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http://www.ourucum.com.br/ Extração de pigmentos das sementes de urucum (Bixa orellana L.) usando água como solvente Paulo Roberto Nogueira Carvalho(1); Marta Gomes da Silva(1); Paulo Eduardo da Rocha Tavares(1); Eliane Gomes Fabri(2) Resumo O pigmento das sementes de urucum (Bixa orellana, L.) é o corante natural mais utilizado em alimentos no Brasil. Sua produção tem sofrido intensas oscilações nos últimos 20 anos, acompanhando a evolução dos preços praticados pelas indústrias de corantes. Essas oscilações são em grande parte decorrente da necessidade de se comercializar as sementes imediatamente após a colheita, devido ao risco de degradação do pigmento. A perda desses pigmentos ocorre tanto pela degradação química (característica intrínseca dos carotenóides, grupo no qual se insere os pigmentos do urucum) como pelo atrito entre as sementes, decorrente da perda da umidade causada pelo armazenamento. Por tudo isso se torna necessário uma solução que possibilite ao produtor armazenar, de forma segura, o pigmento das sementes e comercializá-lo em condições que lhe sejam favoráveis. Este estudo teve como objetivo estabelecer e otimizar uma tecnologia para a extração dos pigmentos das sementes de urucum, utilizando água como solvente. Nesse trabalho foi dada preferência a uma tecnologia sem grandes complexidades tecnológicas, cuja implantação possa ser realizada próxima às zonas produtoras de urucum, pelos próprios agricultores ou por cooperativas. O estudo indicou que é possível a utilização de apenas água como solvente de extração, a uma temperatura de 50ºC. O método de extração empregado resultou em um rendimento superior a 90%. Palavras-chave: Urucum; Bixina. Pigment extraction from annatto (Bixa orellana L.) seeds using water as solvent Abstract Pigments of annatto (Bixa orellana, L.) seeds are the most widely used natural colorant in Brazilian food. Its production has varied over the last twenty years, since it was pegged to the price of the colorant industry. Those variations resulted from the need to sell seeds after cropping to prevent pigment degradation risks. Pigment losses occur both due to chemical degradation (intrinsic characteristics of carotenoids, and annatto is part of this group), and friction among seeds resulting from humidity loss during storage. Therefore we needed to find a solution that allow producers to safely store and sell pigment seeds under favorable conditions. The objective of this study is to establish and optimize an extraction technology for annatto seed pigments using water as solvent. Preferably a technology that could be applied closer to annatto cropping areas and used by farmers or cooperative groups. This study show that it is possible the use of just water as extraction solvent. The method resulted in an extraction superior to 90%. Key words: Annatto; Bixin. (1) - Instituto de Tecnologia de Alimentos, Av. Brasil, 2880, 13073-178, Campinas (SP). E-mail: [email protected] - E-mail: [email protected] - E-mail: [email protected] (2) - Instituto Agronômico, Campinas (SP), E-mail: [email protected] CARVALHO, P. R. N. et al. 1. INTRODUÇÃO Os pigmentos extraídos das sementes de urucum são utilizados na culinária brasileira desde os tempos mais remotos. Passando de cultura extrativista para plantios comerciais na década de 80, o urucum tornou-se o pigmento natural mais utilizado pelas indústrias de alimentos. O urucum também é utilizado em cosméticos, cerâmicas, tintas, na medicina, nas indústrias têxtil e farmacêutica (CARVALHO e HEIN, 1989). Mesmo com todo esse sucesso, uma série de problemas tem persistido para quem trabalha com essa cultura. A pouca estabilidade do pigmento das sementes à luz e às altas temperaturas, assim como a possibilidade de perdas pelo atrito, faz com que os processos de pós-colheita como o beneficiamento, acondicionamento e o transporte tenham que ser realizados sob rigoroso controle (MCKEOWN, 1963, NAJAR et al., 1988, CARVALHO, et al., 1993a). A característica sazonal do urucum implica em produções concentradas em certas épocas do ano e o armazenamento das sementes para a comercialização durante todo o ano é limitado pela degradação sofrida pelo pigmento. O pigmento que está presente em maior concentração na semente de urucum é a cisbixina, alcançando mais de 80% dos carotenóides totais (PRESTON e RICKARD, 1980). A bixina (metil, hidrogênio 9’-cis-6,6’diapocaroteno-6,6’-dioato) é o éster monometílico de um ácido dicarboxílico denominado norbixina (6, 6’ –diapocaroteno – 6, 6’ – ácido dióico). O grande número de duplas ligações conjugadas, que confere a cor características a esses pigmentos, torna-os também bastante reativos e suscetíveis a isomerização e oxidação. CARVALHO et al. (1993b), publicaram um artigo sobre a estabilidade do corante do urucum em embalagens com diferentes permeabilidades à luz e ao oxigênio. Tanto a luz como o oxigênio apresentaram forte influência na degradação do pigmento. A semente de urucum apresenta em sua superfície um arilo que possui várias substâncias além da bixina (JONDIKO e PATTENDEN, 1989; MERCADANTE e PFANDER, 2001; MERCADANTE et al., 1996). Este arilo representa cerca de 5 a 10% do peso da semente, dos quais 30% é representado pelo carotenóide bixina (CARVALHO et al.,1991). A cis-bixina é um apocarotenóide com características peculiares. Na forma esterificada, a cis-bixina, é “pouco” solúvel em óleo, mas quando submetida ao aquecimento ela é rapidamente convertida ao isômero all-trans, mais estável e com maior solubilidade em óleo vegetal. Quando submetida à hidrólise em meio alcalino, a bixina é saponificada dando origem a um “sal de norbixina” denominado como “norbixato”. Nessa forma torna-se solúvel em soluções aquosas alcalinas.2 A acidificação da solução alcalina precipita a norbixina que apresenta características semelhantes às da bixina como solubilidade, cor e poder tintorial. A Figura 1 apresenta as fórmulas estruturais desses pigmentos. FIGURA 1. Fórmulas estruturais propostas para a bixina e seus derivados. O fato de o material corante ficar localizado na superfície da semente do urucum, eliminando a necessidade de moagem, facilita 2 Grande parte das publicações sobre esse pigmento apresenta erroneamente a norbixina como sendo um pigmento hidrossolúvel. A norbixina é solúvel em soluções alcalinas, geralmente na forma de sal de sódio ou potássio. O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................2 Extração de pigmentos das sementes de urucum (Bixa orellana L.) usando água como solvente. muito a extração do pigmento (CARVALHO, 1991). Um dos produtos mais conhecidos do urucum é o colorífico, denominado também como colorau e utilizado como ingrediente para alimentos (TOCCHINI e MERCADANTE, 2001). A obtenção do colorífico é feita a partir de uma mistura das sementes de urucum, com óleo vegetal, farinha de milho e sal (CANTO et al., 1991). Existem na literatura sistemas de extração mecânica, baseados em técnicas simples que promovem a raspagem ou atrito entre os grãos, visando a separação da camada externa. Contudo, os processos conhecidos ainda são muito rudimentares, resultando em baixos rendimentos, ocasionados principalmente pela forma das sementes que apresenta em sua superfície reentrâncias de difícil acesso mecânico (CANTO et al., 1991). Sendo a bixina um pigmento lipossolúvel ela é extraída e comercializada em óleo. Nesse processo, as sementes são agitadas em óleo vegetal aquecido, com ou sem o auxílio de coadjuvantes tecnológicos e o produto resultante é padronizado e comercializado (CANTO et al., 1991). A utilização de solventes como o etanol para a extração dos corantes do urucum é também apresentada na literatura. O etanol tem a propriedade de solubilizar parte do material resinoso que participa da aderência do pigmento ao grão. A solubilização desse material permite a extração do pigmento da semente (CANTO et al., 1991). Outro processo bastante utilizado é a extração do pigmento com soluções alcalinas (COSTA e CHAVES, 2005). Esta solução converte a bixina em um “sal”, possibilitando sua solubilidade em água. A partir desse extrato pode-se, pela adição de ácido, precipitar a norbixina que, após separação, é comercializada (CANTO et al., 1991) ou utilizada como base para preparação de corantes para a indústria de alimentos. Este artigo apresenta uma tecnologia para a extração dos pigmentos das sementes de urucum, de fácil operação e que pode ser instalada próxima às zonas produtoras de semente. O produto dessa tecnologia, um corante semiprocessado e concentrado, é destinado às indústrias de corantes, substituindo o comércio de sementes in natura, facilitando o armazenamento, o transporte e a comercialização. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Matéria-prima A matéria-prima utilizada no estudo foi adquirida de um produtor da região de Adamantina (oeste do Estado de São Paulo) e identificada como sementes de urucum da “variedade” Piave. A Tabela 1 apresenta a caracterização das sementes. Essas sementes representam uma das principais “variedades” de urucum comercializado no Estado de São Paulo e, portanto, de grande interesse para o estudo. TABELA 1. Concentração de carotenóides totais expressos como bixina, umidade e lipídios das sementes de urucum utilizadas no estudo de extração do corante. Bixina (g/100g) Lipídios (g/100g) Umidade (g/100g) 3,52 (0,09) 2,44 (0) 9,70 (0,1) Médias de no mínimo duas repetições analíticas simultâneas e independentes (estimativas de desvio padrão) Durante todo o período de trabalho a degradação dos pigmentos das sementes foi acompanhada e esses valores foram considerados durante o desenvolvimento do estudo. 2.2 Validação da metodologia A metodologia utilizada para a análise de carotenóides totais expressos como bixina nas sementes e nos corante foi validada por SILVA O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................3 CARVALHO, P. R. N. et al. et al. (2007), onde uma massa de 10g ± 0,2g de sementes de urucum inteiras foram pesadas em um erlenmeyer de 300ml. Foi adicionado ao erlenmeyer, 60ml de uma solução denominada “solução sabão”. A “solução sabão” foi preparada a partir da mistura de 290ml de óleo de mamona, 100ml KOH 45% (m/v) e 190ml água. A solução foi aquecida até ficar clara. Uma alíquota de 290ml dessa mistura foi diluída em 420ml de KOH 45% (m/v) e 3.200ml de água. A massa das sementes com a “solução sabão” foi determinada e a mistura aquecida até a ebulição. A ebulição foi mantida por 2 minutos e a mistura foi resfriada à temperatura ambiente e agitada por 10 minutos. O extrato com as sementes foi novamente pesado e a massa inicial foi ajustada com a adição de água. Foi adicionado 350ml de água à mistura e uma alíquota de 1ml foi quantitativamente transferida para um balão de 100ml. O volume do balão foi completado com KOH 0,5% (m/v) e a mistura homogeneizada. A absorbância da solução foi medida em um espectrofotômetro a 453nm, contra uma solução de KOH 0,5% (m/v). A quantificação foi realizada usando o coeficiente de absorção para sal de norbixina 1% ( E1cm = 2850) e o valor foi convertido para bixina multiplicando o resultado por um fator de 1,16. 5kg e transferida para o cesto do sistema de extração. A água na temperatura estabelecida pelo estudo foi adicionada e o processo de agitação iniciado. Após o período determinado para cada ensaio, as sementes foram separadas do extrato com o auxílio da peneira. A massa resultante foi separada por centrifugação e seca em secador de bandejas a uma temperatura inferior a 60ºC. O sistema de secagem é opcional, pois a massa corante pode ser comercializada após o processo de centrifugação (ou filtração) desde que mantida sob refrigeração. Para a otimização do processo foi fixada a velocidade do extrator em 270 rpm (± 20rpm), a proporção de uma parte de sementes para duas partes de água (estabelecida como a melhor proporção para a performance do processo) e avaliada a correlação entre o tempo e a temperatura na extração dos pigmentos das sementes de urucum. Para isso foi utilizado um planejamento, com base em um modelo Central Composto Rotacional (Tabela 2). Como resultado foi avaliado o rendimento do processo em percentagem de carotenóides totais expressos como bixina. TABELA 2. Delineamento utilizado na otimização do processo de extração do corante de sementes de urucum. 2.3 Processo de extração de corantes A extração dos pigmentos das sementes de urucum foi realizada por meio de um sistema de agitação com movimento planetário, com cesto de aço inoxidável com capacidade para 4 litros, munido de um garfo tipo ancora. As sementes foram separadas do extrato por meio de uma peneira com tela de 850 m (mesh 20) em aço inoxidável. Uma massa de 2kg sementes foi pesada em uma balança analítica, com capacidade para Ensaio Temperatura Tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 -1 1 1 0 √2 −√2 -1 0 0 0 0 1 1 -1 −√2 0 0 -1 √2 0 0 0 Níveis codificados −√𝟐 -1 0 1 √𝟐 Temperatura (ºC) 22 30 50 70 78 Tempo (minutos) 9 15 30 45 51 Fatores O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................4 Extração de pigmentos das sementes de urucum (Bixa orellana L.) usando água como solvente. 2.4 Aplicação da tecnologia proposta em sementes de urucum com diversos teores de lipídios. A influência do teor de lipídios em um processo de extração que utiliza apenas água como solvente foi considerada nesse estudo. Para essa avaliação, método proposto foi testado em três amostras de sementes de urucum proveniente da coleção da Apta Regional Centro Norte localizado em Pindorama – SP (escolhidas com base na concentração de lipídios). A Tabela 3 apresenta a caracterização dessas sementes quanto aos teores de bixina, umidade e lipídios. TABELA 3. Composição das sementes de urucum, da coleção da Apta Regional Centro Norte, utilizadas para a confirmação dos resultados do processo de extração de pigmentos. Os resultados estão expressos em base seca. 1 Amostra Bixina Lipídios Umidade 1 2 3 3,10 (0,04) 3,74 (0,06) 4,30 (0,01) 3,57 (0,03) 3,46 (0,05) 2,37 (0,04) 5,33 (0,65) 6,39 (0,57) 7,02 (0,14) Média de, no mínimo, duas repetições analíticas simultâneas e independentes (estimativa de desvio padrão). 1 Bixina = carotenóides totais expressos como bixina. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Influência da velicidade de extração Apesar de ser difícil medir com precisão a velocidade de extração do sistema utilizado (movimento planetário), foi possível obter uma correlação entre a capacidade de extração e as diferentes velocidades do equipamento utilizado. Foram estudadas as velocidades 2, 4 e 6 indicadas no controle do equipamento e que correspondem a 180rpm; 270rpm e 350rpm, com uma incerteza de 20rpm, no eixo secundário. Foi utilizada água como solvente de extração, à temperatura ambiente, na proporção de uma parte de semente para duas partes de água. O tempo de extração foi fixado em 20 minutos. Houve evidência de aumento de extração com o aumento da velocidade do equipamento (Figura 2). Contudo, a maior velocidade promovia uma maior quebra das sementes e perda de pigmento por vazamentos não contidos pela tampa do equipamento. Com base nesses resultados optou-se por fixar o trabalho na velocidade média do equipamento utilizado (270rpm ± 20rpm, no eixo secundário). FIGURA 2. Gráfico da evolução da extração de pigmentos das sementes de urucum com o uso de diferentes velocidades (180rpm; 270rpm e 350rpm). 3.2 Otimização do processo de extração dos pigmentos das sementes de urucum. A utilização de água como solvente de extração foi escolhida tendo em vista as seguintes características: a) a capacidade demonstrada por esse solvente em promover a remoção dos pigmentos da semente de urucum; b) a manutenção das características físicoquímicas dos pigmentos extraídos, enviando às indústrias de corantes o O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................5 CARVALHO, P. R. N. et al. mesmo pigmento presente nas sementes de urucum (cis-bixina); c) a maior simplicidade e segurança do processo; d) a geração de resíduo de menor impacto ambiental. Os resultados do experimento de otimização do processo, utilizando o planejamento com base no modelo Central Composto Rotacional, estão apresentados na Tabela 4. TABELA 4. Resultados obtidos com o modelo Central Composto Rotacional no estudo de extração dos pigmentos das sementes de urucum. Ensaio Temperatura (ºC) Tempo (minutos) Rendimento % 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 30 70 70 50 78 22 30 50 50 50 50 45 45 15 9 30 30 15 51 30 30 30 62,59 62,66 48,31 41,86 58,60 53,08 44,18 65,10 61,30 60,17 60,24 A equação resultante do modelo utilizado está apresentada a seguir. Os valores entre parentes são os erros padrões dos coeficientes da equação. A Tabela 5 apresenta a análise de y= 60,57 (0,36) + 1,50x1 (0,22) - 2,42x12 (0,27) variância dos resultados e indicou que o modelo é válido e que a regressão é significativa. A Figura 3 apresenta os gráficos plotados a partir dos resultados obtidos. + 8,20x2 (0,22) - 3,60x22 (0,27) - 1,015x1x2 (0,32) TABELA 5. Análise de variância do modelo escolhido para a otimização do processo de extração do corante de urucum. Fatores Regressão Resíduo Falta de ajuste Erro Puro Total R2 = 0,996; GL 5 5 3 2 10 SQ 645,1973 2,5303 1,7285 0,8018 647,7276 QM 129,0395 0,5061 0,5762 0,4009 F 258,08 1,44 Desenvolvendo a equação para maximizar o rendimento, obteve-se uma temperatura igual a 51ºC e um tempo de extração de 47 minutos. O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................6 Extração de pigmentos das sementes de urucum (Bixa orellana L.) usando água como solvente. 55 50 45 Tempo (min) 40 35 30 25 20 15 10 5 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Temperatura (ºC) FIGURA 3. Gráficos dos resultados de otimização do processo de extração dos pigmentos de sementes de urucum, utilizando o modelo Central Composto Rotacional. 3.3 Método proposto para a extração dos pigmentos das sementes de urucum A Figura 4 apresenta o fluxograma quantitativo básico para a extração do corante de urucum proposto por esse trabalho. Nele, as sementes são pesadas e enviadas ao sistema de extração. Após a adição das sementes, a água é adicionada, a 50ºC, em uma proporção de uma parte de semente para duas partes de água. O sistema de extração deve promover o atrito entre as sementes, o que consiste no principal mecanismo de liberação do pigmento. No sistema utilizado nesse estudo, o tempo de agitação mostrou-se significativo para a extração, com os melhores resultados obtidos após 47 minutos de extração. Após a extração, as sementes são separadas do extrato com o auxílio de uma peneira com malha de 850m e retornam ao sistema de extração. O processo é repetido até a eliminação de mais de 80% dos pigmentos presentes. Nesse estudo, o processo foi repetido por seis vezes e a Figura 5 apresenta a percentagem extraída após cada uma dessas etapas. Ficou evidente que apenas três extrações promovem a remoção de aproximadamente 85% dos pigmentos em sementes com teores de lipídios moderados (<3,0%). Os extratos são combinados e os pigmentos são separados por centrifugação (ou filtração). A massa resultante é seca em secadores de bandeja com temperatura máxima de 70ºC. O corante é triturado e envasado. O armazenamento do corante deve ser feito em sistemas refrigerados (<10ºC) e ao abrigo da luz. 3.4 Aplicação do método proposto em sementes de urucum com diferentes teores de lipídios. O método proposto mostrou ser eficiente na extração de pigmentos em sementes com elevados teores de lipídios. Contudo a eficiência de extração de cada etapa variou, apresentando uma menor capacidade de extração para sementes com maiores teores de lipídios (Figura 6). Esse desempenho indica que um número maior de etapas é necessário para sementes com elevados teores de lipídios (>3%). As seis etapas propostas pela metodologia foram suficientes para um rendimento superior a 90%, mesmo para sementes com altos teores de lipídios. O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................7 CARVALHO, P. R. N. et al. FIGURA 4. Fluxograma quantitativo básico para a extração do corante de urucum. O Urucum, Campinas, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2015.................8 Extração de pigmentos das sementes de urucum (Bixa orellana L.) usando água como solvente. FIGURA 5. Evolução das etapas de extração do corante de urucum. FIGURA 6. Evolução do processo de extração do pigmento das sementes de urucum da coleção da Apta Regional Centro Norte. 4. Conclusões O extração dos pigmentos das sementes de urucum, utilizando apenas água como solvente, é factível e apresenta bom rendimento. As melhores condições para a extração foram obtidas com o uso de água aquecida a uma temperatura de 50ºC. O processo facilita o armazenamento e o transporte dos pigmentos até as indústrias de corantes e elimina, para essas indústrias, o problema do resíduo industrial representado pelas sementes esgotadas. 5. Agradecimento Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo auxílio financeiro ao projeto. 6. 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