Acontece - Curso de Jornalismo Mackenzie

Transcrição

Acontece - Curso de Jornalismo Mackenzie
Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras
Publicação feita pelos alunos do 2º semestre de Jornalismo
Edição nº 64
Maio 2008
Ano V
Alargar é preciso?
O Acontece discute o rito indígena ancestral
que se tornou moda entre os jovens
4
Bebida e
universitários
combinação
explosiva
6
Gordura trans
um mistério
na culinaria
9
Inocente?
LSD e Extasy
podem causar
danos sérios a
saúde
10
Segurança
na “porta” do
Mackenzie
E
Editorial
sta nova edição do Acontece é especial. Justamente porque se atenta
aos problemas de você - jovem
leitor do Mackenzie.
Nossa primeira matéria fala
dos polêmicos alargadores de
orelha, um hábito cultural originário dos povos da Amazônia.
Não menos polêmico é o problema do alcoolismo entre os jovens, que é generalizado em toda
a sociedade brasileira.
A gordura trans, tida inicialmente como um achado da indústria alimentícia, é vista hoje como
vilã da alimentação saudável.
A matéria “terapia acessível a
todos” fala das opções de tratamento psicológico gratuíto em
clínicas universitárias. Que podem tratar, inclusive, seqüelas
dos usuários de LSD. Conhecida
como droga do amor, mas que
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretora: Esmeralda Rizzo
Coordenador: Vanderlei Dias de Souza
Acontece
Editor: André Nóbrega Dias Ferreira
Projeto Gráfico: Renato Santana
Diagramação: Mário de Andrade
tem efeitos devastadores atrás
da aparente inocencia dos comprimidos.
Os, infelizmente, mais que freqüentes roubos nas proximidades das universidades do bairro
de Higienópolis, a precariedade
do trensporte público na capital,
também são matérias relevantes.
A dura questão do estágio que não
coloca os alunos en funções nnao
condizentes com a carreira escolhida não poderia faltar no jornal.
O jornal também traz matérias
mais leves, como a que retrata a
feira da Praça da República, com
décadas de história. Já a Bola de
Neve Church, acabou se tornando a Igreja Evangélica que mais
cresce entre os jovens. Ou você
nunca reparou nos adesivos nos
carros que ficam na sua frente
em um congestionamento?
Desejamos boa leitura a todos.
Repórteres
Annie Shioli; Bianca de Souza; Celina
Rodrigues; Daniel Resende Laviano; Gabriella; José Guilherme; Juliana Leal Conte;
Maria Amélia Gama; Marta Mitsunaga;
Matheus Mussolin; Natália Karpischek;
Priscila Asche; Ruan Segretti; Tainah Medeiros; Vanessa Saraiva Marinelli.
Jornal Laboratório dos alunos do segundo
semestre do curso de Jornalismo do Centro de
Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientados pelo professor André
Nóbrega Dias Ferreira, jornalista, MTB n° 26514.
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Impressão: Gráfica Mackenzie
Tiragem:300 exemplares
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Alargadores de orelha
A tradição indigena que criou sua própria tribo urbana
A
Foto:Bianca de Souza
o contrario do que muita
gente pensa o alargador não
é um adereço inventado
na
contemporaneidade,
usado
exclusivamente pelos jovens dos
grandes centros urbanos. Ele teve
origem nas tribos indígenas, ainda
hoje usado. Os índios Kayapó,
tribo localizada na região do Pará,
acreditam que a capacidade de se
ouvir melhor e entender a linguagem
é adquirida ao se fazer um buraco
na orelha de alguém. Os bebês, de
ambos os sexos, têm suas orelhas
furadas e à medida que crescem o
buraco é aumentado com alargadores
de madeira, até atingir dois a três
centímetros de diâmetro.
Quando
os
portuguêses
chegaram ao Brasil, encontraram,
na região que se estendia da Bahia
ao Espírito Santo, alguns grupos
indígenas que se destacavam
pelo uso de grandes discos de
madeira nos lábios e nas orelhas.
Estes grupos foram batizados de
Botocudos. Seus ornamentos eram
Pedro exibe orgulhoso sua orelha
com um furo de mais de 46 mm de
diâmetro
feitos da madeira extraída da árvore
“Barriguda” (Bombax ventriculosa).
Depois de cortada, a madeira era
desidratada no fogo e eram usados
pelos homens, mulheres e até pelas
crianças.
Hoje, nas cidades, o procedimento
para a dilatação das orelhas requer
maior cuidado, são usados somente
materiais descartáveis. Há lugares
especializados na aplicação dos
alargadores, chamados de estúdios e
podem ser facilmente encontrados em
São Paulo.
Na Galeria do Rock, localizada
na região central da cidade, Pedro
Nascimento, 20 anos, que é body
piercing (termo utilizado para
designar as pessoas que colocam
os alargadores), falou sobre a
prática.
Acontece: Há quanto tempo você
trabalha como body piercing?
Pedro Nascimento: Quando
eu tinha doze anos estudava em
um colégio interno em Brasília, lá
eu tive uma disciplina chamada
Biomedicina, matéria que tive por
dois anos. Eu tenho um primo que
morava na Holanda, quando ele
voltou ao Brasil trouxe a idéia de
piercings e tatuagens, me contou
sobre a moda que isso era na
Europa e deu a idéia de montarmos
um estúdio aqui. Foi então que
abrimos um na Galeria do Rock,
isso há aproximadamente cinco
anos.
Acontece: Há quanto tempo o
alargador virou moda?
Pedro Nascimento: Moda há
mais ou menos dois anos, mas a
cultura é valorizada há mais de 20
no exterior.
Ac: Quais são os tamanhos mais
pedidos ?
Pedro: 2, 4, 6 e 12 milímetros são
os mais pedidos.
Ac: Qual é a média de dilatações
que você faz por dia?
Pedro: De quatro a cinco por dia.
Ac: Como é feita a perfuração?
Pedro: Passe-se vaselina em um
pequeno cone, na ponta maior do cone
fica a jóia (que pode ser feita de aço
cirúrgico, titânio ou PTFE). Depois
que o cone atravessa toda a orelha,
retiro o cone e fica apenas a jóia.
Acontece • Página 3
azuoS ed acnaiB :otoF
Bianca de Souza
Matheus Mussolin
Pedro Nascimento body há aproximamente cinco anos
Ac: A partir de quantos milímetros
já
não ocorre à cicatrização
naturalmente?
Pedro: Até dez mm cicatriza-se
sozinho, mais do que isso é necessária
a intervenção cirúrgica. É feita uma
raspagem no furo de orelha e dão-se
os pontos necessários.
Ac: Qual é o índice de infecção
ao qual procedimento expõe o
“paciente”?
Pedro: São muito grandes os riscos
de infecções e formação de quelóides
se não forem tomados os devidos
cuidados, a maioria das pessoas
põe a mão na orelha logo após a
dilatação, isto aumenta as chances de
inflamação. Mas se forem tomados os
devidos cuidados o risco é baixo. O
uso de anti-sépticos é indispensável.
Ac: Pedro você sabe qual é a
história do adereço?
Pedro: Sei que a existe uma tribo
chamada Botocudos que cultiva a idéia
de que quanto maior é o alargador
maior é a hombridade do homem.
Alguns Pajés chegam a usar mais de
120 milímetros.
Alcoolismo na juventude: um assunto polêmico Cada vez mais cedo jovens estão ingerindo bebidas alcoólicas
Celina Rodrigues
Ruan Segretti
U
ma cerveja no fim de tarde complementado por
um papo animado com os
amigos é algo que quebra a rotina
do dia. Porém, a bebida tornou-se
um problema social que tem tirado o sono de muitos pais de família, pois grupos de jovens de ambos os sexos, a maioria de famílias
com boas condições financeiras,
dirigem-se aos bares perto se suas
universidades ou a qualquer outro,
cujo principal intuito é atingir a
embriaguez.
Muitos se vangloriam ao dizer
saber beber por não terem ressaca
no dia seguinte, outros dizem estar
“loucos” para tomar “umas” para
tirar o stress. Em parte, a culpa é
da publicidade, que ao final de suas
propagandas não mostram uma
pessoa embriagada, mas usam lindas mulheres monstrando que após
a ingestão da bebida começa a diversão.
Porém, o consumo não é apenas estimulada pelas propagandas,
a influência que os adolescentes
sofrem de seus pais que bebem é
um grande fator. Os jovens querem aparecer e fazerem parte de
uma sociedade em que a diversão
está sempre acompanhada do uso
do álcool. “Existem muitos outros
modos de os jovens se divertirem
sem se prejudicarem. Eles encontram na bebida uma forma de descontração para aliviar as tensões”,
afirma a estudante de jornalismo
R.G.S., que pediu para ser identificada apenas pelas iniciais, que
bebe socialmente.
Se a pessoa não bebe é tratada como um ser de outro planeta
que, para muitos, não tem momentos felizes e não aproveitam a
vida. “Acredito que essa seja uma
consideração parcialmente sem
sentido, pois a vida não deve ser
aproveitada apenas em função da
bebida. Ela pode até ser uma forma de diversão e de ‘libertação da
timidez’ encontrada por alguns,
mas não deve ser o fator principal,
já que cada situação que passamos
merece uma atenção especial [...]
A cerveja é a bebida mais consumida pelos universitários
Acontece • Página 4
devemos aproveitar a vida com
consciência, sabendo o que fazemos com total responsabilidade e
encontrando a forma mais saudável desse aproveitamento” opinou
a estudante de jornalismo Karine
que não bebe.
Os adolescentes estão entrando no vício do álcool cada vez mais
cedo. Nas décadas de 80 e 90 a
média para provar qualquer bebida alcoólica, estava entre os 14 a
15 anos de idade, hoje a média está
entre os 10 a 11 anos, quando seus
organismos ainda estão em fase de
formação e não tem consciência das
conseqüências graves que ela pode
causar.
Diversas são as hipóteses para
justificar o crescimento do consumo de bebidas alcoólicas entre a
juventude, a falta de diálogo em
casa, as mínimas opções culturais
na cidade, as frustrações decorrentes de um alto nível de exigência
social, o abandono de hábitos saudáveis etc.
O grande problema está quando
a bebida soma-se ao volante de um
carro. Levando-se em consideração que os efeitos do álcool sobre
os motoristas tornam os reflexos
retardados, coloca a vida em
perigo não só dos que estão
alcoolizados, como também
dos conscientes que transitam pelas mesmas ruas com
o risco de que sejam vitimados por aqueles irresponsáveis.
Outro problema é o fato
de que pessoas que costumam
beber demais estão predestinadas a tornarem-se dependentes causando sérios problemas de saúde, como por
exemplo, a cirrose hepática,
uma das doenças mais comuns provocadas pelo alcoolismo.
É importante que haja
consciência sobre a moderação na ingestão do álcool, pois
uma única atitude irresponsável pode causar sofrimento
em pais desesperados, destruir sonhos e o que se tem de
mais importante, a vida.
Diversão e cultura no centro de SP
Foto: Sílvio Abravanel
Feira da Rebública atrai pessoas de todas as idades
Matheus Mussolin
Bianca de Souza
O
local onde hoje é conhecido
como Praça da República
também já foi chamado de
Largo da Palha, Praça dos Milicianos,
Largo Sete de Abril, Praça 15 de
Novembro e somente em 1889 fixouse o nome Praça da República.
Lá funciona desde 1956 uma
feira de artesanato. As pessoas que
deram origem à feira foram alguns
colecionadores de selos e moedas
antigas que se reuniam para trocar
esses objetos. Hoje, podem ser
encontrados muitos artigos, desde
decorativos,
bijuterias,
redes,
quadros, camisetas, incensos, até
uma variada praça de alimentação,
com comidas típicas de vários lugares
do mundo.
Em 1997, na administração de
Celso Pitta, a feira foi deslocada
para a Avenida Tiradentes, lá não
conseguiu a mesma fama. Em 2001,
no mandato da então prefeita Marta
Suplicy a feira voltou à Praça de
República.
A característica mais marcante
do evento é que todas as peças são
fabricadas pelos próprios vendedores,
eles são artesãos e não camelôs
como muitas pessoas pensam. E
vêem de vários países, como Chile e
Peru. Este evento não atrai somente
profissionais, mas também turistas.
Segundo Carmelo Munoz Cardoso,
expositor desde 1969, a feira já é
reconhecida mundialmente e faz
parte do roteiro turístico de São
Paulo.
Há uma enorme variedade de
materiais utilizados na confecção
dos produtos, que vão de prata a
latas de alumínio. Para facilitar as
compras os produtos são separados
por matéria prima, as bancas são
montadas de acordo com o produto
que irá vender. Muitos são feitos ou
adaptados na hora, como pulseiras
e colares que levam o nome do
comprador.
Na área de alimentação há muita
variedade de doces e salgados, “
o acarajé é excelente” diz Silvia
Martins “freqüento a praça há
Barraca tradicional da Feira da Praça República
muitos anos”, completa. Até mesmo
os animais são permitidos no
local, detalhe que agrada á muitas
pessoas.
Para expor suas peças é necessário
uma autorização da prefeitura. Os
profissionais interessados são tantos
que há um revezamento, quem expõe
aos sábados não expõe aos domingos.
Os artesãos se queixam dos
ambulantes que vendem mercadorias
de origem duvidosa na Rua 25 de
Março, e dizem que os shoppings da
região, junto com as grandes lojas,
prejudicaram, e muito, nos últimos
anos as vendas de suas obras. Pois
facilitam a forma de pagamento.
Apesar das queixas, alguns deles já
se adaptaram à situação e aceitam
cartões de débito automático. “No
Brasil, não se dá valor aos produtos
artesanais como na Europa”, observa
Didicaz Gonzalvez, uma artesã
chilena que já expôs também em
países europeus.
Segurança é um fator importante
na hora do lazer, e apesar da região
ser considerada de baixa segurança
a poucos metros da concentração da
feira há uma base da Polícia Militar
e circulam entre as barracas alguns
seguranças particulares. A prefeitura
instalou câmeras de segurança na
Praça, dados mostram que, desde
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então, inicio de 2007, o índice de
criminalidade caiu 15% nos primeiros
seis meses de uso.
Mas esta aparente sensação de
segurança não atinge toda a região
do centro velho, cuidados extras com
pertences são sempre necessários,
pois o evento é realizado sempre
aos finais de semana das 9h as 17h,
quando há uma redução na circulação
de pessoas pelas ruas. A estação de
metrô, República, facilita a chegada
no local.
vendedora em sua barraca
A Traiçoeira da dieta
Tainah Medeiros
Gordura trans está presente na maior parte dos alimentos da dieta do jovem brasileiro
Priscila Asche
Tainah Medeiros
A
Gordura Trans começou a
ser usada em larga escala a
partir da década de 80, com
o objetivo de aumentar o prazo de
validade dos pontos, a consistência
e a melhorar o sabor dos alimentos.
Em meados da década de 90 estudos desvendaram que esse tipo de
gordura é extremamente prejudicial
à saúde, podendo ser mais maléfica
que a gordura saturada. A principal
preocupação com relação à ingestão
dessa gordura deu-se a demasiada
quantidade de produtos que são consumidos diariamente pela população
com alto teor desta.
Sendo um dos componentes fundamentais para a dieta humana, a
gordura possui a função de fornecer energia e contém ácidos graxos
vitais que não são produzidos pelo
organismo humano, como o linoléico e o linolênico. Entretanto, a
gordura Trans (hidrogenada), assim como a saturada, desenvolve
o efeito inverso, sendo prejudicial
à saúde. O nome “Trans” deriva de
transversa, pois é produzida por
meio de um processo de modificação dos ácidos graxos insaturados
adicionando hidrogênio na insaturação, de maneira a transvertê-los
em gorduras grossas e plásticas. O
resultado é um produto mais crocante, sequinho, fofo que em condições ambientes normais seriam
impossíveis. Ela pode ser encontrada em produtos como: margarinas, biscoitos, bolachas recheadas,
salgadinho de pacote, pipoca de
microondas, sorvetes, alimentos
industrializados e congelados, pães
de forma, macarrão de preparo rápido, achocolatados prontos, batata
frita tanto de pacote como de fastfood, etc.
O mesmo feito que essa gordura
promove no produto, também ocorre no organismo de quem as consome em doses diárias exageradas, ou
seja, assim como desenvolve consistência nos alimentos ela enrijece
os vasos sanguíneos impedindo a
Alimentos que contém gordura trans em sua composição nuticional
circulação normal do sangue. Isso
ocorre devido às alterações que a
ingestão da mesma desenvolve nos
índices de colesterol do indivíduo,
afinal, aumenta o mau colesterol
(LDL) e diminui o bom (HDL), o que
possivelmente pode gerar lesões nas
artérias.
Segundo a nutricionista Stella Pinto Freire, especialista em reeducação
alimentar, o ideal é consumir no máximo 2g de gordura Trans por dia e
estar sempre atento às informações
nutricionais dos produtos, principalmente na adição de gordura hidrogenada –tipo de gordura trans produzida industrialmente. Ela também
aconselha a evitar o consumo diário
de alimentos industrializados.
Diante de uma produção desenfreada destes produtos, é necessário
prestar uma maior atenção aos hábitos alimentares dos jovens, que estão
diretamente expostos a uma exploração comercial intensiva ocasionada
por uma parcial independência alimentar. Isso é, por possuírem uma
recente liberdade alimentar, distante
da supervisão dos pais adotam uma
dieta menos nutritiva, mais rápida, industrializada e aparentemente
mais apetitosa, oferecida pelos locais
Acontece • Página 6
onde costumam freqüentar, como por
exemplo, shoppings, escolas e faculdades.
De acordo com Carolina dos Santos, administradora da lanchonete
Boulevard, situada no terceiro andar
do prédio de Comunicação e Letras
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, esses fatos podem ser concretizados diante da alta procura por
alimentos gordurosos e industrializados em sua cantina, ressaltando que
mesmo com opções nutritivas e saudáveis, os produtos naturais e de baixa caloria oferecidos no cardápio não
são escolhidos pelos alunos, que freqüentemente optam pelos alimentos
industrializados com maior teor da
“má” gordura, devido à agilidade com
que são consumidos e sensação de saciedade que oferecem. Carolina ainda
lamenta o insucesso na tentativa de
trocar alguns ingredientes dos produtos mais vendidos para outros mais
salutares: “tentamos trocar a farinha
branca pela integral, para tornar os
produtos mais saudáveis, mas não foram bem aceitos. Alguns testes estão
sendo feitos e se os alunos tiverem sugestões, serão bem-vindas!”, mas ela
logo adianta: “poucos alunos se interessam por comidas saudáveis”.
Terapia psicológica acessível a todos
pacientes de diversas faixa etárias.
    Os estagiários da clínica são aluJuliana Leal Conte
nos do último ano de Psicologia,
Vanessa Saraiva Marinelli
que já possuem  permissão de atender pacientes sob orientação, a fim
rocurar um psicólogo, há algu- de adquirir experiência. Existem
mas décadas atrás, era visto, grupos de docentes
supervisores
geralmente, de forma precon- que se reúnem semanalmente com
ceituosa. Pessoas poderiam ser rotu- os alunos para discutir e trabalhar
ladas como loucas ou até mesmo ricas. em cima dos problemas apresen    Atualmente, o cenário se modificou,  tados pelos pacientes nas sessões.
uma vez que existem clínicas acessí-     Plínio Carpigiani, estagiário
veis e até mesmo
do décimo semesgratuitas em várias
tre, diz que  ‘um
partes da capital.
dos pacientes “de    O Instituto Pressistiu no meio do
biteriano Mackenzie
processo. A causa
possui desde 1994
poderia ter sido miuma clínica psiconha, não sei; ou enlógica que atende
tão falta de empatia
tanto os próprios
mesmo’’.
Alguns
estudantes do campacientes atendidos
pus quanto a comumostram-se, muitas
nidade.
Basta
vezes, preconceituapenas preencher
osos, uma vez que
uma ficha e aguaros atendentes não
dar retorno para
possuem diploma.    
fazer uma entrevista de triagem. Se-     Carpigiani retrata que a clínica
gundo a supervisora chefe do local, trabalha com consultas breves, o traSandra Lopes, só no ano de 2007 tamento dura de um a dois anos, “ é
foram atendidas 16.993 pessoas e complicado trabalhar com tempo pré
destes atendimentos, encontram-se determinado, nós temos que ir direito
Vanessa Marinelli
Clínicas de Instituições Partivulares atendem pessoas gratuitamente
P
Juliana Leal Conte
‘‘Só no ano de
2007 foram atendidas 16.993 pessoas e destes atendimentos, encontram-se pacientes
de diversas faixa
etárias’’
Carpigiani, um dos estagiários da Clínica do Mackenzie
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Sandra enfatiza que todos tem
o direito de ser atendidos ,
inclusive os alunos
no foco do problema, não dá para dar
muito ênfase em outros conflitos que
surgem no decorrer das sessões”.
Sandra Lopes salienta que os alunos do próprio curso assim como seus
familiares próximos, também possuem
o direito de serem atendidos, contudo,
isto não pode ocorrer na clinica, já que
se constitui falta de ética. “Por isso o
POA (Programa de Orientação ao Aluno) foi criado em 1998, para atender
a esses estudantes que precisam em
primeira instância estar seguros de si
para poder orientar os pacientes”.
A clínica não possui recursos de
atender pacientes de casos psiquiátricos e psicanalíticos, desta forma estes são encaminhados para alunos já
formados que possuem condições de
tratá-los, a preços simbólicos. Além
disso, o centro possui convênio com
alguns principais hospitais da região,
como o Hospital Paulistano, Avicena,
Cândido Fontoura
Com o aumento da demanda de
pacientes, o prédio antes instalado na
Maria Antônia, mudou-se no mês de
Abril para a Rua Piauí. Cerca de 325
pessoas aguardam o atendimento.
Plínio ressalta que possui dois pacientes no momento, um de 15 e outro de 64 anos. “É muito gratificante
atender essas pessoas, aprendo muito.
Além de ser fundamental para minha
formação, estou ajudando de certa
forma algumas delas viveram melhor
consigo mesmas”.
Bola de Neve Church,uma igreja diferente!
Igreja Evangélica alternativa ajuda na recuperação de dependentes químicos
Foto: Sílvio Abravanel
Gabriella
José Guilherme
A
Bola de Neve Church é uma
instituição que provome
vários
projetos
sociais
como ajuda às mulheres, crianças
carentes, dependentes químicos,
divididos em diversos ministérios,
é uma Igreja Evangélica alternativa,
e seu público é jovem. A missão é
pregar a Ď, resgatar, libertar e
restaurar pessoas através da Bíblia
e da palavra de Deus.
O Ministério Nova Vida é um
destes projetos, foi criado em
2001 pelo Apóstolo Rina, Pastora
Denies, Kid e Queila, e visa ajudar
dependentes químicos e os codependentes, seus familiares. Eles
estabeleceram
convênios
com
clínicas de recuperações e promovem
reuniões, muito parecidas com as
do AA (Alcólatras Anônimos).
João Paulo do “NV”, um dos
representantes deste projeto, mais
conhecido como JP, é ex-usuário
de drogas, com as quais conviveu
por dez anos e, agora, está livre
dos entorpecentes há cinco, e seu
testemunho ajuda a tirar outros
viciados deste caminho.
 Acontece: O que difere a Bola de
Neve Church de outras Igrejas?
João Paulo: A palavra de Deus é
pregada igual a da Bíblia, mas o que
difere a nossa Igreja é o público.
É uma galera mais jovem que a
começou, inclusive com um surfista,
mais conhecido como Apóstolo
Rina. Eu pichava os crentes, não
acreditava em religião, nem em
Jesus, eu tinha a imagem de que
os evangélicos usavam terninho,
saião, cabelão e usava a Bíblia de
desodorante. O mais engraçado é
que hoje eu ando com duas Bíblias,
mas o que vale é andar com ela no
coração.
 AC: Como era o JP de antes e o
de agora?
JP: A mudança pode ser rápida ou
não, isso é de cada um. Eu era um cara
muito louco, mas eu mudei. A palavra
de Deus me transformou, mas eu
deixei que isso acontecesse, eu vi que
depois disso é que eu comecei a viver,
comecei a andar de skate, ter amigos
Jovens participam de reunião do Bola de Neve
verdadeiros, ter profundidade nos
meus relacionamentos, coisa que eu
não tinha.
As pessoas olhavam para mim
e eu estava sempre com cara de
lesado, hoje eu durmo rindo e acordo
sorrindo, as pessoas me acham um
cara animado, que corre atrás dos
objetivos da vida, que batalha, e
para isso eu não preciso de droga
nenhuma, eu vou em balada, eu faço
festas em casa,
toco violão com os
meus amigos e é
super divertido.
Eu
tinha
uma
felicidade
aparente, a hora
que eu estava
feliz era a hora
em que estava
me drogando, a
hora que estava
com
aqueles
determinados
amigos é que eu
achava que eu era
feliz hoje estou
contente qualquer
hora.
Há
pessoas
que, pela minha
animação, acham
que sou louco, que uso drogas e eu
sempre respondo: a minha loucura,
hoje, é o Espírito Santo de Deus.
Ser crente não é ser alienado.
 AC: Existe algum pastor que
precisou da ajuda do Nova Vida em
seu passado?
JP: Sim, tem pastores que já
tiveram grandes problemas com
drogas, e se recuperaram com a
palavra de Deus. O Catalau, pastor
em Boiçucanga, participava na
banda Golpe de Estado, dos anos
80, e era viciado,
foi
internado
em uma clínica
psiquiátrica, mas
o que resolveu de
fato o seu problema
com o vício, foi a
religião, Catalau
já cantou com
diversos artistas
famosos
como
Rita Lee, Arnaldo
Antunes e hoje ele
fala que o melhor
de tudo é cantar
com Deus.
Tem
outro
pastor que era
traficante e era
temido em seu
bairro, hoje, ele
chora ao ouvir as
pessoas contar seus problemas, ele
é uma nova pessoa, mais sensível.
Sim, tem pastores que
já tiveram grandes
problemas com drogas,
e se recuperaram com
a palavra de Deus. O
Catalau, pastor [...]
foi internado em uma
clínica
psiquiátrica,
mas o que resolveu de
fatooseuproblemacom
o vício, foi a religião
Acontece • Página 8
O boom do doce
Apesar do ar ingênuo, o ecstasy e o LSD podem causar uma série de danos físicos a seus usuários
Foto: Annie Shioli
Annie Shioli
Natália Karpischek
D
iferente da maconha ou cocaína que precisa de preparo
antes de ser utilizada, o ecstazy é vendido em comprimidos que
não chamam a atenção dos pais, não
deixam cheiro, olhos vermelhos e raramente causam dependência. Agem
“por baixo dos panos”.
Os usuários não precisam ir até
os morros para ter acesso à droga. A
maior parte dos traficantes é de classe média, com curso superior e que
não têm independência financeira.
“Eu tinha acesso à droga em vários
pontos de São Paulo, principalmente em bairros periféricos e de classe
média alta da zona norte. Nós íamos
ao local que estava com as melhores
balas, como a orbital roxa, ou LSD,
como o bike 100 anos”, diz S. F., 18
anos, estudante de ensino superior
em uma instituição privada de São
Paulo e pertencente à classe média
alta, que vendia e consumia ecstasy.
“Vendi poucas vezes, quando tinha em grande quantidade e o interessado era algum amigo ou conhecido. Em geral, o consumidor se
encontra na faixa de 15 a 25 anos.
Acho que as pessoas pensam na viagem que a droga proporciona, não
nos males. O stresse urbano influencia muito no consumo de drogas, a
juventude tem pressa de ser algo
que ainda não tem idade para ser.
E vale frisar que consumo de drogas
não está exclusivamente nas raves
ou baladas, está em casa, na rua, no
bar e instituições de ensino. Não se
vende ecstasy em maior quantidade
próximo ao acontecimento das festas rave. Essas festas estão servindo
como bode-expiatório para problemas de âmbito maior”, afirma.
A psicóloga Janaina Piovesana
Cecílio Capra, formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), afirma que “segundo informações concedidas pela ONU, cerca de
29 milhões de usuários consomem
ecstasy no mundo. Sabe-se que, nas
universidades, jovens preferem ecstasy à cocaína. Essas drogas, antes
Apreensões do ano de 2007 superaram as de 2006 em cerca de 300%
utilizadas na vida noturna de grandes
megalópoles e em festas rave, agora
chegam facilmente até os jovens de
quaisquer cidades e são, inclusive,
ingeridas durante o dia”.
Apesar do nome ter ar de ingenuidade, a droga do amor, como é conhecida, proporciona uma grande lista de
danos físicos, tais como: hipertermia,
arritmia cardíaca, insuficiência hepática, convulsões, insuficiência renal,
hemorragia cerebral e morte súbita.
Quanto aos problemas psiquiátricos,
os mais observados são: pânico, depressão, paranóia, dificuldade cognitiva, perda de memória e de atenção, promiscuidade sexual, psicose e
insônia crônica. Entretanto, mesmo
com tantos indícios, parte considerável dos usuários não dá credibilidade
a estes dados.
“As pessoas têm um defeito, em
geral, que é caracterizado por um
pensamento em que as mesmas só se
importam com algo quando isso os
afeta diretamente, ou seja, eu e você
nunca achamos que vai acontecer conosco. Particularmente, eu só deixei
de usar a droga porque chega uma
hora que você pára de curtir, e você
sente que é a droga que está lhe curtindo. Não rola o mesmo barato nem
a mesma vontade de utilizá-las”, declara S.F, que fez uso do ecstasy de
Acontece • Página 9
três a quatro vezes por semana durante três anos.
Segundo a doutora Piovesana,
“os seres humanos, de modo geral,
para buscarem o prazer e atenuar seu
sofrimento psíquico ou físico, utilizam substâncias que lhes produzem
um estado artificial de bem-estar. É
importante que tenhamos isso bem
claro para não adotarmos a negação
do problema, tampouco um exagero
que nos afastaria de uma visão racional e científica. A sociedade, mas
principalmente a família, tem papel
fundamental na recuperação de jovens dependentes de drogas, sejam
elas lícitas ou ilícitas. Os pais ou responsáveis são exemplos de aprendizagem. Aquilo que os jovens vêem em
suas casas é projetado no seu mundo
externo. Se os pais não oferecem modelo referencial positivo, seus filhos
buscarão outras referências a quem
se espelharem e isso pode ser uma
grande catástrofe. O primeiro passo
para a solução do problema é compreender e atender esse pedido de
ajuda que nem sempre é feito diretamente. Uma atitude compreensiva,
serena e firme é necessária. O tratamento médico, quando necessário,
requer o comprometimento de toda
família, principal suporte social de
que dispõe o adolescente drogadito”.
Violência preocupa Higienópolis
Alto indice de violência amedronta moradores de Higienópolis, bairro nobre de São Paulo
Daniel Resende Laviano e
Maria Amélia Gama
“Só posso ficar
até à meia noite,
porque depois fica
perigoso”, afirma
o flanelinha
Fomos, então, informados que
delitos como assaltos a prédios e
condomínios se tornaram comuns,
não só na região, mas em vários
bairros considerados nobres de
São Paulo. Disfarçados, assaltantes
entram nos recintos e fazem o
“arrastão” nos apartamentos ou
casas, levando objetos de valor dos
moradores.
Durante a noite, existe outra
preocupação em relação à violência.
Muitos moradores de rua
são
agredidos ou até mesmo mortos, na
grande maioria por jovens de classe
média. Além disso, já próximo a
divisa com o bairro Santa Cecília, há
um grande número de homosexuais
se prostituindo, e os mendigos
acabam sofrendo agressões quando
confundidos com este grupo por
aqueles que são contrários à prática
gay.
Higienópolis, uma área conhecida
por sua tranqüilidade e altos preços de
imóveis, vem a cada dia, demonstrando
não ser diferente de qualquer outra
área da cidade. O alto custo de vida
já não garante a segurança, que antes
era certa para seus moradores. Apesar
de alguns pontos serem diariamente
vigiados por policiais e seguranças
particulares, isso não é suficiente
para evitar ações criminosas.
Daniel Laviano
A
pós uma manhã de aula,
estudantes do Mackenzie e de
outras instituições ao redor
que moram em lugares distantes
se dirigem até a estação de metrô
Santa Cecília, próxima ao bairro de
Higienópolis.
Seria um dia normal para a
estudante Priscylla Assis, que
diariamente sai de seu curso
preparatório
para
vestibular na rua
Sergipe e caminha
até à estação Santa
Cecília, porém à
uma hora do dia
quatro de março de
2008, a estudante
foi
surpreendida
quando um rapaz
tentou
assaltá-la
em uma calçada movimentada que
divide a Avenida Higienópolis e a
rua Dona Veridiana.“Eu nunca tinha
sido assaltada, algumas pessoas
ainda gritaram tentando segurar o
rapaz enquanto ele corria, mas eles
são muito rápidos, não tem como
prendê-los”.
Outra vítima da criminalidade,
a universitária Mayara Rodriguez,
moradora do bairro do Campo Limpo,
foi assaltada sob ameaça de uma faca
na rua Maria Antonia, sendo obrigada
a entregar o celular e o aparelho de
MP3. “Me sinto mais segura em andar
em zonas periféricas da cidade”,
segundo a estudante, nessas regiões,
o índice de violência está menor. A
rua, conhecida pela movimentação
também é alvo de alguns incidentes
como este.
Diferentemente do que diz o senso
comum, não é preciso que você esteja
dando bobeira para ser testemunha
de fatos como ocorridos com as
estudantes.
Porém, não são só assaltos a
bolsas e celulares que tem sido
diariamente denunciados. Roubos
de automóveis é um dos grandes
problemas na região. Principalmente
devido a falta de garagem ou vagas
em estacionamentos, obrigando os
proprietários a parar seus veículos
em vias públicas, facilitando assim a
ação dos bandidos.
É comum encontrar no bairro
algumas
pessoas
conhecidas
popularmente como “flanelinhas”,
olhando os carros em troca de
um pouco de dinheiro. Um deles,
anônimamente, disse: “só posso ficar
até à meia noite, porque depois fica
perigoso”. Após o horário, já se torna
arriscado a permanência nos locais,
já que não possuem nada para se
defender dos ladrões, e são ameaçados
caso tentem impedir
o roubo.
Em busca de informações
sobre
ocorrências atuais na
região ao chegar no
7º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, situado na
Avenida Angélica nº
1647, fomos surpreendidos com um comentário no mínimo curioso de um policial, que perguntou se trouxemos muitas folhas,
pois iríamos ter muito o quê anotar,
devido à grande quantidade de boletins de ocorrência existentes. Outro
policial, em um tom irônico, disse que
não havia assalto na região.
Policiais fazem plantão no começo da Avenida Higienópolis
Acontece • Página 10
O caos nos transportes públicos
A real situação dos tranportes públicos na cidade de São Paulo
Marta Mitsunaga
N
ão é de hoje que as críticas
em relação a precária situação dos transportes públicos
em São Paulo são
temas de grandes
discussões entre a
população. Milhares de pessoas são
obrigadas a enfrentar, todos os dias,
ônibus, metrôs e
trens
superlotados, a maioria em
péssima condição.
Além de terem que
enfrentar a péssima infra-estrutura
dos meios de transportes públicos, as
pessoas dependentes destes ainda
pagam tarifas que
aumentam seu preço a cada ano que
passa, e não vêem melhorias consideráveis.
“Eu acho desumana essa situação, não merecemos passar por todo
esse sofrimento. Eu pego dois ônibus e metrô todos os dias, sei muito
bem do que falo: empurra-empurra,
ônibus lotados, metrô idem, muito
trânsito, 3 horas de viagem em pé...
e em dias de chuva, então? Parece
uma amostra do inferno!”, revoltase Gisele Fernandes, estudante.
Se os transportes públicos fossem
bons, muitos que hoje só utilizam
carros certamente
os deixariam em
casa e passariam a
adotar um transporte público para
locomoção. Pagariam até mais do
que se é cobrado
hoje por um transporte coletivo de
qualidade.
Assim,
quem
sabe, o trânsito caótico de São Paulo
pudesse diminuir
com um número
menor de carros
em circulação.
Para a dentista
Isabela
Orlandi,
“andar de carro
nesta cidade pode ser bom por um
lado, mas também pode ser ruim
por muitos outros lados: o stress
de ficar parado no trânsito, o dinheiro gasto, a manutenção do carro, IPVA, etc. Mas ainda assim sou
mais o meu carro do que o ônibus ou
Foto: Marta Mitsunaga
“Um dos principais
problemasdotransporte
público é a concentração
da demanda no horário
de pico. Apesar disso,
não existem ações
objetivas para atenuar
essa situação, como
fomentar o uso das vias
ao longo do dia”
Trolebus da cidade de São Paulo
Acontece • Página 11
Passageiro no ônibus em SP
o metrô. Só usaria o transporte público se ele fosse bom, confortável.”
Mas, para que isso acontecesse, seria necessário uma melhoria significativa nos transportes. Tarefa difícil,
pois o dinheiro público é mal investido pelo governo, que parece não estar
muito preocupado com essa situação.
Para o professor de Engenharia de
Transportes Fernando Mac Dowell,
“um dos principais problemas do
transporte público é a concentração
da demanda no horário de pico. Apesar disso, não existem ações objetivas para atenuar essa situação, como
fomentar o uso das vias ao longo do
dia. Para exemplificar: em duas linhas de ônibus, com a mesma extensão e igual demanda de passageiros,
é necessário investimento maior na
que tiver a maior concentração em
horários de pico, que implica em
maior frota para o atendimento.
Nesta situação, há ociosidade ao
longo do dia, o que onera o valor
da tarifa, porque é necessário manter a freqüência mínima de operação. Cobrar veículos que usam o
sistema viário e diminuir a concentração nos horários de pico eleva
a qualidade dos ônibus”, conclui.
Chega de servir cafezinho
Estagiários são contratados para realizarem tarefas que não constam no contrato
D
sabe. Ganhava pouco, mais aprendi
bastante’’.
Segundo o diretor do Sindicato
dos Jornalistas de São Paulo,
Franklin Valverde, “não é possível
atuar como um verdadeiro fiscal,
para isso teria que ter um Conselho
Profissional, como OAB, CREA,
CRM; que tem o poder de fiscalizar e
enquadrar legalmente os infratores”.
Valverde ainda afirma que a solução
mais plausível para abusos contra
estagiários é denunciar ao Ministério
Público do Trabalho.
Em entrevista ao site O Jornalista,
o professor Gerson Martins; da
faculdade Estácio de Sá, comenta
o caso de Raphael Pereira, um
estagiário que não tinha preparo
nenhum para realizar o trabalho
fotográfico no autódromo, e foi
contratado para fazê-lo, possuindo
Juliana Leal Conte
esde 1978, o estágio em
jornalismo, é uma prática
proibida no país. Ainda
assim, muitos estudantes, para
adquirir experiência, submetem-se
a trabalhos exploratórios, dos quais
persistem a baixa remuneração e
realização de funções não prescritas
no contrato. A fim de burlar a
fiscalização, consta como estágio de
Comunicação Social.  
Com intuito de solucionar esta
discussão, o Sindicato dos Jornalistas
desenvolveu um programa de Estágio
Acadêmico, em 2001, aprovado pelo
Fenaj (Federação Nacional dos
Jornalistas) onde a execução do
estágio torna-se legalizada desde
que exista um acompanhamento.
   O CIEE (Centro de Integração
Empresa-Escola), assim como a
Universidade e o Sindicato dos
Jornalistas tem como função
supervisionar o estudante que está
estagiando nas empresas, mas nem
sempre isso ocorre. Carolina Lobão,
que cuida de contratos no CIEE,
disse, todavia, que não existe uma
supervisão, e que muitos estudantes
são prejudicados e iludidos.
  Flávio Terceiro, estudante de
Jornalismo do segundo semestre
na
Universidade
Presbiteriana
Mackenzie, que fora contratado
com a intenção de fazer assessoria
de imprensa, no entanto, ficou
encarregado de organizar arquivos
e contatos, “fazia mesmo assim, pois
poderia perder a vaga, já que tem
vários estagiários dispostos a fazer
o serviço, ou também poderia ser
uma provação, um teste”. Nunca se
Na foto, estagiário revoltado contra os abusos sofridos na empresa
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Franklin valverde
Juliana Leal Conte
Vanessa Saraiva Marinelli
Valverde apóia as denúncias
então uma simples câmera digital
de baixa resolução, se acidentou e
morreu.
A profissão por si só já é perigosa,
devido a isso, Rosana Schwartz,
coordenadora de estágios de
Comunicação e Letras do Mackenzie,
alega que todos os contratados
devem conter apólice de seguro
de vida que dá cobertura durante
as atividades profissionais, e um
jornalista responsável para assinar
as atividades na empresa, que são
supervisionadas pela Universidade.
A realidade do estágio de
jornalismo, hoje em dia, torna-se
contraditória, porque de um lado
existe a legislação para proteger
os estudantes contra possíveis
abusos de mão-de-obra, no entanto
essa proibição volta-se contra os
próprios estagiários que necessitam
de experiência para entrar no
mercado profissional, já que é de
extrema importância conciliar o
conhecimento prático com a teoria
ensinada nas universidades.
Schwartz
finaliza
dizendo
que o estágio é uma prática de
aperfeiçoamento, e deveria ser
autorizada pela lei.
“Não é possível atuar
como um verdadeiro
fiscal, para isso teria
que ter um Conselho
Profissional”

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