CLE – Uma proposta de alfabetização para países em
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CLE – Uma proposta de alfabetização para países em
Jornal do Projeto Lighthouse nº 2 dezembro 2005 Rotary Club de Ouro Preto Distrito 4580 CLE – Uma proposta de alfabetização para países em desenvolvimento Glória Maria Guiné de Mello Carvalho Professora Assistente de Tradução no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP; Chefe do Departamento de Letras e professora da Metodologia CLE. A metodologia CLE de ensino surgiu a partir de reflexões que buscavam uma forma de eliminar o fracasso escolar, principalmente nos países em desenvolvimento. O CLE – Concentrated Language Encounter – que traduzo como Abordagem Lingüística Concentrada, começou a ser desenvolvido na Austrália, no início da década de 80, quando a equipe da Traeger Park School, no norte do país, iniciou um projeto para combater os altos índices de fracasso escolar entre as crianças aborígines. Este fracasso costuma ser, em grande parte, atribuído à origem dos alunos. Acredita-se que as crianças vindas da zona rural ou pertencentes às camadas mais pobres da população terão maiores dificuldades durante a aprendizagem porque começam a freqüentar a escola com pouquíssimo ou nenhum contato prévio com o mundo da escrita. As crianças cujos pais são alfabetizados e que têm acesso a livros e outros materiais impressos teriam a vantagem de já conhecer algumas formas e convenções da língua escrita, bem como sua utilidade, que ainda precisam ser descobertas pelas outras crianças. Entretanto, Richard Walker, Saowalak Rattanavich e John Oller, Jr., autores de Teaching All The Children to Read, livro que apresenta a metodologia CLE de ensino, acreditam, baseados na experiência australiana e no projeto desenvolvido na Tailândia, que os altos índices de fracasso escolar se devem mais ao que ocorre na sala de aula do que à origem dos alunos e/ou à falta de contato prévio com a leitura e a escrita. A partir da constatação de que, em qualquer parte do mundo, não importa qual seja a origem dos alunos, há um enorme processo de exclusão daqueles que simplesmente não se ajustam aos métodos tradicionais de ensino, não compreendem o que acontece na sala de aula e não aprendem a aprender fora do ambiente escolar, mas apenas a executar o que lhes é pedido, foi criada a metodologia CLE. A primeira proposta do CLE é mudar o procedimento na sala de aula tradicional, em que o professor dirige todas as atividades e os alunos têm pouquíssimas oportunidade de interagir com ele e com os colegas. Foram, então, desenvolvidas atividades em que os alunos aprendem a ler e escrever ao mesmo tempo que adquirem habilidades não-lingüísticas, úteis para sua vida cotidiana. Desta forma, adquirem gosto pela leitura e pela escrita e se tornam agentes da própria aprendizagem. A metodologia CLE pode ser usada em qualquer parte do mundo, em qualquer língua, para alfabetizar crianças, jovens ou adultos. É organizada em três níveis, ao fim dos quais os alunos estarão em condições de ingressar no mercado de trabalho, quebrando o círculo vicioso de perpetuação da miséria pela ignorância. Isso ocorre porque um programa não pode ser transpor- tado de um lugar para outro. Cada programa deve ser desenvolvido no local onde será implantado e, de preferência, pelos professores. Desta forma, as necessidades e a cultura local são respeitadas. O ponto de partida é um texto relacionado a necessidades reais, do dia a dia, como hábitos de higiene, por exemplo, ou a apresentação de uma atividade “passo-a-passo”. Com crianças são utilizadas histórias simples que, além conterem os componentes de encanto e fantasia, ajudam na interiorização de conceitos e valores para a vida. No caso de principiantes, são preparadas Unidades apresentadas e trabalhadas em cinco passos: 1º Passo – Leitura compartilhada 2º Passo – Relato e dramatização da história 3º Passo – Negociação do texto 4º Passo – Confecção do Livro Coletivo 5º Passo – Atividades Lingüísticas Através de Jogos No 1º Passo o professor deve utilizar todos os recursos possíveis para que o texto seja compreendido, a começar pela exploração da capa do livro e das ilustrações, bem como expressão facial e entonação de voz. No 2º Passo os alunos contam a história e a representam. É o momento de se expressarem e de demonstrarem o que entenderam. As crianças mais tímidas não devem ser forçadas a representar papéis de destaque. Podem ser narradoras e assumir papéis mais simples até se sentirem confiantes. No 3º Passo os alunos, com o estímulo do professor, contam a história como a compreenderam, e o professor a escreve. É importante notar que o texto negociado não é uma reprodução da história ouvida e representada. Isto significaria uma falha na execução do 2º Passo. No 4º Passo, após diversas leituras do texto negociado, os alunos fazem o Livro Coletivo. Este é constituído do texto negociado, que os próprios alunos escrevem e ilustram e que será a base das atividades do 5º Passo. O 5º Passo é constituído de atividades lingüísticas através de jogos, sempre a partir do texto do Livro Coletivo. Alguns exemplos de jogos são: a) Reconhecer palavras contidas no Livro Coletivo com a utilização de fichas, bingo, caça palavras, etc. b) Ler sentenças que contenham palavras do Livro Coletivo, trabalho em duplas. c) Escrever palavras do Livro Coletivo, forca, ditado. Como se pode notar, a dificuldade das tarefas realizadas através de jogos vai aumentando até se atingir o ponto em que os alunos criam novos textos, oralmente e por escrito. No caso de uma atividade passo-a-passo, somente o primeiro e o segundo passos são diferentes. Em primeiro lugar demonstra-se como fazer a atividade – a germinação do feijão, por exemplo – e, em seguida, os alunos a reconstroem. A atividade também pode ser demonstrada por um profissional, como é o caso de noções de higiene e saúde ou trabalhos manuais. Não há uma duração preestabelecida para as unidades. Elas devem durar o tempo necessário para que os alunos aprendam os conceitos, leiam e escrevam com desenvoltura. A avaliação vai sendo feita à medida que as atividades são realizadas. Calcula-se que, durante um ano, sejam trabalhadas entre 10 e 15 unidades. O CLE, por destinar-se também a alunos que precisam aprender uma segunda língua, como é o caso da Austrália, da Índia e da Tailândia, por exemplo, baseia-se no processo de aquisição das quatro habilidades lingüísticas: ouvir, falar, ler e escrever. Utiliza, portanto, elementos da Abordagem Natural e da Abordagem Comunicativa. Isso se reflete em todos os passos, desde a leitura da história até as atividades lingüísticas através de jogos, porque há uma ênfase no uso adequado da língua em diversos contextos sociais e o professor e os alunos se utilizam também, como dito anteriormente, da expressão facial e da expressão corporal para negociar os significados. O ensino da leitura é visto, portanto, como um processo interativo entre autor e leitor, em que o raciocínio desempenha um papel central, estimulado pela língua falada e pela expressão facial. O processo CLE de ensino parte, então, de textos ou livros de história ou de um texto passo-a-passo e, ativando constantemente o raciocínio, utiliza-se da língua falada (ouvir e falar) e da língua escrita (ler e escrever) com o auxílio da expressão facial. Isto nos remete a um princípio fundamental do CLE, o scaffolding, que é o apoio através da contextualização. Todas as atividades lingüísticas têm origem em um texto ou história que, inicialmente, é ouvida, mas não de forma passiva. A exploração das ilustrações estimula o raciocínio e já constitui uma primeira oportunidade de expressão oral. Este é o passo inicial para a contextualização. Nos passos seguintes, todas as atividades são realizadas a partir do contexto da história ou da atividade passo-a-passo, o que praticamente elimina a possibilidade de algum aluno ficar excluído por não compreender o que está acontecendo. Devemos lembrar, também, que a articulação clara das palavras é um apoio para a escrita correta, e as atividades de escrita são precedidas pelo trabalho oral. Como foi dito no início desta exposição, Richard Walker, Saowalak Rattanavich e John Oller, Jr. atribuem grande parte do fracasso escolar aos procedimentos tradicionais em sala de aula. A metodologia CLE propõe mudanças nesses procedimentos. Uma descrição do que ocorre em uma sala de CLE Continua na página 2 1 Educação para todos: Distrito 4710 CLE – Uma proposta de alfabetização ... deixará claro o ponto de vista dos autores: • as atividades dos alunos são sempre relacionadas a contextos da vida real que sejam importantes para eles; • os alunos são estimulados a trabalhar de maneira independente, ao invés de apenas seguir instruções do professor; • são utilizados jogos e canções para dar mais vida à aprendizagem; • os alunos se habituam a ler e fazer atividades em que aprendem a língua fora da escola; • a aprendizagem ocorre através da interação aluno-aluno e alunos-professor; • a negociação de significados é constante, com a mediação do professor; • não se prescreve um ritmo de aprendizagem; os alunos participam das atividades independentemente de seu estágio de aprendizagem; • muitas atividades são desenvolvidas em grupos, o que estimula a troca de idéias e a cooperação; • os alunos se responsabilizam pelas próprias atividades; • a disciplina é positiva porque os alunos estão voltados para o trabalho que estão realizando; • ao assumir responsabilidades os alunos desenvolvem a auto confiança. Esses procedimentos fazem com que a alfabetização aconteça rapidamente porque os alunos estão constantemente realizando atividades significativas ligadas à leitura e à escrita. Os objetivos que se buscam atingir são: • trabalhar as unidades até o fim, através dos cinco passos, para que os alunos aprendam a agir com independência; • promover a participação intensa dos alunos porque, quanto maior for o seu envolvimento, mais rápida será a aprendizagem; • incentivar os alunos a desenvolver suas características pessoais, além da auto confiança e da disposição de fazer tentativas e correr riscos para dominarem uma nova habilidade. Também é importante lembrar que um programa CLE requer poucos recursos para ser implantado. São necessárias folhas de papel de aproximadamente 60cm X 40cm, em que são escritos o texto negociado com os alunos e o Livro Coletivo, pincel atômico, lápis pretos, lápis de cor, tesoura, cola, grampeador e outros materiais simples para Unidades Passoa-Passo. Entre o 4º e o 5º Passos os alunos podem fazer livros individuais que vão formar sua pequena biblioteca. O custo do material por turma de 30 alunos é estimado em US$60.00 por ano. Uma última observação que gostaria de fazer é que, na Tailândia, a metodologia CLE foi adotada na rede oficial de ensino quando o ministério da educação constatou os resultados obtidos nos primeiros projetos implantados em regiões isoladas e com altos índices de analfabetismo e de fracasso escolar e que, ao longo de pouco mais de dez anos, o analfabetismo foi praticamente erradicado daquele país. Daí o seu lema ser “transformar o fracasso em sucesso”. O Distrito 4710 mantém um projeto de Alfabetização, utilizando a metodologia CLE, desde 1999 atuando nas cidades de Londrina, Cambé, Ibiporã, Arapongas, Apucarana, Bela Vista do Paraíso e breve o trabalho se estenderá para Ibaiti e Astorga. Tudo esse trabalho começou com o incentivo do companheiro Borsari. Na foto anexa, a primeira turma formada recebendo o certificado em reunião do Rotary Club de Londrina - Distrito 4710 Fonte: Governador 98/99 Antonio Celso Costa - D. 4710 Araras vai bem obrigado “Plante sementes de amor”, foi com esse lema rotário em 2.002 plantamos a semente do Projeto Lighthouse Luz do Saber de Alfabetização em Araras, utilizando o Método C.LE. (Abordagem Lingüística Concentrada), criado e desenvolvido por rotarianos com o apoio do Rotary Internacional e implantado como protótipo na Tailândia no final da década de 90, com enorme sucesso. Agora, estamos encerrando o ano de 2004 comprovando o mesmo sucesso obtido na Tailândia com uma colheita farta: são dez classes, 217 alunos adultos alfabetizados, mais quarenta que foram encaminhados ao Ensino Supletivo Regular da Rede Municipal no início do ano, sessenta e sete Professoras capacitadas com a Metodologia CLE. Ou seja, segundo o censo municipal de 2001,47% do total dos que manifestaram o desejo de estudar, encerram este ano saindo da escuridão do analfabetismo e reintegrando-se à sociedade como cidadãos alfabetizados. Agradeço a Deus por ter colocado em minha vida este desafio recheado de oportunidades de servir, de ajudar ao próximo e, nesta caminhada, encontrar dezenas de pessoas imbuídas do mesmo espírito de “Fazer o bem sem olhar a quem”. “CELEBREMOS ROTARY!” Paulo Consoni entrega uma lembrança para uma aluna partiicpante do treinamento. PAULO CONSONI Coordenador da Força Tarefa de Alfabetização de R.I. do Distrito 4590 e do Rotary Club de Arara Projeto Lighthouse Informações Úteis Distrito 4580 - Gov. Jório Coelho - E-mail: [email protected] Distrito 4730 - Gov. Francisco Bordari Netto E-mail: [email protected] Distritos 4520 - 4560 - 4760 - Gov. Carlos Alberto Peçanha E-mail [email protected] Gov. Eduardo Krafetuski E_mail: [email protected] Distrito 4710 - Gov. 98/99 Antonio Celso Costa – E-mail: [email protected] Distrito 4590 - Companeiro Paulo Consoni – E-mail: [email protected] 2 Além do mais o distrito assinou um Convênio com a Unopar (Universidade Norte do Paraná) e um Convênio com a CMTU (órgão da Prefeitura de Londrina). O trabalho está sob a coordenação da companheira, Vera Bahl de Oliveira que aprendeu a metodologia com a Professora Cristina Surek, de Curitiba. A professora Cristina faz parte do grupo treinado na Tailândia e vem trabalhando com a finalidade de criar novos multiplicadores. Hoje, a companheira Vera repassa a metodologia para o pessoal no norte do Paraná e já tem prestados seu trabalho de multiplicadora nos distritos vizinhos. O distrito 4710 possui ainda recursos para mais 10 salas de aulas, bem como se dispõe a prestar o apoio técnico e informações aos que solicitarem. CLE explode em Mariana - MG Meu filho tinha dificuldades na escrita ... vivia dizendo que os coleguinhas já sabiam ler e ele não... Agora ele melhorou cem por cento, tanto na leitura quanto na escrita, aliás, quando ele vai construir uma frase, ele já quer fazer algo mais elaborado... Dona Elizabete Mãe do Douglas – aluno da fase introdutória da Escola Municipal de Passagem de Mariana que há dois meses freqüenta uma sala de CLE Em nosso próximo número falaremos dos cursos realizado em Mariana e Cuiabá com o apoio do Rotary Club de Ouro Preto, Mariana e do Distrito 4440
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