pontifícia universidade católica de minas gerais. estudo das

Transcrição

pontifícia universidade católica de minas gerais. estudo das
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS.
ESTUDO DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA
PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO.
Kariny Cristina de Souza Raposo
Belo Horizonte
2007
2
KARINY CRISTINA DE SOUZA RAPOSO
ESTUDO DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA
PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre
em Língua Portuguesa, elaborada sob a orientação do
Professor Dr. Hugo Mari.
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Belo Horizonte
2007
3
Dissertação defendida publicamente no Programa de Pós-graduação em Letras da
PUC-MINAS e aprovada pela seguinte Comissão Examinadora:
___________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Henrique Aguiar Mendes. PUC Minas
___________________________________________________________
Prof. Dr.Antônio Luiz Assunção. UFSJ
___________________________________________________________
Prof. Dr. Hugo Mari.
Orientador (PUC Minas)
Belo Horizonte, 26 de janeiro de 2007.
________________________________________________
Prof. Dr. Hugo Mari
Coordenador do programa de Pós-graduação em Letras
PUC - Minas
4
"Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal
humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender..."
Alberto Caeiro
5
Agradecimentos sinceros,
aos meus pais, Vânia e Humberto. O que sou hoje é um reflexo
do amor e da confiança com que vocês sempre me
incentivaram. Por isso, coloco neste trabalho toda a minha
vontade de ver em seus olhos, o orgulho por mais esta nossa
conquista.
6
Agradeço também,
ao CNPQ pelo financiamento deste trabalho;
ao Professor Hugo Mari, pelo incentivo e pelas valiosas orientações, mas, sobretudo,
pela confiança em mim depositada, pelo método , sutileza, e grandeza de mestre
que me fizeram chegar até aqui...
à minha irmã e amiga Karla, sempre orgulhosa pelas minhas conquistas... você sabe
o quanto lutei por este sonho, mas hoje tenho certeza que não estive sozinha. Sua
presença é muito intensa em tudo o que faço.
ao meu marido, Bruno, pelo companheirismo, atenção, apoio e compreensão
dispensados a mim (a nós) em cada instante.
Katy, minha amiga irmã. Você sempre foi exata e necessária nesta minha
caminhada.
aos professores do Mestrado, especialmente aos professores Paulo Henrique e
Marco Antônio pela disponibilidade e pelos incentivos diários.
aos colegas e sempre amigos do mestrado. Bruno, Darinka, Sílvia e Renata.
Maria Regina, o que a gentileza livremente oferece, agradecimentos não podem
pagar.Você foi o máximo.
7
ao prof. Aderlande, por ter sido o primeiro a me abrir as portas deste universo que
tanto amo;
ao prof. Valdemar, pelo incentivo durante a graduação que me fez ter a coragem
necessária para apostar neste sonho que agora se concretiza;
à Martha Cortes pelas revisões dos textos em inglês;
A Deus... pela vida, pelo amor, pelas amizades, pelas pessoas que colocou em meu
Caminho...pelos sorrisos que ganhei, pelas noites que passei acordada, pelos
tropeços, pela família maravilhosa que tenho ... Por ter me dado tanto sem nada
pedir em troca.
A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.
Agradecimento especial
Professor Hugo Mari,
querido mestre, Professor, Doutor Hugo Mari, grande educador, que com firmeza,
amizade e imensa sabedoria, orientou-me.
8
RESUMO
“Quem tem frase de vidro
não joga crase na frase do vizinho”.
Ferreira Gullar
Neste trabalho, apresento uma nova visão sobre as expressões idiomáticas do
português brasileiro e um quadro teórico para a sua análise que foi elaborado e
ilustrado no capítulo 2. Minha abordagem foi determinada pelos objetivos
estabelecidos no capítulo 1, na parte reservada para um estudo sistematizado sobre
as expressões idiomáticas no português brasileiro. Dois objetivos mais específicos
são propostos: a importância do desenvolvimento de estudos lingüísticos voltados
para a análise das expressões idiomáticas de um modo geral, e sua contribuição
para uma abordagem do uso específico dessas expressões em mensagens
publicitárias e nos enunciados proferidos por políticos e, por conseguinte, dos efeitos
de sentido produzidos em função desse uso. Os dois primeiros capítulos
identificaram algumas limitações em estudos anteriores, e o capítulo 3 foi escrito à
luz de tal discussão buscando preencher algumas lacunas existentes. Inicio esse
capítulo abordando o problema conceitual no qual as expressões idiomáticas se
inserem e, em seguida, proponho um novo conceito que engloba, além dos aspectos
sintático-semânticos, uma visão das expressões idiomáticas ligadas à prática
discursiva do falante. Essas dimensões de análise – sintática-semântica-discursiva –
são discutidas em detalhe. Concluo esta reflexão estabelecendo uma investigação
sobre o conceito cristalizado das expressões idiomáticas em sua relação com as
intenções
enunciativas
de
quem
composicionalidade no seu significado.
fala,
comprovando
que
há
graus
de
9
Palavras-chave: Expressões idiomáticas; Sentido; Metaforização; Linguagem;
Composicionalidade.
ABSTRACT
In this paper, I present a new vision on Brazilian Portuguese idiomatic
expressions and a theory for its analysis which was elaborated and illustrated in
chapter 2. My approach was determined by objectives established in chapter 1, in the
part reserved for a systematized study on idiomatic expressions in Brazilian
Portuguese. Two more specific objectives are proposed: the importance for the
development of the linguistic studies focused on the analysis of the idiomatic
expressions in general, and its contribution for an approach of the specific use of
those expressions in advertising messages and in statements uttered by politicians
and, consequently, the sense effects produced due to that use. The first two chapters
identify some limitations in previous studies, and chapter 3 is written in light of such
discussion looking for filling out some existing gaps. I begin that chapter approaching
the conceptual problem in which the idiomatic expressions are inserted and,
afterwards, I propose a new concept that includes not only syntactic-semantic
aspects but also a vision of idiomatic expressions linked to the speaker's discursive
practice. Those analysis dimensions - syntactic-semantics-discursive - are discussed
in detail. I conclude this reflection establishing an investigation on the crystallized
concept of idiomatic expressions in its relationship with the speaker’s enunciative
intentions, proving that its meaning can be compositional in different degrees.
Words-key:
Idiomatic
Composicionality.
expressions;
Sense;
Metaphorization;
Language;
10
LISTA DE ABREVIATURAS:
EI – EXPRESSÃO IDIOMÁTICA.
EPPS – ENUNCIADOS PROFERIDOS POR POLÍTICOS.
SN – SINTAGMA NOMINAL
SV – SINTAGMA VERBAL
SADV – SINTAGMA ADVERBIAL
SF – SINTAGMA FRASAL
SO – SIGNIFICADO
SE – SIGNIFICANTE
EX - EXEMPLO
11
SUMÁRIO:
1 INTRODUÇÃO:
1.1 Tema...........................................................................................................13
1.2 Objetivos....................................................................................................17
1.3 Pressupostos.............................................................................................19
1.4 Procedimento.............................................................................................19
1.5 Organização do trabalho...........................................................................20
2 A CONDIÇÃO DOS ESTUDOS SOBRE AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS:
2.1 O estado atual das expressões idiomáticas...........................................25
2.1.1 Introdução...............................................................................................25
2.1.2 As Expressões Idiomáticas na visão de alguns lingüistas................26
3 PROPOSTA DE CONCEITO:
3.1 O conceito: estruturas e análises...........................................................38
3.1.1 Introdução..............................................................................................38
3.1.2 EI: um problema conceitual..................................................................39
3.1.2.1 Natureza morfossintática das EIs.........................................................40
3.2 O conceito.................................................................................................42
3.2.1 As EIs e os provérbios...........................................................................48
3.2.1.1 Seção “Frases”: um gênero do discurso................................................54
3.2.1.2 Sobre os gêneros...................................................................................55
3.2.1.3 Descrição do gênero “Seção de Frases”...............................................57
3.3 EIs: uma abordagem discursiva...............................................................59
3.3.1 Introdução................................................................................................60
3.3.2 Por uma noção de enunciação e argumentação..................................60
3.3.3 A importância das EIs na construção do Ethos...................................63
12
3.3.4 Orador e auditório...................................................................................65
3.3.5 Apontamentos práticos..........................................................................67
3.4 Síntese Parcial............................................................................................76
4 MÉTODO DE ANÁLISE DO CORPUS:
4.1 Análise do corpus: características sintático-semânticas........................79
4.1.1 Introdução................................................................................................79
4.1.1.1 A composicionalidade na construção do significado das EIs...................79
4.1.2 O conceito de cristalização das EIs.......................................................85
4.3 Metodologia..................................................................................................88
4.3.1Apontamentos práticos..............................................................................89
4.3.1.1 sintagmas verbais.....................................................................................89
4.3.1.2 sintagmas nominais..................................................................................99
4.3.1.3 sintagmas adverbiais..............................................................................103
4.3.1.4 sintagmas frasais....................................................................................105
4.4 Algumas considerações importantes.......................................................106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................110
REFERÊNCIAS...................................................................................................113
ANEXO................................................................................................................116
13
1. INTRODUÇÃO.
É fácil acusar a existência de um lugar-comum, mas
nem todos sabem dizer em que consiste a verdade
que o inspirou.
(Fernando Sabino)
1.1 Tema:
O processo de construção do sentido das expressões idiomáticas.
As expressões idiomáticas (doravante EIs) são construções metafóricas e
cristalizadas no uso freqüente da língua. Formadas por palavras que mantêm uma
relação de dependência entre si, podendo ser compreendidas somente quando
considerado todo o conjunto no qual estão inseridas. Formam grupos fraseológicos
que atendem às necessidades de expressão dos falantes, pois são formas simples
que conseguem transmitir uma idéia de maneira completa. As EIs são importantes
recursos discursivos tanto para os falantes quanto para os aprendizes da língua.
Constituindo seqüências de lexemas, tais expressões têm-se apresentado na forma
de várias estruturas sintagmáticas, exigindo do observador maior cuidado em sua
classificação tipológica.
Partindo de uma concepção de metáfora como um fenômeno cognitivo-social,
Lakoff e Johnson (1980) revelam que nosso sistema conceitual busca recursos
metafóricos para expressar uma infinidade de conceitos. Compreende-se esse
caráter metafórico da língua, quando se observa, no discurso, relações conceituais
estabelecidas na composição de expressões, de enunciados e endereçados a
referentes, na maioria das vezes decodificados. Tal fato se dá automaticamente e,
dificilmente, as pessoas se dão conta de que estão utilizando metáforas para auxiliálas a expressar suas idéias.
Ao dizermos, por exemplo, “João deu bola para Maria”, estamos expressando
metaforicamente que João está paquerando Maria. No entanto, acredita-se que, ao
14
utilizar essa metáfora, o falante recorre automaticamente ao conceito metafórico
básico de que “no jogo de futebol só se dá a bola para o companheiro de equipe que
estiver em situação estratégica mais vantajosa para que se faça o gol”, conceito este
que já se encontra estruturado em sua mente. Vejamos esse outro exemplo: ao dizer
que “Maria é cheia de nove horas”, o falante expressa metaforicamente que Maria é
uma pessoa complicada. De acordo com o exemplo mostrado anteriormente
assumimos que o falante recorre a esse conceito metafórico, Maria é cheia de nove
horas, por meio de um conceito metafórico básico de que “a figura do cheio de nove
horas representa uma pessoa que dita regras de condutas, complicando as coisas
mais simples”. Enfim, a concepção de metáfora assumida neste trabalho é,
consoante Lakoff e Johnson, um processo cognitivo-social através do qual os
usuários da língua estruturam um domínio conceitual em função de outro domínio
conceitual.
No entanto, não se pode esperar que nenhuma expressão seja compreensível
em razão do contexto histórico que a produziu, isso não está ao alcance dos
falantes. Por isso, em termos gerais, torna-se oportuno considerar, consoante o
pensamento de Lakoff e Jonhson (1980) que a percepção humana é construída com
base em conceitos, ações e relações com outras pessoas. Ou seja, a produção ou a
identificação do significado de uma expressão metafórica parece ocorrer porque os
falantes de uma mesma língua possuem os conceitos metafóricos já estruturados
em suas mentes, sem se darem conta disso. Dessa forma, a compreensão destas
metáforas se dá devido ao fato de os conceitos metafóricos correspondentes terem
uma base social e cultural, sendo que seus significados são compartilhados pelos
membros de uma mesma sociedade. Por outro lado, Steen (1994) questiona se, no
caso de metáforas convencionais (aquelas cujos significados são automaticamente
ativados), os conceitos metafóricos referentes a estes significados são realmente
ativados na mente de cada indivíduo. Para esse autor, muitos significados
metafóricos passaram a ser acessíveis diretamente assim como se dá nos casos de
significados literais. Isso explicaria, talvez, o fato de um falante decodificar a
expressão “fazer das tripas coração”, pois mesmo depois de aprendê-la o
leitor/falante pode não encontrar relação alguma entre ela e a imagem aludida, ou
15
melhor, acredita-se que ele não saiba por que “fazer das tripas coração” significa
“dar o máximo de si”.
Vimos então que, na sua origem, a motivação de todas as expressões é
metafórica e:
“No processo de metaforização, cada componente da expressão
perde sua função nominativa própria e se dessemantiza, isto é, não
adquire uma nova função nominativa, pois é a expressão idiomática
vista como um todo que adquire essa nova função”. (Xatara,
1998:150).
Com base nisso, pode-se dizer que as EIs são fruto de um processo metafórico
de criação. A metáfora surge normalmente na evolução do léxico de um língua sobre
base de palavras já existentes tendo como propósito denominar novos fenômenos
ou objetos, ou renomear outros com algum propósito estilístico. Vejamos, então,
como a metáfora opera para criar uma EI.
Segundo Adam Makkai (1975:16), é mais fácil relacionar dois elementos já
existentes para formar uma expressão idiomática do que inventar novos termos. O
autor diz que há uma rima psicológica que une um significado original ao significado
idiomático. A rima psicológica foi definida por ele como uma série de combinações
pré-lógicas, baseadas nos graus de similaridade e extensão metafórica ou nos
significados associados. Vejamos as próprias palavras do autor:
“O que nos impede de fabricar novas séries de sons não é tanto a
dificuldade que isto supõe, mas as convidativas e sedutoras
possibilidades de rima psicológica, as latentes analogias que estão
presentes em quase todas as esferas da vida humana” (Makkai,
apud Roncolato,2001).1
Para nós, essas rimas psicológicas ou latentes analogias seriam o elo entre as
metáforas e as imagens mentais. Tentarei melhor esclarecer este conceito com o
exemplo 2 demonstrado abaixo:
1
2
Tradução livre de Roncolatto 2001.
Exemplo adaptado de Roncolatto 2001.
16
Razão primária: desmontar uma barraca
Ação conseqüente 1: recolhe a lona, retirar as hastes.
Estado mental: racional.
Ação conseqüente 2: chutar as hastes
Estado mental: desespero
Imagem mental: alguém tem dificuldades para desmontar uma barraca e, por isso,
chuta a haste que a sustenta.
Latente analogia: a pessoa está nervosa, apresenta comportamento agressivo.
Metaforização: alguém que chuta a haste de uma barraca demonstra ser
agressiva/grosseira.
Expressão Idiomática: chutar o pau da barraca = mostrar-se ríspido, grosseiro.
Neste exemplo, há uma tentativa de captar o resultado final da ação: dar uma
solução desesperada para uma situação de impasse. Existe uma associação entre
os significados das palavras componentes da expressão que dão origem a imagem
mental. Esta imagem, por sua vez, gera uma metáfora graças a alguma semelhança
entre o objeto do contexto real, no caso, uma barraca montada sobre hastes de
sustentação, e a situação que se pretende assinalar, alguém com atitudes ríspidas e
grosseiras.
Assim, observa-se que o surgimento da imagem mental dá origem a metáfora
que, por sua vez, procede à expressão idiomática. Cada comunidade lingüística faz
um recorte escolhendo dentre os elementos da realidade social, da história, de
17
costumes, da religiosidade, da constituição física do ser humano, etc., aspectos que
considera
relevantes
para
suprir
suas
necessidades
expressivas
em
um
determinado momento. Os elementos escolhidos pela comunidade são reutilizados e
reinterpretados, adquirindo um novo significado, agora idiomático.
Então, de um lado temos o criador da metáfora, inserido em um contexto cultural.
Esse por sua vez, tem liberdade criativa para conceber uma metáfora, para,
subjetivamente, “corromper as regras da língua”. De outro lado, temos o receptor,
também inserido em um contexto cultural. Esse parece ter parcialmente limitada sua
liberdade subjetiva para compreender o significado metafórico. Cabe a ele captar,
identificar, e atribuir um dos sentidos adequados ao contexto cultural e referencial
em que o enunciado está inscrito.
Um outro aspecto que merece destaque, no que se refere às EIs, diz respeito ao
que Benveniste (1989, 1995), chama de competência lingüística ( processo de
construção das relações entre enunciador/enunciatário). O emprego das lexias
complexas em determinados contextos ou situações revela conhecimento e domínio
da língua por parte do falante. Além disso, segundo Rwet, (1983 apud Xatara) dizer
que o sentido de uma expressão reduzida é mais simples ou mais transparente que
o de uma expressão complexa – idiomática – é um preconceito. Em que, por
exemplo, o sentido de “paupérrimo”, principalmente se considerarmos um falante
sem escolaridade, que passou a vida no meio rural, seria mais simples ou
transparente que o de “estar com uma mão na frente e outra atrás?”.
1.2 Objetivos:
Esta dissertação tem por objetivo geral um “estudo sistemático das expressões
idiomáticas no português brasileiro” em função de dois objetivos mais específicos:
sua importância para o desenvolvimento dos estudos lingüísticos voltados para a
análise das EIs de um modo geral; e sua contribuição para uma abordagem do uso
específico dessas expressões em mensagens publicitárias3 e nos enunciados
É importante ressaltar que as peças publicitárias serão aqui analisadas apenas pelos seus textos
escritos. As imagens (fotos, desenhos, caricaturas, etc.), que comumente integram a peça publicitária,
3
18
proferidos por políticos (doravante EPPs) e, por conseguinte, dos efeitos de sentido
produzidos em função desse uso.
Os estudos sobre as EIs apresentam uma grande divergência terminológica e
uma ausência de critérios de análises adequados, que fazem com que as mesmas
sejam consideradas como objetos excepcionais, não destacáveis nos estudos
gramaticais. Além disso, a meu ver, tal recurso expressivo vem sendo tratado, na
maioria das vezes, apenas como produto lexicográfico.
As EIs apresentam uma grande fixidez por definição, própria as unidades
lexicalizadas que aparecem, então, tendo uma existência própria como parte do
léxico e, como associações constantes elas traduzem um hábito verbal. Há,
portanto, dois estágios por que passam as expressões idiomáticas: 1º- o processo
de cristalização e 2º- a freqüência de seu emprego. Assim, num nível mais abstrato
da linguagem, consuma-se o processo de lexicalização categorizando-as como itens
lexicais de um dicionário da língua, porém, como já mencionado, não há um critério
que viabilize, a contento, essa categorização.
Além disso, adotando uma concepção de linguagem como atividade interativa, na
qual interlocutores se instituem como enunciadores/enunciatários, situando-se num
determinado
tempo
e
espaço
discursivos
em
função
das
condições
de
produção/recepção de textos, esta pesquisa pretende trazer uma contribuição aos
estudos lingüísticos de maneira a evidenciar aspectos relevantes no que diz respeito
a um recurso expressivo (expressões idiomáticas) como um importante elemento do
processamento discursivo, bem como investigar os mecanismos léxico-sintáticodiscursivos básicos instituintes do processo de formação e identificação das
mesmas.
Pretendo ainda, avaliar os efeitos de sentido resultantes do uso das EIs nos
enunciados proferidos por políticos que, a meu ver, apresentam uma extensão
considerável que possibilitará uma análise rigorosa e exaustiva.
constituindo parte da mensagem, não serão examinadas no presente trabalho, dada a delimitação do
tema, que se atém à análise das expressões idiomáticas.
19
1.3 Pressupostos:
Tentarei mostrar ao longo deste trabalho, como os estudos sobre EIs carecem de
uma maior adequação terminológica e sistematização no que diz respeito ao valor
léxico-semântico.
Ressalto ainda, que tendo a linguagem como base fundadora de todas as
atividades que desenvolvemos em nosso dia-a-dia, o uso de EIs dinamizam as
potencialidades discursivas, revelando, a contento, o perfil do enunciador.
A partir desses pressupostos, e diante de todas as implicações que subjazem a
eles, foram feitas análises que busquem confirmar que as EIs se constituem de um
conhecimento comum, compartilhado e, por isso, o uso das mesmas representa um
apoio essencial para desenvolver uma argumentação. Sua enunciação é em si
mesma um argumento que tem um alcance mais amplo e uma força de incitação
maior, pois se circunscreve em um saber comum.
1.4 Procedimento:
O procedimento adotado na pesquisa foi, primeiramente, a seleção do corpus.
Esse se constitui de um conjunto de EIs encontradas nas publicidades e nos
enunciados proferidos por políticos (EPPs) extraídos das edições semanais das
revistas Veja e Isto É. Das 168 (cento e sessenta e oito) expressões selecionados
no período de março de 2000 a julho de 2006, apenas 22 (vinte e duas) foram
usadas na análise. Tal seleção foi feita por amostragem. Todo material selecionado
é elencado no final da dissertação, visando às possíveis constatações.
A escolha dessas revistas, bem como, dos gêneros publicidade e Seção de
Frases4, justifica-se por alguns motivos: primeiro, pelo fato de se atestar que as EIs
são de uso corrente na língua. Além disso, tais revistas foram escolhidas por
lançarem mão de recursos idiomáticos da língua mantendo um registro semi-formal:
4
A justificativa para a classificação desse gênero será retomada à frente.
20
portanto, corroboram a argumentação de que as EIs, de fato, não pertencem a um
escopo marginal da natureza lingüística; elas fazem parte do léxico corrente da
língua.
Ainda que assim não fosse, tal escolha é justificada porque os EPPs (sejam eles
de cunho informativo ou marcadamente político-ideológicos) “dialogam” com a
realidade contribuindo para a produção do sentido no contexto situacional em que
se inscreve a interação, envolvendo todas as relações comunicativas entre o Estado
e a sociedade, independente do sistema ou regime.
Dessa forma, a escolha dos EPPs como corpus, tendo em vista o interesse
fundamentalmente político, identificam o seu interlocutor como pertencente a algum
partido político ou a algum cargo na administração pública ou em instituições
privadas.
E nesse contexto, as EIs contribuem efetivamente para representar uma relação
dialética estabelecida entre a legitimidade e a credibilidade, no sentido de que esse
tipo de discurso se caracteriza exatamente pelo fato de o falante buscar se legitimar
através da construção de sua credibilidade. Sendo assim, o efeito de sentido
causado pelas EIs em tais discursos, confere ao mesmo um caráter de aproximação
ao discurso publicitário em geral, cujo único objetivo é o de vender o produto, nesse
caso, a idéia.
Então, pode-se postular que tanto a mensagem publicitária quanto os EPPs
“utilizam recursos estilísticos e argumentativos da linguagem cotidiana, ela própria
voltada para manipular e informar” (Carvalho, 2000:9).
Em segundo lugar, devido à concepção de linguagem que perpassa esta
pesquisa, sendo possível pressupor que este Corpus, devido suas condições de
produção e recepção, evidencia satisfatoriamente o caráter dialógico e interacional
da linguagem humana.
1.5 Organização do trabalho:
O trabalho se organiza em quatro capítulos. No primeiro capítulo apresento uma
introdução do trabalho que, como se pôde ver divide-se em: tema, objetivos,
21
pressupostos e procedimento. O capítulo 2 constitui uma resenha crítica de estudos
que tratam do estado atual das EIs a partir do qual poderemos situar o problema a
ser abordado. Para tanto, apresento um estudo das EIs sob a ótica de algumas
teorias lingüísticas do século XX que, de alguma maneira, perceberam-nas como
elementos constitutivos dos estudos gramaticais. Pode-se, então, notar claramente
em Chafe (1979), Xatara (1998) e Biderman (2001), que as correntes ligadas à
sintaxe
ocuparam-se
desse
assunto,
fazendo
cair
por
terra
à
tese
da
excepcionalidade e irregularidade que sempre lhes foi atribuída. No entanto, a meu
ver, tal estudo ainda não abordou, a contento, aspectos relevantes
5
concernentes
às expressões idiomomáticas que serão, neste trabalho, discutidos.
Já o capítulo 3 estabelece um quadro teórico a ser utilizado na abordagem do
fenômeno em questão. Primeiramente, pretendo elucidar os caminhos que me
levaram a propor um conceito para as EIs que, até então, a meu ver, caracterizamse por sua subordinação e adaptação às EIs como produtos isolados. A partir do
conceito, pretendo apontar e justificar a existência de um gênero do discurso “Seção
de Frases”, bem como levantar algumas questões referentes ao funcionamento dos
provérbios, com base nos estudos de Mieder (1977) e Grsybek (1995), que os
diferem das lexias complexas. Posteriormente, as expressões serão apresentadas
como um fenômeno ligado ao processamento discursivo e, para isso, far-se-á
referência à Teoria da Enunciação (Benveniste, 1989), que discorre, grosso modo, a
respeito do processo de construção das relações entre enunciador/enunciatário. A
seguir, a essa teoria serão integrados alguns pressupostos da teoria da
Argumentação, Perelman (1987) e Perelman e Tyteca (2002). Segundo os autores,
a argumentação consiste na retomada da Arte Retórica aristotélica, com vistas a
estabelecer uma contraposição entre demonstração (lógica/formal) e argumentação
(persuasiva/informal). Tendo como parte do Corpus o discurso publicitário,6 meu
5
6
Tais aspectos serão explicitados no capitulo 3 que se dedica a esta questão.
“Na publicidade o emissor utiliza a manipulação disfarçada: para convencer e seduzir o receptor,
não deixa transparecer suas verdadeiras intenções, idéias e sentimentos, podendo usar de vários
recursos” [...] “O papel da publicidade é tão importante na sociedade atual, ocidentalizada e
industrializada, que ela pode ser considerada a mola mestra das mudanças verificadas nas diversas
esferas do comportamento e da mentalidade dos usuários/receptores” (Carvalho, 2000:10)
22
objetivo diante desse quadro teórico, é identificar e sistematizar os recursos
lingüísticos e estilísticos usados como forma de convencimento do público-alvo. E,
diante da escolha dos EPPs como constituinte do Corpus, torna-se relevante apontar
em que dimensão estou considerando o discurso político. Para tanto, recorro às
palavras de Charaudeau (2006) em que lemos:
“O discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de
máscaras [...] toda palavra pronunciada no campo político deve ser
tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e pelo que ela não diz.
Jamais deve ser entendida ao pé da letra”.
A partir desse pensamento, pretendo analisar os efeitos de sentido que as EIs
conferem aos EPPs, assumindo que o uso das EIs nos, já mencionados enunciados,
têm uma função estratégica na construção do Ethos dos atores políticos.
Finalmente, definida a linha teórico-metodológica, no capítulo 4, farei a análise do
Corpus de maneira a constatar que o modo como as partes de uma EI se relacionam
para formar seu significado global, permite em muitos casos trocas paradigmáticas e
conseqüente composicionalidade.7 Esse fato nos permite analisar e considerar uma
relativa gradiência referente ao significado cristalizado das EIs.
As conclusões decorrentes das análises feitas serão apresentadas ao final de
cada capítulo, e cabe ao quinto capítulo apresentar uma conclusão geral. Pretendese, através dela, fornecer subsídios para explicitar o funcionamento das EIs do
sistema lingüístico brasileiro, contribuindo, dessa forma, para sua sistematização.
7
Este conceito será explicitado no capítulo 4.
23
“Lidar com expressões idiomáticas é lidar, de certa forma, com o espírito da língua em
estudo”.
Eliane Roncolatto.
24
2. a condição dos estudos sobre as
expressões idiomáticas.
25
2. A CONDIÇÃO DOS ESTUDOS SOBRE AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS.
“Alguma coisa pôde nascer do nada, propuseram
como princípio criador do mundo essa essência
imaterial e soberana, a Palavra”.
(Benveniste, 1976: 27).
2.1 O estado atual das expressões idiomáticas.
2.1.1-Introdução:
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas
mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam
primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam
longos meses debaixo do balaio, e se levavam tábua, o remédio era
tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas,
quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não
caíam de cavalo magro, algumas jogavam verde para colher maduro,
e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia
que, nesses entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa
furada. (Andrade, 1977:1183).
Nesse trecho da crônica Antigamente de Drummond (In: Poesia completa e
prosa) o poeta explora, com sabedoria, os efeitos do uso das “rebeldes ditas
expressões idiomáticas” (Xatara, 1998: 148).
Para tratar desse assunto, irei apresentar aquilo que de mais significativo foi
proposto por alguns autores acerca das expressões idiomáticas, sob a ótica de
algumas teorias lingüísticas do século XX. O critério para a seleção desses autores
se baseou na relevância que seus estudos tiveram para o avanço das pesquisas
Lingüísticas em relação ao Corpus deste trabalho. Para tanto, incluirei os
posicionamentos de Chafe (1979), Xatara (1998) e Biderman (2001), apontando
algumas considerações pessoais.
26
2.1.2 As expressões idiomáticas na visão de alguns lingüistas.
Sabendo-se que escolhemos, dentre todas as possibilidades que a língua
oferece, em termos lexicais, semânticos e sintáticos, os elementos que nos
interessam e os combinamos em vista de transmitir determinado conteúdo, o autor
do discurso seleciona e ajusta as palavras tendo como meta, criar efeitos de
sentidos
inesperados
que
possam
atingir
o
interlocutor,
dinamizando
as
potencialidades discursivas. Parece-me oportuno, apontar em primeiro lugar, o
posicionamento de alguns lingüistas acerca das expressões idiomáticas, para que,
em seguida eu possa expor uma definição mais precisa sobre o tema,
estabelecendo os limites da presente pesquisa.
Chafe em “Significado e estrutura lingüística” postula que a língua é um sistema
que fica entre os universos do significado e do som. De acordo com esse autor, de
um lado temos “coisas para dizer”, e de outro produzimos ruídos, que, transmitem
essas coisas.
A origem dessa concepção encontra respaldo em lingüistas como Saussure em
que lemos: “o signo lingüístico une um conceito a uma imagem sonora8”. Sapir em
1921 disse que: “a essência da linguagem consiste na atribuição de sons
convencionais, voluntariamente articulados, ou de seus equivalentes, aos diversos
elementos da experiência”.9 Bloomfield advertiu que “na fala humana, sons
diferentes têm significados diferentes, e estudar essa coordenação é estudar a
língua10”. E em Chomsky vemos asserções como: “uma gramática gerativa...é um
sistema de regras que relacionam sinais a interpretações semânticas desses
sinais11”.
8
Saussure, apud Chafe 1979:15.
Sapir, apud Chafe 1979:15.
10
Bloomfield, apud Chafe 1979:15.
11
Chomsky, apud Chafe 1979:16.
9
27
No entanto, o caminho que leva o significado ao som não é, de todo, direto. Os
tipos de divergência que se encontram entre o significado e a forma sonora que o
acolhe, são muito variados.12 Ainda, torna-se relevante lembrar que o fator
emocional interfere diretamente no som ou gesto do falante. Uma criança, por
exemplo, que esteja assustada pode chorar mais forte, por mais tempo, em um tom
mais alto de acordo com o seu grau de temor. Nessa concepção, assumindo as
palavras de Bastian (1965), Chafe afirmou que:
“A informação transmitida ao receptor refere-se principalmente à
disposição emocional, em que o emissor dos signos se encontra no
momento. As conseqüências de uma recepção efetiva são, em
grande escala, modificações das disposições emocionais dos
receptores”. (Bastian, 1965:598 apud Chafe, 1979:24)
De acordo com o pensamento de Chafe, e resgatando o propósito deste texto,
assume-se que, como nem sempre é possível um estudo histórico sobre a origem
das EIs que usamos, podemos afirmar que a motivação para a “criação” das
mesmas é, além de arbitrária, subjetiva. Os nomes escolhidos para integrarem um
idiomatismo manifestam valores expressivos relacionados com o falante e não
apenas uma identificação com o objeto.
Dessa forma, por meio da linguagem, o homem consegue transmitir suas
emoções, sutilezas de pensamentos, mensagens essenciais para o seu dia-a-dia,
além de inúmeros acontecimentos internos e externos a si próprio.
Chafe trata do efeito da idiomatização afirmando que um aumento na extensão
do inventário semântico era um dos principais fatores na evolução de uma língua, e
esse aumento causou a dualidade. O autor exemplifica a dualidade demonstrando
que no sistema primitivo de comunicação
13
“cada unidade conceptual isolada era
simbolizada por sua própria unidade simbólica individual, e somente um conceito era
transmitido por vez”.(Chafe, 1979:25). Assim, eram emitidos ruídos que transmitiam
12
13
Não é objetivo deste trabalho abordar esta questão. Para maiores detalhes ver Chafe 1979.
De acordo com Chafe “a comunicação humana e a animal coincidem apenas num nível de
generalidade que inclui também quase todos os outros comportamentos”, sendo plausível supor que
nossos ancestrais remotos, muito antes de possuírem qualquer capacidade que se assemelhasse de
perto à língua, possuíram, de fato, a capacidade de comunicar-se através do tipo de simbolização
primitiva”. (1979:22)
28
mensagens de um sistema nervoso a outro, e ao relacionarmos esse sistema de
simbolização primitiva com a língua, torna-se oportuno admitir que tanto os primatas
não humanos, como também outros animais e o homem moderno, possuem,
atualmente, tais sistemas. Esse último, também se comunica dessa maneira além de
usar a língua. No entanto, esse sistema apresentava-se precário para o crescente
desenvolvimento do inventário conceitual. “Algo tinha de acontecer, ou o sistema
cairia por seu próprio peso” (Chafe, 1979:25).
Houve então, uma pequena expansão no inventário dos símbolos através de
mudanças na laringe, na língua e no aparelho auditivo, o número de sons diferentes
disponíveis para a transmissão de mensagens ainda permaneceu pequeno.
Compare-se, para tanto, o limitado número de sons elementares que temos
disponíveis entre as línguas do mundo, para representarem as milhares de unidades
conceptuais que qualquer língua tem à sua disposição.
Na língua, o problema do inventário conceitual elástico que se esbarrava em um
inventário simbólico limitado foi resolvido da seguinte maneira: “ao invés da simples
junção de conceito a símbolo, a língua apresenta uma simbolização do tipo que se
segue, onde se entende que XYZ, WX, e TWYX sugerem várias combinações
arbitrárias de unidades simbólicas de ocorrência repetida” (Chafe, 1979:26).
Vejamos: 14
A
XYZ
B
WX
C
TWXY
Nesse tipo de sistema, que possui dualidade, há conceitos como também há
diversas maneiras de combiná-los em configurações variadas. A língua oferece
meios para que determinadas estruturas semânticas se convertam em som.
Além disso, a dualidade fez com que não houvesse mais a necessidade da
ligação entre uma alteração semântica a uma alteração fonética, e vice-versa. Uma
14
Exemplo extraído de Chafe 1979: 27.
29
nova unidade semântica passou a exigir apenas uma nova convenção da
simbolização por meio de uma configuração arbitrária construída a partir do
inventário já existente de unidades fonéticas.
Dessa forma, a dualidade tornou conceito e símbolo, livres um do outro, de
maneira que a alteração15 podia agora modificar um dos dois sem afetar o outro.
Chafe postula que há vários caminhos históricos pelos quais um significado novo
pode prover-se de um som. No entanto, estou interessada agora em esclarecer
como, na concepção desse autor, uma nova unidade semântica chega a existir.
Freqüentemente,
devido
às
necessidades
culturais,
políticas,
sociais
e
expressivas de uma sociedade, um novo conceito é adquirido de um povo que fala
outra língua. Temos como exemplo, o caso da assimilação de sauerkraut (palavra
alemã que significa literalmente “erva azeda”, “couve azeda”)
16
em inglês, e a
simbolização dada a esse conceito pode ser uma imitação da simbolização que lhe
fora dado na outra língua.
Então, o desenvolvimento de um novo significado a partir de um velho, em um
contexto determinado, caracteriza-se como um tipo de alteração semântica. “Tal
significado novo terá vitalidade e independência naquele contexto, mas não existirá
em outro lugar” (Chafe, 1979:42). Vejamos, nos enunciados abaixo, como isso se
processa:
Considera-se o significante pneu (aro de borracha, inflado por ar comprimido,
com que se revestem rodas de veículos), no contexto Maria está com pneu
(excesso de gordura localizada na cintura);
Suponhamos que denominemos o primeiro significado pneu 1, e o segundo
pneu 2;
Assim, postula-se que quando um novo significado como pneu 2 se
desenvolve em um contexto determinado, ele não apaga completamente o
significado antigo, embora o novo seja, aí, de ocorrência mais provável;
15
É importante ressaltar que essa alteração independente, seja do conceito ou do símbolo, introduziu
novas complicações na transformação de significado e som. Porém, não é objetivo deste trabalho
esclarecer aspectos concernentes a essa questão. Para maiores detalhes ver Chafe, 1979.
16
Exemplo extraído de Chafe, 1979:41.
30
Isso quer dizer que, o significado novo é uma unidade semântica
discretamente diferente da antiga;
Consoante as palavras de Chafe, o que se torna mais significativo é que, este
exemplo mostra como um significado novo como pneu 2 recebe a mesma
simbolização do antigo significado de pneu 1. Isso quer dizer que “um
significado novo que brota de um antigo permanece ligado à mesma
representação fonética desse antigo” (Chafe, 1979:42);
Em suma, o desenvolvimento histórico vem de pneu 1 para pneu 2. Há
também que se notar, avaliando este exemplo, que pneu 1 tem mais liberdade
semântica do que pneu 2, porque o primeiro significado não é tão restrito
contextualmente. Já pneu 2 é muito limitado quanto a sua ocorrência. Para
Chafe, esse tipo de unidade semântica que se caracteriza por sua restrição a
contextos muito limitados e que não tem uma simbolização direta própria, mas
que se aproveita da simbolização de outra(s), podem ser chamados de
idiomatismos restritos. E as unidades semânticas que “dão origem” ao
idiomatismo restrito podem ser chamadas de literalizações.17
Pode-se dizer também, tomando como base esse exemplo, que há duas
estruturas semânticas e uma delas contém um idiomatismo que diz respeito à
estética corporal. Acredito, que os falantes do português brasileiro “sabem”
que, pneu 2 é um desenvolvimento especial a partir de pneu 1; ninguém diria
que os significados são de condição igual.
Assim, esta minha exposição teve como propósito mostrar que para Chafe (1979)
os idiomatismos “são estruturas que representam combinações de morfemas sem
que esses, por si sós, constituam unidades semânticas, mas cujo conjunto constitui
uma nova unidade semântica da língua em questão”.
Xatara (1998) em seu artigo intitulado “O campo minado das expressões
idiomáticas”, apresenta questões teóricas e práticas relacionadas aos estudos
lexicológicos e ao tratamento lexicográfico das expressões idiomáticas, enfocando a
problemática do seu conceito.
17
“É característico das literalizações de idiomatismos restritos que elas sejam unidades do mesmo
tipo que os próprios idiomatismos”. (Chafe, 1979:44). Assim, tanto o idiomatismo pneu 2 como sua
literalização pneu 1 são unidades lexicais singulares do mesmo tipo especifico.
31
A autora apresenta uma análise morfossintática e semântico-pragmática das
expressões, procurando mostrar que as mesmas são sistematizáveis e, por isso, não
deveriam continuar desconsideradas pelos dicionários comuns, pelas gramáticas e
no ensino de línguas.
Para Xatara, o primeiro passo a ser tomado em relação aos problemas que levam
as expressões idiomáticas à marginalidade, é delimitar e identificar o tipo de unidade
lexical que deve ser chamada expressão idiomática. Para tanto, a autora toma por
base, entre várias teorias lexicais, as de Biderman (1978),
18
(1981)20, Gross (1982),
e Lodovici (1989)24, para
21
Rwet (1983)22, Tagnin (1988)
23
Chafe (1979)19, Danlos
propor a seguinte definição: “Expressão idiomática é uma lexia complexa
indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradição cultural”
(Xatara, 1998:149).
De acordo com esse conceito, sincronicamente, em análise distribucional ou
funcional, as EIs são unidades locucionais ou frasais que constituem uma
combinatória fechada, de distribuição única ou bastante restrita, pois se apresentam
como sintagmas complexos que não têm paradigmas, ou de acordo com as próprias
palavras da autora: “quase nenhuma substituição característica das associações
paradigmáticas pode ser normalmente aplicada (Xatara, 1998:149).
Dessa forma, torna-se impossível, de acordo com a autora, operações como as
que demonstrarei abaixo:
Ana bateu as botas = morreu
1- Ana bateu os sapatos (alteração do objeto direto)
2- Ana bateu suas botas (inserção de modificador)
3- Ana bateu as belas botas (inserção de modificador)
4- Ana bateu as botas da vida (inserção de ajunto adnominal)
18
Biderman , apud Xatara 1998: 149.
Chafe, apud Xatara 1998:149.
20
Danlos, apud Xatara 1998:149.
21
Gross, apud Xatara 1998:149.
22
Rwet, apud Xatara 1998:149.
23
Tagnin, apud Xatara 1998:149.
24
Lodovici, apud Xatara 1998:149.
19
32
Acho oportuno, no entanto, apontar uma outra alternativa de leitura para essa
questão que será melhor explorada no capítulo 4.
Em (1), por exemplo, nada me impede de admitir que, ao substituirmos bota por
sapato, há uma estilização modalizadora da expressão que nesse caso específico
pode ser utilizado para destacar algum traço de caráter de Ana (Ana não bate as
botas e sim os sapatos). Isso se torna mais claro ao considerarmos as
características25 dos substantivos que estão em jogo: bota – calçado de couro ou
borracha que envolve o pé, a perna e às vezes a coxa; sapato – calçado que cobre o
pé. Já em (2) e em (3), os modificadores, suas e belas, respectivamente, podem
funcionar como um qualificativo metafórico para o enunciado. E finalmente em (4), a
inserção do adjunto adnominal da vida pode, a meu ver, funcionar como um reforço
de interpretação para a expressão idiomática que tem como significado morrer.
No entanto, é válido ressaltar que os exemplos modificados e/ou modalizados
não apresentam uma leitura tão automática quanto a forma original. A interpretação
dos mesmos depende do domínio de algum efeito de sentido adicional. Enfim, tratase de uma modalização para morrer.
E ainda, de acordo com a autora não são possíveis operações como as que se
seguem:
5- Ana cortou as botas.
6- Ana bateu as botas que João lhe mandou.
7- Não acredito que as botas sejam batidas ainda esta noite, por Ana.
8- As botas que Ana bateu nos trazem saudades.
Segundo Xatara, a interpretação da expressão se torna inviável, caso o verbo
mude como em (5), já que a distribuição do verbo (bater) na construção dessa
expressão limita-se apenas ao substantivo botas. Porém, vimos que é possível haver
uma substituição sinonímica do substantivo (botas por sapatos), que promove uma
estilização da expressão. Quanto a substituição do verbo arrisco uma hipótese de
análise que será melhor desenvolvida, adiante. Vejamos:
Ana bateu as botas
Possibilidades de interpretação:
25
Dicionário Novo Aurélio século XXI, versão eletrônica.
33
Composicional: Ana aplicou pancadas com as ‘botas’.
Idiomática: Ana morreu
Ana cortou as botas (substituição do verbo)
Possibilidades de interpretação:
Composicional: Ana separou/dividiu a bota com instrumento cortante.
Idiomática: não existe.
Conclusão:
Esta expressão apresenta a seguinte tipologia: SV (V+SN). E como demonstrado
acima, a substituição do SN se torna possível (as botas por os sapatos)
considerando-se as restrições supracitadas. No entanto, ao substituirmos o verbo
temos um comprometimento quanto à interpretação da mesma. Assim:
a) Há uma composicionalidade fraca26 da EI quando substituímos as botas por
os sapatos, já que conseguimos uma aproximação estilizada com o
significado idiomático original.
b) Há composicionalidade forte da EI quando substituímos o verbo bater por
cortar, pois não conseguimos uma aproximação entre o significado da
expressão modificada e o significado da expressão original.
Ou seja, a EI bater as botas apresenta graus de composicionalidade, já que ao
substituirmos o verbo que compõe a expressão (bater por cortar) obtemos um
significado não compatível com o significado idiomático atribuído a expressão em
foco que é morrer. Por isso, assumo que tal EI apresenta uma escala que vai da
não-composicionalidade (Ana bateu as botas = Ana morreu), passa pela
composicionalidade fraca (EI estilizada = Ana bateu os sapatos) e vai até a
composicionalidade forte (Ana cortou as botas).
Ainda de acordo com esse enunciado, segundo a autora, temos outras restrições:
o complemento não aceita relativa como em (6), nem passiva como em (7) e nem
relativização como em (8). A meu ver, a interpretação idiomática em (6) realmente se
torna complicada, mas em (7) e em (8) ainda podemos ter uma interpretação na
dimensão da EI. Ou melhor, se o falante tiver o domínio da forma original da EI
26
Os aspectos referentes a composicionalidade fraca, composicionalidade forte e graus de
composidionalidade serão discutidos no capítulo 4 que se dedica a esta questão.
34
(bater as botas = morrer), é possível que o mesmo faça ajustes que o permita
reinterpretar tal expressão com as estruturas apontadas pela autora. E isso, se
estende, como tentarei demonstrar, a outros casos. Então nos enunciados abaixo,
Não acredito que as botas sejam batidas ainda esta noite, por Ana.
As botas que Ana bateu nos trazem saudades.
Pode haver uma interpretação idiomática caso o falante, tendo o domínio do
significado da EI bater as botas, faça adaptações que o permita extrair dos
enunciados o significado morrer. Poderíamos supor, no presente caso, que o falante
interpretaria tais expressões da seguinte maneira:
Não acredito que Ana morra ainda esta noite.
Ana morreu e isso nos traz saudades.
As possibilidades de variações, de acordo com Xatara 27, são:
Sujeito: João e Maria bateram as botas
Tempo verbal: Ontem, Ana bateu as botas.
Modo verbal: Acredito que Ana baterá as botas.
Advérbio de tempo: Ana bateu as botas há um mês.
Inserção de advérbio entre o verbo e o complemento: João bateu também
as botas.
Permuta lexical – Xatara afirma que nas EIs “quase nenhuma operação de
substituição
característica
das
associações
paradigmáticas
pode
ser
normalmente aplicada” (Xatara 1998:149). No entanto, a mesma autora diz
que “devido a certa produtividade dos componentes, o que não confirma, a
rigor essa tese de que as EIs são sintagmas sem paradigmas”(Xatara:1995),
podemos considerar que a mudança de itens lexicais se prestaria a
demonstrar uma estilização que, no presente caso, revela deboche, ironia,
etc. Então, afogar o ganso (o passarinho, o pardal), se prestaria a uma
estilização modalizadora que aqui diminui a importância do objeto em
questão.
Modalidade de asserção: E aí, Ana já bateu as botas?
Da negativa para a afirmativa: Não ser flor que se cheire
27
Exemplo adaptado de Xatara, 1995:203-204.
35
Ser flor que se cheire.
Presença facultativa de artigo ou a variação entre definido e indefinido:
Ana amarrou [0] o bode depois da discussão.
Ana amarrou um bode depois da discussão.
Ana amarrou o bode depois da discussão.
Se o possessivo for admitido, sua variação co-referente ao sujeito é
obrigatória.
Ana pensa que João já deve estar de saco cheio do patrão.
Ana pensa que João não deve estar com seu saco cheio do patrão.
Se a expressão vier no plural, o artigo pode desaparecer.
Ana está com a corda no pescoço.
Ana e João estão com cordas no pescoço.
Em síntese, Xatara apresenta questões teóricas e práticas relacionadas às EIs,
consideradas quanto à sua natureza estrutural e ao seu valor conotativo (conforme
pode se verificar no conceito proposto pela autora), e isso, a meu ver, evidencia
aspectos problemáticos concernentes as EIs que tentarei elucidar neste trabalho.
Biderman (2001) refere-se às lexias complexas quando discute a complicada
questão da segmentação das unidades léxicas no discurso. De acordo com a autora,
devido à inconsistência do código escrito, vocábulos como bom dia, boa tarde, dor
de cabeça, terça-feira, são chamados de lexias complexas, enquanto deveriam ser
chamados de lexias simples, pois já se encontram lexicalizados há muito tempo.
Para a autora, essa ambigüidade é resultado de uma ortografia inconsistente28 e
conservadora que não unificou os vocábulos acima como deveria.
Consoante as palavras da autora, além das lexias complexas, o português como
qualquer língua, possui um número muito grande de expressões idiomáticas ou
idiotismos, como são chamados pela gramática tradicional. “Tais idiotismos são
combinatórias de lexemas que o uso consagrou numa determinada seqüência e cujo
significado não é a somatória das suas partes”. (Biderman, 2001:173). Essa autora
define EIs como sintagmas lexicalizados com um sentido figurado, e não se pode
28
Para Biderman o hífen pode representar essa inconsistência ortográfica. O acento é usado em
palavras como guarda-roupa, terça-feira, mas não é usado em antes de ontem e Santa casa, por
exemplo.
36
chegar ao significado da expressão completa, somando-se os significados de cada
um dos seus elementos constituintes. Então, uma análise de “queimar dinheiro” não
deve ser feita da seguinte maneira:
“João queima dinheiro” = gasta desnecessariamente
Queimar + dinheiro = reduzir cédulas a cinzas.
Uma análise fragmentada da expressão equivaleria a violentar o significado
idiomático da mesma.
Enfim, as considerações da autora se limitam as questões relativas à lexicografia.
A mesma aponta que os dicionários atuais são bastante incoerentes. “A lexicografia
não chegou ainda a um bom nível de reflexão sobre os seus métodos e o seu objeto
– descrição do léxico da língua”. (Biderman, 2001:178). Por essa razão, o estudo
que a autora apresenta sobre EIs revela questões discutíveis que, como já foi dito,
fazem com que as lexias complexas sejam vistas apenas como produtos
lexicográficos. Não que isso seja irrelevante, porém o estudo acerca dessas
expressões carece de uma maior reflexão sobre seus aspectos sintáticos,
semânticos e discursivos.
Em suma, este capítulo representa um esforço de síntese sobre o estado atual da
arte. As idéias sobre as expressões idiomáticas, que foram aqui esboçadas, abriram
um largo horizonte, redimensionando os estudos sobre esse tema da linguagem
humana. No entanto, a meu ver, esses estudos foram realizados de modo
incompleto, sobretudo no que tange às definições próprias as unidades lexicalizadas
que aparecem, então, como tendo uma existência própria como parte do léxico e por
isso, devem ser também analisadas em sua dimensão discursiva.
37
3. proposta de conceito.
38
3. PROPOSTA DE CONCEITO
“Os mundos humanos são construídos por meio de
linguagem, preservados por ela, ensinados e
transmitidos [...] pela conversação. Um mundo que
deixa de ser falado deixa de existir”. (Alves, 1982)
3.1 O conceito: estruturas e análises
3.1.1 Introdução:
Neste capítulo, pretendo elucidar os caminhos que me levaram a propor um
conceito para as EIs a partir da premissa de que há equívocos terminológicos que
levaram as mesmas a serem consideradas como objetos excepcionais não
destacáveis nos estudos sintáticos, bem como aspectos morfossintáticos e
semânticos que convirjam para o conceito apresentado. A partir do conceito, tentarei
mostrar a existência de um gênero do discurso, “Seção de Frases” que abriga
elementos que fazem parte do corpus deste trabalho e ainda o funcionamento dos
provérbios que os diferem das EIs.
A partir de então, as expressões serão apresentadas como um fenômeno ligado
ao processamento discursivo tendo como base às palavras de Benveniste (1989:68):
“Todas as línguas têm em comum certas categorias de expressão
que parecem corresponder a um modelo constante (...), mas suas
funções não aparecem claramente senão quando se as estuda no
exercício da linguagem e na produção do discurso”.
Diante disso, farei também considerações sobre a teoria da Argumentação com
base em Perelman (1987) e Perelman e Tyteca (2002) que, neste trabalho, se
encontra circunscrito ao discurso político.
39
3.1.2 EI: um problema conceitual.
Conforme os conceitos citados no segundo capítulo, as expressões idiomáticas
são:
“Estruturas que representam combinações de morfemas sem que esses, por
si sós, constituam unidades semânticas, mas cujo conjunto constitui uma
nova unidade semântica da língua em questão”. (Chafe: 1979).
Ou como disse Xatara (1998) com base em outros autores:
“As EIs são lexias complexas, indecomponíveis, conotativas e cristalizadas
em um idioma pela tradição cultural”.
Para Biderman (2001) os idiomatismos são:
“Combinatórias de lexemas que o uso consagrou numa determinada
seqüência e cujo significado não é a somatória das suas partes”.
Com base nesses conceitos torna-se relevante esclarecer algumas questões para
que em seguida eu possa apresentar um conceito que, a meu ver, representa
satisfatoriamente as EIs.
Acredito que os conceitos que foram apresentados pelos autores já referidos
apresentam, além de uma incompletude, uma divergência que não acolhe, a
contento, as características de uma EI.
Chafe (1979) e Biderman (2001), referem-se aos idiomatismos, dando relevância
ao aspecto que diz respeito à nova unidade semântica que as expressões
idiomáticas representam. Os autores destacam o caráter sintático-semântico das
lexias complexas ao apontarem que os significados delas não são obtidos por meio
dos significados de suas partes isoladas. Porém, não há destaque no que diz
respeito às restrições lexicais e sintáticas que, grosso modo, englobam combinações
entre os elementos que compõem uma EI, como também não há um apontamento
discursivo das lexias complexas. Outra característica que, a meu ver, também
necessita de uma nova leitura, diz respeito ao aspecto semântico que, de acordo
com Xatara (1998) e autores como Biderman (1978), Chafe (1979), Danlos (1981),
40
Gross (1982), Ruwet (1983), Tagnin (1988) e Lodovici (1989), chegaram à definição
de que as EIs têm significado conotativo.
Enfim, os autores que estão sendo apontados neste trabalho se ocuparam dos
estudos acerca das EIs conferindo às mesmas uma produtiva regularidade estrutural.
No entanto, as considerações desses autores excluem aspectos relevantes sobre
as lexias complexas que não delimitam, satisfatoriamente, essa unidade lexical.
Por isso, torna-se relevante apontar uma definição mais precisa a respeito das EIs
para que eu possa formular novas propostas e comprovar a hipótese de que há,
realmente, uma carência nos critérios de análise sobre as EIs do português brasileiro.
Antes, porém, acho oportuno apontar aspectos que dizem respeito à natureza
morfossintática das mesmas que confirma o princípio de complexidade léxica.
3.1.2.1 Natureza morfossintática das EIs.
Xatara (1998) postula que as expressões idiomáticas são uma unidade lexical
indecomponível. Mas a relação que há entre as partes para formar o todo pode ser
analisada através dos aspectos morfossintáticos e semânticos. São sintagmas,
combinações de duas ou mais formas lingüísticas, em que uma delas funciona como
determinante e a outra como determinado. Há um elo de subordinação e, dessa
forma, estabelecem-se estruturas tipológicas de acordo com o elemento que pode ser
alterado na expressão idiomática. 29 Em outras palavras, os elementos que compõem
a expressão se subordinam a um termo que se caracteriza como sendo o núcleo da
lexia complexa e esse, por sua vez, é o elemento passível de transformação. No
entanto, as possibilidades de mudança dos elementos que compõem uma EI não
estão circunscritas apenas ao núcleo da estrutura, embora as mudanças no núcleo
sejam mais freqüentes.
29
Este critério torna-se preciso já que não há uma norma que me permita precisar o núcleo de uma EI.
Nos dicionários, por exemplo, não há um princípio que regule a entrada de uma lexia complexa. Uma EI
como “nascer em berço de ouro”, pode ser localizada no dicionário Houaiss versão eletrônica pelo
nome “berço”, e no dicionário Michaelis versão eletrônica a mesma é localizada pelo verbo “nascer”.
41
Em suma, o critério usado para a classificação se baseou na própria estrutura
sintática dos sintagmas e dessa forma, podemos identificar as EIs com as seguintes
estruturas:
a) Sintagma nominal (SN) - todas as palavras que compõem a expressão estão
subordinadas a um núcleo nominal.
*SN (N+prep+N) - “Todos deveríamos saber que os negócios com a China são cheios
de malícias, não há negócio da china
30
daqui pra lá. Há negócio da china de lá pra
cá”. Delfim Neto (ISTO É, 04/08/2002: 22).
*SN (N+adj)- “Montanha não é lugar de pé-frio”. Timberland. 100% à prova d’água“.
(VEJA, 05/06/ 2003: 89)
*Adj+N 31 - “Vovô enxuto e boa pinta. Procuro ninfetinha sarada para relacionamento
intenso e duradouro. Escolher o melhor é automático. Renault Scénic com câmbio
automático grátis”. (VEJA, 09/01/2002: 17).
*Prep+N+prep+N - “Dell é o seu único ponto de contato e responsável pelo serviço de
ponta a ponta. Dell líder mundial em Pcs”. (VEJA, 05/09/2002: 17).
b) Sintagma verbal (SV) – apresentam-se, em geral, com as seguintes estruturas:
*V+Art+N – “Vou ao plenário mostrar a cara senão vão dizer que estou morto”.
(Antônio Carlos Magalhães). (VEJA, 17/11/2004: 43).
* V+Art+Adj+N – “Ele sempre tem a última palavra” (VEJA, 02/11/2000: 14).
*V+Prep.+N – “... outro fator que levamos em conta, foi a vasta rede de
concessionárias Volkswagem/.../”. (VEJA, 05/06/2003: 85).
*V+Num+N+prep+N – “Chegou o novo Automania Serviço. É uma mão na roda”.
(ISTO É, 24/07/2002: 51).
30
31
Usarei o grifo para destacar às EIs nas mensagens publicitárias e nos EPPs.
Xatara (1988) classifica como Sintagma de função adjetiva (SFAdj) construções desse tipo. No
entanto, acho compensatório tratá-las como SN para que toda a classificação fique na dimensão
estrutural. Acho desnecessário introduzir um outro critério, o teor funcional, para classificar as
expressões idiomáticas. O mesmo critério foi usado com os sintagmas adverbiais que, são classificados
pela autora como sintagmas de função adverbial (SFAdv).
42
c) Sintagma adverbial (SAdv) – A lexia complexa (expressão idiomática) exerce a
função de um advérbio e se subordina a um verbo ou advérbio.
* “Transplante capilar. Fique de bem com a vida. Derm”. (VEJA, 25/06/2003: 30).
* “Venha fazer o test-drive em primeira mão. Não é um carro. É Airtrek Mitsubishi
motors”.(VEJA, 25/06/ 2003:37).
* “O presidente vem seguindo à risca o regime dele, inclusive está abstêmio há
cerca de quarenta dias. Ele só toma Coca light e a gente tem de acompanhá-lo”.
Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
sobre a dieta que o presidente Lula vem fazendo. (VEJA, 15/02/06: 15).
d) Sintagma frasal (SF) – geralmente são frases exclamativas ou nominais.
* “Depois da saideira, vai ver se eu tô na esquina! Beber redondo é beber com
responsabilidade. Skol”. (VEJA, 11/09/2003: 81).
* “Ela que vá pentear macacos!”. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, sobre a
organização Internacional do trabalho, que definiu como greve geral uma greve de
petroleiros ocorrida em 2002. (ISTO É, 07/04/2004: 22).
* “O PT ainda está muito em cima da crise política e tem de sair disso. Se não sair do
córner, a vaca vai pro brejo”.
Jorge Viana, governador do Acre (PT). (VEJA,
18/01/2006: 42).
* “Lula é uma máquina de dizer bobagem”. José Thomaz Nonô, deputado federal
(PFL-AL).(VEJA, 04/05/2005: 46).
A partir da natureza morfossintática das EIs, irei expressar formalmente a minha
proposta de conceito. Porém, como a definição apresentada a seguir pode englobar
estruturas lingüísticas que vão das locuções aos provérbios, convém explicitar a sua
abrangência.
3.2 O conceito.
Apresento, agora, a minha proposta de conceito que me parece mais satisfatório. A
saber,
43
As expressões idiomáticas são formadas por uma estrutura frásica que
apresenta
algumas
restrições
lexicais
e
sintáticas.
Contêm
combinações que não são distribucionalmente produtivas, havendo
uma tendência a interpretação não composicional, por essa razão
possuem sentido metafórico. Além disso, são recorrentes nos mais
diversos gêneros discursivos.
A partir desse conceito irei apresentar, nas seções seguintes, uma reinterpretação
sobre as EIs apresentando seus aspectos fundamentais.
Restrições lexicais e sintáticas – Do ponto de vista léxico-sintático uma EI não
admite que se altere ou substitua seus itens, sem que isso leve ou a uma
inaceitabilidade da expressão ou a uma interpretação completamente diferente.
Vejamos:
“Agora que o Brasil está preparadinho, ajeitadinho, eles querem comer o filé
que colocamos na mesa. Não, vão ter de roer o osso, primeiro”. O presidente
Lula, falando da oposição. (VEJA, 02/08/2006: 41).
EI: roer o osso (= ficar com a pior parte, sem vantagens e/ou facilidades).
* Agora que o Brasil está preparadinho, ajeitadinho, eles querem comer o filé que
colocamos na mesa. Não, vão ter que triturar o osso, primeiro.
A princípio, esta alteração confere a EI (roer o osso) uma interpretação não
compatível com o significado idiomático da mesma: ficar com a pior parte, sem
vantagens, facilidades.
No entanto, há muito que se verificar acerca deste nível sintático da
convencionalidade32. Pode-se dizer que por nível sintático compreende-se a
combinação, a ordem e a gramaticalidade dos elementos que compõem uma
expressão. Assim, a única explicação possível para a combinação é a de que a
associação entre algumas palavras tenha sido consagrada pelo uso, ou seja, de que
ela seja convencional. É o caso, por exemplo, do substantivo velho (a) que sempre co32
Por convencionalidade entendemos “aquilo que é tacitamente aceito, por uso ou geral
consentimento, como norma de proceder, de agir, no convívio social; costume; convenção social”.
(Ferreira apud Tagnin, 1989).
44
ocorre com gagá no sintagma velho (a) gagá. Quanto à ordem dos elementos em um
sintagma, essa pode ser o resultado de uma convenção canônica. Em português, por
exemplo, Nome + adjetivo é a ordenação direta para construções desse tipo, por isso,
dizemos sempre pé-frio e não frio-pé.
Outro fator que merece destaque, no que diz respeito às restrições lexicais e
sintáticas, encontra-se demonstrado nos exemplos abaixo:
EI: dar um empurrão (ajudar alguém)
“É uma longa subida, mas estamos dando um bom empurrão na ciência.
Agilent Technologies”.( VEJA ,13/03/2000:4).
Neste exemplo temos a inserção do adjetivo bom que, neste caso, torna-se um
aliado positivo para expressar o fato em questão.
EI: por a mão no fogo por alguém (demonstrar confiança)
“Eu não ponho a mão, ponho o corpo no fogo pelos meus filhos”. Antônia
Palocci, mãe do ministro Antônio Palocci e Ademar Palocci, diretor de
engenharia e planejamento da Eletronorte, acusado de tráfico de influência.
(VEJA, 28/09/2005: 52).
Aqui, temos uma modificação introduzida pelo locutor que aumenta a importância
do aliado (mão por corpo) usado para expressar sua confiança.
Vejamos outro exemplo:
Ex: a) “Com a Nestlé, você nunca erra. Afinal, ela já testou e aprovou tanto para a
gente, que é só confiar. Quanto a minha parte, confesso que é mais divertida: eu
arregaço as mangas e solto a imaginação”. (VEJA, 19/06/2001: 90).
b)[...]eu arregaço as mangas verdes e solto a imaginação.
c)[...]eu arregaço aquelas mangas e solto a imaginação.
O sentido idiomático da expressão arregaçar as mangas é trabalhar muito. Porém,
ao se analisar os exemplos (b) e (c) em que se tem a inserção do adjetivo verdes e
do pronome demonstrativo aquelas, respectivamente, percebe-se que há algo em
torno da idéia de contextos especiais que deve se levados em consideração ao se
analisar uma EI. Nada impede, por exemplo, que a expressão ilustrada na letra (b)
45
seja proferida por um torcedor do América. E na frase representada na letra (c) o
pronome demonstrativo pode consistir essencialmente numa modificação introduzida
pelo locutor, como resultado das condições postas à sua realização e da relação
entre os elementos envolvidos na produção. Por isso, a meu ver, a palavra algumas
colocada na proposta de conceito supracitada, descreve bem a relação de restrição
lexical e sintática que envolve as EIs.
Não são distribucionalmente produtivas – A EI se torna, geralmente, inaceitável
quando a substituição entre seus elementos é feita de forma aleatória porque, sendo
assim, há um rompimento do domínio extensional do objeto em questão. Vejamos:
* “Não fico no cargo nem que a vaca tussa”. Roberto Rodrigues, ministro da agricultura
sobre uma atual reeleição de Lula. (ISTO É, 24/05/2003: 22).
* Não fico no cargo nem que o poste tussa.
Neste exemplo, a substituição aleatória do termo vaca por poste comprometeu o
sentido33 da EI que é de maneira alguma/de jeito nenhum. No entanto em:
* Não fico no cargo nem que o touro/cavalo/bezerro tussa. 34
Nada me impede de admitir que esta expressão adquiriu, neste contexto, um valor
compatível a partir do sentido cristalizado (nem que a vaca tussa = de maneira
alguma/de jeito nenhum), e sendo assim, a relação entre os termos se encontra
lexicalizada no momento de sua manifestação, ou seja, no instante em que o falante
pronuncia a expressão “Nem que o cavalo tussa”, por exemplo, supondo o
conhecimento da EI original “Nem que a vaca tussa” por parte dos envolvidos no
momento da enunciação, torna-se apropriado admitir que tal expressão modificada
não apresente problemas de decodificação.
33
Para o presente trabalho adotei a noção de sentido descrita em Mari, 1998 em que se lê: “a
construção do sentido numa língua natural depende das condições que devemos reunir para a
aplicação dessa função, ou seja, a existência de significantes e de significados disponíveis.
34
É relevante destacar que deve haver uma razão motivada para que o falante substitua vaca por
cavalo, touro, etc. Além disso, deve-se postular que o mesmo conheça a EI original e por isso ‘cria’ um
idiomatismo a partir de uma EI.
46
Há uma tendência a interpretação não composicional – Neste aspecto observa-se
a convencionalidade na relação não motivada entre uma EI e seu significado. Como
mencionado anteriormente, o falante pode não conhecer a relação histórica que faz
com que esticar as canelas signifique morrer. Há também que se considerar que o
significado desta expressão pode35 se tornar imprevisível se se atender ao significado
de esticar e de as canelas. Em outros termos, não se identifica uma EI a partir do
conhecimento do significado individual dos itens que a compõem.
Desse modo, ao analisarmos esticar a canela como (V + SN) temos uma
estranheza quanto ao significado da lexia complexa, se considerarmos a soma de
suas partes componentes, isto é, [So: alongar a parte da perna que se localiza entre o
joelho e o pé].
No entanto, o conjunto dos segmentos da cadeia sintagmática, constituindo uma
EI, elimina essa estranheza, já que passa a representar um significado não previsto
pelas condições iniciais do significado de seus constituintes. Esse segundo significado
não previsto pelas condições iniciais do significado dos constituintes, seria, na
concepção de Barthes (1977) uma extensão do plano de significação que passa a ter
um significado conotativo.
Segundo esse autor “um sistema conotado é um sistema cujo plano de expressão
é, ele próprio, constituído por um sistema de significação”. E prossegue:
“Todavia, o futuro sem dúvida pertence a uma Lingüística da
conotação, pois a sociedade desenvolve incessantemente, a partir do
sistema primeiro que lhe fornece a linguagem humana, sistemas de
segundos sentidos e essa elaboração, ora ostentada, ora mascarada,
racionalizada, toca muito de perto uma verdadeira Antropologia
Histórica”.(Barthes, 1977:52).
Consoante as palavras de Barthes, poderíamos admitir que a expressão em tela
tivesse sido construída, diacronicamente, através da expansão de um primeiro plano
de significação, aquele que teria existido a partir da combinação de suas partes
componentes. Mas, neste trabalho, a conotação, na perspectiva de Barthes, servirá
apenas para mostrar que não se pode falar de uma EI em termos de conotação, ou
35
Supostamente, um falante pode ser desafiado a explicar tal expressão e, a partir dos movimentos
metafóricos e metonímicos, criar uma explicação causal para o movimento de esticar as canelas.
47
seja, nem sempre o uso consagrado de uma EI traduz-se pela conotação, como
expansão de um primeiro sistema de significação.
Então, assumindo que a proposta de Barthes pudesse explicar parte dos
fenômenos associados à existência de um EI, teríamos a seguinte formulação: o
primeiro sistema de significação (a expressão considerada em suas partes
componentes) torna-se o plano de expressão ou significante para um segundo
sistema de significação (a expressão considerada em sua totalidade). Aquele constitui,
então, a denotação e o segundo, como extensão do primeiro, a conotação, que
podemos visualizar no esquema abaixo:
a) A estátua
quebrou
a
cara
(Se/So)+ (Se/So)+ (Se/So)
=
1º sistema
de
significação
(1º sentido)
denotativo
b) “Quem estiver torcendo para o fracasso do Brasil vai quebrar a cara”. Luiz Inácio
Lula da Silva, presidente da República voltando do Oriente. (VEJA, 08/06/2005: 42).
[...] vai
quebrar
a
cara
((Se/So1)/So2: decepcionar-se))
=
2º sistema
de
significação.
(2º sentido)36
conotativo
Este esquema nos mostra que quebrar a cara em (b) poderia ser uma conotação
para quebrar a cara em (a), admitida, ao menos, a expansão de quebrar como no
exemplo. Em (b) o constituinte quebrar, com a expansão proposta - ((Se/So1)/So2:
decepcionar-se)) - contribui para o sentido geral que a EI assumiu, isto é, [So:
decepção]. Então, embora a expansão tivesse sido proposta apenas para quebrar, já
que metonimicamente cara deve manter-se com algum traço de influência sobre o
sentido da EI, o segundo sentido referido no esquema deve se aplicar à EI como um
36
É relevante ressaltar que o processo de conotação proposto pelo autor está sendo usado,
neste trabalho, apenas como uma justificativa hipotética na obtenção de EIs. Essa idéia de 2º
sistema de significação não equivale à proposta de Barthes, a não ser enquanto uma reconstrução
diacrônica da expressão.
48
todo. Desse modo, ainda que (b) possa ter parte do seu sentido explicado pela
expansão de um dos seus signos, vale notar que às EIs se processam em nível
denotativo, porque estão convencionalmente previstas no próprio sistema lingüístico,
comportando também, provavelmente, traços de ‘teor’ enciclopédico. E o fato de ser
ela uma expressão de uso corrente neutraliza a possibilidade de a mesma ser
considerada uma conotação autêntica.
Este esquema do autor nos oferece a seguinte possibilidade de interpretação: o
que poderia ser apontado como uma condição de conotação para a EI seria aquilo
que assumimos, nesta pesquisa, como estilização. Por exemplo, caso o enunciador
(Presidente Lula, em ‘b’) dissesse que “Quem estiver torcendo para o fracasso do
Brasil vai quebrar o focinho”, teríamos além do valor denotativo da EI em seu
sentido primeiro, um efeito adicional de ironia e/ou deboche. Esse efeito adicional,
poderia ser considerado uma conotação a partir do sentido próprio da EI “quebrar a
cara”.
3.2.1 As EIs e os provérbios
“Amor com amor se paga”.
"Estamos todos na mesma canoa”.
“Deus dá o frio conforme o cobertor”.
A origem dos provérbios está, indiscutivelmente, na sabedoria popular. Eles são
parte do folclore dos povos, assim como as lendas, os mitos, as superstições e as
canções, uma vez que traduzem conhecimentos e crenças. São manifestações do
passado cristalizadas no presente. Sendo folclóricos, os provérbios são enunciados
anônimos37. São fruto da experiência cotidiana individual ou coletiva, de quem
vivenciou determinadas verdades.
À exceção dos provérbios bíblicos, que se encontram no Livro dos Provérbios, no Antigo Testamento,
assim chamados apesar de serem atribuídos ao Rei Salomão.
37
49
Grzybek (1995) afirma que os provérbios têm a função de produzir um efeito
particular, uma mudança no estado de consciência nos ouvintes desejada pelo que
fala. Esta e outras funções estão de acordo com Mieder (1977) que resume:
"Os provérbios podem inclusive ter a função de cuidado, persuasão,
admoestação, repreensão, depoimento, caracterização, explanação,
descrição, justificação, resumo, etc, e é bem possível que um ou o
mesmo provérbio tenha diferentes funções em diferentes contextos
que sejam empregados”.
Um simples provérbio como “a voz do povo é a voz de Deus” pode ser usado tanto
como uma constatação, ou como justificativa de uma atitude.
Uma segunda função abordada por Peter Grzybek está relacionada com o que os
provérbios de uma determinada sociedade desempenham para o seu sistema de
normas e valores. Estas funções podem ter, por exemplo, a finalidade de
entretenimento ou educacional; transformando em instrumentos para criar ou
estabelecer certas normas sociais e comportamentais. Um provérbio português diz:
“antes só do que mal acompanhado”; e serve para exemplificar esta segunda função.
Como terceira função, os provérbios podem ser usados não para uma situação
interativa, mas para se referir a uma situação. Dois indivíduos podem lembrar de um
ditado após conversarem sobre um fato ocorrido com terceiro(s). Nestes casos os
provérbios funcionam como uma base para se fazer analogias entre os fatos ocorridos
e o próprio provérbio: “amigos certos nas horas incertas”.
O provérbio é a designação genérica dos ditos cristalizados que exprimem, em
geral metaforicamente, uma verdade ou resumem uma experiência. É uma sentença
independente e de sentido completo, que direta ou indiretamente expressa um
pensamento, uma experiência, uma regra, uma norma, uma advertência, um
conselho.
São características dos provérbios, quanto ao conteúdo, a sua formulação abstrata,
isto é, não referida a nenhum caso particular, e a sua validade é universal, sem
distinção de lugar e tempo. Quanto à forma, distinguem-se pela elaboração
50
trabalhada, artificiosa, que utiliza os mais variados recursos de construção, como a
metrificação (em grande número redondilhas), a rima, a aliteração, a similicadência, a
repetição, o paralelismo, o dialogismo e outros sem excluir a deformação intencional
de palavras e da sintaxe.
Perante tais observações, é natural que haja dúvida sobre o que haverá de
excepcional neste tipo de construção que os diferem das EIs, já que tanto os
provérbios quanto as EIs possuem características sintáticas e semânticas bem
semelhantes.38
Há EIs que também se apresentam como unidades complexas e independentes:
“Ser Maria vai com as outras”, “Ser dono do próprio nariz”, por exemplo, são EIs que
não precisam, necessariamente, estarem em um contexto específico para que as
identifiquemos e as decodifiquemos. Ex: Ana é Maria vai com as outras/ é dona do
próprio nariz.
Porém, diferentemente das EIs, os provérbios possuem, comumente, na
conversação, uma função avaliativa e um tom didático. Essencialmente, o mesmo
efeito pode ser conseguido ao citar-se a Bíblia, autores famosos ou autoridades
relevantes em determinada área. Nós nos tornamos tão acostumados a ouvir os
provérbios citados como papéis avaliativos do comportamento, que a maioria deles
adquire o sabor didático. Por exemplo, o provérbio “água mole em pedra dura tanto
bate até que fura” embora possa significar “que uma pessoa deve insistir muito para
conseguir alcançar seus objetivos”, os ouvintes interpretam-no segundo as suas
crenças, o seu ponto de vista. Assim, torna-se óbvia a natureza didática dos
provérbios e há que se reconhecer a importância do momento didático no seu
significado interacional.
Possuem sentido metafórico – No que se refere ao seu valor metafórico, às EIs
podem ser classificadas como:
38
Este aspecto não será mostrado neste trabalho.
51
a) fortemente metaforizadas – quando o sentido da EI não guarda uma relação
direta com o significado dos seus itens componentes.
Aqui, cabe lembrar o pensamento de Steen (1994). Para esse autor muitos
significados são automaticamente ativados na mente dos falantes, assim como os
significados literais, ou seja, em alguns casos não encontramos relação alguma entre
a EI e o seu significado idiomático. O falante decodifica a EI por ter em sua mente o
conceito metafórico referente ao significado da mesma. Então, expressões fortemente
metaforizadas podem ser chamadas de metáforas convencionais, pois têm seus
significados automaticamente ativados na mente de cada indivíduo. Vejamos:
Tirar sarro = debochar
“Kaiser bock, Euclides e a comida da Fernanda. O Euclides era um namorado
atencioso com a Fernanda, mas tinha um defeito: tirava sarro da comida dela...”.
(VEJA, 12 /06/2002: 58).
Ao utilizar esta expressão, o falante pode não cogitar da compreensão histórica
que faz com que tirar sarro signifique debochar de algo ou alguém.
Afogar a mágoa = beber exageradamente
“A cerveja fica para os Alemães afogarem as mágoas. Chandon Brasil. Vitória se
comemora com Chandon. Parabéns Brasil”. (VEJA, 09/07/ 2002:51).
O entendimento da EI acima só se torna possível porque o falante aprendeu que
afogar as mágoas significa consumir bebida alcoólica exageradamente. Não há
relação alguma entre a expressão e a imagem aludida. Dentre os possíveis
significados para afogar as mágoas, não se sabe por que foi convencionado consumir
bebida alcoólica exageradamente.
b) fracamente metaforizadas – quando o sentido da EI guarda alguma relação
aproximativa com o significado dos seus itens componentes.
Enxugar o preço = reduzir o valor da mercadoria
“No lugar de reduzir a quantidade de tinta, enxugamos os preços. Cartuchos ink Jet
compatíveis. 100% novos e lacrados”.(VEJA, 20/02/2003: 83).
52
Neste exemplo, há uma relação entre um dos constituintes, enxugar (tirar a
umidade, fazer cessar, diminuir a quantidade de moeda em circulação39), e o
significado idiomático da expressão. O mesmo pode ser visto em:
Virar uma onça = ficar extremamente irritado/bravo.
“Eu não seria capaz, não, eu sou capaz. Se tocar em um filho meu, pode ser
senador, presidente da República, eu viro uma onça” Heloísa Helena, senadora
(PSOL-AL), fazendo coro com Virgílio e ACM neto. (VEJA, 09/11/2005: 50).
Essa expressão torna-se de fácil entendimento, porque há uma convenção
baseada na imagem da onça (animal valente, bravo). Por isso, a expressão
praticamente não apresenta problemas de decodificação.
Ainda no âmbito da tipologia, torna-se relevante apontar a formulação de Willians
(1994), que avança em relação a esse ponto. De acordo com o autor as expressões
idiomáticas “não seguem todas as regras; violam tanto regras sobre a forma (formal
idioms), como regras de interpretação (semantic idioms)”.
Dessa forma, em (a) “Os novos potes de Qualy estão mais bonitos e mais
resistentes. Tem de tampa amarela que é só bater o olho para bater aquela vontade”
= olhar repentinamente, (VEJA, 05/09/2002: última capa), a interpretação não é
simétrica ao seu processo sintático, isto é, ela não é interpretável como V +art+N. No
entanto, em (b) “João bateu o olho na maçaneta” (machucou o olho ao tentar olhar
pelo buraco da fechadura), há uma simetria entre a interpretação semântica e seu
processo sintático. Em outras palavras, o enunciado continua sendo interpretado
como V+art+N. Vejamos este exemplo representado no esquema abaixo:
39
Novo Aurélio Séc XXI, versão eletrônica.
53
(b) João bateu o olho na maçaneta
Simetria composicional
Sintática
V + art +N
Semântica.
V + art +N
Conclusão: bater o olho, nesse contexto é nulamente metaforizada, já que o seu
sentido decorre da associação direta do significado de bater, mais do significado
de o olho.
Em síntese, os enunciados (a) e (b) foram produzidos da mesma forma em termos
sintáticos. Porém, no enunciado “Os novos potes de Qualy estão mais bonitos e mais
resistentes. Tem de tampa amarela que é só bater o olho para bater aquela vontade”
(olhar repentinamente) a simetria está obliterada. A interpretação que fazemos dela
não é mais simétrica à sua geração sintática.
Ainda em relação à produção em termos sintáticos, torna-se relevante destacar
uma simetria parcial entre a EI e os itens que a compõem. Vejamos:
Subir na vida = melhorar as condições.
“Desafie a lei da gravidade: suba na vida. Vestibular UNA 2003” (VEJA, 26/09/2002:
63).
Ficar por cima = estar em melhores condições.
“Fique por cima. Faça Unicor vestibular 2004”. (VEJA, 15/10/ 2003: s/p).
54
Baixar a cabeça = demonstrar-se derrotado.
“Não vai ser a elite brasileira que vai fazer eu (sic) baixar a cabeça” Luiz Inácio Lula
da Silva, presidente da República. (VEJA, 03/08/2005: 52).
Considerando que em nossa cultura ocidental tudo que é “para cima” é “bom”,
enquanto o que for “para baixo” é “ruim”, as expressões em destaque não apresentam
dificuldade de entendimento, porque “subir” nos remete a algo positivo, isto é,
melhorar as condições de vida enquanto “baixar” denota uma atitude negativa.
Nestes exemplos, torna-se clara a relação intermediária entre a assimetria não
composicional
e
a
simetria
composicional
destacadas
anteriormente.
Aqui,
percebemos uma simetria parcial, já que há uma herança de sentido de uma das
partes componentes da EI.
São recorrentes nos mais diversos gêneros discursivos – As EIs apresentam-se
de forma abundante nos mais diversos usos da língua.
Ex: “Não sou aquele príncipe da tevê. Vou a supermercados e sou muito pé no chão”
(Reynaldo Gianecchini, ator em entrevista a Marília Gabriela, no GNT).
“Uma parte do dinheiro foi roubada, retornando por baixo do pano às empresas
beneficiadas pelo subsídio fiscal”. (artigo de opinião da revista VEJA, 08/06/2005:
159).
Aqui, abro um parêntese para discutir uma hipótese que pretendo demonstrar ao
longo desta parte do trabalho.
55
3.2.1.1 Seção de Frases: um gênero do discurso.
Cumpre ressaltar que neste trabalho abordarei apenas os gêneros publicidade40 e
“Seção de Frases41”, por possuírem elementos que constituem o Corpus deste
trabalho.
Sabendo-se que as marcas formais de um gênero apresentam correspondências
regulares com o mundo que ele evoca, tentarei com base na teoria dos gêneros do
discurso proposta por Bakhtin, comprovar, por meio da descrição de características, a
existência de um gênero do discurso que aqui se convenciona chamar de “Seção de
Frases”.
Hoje, a noção de gêneros discursivos se estende a todos os tipos de produções
verbais. São fenômenos históricos, ou seja, estão necessariamente atrelados ao
contexto cultural e social. Todavia, os gêneros discursivos não podem simplesmente
ser tomados como “estruturas” ou “roteiros” que se encontram disponíveis, para que o
locutor utilize-os como molduras para o seu enunciado.
Como fruto de um trabalho coletivo, os gêneros discursivos proporcionam o
ordenamento e a estabilização de todas as atividades comunicativas do cotidiano.
Trata-se, portanto, de formas discursivas que colaboram sobremaneira para a
instituição de qualquer situação comunicativa.
Contudo, mesmo evidenciando seu poder preditivo e interpretativo na formulação
dos discursos, os gêneros não impossibilitam ou inviabilizam o processo criativo do
enunciador. Mesmo que alinhados a um formato “padrão”, apresentam-se igualmente
maleáveis, versáteis, assumindo contornos, por diversas vezes, bem diferenciados.
Com base nisso, as referidas seções privilegiam, não somente a questão do
gênero, mas também abordam, a semântica e a expressividade, aspectos que serão
tratados no decorrer desta subseção.
40
Como o meu objeto não é a descrição da publicidade como gênero do discurso, não irei apontar
questões sobre o gênero publicitário.
41
Na revista Veja a seção recebe o nome de “Veja Essa” e na revista “Isto É” recebe o nome de “Frases”.
56
O interesse pelo estudo da linguagem como processo de interação, alicerce
fundamental do conceito de gênero, foi outro fator motivador para que eu discorresse
sobre esse assunto. É importante ressaltar, no entanto, que segui aqui os princípios
expostos por Bakhtin, uma vez que minha intenção é a descrição das características
do gênero que utilizo como Corpus. Considero irrelevante apresentar diferentes
posicionamentos acerca da questão da conceituação de gênero.
3.2.1.2 Sobre os gêneros.
Para conceituar gênero do discurso, de acordo com Bakhtin, torna-se fundamental
perceber a utilização da língua como um processo com variadas, heterogêneas e
múltiplas maneiras de realização. A estas diferentes formas de incidência dos
enunciados, o autor denomina gêneros do discurso, já que “[...] cada esfera de
utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin,
1992:277).
No entanto essa “relativa estabilidade” que é inerente a um dado gênero, chama a
atenção e deve ser compreendida como algo passível de aprimoramento ou alteração,
principalmente, em se tratando da linguagem, que é atividade verbal e tem relação
direta com outras culturas e com o desenvolvimento social.
Bakhtin com sua proposta de conceituação para os gêneros do discurso supriu a
necessidade de se compreender os enunciados como fenômenos sociais resultantes
da atividade humana, caracterizados por uma estrutura pilar básica suscetível a
determinadas modificações. Desse modo, só existe relacionado à sociedade que o
utiliza.
Devido à extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso, resultado da
infinidade de relações sociais que se apresentam na vida humana, Bakhtin optou por
dividi-los em primário42 (simples) e secundário43 (complexo). Essa subdivisão é
determinada pela heterogeneidade lingüística.
Os chamados gêneros primários são aqueles que emanam das situações de comunicação verbal
espontânea, não elaborada. Pela informalidade e espontaneidade dizemos que nos gêneros primários
42
57
No entanto, esses gêneros chamados mais complexos absorvem e modificam os
gêneros primários:
“Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros
secundários, transforman-se dentro destes e adquirem uma
característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade
existente e com a realidade dos enunciados alheios44 [...]” (Bakhtin,
1992:281)
De acordo com esse autor, são três os elementos principais em que devemos nos
fundamentar para verificar o gênero a que pertence determinado enunciado:
Conteúdo temático – é o assunto de que vai tratar o enunciado em questão;
Plano composicional – alude à estrutura formal propriamente dita;
Estilo – leva em conta questões individuais de seleção e opção: vocabulário,
estruturas frasais, preferências gramaticais.
Cumpre ressaltar que as três características aqui arroladas como principais nada
representam se o enunciado não for analisado levando-se em consideração todo um
contexto. Ou seja, os enunciados pertencem à determinada esfera da atividade
humana, são devidamente localizados em um tempo e espaço (condição sóciohistórica) e dependem de um conjunto de participantes e suas vontades enunciativas
ou intenções.
A seguir, tentarei definir a minha proposta de gênero “Seções de Frases”,
descrevendo estas três categorias.
temos um uso mais imediato da linguagem. Ex: linguagem oral, diálogos entre familiares, reuniões de
amigos, etc.
43
Nos gêneros secundários existe um meio para que seja configurado determinado gênero. Esse meio
é normalmente a escrita. Logo, se há meio, dizemos que há relação mediata com a linguagem, se há
meio, há uma instrumentalização. O gênero, então funciona como instrumento, uma forma de uso mais
elaborada da linguagem para construir uma ação verbal em situações de comunicação mais complexas
e relativamente mais evoluídas: artística, cultural, política.
Bakhtin usa o seguinte exemplo: uma carta ou um fragmento de conversação do dia-a-dia, quando
inseridos em um romance se desvinculam da realidade comunicativa imediata, só conservando seus
significados no plano de conteúdo do romance. Ou seja, não se trata mais de atividades verbais do
cotidiano, e sim de uma atividade verbal artística, elaborada e complexa.
44
58
3.2.1.3 Descrição do gênero “Seção de Frases”
Utilizei como corpus de análise duas seções veiculadas nas edições semanais das
revistas Veja e Isto É. Na revista Veja a seção recebe o nome de “Veja essa” e na Isto
É recebe o nome de “Frases”. O conteúdo temático encontrado nas referidas seções é
bem variado (enunciados de personalidades ligadas ao futebol, ao meio artístico, à
moda e à política). Além disso, torna-se relevante assumir que as seções, assim como
os demais atos de fala ali presentes, podem ser concebidas como gênero, pois
formata uma ação de linguagem cujo propósito é comunicar a ocorrência de um fato.
E nesse contexto, as seções contribuem efetivamente para representar uma
relação dialética estabelecida entre a legitimidade e a credibilidade, no sentido de que
o tipo de discurso que as compõem se caracteriza exatamente pelo fato de o falante
buscar se legitimar por meio da construção de sua credibilidade.
Com o propósito de iniciar a caracterização das “Seções de Frases”, convém
estabelecer quais foram os seus modos de produção, circulação e recepção.
Uma vez que estamos diante de textos que parecem representar um recorte de
falas e que são veiculados em revistas, sabemos que há todo um processo próprio de
elaboração: seleção dos enunciados, editoração, diagramação e revisão. Isso reforça
a idéia de que tais seções podem ser um gênero – um gênero que não é criado por
quem fala, mas por quem organiza os enunciados.
Todo esse processo já nos indica que se trata de um gênero secundário, mais
complexo e elaborado, cuja relação com a linguagem é mediata. O gênero é um meio,
um instrumento para a realização da situação comunicativa.
Em se tratando de circulação, as seções são parte constitutiva de duas das mais
importantes revistas de nosso país, embora saibamos que não são exclusividades das
mesmas. Tais seções são rotuladas de diferentes formas em diferentes veículos, mas
assumem nessas revistas uma certa regularidade - são apresentadas em forma de
recortes das falas dos políticos e personalidades ligadas a diferentes áreas. Assim
sendo, pode-se estabelecer uma relação do gênero como instrumento através do qual
a linguagem se presta a determinada situação de comunicação.
59
Com relação à recepção, que entendo como a relação do leitor/ouvinte com o
enunciado, pode-se deduzir que haja uma expectativa de obtenção de informação,
uma vez que é um texto de revista, ou melhor, as seções tornam-se um espaço de
confluência entre discursos, que se comportam em estreita consonância com os
modos de dizer da época atual. Os discursos veiculados nessas seções são
institucionalmente legitimados e possuem suas normas. Para ‘vender’ uma idéia, os
mesmos possuem entrelaçamentos e estruturas lingüísticas afinadas com uma
espécie de tendência geral reinante, nas atuais sociedades de consumo ocidentais:
pouco texto, imagens arrojadas, cores, legendas ou frases instigantes aludindo
sempre a uma realidade que, parece dizer respeito ao real.
Por isso, ao deparar-se com os referidos enunciados, o leitor espera receber as
informações de forma rápida, pois é essa a característica mais marcante dos
enunciados que analisei nas referidas seções.
Delimitados esses aspectos, passo a descrever, de modo geral e seguindo a teoria
bakhtiniana, as três características que compõem o processo de análise e definição de
um gênero.
Com relação à estrutura, ou plano composicional, alguns aspectos das seções
supracitadas são fundamentais para defini-las como gênero específico.
Os textos que compõem as seções, como mencionado acima, são pequenos
(recortes) e trazem grande conteúdo informacional e essa forma de apresentação,
aliada, às vezes, a algumas fotografias dos enunciadores, provoca interesse no leitor.
Os enunciados ocupam posições bem destacadas e quase sempre são
evidenciados com um fundo colorido. Os textos são concisos, o que implica
diretamente outra característica observada: esses enunciados conferem uma rápida
decodificação por parte dos leitores.O conteúdo informacional é passado de forma
rápida e eficaz.
Quanto ao conteúdo temático, esse se evidencia no título que dei ao gênero
“Seção de Frases”. Os enunciados versam sobre assuntos que estão em voga no
momento e que corrobore com a intenção primordial das revistas.45
45
Este aspecto será abordado no tópico 3.3.5.
60
A última característica proposta por Bakhtin para descrever um gênero seria o
estilo. Desprezando questões pessoais e individuais, e considerando seu valor
universal que, dificulta a classificação de um gênero de um ponto de vista estrutural,
um dos aspectos que desejo ressaltar sobre o estilo é a questão que evidencia o
caráter de desabafo e/ou ofensa dos enunciadores. Além disso, o próprio formato
dos enunciados, vêm sempre entre aspas seguidos de um comentário da revista,
são uma importante característica estilística que compõem o gênero em questão.
Então, uma vez estando diante das “Seções de Frases”, o leitor já relaciona em
sua memória lingüística e comunicativa, um modelo pré-concebido, assim, já espera
encontrar informação, desabafo e/ou ofensa. Além disso, os gêneros discursivos
surgem, situam-se e integram-se de maneira funcional nas culturas em que se
desencadeiam. Neste contexto, acabam por caracterizar-se por suas funções
comunicativas, cognitivas e institucionais no processo comunicativo, transcendendo,
conseqüentemente, seus formatos lingüísticos e estruturais. Assim sendo, torna-se
difícil uma definição formal e limitada.
Enfim, o efeito de sentido causado pelos enunciados nas seções, conferem as
mesmas um caráter de aproximação com o leitor que, cada vez mais, vem
procurando informações com eficácia e rapidez.
3.3 EIs: uma abordagem discursiva.
...o discurso [...] é também, e sobretudo,
um produtor da cena (DIAS, 1995: 70).
3.3.1 Introdução.
Devido à concepção de linguagem que perpassa esta pesquisa, sendo possível
pressupor que este Corpus, devido suas condições de produção e recepção,
evidencia satisfatoriamente o caráter dialógico e interacional da linguagem humana,
pretendo avaliar os efeitos de sentido resultantes do uso das EIs nos EPPs.
61
Para tanto, a preocupação deste estudo será a de mostrar como construímos
lingüisticamente a argumentação usando EIs, tomando como ponto de partida as
perspectivas de diferentes enunciações, e como o autor, ao proceder à organização
textual desse discurso, faz prevalecer a orientação no sentido de determinada
conclusão.
Considero que é no trabalho da enunciação que os sujeitos produzem discursos.
E é no interior do próprio processo discursivo, por meio de múltiplas operações
articuladas pelos processos da própria linguagem, que a audiência é construída
antecipadamente.
Por isso, antes de entrar na análise propriamente dita, procuro contextualizar, em
linhas gerais,
46
a questão da enunciação, por considerar que essa teoria é muito
importante para sustentar, numa dimensão discursiva, o Corpus deste trabalho.
Parto do princípio que a teoria da enunciação ganhou um impulso na França com a
obra do lingüista Benveniste, que propôs estudar a subjetividade na língua: o
aparelho formal da enunciação.
3.3.2 Por uma noção de enunciação e argumentação.
Benveniste (1989) propôs estudar a subjetividade na língua, vinculando-a a
noção de enunciação, tratada como ato produtor do enunciado. Esse autor postulou
que se considerasse, como objeto de estudo, a atividade lingüística dos falantes,
que evidenciasse os constituintes do aparelho formal da enunciação, sendo eles: um
locutor; um alocutário; uma referência e outras "entidades lingüísticas", aquelas
criadas na e pela enunciação, tais como tempo, lugar e elementos dêiticos.
Ressalta-se, ainda, que a referência é um aspecto fundamental a ser considerado
no processo de enunciação. Segundo Benveniste, “a referência é parte integrante da
enunciação”. E, sendo assim, a mesma não está contida, pronta e acabada nas
46
As questões referentes à enunciação e argumentação serão apresentadas neste trabalho de
maneira geral por não ser este o objetivo principal em foco.
62
formas lingüísticas, pois ela é co-construída no/pelo discurso - o significado é
construído dialogicamente no curso de uma interação.
Por sua natureza de troca, o ato de enunciação insere-se também dentro de uma
categoria de atos que coloca em relação dois sujeitos: um sujeito que produz, o "eu",
e um sujeito para quem se destina o enunciado produzido, o "tu": "(...) Toda a
enunciação é, explicita ou implicitamente, uma alocução, ela postula um alocutário"
(Benveniste, 1989: 84). Sendo assim, a enunciação é caracterizada como uma
atividade em processo - um processo que estabelece um diálogo entre locutor e
alocutário.
Como mostrou Benveniste, o único modo de fazer o discurso funcionar é pela
intervenção do sujeito47, que nele investe sua subjetividade: “A enunciação é este
colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização’’ (1989:82)”.
No entanto, no ato enunciativo, o sujeito não constitui apenas a si, sujeito locutor,
mas também o sujeito-alocutário, isto é, define não só a posição do eu, mas também
a do tu:
``...ele implanta o outro diante de si, qualquer que seja o grau de
presença que ele atribua a este outro. Toda a enunciação é, explicita
ou implicitamente, uma alocução, ela postula um alocutário''
(Benveniste, 1989:84).
Para o autor, o que, em geral, caracteriza a enunciação é a acentuação da
relação discursiva, ou seja, a enunciação manifesta a linguagem como um modo de
ação e para realizar essa ação, o locutor dispõe de um aparelho de funções para
influenciar de algum modo o comportamento do alocutário.
47
Orlandi (1996) critica a concepção de sujeito de Benveniste como ser único, central, origem e fonte
do sentido. Ducrot (1987) define a enunciação independentemente do autor da palavra como o
acontecimento constituído pela aparição do enunciado. Apesar de admitir que a enunciação trouxe
contribuições, Mainguenau (1997, p.40) faz algumas restrições ao uso da enunciação na análise do
discurso: a) não deve ser concebida com a apropriação do sistema da língua por parte de um
indivíduo, o sujeito só chega à enunciação através de múltiplas regras do gênero de discurso; b) não
reside num único enunciador, é a interação que está em primeiro lugar; c) o indivíduo que fala não é
necessariamente a instância que se encarrega da enunciação. No entanto, não é objetivo deste
trabalho aprofundar essas questões.
63
Nesse contexto, o discurso político é normalmente marcado por processos de
persuasão e manipulação. Os sujeitos enunciadores valem-se de vários mecanismos
discursivos para atingir seus objetivos. Mudam os temas, as situações políticas, os
contextos sociais e os sujeitos, mas alguns recursos discursivos se mantêm.
Consoante Benveniste (1989:68),
“Todas as línguas têm em comum certas categorias de expressão
que parecem corresponder a um modelo constante(...), mas suas
funções não aparecem claramente senão quando se as estuda no
exercício da linguagem e na produção do discurso”.
Então, ao assumir os pressupostos que subjazem a essa teoria, pretendo
estabelecer uma ligação entre a teoria da Enunciação e a teoria da Argumentação,
uma vez que entendo não haver argumentação sem enunciação.
Assim sendo, ao mencionar argumentação, devo levar em consideração que, a
partir do estudo prospectivo do corpus em pauta, o mesmo será caracterizado como
um discurso argumentativo. Em outras palavras, o locutor do texto terá como meta
convencer seus alocutários, conduzindo-os a certa conclusão, e para tal, utiliza-se
de uma marca enunciativa (EIs), com o intuito de facilitar a produção dos sentidos e
conseqüentemente a interlocução.
Falar sobre argumentação/argumentatividade recai, necessariamente, no campo
da adesão e do convencimento do ouvinte ou, antes, sabe-se que, por meio do
discurso, pretende o enunciador obter “[...] uma ação eficaz sobre os espíritos”
(Perelman & Olbrechts-Tyteca, 2002: 10), convencendo-o, persuadindo-o.
Na perspectiva de Perelman e Tyteca (2002), a argumentação consiste na
retomada da Arte Retórica aristotélica, com vistas a estabelecer uma contraposição
entre demonstração (lógica/formal) e argumentação (persuasiva/informal). Em seu
texto “Argumentação”, Perelman (1987) postula que:
“A argumentação é essencialmente comunicação, diálogo,
discussão. Enquanto a demonstração é independente de qualquer
sujeito, até mesmo do orador, uma vez que um cálculo pode ser
efetuado por uma máquina, a argumentação por sua vez necessita
64
que se estabeleça um contacto entre o orador que deseja convencer
e o auditório disposto a escutar” (p.235).
Acrescenta-se, a essa concepção, o pressuposto de que, “enquanto um sistema
dedutivo se apresenta como isolado de todo o contexto, uma argumentação é
necessariamente situada”. (p.234).
Dessa forma, assumo como objeto de estudo da Teoria de Argumentação as
técnicas discursivas que visam a provocar ou a aumentar a adesão das mentes às
teses que se apresentam ao seu assentimento, tendo-se em vista que na
argumentação não se separa a razão da vontade, nem a teoria da prática.
Diante disso, e do quadro teórico de Perelman (1987) e de Perelman e Tyteca
(2002), interessa, a este estudo, a visão de que o ato de argumentar implica sempre
a adesão do interlocutor, seu consentimento, seu engajamento discursivo; sendo
importante considerar nesse processo o que é presumidamente admitido pelos
ouvintes, o que constrói a relação entre enunciador e enunciatário, condição para a
argumentação, ainda que consideremos a argumentação como fundamentada pelos
objetos do acordo (fatos, verdades, presunções, valores, lugares-comuns) expressos
discursivamente de modo estratégico.
3.3.3 A importância das EIs na construção do Ethos.
Assumi, até aqui, que a linguagem é a base fundadora de todas as atividades
que desenvolvemos em nosso dia-a-dia, pois vivemos em uma sociedade em que
nos vemos obrigados a exprimir e a defender, da melhor forma possível, nossas
idéias. Temos que debater, agradar, seduzir, convencer, persuadir. Dentro desse
contexto, foi resgatado um campo do conhecimento humano legado pelos gregos da
Antiguidade
Clássica,
que
poderia
responder
convenientemente
a
essas
necessidades da modernidade: a Retórica. Essa pode ser definida como a faculdade
de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão,
sendo entendida também como a capacidade de descobrir o que é adequado a cada
caso em específico, cuja finalidade seja persuadir.
65
No plano discursivo, os papéis de ethos e pathos alternam-se na medida em que
a voz – o logos – passa de uma para outra pessoa do diálogo. É durante essa
movimentação que os três elementos retóricos se constituem e se fortalecem,
concomitantemente ao próprio ato discursivo em si.
Aristóteles afirmou que a persuasão buscada através do discurso se fundamenta
em provas48 independentes e dependentes do próprio discurso. Entre as provas
dependentes destacam-se três espécies: a que reside no caráter moral do orador, ou
seja, no ethos, a que reside nas disposições criadas no ouvinte, ou seja, focalizadas
no pathos; e, finalmente, a centrada no próprio discurso devido àquilo que este
demonstra ou parece demonstrar, ou seja, no logos. Cada um desses elementos
(ethos, logos e pathos), desempenha um papel fundamental, que se complementa
com o dos outros numa articulação complexa.
Neste trabalho, darei atenção especial apenas a primeira dessas provas
argumentativas
49
. Para se conseguir persuadir pelo caráter, o discurso deve ser
“fabricado”, ou melhor, proferido de tal forma a construir uma imagem de
credibilidade do orador, como digno e confiável. Aristóteles acreditava que “o ethos
constitui praticamente a mais importante das três provas engendradas pelo discurso
– logos, ethos e pathos”.(Aristóteles, Ret. I 1356a 13 apud Amossy 2005).
E nesse contexto, o ethos pode ser visto como o ponto de partida de uma
avaliação da subjetividade do enunciador construída por meio do discurso. O homem
está sempre mais propenso a acreditar com maior firmeza e convicção, e de maneira
mais rápida, em pessoas tidas como de bem e honestas, ou seja, um dos segredos
48
Provas independentes: testemunhos, confissões obtidas pela tortura, convenções escritas, etc.
Provas dependentes: residem (i) no caráter moral do orador (ethos); (ii) nas disposições criadas no
ouvinte (pathos); (iii) no próprio discurso (logos). “Obtém-se a persuasão por efeito do caráter moral,
quando o discurso procede de maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de confiança (...)
O caráter moral deste constitui, por assim dizer, a prova determinante por excelência. Obtém-se a
persuasão nos ouvintes, quando o discurso o leva a sentir uma paixão (...) Enfim, é pelo discurso que
persuadimos, sempre que demonstramos a verdade ou o que parece ser a verdade, de acordo com o
que, sobre dado assunto, é suscetível de persuadir (p.24-5). (...) A confiança que os oradores
inspiram provém de três causas, além das demonstrações; e são as únicas que obtêm a nossa
confiança. Ei-las: a prudência, a virtude e a benevolência (p.102)”.
49
Cabe ressaltar, no entanto, que não há construção do ethos sem considerações do pathos e do
logos.
66
da persuasão está no orador passar uma imagem favorável de si mesmo, imagem
essa que deve seduzir o auditório e captar a benevolência e a simpatia deste, o que
estabelece uma relação entre o ethos e o pathos.
Esta representação do orador, do enunciador, é o próprio ethos, equivalendo ao
caráter que atribui a si mesmo pelo modo como exerce sua atividade retórica. Não
se trata de fazer afirmações auto-elogiosas no conteúdo do seu discurso, mas
declarações que, por meio da fluência, da entonação50, da escolha das palavras e
dos argumentos (a escolha de um argumento em detrimento de outro pode parecer
sintomático de uma qualidade ou de um defeito), confiram-lhe credibilidade. O ethos
funcionaria como um elemento que reforçaria a importância da argumentação
exposta. Assim, a confiança atribuída ao orador é um “efeito” do seu próprio
discurso.
3.3.4 Orador e auditório.
Assumindo-se que “o auditório é o conjunto daqueles que o orador quer
influenciar mediante o seu discurso” (Perelman, 1987), torna-se indispensável que o
orador conheça o auditório sobre o qual queira exercer alguma ação, porém, diante
de um auditório heterogêneo o orador se destaca como um grande enunciador,
adaptando o seu texto às diferenças sociais, psicológicas e lingüísticas de quem o
recebe. Aristóteles (1964) mostrou que, na fala do orador, não é relevante apenas o
conteúdo da mensagem; o que importa também é a sua fala como uma forma de
persuadir, já que “é pelo discurso que persuadimos, sempre que demonstramos a
verdade ou o que parece ser a verdade” (p.23).
A partir dessa concepção, adotando como postulado a idéia de que o discurso
manifesta-se lingüisticamente por meio de textos, torna-se relevante apontar o
objetivo da Análise do Discurso para que melhor se abarque o entendimento sobre
um discurso/texto.
Assim, segundo Charaudeau:
50
Não é pretensão deste trabalho aprofundar nos estudos prosódicos.
67
“A análise do discurso tem por objetivo analisar a linguagem em
ação, os efeitos produzidos por meio de seu uso, o sentido social
construído(...). Assim, ela contribui para mostrar como se estrutura
discursivamente o social, como o discurso é, ao mesmo tempo,
portador de normas que sobredeterminam o indivíduo vivendo em
coletividade e as possíveis estratégias que lhe permitem singularizarse”(Charauderau, 1996:3)
Esse segmento social que entra na composição da linguagem significa, em outras
palavras, que “o discurso se realiza nos textos. Os textos realizam discursos em
situações institucionais, históricas sociais e ideológicas” (Marcuschi, 2002:24).
Nessa perspectiva, fazendo-se um retrospecto, pode-se dizer que foi com Pêcheux,
em Análise automática do discurso (1997), que o texto se tornou novamente
51
objeto em discussões lingüísticas. O autor introduziu uma proposta mostrando que o
texto pressupõe condições de produção discursivas ligadas, basicamente, à
situação, aos interlocutores envolvidos, ao tema do discurso e às imagens
psicossociais de todos esses elementos. Com isso, há um deslocamento do objeto
língua (lingüística saussuriana), para o objeto discurso (na visão de Pêcheux). Esse
deslocamento se coloca em relação às análises textuais dos comparativistashistóricos. Pêcheux toma o texto não como produto, mas como processo discursivo.
Então, os sujeitos discursivos, os produtores e receptores textuais, são
articuladores, configuradores (Geraldi, 1995) de mundos discursivos variados
(Bronckart, 1999). Nesses mundos discursivos cujas coordenadas se encontram no
mundo real estão envolvidos uma complexa rede de fatores de textualidade,
relacionados, basicamente, à situação, ao jogo de imagens recíprocas que são,
grosso modo, as representações sociais, culturais, ideológicas; as convicções, as
atitudes dos interagentes, e os conhecimentos partilhados, dentre outros.
51
Com o advento da lingüística moderna, a partir de Ferdinand de Saussure e de sua obra, Curso de
Lingüística Geral a relação entre “língua(gem)” e “texto” é deslocada, em relação à perspectiva
anterior, histórico-comparativista, em que o texto se sobrepunha à língua. Nesta obra, a definição da
langue como objeto da lingüística – e não o texto, que estaria no campo da parole (lugar de
idiossincrasias, de heterogeneidade, de supostas irregularidades) – opõe uma Lingüística da Língua,
que interessa a Saussure (1977), a uma Lingüística da Fala, que não o interessa, dada uma certa
obscuridade teórica de seus objetos (no caso, a parole). Desse modo, o texto ficou relegado dentro
da disciplina devido à definição saussureana do objeto da lingüística.
68
Enfim, a argumentação é uma das formas mais profícuas da própria atividade
filosófica, na medida que ela envolve a capacidade de dialogar, de pensar, de
analisar, de escolher e que implica no comprometimento de alguém com os seus
próprios argumentos.
3.3.5: Análise:
A língua de madeira (língua dura e hermética) do direito
e da política relaciona-se intimamente com a língua de
vento (língua flexível, cotidiana, mas quase referencial
ou
substanciosa)
das
propagandas
e
das
publicidades.(Michel Pêcheux).
Por acreditar que o homem público, ao dirigir-se ao seu ouvinte, confere à fala
uma força persuasiva, que instaura um processo de fascínio extremamente eficaz,
aponto ainda a sedução que, por meio do emprego de certas construções (no caso
EIs), surpreendem os interlocutores. Esta forma de argumentação aproxima-se do
discurso publicitário em geral, que busca recursos expressivos na elaboração dos
textos no intuito de oferecer ao possível consumidor um mundo ‘fechado’, levando-o
a uma única atitude/leitura - consumir, sem que o mesmo se sinta ‘forçado’ a isso:
“Os conceitos de publicidade e informação econômica não se
recobrem exatamente porque o objeto publicitário ultrapassa, de
modo característico, a própria racionalidade econômica. No anúncio
e pelo anúncio, o valor econômico é procurado e dito em filigranas,
através da mediação obrigatória da cultura, isto é, pela manipulação
simbólica do sistema de costumes” (Lagneau apud Carvalho:
2000:12)
Pode-se considerar, então, que a formação do ethos não se constrói no discurso
em si, mas na maneira como ele é dito, ou seja, trata-se mais da forma como o
orador apresenta seu discurso diante do público do que do que ele representa, já
que o discurso “se firma nas marcas da enunciação” (Monnerat, 2003:106).
Assumindo as palavras de Charaudeau (2006):
69
“No campo político, a credibilidade dos atores é freqüentemente
afetada tanto por fatos que contradizem as intenções declaradas,
quanto, como afirmado, por adversários que não se furtam a
questioná-la. O político é, então, levado a produzir um discurso de
justificação de seus atos ou a emitir declarações para se inocentar
das críticas ou das acusações que lhe são dirigidas. Isso pode ser
feito a priori, por antecipação, ou a posteriori”.(p.126)
Nessa perspectiva, na enunciação política, deve predominar o valor referencial.
Há que se pressupor a veracidade dos fatos a que se refere e a autenticidade do
seu relato. O pressuposto dessa veracidade institui um autêntico contrato entre o
político, por um lado, e a audiência, por outro.
Assim, a organização de um discurso deve ser guiada por duas noções
específicas da argumentação: a pertinência e a força dos argumentos. Isso decorre
do fato de um tema suscitar uma gama infinita de assuntos e para ser
compreendido, o orador deve lançar mão de recursos que dão realce à ‘idéia’ que
quer defender. Por isso, essa escolha deve levar em conta, também, o grau de
sustentação e entendimento que o público tem com relação ao assunto.
Considerando que o discurso político fundamenta-se numa decisão sobre o
futuro, o estadista, objetivando alcançar o bem comum, vale-se, dentre outros, da
eloqüência por acreditar que a mente humana condiciona-se melhor à afetividade.
Tentando obter a adesão de um público heterogêneo, o mesmo deve ter do seu
auditório uma idéia, tanto quanto possível, próxima da realidade, uma vez que um
erro sobre esse ponto pode ser fatal para o efeito que ele quer produzir.
Com base nisso, pode-se assumir, de modo geral, que um fato lingüístico assume
caráter discursivo a partir do momento em que há interação – no presente caso a
interação se dá entre os enunciadores, que têm como suporte as revistas, e o
público leitor e, sendo assim, as EIs, como fato lingüístico, assumem nos enunciados
que serão analisados a seguir, um valor argumentativo que confere ao orador um
ethos que passa pelo critério da aproximação com o auditório. As EIs conseguem
traduzir um conceito mais elaborado de forma efetiva. E assim, essa ferramenta (EI)
se torna adequada para provocar o resultado pretendido, mesmo que esse resultado
seja um efeito irônico, autoritário ou uma exposição ostentatória.
70
Enfim, o ethos construído, nos enunciados que serão analisados é o de um
representante político que, grosso modo, constrói uma imagem de enunciador
indignado com uma dada situação e ciente da sua responsabilidade junto ao povo.
Observar-se-á como essa construção se processa em nível argumentativo, como
uma estratégia utilizada para persuadir o público-alvo.
Passemos a análise de alguns exemplos de EPPs.
Enunciados extraídos da revista VEJA:
1) “Política é olho no olho. Como se diz no Brasil é no Tête-à-tête.”Lula, presidente
da República, ao ser batizado como chefe de tribo em sua visita a Gana, na África.
Esbanjando o seu francês. (VEJA, 20/04/2005: 48).
Neste enunciado, há uma definição de política que confere um ethos de
autoridade ao enunciador. O mesmo tenta sustentar este ethos baseando-se em
princípios de honestidade e sinceridade. Percebemos então, um certo “jogo” que
revela um locutor preocupado em influenciar, positivamente, seus possíveis
eleitores. Essa pretensão pode ser recuperada pelo significado da EI em destaque
(demonstrar honestidade/sinceridade). Assim, há uma tentativa do mesmo, em
exercer uma ação psicológica nos possíveis eleitores sem que esses se sintam
coagidos por tal ato.
2) “Queremos que vocês nos ajudem, porque tenho levado cacete”. Severino
Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, pedindo o apoio de empresários
e sindicalistas, reunidos em evento na Câmara contra a MP 322. (VEJA, 06/04/2005:
43).
Aqui, o locutor revela sua indignação ao enunciar a EI “levar cacete” (ser
recriminado). Ao pedir ajuda usando essa expressão, o enunciador exprime seu
desagrado diante da atual situação vivida. Podemos inferir, com base nas pistas do
enunciado em questão, que o locutor se sente o único castigado pelos erros
71
cometidos por vários parlamentares, e a EI “levar cacete” indicia de forma simples e
eficaz, toda sua aversão à referida situação, ou seja, há um desabafo expressivo
que cria um ethos de uma pessoa injustiçada.
3) “Tirando a prefeitura de Porto Alegre, não boto a minha mão no fogo por nenhuma
prefeitura do PT”. Milton Temer, ex-petista fundador do PSOL. (VEJA, 31/08/2005:
38).
Para analisar esse discurso/texto recorro a Câmara Cascudo (1968) que nos
fornece informações suficientes para esclarecer a história da expressão destacada:
colocar a mão no fogo. Esse autor nos faz recordar que:
"... uma das justificações nos ordálios da Idade Média era a prova do ferro caldo. Quem
alegava inocência submetia-se a pegar numa barra de ferro aquecida ao rubro e caminhar
com ela na mão por alguns metros. Envolvia-se a mão em estopa, selada com cera, e três
dias depois se abria a atadura. Se a mão estivesse ilesa, sem sinal de queimadura, era
evidente e provada a inocência. Se estivesse queimada, provada estava a culpabilidade e
era imediata a punição pela forca”.
Botar a mão no fogo por alguém, portanto, é jurar pela sua inocência, demonstrar
confiança.
Nesse caso, supõe-se que a EI em destaque introduza no texto um valor de
superioridade atribuído ao enunciador, já que há por parte do mesmo, uma tentativa
de desmoralização das demais prefeituras do PT. O enunciador se compromete
apenas com a prefeitura de Porto Alegre e por isso, encontramos uma
recomendação que deprecia as demais prefeituras do referido partido.
4) “Não estamos puxando a barba do bode. Temos de puxar a barba do bode para
mostrar onde está o DNA da corrupção.”Roberto Jefferson, deputado federal (PTBRJ), em discurso proferido momentos antes da cassação de seu mandato. (VEJA,
21/09/2005: 43)
72
Ao se analisar esse enunciado, percebe-se que o locutor usa as EI puxar a
barba do bode para dizer que as investigações estão muito “tranqüilas” e que, por
isso, ainda não se sabe (aqui, implicitamente, o mesmo se diz inocente) quem são
os verdadeiros responsáveis pela atual crise política. O recurso à EI, nesse
enunciado, confere ao enunciador o perfil de um político que está realmente
preocupado em descobrir quem são as pessoas responsáveis por toda a corrupção
presente. O enunciador tenta sustentar um ethos “politicamente correto” realçando a
importância de uma investigação mais eficaz, e para que isso ocorra é preciso,
segundo o mesmo, puxar a barba do bode (provocar confusão, desafiar a atual
investigação). Há também que se apontar que, pode haver aqui, uma alusão
metafórica ao presidente Lula e esse fato confere ao enunciador um ethos irônico.
Assim, o interesse pela argumentação desenvolvida pelo enunciador ao sugerir
uma investigação mais rígida é referenciada pela EI em tela.
5) “Meus adversários podem fazer quantas denúncias quiserem. Eu não moverei
uma palha, porque sei que vocês moverão o paiol inteiro contra eles “. O presidente
Lula, que não quer botar fogo no palheiro da campanha para não explodir o paiol da
reeleição. (VEJA, 30/08/2006: 54).
Ao se expressar usando a EI mover uma palha, pode-se postular que o
presidente Lula tem como pretensão construir uma opinião pública com base em um
valor argumentativo que promova um ethos que oriente o interlocutor para um
comportamento voltado para a justiça, já que o mesmo tenta se preservar de
qualquer ação que possa passar uma imagem negativa de sua pessoa (candidato).
A EI em destaque neste enunciado significa não fazer coisa alguma e o enunciador
tem a possibilidade de apresentar um argumento ao público que se vincula a uma
pessoa que não quer tomar para si o encargo de julgar e/ou punir.
Vejamos agora alguns enunciados da revista ISTO É:
73
6) “Não é possível mudar abanando moscas. Tem de remover o lixo “. Aloizio
Mercadante, senador, defendendo uma rígida investigação dentro do seu próprio
partido, o PT, na questão do mensalão.( ISTO É, 17/07/2005: 22).
Neste enunciado percebemos que o orador, assim como no enunciado de nº
4, pretende dizer que as investigações estão muito tranqüilas. Ao dizer que “Não é
possível mudar abanando moscas,,,” o mesmo defende uma rígida investigação,
deixando pistas de sua inocência. Há uma recusa a atual investigação e dessa
forma o ethos construído é de um político honesto.
7) “Não acho que o Lula seja diferente de um líder sindical normal do Brasil, desse
ponto de vista de tomar umas e outras”. Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente
do Brasil, em entrevista à revista Playboy. (VEJA, 02/08/2006: 41).
O ethos construído neste enunciado se efetiva de uma forma que leva o
enunciador (FHC) a comprometer o atual presidente com o hábito que a ele é
atribuído (consumir muita bebida alcoólica). Há uma tentativa, talvez um tanto
irônica, por parte do enunciador, de considerar tal fato normal. No entanto, devido às
circunstâncias que estão por traz desse fato, o ethos construído pelo locutor é de
uma pessoa dissimulada.
8) “Ela que vá pentear macacos!”. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, sobre a
organização Internacional do trabalho, que definiu como greve geral uma greve de
petroleiros ocorrida em 2002. (ISTO É, 07/04/04: 22.)
Aqui, o enunciador usa a EI “vá pentear macaco” (Ir para longe, afastar-se
para deixar de importunar) na tentativa de demonstrar toda sua insatisfação diante
do fato em questão, ou seja, ele usa esse xingamento para exprimir sua indignação
em relação a organização Internacional do trabalho. Além disso, essa expressão
caracteriza o descaso do enunciador em relação ao problema, o mesmo se mostra
autoritário e agressivo. Há um ethos que se firma numa atitude revestida de uma
imposição que revela um enunciador dominador.
74
9) “Não fico no cargo nem que a vaca tussa”. Roberto Rodrigues, ministro da
agricultura sobre uma atual reeleição de Lula. (ISTO É, 24/05/2003: 22).
Nem que a vaca tussa significa de jeito nenhum. Dessa forma, o enunciador
consegue transmitir seu sentimento diante da possibilidade de uma possível
reeleição do presidente da República. Há uma recusa enfática que gera um ethos de
insatisfação em relação ao governo do qual ele participa.
Após esta breve análise, nota-se que esses enunciados na sua totalidade
constroem o discurso do homem público mesclado com o cidadão. O primeiro vem
como suporte que comprova a indignação, a revolta ou a honestidade do segundo.
Parece haver um detalhe nessa relação entre o uso das EIs e a presença do seu
autor nas seções em foco. Pode-se postular que haveria uma estratégia dos
enunciadores para que os mesmos se tornem ‘visíveis’ na comunidade. Por estarem
inseridos nas dimensões midiáticas da sociedade contemporânea, seus interesses
orientam-se
para
a
instância
do
discurso
publicitário,
marcadamente
institucionalizado e legitimamente aceito em todas as sociedades urbanas
ocidentais. Partindo da premissa de que a publicidade pertence ao conjunto de
práticas sociodiscursivas que instauram e expõem matrizes de sentido de uma
época, percebemos, nos enunciados analisados, marcas discursivas identificadas
com essa noção de colocar-se/estar em evidência. Além disso, o fato de os EPPs
possuírem a presença de um contorno de linguagem que se fortalece pelo uso das
EIs, e o destaque dado ao locutor podem ser vistos como um procedimento eficaz
usado como estratégia de marketing pessoal.
Dessa forma, o ethos adquire o tom de um político com nuances de cidadão e o
caráter de alguém preocupado com aquilo que o seu auditório (povo brasileiro) está
recebendo como notícia. Nesta perspectiva, foi observado, por meio dos fragmentos
dos discursos selecionados, que as revistas, também, constroem um ethos
institucional, revelando sua posição diante dos fatos ocorridos, (pois, está por trás do
75
discurso apresentado nos enunciados em questão), cujo traço predominante seria a
preocupação com o seu público/leitor (enunciatários), proporcionando o acesso
destes às informações, por meio de uma forma de comunicação que a equipe de
profissionais, das referidas revistas, julga ser a melhor maneira para atingir
eficazmente o objetivo pretendido. Os enunciados seriam, portanto, uma maneira
simples e rápida de construir uma leitura que forneça ao leitor (enunciador) subsídios
que revelem o que vêm acontecendo na atual administração pública brasileira.
Ressalto ainda que a escassez de EPPs 52 na revista ISTO É (dos 50 enunciados
selecionados como corpus apenas 4 são da revista ISTO É), demonstra que a
mesma pretende se manter neutra (embora a neutralidade discursiva seja
impossível, como diz Koch,2002) diante da atual conjuntura brasileira. Ou ainda,
acho relevante chamar atenção para a possibilidade de uma certa resistência aos
enunciadores, com um comportamento contrário ao seu acolhimento. Pode-se
pressupor que a revista ISTO É, desconfiada das reais intenções dos políticos
brasileiros (enunciadores) ao proferirem tais enunciados a fim de se promoverem,
deseje exercer um papel contrário.
Já a revista VEJA, além de publicar um número bem maior dos, já apontados,
enunciados, quase sempre manifesta, de forma irônica, a sua opinião sobre o
conteúdo expresso por eles. Este fato pode ser observado nos enunciados de n º 1 e
5, demonstrados anteriormente em que a revista diz, respectivamente, (1) que o
Presidente Lula está esbanjando o seu francês, (2) e que o mesmo não quer botar
fogo no palheiro da campanha para não explodir o paiol da reeleição. Nota-se,
portanto, qual é a posição adotada por esta instituição no que se refere ao
presidente e o seu governo.
O discurso assume, então, uma polifonia baseada em um saber popular, e esse
saber trivial faz com que o povo se reconheça nessa simultaneidade de vozes. E
salvo nos poucos casos em que pode acontecer uma interpretação literal da EI, a
convenção permite uma economia durante o processo de interação verbal.
52
Refiro-me aos EPPs que contenham EIs.
76
Além disso, pode-se dizer que o enunciador se apóia em princípios preexistentes
no próprio auditório, seus enunciatários, baseando-se em uma “idéia” já aceita,
prestando-se assim apenas a reativar o circuito de pontos de vista53 já aprovados,
uma vez que as pessoas em geral já conhecem o significado idiomático das
expressões.
Assim, este conhecimento comum, compartilhado (EI) constitui um apoio
essencial para desenvolver uma argumentação. Sua enunciação é em si mesma um
argumento que tem um alcance mais amplo e uma força de incitação maior, pois se
circunscreve em um saber comum.
Com isso, o enunciador pretende conduzir os seus enunciatários, num processo
interativo, à adesão às suas teses. Essa é uma estratégia que vem sendo muito
utilizada – adequar o discurso a diferentes tipos de auditório. E isso é conseguido ao
se usar EIs que conferem ao enunciado, além de um caráter mais familiar ao
receptor, um tom de jocosidade e ironia, mesmo que seja só em nível de discurso e,
conseqüentemente, o ethos construído pelos enunciadores se torna mais adequado
e voltado para os seus “interesses” .
Em suma, as EIs, nos enunciados aqui analisados, têm como função conferir aos
mesmos uma autoridade que permite ao enunciador construir, implicitamente, um
ethos voltado aos seus próprios interesses. E, por isso, a EI é, assim, o lugar em que
o discurso/texto se faz língua54, em que o social se faz representar e/ou indicar de
forma convencional um elemento importante para o esclarecimento do discurso
(embora não seja o único).
53
Adotei este termo com a seguinte concepção: maneira de considerar ou de entender um assunto
ou uma questão; óptica, perspectiva. (Dicionário Aurélio – Século XXI. Versão eletrônica).
54
Adotei o termo “língua” como um sistema de comunicação intra/interpessoal e intra/intercultural,
compartilhado por membros de comunidades, através de variedades individuais, geográficas e
sociais, ou seja, língua como fato social.
77
3.4 Síntese Parcial
Esta parte do trabalho teve como objetivo situar as EIs em uma abordagem
discursiva considerando que as mesmas são uma estratégia de construção da
imagem do ‘Eu’ discursivo. Um ponto fundamental para a construção de um suporte
teórico capaz de situar as EIs na perspectiva por mim assumida foi explicitar o
conceito de enunciação que permeia toda linha de pensamento aqui desenvolvida .
Trata-se, nas palavras de Benveniste (1989:82), do processo da transformação da
língua em discurso por um ato individual de utilização, em que o locutor mobiliza a
língua por sua conta mediante o conhecimento que tem da mesma, supondo a
interação entre o sujeito falante (locutor) e aquele a quem se dirige o discurso
(alocutário).
Apresento ainda, as “Seções de Frases” como uma atividade de construção de
sentidos que possuem uma estruturação mais ou menos estável, e por assim serem,
podem se constituir um gênero textual.
A interação lingüística se dá no momento presente da enunciação, aqui e agora,
e constitui-se numa experiência singular, incapaz de se repetir novamente porque
em momento algum as condições de produção do enunciado serão as mesmas. Isso
implica dizer que o conhecimento/domínio que o locutor tem da língua determina os
caracteres lingüísticos da enunciação. Nesse contexto, a competência lingüística
sobre a qual incide a preocupação pragmática, se traduz na capacidade do locutor,
de fazer escolhas que o levem a: a) recolher um conteúdo para um enunciado de
acordo com as pressuposições de existência do estado de coisas que pretende levar
ao conhecimento do ouvinte, a fim de partilhar com ele o saber que possui; b)
exprimir as suas intenções mediante uma emissão que reproduza o que realmente
pensa, de modo a merecer a confiança do ouvinte; c) realizar um discurso que,
respeitando a heterogeneidade do auditório vigente, permita-o chegar com o ouvinte
a um acordo sobre os valores em causa.
Também foi possível observar que, adotando uma concepção de linguagem como
atividade interativa, as EIs desempenham um papel importante no processamento
78
discursivo por serem um recurso expressivo que traduz hábitos verbais de maneira
rápida e eficiente.
Utilizei-me também de algumas proposições teóricas de Mieder (1977) e Grsybek
(1995) relativas ao funcionamento dos provérbios com o objetivo de caracterizar
aspectos importantes referentes ao conteúdo semântico dos provérbios que os
diferem das EIs.
Nesta perspectiva, o objetivo desta parte do trabalho consiste em reapresentar as
EIs de maneira a mostrar que elas não são, como geralmente se considera, um
fenômeno apenas a ser estudado no âmbito da lexicologia e da lexicografia ou como
itens de enunciados, mas algo que permeia toda a enunciação.
79
4. método de análise do corpus.
80
4. MÉTODO DE ANÁLISE DO CORPUS
“O brasileiro é senhor de uma habilidade verbal
impressionante! Inventa palavras e expressões,
dá novo significado para vocábulos antigos,
diverte-se, comunica, pensa e sabe ‘lutar com
palavras’”.
Deonísio da Silva.
4.1 Análise do corpus: características sintático-semânticas.
4.1.1 Introdução:
Depois de definidos os conceitos centrais desta pesquisa, torna-se possível fazer
uma breve apresentação da formulação que norteará minha investigação. O
propósito aqui é meramente situar o leitor dentro dos passos mais gerais, para que
ele possa seguir a discussão com mais clareza.
4.1.1.1 A composicionalidade na construção do significado de EIs.
Pode-se dizer que a análise da produção e compreensão do significado das Els,
ou seja, o modo como as partes de uma EI se relacionam para formar seu
significado global, foi visto, até hoje de uma maneira bem constante. Sabe-se que o
significado de uma EI não é obtido por meio da soma dos significados de suas
partes isoladas, mas é o resultado de uma interpretação da EI vista como um todo.
Assume-se, também, que o significado de uma EI é cristalizado (fixo) em um
idioma e é justamente essa característica das expressões que permite aos falantes
de uma mesma língua usarem-nas de forma eficiente.
Nessa perspectiva, as EIs são vistas como uma estrutura lingüística ‘fechada’,
em que não há espaço para uma intervenção do sujeito, ou seja, por terem o
significado fixo, o sujeito não deveria figurar, a princípio, no processo de construção
81
de ‘novos’ significados das expressões e, como conseqüência disso, a enunciação
que , como veremos quebra o caráter rígido das EIs, fica esquecida.
Segundo o princípio da composicionalidade o significado sentencial seria
resultante da “seleção” de um significado dentro de um leque pré-definido de
significados possíveis das palavras que formam a sentença quando consideradas
isoladamente. De acordo com Mari,1998:
“O significado que atribuímos a objetos, em geral, não representa
uma totalidade a priori, mas decorre de um processo de aglutinação
de unidades, resultando em matrizes conceituais, com graus
diferentes de especificidade, mas capazes de selecionar aspectos da
realidade[...]. Dessa forma, a composicionalidade é um instrumento
formal, através do qual podemos definir parte da nossa atividade de
perceber e de pensar”. (Mari, 1998: 51 - 65)
Esses termos exemplificam, grosso modo, o padrão de raciocínio da
composicionalidade: a construção de conceitos complexos a partir de conceitos mais
simples. A partir da aplicação de critérios formais às seqüências pode-se afirmar que
uma seqüência de palavras é composicional quando, naturalmente, cada elemento
deve poder ser substituído por outros e “quando, normalmente, o significado da
expressão total resulta do significado de suas partes componentes – computadas aí
relações sintagmáticas e propriedades lexicais” (Mari: 2006).
A noção de composicionalidade tem a ver com a possibilidade de “deduzir” o
significado de uma seqüência a partir dos significados dos componentes. Deduzir
quer dizer calcular por um processo que pode ser formalizado. No caso da
composicionalidade das seqüências lingüísticas, trata-se de um processo que deve
ser associado a uma construção sintática.
Assim, para que uma seqüência seja composicional deve haver transparência
semântica. Pode-se entender transparência semântica como a proximidade do
significado total da expressão com o significado dos seus componentes isolados,
enquanto que a opacidade seria a total impossibilidade da proximidade do
significado total da expressão com o significado dos seus componentes isolados.
Este processo pode ser visualizado no esquema abaixo:
82
chutar
o balde
(1)
Transparência semântica.
Aplicar chute ou
pontapé
Recipiente com alça
que serve para tirar ou
carregar líquidos, areia,
etc.
Desistir de algo, abandonar.
(2)
Opacidade semântica.
Ou seja, o sentido proposto (não idiomático, representado por (1)) é obtido
fazendo-se acionar os elementos individuais da expressão. Isso faz com que haja
uma transparência semântica, já que os valores da mesma se voltam para os
valores individuais dos elementos que a compõem, chutar + o + balde. Do contrário,
a expressão funciona como um bloco (2) e passa a ter seu significado reconhecido
através dos valores da unidade “chutar o balde”. Nesse caso, há uma opacidade
semântica entre as partes que compõem a expressão e seu significado total.
Outro exemplo: uma seqüência como bolsa de maquiagem denota uma bolsa que
contém objetos para maquiagem. O que a seqüência expressa é uma relação de
objeto-conteúdo. Essa regra também descreve a regularidade de todas as
seqüências que expressam essa mesma relação – objeto-conteúdo. A partir dessa
regra, portanto, pode-se explicar seqüências como bolsa de sapatos, bolsa de jóias,
bolsa de roupas, etc.
Nesse sentido, as EIs apresentam um grau de fixidez, e uma “opacidade” que
fazem com que elas não se prestem à composicionalidade, ou melhor, a princípio
não derivamos de uma EI construções paralelas. As EIs em português, teriam como
regra geral a impossibilidade de substituições paradigmáticas de suas unidades, ou
83
de alguma de suas unidades. Tais substituições resultariam em um sentido próprio
não-correspondente com as unidades de composição. Vejamos:
(a) “Tenha a cabeça nas nuvens e os pés no chão. Timberland for the jouney”.
(VEJA 19/06/2002: 9.)
Significado idiomático = ser sonhador
Nota-se, que o significado da EI sublinhada -[So: ser sonhador]-, não é obtido a
partir da soma de suas partes componentes, por isso ela é não-composicional.
(b) Tenha o pescoço nas nuvens e os pés nos chão.
Em (b), a substituição do SN (a cabeça por o pescoço) levaria a um
comprometimento do significado da EI demonstrado em (a), ou seja, o sentido em
(b) não é o mesmo, nem é paralelo ao demonstrado em (a). Aqui, pode-se dizer que
o significado da expressão alterada é obtido por meio da soma de suas partes
componentes ter + o +pescoço + nas + nuvens – para algum contexto em que esta
leitura fosse aceitável - e isso provaria, a princípio, que uma EI não aceita trocas
paradigmáticas. No exemplo (b) a expressão torna-se composicional.
No entanto, a fim de demonstrar que podemos analisar muitas EIs
em um
sentido onde a composicionalidade não é de todo excluída, ou seja, em que se
preserva parte do sentido idiomático, já que o falante constrói sentenças que
expressem, em contextos específicos , de forma tão direta quanto possível aquilo
que deseja comunicar, pretendo demonstrar que o princípio da composicionalidade
pode ser aplicado em grande parte destas construções que se fazem presentes na
vida dos usuários da língua. Não há, pois, como negar que as expressões
idiomáticas, como outros recursos lingüísticos, contribuem para a diversidade
discursiva tornando-se assim um aspecto importante para os estudos lingüísticos.
Como a composicionalidade assume que o todo é a soma das partes
componentes da expressão, ela não abarca as variadas construções de sentidos
existentes na linguagem, visto que, o sentido nem sempre é previsível, já que o
falante tem a seu favor a possibilidade de manipulá-lo no intuito de gerar um efeito
desejado.
84
Por isso, para o presente trabalho, aponto uma alternativa de conceber a
composicionalidade nas EIs. Para tanto, as noções de transparência semântica e
opacidade semântica que, como vistos anteriormente, eram aplicadas às unidades
componentes da expressão, são agora deslocados para o significado global da EI.
Considero que há graus de composicionalidade quando a partir do signinificado
fixo da EI há estilização55. Assim, temos uma escala que vai da nãocomposicionalidade,
passa
pela
composicionalidade
fraca
e
vai
até
a
composicionalidade forte. Em outras palavras, para que haja composicionalidade
fraca em uma EI, deve haver transparência semântica entre o significado da EI e o
significado da expressão resultante da substituição de algum de seus itens. Essa
transparência deve ser entendida como a possibilidade de importarmos do
significado da EI valores, com cargas variadas de efeitos de sentido, para o
significado da expressão modificada.
Ao contrário disso, considero que há composicionalidade forte quando, devido às
alterações feitas na EI, temos uma opacidade entre o significado desta e o
significado da EI ‘original’. Nesse caso, postulo que tal seqüência que foi modificada
e que não expressa a mesma idéia contida na EI ‘original’, é uma nova manifestação
lexical resultante da composição de suas unidades lexicais. Vejamos:
Há composicionalidade fraca quando:
X: [So EI original]
Substituição paradigmática: item lexical
X’: [So de X com algum tipo de efeito de
sentido, proveniente da troca do item
Há composicionalidade forte quando:
X: [So EI original]
Substituição paradigmática: item lexical
Y: [So de X, resultante da composição de
suas unidades lexicais].
lexical.]
55
A saber: manutenção do sentido com o acréscimo de algum efeito de sentido.
85
Em suma, antes os conceitos de transparência semântica e opacidade semântica
se aplicavam aos itens componentes da expressão em relação ao significado da
mesma: chutar + o + balde = [So: dar pontapés em um recipiente] (transparência
semântica), “chutar o balde” = [So: desistir de algo, abandonar] (opacidade
semântica).
Agora, os conceitos de transparência semântica e opacidade semântica foram
deslocados para o significado da expressão que teve algum de seus itens
modificados em relação ao significado da EI ‘original’:
Ex: X = “chutar o balde” = [So: desistir de algo/abandonar]
“Chutar o barril” = desistir de algo/abandonar com algum efeito de sentido (X’)
Ou seja, entre (X) e (X’) há transparência semântica.
Ex: X = “Chutar o balde” = [So: desistir de algo/abandonar]
“Chutar a caneca” = dar pontapé em um recipiente destinado a ingestão de líquidos
(Y).
Ou seja, entre (X) e (Y) há opacidade semântica.
Um outro aspecto que merece destaque em relação à composicionalidade das
EIs, diz respeito a dimensão gradual desse conceito. Postulo que há graus de
composicionalidade que podem ser visualizados no exemplo abaixo:
Ex: “Rivaldo deu um show de futebol arte. Ele mostrou o futebol e a Mizuno a arte”.
(VEJA, 09/07/2002: 61).
EI = dar um show (não-composicional)
Sentido idiomático da expressão – exibir-se de forma magistral.
Quanto à composicionalidade
(a) Rivaldo promoveu um show [...] = (substituição do verbo) = preserva o So
idiomático. Composicionalidade fraca.
86
(b) Rivaldo deu um comício [...] = (substituição do nome) = causa impossibilidade de
proximidade com o So idiomático. Composicionalidade forte.
Nota-se que há uma escala de gradiência entre os significados dos enunciados
acima. A EI “original” é não-composicional, no entanto, ao alterarmos o verbo que a
compõe preservamos o sentido idiomático da mesma em alguma extensão. Há
então uma composicionalidade fraca, pois o sentido de (a) ainda é interpretado na
mesma dimensão do sentido da EI original. Já, ao substituirmos o nome que compõe
a expressão, notamos que há uma opacidade entre o sentido obtido por meio da
troca do nome em (b) e o sentido da EI original. Nesse caso, postulo que há
composicionalidade forte.
4.1.2 O conceito de cristalização das EIs:
A presente discussão põe em foco exatamente o aspecto da cristalização das EIs
que, segundo parece, ainda não foi objeto de uma investigação que descrevesse
propriedades semânticas e sintáticas desses sintagmas. Pretendo avaliar até que
ponto se pode afirmar que uma unidade é cristalizada na mente dos falantes, além
de tentar descrever que o conceito cristalizado não pode, às vezes, ser determinado
com precisão. O significado ‘cristalizado’ apresenta, em alguns casos, uma escala
de gradiência de sentido, obtida por meio de trocas entre os elementos pertencentes
a uma mesma esfera semântica (trocas paradigmáticas), cujos significados, a partir
do significado cristalizado, preservam-se ou se mantém com o acréscimo de algum
tipo de efeito de sentido.
Desse modo, acho relevante retomar, aqui, o conceito que foi por mim proposto
em 3.2:
As expressões idiomáticas são formadas por uma estrutura frásica
que apresenta algumas restrições lexicais e sintáticas.Contêm
combinações que não são distribucionalmente produtivas, havendo
uma tendência a interpretação não composicional, por essa razão
87
possuem sentido metafórico. Além disso, são recorrentes nos mais
diversos gêneros discursivos.
O que importa para esta análise é o valor dado à característica da cristalização
das EIs. Por isso, passo a me ater à particularidade do conceito destacada acima.
As EIs tendem a uma interpretação não composicional – E é justamente a
característica da composicionalidade que me permite pensar em um modelo onde o
significado que importamos dos itens lexicais que fazem parte do paradigma tem
uma contribuição fundamental na composição do significado global de uma unidade
que esteja acima (em grau de complexidade) de uma unidade isolada. Retomando a
formulação de Willians (1994) “as expressões idiomáticas não seguem todas as
regras; violam tanto regras sobre a forma (formal idioms), como regras de
interpretação (semantic idioms)”. Torna-se importante dizer que para o autor, a
violação se dá devido apenas ao fato de a relação entre os componentes da
expressão não está sendo computada diretamente no significado total da mesma.
Não há, a rigor, violação de nenhum princípio sintático.
Desse modo, a violação de uma regra sintática se define, grosso modo, pela
impossibilidade de se reconstruir o caminho SV > V+art+N (no caso do exemplo que
será citado abaixo). E uma violação da regra de interpretação é a impossibilidade de
se ter So / V +So / Sp (prep+N).
Assim, em “A cerveja fica para os Alemães afogarem as mágoas. Chandon
Brasil. Vitória se comemora com Chandon. Parabéns Brasil” (VEJA, 09/07/ 2002:
51), a interpretação não é simétrica ao seu processo sintático, isto é, ela não é
interpretada como V+art+N. A expressão passa a assumir, neste contexto, um So
que não é adquirido a partir da soma das suas partes isoladas. Assim, temos um SV
(afogar as mágoas) a partir da nova interpretação atribuída à expressão.
Essa é uma demonstração de um So idiomático cristalizado na mente dos
falantes. Ao ler/ouvir esta expressão, acredita-se, que um falante não terá problemas
quanto a sua decodificação, ou seja, ele fará a interpretação da EI abandonando sua
dimensão referencial (a de ser um verbo que denote: morrer ou matar ‘alguém’ por
88
submersão) e fará sua interpretação se fixando em um segundo significado
(embebedar-se para extinguir, eliminar desgosto, amargura, tristeza).
Torna-se de fundamental importância dizer que, em uma expressão dita
convencional percebemos, com certa facilidade, uma relação paradigmática para
seus itens componentes que têm uma contribuição fundamental na composição do
significado global da mesma. Exemplificando: ao analisarmos o enunciado “Ana
comeu pão duro no café da manha”, torna-se claro que recorremos ao paradigma
onde está pão, que deve concorrer com biscoito, broa, bolo, etc., como também ao
paradigma onde está duro que deve concorrer com mole, macio, etc. E esta relação
paradigmática nos permite importar dos itens lexicais que compõem a expressão,
valores que serão fundamentais para a significação, há uma herança conceitual.
Isso seria, a princípio, impossível de acontecer em uma EI já que, como
mencionado, abandonamos sua dimensão referencial e a ajustamos a um segundo
significado.
No
entanto,
pretendo
demonstrar,
que
algumas
EIs
permitem
trocas
paradigmáticas entre seus constituintes que não comprometem o So idiomático das
mesmas. E é justamente essa característica de algumas EIs que me permite pensar
que o significado deve ser considerado cristalizado em alguma extensão, pois há
possibilidades de importarmos dos itens lexicais que fazem parte da EI valores que
contribuirão para uma expansão do significado, mantendo uma herança conceitual, a
partir do significado cristalizado. Vejamos:
“Criatividade vale ouro". 14º festival de Gramado. Fórum mundial de publicidade.
(ISTO É, 04/06/2002: 58).
EI = valer ouro - (ter ótimas qualidades)
Composicionalidade da expressão:
(a) Criatividade vale bronze/prata/diamante [...].
Ao analisarmos o enunciado (a), nada nos impede de admitir que recorremos ao
paradigma onde está ouro, que deve concorrer com bronze, prata, diamante, etc. E
esta relação paradigmática nos permite importar dos itens lexicais que compõem a
EI, valores que contribuirão, a partir do significado cristalizado, para uma oscilação
do sentido da mesma sem prejuízo para o significado idiomático (ter ótimas
89
qualidades). Pode-se postular que, nesse caso, a dimensão referencial a que nos
ligamos para importarmos os valores que farão parte da gradiência dos significados,
advém dos itens componentes da expressão, vistos como um todo. Em outras
palavras, a EI valer ouro recobre todos os valores que são estilizados em (a). As
demais construções demonstradas são usos “paralelos” que se pode atribuir à EI
valer ouro em função de uma enunciação motivada.
4.3 Metodologia:
Apresento agora um conjunto de informações que servirão de base para a
análise que proponho.
Foram selecionadas 22 EIs do corpus em questão para a realização da
análise;
As EIs serão separadas em grupos de acordo com a tipologia. Assim,
apresento primeiro a análise dos sintagmas verbais, em seguida dos sintagmas
nominais, na seqüência os sintagmas adverbiais e sintagmas frasais;
Recorri às versões eletrônicas dos dicionários Novo Aurélio séc XXI,
Michaelis e Houaiss, para comprovar a constituição das EIs;
As trocas entre os elementos das EIs foram feitas, ad hoc, por termos
pertencentes à mesma esfera semântica;
Chamo de EI original aquela que tem o significado difundido e estável, e de EI
derivada construções feitas a partir da EI original, mas que preservam a mesma
idéia contida naquela;
Estilização: implica a manutenção do sentido idiomático com o acréscimo de
algum tipo de efeito de sentido;
A análise da composicionalidade nas EIs serve de indicação para mostrar que
uma EI não pode ter o teor composicional absoluto, mas apenas circunstancial;
Para
que
haja
modificações
nos
enunciados
e
conseqüente
composicionalidade, torna-se pertinente supor que o falante conheça a EI original e
90
a partir dela faça modificações motivadas. Vejamos esse fato representado no
exemplo abaixo:
Ex: “Meus adversários podem fazer quantas denúncias quiserem. Eu não moverei
uma palha, porque sei que vocês moverão o paiol inteiro contra eles”. (O
presidente Lula, que não quer botar fogo no palheiro da campanha para não
explodir o paiol da reeleição. VEJA, 30/08/2006: 54).
Neste exemplo, o próprio enunciador, em função de uma motivação pessoal,
modifica a EI mover uma palha, estilizando-a, ou seja: ao querer enfatizar o evento o
presidente Lula substitui palha por paiol e, dessa forma, mantém o significado
idiomático (não fazer coisa alguma) com um efeito de sentido que aumenta a
importância do evento em questão.
Considero que há composicionalidade fraca quando existe uma certa
transparência semântica, ou seja, uma proximidade entre o significado da EI original
e o significado da EI que teve algum de seus itens substituídos;
Considero que há composicionalidade forte quando todos os elementos
atuam no significado da EI e, a partir disso, há uma certa opacidade semântica, ou
seja, uma impossibilidade de aplicar um ‘cálculo’ de proximidade entre a EI que
sofreu variação e o significado da EI original (como demonstrado anteriormente).
Nesse caso, a EI que sofreu variação e que não denota, em alguma extensão, o
mesmo significado da EI original seria uma outra manifestação lexical;
Quando se fala de composicionalidade forte, o significado que está em jogo
advém do resultado da soma das partes componentes da expressão que teve algum
de seus itens modificados.
Passo então, a análise do corpus avaliando o aspecto sintático-semântico das
EIs.
4.3.1 Análise:
A partir das formulações acima, procederei à análise do Corpus.
91
4.3.1.1 Sintagmas verbais:
(1) “O clube do bacalhau da Noruega, está com uma promoção de dar água na
boca”. (VEJA, 09/07/2002: 97).
EI= dar água na boca. (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V +N + prep+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: despertar muita vontade
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a)[...] de dar água nos olhos (substituição do advérbio altera o So idiomático da
expressão já que, dar água nos olhos não está na mesma dimensão semântica (de
prazer) que dar água na boca)
(b)[...] de dar saliva na boca (substituição do nome) – estilização motivada pelo
próprio evento.
Neste exemplo, a alteração feita em (a) invalida a EI em análise: dar água na
boca. Há uma opacidade (impossibilidade de recuperação ou de aproximação do
significado da EI original). Postulo que, nesse caso há composicionalidade forte, pois
a expressão em (a) assume uma interpretação que não denota: despertar muita
vontade. Na verdade, o exemplo (a) é uma outra expressão, visto que não podemos
associar seu significado ao significado da seqüência dar água na boca. Já em (b),
podemos assumir uma estilização decorrente da associação direta entre dar água e
dar saliva. Aqui, há uma composicionalidade fraca, já que há uma transparência
semântica entre o significado da EI original e a expressão ilustrada em (b).
(2) “Tenha os pés no chão. Timberland. For the jouney”. (VEJA, 19/06/2002)
EI = ter os pés no chão. (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+ art+N+ adv)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: ser realista/objetivo
92
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Tenha os pés no solo/na terra (substituição do advérbio) – (em um contexto em
que estivéssemos nos dirigindo aos sem-terra, tal enunciação torna-se aceitável).
(b) Tenha as mãos no chão (substituição do nome) – causa impossibilidade de
proximidade com o So idiomático.
Em (a) temos uma composicionalidade fraca da EI em tela, já que, como
mencionado, tal variação se torna possível em função de um contexto motivado. No
entanto, em (b) há composicionalidade forte, pois a substituição do nome causa uma
opacidade que inviabiliza um cálculo de proximidade com o significado em foco: ser
realista/objetivo.
(3) “Grande leilão de imóveis locados para agências. Este é pra bater o martelo.
Grupo Santander Banespa” (ISTO É, 20/11/2002: 13).
EI = bater o martelo (não-composicional)56
TIPOLOGIA DA EI: SV (V +art. +N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: tomar decisão final.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] este é pra bater a marreta (substituição do nome) = estilização (aumenta a
importância do aliado específico).
(b) [...] este é pra golpear o martelo. (substituição do verbo) = causa impossibilidade
de proximidade com o So idiomático.
Este exemplo nos mostra que em (b) há um comprometimento do significado
idiomático da expressão, ou seja, a expressão não é mais interpretada na dimensão
da EI bater o martelo. Há, então, uma variação lexical da EI em tela e isso altera o
significado da EI que é tomar decisão final, por isso, há em (b) composicionalidade
forte. Já em (a), conseguimos admitir uma transparência semântica entre o
Aqui, pode-se postular alguma restrição quanto a não-composicionalidade da expressão em foco, já
que ainda é possível a existência de leilões em que se usa um martelo para fechar lances.
56
93
significado da expressão alterada e o significado da EI original. Existe uma
proximidade do significado da EI bater o martelo com a variação bater a marreta e,
por isso, há composicionalidade fraca.
(4) “Tem gente que acha que você nasceu em berço de ouro. Eles não sabem como
você deu duro pelo seu dinheiro. Sudameris”. (ISTO É, 12/03/2003: contra capa).
EI = nascer em berço de ouro (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+prep+N+prep+adj)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: nascer em família de alto poder aquisitivo.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Tem gente que acha que você nasceu em berço de diamante. [...] (substituição
do adjetivo) = estilização que aumenta a importância do objeto em questão.
(b) Tem gente que acha que você nasceu em leito de ouro. [...] (substituição do
nome) = preserva o So idiomático.
(c) tem gente que acha que você cresceu em berço de ouro [...] (substituição do
verbo) = preserva o So idiomático.
Nos exemplos demonstrados em (a), (b) e (c), podemos admitir que as
modificações introduzidas são interpretáveis na dimensão da EI original: nascer em
berço de ouro. Isso prova a composicionalidade fraca da expressão, pois mesmo
depois de feitas as substituições, a EI continua preservando, guardadas as devidas
proporções, o sentido idiomático nascer em família de alto poder aquisitivo. No
entanto, torna-se pertinente ressaltar que o teor fraco da composicionalidade não
deve ser visto aqui de maneira simultânea, ou seja, a expressão comporta
mudanças em três lugares diferentes, mas isso acontece em momentos distintos.
(5) “Sabe aquela história com a volkswagem que ninguém acreditava? Agora ela
pode cair na boca do povo. Concurso nacional de contos” meu caso com um
volkswagem”. (ISTO É, 12/02/ 2003:29).
EI = cair na boca do povo (não-composicional)
94
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+prep+N+prep+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: tornar-se muito falado/comentado.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] agora ela pode cair na boca da multidão. [...] (substituição do nome) =
estilização que aumenta a importância do evento.
(b) [...] agora ela pode correr na boca do povo.[...] (substituição do verbo) = preserva
o So idiomático.
(c) [...] agora ela pode cair na língua do povo. [...] (substituição do advérbio) =
preserva o So idiomático.
Aqui, também se torna possível admitir que há uma certa transparência
semântica e conseqüente produtividade entre a EI original e suas modificações.
Momentaneamente a EI se torna composicionalmente fraca sendo interpretada de
acordo com os elementos que a compõem sem que isso invalide a proximidade
entre os significados admitidos em (a), (b) e (c) na dimensão do significado em jogo:
tornar-se muito falado/comentado. Aqui, como no exemplo anterior, as mudanças
não são simultâneas.
(6) “Curso In company-Educação Executiva. O único que veste a camisa da sua
empresa. Instituto Trevisan”.(ISTO É, 07/05/2002: 53).
EI = vestir a camisa (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+art+ N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: dedicar-se integralmente
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] o único que veste a camiseta/jaleco da sua empresa [...] (substituição do
nome) = estilização.
(b) [...] o único que coloca a camisa da sua empresa [...] (substituição do verbo) =
preserva o So idiomático.
95
Neste exemplo, a transparência semântica é percebida entre o significado da
EI original e suas modificações. Então, há composicionalidade fraca, pois os
significados são alterados, porém interpretados na mesma dimensão do significado
dedicar-se integralmente.
(7) “Quem compra isqueiro falsificado está queimando dinheiro. E se bobear queima
a mão também. Isqueiros Bic”. (VEJA, 12/11/2003: 29).
EI = queimar dinheiro (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: esbanjar dinheiro.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Quem compra isqueiro falsificado está torrando dinheiro [...]. (substituição do
verbo) = preserva o So idiomático.
(b) Quem compra isqueiro falsificado está queimando cheque [...]. (substituição do
nome) = causa impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Aqui, pode-se admitir que há uma transparência entre o significado de (a) com
o significado idiomático em destaque. Há uma certa familiaridade entre tal sentido
que permite um ‘cálculo’, de proximidade com o significado da EI original. Há uma
composicionalidade fraca. Já em (b) existe uma certa opacidade entre o significado
adquirido após a alteração com o significado idiomático. O significado adquirido com
a modificação introduzida em (b) não denota esbanjar dinheiro. Assim, essa
modificação faz com que a expressão ilustrada em (b) não possa ser interpretada na
dimensão da EI queimar dinheiro. Há, então, composicionalidade forte.
(8) “Prepare-se para ganhar o mundo. Cursos no exterior. Editora abril. Já nas
bancas “. (VEJA, 29/05/2003: 28).
EI = ganhar o mundo (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+art+N)
96
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: viajar por vários países.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Prepare-se para ganhar o país [...] (substituição do nome) = estilização que,
neste caso, diminui a importância do evento.
(b) Prepare-se para conquistar o mundo [...] (substituição do verbo) = preserva o So
idiomático.
As variações em (a) e (b) conferem uma composicionalidade fraca aos
enunciados em foco. No presente caso, a EI ganhar o mundo vai ser reinterpretada
de acordo com os elementos que compõem as modificações assumidas em (a) e (b).
E isso, não impossibilita uma aproximação entre o So idiomático viajar por vários
países e o que pode ser interpretável para as modificações introduzidas.
(9) “Agora o que era bom ficou melhor. Maxigarantia Volkswagem. Você não fica
chupando o dedo se o seu veiculo der algum problema”. (VEJA, 19/06/2002: 34).
EI = chupando o dedo (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: Ficar sem ação/ sem alcançar o intento.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:57
(a) [...] Você não fica chupando a mão se o seu veículo der algum problema
(substituição do nome) = preserva o So idiomático.
(b) [...] Você não fica lambendo o dedo se o seu veículo der algum problema.
(substituição do verbo) = preserva o So idiomático.
57
Há um fato que merece ser registrado: para que o falante atribua o significado cristalizado a uma EI
o mesmo não tem que saber o porquê sincrônico ou diacrônico do processo. Basta que ele saiba que
tal expressão se identifica com um determinado valor. No entanto, suponho que o falante parte
sempre do pressuposto de que haverá (ou houve) uma razão para ser assim e tenta encontrar na
interpretabilidade, que, a meu ver, não lhe impõe limites, as conexões que lhe pareçam justificáveis. A
prova disso torna-se visível quando os falantes reinventam construções nas EIs que originariamente
não existiam, manipulando-as para gerar um efeito de surpresa, inovação, etc.
97
Os significados adquiridos com as modificações introduzidas em (a) e (b)
podem ser deduzidos a partir do significado da EI chupando dedo. Há uma
transparência
semântica
que
torna
tais
expressões
modificadas,
composicionalmente fracas.
(10) “Para sua família ter uma educação com qualidade extra, você não precisa abrir
mão do sabor. Produtos Extra”. (VEJA, 29/05/2003: 47).
EI = abrir mão (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+N)
SENTIDO
IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO:
Desinteressar-se, ou abdicar-se de algo ou
alguém. Mudar de idéia, ceder.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] Você não precisa abrir pé [...] (substituição do nome) = causa impossibilidade
de proximidade com o So idiomático.
(b)[...] Você não precisa fechar mão [...] (substituição do verbo) = causa
impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Os significados obtidos com as substituições em (a) e (b), fazem com que
essas expressões tenham composicionalidade forte. Os significados em (a) e (b) não
expressam a mesma relação do significado da EI abrir mão. Há uma opacidade
semântica que inviabiliza a proximidade de tais construções com o significado
desinteressar-se, ou abdicar-se de algo ou alguém. Mudar de idéia, ceder.
(11) “Não estamos puxando a barba do bode. Temos de puxar a barba do bode para
mostrar onde está o DNA da corrupção”. Roberto Jefferson, deputado federal (PTB
– RJ), em discurso proferido momentos antes da cassação de seu mandato. (VEJA,
21/09/2005: 43).
EI = puxar a barba do bode (não-composicional)
98
Esta expressão não se encontra dicionarizada. No entanto torna-se clara a
relação da mesma com a expressão “dar bode” (resultar em uma situação infernal,
indesejável, confusa). Há uma associação entre o termo bode e o verbo puxar que
compõe a EI. A partir disso, torna-se possível uma aproximação entre a EI puxar a
barba do bode e seu significado provocar/instigar confusão.
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+art+N+prep+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: provocar/instigar confusão.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Não estamos puxando a barba do cabrito [...] (substituição do nome) =
estilização.
(b) Não estamos puxando o bigode do bode [...] (substituição do nome) = estilização
que diminui a importância do evento em questão (barba – pêlos que nascem no
queixo e nas faces dos homens; bigode – parte da barba que nasce sobre os
lábios).58
(c) Não estamos esticando a barba do bode [...] (substituição do verbo) = preserva o
So idiomático.
Dos significados obtidos com as modificações introduzidas em (a), (b) e (c),
podemos fazer uma associação com o significado da produção puxar a barba do
bode. Há uma composicionalidade fraca entre tais significados, pois os mesmos
podem ser interpretados na mesma dimensão da seqüência provocar/instigar
confusão.
(12) “Fernando Henrique é movido pelo rancor e pela inveja. Ele deveria pensar
duas vezes antes de falar. Os padrões éticos no governo dele não resistem a uma
comparação, se o critério for o grau de lesão aos cofres públicos”. Ciro Gomes,
ministro da Integração Nacional, sobre afirmação de FHC de que a ética do PT é
roubar. (VEJA, 15/02/2006: 38).
58
Novo Aurélio Séc. XXI. Versão eletrônica.
99
EI = pensar duas vezes (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+numeral+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: agir com cautela.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] Ele deveria pensar três vezes antes de falar [...] (substituição do advérbio) =
estilização que aumenta a importância do evento.
(b) [...] Ele deveria refletir duas vezes antes de falar [...] (substituição do verbo) =
preserva o So idiomático.
Torna-se possível perceber que as EIs ilustradas em (a) e (b) comportam
variações em sua estrutura, levando a uma alteração no sentido, sem que isso a
invalide. No momento em que as variações se realizam a EI se torna
composicionalmente fraca, pois as modificações se fazem interpretáveis em função
de um contexto específico. Há uma transparência semântica (proximidade do So da
EI original) e uma produtividade que faz com que o significado estilizado denote agir
com cautela em maior ou menor grau.
(13) “Vamos sentar o sarrafo no Garotinho”. Orestes Quércia, ex-governador de são
Paulo, apostando tudo na derrota do ex-governador fluminense nas prévias do
PMDB. (VEJA, 01/03/2006: 34).
EI = sentar o sarrafo (o mesmo que descer a lenha) (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SV (V+art+ N)
SENTIDO
IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO:
ser surrado/derrotado (no presente caso, nas
eleições).
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Vamos meter o sarrafo no Garotinho. (substituição do verbo) = preserva o So
idiomático.
100
(b) Vamos sentar o ferro no Garotinho. (substituição do nome) = estilização que
aumenta a importância do aliado em questão.
Percebemos, também, nesses casos, que as substituições feitas em (a) e (b)
expressam a mesma relação semântica do significado da EI original. Há, então, uma
composicionalidade fraca já que, os significados estilizados e/ou modificados
denotam o mesmo que ser surrado/derrotado (no presente caso, nas eleições).
4.3.1.2 Sintagmas nominais
(14) “Exame é seu braço direito na hora de tomar decisões e destacar-se na
carreira”. (ISTO É, 04/06/2002: 58).
EI= braço direito. (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SN (N+adj)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: auxiliar principal e eficaz.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Exame é seu braço esquerdo [...] (substituição do adjetivo) = estilização
(considerando a conotação atribuída ao adjetivo esquerdo – mal jeitoso,
desastrado59-, podemos considerar que houve uma diminuição na importância dada
ao evento).
(b) Exame é sua perna direita [...] (substituição do nome) – nesse contexto, há um
comprometimento do sentido idiomático, já que não há uma convenção ligada a
importância da perna direita como algo que facilita/ajuda.
Este exemplo nos permite visualizar um aspecto importante no que diz
respeito à composicionalidade das EIs. Pode-se postular, de modo geral, que quase
toda palavra de uma EI pode ser substituída e interpretada em função de um
contexto específico. Por exemplo, nos enunciados demonstrados em (a) e (b) temos
59
Dicionário Novo Aurélio séc XXI. Versão eletrônica.
101
que: em (a) há uma estilização e conseqüente composicionalidade fraca do
significado em foco, já em (b) isso, a princípio, não acontece. Não percebemos
nesse último caso uma transparência semântica entre o significado obtido com a
substituição (braço por perna) e o significado da EI original, por isso, há
composicionalidade forte neste último caso.
No entanto, em uma enunciação especial onde estivéssemos nos referindo a
um maratonista, por exemplo, tal enunciado [...] é sua perna direita, poderia ser uma
estilização da EI braço direito.
(15) “Para preservar o mar e quem depende dele, a Shell foi ouvir algumas histórias
de pescador”. (VEJA, 01/05/2002: 84).
EI = história de pescador (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SN (N+prep+N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: história exagerada/mentirosa.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a)[...] a Shell foi ouvir algumas histórias de marinheiro (substituição do nome) =
estilização em função de um contexto especial.
(b)[...] a Shell foi ouvir alguns contos de pescador (substituição do nome) = causa
impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Como no exemplo anterior, em (a) podemos admitir uma estilização em
função de uma motivação para tal enunciação. Porém em (b), torna-se mais difícil
perceber uma certa proximidade entre o enunciado e o significado: história
exagerada/mentirosa. Em outras palavras, há em (a) uma composicionalidade fraca
e em (b) uma composicionalidade forte.
Torna-se necessário abrir um espaço para discutir, em linhas gerais, a questão
da naturalidade ou não-naturalidade de algumas expressões em razão da presença
de certos itens lexicais, cuja troca está sendo proposta para algumas expressões. A
escolha de um item em detrimento de outro pode fazer uma grande diferença em
102
torno da expectativa de interpretação. Logo, a escolha do item contos no enunciado
(b) supracitado, torna a expressão composicionalmente forte. Porém, se ao invés de
contos de pescador fosse usado causos de pescador, o enunciado se tornaria
interpretável na dimensão da EI em destaque, tornando-se composicionalmente
fraco.
Dessa forma, os efeitos de sentido são particularmente representativos de um
processo consciente para os falantes. O mesmo seleciona os itens visando o que se
deseja alcançar. Daí pode-se compreender o uso tão reiterado deste processo de
selecionar, inverter e violar os percursos semânticos que uma dada expressão já
tinha fixado na língua. Isso pode, às vezes, causar uma novidade semânticointerpretativa, ou seja, ser não-natural e outras vezes apresentar uma naturalidade
interpretativa em relação à expressão original.
(16) “Montanha não é lugar de pé frio. Timberland. 100% à prova de água”. (VEJA,
05/06/2003: 89).
EI = pé frio (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SN (N+adj)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: pessoa de má sorte
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Montanha não é lugar de pé gelado [...] (substituição do adjetivo) = estilização
que, no presente caso, aumenta a importância do fato.
(b) Montanha não é lugar de mão fria [...] (substituição do nome) = causa
impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Em (a) temos uma transparência semântica do enunciado em questão que
admite uma interpretação compatível com o significado da EI para a modificação
introduzida – há composicionalidade fraca. Em (b), no entanto, isso não acontece.
Há uma opacidade semântica que impossibilita a interpretação desse enunciado na
mesma dimensão do significado, pessoa de má sorte – há composicionalidade forte.
103
(17) “Se você precisa de uma máquina fotográfica com jogo de cintura. Escolha a
Olympus Trip”. (VEJA, 13/03/2000: 70).
EI = jogo de cintura (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SN (N+prep+N)
SENTIDO
IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO:
ter flexibilidade na solução de problemas ou
situações difíceis.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Se você precisa de uma máquina fotográfica com jogo de quadril [...]
(substituição do nome) = causa impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
(b) Se você precisa de uma máquina fotográfica com competição de cintura [...]
(substituição do nome) = causa impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Neste exemplo, tanto em (a) quanto em (b) não conseguimos calcular uma
proximidade entre os significados obtidos com as modificações e o significado da EI
original, por isso, há composicionalidade forte. Os significados de (a) e (b) não
denotam ter flexibilidade na solução de problemas ou situações difíceis.
(18) “Tá difícil de engolir a programação da sua TV? Assine HBO. O melhor canal de
filmes do mundo”.(ISTO É, 07/08/2002: 99).
EI = difícil de engolir (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SN (adj+prep+V)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: inaceitável
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Tá difícil de mastigar a programação da sua TV? [...] (substituição do verbo) =
podemos supor que tal modificação possa ser usada para manifestar um grau
primário de inaceitabilidade do significado (1º mastiga, depois engole), ou seja, a
104
expressão representada em (a) pode ser uma forma usada para “traduzir” um evento
que antecede ao significado da EI original e, sendo assim, tal modificação torna-se
um equivalente semântico para a EI original.
(b) Tá complicado engolir a programação da sua TV? [...] (substituição do verbo) =
preserva o So idiomático.
Tanto em (a) quanto em (b), percebemos uma certa transparência semântica
que permite que as variações aplicadas sejam composicionalmente fracas. Os
significados adquiridos em (a) e (b) ainda denotam inaceitável.
4.3.1.3 Sintagmas adverbiais.
(19) “Sua receita é guardada a sete chaves. Passa de mestre cervejeiro para mestre
cervejeiro como segredo de família. Graças a esse cuidado, desde 1853 ninguém
conseguiu imitar a Bohemia”. (Veja, 09/07/2001: 19).
EI = a sete chaves (não-composicional)
Embora o objetivo não seja fazer uma descrição histórica das EIs acho
conveniente esclarecer em que lugar da expressão em tela a metáfora opera de
forma mais direta. Sete é um número indefinido, um número que indica grande
quantidade e que sempre seduziu a imaginação popular. A expressão fechado a
chave ou simplesmente a chave já significa bem fechado. Com o determinante
quantitativo (sete), intensificou-se o ato em questão. Como fato real, existiram arcas
fechadas a quatro chaves, como a que se encontra no Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte. Cada uma das chaves ficava com um alto
funcionário, e isso era a garantia da total reserva na responsabilidade do segredo
guardado.
TIPOLOGIA DA EI: Sadv (prep + numeral + N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: muito bem guardado.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
105
(a) Sua receita é guardada a oito chaves [...] (substituição do numeral) = estilização,
aumenta a importância do evento em questão.
(b) Sua receita é guardada a sete trancas [...] (substituição do nome) = estilização.
Consideradas as características físicas
60
dos objetos em questão (chave – utensílio
de ferro ou de metal que se introduz na fechadura, e tranca – viga de madeira ou
ferro usado para efeito de segurança), pode-se considerar que há uma estilização
que aumenta a importância do aliado especifico.
Neste exemplo há composicionalidade fraca nos enunciados (a) e (b). Torna-se
possível resgatar dos mesmos o sentido presente na EI a sete chaves. Tais
enunciados serão reinterpretados, agora, de acordo com os elementos que os
compõem sem, no entanto, assumir uma opacidade semântica em relação ao
significado muito bem guardado.
(20) “O Brasil vai crescer pra chuchu, nós vamos ter emprego pra chuchu, e vai ser
um governo que é um chuchuzinho. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo,
que para a campanha à sucessão de Lula pretende capitalizar o legume – isso se o
tucanato não passar a serra no chuchuzeiro. (VEJA, 01/03/2006: 34)”.
EI= pra chuchu (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: Sadv (prep + N)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: com intensidade.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) O Brasil vai crescer pra tomate/abóbora/cebola [...] (substituição do nome) =
causa impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
O significado da EI pra chuchu está relacionado ao fato de essa trepadeira
ser de cultivo fácil, rápido e abundante. Não conseguimos no exemplo modificado
60
Dicionário eletrônico Houaiss .
106
em (a) resgatar ou ter uma proximidade com o significado idiomático da EI original.
Por isso, há composicionalidade forte na modificação introduzida em (a).
4.3.1.4 Sintagmas frasais:
(21) “Ela que vá pentear macacos!”. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, sobre
a organização Internacional do trabalho, que definiu como greve geral uma greve de
petroleiros ocorrida em 2002. (ISTO É, 07/04/2004: 22).
EI= vá pentear macaco! (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SF (sintagma frasal)
SENTIDO
IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO:
Ir para longe, afastar-se para deixar de
importunar.
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) Ela que vá escovar macaco! (substituição do verbo) = preserva o So idiomático.
(b) Ela que vá pentear gorila! (substituição do nome) = estilização que aumenta a
importância do evento em questão.
As modificações feitas em (a) e (b) produzem sentidos compatíveis com o
significado da EI vá pentear macaco, ou seja, tais alterações funcionam em um
contexto especial em que o falante queira fazer tais mudanças. Há, então, uma
composicionalidade fraca nos enunciados (a) e (b).
(22) “O PT ainda está muito em cima da crise política e tem de sair disso. Se não
sair do córner, a vaca vai pro brejo”. Jorge Viana, governador do Acre (PT). (VEJA,
18/01/2006: 42).
EI = a vaca vai pro brejo (não-composicional)
TIPOLOGIA DA EI: SF (sintagma frasal)
SENTIDO IDIOMÁTICO DA EXPRESSÃO: dar tudo errado.
107
QUANTO À COMPOSICIONALIDADE DA EI:
(a) [...] se não sair do córner, o touro vai pro brejo. (substituição do nome) =
estilização.
(b) [...] se não sair do córner, a vaca vai pro pântano.(substituição do advérbio) =
causa impossibilidade de proximidade com o So idiomático.
Em (a) há uma estilização que nos possibilita deduzir o significado da
seqüência dar tudo errado com um grau diferente de especificidade. Este enunciado
variado é composicionalmente fraco. Já em (b) não conseguimos deduzir o
significado da seqüência alterada do significado idiomático. A alteração feita causa
impossibilidade de proximidade com o significado da EI a vaca foi pro brejo e por
isso, há composicionalidade forte.
Há também que se ressaltar que em casos como o descrito acima, existe a
possibilidade de certas operações paradigmáticas gerarem expressões que
requerem uma maior atenção no seu processo de decodificação. Talvez, o falante
não atribua um valor semântico imediato a tais modificações (a) e (b), porém há uma
condição de que tal valor seja compreensível dentro de um contexto muito
específico.
4.4 Algumas considerações importantes.
Após as análises que foram feitas, podemos verificar que:
a- Embora esta análise não se preste a um estudo histórico sobre as EIs, pudemos
observar que o uso atual de uma lexia complexa envolve a sua história durante toda
a sua existência no passado, sem que o uso das mesmas suponha o conhecimento
dos fatos que as geraram;
b- Atrás de uma EI, embora deva haver exceções, há uma torrente de expressões
paralelas ou variantes, há uma história ou um fato literário marcante e há a
participação ativa do povo que a divulgou através da língua oral;
108
c- As variantes de uma EI podem levar o pesquisador, através da comparação, a
descobrir a sua origem e o seu sentido etimológico. Temos como exemplo, entre
outros, a EI puxar a barba do bode (nº 11), que mantém uma estreita relação com a
expressão dar bode;
d- Pode-se considerar também que as variantes podem ter formas semelhantes e
sentidos bem diferentes (a), assim como podem ter sentidos semelhantes (às vezes,
estilizados) e formas diferentes (b). Vejamos:
(a) “Quem compra isqueiro falsificado está queimando dinheiro. E se bobear queima
a
mão
também”.
Isqueiros
Bic.
(VEJA,
12/11/2003:
29). =
[So:
gastar
desnecessariamente].
Quem compra isqueiro falsificado está queimando cheque. (compromete o
significado idiomático da EI).
(b) “Vamos sentar o sarrafo no Garotinho”. Orestes Quércia, ex-governador de São
Paulo, apostando tudo na derrota do ex-governador fluminense nas prévias do
PMDB. (VEJA, 01/03/2006: 34). = [So:ser surrado/derrotado].
Vamos descer a lenha no Garotinho. = (ser surrado/derrotado).
e- A grande maioria das EIs guarda alguma relação aproximativa entre alguns de
seus itens componentes e o significado da expressão, tornando-se de fácil
entendimento. No entanto, há EIs que não guardam relações entre seus itens
componentes e o significado idiomático das mesmas. Neste caso, retomando o
pensamento de Steen (1994) dizemos que expressões como “afogar as mágoas”
são metáforas convencionais, pois têm seus significados automaticamente ativados
na mente dos falantes.
f. Após esta análise, percebe-se que há uma possível gradiência entre os
significados das EIs. Essa gradiência, em alguns casos, não compromete o So
idiomático da EI, mas em outros, há alteração do So idiomático das lexias
complexas;
g. O sentido de uma EI é não-composicional. Isso é que justifica sua fixidez. No
entanto, em função de uma enunciação motivada, variações podem ser introduzidas
109
e momentaneamente as EIs que sofreram variações se tornam composicionalmente
fracas, assumindo o caráter idiossincrático da língua;
h.Quando, após as modificações, não há comprometimento do significado, pode-se
dizer que a EI original funciona como uma matriz onde figuram diferentes tipos de
construções idiomáticas. Essas seriam construções derivadas;
i. Nesses casos, o valor pragmático da EI derivada se altera e/ou estiliza. Isso
funciona, a meu ver, como uma alternativa polissêmica para a EI original;
j Então, podemos assumir que há uma motivação interacional, a partir da qual os
sentidos são reiterados possibilitando a formação de novas formas, herdeiras de
formas anteriores. Essas ‘novas’ formas assumem uma composicionalidade fraca,
pois as mesmas mantêm uma estreita relação de significado com a EI original.
Quando isso não acontece, assumo que há uma composicionalidade forte. Podemos
ter, dessa forma, uma escala de gradiência – que vai da não-composicionalidade (EI
original), até a composicionalidade forte (outra manifestação lexical).Devido a essa
possibilidade de gradiência do significado de algumas EIs, tenho como objetivo
avaliar, em trabalho futuro, como os elementos se arranjam dentro de uma escala
([0] a [1]), sem dizer/supor que já exista uma escala prévia para tais significados;
k- Nesse sentido, a utilização de uma lógica que permita uma maior proximidade
com a mente humana e sua linguagem natural será, para tal estudo, de grande valia.
Em particular uma lógica que permita estados intermediários entre o significado
verdadeiro (EI original) e o menos verdadeiro (composicionalidade forte) das EIs. É
com esse pensamento que, pretendo analisar em que dimensão o significado das
EIs do português brasileiro se torna difuso, ou seja, tentarei esclarecer como o
falante o percebe e até que ponto se pode afirmar que um significado é cristalizado
na mente dos falantes.
l- Enfim, percebe-se através das análises que foram feitas que, o significado não
reside na forma, temos o poder de alcançá-lo por meio de grandes ‘redes’ que
envolvem vários aspectos de nosso conhecimento cultural e social. As EIs podem
ser vertidas segundo soluções contextualizadas e conforme a necessidade do
falante.
110
5. considerações finais
111
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Tem horas em que, de repente, o mundo vira
pequenininho, mas noutro de repente ele já torna a ser
demais de grande.A gente deve de esperar o terceiro
pensamento.
Guimarães Rosa
Este trabalho de pesquisa iniciou-se na busca por compreender aspectos relativos
à natureza e à função das EIs no processamento discursivo. Essa problematização
partiu do pressuposto de que as EIs têm sido um fenômeno tipicamente estudado no
âmbito da lexicologia e da lexicografia ou apenas como itens lexicais isolados. A meu
ver, mais que uma preciosidade e/ou curiosidade lingüística, às EIs devem ser
compreendidas como uma manifestação lingüística que resulta de operações
cognitivas e, ao mesmo tempo, como um fenômeno que precisa ser observado na
dinâmica e complexa relação estabelecida entre os elementos que constituem o
processamento discursivo.
Nessa ótica, para que eu pudesse iniciar a minha análise e propor novas
abordagens sobre as EIs, construí um panorama que me permitiu visualizar algumas
lacunas existentes nos estudos acerca das lexias complexas do português brasileiro,
principalmente no que diz respeito a sua dimensão discursiva. Esse quadro
autenticou a hipótese de que as EIs necessitavam de uma nova interpretação no que
diz respeito aos seus aspectos sintático-semântico-discursivos.
A partir desse estudo, a operacionalização de EIs como um fenômeno ligado ao
processamento discursivo, pôde-se construir uma argumentação a favor dos
seguintes fundamentos:
as EIs podem ser usadas como uma estratégia na construção da imagem do
“Eu” discursivo;
as EIs traduzem hábitos verbais de maneira rápida e eficaz;
O corpus que serviu de apoio à pesquisa forneceu marcas discursivas que
permitiram reconhecer e situar, dentro dos estudos gramaticais e enunciativos
as EIs, vendo-nas como um fenômeno que interfere na produção dos
112
enunciados tomados em seu todo, em seu caráter multidimensional. Em outras
palavras, as EIs devem ser vistas como um fenômeno que permeia toda a
enunciação.
Acresce que, para validar empiricamente os aspectos supracitados, e por assumir
que na raiz deste trabalho estava a preocupação com a descrição do uso das EIs
como um fenômeno lingüístico de grande importância, o não tratamento sistemático
dessas
expressões
acarretava
uma
visão
maquiada
do
uso
da
língua,
comprometendo diretamente alguns domínios da lingüística como, por exemplo, o
estudo do significado e todas as implicações que subjazem a ele.
Desse modo, para que eu pudesse avaliar as condições de significação das EIs do
português brasileiro, optei pela abordagem composicional de acordo com a qual os
significados das sentenças são vistos como dependentes dos significados de suas
partes componentes. Nos casos que foram analisados neste trabalho, tive como
objetivo
principal
propor
uma
abordagem
alternativa
para
o
princípio
da
composicionalidade, abrindo mão do ‘conforto’ de uma visão convencional.
Não sem razão, optei por ‘deslocar’ os conceitos de opacidade e transparência
semânticas que se aplicam às partes componentes das sentenças, para os
significados das EIs vistos como um todo. Essa alternativa de conceber a
composicionalidade esteve apoiada em uma hipótese que remete a minha análise a
uma perspectiva teórica ligada à intenção e/ou à necessidade do falante.
Devido a todas as posições acima mencionadas e tendo como base o princípio da
composicionalidade, procedi à análise do corpus da seguinte maneira:
Minha abordagem empírica teve como objetivo analisar alterações quanto à
forma lingüística das expressões. Tal análise se apoiou em uma suposição
sobre um uso não regular, bem como de variedades possíveis para as EIs;
Com base nisso, admito, a título de hipótese, que há um investimento, por
parte dos falantes, nas substituições entre as palavras que compõem as EIs
em função de uma enunciação específica;
Ao realizar as substituições, ad hoc, tornou-se possível propor uma medida de
composicionalidade semântica que passa por uma escala que vai da não-
113
composicionalidade, passa pela composicionalidade fraca e vai até a
composicionalidade forte;
Percebeu-se, também, que, embora as EIs tenham o significado cristalizado,
não se deve analisar a questão deste significado apenas através da análise
isolada e descontextualizada ou mesmo sem levar em consideração o
conhecimento e as intenções dos participantes do discurso.
Ao analisar a questão da composicionalidade dos significados das EIs,
constatou-se que ‘novos’ significados podem ser atribuídos a uma expressão
fixa por meio de uma ‘rede’ de sentidos coerentemente construída em um
momento especial. Em adendo, pode-se postular que o falante utiliza recursos
extralingüísticos, tais como o contexto situacional, o conhecimento cultural e
compartilhado e as pistas pragmáticas, para atribuir um valor social às EIs em
contextos específicos.
Nesse sentido, é certo que a atribuição de sentidos é uma tarefa que requer algo
mais do que o conhecimento da estrutura da língua, visto que se constitui em um
acontecimento que abrange as condições de produção e o contexto que envolve cada
ato de enunciação. Em outras palavras, os sentidos das EIs não devem ser vistos
apenas como uma estrutura pronta (fixa), visto que os sentidos são ocorrências
históricas e, como tal, variáveis e inapreensíveis em sua totalidade. O falante tem o
poder de verter as EIs de acordo com suas necessidades revelando um efeito de
sentido ou uma estilização, visando buscar o resultado pretendido.
Como pudemos observar, as EIs apresentam aspectos sintático-semânticodiscursivos, que as fazem merecer um papel de destaque no centro dos estudos
lingüísticos, por formarem uma linguagem própria que manifesta satisfatoriamente o
caráter dialógico e interacional da linguagem humana.
É, portanto, dentro desse quadro de análise que julgo relevante pensar uma
proposta de extensão e de especificação destes fatos, numa investigação posterior.
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AMOSSY, R. (ORG.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São
Paulo: Contexto, 2005, p. 30-53.
ARISTÓTELES. Arte retórica e Arte poética. São Paulo: Clássicos Garnier, 1959.
BAKHTIN, M. (1953/1979) Os gêneros do discurso. In M. Bakhtin (1979) Estética da
Criação Verbal, pp. 277-326. SP: Martins Fontes, 1992.
BARTHES, R. Elementos de Semiologia. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1977. pp.50-54.
BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral I. Trad.: Maria da Glória Novak e
Maria Luisa Neri. 4. ed. Campinas, SP: Pontes, 1995.
BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral II. Trad.: Eduardo Guimarães.../et
al./, Campinas, SP: Pontes, 1989.
BIDERMAN, M. T. Teoria lingüística. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p.169178.
BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999, p.24-30.
CARVALHO, N. Publicidade. A linguagem da Sedução. São Paulo: Ática, 2000.
CASCUDO, L. C. Coisas que o povo diz. Rio de Janeiro: Bloch, 1968.
CHAFE, W. L. Significado e Estrutura Lingüística. Trad. de Maria Helena de Moura
Neves, Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza Campos e Sonia Veasey
Rodrigues. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1979, p. 40-50.
CHARAUDEAU, P. Discurso Político. Trad. Fabiana Komesu e Dilson Ferreira da
Cruz. São Paulo: Contexto, 2006, p.113-127.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Rev. Tec. Trad. Eduardo Guimarães.
Campinas(SP): Pontes, 1987 in CARDOSO, Marta. Editorial: construído ethos e
situação enunciativa. In: Revista Inventário. 4. ed., jul/2005. Disponível no web world
wide em: http://www.inventario.ufba.br/04/04mcardoso.htm.
GERALDI, J.W. Portos de Passagem. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. 252 p.
115
GROSS, M. Une Classification des phrases ‘figées’ en français. Revue
Québecoise de Linguistique, 151-185. 1982.
GRZYBEK, P. Foundations of semiotic proverb study: The investigation of
proverbs in their semiotic aspect is one of the most gratifying tasks for a folklorist. De
Proverbio, v.1, n.1 1995.(O presente texto foi originalmente publicado na Alemanha
como introdução ao Semiotische Studien zum Sprichwort - Simple Forms
Reconsidered I (Grzybek, ed. 1984). Uma versão atualizada deste texto foi então
publicada em inglês no Proverbium. An International Yearbook of Proverb
Scholarship,
v.4,
p.39-85,
1987)
URL
http://www.
deproverbio.com/DPjournal/DP,1,1,95/ GRZYBEK.html 4 de maio de 1998.
HOLANDA FERREIRA, A. B. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
1986. (versão eletrônica)
HOUAISS, A. e VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001.
(versão eletrônica)
JACKENDOFF, R. The Architecture of the Language Faculty. Cambridge,
Massachusetts: MIT Press. 1997.
KOCH, I. G. V. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 2002. p.17-23.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. (1980) Metaphors we live by. London: The University
of Chicago Press.
MAINGUENEAU, D. Novas tendências em Análise do Discurso. 3ª ed. Campinas:
Pontes / UNICAMP, 1997. p.70.
MARI, H. Os Sentidos do significado. In: Correio. Revista da Escola Brasileira de
Psicanálise do Campo Freudiano, nº 18/19. Belo Horizonte, jan. 1998, p. 20-49.
MARI, H. A segundidade como formação conceitual (2º cap. tese de doutorado)
“Entre o conhecer e o representar: para uma fundamentação das práticas semióticas
e das práticas lingüísticas”. UFMG, 1998.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO,
Angela; MACHADO, Anna; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais
& ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.
116
MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, 1998. (versão eletrônica).
MIEDER, W. International Bibliography of new and reprinted proverb collections,
1994.
De
Proverbio,
v.1,
n.1,
1995.
URL
http://www.
deproverbio.com/DPjournal/DP,1,195/bibc94.html em 4 de maio de 2006.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. 3ª
ed.Campinas: Unicamp, 1997.
PERELMAN, C. Argumentação. Enciclopédia Einaudi. v. 11. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1987, p.234-265.
PERELMAN, C. & OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da Argumentação – A Nova
Retórica. São Paulo: Martins fontes, 2002.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de
Graduação. Sistema de Bibliotecas. Padrão PUC Minas de normalização: normas
da ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e
monografias. Belo Horizonte, 2006. Disponível em http://www.pucminas.br/biblioteca/
RONCOLATTO, E. A formação de imagens mentais e metáforas em uma análise
das expressões idiomáticas do português e do espanhol. 2º cap. Tese de
doutorado. UNESP/ASSIS, 2001.
STEEN, G. (1994) Understanding Metaphor in Literature: an empirical approach.
New York, Longman Publishing, 263 p.
TAGNIN, S.O. Expressões idiomáticas e convencionais. São Paulo: Ática, Série
Princípios, 1989, pp. 88.
XATARA, C. M. O campo minado das expressões idiomáticas. Alfa. São Paulo, 42 (nº
especial): 147-159, 1998.
XATARA, C.M. Tipologia das expressões idiomáticas. Alfa. São Paulo, 42:169-176,
1998.
XATARA, C.M. O Resgate das expressões idiomáticas. Alfa. São Paulo, 39: 175-194,
1995.
WILLIANS, E. Remarks on lexical knowledge. In: GLEITMAN, L. LANDAU,B. (Eds.)
The acquisition of the lexicon. Cambridge, Mass. The MTT Press, 7-35.1994.
117
ANEXO:
Apresento o corpus da minha pesquisa que se compõe de 168 (cento e sessenta e
oito) expressões idiomáticas (EIs) retiradas das edições semanais das revistas Veja e
Isto É. Essas expressões foram organizadas da seguinte forma:
Apresento as EIs em ordem alfabética na primeira coluna;
Na segunda coluna exponho os significados correspondentes que se
apresentam formatados em itálico, quando extraídos de dicionários61 e, sem grifo
especial, quando o significado é uma codificação pessoal;
A terceira coluna se reserva à classificação tipológica das EIs;
Tanto as EIs extraídas
dos discursos publicitários quanto a dos
Enunciados Proferidos por Políticos (EPPs) serão expostas na tabela abaixo. A
coluna que se reserva ao contexto permite identificar a qual gênero a EI pertence.
Expres
são
Idiomatica
01
E, finalmente, na quarta coluna apresento a fonte da qual a EI foi retirada.
Significado
Tipologia
Abanar Fazer algo
SV (V+N)
moscas superficialmente
.
02 Abrir
mão
03 Abrir
portas
61
Desinteressarse, ou abdicar- SV(V+N)
se de algo ou
alguém.Mudar
de idéia, ceder.
Ampliar o
número de
estabelecimentos.
SV(V+N)
Contexto
“Não é possível mudar abanando
moscas. Tem de remover o lixo”.
Aloizio
Mercadante,
senador,
defendendo uma rígida investigação
dentro do seu próprio partido, o PT, na
questão do mensalão.
* “Para sua família ter uma educação
com qualidade extra, você não precisa
abrir mão do sabor. Produtos Extra”.
Fonte.
(Revista, nº,
data, página).
ISTO Ë nº
1870,
17/07/2005:
22.
*VEJA,
n.º21,29/05/20
03:47.
** “No final das contas, uma HP Laserjet
é a impressora ideal para quem não
abre mão de estar impecável”.
** ISTO É,
n.º1717,28/08/
2002:17.
“É a rede bancaria que mais cresce no
brasil. E vai crescer cada vez mais, VEJA,
porque o Banco Postal não pára de abrir nº29,23/07/20
portas”.
03: 35.
Os dicionários consultados foram: Novo Aurélio, Houaiss e Michaelis, todos em versão eletrônica.
118
Abrir a
04 mão
Gastar dinheiro
SV(V+art.
+N)
SV(V+art+
N)
05 Abrir os Estar atento
olhos
Embebedar-se,
extinguir,
eliminar
desgosto,
amargura,
tristeza.
Com enorme
prazo
SV(V+art+
N)
08 Arregaçar as Trabalhar muito
mangas
SV(V+art+
N)
09 À risca
Sadv(prep
+N)
06 Afogar
as mágoas
A
07 perder
de vista
Com
rigor/exatidão.
a sete
10 chaves Muito
guardado.
bem
“Pai é tudo igual: não abre a mão nem
pra falar no telefone. Planos de tarifas
do 21. O 21 tem sempre um plano
adequado para você falar mais e pagar
bem menos ainda. Embratel
* “Cartuchos e toners falsificados
comprometem a qualidade da impressão
do seu trabalho. Abra os olhos.
Cartuchos hp têm selo de garantia que
muda de cor”.
**“Unibanco. Quem enxerga longe
investe aqui. Abra os olhos e comece a
investir’”.
VEJA, nº 42,
23/10/2002:
69.
*ISTO
É,
nº1712,
24/07/2002:
18.
** VEJA, nº 22,
4/06/2003: 1.
“A cerveja fica para os Alemães VEJA,
afogarem as mágoas. Chandon Brasil. nº26,09/07/20
Vitória se comemora com Chandon. 02: 51.
Parabéns Brasil”.
Sadv(Prep “No Banco do Brasil tem crédito fácil VEJA, nº 3,
+V+Prep+ para você fazer tudo ao mesmo tempo 25/01/2006:
N)
agora e pagar um pouquinho de cada 27.
vez a perder de vista /.../”.
SAdv
“Com a Nestlé, você nunca erra. Afinal,
ela já testou e aprovou tanto para a
gente, que é só confiar. Quanto a minha
parte, confesso que é mais divertida: eu
arregaço as mangas e solto a
imaginação”.
“É por tudo isso que os maranhenses
recebem orgulhosos, o investimento de
mais de 1 bilhão e 200 milhões de
dólares no novo polo siderúrgico, e
arregaçam as mangas para assumir
seus mais de 12 mil novos empregos.
Governo do Maranhão”.
“O presidente vem seguindo à risca o
regime dele, inclusive está abstêmio há
cerca de quarenta dias. Ele só toma
Coca light e a gente tem de acompanhalo”. Luiz Fernando Furlan, ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior; sobre a dieta que o presidente
Lula vem fazendo.
“Sua receita é guardada a sete chaves.
Passa de mestre cervejeiro para mestre
cervejeiro como segredo de família.
Graças a esse cuidado, desde 1853
VEJA,
nº
24,19/06/2001:
90.
VEJA, nº 26
09/06/2003:
106
(ed.
especial).
VEJA, nº 6,
15/02/2006:
15.
VEJA,
nº
26,09/07/2001:
19.
119
Assinar
11 embai- Apoiar
xo
atitude
decisão.
ninguém conseguiu imitar a Bohemia”.
SV(V+adv) “Linha HT 22 da Helios Carbex. Se não VEJA, nº 22,
uma
fosse assim, a gente não assinava
05/06/2001:
ou
embaixo”.
127.
A vaca Dar tudo errado
12 vai pro
brejo
VEJA,
nº2,
18/01/2006:
42.
Baixar Sentir-se
13 a
derrotado.
cabeça
VEJA,
nº31,
03/08/2005:52.
14 Bater
boca
discutir
Bater
15 de
frente
Entrar
conflito
alguém.
SN(Art+N+ “O PT ainda está muito em cima da crise
V+adv)
política e tem de sair disso. Se não sair
do córner, a vaca vai pro brejo”. Jorge
Viana, governador do Acre (PT).
SV(V+art+ “Não vai ser a elite brasileira que vai
fazer eu (sic) baixar a cabeça”. Luiz
N)
Inácio Lula da Silva, presidente da
Republica.
SV (V+N) “Não vou bater boca com empregadinho
do presidente. Eu só quero debater com
o patrão dele, sua majestade barbuda.
Lula é um incompetente, pois manda
seus ministros se comportarem como
moleques”
Heloísa
Helena,
respondendo às críticas de Tarso Genro.
em SV(V+prep “Olha com quem a concorrência bateu
com +adj)
de frente. Pickup do Ano Ford 250”.
VEJA,
nº29,
26/07/2006:
52.
VEJA,
nº
50,13/12/2000:
26.
nº26,
SN (adj+ “Procuro homem bem de vida e de VEJA,
16 Bem de Estar em ótima nome)
preferência médico, para matrimônio, 09/07/2002:
morar com meus pais, filhos e 5 17.
vida
situação
enteados. Escolher é o melhor é
financeira
automático. Renault Scénic com câmbio
automático grátis”.
É,
SV(V+art.+ “Grande leilão de imóveis locados para ISTO
17 Bater o Decisão final
N)
agências. Este é pra bater o martelo. nº1729,20/11/
martelo
Grupo Santander Banespa”
2002: 13.
Bater o Olhar
18 olho
repentinamente
19 Braço
direito
SV(V+art+
N)
SN
Auxiliar principal adj)
e eficaz
“Os novos potes de Qualy estão mais
bonitos e mais resistentes. Tem de
tampa amarela que é só bater o olho
para bater aquela vontade”.
(N+ “Ele é o braço direito da máfia”. Filhos
da máfia. Alugue hoje.
VEJA,
nº35,05/09/20
02:
última
capa.
*ISTO É, nº
1756,
28/05/2003:
97.
“Exame é seu braço direito na hora de *ISTO É, n º
tomar decisões e destacar-se na 1757,04/06/20
carreira”.
02: 58.
120
“Vovô enxuto e boa pinta. Procuro
ninfetinha sarada para relacionamento
intenso e duradouro. Escolher o melhor
é automático. Renault Scénic com
câmbio automático grátis”.
Cair
Algo ou alguém SV(V+conj. “O titan tractor caiu como uma luva para
21 como
que se encaixa +num. +N) as nossas operações”.
uma
perfeitamente
luva
em determinada
situação.
*“Não é todo dia que 500 computadores
22 Cair do Vir em boa
SV(V+prep caem do céu. Se você é assinante do
céu
+N)
ZAZ, já está concorrendo a 500 Pcs.”.
hora/algo fácil,
20 Boa
pinta
Pessoa com boa SN(adj+N)
aparência
oportuno.
Cair na
23 boca
do
povo.
VEJA,
nº
27,09/07/2002:
17.
VEJA,
nº
18,07/05/2003:
47.
*VEJA, nº 4,
26/01/2000:
153.
**“Carequinha falante, fala em dinheiro **VEJA nº52,
assim como se fosse uma coisa que 28/12/2005:16
caísse do céu”. Roberto Jefferson, 4.
descrevendo o publicitário Marcos
Valério aos parlamentares do Conselho.
Tornar-se
SV(V+adv. *“Sabe
aquela
história
com
a *
ISTO
É,
falado.
Estar +prep+N) volkswagem que ninguém acreditava? 1740,12/02/20
sendo
muito
Agora ela pode cair na boca do povo. 03: 29.
comentado
Concurso nacional de contos “ meu caso
com um volkswagem”.
**“A história da Ypióca é a história do ** VEJA, nº
maior produtor de aguardente de origem 18,07/05/2003:
do país e que está onde qualquer bebida 113.
deseja estar: na boca do povo”.
24 Cair o
queixo
Cair no
25 conto
do
vigário
Ficar Surpreso
Ser enganado
26 Centrar mirar
fogo
SV
(V+adv)
“Novidades para deixar a concorrência
de
queixo
caído.
Motor
show.
Informação com emoção”.
SV(V+prep “A oposição não vai cair no conto da
+N+
vigarice e não aceita a pecha de
prep+N)
golpista. O Brasil não é a Venezuela de
Hugo Chávez”. Arthur Virgílio, líder do
PSDB no Senado.
SV(V+N)
ISTO É, 1715,
14/08/2002:
94.
VEJA, nº 26,
29/06/2005:
53.
“Centrei fogo no José Dirceu, centrei VEJA,
fogo no Luiz Gushiken. Hoje está vindo nº47,23/11/20
à baila a ação do ministro Pallocci. O 05: 38.
núcleo duro sabia. Os três mosqueteiros
do rei sabiam. Será que o rei não
sabia?”.
Roberto
Jefferson,
exdeputado (PTB-RJ), dizendo que
121
poupou Pallocci em suas denúncias
para
preservar
a
estabilidade
econômica.
nº50,
Céu
Algo sereno que SN(N+prep “A Gol comunica que o seu plano de vôo VEJA,
27 de
15/12/2002:
apresenta
+N)
tem céu de brigadeiro”.
brigade ótimas
34.
iro
condições.
Chupa Ficar sem ação/ SV(V+V+
“Agora o que era bom ficou melhor. VEJA, nº 24,
28 ndo
sem alcançar o art.+ N)
Maxigarantia volkswagem. Você não fica 19/06/2002:
dedo.
intento.
chupando o dedo se o seu veículo der 34.
algum problema”.
ISTO
É,
29 Correr Estar muito livre
SV(V+N) “Não pode deixar a coisa correr solta. nº1774,
solto
Folha de São Paulo. Folha 80 anos. 07/08/2002:
Você por dentro da coisa”.
74-75.
Contar
30 os
minutos
Desejar
que
alguma situação SV(V+art+
acabe
ou N)
comece
depressa.
Colocar
31 a faca pressionar
no
pescoço
32 Colocar Demonstrar
a mão
no fogo confiança
Cortar Auto punição.
33 na
própria
carne
Dar
34 asas
a...
“Plano parcelado American Express.Vai VEJA, nº 18,
ter gente contando os minutos para 09/05/2001:
95.
aproveitar esta facilidade”.
SV(V+art+ “O PT não pode ter aliados que o tempo
N+prep+N) todo estão colocando a faca no seu
pescoço. Aliado que só apóia em troca
de cargo não é aliado”.
Luizianne Lins, prefeita eleita de
Fortaleza.
SV
“Tirando a prefeitura de Porto Alegre,
(V+art+N+ não boto a minha mão no fogo por
prep+N)
nenhuma prefeitura do PT”.
Roberto Jefferson, deputado federal
(PTB-RJ),
em
discurso
proferido
momentos antes da cassação de seu
mandato.
VEJA nº 49,
08/12/2004:
38.
VEJA nº 38,
21/09/2005:
43.
SV
“Cortaremos na própria carne, se VEJA nº 24,
(V+prep+a necessário. (...) Quem tem culpa no 15/06/2005:
dj+N)
cartório que pague o preço”
48.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da
República, tentando isolar o governo dos
escândalos de corrupção.
Deixar fluir sem SV(V+N+
restrições.
art.)
“A Vasp e a Vaspex desejam que neste ISTO É nº
natal você dê asas a todos os seus 1734,25/12/20
sonhos”.
02: 43.
122
“Tem gente que acha que você nasceu
em berço de ouro. Eles não sabem
como você deu duro pelo seu dinheiro.
Sudameris”.
“Rivaldo deu um show de futebol arte.
36 Dar um Apresentar-se
SV(V+num Ele mostrou o futebol e a Mizuno a
show
excepcionalmen +N)
arte’”.
-te bem.
ISTO É nº
1745,12/03/
2003: contra
capa.
VEJA,
nº26,
09/07/2002:
61.
“Ele (Lula) está muito encolhido.
Gostaria de vê-lo mais ativo. O
presidente, nessas horas, tem de dar o
rumo”.
Fernando Henrique Cardoso, expresidente da Republica.
SV(V+num “Se a sua memória não é boa para
+N)
números, a gente dá uma força. 31
Telemar 100% brasileira”.
VEJA,
nº27,
06/07/2005:
46.
35 Dar
duro
Trabalhar muito
37 Dar
rumo
Assumir
controle
situação.
38 Dá
uma
força
SV(V+N)
o SV(V+N)
da
Ajudar alguém
“O pior de ficar boiando é que quanto
mais você afunda, menos as pessoas te
dão a mão. Leia Isto É dinheiro”.
“Quem diria Brasil, que sua indústria
40 Dar a Recuperar-se
textil daria a volta por cima e colocaria
volta
nossos tecidos na frança, berço da
por
moda? Governo do Brasil. Ministério do
cima
desenvolvimento”.
*“O clube do bacalhau da Noruega, está
41 Dar
Despertar muita SV
com uma promoção de dar água na
água
vontade
(V+N+adv) boca”.
na
boca
**“Sopas congeladas Sadia. Preparar é
sopa. E dão água na boca e não na
colher...”.
39 Dar a Oferecer ajuda
mão
42 Dar
Mostrar-se
ares de presente
sua
graça
43
Dar
conta
do
recado
Realizar
atividade
sucesso.
SV(V+art+
N)
SV(V+art.
+N +prep.
+ adj)
VEJA,
nº27,
09/07/2003:
29.
ISTO E, nº
1712,24/07/20
02: 53.
VEJA nº 26,
09/07/2002:
37.
*VEJA,
nº26,09/07/20
02: 97.
**VEJA,
nº
28,17/07/2002:
21.
“Neste natal dê o ar de sua graça com ISTO É, 1729,
SV
aerogramas. São de vários modelos e 20/11/2003:
(V+N+prep você pode comprar diretamente do 82.
+pron+N) carteiro, por telefone, pela internet ou
em qualquer agência dos correios.
Escolha um e mande o seu”.
uma SV(V+N+p “Enquanto
processadores
menos VEJA,
nº13,
com rep+N)
potentes podem não dar conta do 03/04/2001: 1.
recado, o Processador Intel Pentium 4
foi especialmente construído para isso”
123
44 Dar os
primeiros
passos
45 Dar
rumo
Iniciar
atividade
46 Dar
samba
Situação
confusa
SV(V+N)
47 Dar
sopa
Facilitar algo
SV(V+N)
Ter
certa
uma SV(V+art+
num+N)
direção SV(V+N)
48 Dar um Incentivar
empur- alguém.
rão
“Quando entrou na Petrobrás, Heitor viu
a empresa dar seus primeiros passos na
exploração de petróleo no mar, ainda
em águas rasas, no litoral de Sergipe
“Para dar rumo a sua comunicação
regional, utilize um instrumento de
confiança nacional. Veja especiais
regionais”.
“Esta promoção de carnaval vai dar
samba. Intercontinental Rio”.
VEJA
nº43,29/10/20
03: 42
VEJA nº 22,
05/06/2003:
96.
VEJA, nº 7,
20/02/2003:
24.
“Terra plus. Mais vídeos e shows, mais VEJA,
nº
músicas,
mais
games.
Menos 15,17/04/2002:
computador dando sopa”.
última capa.
SV(V+num “É uma longa subida, mas estamos VEJA
nº
+n)
dando um bom empurrão na ciência. 10,13/03/2000:
Agilent Technologies”.
4.
Maneira de pedir SV(V+num “Queriamos tirar fotos de alguns VEJA, nº 7,
49 Dar um a alguém que +N)
ganhadores da poupança da caixa, 20/02/2001: 91
pulo
compareça em
então pedimos para eles darem um
algum lugar.
pulinho no estúdio”.
50 Dar um Melhorar
salto
condições.
51 Dar
uma
virada.
Mudar
completamente
uma situação.
SV
(V+num+
N)
*“Os investimentos cresceram e
confiança depositada deu um salto”
a *ISTO É, nº
261,
124/05/2003:
**“Dê um salto na qualidade do seu 7.
trabalho multimídia. Pule para um Dell
Dimension com processador Intel **VEJA, nº 35,
Pentium 4”.
05/09/2002:
17.
nº52,
SV(V+num “Eu vou aproveitar a virada do século VEJA,
+N)
para dar uma virada na minha vida. 27/12/2000: 5.
Niquitin. Mantém você calmo, no
controle e sem fumar”.
SAdv(prep *“Nova Ford caminhões, o melhor
52 De
Do início ao fim +N+
negócio de ponta a ponta”.
ponta a
Prep+N)
**“Dell é o seu único ponto de contato e
ponta
responsável pelo serviço de ponta a
ponta. Dell líder mundial em Pcs”.
53 De
mãos
Apoiar alguém.
* VEJA, nº 42,
23/10/2002:
62-63.
** VEJA, nº35,
05/09/2002:
17.
SN(prep+N “Ao completar 50 anos, o jornal o dia VEJA,
+adv)
reafirma o compromisso que sempre nº20,23/05/20
pautou as suas páginas desde a 1º 01: 142.
124
dadas
De
54 olhos
fechados
edição: o de ser um veículo de mãos
dadas com o leitor”.
Ter plena
confiança
55 De
Estar feliz.
bem
com a
vida
Sadv(prep
+N+adj)
nº9,
“Nos pontos onde você encontra esta VEJA,
faixa pode entrar de olhos fechados. 06/03/2001:
Texaco”.
40.
SAdv.(prep
+adj+conj+ “Transplante capilar. Fique de bem com VEJA,
nº25,
art+N)
a vida. Derm”.
25/06/2003:
30.
Sadv
“Pesquisas têm de ser recebidas com
Mostrar-se
(prep+N+a humildade. Sandália da humildade para
todo mundo. Já vi muita gente perder
arrogante/superi dj)
or.
eleição porque colocou salto alto”.
Geraldo Alckmin, governador paulista,
comentando a pesquisa CNT/Sensus,
que dá folgada vitória a Lula no segundo
turno contra José Serra.
Deitar Aproveitar-se de SV(V+conj “Deite e role na rede. O transglode com
e rolar alguma
+V)
Processador Intel Celeron tem mais
performance para navegar na internet:”.
situação.
De
Surpreender
Sadv
“Os roteiros turísticos vão deixar você de
boca
alguém.
(prep+N+a boca aberta. E os gastronômicos, de
aberta
dj)
boca aberta e fechada e aberta e
fechada e aberta e fechada”. Veja. O
melhor do Brasil. Guia 2006.
Deixar Deixar para a SV(V+prep “Participe logo da promoção LG. Não
para os última hora
+art+num+ deixe para os 45’do 2º tempo”.
45’ do
prep+num
2º
+N)
tempo
SV (V+N) “Essa história de punição é lorota”.
Virgílio
Guimarães,
candidato
Dizer
Conversa fiada,
dissidente do PT à presidência da
lorota
mentirosa.
Câmara dos Deputados, ironizando as
ameaças de punição pela direção do
partido.
56 De
salto
alto
57
58
59
60
Difícil
61 de
engolir
inaceitável
VEJA,
nº7,
22/02/2006:
40.
VEJA nº 41,
16/10/2002: 9.
VEJA,
nº52,
28/12/2005:
160.
VEJA,
nº6,
15/02/2006:
10.
VEJA,
nº7,
16/02/2005:
36.
SN(adj+pre “Tá difícil de engolir a programação da ISTO É, nº
p+V)
sua TV? Assine HBO. O melhor canal de 1714,07/08/20
filmes do mundo”.
02: 99.
Em
Ser o primeiro a SAdv.(prep
62 primei- realizar algo
. +num+N)
ra mão
Entrar
SV
(V+
63 pelas
Receber ajuda
prep+N
“Venha fazer o test-drive em primeira
mão. Não é um carro. É Airtrek
Mitsubishi motors.”.
“Foi um péssimo negócio entrar na
política pelas mãos de Paulo Maluf. Isso
VEJA,
nº25,25/06/20
03: 37.
ISTO
É
nº1874,
125
mãos
de
alguém
.
+prep+Pro custou o meu casamento”.
14/09/2005:
Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, 22.
nome)
sobre a sua separação de Nicéa
Camargo
Enxu- Reduzir o valor SV(V+art+
64 gar os das
N)
preços mercadorias.
“No lugar de reduzir a quantidade de
tinta, enxugamos os preços. Cartuchos
ink Jet compatíveis. 100% novos e
lacrados”
É pra Diz-se quando SV(V+prep “Sedex 10. A solução do ‘é pra ontem’do
65 ontem se tem urgência +adv)
seu chefe”.
66 Está
em
suas
mãos.
Estar
dependente.
Está
Ser
bem
67 em
orientado
boas
mãos
68 Está na Ser observado
mira
VEJA,
nº38,26/09/20
01: 7.
SV(V+prep “O futuro do planeta está em suas mãos. ISTO É, 1720,
+pron. +N) Ecolatina.
5ª
conferência
Latino- 18/09/2002:
Americana sobre o meio Ambiente”.
contra capa.
SV(V+prep “Quem investe na Petrobrás, sabe que o VEJA, nº 26,
+adj+N)
dinheiro está em boas mãos”
ed. especial,
ano 36, 09/
2003.:81.
SV(V+prep “Você está na mira. Lasik Excimer Laser VEJA,
nº
.+N)
o mais avançado Laser para correção de 20,02/11/2000:
Miopia, Astigmatismo e Hipermetropia”. 19.
Estar a Estar próximo a SV(V+art+
69 um
realizar algo.
num+N)
passo
70 Estar
Evidenciar algo
na cara
“Cada dia mais e mais brasileiros estão
a um passo do próprio telefone.
Embratel”.
“Neste natal dê o ar de sua graça com
SV(V+Prep aerogramas. São de vários modelos e
+N)
você pode comprar diretamente do
carteiro, por telefone, pela internet ou
em qualquer agência dos correios.
Escolha um e mande o seu”.Tá na cara
que todo mundo vai gostar”.
71 Estar
na
mesa
SV
(V+prep+
N)
Estar a vista de
todos
VEJA,
nº
7,20/02/2003:
83.
VEJA,
nº50,13/12/20
00: 172.
ISTO
É,
1729,20/11/20
03: 82.
nº13,
“Está na mesa o deputado Ciro VEJA,
Nogueira, que hoje será sacramentado 30/03/2005:
pelo presidente da República, porque, 38.
se o presidente não assinar sua
indicação, amanha o PP poderá ser o
aliado do PFL”.
Severino Cavalcanti, presidente da
Câmara dos Deputados, no domingo,
em Curitiba, encostando o governo
contra a parede para que seu candidato
fosse indicado.
126
Falar
72 sua
língua
nº
Diz-se quando SV
“Meu dinheiro. Onde o dinheiro fala sua VEJA,
18,09/05/2002:
há
um
bom (V+pron+N língua. Meu dinheiro. Guia financeiro”.
117.
entendimento
)
entre
duas
pessoas.
73 Fazer
história
Feijão
74 com
arroz
Ficar
75 boiando
Tornar-se
SV(V+N)
marcante
Algo
comum, SN(N+conj
corriqueiro.
+N)
76
77
78
79
VEJA, nº 39,
01/10/2003: 3.
VEJA,
nº
15,17/04/2002:
101.
Não
entender SV(V+N)
“Se você não quer ficar boiando. Leia * ISTO É, nº
determinada
Isto É dinheiro”.
1684,
situação.
09/01/2002:
32.
“O pior de ficar boiando é que quanto
ISTO
É,
mais você afunda menos as pessoas te *
dão a mão”.
nº1712,
24/07/2002:
53.
nº
Ficar
Estar atento
SV
“Dicionário da TV Globo. Fique ligado, VEJA,
ligado
(V+adj)
compre já o seu”.
29,23/07/2003:
89.
Ficar
Ficar
sem S(V+prep+ “Com a Fininvest, nem o Papai Noel fica VEJA, nº 52,
no
dinheiro
adj)
no vermelho”.
27/12/2000:
verme115.
lho.
Ficar
Estar em boas
SV(V+
“Fique por cima. Faça Unicor vestibular VEJA,
nº41,
por
prep+adj) 2004.”.
15/10/. 2003.
condições
cima
(não tem nº
pag.)
Inteirar-se sobre SV(V+
“Leia Isto É dinheiro, e fique por dentro *
ISTO
É,
Ficar
determinado
prep.+ adj.) das mais importantes notícias e 1729,
por
assunto.
tendências da economia e-business, 20/11/2002:
dentro
finanças e negócios”.
57.
Ficar
80 sem
palavras
Admirar-se.
SV(V+
prep.+N)
Ficar
Algo que não se SV
81 só no concretiza
(V+adv+pr
papel
ep+N)
“Mas já fizemos história no transporte
aéreo. Gol linhas aéreas inteligentes”.
“Cartão Renda Cidadã: o cartão mais
feijão com arroz que existe”.
“Fique por dentro do mercado de * VEJA, nº 15,
trabalho. Guia do estudante 2001”.
17/04/2001:
128.
“Diante dele, muitos ficam sem palavras. VEJA,
nº
Por isso o nome é um número. Peugeot 23,12/06/2002:
307”.
38.
“Sem aço o mundo fica só no papel. VEJA
nº
CST-líder mundial na produção de aço” 42,23/10/2002:
79.
127
Ganhar Viajar por vários SV
82 o
(V+art+ N)
países
mundo
“Prepare-se para ganhar o mundo. VEJA, nº 21,
Cursos no exterior. Editora abril. Já nas 29/05/2003:
bancas”.
28.
História História
83 de
exagerada,
pesca- mentirosa.
dor
“Para preservar o mar e quem depende
dele, a Shell foi ouvir algumas histórias
de pescador”.
SN
(N+prep.
+N)
VEJA nº
17,01/05/2002:
84.
ISTO
É,
Tentar alcançar SV (V+art.
84 Ir a luta seus objetivos
+N)
“Fiat Stilo vai a luta e enfrenta seus 1720,18/09/
adversários”
2002: 14.
85 Invadir
a área
Entrar
sem SV
permissão.
(V+art+N)
86 Ir longe progredir
SV
(V+adj)
VARIG. Agora com 3 vôos diretos para VEJA, nº 4,
Munique. É como nos gramados: os 01/02/2006.
última capa
brasileiros invadindo a área sem parar.
“O Banco Postal está indo longe.
Pergunte para quem estava longe de
abrir uma conta”.
SV
“Ainda bem que o governo Lula está
87 Ir para Ser julgado
(V+prep+ar dando errado. Se desse certo, iríamos
o paret+n)
todos para o paredão”.
Geddel Vieira Lima, deputado federal
dão
(PMDB-BA), comentando a decisão do
governo de expulsar o correspondente
Larry Rohter, do jornal The New York
Times (maio).
Ter flexibilidade SN
“Se você precisa de uma máquina
88 Jogo
na solução de (N+
fotográfica com jogo de cintura. Escolha
de
problemas
ou prep+N)
a Olympus Trip”.
cintura situações
difíceis.
VEJA, nº 29,
23/07/2003:
34.
VEJA,
nº51,
22/12/2004:
38.
VEJA nº 10,
13/03/2000:
70.
SV
89 Levar a Sair-se melhor (V+art.
melhor que
os +adj. )
concorrentes
“O Astra leva a melhor em desempenho” *VEJA, nº 2,
“Citroen C3 leva a melhor em confronto 15/01/2003:
com Volkswagem Polo”.
contra capa.
Levar
90 em
conta
“... outro fator que levamos em conta, foi VEJA, nº 22,
à vasta rede de concessionárias 05/06/2003:
Volkswagem. Cesa logística. Mais uma 85.
empresa que optou por caminhões sob
medida Volkswagem”.
SV
Considerar algo (V+prep.+
N)
Levan91 tar
a Defender
bandei- causa
ra
SV (V+art+ “É inacreditável que o presidente da VEJA,
nº8,
uma N)
República ainda tenha coragem de 01/03/2006:
levantar a bandeira da ética e seja 34.
capaz de ignorar que seu período de
governo é tido como o mais antiético e
128
92 Levar
cacete
Ser recriminado SV
(V+N)
Máquin
93 a
de
fazer
dinheir
o
Maqui94 na de
dizer
bobagem
Negócio
rentável,
lucrativo.
SN
(N+prep.+
V+N)
Pessoa que só SN
fala
(N+prep+V
Coisas
+N)
insignificantes.
Marcar Tornar-se
95 época inesquecível em
determinado
período
Mergu96 lhar de Não ter cautela
cabeça
97 Meter a Cobrar
mão
exagero.
Mostrar Aparecer
98 a cara público
Mover
99 uma
palha
SV
(V+N)
corrupto da história do Brasil”.
Antônio Carlos Magalhães, senador
(PFL-BA)
“Queremos que vocês nos ajudem
porque tenho levado cacete”.
Severino Cavalcanti, presidente da
Câmara dos Deputados, pedindo o
apoio de empresários e sindicalistas,
reunidos em evento na Câmara contra a
MP 232.
“Máquina de fazer dinheiro e café
expresso. Italian coffee. Locação e
venda”.
VEJA nº42,
23/10/2002:
66.
“Lula é uma máquina de dizer VEJA,
nº18,
bobagem”.
04/05/2005:46.
José Thomaz Nonô, deputado federal
(PFL-AL).
“A Shell marcou época. Shell, 90 anos VEJA
no Brasil”.
nº32,13/08/20
03: 55.
SV
“HTH. A confiança da marca líder em
(V+prep+N produtos para o tratamento da água de
)
piscinas no mundo inteiro. Não arrisque
a saúde da sua família mergulhando de
cabeça, em tudo o que aparece por aí”.
“Na hora da revisão, andam metendo a
com SV
mão no seu bolso? Só a Peugeot tem
(V+art+N) pacotes de peças e revisões com preços
fixos”
em SV(V+art+
N)
VEJA,
nº14,
06/04/2005:
43.
VEJA, nº 41,
15/10/2003:29.
VEJA,
nº15,17/04/20
01: 116..
*VEJA
nº
*“Nós mostramos a cara do Brasil”
Brasmarket. Análise e investigação de 43,29/10/2003:
mercado
75.
**“Vou ao plenário mostrar a cara senão
vão dizer que estou morto”.
Antonio Carlos Magalhães, senador
(PFL-BA),chegando ao Senado, depois
de passar o fim de semana internado
num hospital de Salvador.
Não fazer coisa SV
“Meus adversários podem fazer quantas
alguma,
ser (V+num+N denúncias quiserem. Eu não moverei
preguiçoso, não )
uma palha, porque sei que vocês
ajudar ninguém.
moverão o paiol inteiro contra eles”.
**VEJA, nº46,
17/11/2004:
42.
VEJA,
nº34,
30/08/2006:
54.
129
100 Mudar
a cara.
101 Mudar
de
ares.
O presidente Lula, que não quer botar
fogo no palheiro da campanha para não
explodir o paiol da reeleição
Modificar-se
SV
“/.../ esses alunos estão capacitados a
(V+art+N) se
tornarem
verdadeiros
empreendedores,
e
isso
é
o
reconhecimento de um projeto moderno
que está mudando a cara do ensino
superior no Brasil. Faculdade Trevisan”.
“Tem horas em que você quer trocar de
Mudar
de SV
carro, tem horas em que você quer
ambiente
(V+prep+N mudar de ares”.
)
Não
SV
102 deixar Ser abandonado (V+prep+
62
na mão
Art+N)
ISTO É nº 09,
07/03/2003: 35
VEJA,
nº
26,02/07/2003:
90.
“... o Honda civic não deixa você na mão ISTO É nº 202,
e tem um atendimento pós-venda 01/04/2002:
diferenciado”.
18.
“Calçados Freeway: uma tática infalível VEJA
nº20,23/05/20
para ele não sair do seu pé”.
02: 17.
“Você pega os jornais e não sobra pedra VEJA, nº 22,
104 Não
Estar
tudo SV
sobre pedra no cenário político, pinta um 01/06/2005:
63
sobrar destruído.
(Adv+V+N clima de fim de feira moral, de 47.
+prep+N) desesperança, de indignação, de salvepedra
sobre
se-quem-puder, tudo ao mesmo tempo”.
Ricardo Kotscho, ex-secretário de
pedra
Imprensa da Presidência e amigo do
presidente Lula.
Nascer Nascer
em
“Tem gente que acha que você nasceu ISTO É, 1745,
105 em
família de alto SV(V+prep em berço de ouro. Eles não sabem 12/03/2003:
berço
poder aquisitivo +N+prep+ como você deu duro pelo seu dinheiro. contra capa.
de ouro
adj)
Sudameris”.
Nego- Negócio
SN
*“Todos deveríamos saber que os *VEJA
nº25,
106 cio da lucrativo,
(N+prep+ negócios com a China são cheios de 23/06/2004:
China vantajoso.
N)
malicias. Não há negócio da china daqui 36.
para lá. Há negócio da China de lá para
cá”.
Delfim Netto, deputado federal (PP-SP),
sobre o embargo chinês à soja
brasileira, no UOL, Notícias.
Não
Diz-se de
103 sair do pessoa
pé.
pegajosa.
SV
(V+prep+
Art+N)
**“Negócio
da
china.
Você
62
ganha
As EIs de números 102 e 103 podem ser classificadas como SV pela possibilidade de uso na
afirmativa.
63
Esta EI pode ser classificada como um SV com uma negação precedente.
130
quando compra, quando usa e quando **VEJA
nº
vende. Promoção Volkswagem”.
20,23/05/2001:
33.
Nem
De
maneira SF
“Não fico no cargo nem que a vaca ISTO É, nº
107 que a alguma
1909.
(Conj+Art+ tussa”.
Roberto Rodrigues, ministro da 24/05/2003:
vaca
N+V)
tussa
agricultura sobre uma atual reeleição de 22.
Lula.
Olhar
Almejar um bom SV
“Aos 60 anos, a gente percebe que a VEJA,
108 para
futuro
(V+prep.
vida pode ser muito mais simples e n.º21,28/05/20
frente
+adv)
adquire a virtude de olhar para frente. 03:28.
Mercantil do Brasil. 60 anos”.
nº
Para
Possuir algo em SN
“Seat Cordoba com bônus de R$3.000. VEJA,
109 dar e abundância.
27,15/07/2001:
(prep+V+V Emoção para dar e vender...”
60.
vender
)
110 Pão
duro
Diz-se
de SN
pessoa avarenta (N+adj)
*“Como dizem que sou pão duro, estou *VEJA,
tentando fazer uma economiazinha. nº16,24/04/20
00: 122.
Embratel”.
**“O Serra abria a geladeira na minha
casa em Brasília e dizia: ‘Isto aqui é uma
natureza-morta’. Hoje sou menos pãoduro”.
Fernando Henrique Cardoso, idem.
Parar
Diz-se
de SV
“Tecnologia para pais que não param no
111 no
alguém que não (V+prep+N tempo. No dia dos pais, dê um
tempo progride
)
transglode baseado no Bradesco Intel
Celeron ”.
Passar Deixar que algo SV
“Claro que não poderia passar em
112 em
ou alguém, seja (V+prep+a branco, e por isso mesmo a volkswagem
branco esquecido.
dj)
está
lançando
uma
edição
comemorativa do Gol”.
Pé
Diz-se quando SN
“Com o pé direito. Chegou Palio
113 direito se tem sorte.
(N+adj)
Citymatic, o primeiro 1.0 sem pedal de
embreagem”.
114
Pé frio
Pessoa
azarenta,
sorte.
SN
sem (N+adj)
Pegar
115 a
viajar
estrada
Ultrapassar
116 Pegar limites
pesado
Pensar
117 duas
SV
(V+art+N)
os
SV
(V+N)
SV
(V+ +adv)
**VEJA nº30,
02/08/2006:
41.
VEJA,
nº
31,06/08/2003:
10.
VEJA,
nº
50,13/12/2000:
33.
VEJA, nº 1,
05/01/2000:
67.
“Montanha não é lugar de pé frio. VEJA, nº 22,
Timberland. 100% à prova de àgua”.
05/06/2003:
89.
“Pegue este guia antes de pegar a VEJA nº 7,
estrada. Guia quatro rodas 2003”.
20/02/2003:
24.
. Frontier Titanium. Era só para fazer
uma série especial, mas, de novo a
Nissan pegou pesado”.
“Fernando Henrique é movido pelo
rancor e pela inveja. Ele deveria pensar
VEJA, nº 43,
30/10/2002:
48..
VEJA,
nº6,
15/02/2006:
131
vezes
Agir com cautela
duas vezes antes de falar. Os padrões 38.
éticos no governo dele não resistem a
uma comparação, se o critério for o grau
de lesão aos cofres públicos”.
Ciro Gomes, ministro da Integração
Nacional, sobre afirmação de FHC de
que a ética do PT é roubar.
“Pense grande. Abra a conta de sua VEJA
nº
empresa no Unibanco”.
41,16/10/2002:
4.
Pensar Ter ambição.
118 grande
SV
(V+adj)
Pôr no Concretizar
119 papel. algo.Firmar
compromisso,
contrato.
Pular a
120 cerca
Ser infiel
SV
“Você sempre teve idéias sobre Dutos.
(V+prep+N Só faltava colocar no papel.Conheça os
)
vencedores do 3º prêmio Petrobrás de
tecnologia de Dutos”
SV
“Uma pequena adaptação no nosso grito
V+art+N)
de guerra para você que continua fiel à
outra cerveja: pule a cerca, pule a cerca.
Nova Schin”.
SV
“Não estamos puxando a barba do bode.
(V+art+N+ Temos de puxar a barba do bode para
prep+N)
mostrar onde está o DNA da corrupção”.
Roberto Jefferson, deputado federal
(PTB-RJ),
em
discurso
proferido
momentos antes da cassação de seu
mandato
Puxar a Provocar
121 barba
confusão.
do
bode
122 Pra
Em
grande SN
chuchu quantidade ou (prep+adj)
intensidade
Prínci123 pe
encantado.
Homem
perfeito.
ideal, SN
(N+adj)
Que124 brar a Decepcionar-se
cara
SV(V+art+
N)
Querer
125 o
Perseguir.
pescoço
SV
(V+art+N.)
“O Brasil vai crescer pra chuchu, nós
vamos ter emprego pra chuchu, e vai ser
um governo que é um chuchuzinho”.
Geraldo Alckimin, governador de São
Paulo, que para a campanha à sucessão
de Lula pretende capitalizar o legume –
isso se o tucanato não passar a serra no
chuchuzeiro
“E no meio de tanto romance, está
sempre
procurando
seu
príncipe
encantado. Não perca a estréia de Miss
Match. Para comemorar os 10 anos da
Fox”.
“Quem estiver torcendo para o fracasso
do Brasil vai quebrar a cara”.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da
República voltando do Oriente.
*VEJA
nº23,12/06/20
01: 152.
Veja,
nº43,
29/10/2003:
60.
cad.
especial
VEJA, nº 38,
21/09/05: 43.
VEJA,
nº8,
01/03/2006:
34.
VEJA, nº 39,
01/10/2003:
21.
VEJA,
nº23,
08/06/2005:
42.
“Querem o pescoço de Saddam, VEJA,
nº50,
peguem. Não tenho medo da execução. 14/12/2005:
Você responderá por seus atos quando 42.
a revolução vier”.
Saddam Hussein, desafiando o tribunal
132
durante seu julgamento e ameaçando o
juiz.
sem SV(V+N)
Quem compra isqueiro falsificado está VEJA nº 45,
queimando dinheiro. E se bobear 12/11/2003: 29
queima a mão também. Isqueiros Bic
Quei126 mar
dinheiro
Gastar
controle/
esbanjar
Rece127 ber de
braços
abertos
Rece128 ber
uma
facada
Receber alguém SV(V+prep “O Banco Real convida a todos a VEJA, nº 5,
com
muita .+N+adj)
receber de braços abertos um dos 02/02/2003:
satisfação
nossos cartões postais mais queridos”.
11.
“Foi como se ele recebesse uma facada.
O presidente chorou, se levantou, me
deu um abraço e me mandou embora, vi
um inocente desabar, um homem de
bem, simples, correto, que se sentiu
traído”.
Roberto Jefferson, contando qual teria
sido a reação de Lula depois de
Jefferson lhe relatar o funcionamento do
esquema do mensalão (junho).
“Talentos Brilhantes. Crianças sem
nenhuma experiência surpreendem e
roubam a cena, portanto, todos terão
uma chance real de ingressar na
carreira artística”.
VEJA
nº52,
28/12/2005:
165.
“Agora que o Brasil está preparadinho,
ajeitadinho, eles querem comer o filé
que colocamos na mesa. Não, vão ter
de roer o osso, primeiro’”.
O presidente Lula, falando da
oposição.
Sair do Concretizar algo SV(V+prep Promoção a Abril banca seu sonho: a
131 papel
+N)
casa e o carro dos seus sonhos vão sair
do papel. Editora Abril
Sangue Diz-se
de SN(N+adj) “Novo SEAT cordoba Vario. A marca
132 quente pessoa que se
dos europeus de sangue quente”
irrita facilmente.
Sair do Parar de se SV
“O PT ainda está muito em cima da crise
133 córner esconder
(V+prep+
política e tem de sair disso. Se não sair
N)
do córner, a vaca vai pro brejo”.
Jorge Viana, governador do Acre (PT).
VEJA,
nº30,
02/08/2006:
41.
Roubar
129 a cena
.
Ser traído.
Destacar-se
SV
(V+adv)
SV(V+art+
N)
Roer o Ficar com a pior SV(V+
130 osso
parte
art+N)
Sandá- Ser/mostrar-se
134 lia da humilde
humildade
VEJA,
nº
28,17/06/2002:
26.
Veja nº 42,
22/10/2003:
capa.
VEJA,
nº1,
05/01/2000:
78.
VEJA nº 2,
18/01/2006:
48.
SN(N+prep *“Pesquisas têm de ser recebidas com VEJA
nº7,
+adj)
humildade. Sandália da humildade para 22/02/2006:
todo mundo. Já vi muita gente perder 40.
eleição porque colocou salto alto”.
133
Ser
135 fogo
Ser
SV(V+N)
difícil/complicad
o/trabalhoso/
complexo
Ser o Lugar que será SV(V+art+
136 palco
sede de grandes N)
eventos.
** “Política é convencimento. É amor ao
próximo. Vou até o fim com as sandálias
da humildade”
*Geraldo Alckmin, governador paulista,
comentando a pesquisa CNT/Sensus,
que dá folgada vitória a Lula no segundo
turno contra José Serra.
**Geraldo Alckmim, candidato tucano a
papa.
Os verdadeiros isqueiros Bic vêm com
selo do Inmetro que garante sua origem
e qualidade. Isqueiro falsificado é fogo.
Não caia nessa armadilha. Isqueiros Bic.
“Blumenau se prepara para ser o palco
da maior festa Alemã do Brasil.
Oktoberfest 2002”.
VEJA
nº
45,12/11/2003:
30.
VEJA,
nº
38,26/09/2002:
70.
“Sopas congeladas Sadia. Preparar é VEJA,
sopa”
nº28,17/07/20
02: 21.
nº
Ser
Diz-se de algo SV
“O computador é uma caixinha de VEJA,
138 uma
26,02/07/2002:
ou alguém que (V+num+N surpresas. Só tem quem tem Uol”
caixa
vive
+prep+N)
82.
de
surpreendendo
surpre- os outros
sas.
Ser
137 sopa
Considerar algo SV(V+N)
muito fácil.
Ser
139 uma
Algo que facilita
mão na
roda
SV(V+num “Chegou o novo Automania Serviço. É ISTO É, nº
.+N+prep+ uma mão na roda”.
1712,24/07/20
N)
02: 51.
Sentar
140 o
Ser surrado
sarrafo derrotado
*
O
mesmo
que
descer
a
lenha.
SV (V+art+ “Vamos sentar o sarrafo no Garotinho”
VEJA,
nº8,
Orestes Quércia, ex-governador de São 01/03/2006:
N)
Paulo, apostando tudo na derrota de ex- 34.
governador fluminense nas prévias do
PMDB.
141 Ser do Ter os mesmos SV(V+
mesmo objetivos.
prep+adj+
time.
N)
“Dirceu entregou o Lula. Aliás, não tem VEJA, nº 40,
feito outra coisa. Já disse que Delúbio 05/10/2005:
não era do time dele. De quem é? 46.
Agora, não nega que o PT se
comprometeu com os 20 milhões de
reais do PTB. Mais que uma entrevista,
foi uma delação não premiada”
134
César Maia, prefeito do Rio, sobre a
entrevista de José Dirceu (PT) à Folha
de S. Paulo
“Eles são donos do campo, da bola e
142 Ser
Ter
controle SV(V+N+p das camisas. Estão levando o time para
dono
sobre
rep+N)
a segunda divisão. Ainda assim, querem
da bola determinada
escolher o juiz”.
Geraldo Magela, membro do PT do
situação.
Distrito Federal, sobre as pressões dos
atuais caciques do anarcossindicalismo
para continuar controlando o partido.
“Política é olho no olho. Como se diz no
143 Ser
Demonstrar
SV (V+N+ Brasil é no tête-à-tête”.
Lula, presidente da Republica, ao ser
olho no confiança
prep+N)
olho
batizado como chefe de tribo em sua
visita a Gana, na África. Esbanjando seu
francês.
Ser
Ser alguém que SV (V+N+
144 pombo- traz
e
leva adj)
correio notícias
VEJA,
nº36,
07/09/2005:
49.
VEJA, nº 16,
20/04/2005:
48.
nº52,
“Desde agosto de 2003, é voz corrente VEJA
em cada canto desta Casa que o senhor 28/12/2005:
Delúbio, com o conhecimento do senhor 164.
José Genoíno, tendo como pombocorreio o senhor Marcos Valério (...),
repassa dinheiro a partidos que
compõem a base de sustentação do
governo,
num
negócio
chamado
mensalão”.
Roberto Jefferson, em seu primeiro
depoimento ao conselho de Ética
(junho).
“Muita gente suou a camisa, o jaleco, e
o
macacão,
para
atingir
este
impressionante marco na história da
Daimler Chrysler do Brasil”.
VEJA,
nº39,01/10/20
03:
última
capa.
145 Suar a Trabalhar muito
camisa
SV(V+art+
N)
146 Subir
Melhorar
na vida condições
financeiras
SV(V+prep “Desafie a lei da gravidade: suba na VEJA,
+N)
vida. Vestibular UNA 2003”.
nº38,26/09/20
02: 63.
147 Ter os Ser realista
pés no
chão
SV (V+art+ *“No Instituto da criança, o ensino é * VEJA, nº3,
adv)
super pé no chão”.
23/01/2003:51.
**“Tenha os pés no chão. Timberland. **VEJA,
For the jouney”.
nº24,19/06/20
02: 48.
135
Ter a
148 cabeça Ser sonhador
nas
nuvens
SV(V+art. “Tenha a cabeça nas nuvens e os pés VEJA, nº 24,
+N+
no chão. Timberland for the jouney”.
19/06/2002: 9.
prep.+adv.)
“Cortaremos na própria carne, se
Sv(V+N+pr necessário. (...) Quem tem culpa no
ep+N)
cartório que pague o preço”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da
República, tentando isolar o governo dos
escândalos de corrupção.
“O Gol mostrou para o mundo inteiro
150 Tirar a Confirmar
SV
que é mesmo o mais resistente e
prova
(V+art+N) confiável que existe. Coisa que todo
mundo já sabia, mas que a FIA fez
questão de tirar a prova”.
“Tirei a roupa do rei. Mostrei ao Brasil o
151 Tirar a Mostrar-se
SV
que é o governo Lula, mostrei ao Brasil
roupa
verdadeiro
(V+art+N+ o que é o Campo Majoritário do PT”.
Roberto Jefferson, em sua defesa no
do rei
prep+N)
plenário, antes de ter o mandato
cassado (setembro).
Tirar
Tirar proveito de SV(V+N)
“A gripe não vai mais tirar casquinha do
152 casquin algo ou alguém
seu verão. Use Cebion”
ha
149 Ter
Ser culpado
culpa
no
cartório
Tirar
153 sarro
Debochar
de SV(V+N)
algo ou alguém
Tomar Consumir
154 umas e bebida alcoólica
outras
Vai ver Deixe-me
155 se eu paz.
tô na
esquina!
156 Vaca
de
presépio
SV(V+
em Sintagma
frasal
“Kaiser bock, Euclides e a comida da
Fernanda. O Euclides era um namorado
atencioso com a Fernanda, mas tinha
um defeito: tirava sarro da comida
dela...”.
“Não acho que o Lula seja diferente de
um líder sindical normal do Brasil, desse
ponto de vista de tomar umas e outras”
Fernando Henrique Cardoso, em
entrevista a Playboy.
“Depois da saideira, vai ver se eu tô na
esquina. Beber redondo é beber com
responsabilidade. Skol”.
VEJA, nº24,
15/06/2005:
48.
VEJA,
nº3,
23/01/2003:
67.
VEJA nº52,
28/12/2005
:16.
VEJA,
nº4,26/01/200
0: 159.
VEJA,
nº23,12/06/20
02: 58.
VEJA,
nº30,
02/08/2006:
41.
VEJA nº26,
26/09/2003:
58.
* “Embora a gente esteja perto do natal, VEJA
nº51,
o PT não pode se comportar como vaca 21/12/2005:
de presépio”.
42.
Não ter opinião SN
própria, deixar- (N+prep+N
se levar pela )
** “Vaca de presépio? O PT está mais é
ocasião.
para raposa no galinheiro”.
*Marco
Aurélio
Garcia,
assessor
136
Vá
157 pentear
macacos!
Ir para longe,
afastar-se para Sintagma
deixar
de
frasal
importunar.
158 Valer
ouro
Ter
grande SV(V+N)
valor, de ótimas
qualidades.
Ver
159 estrelas
Sentir muita dor SV (V+N)
160 Vestir a Dedicar-se
camisa integralmente.
161 Virar o Tornar
jogo
situação
favorável
162 Virar a Mudar de idéia
cabeça
.
163 Virar
notícia
especial para assuntos internacionais da
presidência da república, comentando a
critica aberta do PT à política econômica
do próprio governo.
**Antonio Carlos Pannunzio, deputado
federal (PSDB-SP
“Ela que vá pentear macacos!”.
Hugo
Chávez,
presidente
da
Venezuela,
sobre
a
organização
Internacional do trabalho, que definiu
como greve geral uma greve de
petroleiros ocorrida em 2002
*“Ïnformação que vale ouro”. Jornal do
comércio.
ISTO É nº
1800,
07/04/2004:
22.
*ISTO É, nº
1756,28/05/20
03: 83.
**“Criatividade vale ouro". 14º festival de
Gramado.
Fórum
mundial
de **ISTO
É,
publicidade.
nº1757,04/06/
2002: 58.
“Até agora estou vendo estrelas, graças
à virulência do médico. Se fazem isso VEJA nº 14,
com um deputado, imagine com um 06/04/2005:
sem-terra ou um desempregado. Eu me 43.
senti deflorado”.
Manoel Izidório de Santana, deputado
estadual (PT-BA), em discurso na
tribuna da Assembléia Legislativa da
Bahia contra o toque retal no exame de
próstata a que se submetera pela
manha.
“Curso In company-Educação Executiva.
O único que veste a camisa da sua
empresa. Instituto Trevisan”.
“Não importa qual a modalidade do
a SV (V+art. esporte: o importante é virar o
jogo”.Ministério do esporte e do turismo.
+N)
SV(V+art+
N)
SV(V+art+
N)
Tornar-se muito SV(V+N)
comentado.
ISTO É, nº
1753,
07/05/2002:53.
*VEJA, nº26,
09/07/2002:
115.
**VEJA,
**“O Brasil começa a virar o nº32,13/08/20
jogo”.Ultragaz
03: 49.
“Nestas férias a maior diversão do Brasil ISTO É, nº
vai virar sua cabeça. Beach Park 1743,18/02/20
Fortaleza”.
03: 35.
“Desta vez foi o jornalismo da Record VEJA,
nº52,
que virou notícia”. Record
28/12/2005:
191.
137
“Centrei fogo no José Dirceu, centrei
SV(V+art+ fogo no Luiz Gushiken. Hoje está vindo
prep+N)
à baila a ação do ministro Pallocci. O
núcleo duro sabia. Os três mosqueteiros
do rei sabiam. Será que o rei não
sabia?”.
Roberto Jefferson, ex-deputado (PTBRJ), dizendo que poupou Pallocci em
suas denúncias para preservar a
estabilidade econômica
“Em três ou quatro anos, tudo será
Ser motivo de SV(V+N+p esclarecido e esquecido, e acabará
chacota
rep+N)
virando piada de salão”.
Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT,
referindo-se ao esquema ilegal de
arrecadação
de
dinheiro
para
campanhas eleitorais e financiamento de
parlamentares que resultou na maior
crise da democracia brasileira.
“Eu não seria capaz, não, eu sou capaz.
Ficar
SV(V+num Se tocar em um filho meu, pode ser
extremamente
+N)
senador, presidente da República, eu
viro uma onça”
irritado/bravo
Heloísa Helena, senadora (PSOL-AL),
fazendo coro com Virgílio e ACM neto.
164 Vir
à aparecer
baila
Virar
165 piada
de
salão.
166 Virar
uma
onça
Vocês Aceitar
167 vão ter qualquer
que me maneira
engolir
Voltar
168 atrás
de
Desistir de algo
SV(V+adj)
“Se eu for candidato, com ódio ou sem
ódio, eles vão ter que me engolir outra
vez, porque o povo brasileiro vai querer”.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da
República, discursando em palanque na
sua cidade natal, Garanhuns, em
Pernanbuco.
“Samsung. Depois do primeiro contato,
não tem como voltar atrás”.
VEJA
nº47,23/11/20
05: 38.
VEJA nº 43,
26/10/2005:
48.
VEJA
nº45,
09/11/2005:
50.
VEJA
nº32,
10/08/2005:
54.
VEJA,
nº
27,09/07/2003:
63.