardam uma definição da Diretoria da Sabesp. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A gestão da energia elétrica é um processo contínuo, que requer constante reavaliação, devido à dinamicidade. O setor de saneamento é responsável por cerca de 3% de todo o consumo nacional em energia elétrica. O segundo maior custo nas empresas de saneamento é a energia elétrica, perdendo apenas para gastos com recursos humanos. Reduzir e otimizar o consumo de energia elétrica, e consequentemente os custos associados, deve ser um objetivo permanente das companhias de saneamento. outubro / novembro / dezembro | 2008 visão de mercado João Guilherme Sabino Ometto João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Fiesp, presidente do Grupo São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo. Os biocombustíveis na matriz energética Os biocombustíveis têm papel de imensa importância na transformação da matriz energética brasileira e mundial e sua adequação a um cenário de escassez paulatina de petróleo e necessidade de substituir fontes esgotáveis e poluentes por outras renováveis e mais limpas. Entretanto, não se pode entender - como às vezes parecem supor os debates e o conteúdo nacional e internacional das informações sobre o tema - que o etanol e o biodiesel sejam o fiel da balança no gargalo energético da humanidade. A bem da verdade, os combustíveis frutos do agronegócio representam um grande avanço na oferta de energia mais limpa, criação de empregos, multiplicação da renda, ingresso de divisas no Brasil e até geração de eletricidade, por meio da queima do bagaço da cana-de-açúcar. No entanto, da mesma forma que não são os “vilões” da queda da produção de alimentos, como tentaram equivocadamente sugerir alguns países e organismos multilaterais, também não significam de maneira isolada uma solução global para todo o problema. É importante analisar essa questão de modo mais lúcido, para não se perder o conceito do todo e se ignorar a complexidade e amplitude do desafio do País na área energética. Esse olhar mais amplo implica lembrar, por exemplo, que o Brasil tem a maior reserva hídrica do Planeta e o maior potencial de geração de energia hidrelétrica. Esta continuará com expressiva e predominante participação na matriz elétrica nacional. Apenas deverá recuar dos 85% atuais para 75%, em 2015. Somente 30% do potencial hidrelétrico brasileiro economicamente viável estão em operação ou construção. Os dados, constantes do estudo “Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil: Uma Contribuição para o Debate”, recentemente divulgado pelo Banco Mundial (Bird), demonstra que não devemos subestimar a fonte hidrelétrica. Ao contrário, é preciso continuar incentivando os investimentos para que possamos utilizar, integralmente, a capacidade disponível. A soma da energia hidrelétrica com o etanol e o biodiesel transforma o Brasil, de fato, na potência energética do Século XXI. Nesse sentido, é necessário resolver dois entraves básicos que estão emperrando os investimentos em usinas. O primeiro deles está identificado no próprio outubro / novembro / dezembro | 2008 foco do estudo do Bird, que mostra a necessidade de modernizar, agilizar e tornar mais eficazes e menos dispendiosos os processos de licenciamento ambiental. Muitas vezes, estes acabam representando até 20% dos investimentos num projeto. O segundo obstáculo está evidenciado em outro estudo do banco, denominado “Como Revitalizar os Investimentos em Infra-estrutura no Brasil: Políticas Públicas para a Melhor Participação do Setor Privado”. Este trabalho mostra que aproximadamente US$ 164 bilhões foram investidos em projetos de infra-estrutura que envolveram a participação privada no país, durante o período 1994-2004. Entretanto, observa o relatório, “apesar do alto nível de investimento, a opinião pública está frustrada com a oferta de serviços nessa área e os formuladores de políticas mostram-se decepcionados com o financiamento privado desses projetos”. É inegável que os brasileiros estão preocupados com a deficiência da infra-estrutura, em especial no campo da energia, pois a precariedade persistente poderá comprometer até mesmo o crescimento da economia. Ainda são muito presentes as tristes lembranças e algumas seqüelas do “apagão” de 2001. Assim, é muito pertinente atentar para as três recomendações feitas pelo Bird no sentido de viabilizar e agilizar os investimentos privados em infra-estrutura: eliminar os gargalos reguladores e as incertezas políticas ainda existentes em determinados setores; planejar concessões de infra-estrutura de modo a evitar o excesso de renegociações, garantindo ao mesmo tempo uma taxa de retorno adequada para os investidores e protegendo o bem-estar dos consumidores; e melhorar o funcionamento das agências reguladoras, para que os processos de decisão sejam coerentes e tecnicamente seguros. Como prevêem as Parcerias Público-Privadas (PPPs), que talvez careçam das condições apontadas pelo estudo para decolar, a demanda de infra-estrutura no Brasil continua sendo imensa oportunidade de investimentos. Desse modo, simultaneamente ao desenvolvimento do etanol e do biodiesel, que estão atraindo cada vez mais o capital interno e estrangeiro, precisamos fomentar a participação privada na geração de energia hidrelétrica, removendo os obstáculos relativos à modernização e adequação da infra-estrutura. Saneas | 31 editorial informe comercial Renato Monticelli Renato Monticelli é gerente de vendas para a área de saneamento para a América Latina da Danfoss Eficiência energética conciliada com o fornecimento adequado de água no setor de saneamento Por definição básica, uma instalação de saneamento que tenha como objetivo operar com o máximo de eficiência energética é aquela que garante um consumo mínimo de energia segundo a real necessidade de vazão/pressão de água. Para conseguir isso, em muitos casos se utilizam conversores de freqüência para variar a velocidade de funcionamento das bombas e Soft Starters, para bombas sem necessidade de variação de velocidade, mas que necessitam de partidas e paradas suaves. No entanto, é importante lembrar que não são todas as bombas centrífugas de uma empresa de saneamento que podem trabalhar com conversores de freqüência. Para economizar energia, é necessário reduzir a velocidade da bomba. Portanto, o primeiro passo é comprovar se há possibilidade de diminuir a velocidade nominal. Geralmente, isto é viável porque as bombas estão superdimensionadas ou porque: • Há válvulas que “estrangulam” a vazão; • Há válvulas de bypass que recirculam água; • As demandas de consumo são variáveis de acordo com o período do dia (madrugada, manhã, tarde e noite têm demandas diferentes), estações do ano (verão x inverno) ou outras condições que apresentam demandas de consumo variáveis; • Há conjunto de bombas em paralelo que partem de acordo com a demanda; • Outras variáveis que permitem o equipamento variar a velocidade da bomba. Para atender a demandas do mercado de saneamento e considerando estas condições, a Danfoss, multinacional dinamarquesa que produz componentes industriais para diversas aplicações, adaptou alguns produtos e lançou em 2007 a linha VLT AQUA Drive, que é o conversor de freqüência para uso exclusivo no setor de saneamento. Ele possui uma série de funções dedicadas à eficiência energética, tais como: 32 | Saneas • AEO (Otimização Automática de Energia): o drive detecta uma diminuição na carga da aplicação e automaticamente diminui a tensão sobre o motor, resultando em um valor menor de potência que é ajustado dinamicamente pelo drive. • AMA (Adaptação Automática de Motor): o conversor de freqüência faz a leitura dos parâmetros reais do motor, o que resulta em um controle preciso e otimizado do ponto de vista energético. • Funções dedicadas ao controle de Bombas Centrífugas e outras aplicações em Saneamento (Cascade Controler e Sleep Mode): Cascade Controller: em instalações onde é necessário o controle da pressão utilizando bombas em paralelo, o drive fará o papel de controlar uma bomba modulante (header) e outras bombas que podem ser configuradas em on/off ou também modulantes, o que resulta em considerável economia de energia, visto que o sistema regula a pressão de acordo com a demanda do sistema somente com o acionamento e modulagem da quantidade necessária de bombas. O conversor de freqüência VLT AQUA Drive faz o papel de conversor de freqüência e de PLC (Programador Lógico Programável); Sleep Mode: O conversor de freqüência monitora parâmetros do processo como, por exemplo, pressão da linha ou vazão e, em função da demanda do sistema, faz com que o motor varie a velocidade da bomba, mantendo a pressão ou vazão constantes (malha fechada PID). O Conversor de freqüência VLT AQUA Drive pode fazer a bomba “dormir” quando o consumo de água for muito baixo, e quando a demanda sobe, o drive “desperta” o motor, aumentando sua velocidade, resultando em considerável economia de energia. • VLT AQUA Drive de Alta potência: os conversores de freqüência da Danfoss de Alta Potência (acima de 90KW) possuem uma característica outubro / novembro / dezembro | 2008 informe informe editorial comercial comercial bastante interessante do ponto de vista energético, que é o Alto Rendimento do Drive (98%), proporcionado pelo design do produto. Isso significa que apenas 2% da potencia nominal é dissipada em forma de calor. Em altas potências, pequenas porcentagens podem se converter em consideráveis valores durante o decorrer do tempo, o que faz com que drives com eficiência energética alta sejam muito importantes. O VLT AQUA Drive é um dos drives mais eficientes do mercado. • Compensação de Vazão (Flow Compensation): função do VLT AQUA que com um sensor instalado na saída da bomba, permite o controle da pressão em um ponto distante na tubulação, usando dados da curva do sistema. Flow compensation muda o setpoint automaticamente, fazendo com que a velocidade da bomba diminua em função da carga do sistema. A velocidade da bomba diminui em função da diminuição do setpoint e as perdas de carga também diminuem, ainda assim mantendo a pressão constante no ponto de controle. Sem Flow Compensation, o drive tenderia a manter o mesmo setpoint que resultaria em mesma velocidade. A diferença de velocidade representa economia de energia. Essa função possibilita 10 % de economia de energia, uma vez que compensa a instala- ção do sensor de pressão próximo à bomba (maior pressão e maior turbulência). Lembrando que o ponto ótimo de instalação do sensor de pressão é a 2/3 do comprimento total da tubulação (da bomba até a última saída). Como se sabe, a medida de consumo de energia é obtida por kWh e a eficiência energética se mede com a comparação deste consumo antes e depois da instalação dos conversores de freqüência. No caso do VLT AQUA Drive, o display do equipamento informa os kWh consumidos e este drive produzido pela Danfoss dispõe de uma função que indica quando o investimento feito na aquisição do componente foi integralmente recuperado. Ou seja, o equipamento dispõe de informações sobre o seu próprio custo e também do kWh para avisar à empresa onde se encontra instalado quando isso ocorre. O nome desta função é “Payback Time Indicator”. Conversores de freqüência, como o VLT AQUA Drive, podem ser utilizados em aplicações do setor de saneamento, como por exemplo, tratamento e distribuição de água (bombeamento contra a rede), tratamento de efluentes e, enquanto os soft starters são normalmente usados para a captação de água de rios, lagos e represas, bombeamento contra tanques de armazenamento de águas, tratamento de água e efluentes. Sobre a Danfoss Fundada na Dinamarca em 1933, a Danfoss é líder mundial no setor de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de controles eletromecânicos e eletrônicos, bem como de soluções de sistemas para indústrias de refrigeração, de aquecimento e ar condicionado. Atualmente, a Danfoss emprega mais de 22.300 funcionários em todo o mundo, possui fábricas nos cinco continentes e escritórios de vendas em mais de 100 países, faturando cerca de 3 bilhões de EUR ao ano. Hoje, a Danfoss é especializada na produção de uma completa linha de compressores e controles para o mercado de refrigeração, como também de vários itens direcionados às aplicações no mercado industrial, como conversores de freqüência, soft starters, instrumentação, motoredutores e controles industriais. No Brasil, a empresa iniciou as suas operações em 1968, tendo sede na cidade de São Paulo. Para mais informações acerca da empresa, acesse: www.danfoss.com.br www.envisioneering.danfoss.com.br outubro / novembro / dezembro | 2008 Saneas | 33 artigo técnico Eficiência hidráulica e redução do consumo de energia elétrica - O Estudo de Caso do Extremo Norte da RMSP Alex Orellana - Gerente da Divisão de Operação de Água Norte da Sabesp, Engenheiro Mecânico pela Universidade Nove de Julho, Tecnólogo em Mecânica pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo e pós-Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Cidade de São Paulo. Endereço: Rua Conselheiro Saraiva, 519 | Santana | São Paulo - SP | CEP: 02037-021 | Brasil | Tel: +55 (11) 2971-4076 Fax: +55 (11) 2971-4199 | e-mail: [email protected] Os sistemas de abastecimento de água caracterizamse pela constante alteração de seus parâmetros operacionais, seja pelo envelhecimento do sistema ou pelo crescimento vegetativo da região, estes componentes isolados ou associados levam à restrições hidráulicas, gerando elevadas perdas de carga e deficiências no abastecimento. Em muitos casos a perda de energia hidráulica é compensada com a utilização de energia elétrica, através da aplicação de estações de bombeamento, situações muitas vezes justificadas pelo tempo e investimento inicial necessários para recuperar ou ampliar a capacidade hidráulica das instalações face à instalação das unidades de bombeamento, não considerando à longo prazo os custos com manutenção e principalmente com o consumo de energia elétrica. Outra condição resultante do envelhecimento e crescimento do sistema de abastecimento é a inadequação dos equipamentos, ou seja, instalações que ao longo do tempo não são atualizadas de acordo as novas necessidades do sistema e tecnologias disponíveis, ocasionando equipamentos operando com baixo rendimento e elevado o consumo de energia elétrica. Diante deste cenário as empresas de saneamento, através de suas áreas de engenharia, devem procurar identificar oportunidades de melhorias nos sistemas de abastecimento, justificando os investimentos necessários para recuperação da capacidade hidráulica das instalações, conservando a energia hidráulica disponível e reduzindo a necessidade de utilização de energia elétrica para os casos onde ela é realmente necessária para o processo. 34 | Saneas O EXTREMO-NORTE DA RMSP Na conceituação da Sabesp o Extremo-Norte da RMSP é composto pelos municípios de Francisco Morato, Franco da Rocha, Caieiras e pelo distrito de Perus pertencente ao município de São Paulo. Esta região caracteriza-se por ser o maior vetor de crescimento populacional da Unidade de Negócio Norte e um dos maiores da RMSP, na última década observou-se o crescimento exponencial da região. Os investimentos necessários para suprir o rápido aumento da demanda são elevados e necessitam de anos de planejamento, projeto e execução, além da viabilização dos recursos financeiros. Durante o período compreendido entre o planejamento e a implantação do projeto foram necessárias uma série de medidas para suprir na medida do possível a demanda, dentre elas foi instalado em 1998 um booster de adução para o município de Francisco Morato, este booster batizado com o nome do município operou até fevereiro de 2006 quando foi substituído pelos boosteres de adução para os reservatórios Franco da Rocha - Vila Santista e Francisco Morato - Centro, em função da insuficiência de adução frente a elevação da demanda, gerando situações críticas de abastecimento. O projeto completo para atender a região prevê a implantação de uma nova adutora desde a ETA Guaraú até Francisco Morato e um novo booster de adução para vencer o desnível geométrico de aproximadamente 100m existente a Estação de Tratamento de Água e o início da adutora do Extremo-Norte, pelo seu porte o projeto foi dividido em etapas de implantação, outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico tendo como 1ª etapa o trecho Caieiras-Francisco Morato caracterizado como principal gargalo do sistema, figuras 1 e 2. Com o início da operação da adutora Caieiras-Francisco Morato foi eliminada a elevada perda de carga distribuída no trecho, regularizando o abastecimento dos municípios e permitindo a desativação dos boosteres de adução Franco da Rocha-Vila Santista e Vila Bela, gerando uma redução de despesa com energia elétrica de mais de R$ 1 milhão ao ano e permitindo o redimensionamento da EEAT Francisco Morato. No redimensionamento da adutora de recalque para o reservatório Francisco Morato-Pq.120 foram desenvolvidos estudos de alternativas para a ampliação do bombeamento atendendo as demandas projetadas para fim de plano e analisando-se a opção economicamente viável e com menor consumo de energia elétrica. Figura 1: Topologia hidráulica do Extremo-Norte Figura 2: Esquema hidráulico do Extremo-Norte outubro / novembro / dezembro | 2008 Saneas | 35 artigo técnico DUPLICAÇÃO DA ADUTORA DO EXTREMO – NORTE Com a conclusão da obra da nova adutora Ø 800mm no trecho Caieiras–Francisco Morato foi eliminado o principal gargalo do sistema adutor do Extremo-Norte, reduzindo a perda de carga distribuída do sistema, tabelas 1 e 2, elevando o plano piezométrico por conseqüência. Com a elevação do plano piezométrico foi possível regularizar a adução dos reservatórios de Franco da Rocha e Francisco Morato e desativar os boosteres de adução Vila Santista e Vila Bela, gerando uma redução na despesa como energia elétrica de mais de R$ 1 milhão ao ano, figuras 3, 4, 5 e 6. Tabela 1: Perda de carga no trecho Caieiras – Francisco Morato antes da duplicação Trecho e (m) Ø (mm) Q (l/s) Δp (m/km) v (m/s) Δptotal (m/km) Caieiras – Franco da Rocha 5.816 600 680 6,86 2,40 39,89 Franco da Rocha – Francisco Morato 6.342 400 320 12,59 2,55 79,85 Tabela 2: Perda de carga no trecho Caieiras – Francisco Morato com a duplicação Trecho e (m) Ø (mm) Q (l/s) Δp (m/km) v (m/s) Δptotal (m/km) Caieiras – Franco da Rocha 5.816 900* 967 0,85 1,10 4,95 Franco da Rocha – Francisco Morato 6.574 800 500 0,82 1,00 5,39 * Diâmetro equivalente entre as adutoras Ø 600 mm e Ø 800 mm. Figura 3: Consumo e despesa com energia elétrica no Booster Francisco Morato Figura 4: Consumo e despesa com energia elétrica no Booster Vila Bela Figura 5: Consumo e despesa com energia elétrica no Booster Vila Santista Figura 6: Consumo e despesa total com energia elétrica de 1998 a 2007 36 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico REDIMENSIONAMENTO DA ADUTORA DE RECALQUE PARA O RESERVATÓRIO FRANCISCO MORATO - PQ. 120 O reservatório Francisco Morato-Pq. 120 possui um desnível geométrico de 87m para o reservatório Francisco Morato-Centro, onde está localizada a EEAT responsável pela transferência entre os reservatórios. A adutora de recalque existente possui Ø 300mm e 3.400m de extensão, fator que contribui para uma considerável perda de carga distribuída e insuficiente para o atendimento em fim de plano das demandas do setor de abastecimento. Em um sistema que por característica topográfica já exige uma grande transferência de energia eletro-mecânica em hidráulica, a perda de carga deve ser preferencialmente a menor possível. A partir dessas diretrizes foi realizado o redimensionamento hidráulico da adutora de recalque, visando atender as demandas de fim de plano do setor de abastecimento, tabela 3, com a menor perda de carga distribuída possível, atentando-se para aspectos econômicos entre investimento e economia de energia elétrica. Uma duplicação da adutora de 300mm, para corresponder a um diâmetro equivalente a 600mm, que é o diâmetro ideal para veicular as demandas previstas nesse projeto, considerando-se ainda a extensão e altura geométrica, que influem diretamente na perda de carga e, consequentemente, na energia elétrica despendida, corresponderia a implantar, em paralelo, outra tubulação de 560mm. Assim, optou-se por implantar outra adutora, diâmetro 600mm, com extensão de 4.500m e desativar a existente de 300mm, que deverá ser aproveitada como rede de distribuição. O diâmetro 600mm foi definido tendo-se em vista as vazões a serem fornecidas para o reservatório Francisco Morato-Pq. 120 (demandas máximas diárias) até 2025, as velocidades médias e a perda de carga distribuída ao longo da linha de recalque que é muito extensa e possui um desnível geométrico elevado. Tabela 3: Francisco Morato-Pq. 120: Populações, demandas e volumes de reservação Ano 2007 2010 2015 2020 2025 Populaçao (hab) 60.417 67.445 76.719 84.761 91.056 Qmedia (l/s) 176 192 210 223 232 Qmáx. Dia (l/s) 210 230 251 267 277 Observa-se nas curvas características das instalações, figuras 7 e 8, que a adutora atual Ø 300mm não tem capacidade hidráulica para atendimento das demandas de final de plano e mesmo o atendimento das demandas intermediárias requerem uma elevada altura manométrica das bombas da EEA para suprir a perda de carga distribuída do sistema, concorrendo diretamente com a energia necessária para vender o desnível geométrico. Com a implantação da adutora Ø 600mm a componente da perda de carga para a ser mínima, permitindo que a potência útil seja destinada para a elevação necessária para vencer o desnível geométrico, evitando-se o consumo desnecessário de energia elétrica. A utilização de energia elétrica nos processos operacionais do saneamento é indispensável, porém o nível de utilização pode ser otimizado atentando-se para o outubro / novembro / dezembro | 2008 Qmáx.Hora (l/s) Vol.Reserv.(M3) 315 343 375 399 412 6.061 6.609 7.233 7.695 7.971 rendimento dos equipamentos e a eficiência hidráulica das instalações, priorizando a conservação da energia hidráulica disponível. A visualização da necessidade de alteração de modelos operacionais existentes é fundamental para atingir esse objetivo. O insumo energia elétrica é uma das maiores despesas, se não a maior, dos processos de saneamento e a sua disponibilidade é cada vez mais restrita, necessitando de investimentos elevadíssimos para ampliação da oferta, sendo um caminho crítico na implantação de novos empreendimentos em todas as áreas. Portanto, projetos que considerem o seu uso eficaz ou a redução de consumo diante de um modelo existente possuem vantagem competitiva na fase de seleção e priorização de investimentos e em muitos casos é fator decisivo para viabilização de financiamentos. Saneas | 37 artigo técnico Figura 7: Curva Característica da Instalação - Adutora de recalque Ø 600mm Francisco Morato-Pq. 120 Figura 8: Curva Característica da Instalação – Adutora de recalque Ø 300mm Francisco Morato-Pq. 120 38 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico EFICIÊNCIA ENERGÉTICA COMO INDICADOR NA GESTÃO DE SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO - ETEs Dieter Wartchow(*) - Engenheiro Civil (UFRGS), Doutor em Engenharia pela universidade de Stuttgart-Alemanha. Atualmente é professor de graduação e pós-graduação no IPH/UFRGS. Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS) Av. Bento Gonçalves, 9500 | Caixa Postal 15029 CEP 91501-970 | Porto Alegre, RS | Brasil e-mail: [email protected] Segundo PNUD (2006) dentre as Metas de Desenvolvimento do Milênio para 2015 encontramos a promoção da sustentabilidade ambiental. Um recurso natural imprescindível à vida são nossos recursos hídricos que precisam ser preservados. No diagnóstico dos serviços de água e esgotos do Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA, 2006), algo precisa ser feito para resgatar a importância do tratamento dos esgotos, pois o índice de tratamento de esgoto sanitário no Brasil abrange apenas 14 % da população. Portanto, justifica-se a adoção de tecnologias sustentáveis no âmbito do saneamento ambiental. No ciclo do uso da água, pode-se considerar o estado da arte dos sistemas de esgotamento sanitário em sua operação e gestão um problema esquecido ou desconhecido, o que leva gastos excessivos com energia elétrica além da sobrecarga operacional dos equipamentos (conjuntos motor-bomba, aeradores, misturadores e baixa eficiência operacional e/ou ambiental de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs). A “diluição” dos esgotos sanitários, devido ao desperdício de água que se soma à contribuição de esgotos sanitários ou a mistura com águas freáticas ou pluviais pode ser considerada uma atitude insustentável e onerosa. Portanto, as tecnologias adotadas no planejamento dos sistemas esgotos precisam ser repensadas quanto à sua finalidade e sustentabilidade ambiental. outubro / novembro / dezembro | 2008 O panorama de escassez hídrica, principalmente nos grandes centros urbanos, somado à rigidez das legislações, que deve ser cada vez maior tendo em vista o cenário ambiental insustentável, bem como os custos relativos à outorga pelo uso e cobrança da água e os elevados custos operacionais dos sistemas de esgoto vêm incentivando a busca por soluções tecnológicas sustentáveis. O enfoque de medidas curativas de fim de processo (end of pipe) como as ETEs resultam em altos custos de investimento, operação e manutenção, demandam energia em seu processo e produzem lodo cujas características nem sempre são apropriadas para uso na agricultura. Se não houver gestão eficaz dos sistemas de esgoto sanitário, estes tenderão ao fracasso ambiental e econômico, pois dificilmente atenderão aos padrões de emissão estabelecidos pelos órgãos ambientais, além dos seus custos superarem as receitas tarifárias. Algo precisa ser feito, no âmbito da pesquisa, do planejamento, da construção e operação destes sistemas. Água e esgoto precisam ser considerados em seu ciclo, de forma integrada e vinculados. Por isso da importância de apontarmos com base na experiência gerencial vivenciada no Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), de Porto Alegre-RS e na Companhia Riograndense de Saneamento (CORSANRS), caminhos para a gestão sustentável dos serviços esgoto sanitário, a partir do acompanhamento de um indicador de eficiência energética em ETEs. Saneas | 39 artigo técnico OBJETIVO Mediante a utilização de dados de pesquisa em campo em sistemas de esgoto sanitário no âmbito do Rio Grande do Sul - Brasil, o presente trabalho tem por objetivo incentivar e propor uma discussão em torno da busca de tecnologias de tratamento de esgotos sanitários, cujos resultados possam assegurar eficácia operacional com qualidade e eficiência ambiental e sistemas de esgotamento sanitários com tratamento sustentável. METODOLOGIA E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Visando o alcance dos objetivos procedeu-se uma análise de ações locais em busca de uma gestão eficiente e sustentável de sistemas de tratamento de esgotos sanitários. Os dados são resultados de levantamentos realizados no Departamento Municipal de água e Esgotos (DMAE, Porto Alegre-RS) e na Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN-RS). Paralelamente, com o propósito de incentivar a operação sustentável e eficiente dos sistemas de tratamento de esgotos e orientar para a escolha de alternativas tecnológicas com caráter de tecnologia limpa, desenvolve-se desde o ano de 2007, no âmbito do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), um projeto de pesquisa intitulado “Tecnologias sustentáveis de tratamento de águas residuárias urbanas e industriais”. Associados a este projeto de pesquisa desenvolvem-se vários trabalhos de diplomação do curso de graduação de engenharia civil e ambiental desta universidade. Os resultados das pesquisas são traduzidos na forma de indicadores de avaliação e desempenho da “ecoeficiência” do sistema, os quais ainda encontram-se na fase de pesquisa e consolidação. O termo ecoeficiência tem se revelado como uma filosofia de gestão que leva à sustentabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A ecoeficiência para sistemas de esgoto sanitário que engloba ligações de esgoto, redes coletoras de esgoto sanitário, equipamentos (Elevatórias), emissários e estação de tratamento de esgoto define-se a partir das seguintes diretrizes (adaptado de CEDBS,2007): 40 | Saneas • a redução do consumo de água e quantidades de esgoto sanitário em seu ciclo; • a redução do consumo de energia em sistemas de esgotamento sanitário (SES); • a redução da dispersão de poluentes para os mananciais (eficiência do processo de tratamento de esgotos); • a reciclagem e reuso de efluente tratado e de lodos; • a elevação da vida útil dos processos e dos mananciais; • agregar valor ambiental ao efluente tratado; Estas diretrizes passarão a exigir avanços científicos e tecnológicos que ampliem permanentemente a capacidade de utilizar, recuperar e conservar os recursos naturais para a promoção do desenvolvimento sustentável. Os caminhos para a gestão sustentável dos SES passam pela utilização adequada da tecnologia e o planejamento das ações. De forma sistêmica e integrada, o planejamento de ações como os programas de eficientização energética e programas de ampliação do tratamento de esgotos e sua ecoeficiência se apóia nas tecnologias afins. O gestor que com conhecimento, habilidade e atitude de fazer buscará uma gestão eficaz dos sistemas e o alcance de metas pré-estabelecidas. Segundo BRASIL (2007), no setor do saneamento os gastos com energia elétrica representam 12% das despesas dos prestadores de serviço, podendo este percentual variar entre 9% e 24%, dependendo do local. A energia elétrica é o principal insumo no bombeamento de esgotos. Por isso, quanto menos água for desperdiçada, menor a fração de esgoto a ser transportado, ou transportada de forma mais eficiente, menor a energia consumida e mais eficiente o sistema. Por outro lado, a realidade de muitos sistemas de esgoto sanitário pela sua má eficiência ambiental e sanitária, carecerão de um “up-grade” tecnológico o que trará incrementos no indicador de consumo de energia por volume de esgoto tratado. Resumidamente, o consumo energético na etapa de elevação e bombeamento de esgotos, assim como, no processo de tratamento de esgotos que utilizam sistemas de aeração forçada, serão o de maior impacto no consumo total de energia elétrica de um sistema de esgotamento sanitário com tratamento. É nestas outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico unidades onde se encontra o maior potencial para o planejamento com vistas ao consumo racional de energia. Este consumo é função das opções existentes nos projetos de engenharia e do tipo de tecnologia e equipamentos utilizados, das condições operacionais e dos níveis de controles dos sistemas. Portanto, a busca pela eficiência energética vai além dos limites das ETEs, cuja tecnologia exigida deverá atender os padrões de emissão estabelecidos por normas. O tratamento de esgotos no Brasil ainda é um desafio de grandes dimensões, uma vez apenas 14% do esgoto urbano passa por alguma ETE para a remoção de poluentes, antes do despejo final em algum corpo receptor (ANA, 2006). Assim, a ampliação do tratamento de esgotos e sua ecoeficiência é uma necessidade sanitária e ambiental. No âmbito do projeto de pesquisa referido na Metodologia, existe o intuito de desenvolver um indicador de ecoeficiência em ETEs, que considere as diretrizes especificadas no início deste capítulo. Assim, novos desafios estão postos. Tornar ETEs ecoeficientes significa garantir a eficiência nos níveis de emissão, buscar a eficiência energética e o tratamento e a disposição ambiental dos lodos. A potência instalada e projetada nas Estações de Bombeamento de Esgotos (EBEs) para atender ao pico da vazão de esgotos ou vazão futura, é utilizada para bombear as perdas de água e as águas pluviais clandestinas que vão ter ao sistema de esgotamento sanitário. Da operação de sistemas de esgotamento sanitário resulta a conclusão de que os projetos dos sistemas de esgotamento e das ETEs precisam ser reorientados para se tornarem energeticamente e ambientalmente sustentáveis. O corporativismo que cerca a tomada de decisão sobre as linhas de pesquisa lamentavelmente não permitiram até o momento aprofundar as pesquisas, o que traz à conclusão que Estação de Tratamento de Esgotos é igual a ETE, o que na realidade não é. O consumo energético associado a uma ETE está relacionado, a motores e bombas para o deslocamento de líquidos, dosagens de reagentes, agitação mecânica, aeradores, sopradores e equipamentos para a linha de lodos (digestão, adensamento, desidratação de lodo, etc.). No Brasil a eficiência dos sistemas ETES implantadas em vários níveis primários ou secundários, não está ajustada às Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n° 357/05, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambien- outubro / novembro / dezembro | 2008 tais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) n° 128/06, que dispõe sobre a fixação de padrões de emissão de efluentes líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul. A emissão de uma licença ambiental de operação destes sistemas perde razão de ser se o projeto propõe uma eficiência que não pode cumprir ou quando não houver monitoramento e fiscalização. Cardoso, C.G. (2008) a partir da aplicação de um Índice de Qualidade de Tratamento (IQT) analisou a eficiência do tratamento e o consumo de energia em três ETEs do tipo Lagoas de Estabilização (LE), uma do tipo Lodos Ativados (LA) e uma do tipo Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (RAFA). O Índice de Qualidade de Tratamento (IQT) médio calculado para os sistemas de tratamento foi de 3,0; 5,2 e 2,0 respectivamente, de um valor máximo estipulada para a metodologia utilizada de 10,0 sugerindo um baixo desempenho qualitativo das ETEs estudadas. Nestes sistemas de tratamento de esgoto os índices de energia calculados resultaram em consumos de 4,896 kWh/ hab.ano, 12,648 kWh/hab.ano e 6,372 kWh/hab.ano, respectivamente. Estes dados são comparativamente menores do que aqueles mencionados por Steinmetz, H. (2007), cuja mediana para diferentes processos de tratamento avançado situou-se em 30 kWh/hab.ano. Isto comprova que a eficiência do processo de tratamento tende a uma relação direta com o consumo de energia elétrica. Steinmetz, H. (2007) pesquisou ETEs com elevado padrão tecnológico e cuja eficiência atende aos rigorosos padrões de emissão de matéria orgânica e nutrientes da Comunidade Européia. Santos, J.R.P. (2008) analisou treze ETEs, sendo oito do tipo Lagoas de Estabilização (LE), uma de Lagoas Anaeróbias e Bacias de Infiltração (LA/BI), uma Lagoa Wetland (LW) e três sistemas de tratamento do tipo Lodos Ativados (LA) cujas concentrações médias dos parâmetros básicos afluentes e efluentes das ETEs, são apresentados na tabela 1. As nomenclaturas das ETEs constam na tabela 2. Saneas | 41 artigo técnico Tabela 1: Concentrações médias afluentes e efluentes das ETE. (Fonte: Santos, J.F.P., 2008) ETE (2) DBO5 DQO5 Fósforo Nitrogênio Total mgO2/L mgO2/L mgP/L mgN/L Afluente Efluente Afluente Efluente Afluente Efluente Afluente Efluente LA/BI 152,5 14,4 335,5 84,9 5,7 2,9 57,3 5,3 LE1 67,0 9,2 184,8 31,8 2,1 0,8 25,4 2,6 LE2 86,0* 25,4* ND ND 5,3* 1,3* 23,0* 12,0* LE3 78,9 19,9 156,7 77,7 2,0 1,1 29,2 9,0 LE4 27,4 7,6 154,0 85,4 1,7 0,9 12,0 4,4 LE5 100,0 37,3 422,3 106,0 4,0 2,7 ND ND LE6 140,7 10,3 299,8 80,6 3,7 1,9 12,3 6,6 LE7 232,0* 42,5* ND ND 8,7* 3,9* 26,7* 12,7* LE8 153,0* 46,2* ND ND 11,0* 4,6* 44,5* 24,8* 8,1 LW 233,7 4,5 69,3 498,2 11,8 74,8 0,1 9,4 113,8 0,1 2,5 77,0 8,0 0,3 7,8 LA1 171,0* 16,0* ND ND 4,1* 1,2* 37,6* 12,0* LA2 ND ND ND ND ND ND ND ND LA3 140,1 13,9 571,0 78,7 5,5 1,7 138,7 11,7 (2) – abreviaturas descritas na tabela 2. * Fonte: Cardoso, 2007, p. 45 Analisando a tabela 1 e comparando a concentração afluente dos esgotos sanitários (DBO5) com os valores referidos na literatura por Von Sperling (1995), observa-se que a concentração de entrada de esgoto sanitário está a sugerir que os esgotos estão muito diluídos em várias ETEs. As baixas concentrações de DBO5 e DQO afluentes das ETEs Pindorama Santa Cruz do Sul (LE1), (LE2), (LE3) e Uruguaiana (LE4), corroboram com a afirmação de que nos esgotos sanitários há uma parcela significativa não definida de esgotos pluviais ou águas de infiltração, onerando as EBEs e ETEs quanto ao consumo de energia. A Tabela 2 apresenta os índices de consumo de energia por metro cúbico de esgoto, índices de con- 42 | Saneas sumo de energia por habitante por mês e os índices de remoção de carga de DBO5, para as ETEs pesquisadas. O consumo de energia considerou a componente última elevatória de esgotos sanitários (que se localiza no trecho final do sistema de coleta ou junto a ETE) somado ao consumo de energia do sistema de tratamento de esgotos. Isto poderá repercutir nos resultados da tabela 2 e na figura 2 que apresenta graficamente os índices calculados de consumo de energia elétrica por metro cúbico de esgoto tratado e na figura 3, que apresenta os índices de consumo de energia em quilowatt hora por carga de DBO5 removida. outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico Tabela 2: Índices de consumo de energia por m³ de esgoto, de consumo de energia por habitante por mês, de remoção de DBO5. (Fonte: Santos, J.R.P., 2008). Estação de tratamento de Esgoto Legenda Índice Consumo de Índice Consumo de Índice de Remoção Energia Elétrica Energia Elétrica de DBO5 kWh/m³ kWh/hab.mês kWh/kg Pindorama Santa Cruz do Sul LE1 0,064 0,333 1,105 Ipanema Porto Alegre LE2 0,070 0,280 1,158 ETE II Rosário do Sul LE3 0,097 0,361 3,299 Uruguaiana LE4 0,191 1,032 9,655 Torres LE5 0,312 0,897 4,982 Alegrete LE6 0,317 0,947 2,435 Cachoeirinha LE7 0,048 1,294 0,252 Gravataí LE8 0,106 1,240 0,996 Navegantes Rio Grande LE/BI 0,096 0,623 0,724 Parque Osório Tramandaí LW 0,357 1,050 1,582 Navegantes Porto Alegre LA1 0,230 1,317 1,487 Santa Maria LA2 0,416 1,970 ND Canoas LA3 0,686 4,096 5,433 (2) – abreviaturas descritas na tabela 2. * Fonte: Cardoso, 2007, p. 45 Da figura 1, observando que os níveis de consumo de energia são dependentes da posição das elevatórias finais a montante das ETEs (distância, altura manométrica), recomenda-se uma análise do padrão de consumo de energia visando sua eficiência em ETEs que apresentem um consumo de energia maior do que o valor de referência de 0,2 kWh/m3 de esgoto tratado. Na figura 2, optou-se por sinalizar as ETEs que ensejam uma investigação mais detalhada sobre as características dos esgotos afluentes às ETEs (problemas nos sistemas de esgotamento sanitário como baixo índice de ligações, diluição do esgoto, ligações irregulares, etc.) e sobre o processo de tratamento em si. Estipulou-se aleatoriamente um valor para o índice de energia por remoção de carga, de 2,000 kWh/kg DBO5 removida, como um valor de referência. A análise dos dados e a obtenção dos indicadores permitiram avaliar as condições relacionadas a eficiên- outubro / novembro / dezembro | 2008 cia energética nas estações de tratamento de esgoto da CORSAN-RS e do DMAE-Porto Alegre. Detectados os locais de consumo de energia e seu padrão a metodologia do trabalho prevê a recomendação para ajustes no processo operacional das ETE, visando a sua eficientização. Tomando como exemplo o tratamento de esgotos com o processo de LA, presumese que a otimização do controle de oxigênio dissolvido nos tanques de aeração possa ocasionar importante redução no consumo de energia utilizada para operar os sopradores que fornecem esse oxigênio. Segundo Steinmetz (2007) o consumo de energia para processos convencionais de lodos ativados com digestão anaeróbia do lodo distribuiu-se 70% para o tratamento biológico, 20% para o tratamento do lodo e 10% para outras finalidades operacionais. A continuidade do trabalho de pesquisa faz parte de um todo maior que pretende analisar a ecoeficiência de sistemas de trata- Saneas | 43 artigo técnico mento de esgotos. Por isso, não se pode pensar em diminuir o consumo de energia prejudicando a eficiência qualitativa do processo como um todo. No presente/futuro pretende-se com base no IQT que avalia na forma de um índice a eficiência do tratamento, a eficiência energética, a eficiência no tratamento e disposição do lodo e a eficiência sócioeconômica, assim como, principalmente com base no indicador de eficiência energética, desenvolver modelos e balanços energéticos visando a utilização do gás produzido em processos anaeróbios na geração de energia ou a utilização de fontes de energia limpa (eólica, solar, etc.). No entanto, para viabilizar este intuito, há que romper fronteiras no pensamento fragmentado vigente junto a alguns órgãos deliberativos onde se define a destinação de verbas para pesquisas. Obter o menor consumo de energia elétrica depende do planejamento das instalações, de sua implantação e principalmente, da operação eficiente do sistema. A pesquisa e procura por dados operacionais em ETEs mostrou uma descontinuidade na análise de parâmetros, em sua inconsistência e no período operacional e dificuldades por parte dos operadores das ETES em sensibilizar os gestores para a importância dos dados operacionais na avaliação do sistema ou na tomada de decisão. Bohns, F.G. (2008), confrontou padrão de emissão exigido pela legislação ambiental, desempenho e vazão de esgoto afluente informada para o licenciamento ambiental, dentre outros. A pesquisa limitou-se Figura 1: Índice de consumo de energia elétrica por m³ de esgoto tratado para diferentes processos de tratamento de esgoto. Figura 2: Índice de consumo de energia elétrica por carga de DBO5 removida. (kWh/kg DBO5 removida). 44 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008 artigo técnico a análise de três desses parâmetros: fósforo (P), nitrogênio (N), por estarem associados a eutrofização de mananciais e proliferação de algas azuis (cianobactérias autotróficas) e matéria orgânica (medida através dos parâmetros DBO5 ou DQO). Uma constatação sobre os dados analisados nos mostrou que os valores atendem a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA N° 357, a qual foi provisoriamente flexibilizada, para viabilizar ambientalmente obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Saneamento. Este episódio ratifica a observação de que Estação de Tratamento Figura 3 – Emissão de fósforo para ETEs por faixa de vazão. de Esgotos é igual a ETE, o que sabemos pela (Fonte: Bohns, F.G., 2008) diferença tecnológica e eficiência que não corresponde à realidade. Assim, reafirma-se o entendimento de que é preciso Contudo, se os dados analisados por reavaliar as tecnologias adotadas no tratamento de esBohns, F.G. (2008) forem confrontados com a Resogotos sanitários, assim como, empreender a gestão dos lução do Conselho Estadual do Meio Ambiente - Consistemas de esgoto sanitário, principalmente no que se sema N° 128, a qual é mais restritiva que a CONAMA refere à obrigatoriedade das ligações de esgoto, para que N° 357, as ETEs analisadas não atendem ao padrão de a construção de ETEs se justifique ambiental, sanitária e emissão exigido para o parâmetro fósforo. A figura economicamente. É provável que com o incremento de 3 representa a concentração de fósforo na saída das esgotos em vazão e concentração nestas ETEs na medida ETES, por faixa de vazão. que o tempo avança em direção ao horizonte do alcance Na figura 3 representou-se no formato tracejado o do projeto ofereçam valores no efluente superiores ao padrão de emissão recomendado pela Resolução CONatual padrão exigido nas normas técnicas. Isto, juntaSEMA N° 128. Exceto para a ETE Rosário do Sul, que 3 mente com a necessidade de remoção de nutrientes se enquadrou na faixa compreendida entre 2.000 m / 3 como o nitrogênio e o fósforo, ensejará um “up-grade” dia e 10.000 m /dia, as demais ETES deverão ser operatecnológico nas ETEs, um maior controle por parte dos das respeitando o padrão de emissão de fósforo para 3 agentes ambientais e operadores dos serviços de esgoto vazões acima de 10.000 m /dia. e uma inserção educacional da população usuária para Alguns dados da tabela 1, tomando como referência compreender os propósitos da implantação de sistemas a relação DBO5 DQO afluente, sugerem a diluição do do esgotamento sanitário com tratamento. esgoto sanitário por águas pluviais ou vice-versa, o que operacionalmente para uma ETE projetada representa uma baixa taxa de aplicação, o que favorece o atendimento do limite de emissão estabelecido. É provável que este seja o motivo pelo qual na figura 3 e na tabela 3, nas ETEs LE1 - Santa Cruz do Sul e LE3 - Rosário do Sul se tenha atendido o padrão de emissão estabelecido pela CONSEMA N° 128. Também na tabela 3 a população atendida pelas ETEs é bastante inferior à capacidade de atendimento populacional projetado. Portanto, não estariam nossas ETEs sendo projetadas sem considerar as etapas de implantação recomendadas ou desconsiderando a realidade local e cultural? outubro / novembro / dezembro | 2008 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Os índices de consumo de energia verificados nas ETEs pesquisadas situaram-se entre 0,048 e 0,686 kWh/m3 de esgoto tratado. ETEs com valores acima do valor de referência estipulado de 0,2 kWh/m3 de esgoto tratado ensejam uma análise visando incrementar a eficiência energética. Constatou-se haver uma relação entre o tipo de processo LE, LA, LW ou LE/BI, a eficiência do tratamento de esgotos e o consumo de energia. Para alcançar o padrão de emissão estabelecido pelas normas o consumo de energia tenderá a valores significa- Saneas | 45 artigo técnico Tabela 3: Concentrações médias. Dados operacionais em ETEs. (Bohns, F.G., 2008). ETE(2) Vazão de projeto Vazão Percentual média atendim. atual (2007) Populac. DBO5 afluente DBO5 efluente DQO efluente P efluente N total efluente L/s L/s % mg/l mg/l mg/l mg/l mg/l LE/LI 165,0 116,0 70,30% 152,50 14,38 84,88 2,88 5,27 LE1 117.4 28,0 23,85% 63,49 23,06 89,50 1,18 8,66 LE3 60,0 9,0 19,53% 67,00 9,29 31,76 0,83 3,20 LE4 149,0 29,1 14,31% 83,00 33,00 119,00 2,80 18,50 LE5 216,0 30,9 15,00% 23,70 8,14 98,57 1,78 4,43 LA1 444,0 300,0 67,57% 171,00 16,00 ND 1,2 12,00 LA3 260,0 58,0 22,31% 130,00 14,33 89,11 1,91 11,53 (2) – abreviaturas descritas na tabela 2. * Fonte: Cardoso, 2007, p. 45 tivamente maiores, daí a importância do seu controle automatizado e permanente através de indicadores. Dentre as ETEs analisadas a quase totalidade não atende ao padrão de emissão exigido pela Resolução CONSEMA N° 128 para o parâmetro fósforo. Além disso, é significativo o número que opera abaixo da capacidade inicial de projeto (vazão e concentração), devido à inexistência das ligações domiciliares ou devido à diluição dos esgotos através de água de infiltração ou águas pluviais. Esta constatação associa baixa eficácia operacional onerando o padrão de consumo energético. É preciso abrir portas para o futuro. De relevância científica, além do consumo racional de energia, será o desenvolvimento de pesquisas para estudar a utilização de fontes de geração de energia limpa como: a energia eólica, solar, o reaproveitamento do gás metano na geração de energia e a produção de hidrogênio como fonte de energia. Espera-se assim obter um balanço energético orientado ambiental e economicamente. Pesquisar e desenvolver estas alternativas e empreender tecnologias visando a redução de perdas de água e o uso eficiente de energia elétrica significará empreender uma nova cultura de projetos sustentáveis para os sistemas de abastecimento de água e os sistemas de esgoto sanitário. A diluição dos esgotos por meio de ligações irregulares de águas pluviais e as elevadas perdas de água nos sistemas de abastecimento de água, elevam significativa- 46 | Saneas mente o volume de líquido (esgoto misturado com água ou águas pluviais) a ser bombeado através do sistema de esgotamento sanitário e nas ETEs, elevando os custos com energia elétrica pela potência demandada e consumida dos motores instalados ao longo do sistema. a necessidade de remoção de nutrientes como o nitrogênio e o fósforo, ensejará um “up-grade” tecnológico nas ETEs, um maior controle por parte dos agentes ambientais e operadores dos serviços de esgoto e uma inserção educacional da população usuária para compreender os propósitos da implantação de sistemas do esgotamento sanitário com tratamento. Os caminhos para a gestão sustentável dos SES passam pela utilização adequada da tecnologia e o planejamento das ações. Não se recomenda a flexibilização da legislação ambiental para atender interesses políticos. De forma sistêmica e integrada, o planejamento de ações como os programas de eficiência energética e programas de ampliação do tratamento de esgotos e sua ecoeficiência se apóia nas tecnologias afins. Por fim, recomenda-se o apoio à pesquisa em rede para este tema, cujos investimentos significarão maior eficiência energética dos sistemas de esgotamento sanitário com tratamento, assim como menores impactos ambientais e econômicos, promovendo verdadeiramente um processo de desenvolvimento sustentável. outubro / novembro / dezembro | 2008 “Causos” Editorialdo sanEamEnto causO quEro-quEro, FuTEBol E SABESP. quANTA coNFuSão! POR EDSON SANTANA BORGES O ano de 1993 foi um ano conturbado, de muito trabalho proveniente de mudanças que vinham acontecendo desde 1991, quando, depois de 16 anos de Superintendência de Manutenção (SMA) fui designado para assumir o Departamento Distrital da Mooca que, na época, englobava as antigas regionais Mooca e Penha. Era um período de reestruturação da antiga Diretoria de Operação (DO) e surgimento da M. Eu e toda a equipe vínhamos recebendo orientações, através de seminários e outros eventos, de como seria nosso trabalho. Estávamos começando uma vida nova na Empresa, com mais de 100 gerentes remanejados de uma só vez. Eram muitas as novidades, muitos os problemas, muito a fazer. No departamento, éramos responsáveis por tudo: desde o atendimento ao público nas Agências, até as grandes adutoras, interceptores, elevatórias e reservatórios. Estava decretado o fim das atividades por especialização. Até orientações sobre o fato de que era uma área com fortes lideranças sindicais, como atuavam e os problemas que provocavam nos eventos rotineiros das greves, nos passaram. E quem poderia imaginar que em meio a tantas mudanças e tanto trabalho, haveria um problema que não foi informado por ninguém? Um problema que mereceu atenção especial e envolvimento de toda a equipe. Ninguém havia nos informado da existência de problemas envolvendo um campo de futebol sobre o reservatório. Apesar de condições de manutenção não muito boas, com grama quase inexistente, o campo era muito solicitado por outras áreas da Sabesp e clubes da região. A questão é que um desses clubes achava que deveria ter vantagens sobre os outros por conta da diretoria ser muito ligada a um deputado de São Paulo, enquanto os funcionários locais pleiteavam o campo só para eles. Estava montado o cenário para muitos desentendimentos. Para que fosse possível alguns momentos de sossego, vez ou outra, inventávamos a necessidade de deixar a grama se espalhar para a recuperação do campo e, com isso, fechávamos o campo por até seis meses. Enquanto isso, na Sabesp... ... Filas enormes nas Agências, 75% da população de São Paulo em rodízio eventual ou permanente, e funcionários sendo ameaçados por populações inteiras que os mantinham presos nos locais onde faltava água. Em outubro / novembro / dezembro | 2008 meio a toda essa turbulência, ainda tínhamos que participar de reuniões para discutir o uso do campo de futebol. Era o fim do mundo! Precisávamos urgente de uma solução! E ela apareceu sob o nome de Quero-Quero. Eram alguns casais de pássaros (no interior são conhecidos como Deve-Deve) que habitavam o campo nas horas vagas. Mas o fato é que apareceu um ninho com dois ovinhos no meio do campo. Todos sabiam que se alguém colocasse as mãos nos ovos (nos ovos dos pássaros!), eles os abandonariam. Então, os funcionários da oficina tiveram a idéia de afastar os ovos aos pouquinhos. Todo início de noite, quando já escuro, eles iam ao local e, com um sarrafo, empurravam os ovos por cerca de 1,50m, tentando retirá-los do campo para não prejudicar o campeonato que estava em curso. Mas os ovos quebraram, e os amantes do futebol vibraram. Mas os bichinhos eram teimosos e, dias depois, novamente dois ovos no meio do campo! A notícia correu. Enquanto uns queriam que os ovos quebrassem, outros pregavam a preservação da futura geração. Foi quando, para evitar maiores problemas, chamei os envolvidos e contei uma história: “Pelo desmatamento atual e crescimento desordenado das cidades, sem a preservação de áreas verdes, os pássaros já não tinham espaço e estavam entrando em extinção. Era preciso preservar”. E decretei: “O campeonato está suspenso até que os pássaros nasçam, cresçam e voem”. De um lado, revolta. De outro, vibração, alegria. Os representantes do tal deputado vieram protestar, mas prevaleceu a responsabilidade com a vida de dois seres vivos e a preservação ambiental. Por fim, nasceram. E em uma coisa todos concordavam: eram lindos! Enquanto a fêmea chocava os ovos, a grama cresceu, permitindo que os pequenos seres que haviam acabado de nascer se protegessem de predadores - gatos e homens. O apego com que os funcionários da Mooca cuidavam para que nada de mal acontecesse aos filhotes era impressionante. Assim, a história teve um final feliz: os pássaros cresceram e voaram, sem esquecer de voltar toda tarde para nos fazer uma visita. Mas, antes disso, um dos filhotes foi seqüestrado! Só que isso é outra história...para outro capítulo.... SaneaS | 47 PALAVRA DE AMIGO “Só tenho boas coisas para falar de um chefe humano e amigo, como Sylvio” Por Dirce Sgorlon Rascado Às vezes, a gente olha para o passado e depara com pessoas que marcaram as nossas vidas de uma forma muito positiva, principalmente nas épocas difíceis. Minha viagem no tempo vai para meados de 1975, quando passei a trabalhar como secretária na Sabesp Guarapiranga, na Divisão de Manutenção de Hidrômetros. Quem trabalhou na Sabesp naquela época, deve se lembrar da linha dura imposta aos empregados, que geralmente não podiam questionar ou discutir uma ordem. A opção era acatar ou acatar. Portanto, chefe novo era sempre motivo de temeridade, daí a grata surpresa em me tornar secretária do Eng. Sylvio Ribeiro Leite. Seu jeito de expor com calma, sempre sorrindo, as dificuldades inerentes ao trabalho, era uma raridade no meio. Mas, além disso, ele demonstrava valores que nos tornaram muito próximos: a honestidade, a compreensão, a esperança em dias melhores e, sobretudo, o respeito pelas nossas verdades tanto nas questões profissionais, quanto nas pessoais. Sylvio se envolvia de forma muito humana com os empregados. Trazia para nós até pães e docinhos muito gostosos, feitos por sua esposa Marlene. Bem, acho que ele sabia que eu morava sózinha no centro de São Paulo e entrava às 7 horas da manhã no Guarapiranga, sem horário fixo para regressar, chegando em casa muitas vezes após à meia noite. Tanto sabia, que lamentava junto comigo o fato de eu não conseguir estudar, pois secretária só podia ir embora do trabalho depois da saída de todos os chefes. Faz parte das minhas boas lembranças de amiga, que em quase todos os dias, antes de entrar para sua sala, ele cochichava uma piada ao meu ouvido e, nas festas de fim de ano, se reunia com seu pessoal operacional em um boteco das proximidades do Guarapiranga (era o único chefe participante) e, entre umas e outras, cantava músicas da MPB, as quais sabia a letra de todas, até das menos conhecidas. 48 | Saneas Sabia que esse era o Sylvio: bom chefe, bom amigo, bom pai de família, sempre falando da Marlene e de seus três filhos, além de ser um exímio esportista. Sabem que ele já foi convidado para ser treinador de volei em Portugal? Esse era o Sylvio: bom chefe, bom amigo, bom pai de família, sempre falando da Marlene e de seus três filhos, além de ser um exímio esportista. Sabia que ele já foi convidado para ser treinador de volei em Portugal? E para ele, que mais uma vez deu a volta por cima ao se reestabelecer de sérios problemas de saúde no ano passado, desejo toda a felicidade do mundo, que continue gozando de boa saúde e sempre presente nos eventos sócio-culturais promovidos na AAPS e na AESabesp, nos brindando com aquele sorriso nos lábios, como era seu hábito desde os tempos do nosso Grêmio no Guarapiranga. outubro / novembro / dezembro | 2008 Editorial PARTICIPE DA PRÓXIMA EDIÇÃO! EXPO CENTER NORTE - PAvIlhÃO AMARElO 12, 13 E 14 DE AgOSTO DE 2009 Fenasan e Encontro Técnico Aesabesp há 20 anos contribuindo para o desenvolvimento do saneamento ambiental no Brasil e no mundo. FENASAN 2009 XX FEIRA NACIONAL dE sANEAmENtO E mEIO AmbIENtE XX ENCONTRO TÉCNICO AESABESP Promoção AESABESP outubro / novembro / dezembro Associação dos Engenheiros da Sabesp Patrocínio | 2008 SaneaS | 49 editorial 50 | Saneas outubro / novembro / dezembro | 2008
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