V - Dadun

Transcrição

V - Dadun
V-,
•Í .1
I*-';- :■
Í . . - ::^'
V
s:à'Í.s r '- -^'■
>
-
(
j^V.
-'T
“- V j
-•• ■ V *
•
'X-''
.,-. f ' l •■• '.g»i:> Uil
»/. ,
r- ;- . -
*r
•
.
'
■EG./' o
Íí ì)0 iàÜUÂDOC’jLiÇÂOBS JEüOiy^
LÌSBO^
«
ÏK
SAGRADO CDßAnÄO DEJSSD'- ^
t.' 3 8 0 ^
-V--
ORAqAÖ
FUNEBRE,
Ñ A S R E A E S E X E Q U I A S , Q IJ E C E L E B R A R A O
os Religiofos da Santa Provincia da Arrabida no
R e a l Convento de Nofla Senhora , e Santo A n to ­
nio junto à Villa de M a fra ,
S J U DOS A ME MO R I A
DO SERENISSIM O, E FIDELISSIMO SENHOR R E Y
D. J OA Ö V.
Fundador do mefmo Real Convento :
DEDICADA
A O N OSSO S O B E R A N O M O N A R C A ,
E SERENISSIMO R E Y , E SENHOR
D.JOSEPH I.
Pelo P. M. Fr. A N T O N I O D E S A N T A A N N A ,
F/Mö M enor da m efm a P rov in cia , E x -L e lto v d t P rim a de T h e o h g ia , e da ^agrada
E fc r itu r a , Qualißcador do Santo O ßicio , Confuítor da B u lla da Santa C i uzada,
Exam inador das T r e s Ordens M ilita res , e do Priorado do Crato , Pen iten eiario G era t da Ordern Serañca , e D eß n id or actual da P rov in cia ,
Em 8 de Agofto de 1750.
L
I
S
B
O
A .
N a R egia Officina S Y L V I A N A , e da Academia Real*
M .D C C . L.
Cemtodas ai Uctn¡aiin€e¡Jarias^
... T r ) r ' ' ' j '
■ i|-V : ' ^ | : '
•••-- «I ■
.
•'
'■ -■•.»•
Î* - - 4
.*h'
<&
'■.>1 •'»''.•■ ; ;
‘
ílá
(
fv
3t>~
•
■
>'
•
■•■■
f' *•■
•■
-,.--r'
• 'f
''■
‘^“ « • '•
'V^'
A
ít
í
.'
^ ;.
^
:•> -g'Jíi'
j V'
**'
ii
'./,
%
2 -' '■
a■
1H
•_
_
<*''
T''
i^
'-'i-'
• '■■
•
J5'' ’
I
.
'
^
.t
\
i. , .- k
f
•^-.
i l . ’,^1
•
. ■, ' • • >
\ ''
»?/•.« V ''.
'-''3
(
V y
V.
■
-
• '
'
'
\:.Ö r//- '^r-':.';--t
SEN H O R .
,
pado de htma intenja mdgoa
tiaopode a Un^ua anicular vosees i porque
^ ii
m h*.
embarapados ¿í orgaos comosfufptrot^ os
e . o í , ^ue fó rm a , faó lamentos. T orém f e
houve j a occaliad, em que a lingua f e ^ os
g.'.] m« of¡icios da penna: ( i ) tambem agora a pen^
jl°Z ‘ na ¡ubflituirá os officios da lingua. Com ella
fallo i porque com ella efcrevo j e nao di~
44 v.r.'go mais do que d ijje ‘D a v id : E u dedico
as minhas obras ao meu ^ y - i e Senhor.
(i)D,v. ( i ) H e hem v er dide que D a v id podia af~
ego cpc"'
'
^
I
diliger-, mas eu nao pojjo affirn fallar i
j'g examinar a materta ^^ e ohjeUo
de¡la funebre OrafaÒ^ he toda de V offa M .ag eila d e: e J e attender para o artefaHo^
confiderando-me Vaffallo^ naópojJo deixar.
de conhecer , q u e , em quanto m e u , pertence a Vo¡J[a Adigejlade de j u r e } porque
os i5A 4 onarca¡ Soberanos ¡ao Senhores ^ e
tem dominio nos bens dos V asallos,
tes termos mais parece que reBitúo , do que
dedico i porque ijlo he mais rejlituifrao ,
gue obfequio. Déos gu ard ea ^ ea m ^ ejjo a
M ageílade por annos 3 \(jJiorior,
». . ■j
como
como todos os feus fiéis Vaffaüos defejao i
e continuamente o pede ao mejmo Senhor
ejle entre os M enores o mais minimo^
J*
; ^ # P T '■••^ '" •
V - ^ '.^ ; v ■■■■■■. ■
' •“ ;-V. ..' ?r.. ‘ ^i - -»‘-.«v -r.'- ,3
jr .,
.
••i. - ’
it
•
/.
.
Ì :
■.*r
■Kti. .
'■
'"i'
ti f
' :tk\- Ä' ••
LICENqAS.
Do Santo Officio.
Cenfura do M . R , P. M. Fr. Thimotheùàa
Conceìqao, Keìigìofo no Convento de Santo
Antonio dos Capachos, Qmìificadcr do
. Santo Officio y
EM IN .^^% E R E V E R . « ° S E N H O R .
Aó ja taò conhecidos no Orbe Literario os
Efcritos do M . R . P. M* Fr. Antonio de San­
ta Anna , fillio da Santa Provincia daArrabida , E x-Leitor de Theologia , Qualificador do
Santo Officio , Definidor adlual da Tua Provìncia
&c. qua feria ociofo o e lo g iallo s, porque jà tem
OS elogios na aceitagao de todo o mundo ; e me pa­
rece podia efte R . Author ter lium paíTaporte
franco do Santo T rib u n al, para poder imprimir
todos quantos para o futuro podeíle fazer , pois
de hum homem taó douto , taó pio , e taó R el i g i o í o , naó fe pode efperar, que efcreva coufa
contra a f é , ou bons coftumes* Efta Ora^ao F u ­
nebre , que elle recitou , tal vez mais com lagri­
mas , que com vozes , no Real Convento de Mafr a , ñas Exequias faudofas do muy alto , e poderofo R e y o Senhor D. J o a ó o V . , he irmaa gemea dos muitos Serm óes, que tem prégado , e
yhnpreíTb era varios Tomos j e por ilio naó pode
S
dei-
deixar de ter a mefma natureza , que os outros.
O s outros Sermóes faó fideliifimos, e dirigem as
almas para os bons coftumes, e efta Oracaó naó
he menos direftiva , e fideliflìma. Fideliifima ,
porque iiec apkem nec jota tem centra os D o g ­
mas da noiTa Santa F é ; e direttiva dos bons cofturnes 5 porque perfuade nella aos Religiofos de
fua Tanta Provincia a fé moftrarera agradecidos
com OS fuffVagios aos grandes beneficios, que receberaó da grandeza daquelle piedoiìifimo R e y ,
a quem tiverao por Pay no amor , e de quem fe
achaó orfaós.
H e o agradecimento aos beneficios certamente
virtude còntrapofta ao vicio da ingratidaó , de
quem diiTe o Seneca , que em quatto coufas fe
commettia efte abominavel vicio: em negar ter
recebido o beneficio , em o difllmular para o nao
agradecer , e de alguma forte o naó retribuir, e
Senec.lìb. finalmente em totalmente delle fe efquecer : Ingra-'
mfSp.i!
beneficitm accìpi[]e fe negat, quod accepit : ingratus , qui diffimulat : ingratus ^ qui non
re (idit : ììigratiffitnus oinninm , qui oblitus ejt. D e
todos eííes quatro modos , porque fe conhece o
vicio da ingratidao , quiz o R . Author , que fugiflem os feus R eligiofos , e em nome da fua Pro­
vincia faz nefta Ora^aó publico o feu agradecimento , porque naó nega ter recebido daquelle
inclyto Monarca tantos beneficios; que Ihe fazia
com o amor de P a y: Non negat , quod accepit\
naó os difíimuía ingratos , porque os confeffa agra­
decidos : Non dijjmmlat : naÓ deixa de pagar como
p o d e , Icnaó em moeda corrente, que com o R e ligiofo Serafico naó profeíTa, ao m enos, como fó
he proprietario dos a d os do feu entendimento \
com
com eiles peftende fatisfazer, o que deve , podendo dizer com o Apoftolo S. Pedro : Jörgentum ,
aurum mn eß m ihi, quod autem habeo ,
hoctibido'. Redit ; em fim na6 he efquecido , por­
que bem letnbrado dos beneficios os faz públicos ,
para ferem por todos agradecidos : Non oblitus
efl. E como tudo ifto fa6 virtudes, que nefta Oragao Fuiiebre fe achao , ou perfuadidas, ou exercitadas , -e lá fó em Mafra foraó publicadas , he
jufto 5 que quanto citius fe publiquem tambem
pelo prélo , e conhega o mundo todo , que a fanta provincia da Arrabida nao he ingrata, e o no­
me do Author feja mais applaudido. Eíte o meu
p arecer, V . Eminencia mandará o que for fervi­
do. Lisboa 5 em o Convento de Santo Antonio dos
Capuchos j aos 29 de A g o ílo de 1750.
F r. Thítnotheo da Conceigaa,
V
lila a informagaó , póde-fe imprimir a Ora936 Fúnebre de que fe trata , e depois de
impreffa tornará conferida para fe dar licenga , que
corra, fem a qual naó correrá, L isboa, 27 de A gofto de 1750.
Abreu^
ozo.
Do
Do Ordinario.
o d e imprimir-fe a Oragaó Fúnebre de que
trata a peti§a6 , e de pois de impreíla torne
para fe dar licenga para correr. L is b o a , 30 de
A g o fto de 1750.
P
D . y , Arcebifpo de hacedemmiia*
D o Paço.
Cenfura do M. R. P. M, Kodrigo de S â , Prepofito da Congregaqai do Oratorio , Qüaüfî*
cader do Santo Officia ,
S E N H O R .
Anda-me V . Mageftade ver a Oraçaô Fune­
bre , que nas Reais Exequias celebradas,
pelos Religiofos da Santa Provincia da
A rrab id a, no R e a ! Convento de Mafra á faudofa memoria do Sereniifimo , e Fideliffimo R e y o
Senhor D . Joao o V . , recitou o P. M . Fr. A n ­
tonio de S ^ t a Anna , digniifimo filho da mefma
Provincia. H e efta a primeira O r a ç a ô ,q u e feo u vio a efte aflTumpto , e fegundo entendo, a priineira, que fahe à luz publica : e ella fó baflaria
( a naó fé imprimirem outras) para mitigar o j u l ­
to
M
to fentimento ^ que occupa os cora^óes Portuguezes na perda de hum taó in c ly to , taó ainavel 5 e taó memoravel Monarca ; porque as heroi­
cas virtudes , em que elle fe exercitou , e que o
A u th or elegantemente defcreve , nos daó o penhor
m a isfeg u ro , de que paíTou do R e y n o temporal
para o eterno , lenitivo o mais efficaz para mode­
rar a noíTa dor. Na6 me detenho nos louvoresdo
A u th o r, porque os feus doutos geralmente applaudidos Eícritos , aos quaes he efta Oragaó em tudo parecida , faó feus melhores elogios. Só d ig o ,
para cumprir com o preceito de V . M ageftade,
que em nada fe oppoem eíta Funebre Ora^aó ao
fervido de voíTa Mageftade , ou regalias deíla Monarquia ; pelo que a ju lg o digna da licenza para
fe dar ao prélo* V . Mageftade mandará o que
fo r fervido. L isb o a , e Congrega^aó do Orato­
rio ^ em o primeiro de Setembro de 1750. ’
Rodrigo^ de Sd.
L^e fe poíla imprimir, viftas as licengas d o
Santo O fficio, e Ordinario ; e depois d eim preQa tornará á Mefa para fe con ferir, tax a r , e dar licenga para que poíTa correr, fem a
qual naó correrá. L isboa, o primeiro de Setem­
bro de 1750,
Q
Ataide\ V is de Carvalho.
Almeida.
Caftro^
,C :
Vrí|r''>fó?2
.' síw
-
i
.•V •
.^!'■/' ;>y-*
-•••-•■
'^V'
H-^rtítt^^->vV }^í- ^V- t^l:
-i .r -' .
r' '
. =■/ ■
'. j ^^lí ^^'■^; •,íí^-;^..^lí^tívï^;:i5^■ìV■V>V^^
■.., y,^;iti'-‘:‘ ,.;■ ‘/i’ '-lt y ■
- vT*. ,‘:í. ■
'■\.‘ ■;:■'>■? .
■''■■f;:K :'^r^..-'- -.'i
S '- 'í '.-..‘xi'r'.-V. ••.^^'•''••^i’.^-5
>'+■
■
/’;
;:í., '
.' ;'/'- '. ? .
■
':
.‘5‘ • ^ - * i 'r- '. f'i-”/ '■
,
V >■■
y/-r
■
;:.v .--'
■
'
■
:'í^i ' • » ■ - < • > : :
•
.-.V .
.■
/jíÍTcVlli.' ■
...^-'/íHtrtl - ■i^'Vvfii’.'f^-
V-.,.'
■'■■¡■A, ‘ ■ ‘
■
'
■^i;.‘‘'-'i'í^:'^'' ■
^
-
% E C O % T > A % E D O M lü ^ E .,
quid acciderit nohis ... T ’iipilli faEli
Jummus abjque ^ a tre.
Ex Orat. Jerem. in lib. Thren. cap. y.
U e he iilo , que te fuccede, ó R eyn o de
Portugal ? Que íufto te accómete, ó R eyno con fiante, e firme? Mas ay! E q u e
fentimentos taó extraordinarios faó eftes,
com que t e d i v i f o , ó fanta Provincia da
Arrabida , minha muito amada, prezada, e querida
M a y ? Fia da lingua a narragaó do p e za r, que te op- «ayoi,
prime o cora^aó ; porque fe huma grande pena
transformou ao F ilofofo Secundo de eloquente em
mudo ; tambem hum exceíTivo pezar deu vozes a gsius
hum filho d e C r e z o , fendo mudo. Porém fufpende-te, e naó digas, ó Provincia fanta! Emmude- A-tic
c e , e naó falles, ó R e yn o fideliííimo ! Porque me
parece que o Profeta Jeremías bailará nefta hora
para expreílar o motivo de taÓ excefliva dor ; pois
■que na C o rte de Jerufalém , e entre o Povo ífr'aelit ic o , regiílrou com os olhos, e proferio com palavraso mefmo , que agora lamentas.
Achava-fe Jeremías em Jerufalém , M etropoli
d o R e y n o d e J u d é a , e C o rte do P ovo líraelytico,
e fahindo a publico converteo feus olhos em duas
fontes perennes de lagrim as, cryílallino fangue
do coragaó , que aífim Ihes chamou S. Gregoriio
A .
Niíle-
Q
s. Greg. NiíTeno ; Vulnertm anim£tamquam [anpiis lacry^
Niflen.
. Q peito fe desfazia em folucos : e o cors­
o i at. m
!
. ^
,
3
t!
inner, gao fc partii com a inagoa; e pondo os olhos no
Piatii, C e o ^ exhalando a boca ruff)iros, affim em nome
daquella C o r te , e de todo aquelle P o vo fe qiieixou
ao mefmo Deos :
in perpetunm obltvifceris
nojiri ? DereJinques nos in hngitudinem dterum ?
C o m o he p o fljve l, meu Dcos , e meu S en h o r, que
V O S moflreis tao efquecidoide nos ? Por ventura que­
réis dilatarnos os prazos da vida para mais , e mais
experimentarmos taó grande ruina? O lh ay que já fe
acabou a alegria de noíTo coracaó: D efedi gaudmm
cordis nojiri. Já eíle noíTo C o ro , que com os feus
fonoros cánticos nos fervia de a liv io , e caufava a
todos edifíca^aó, e aíTombro, eílá transformado em
triftes lamentacóes; Ferfus eji in luctmn 'chorus
m ftér. C abio, Senhor, por terra a preciofa, e riquifíima coroa da noífa cabera: Cecidit corona capitis
iioftri. P o r cuja caufa eftá o noíTo coragaó todo preoccupado da mayor triíleza , e os noflos olhos fe
vem quebrantados com a profuzaó das lagrimas ;
porque defappareceo deíla C o rte o grande monte
de Siaó : Propterea m£¡iim f a 6 íum eft cor nofirum ;
ideo contenebrati funt oculi noflri : propter ?nontem
Sion , qtiia difperiit. Mas ay ! que toda eíla fatalidad
de teve a íua origem ñas noíias culpas: Vsnobis^
qtíia peccavimus. Porém , piedoíiHÍmo Sen h or, e
Pay de infinita mifericordia , fe por eíla caufa eílais
irado contra efte miferavel Povo Iratus es contra
710S vehementer \ convertey-nos para v o s : Converte
fios a d te. Compadecey-vos da noíFa miferia , e
lembray-vos da noíTa orfandade ; porque na realidade
de eilamos filhos orfaôs fem Pay : Recordare
mine , quid acciderit nobis ... Pupilli fa â îi fum us
abfqtie Patre.
Eftas foraó as fentidas v o ze s, que articulou Je­
remías eiTi nome daquella C o r t e , e daquelle P o v o ,
concluindo, e pedìndo a Deos , que le compadeceile de tanta miferia ! Mas quem nàó dirà , fe laaçar OS olhos daconfideraçaô por efte R e yn o de Por­
tugal , e attender para efta-fanta Provincia, ferem
OS motivos da dor em tudo idénticos ¡ O ra notera.
Tod a a canfa , porque Jeremías articulava
aquelles térnos fufpiros , e proferia aquellas la?
mentaçôes triftes, era porque a cruel Parca tinha
cortado OS fios damelhor vida ao feufoberano , e
inclyto Monarca Joiìas. Aquelle fideliflìrao R e y ,
que imperava naquelle Povo , que entre todas as
Naçoes dò mundo era o Povo efcolhido de Deos,
Aquelle grande Heróe , que nas materias da RelLg i a ó , e culto publico do verdadeÌro D e o s , naó fó
fe moftrou o mais empenhado , mas chegou o feu
exceiio a conftituillo priraeiro fem fegundo ; Simi- a Reg,
cap . 2».
lis illi non fid i ante eum R ex , qui reverteretur ad V. tí.*
Dominum in omni corde fu o ,
in tota anima fu a ,
¿7^ in univerfa virtute fu a ju xta omneni legetn M.oy~
f i : neque pofi eum furrexit fimilts illi. Elle foy ,
o que demolindo todos os altares dos Id o lo s , e cor­
tando , e reduzíndo a cínzas todas as arvores dos
oofques circumvífinhos aos templos profanos, levantou Aras fagradas, para nellas fe ofFerecerera
vitbimas , e holocauftos ao verdadeiro Deos, E lle
foy finalmente aquelle pío M on arca, que fendo Se­
nhor foberano , punha de p a r te , íem ultraje,as
A ii
fobe-
foberanías da M agedade, e fó tnoftrava fazer tim­
bre das caricias de verdadeiro Pay ; o que reconlieciaó tanto os Vaffallos , que por iíTo na fupplica ,
que Jeremias fazia a D é o s , affirmava , que aquelle
fentido, e anguftiado Povo eftava orfaó fem Pay;
'ß.yxiMz. pupilli fa d í 'tjtimus abÇque Paire. Hoc dicit^quia
Regem amiferunt. DiíTe o Cardeal H u g o , e tamBíbl.maK. bem^o Author da Biblia maxima : Quia rege carefmis , quem loco Patris habebamus. E ppr termos
ainda mais claros o expreffbu o douto Maldonado :
Maldon. Orbati jumus Rege Jofia\ Rex enim Reipublic^e ^
ùp“Ìtói,
Patria eß Pater.
Mas fe efte fo y o m otivo , que teve Jeremias
para a expreiTaó do feu fentim ento, o mefmo o c ­
corre nefta hora para nianifeftar tanta màgoa ; por­
que faó taó idénticos os fucceíTos, que fendo na
realidade d o u s , naó parece fenaó que o primeiro
f o y com o profecía do fegundo. E fe naó vejaó.
Era Joíias o R e y daquelle Povo , que entré
todas as Naçocs do mundo fo y efcolhido para Pomimofo de D éos : Ero vobis Deus ,
vos eritis tnihi popuhis. Era o noíTo inclyto Monarca
aquelle Soberano , que imperava: em hum P o vo ^
que o. mefmo C hrifto nos campos de Ouriqueef^
Eit tefla- colheo para P o vo feu ; Vola inte
in f emine tuo
ror^ugai.
mihi flabilire'^ regmm fide purum^ pie-diieñmn. Era Jofias aq u elle, que na obfervancia da R eligìaó fe moílrára o mais empenhado ,
deftruindo íd o lo s, e confagrando Altares à Divina
Mageftade. E quem mais exceíRvo ñas materias da
R e lig ia ó , e culto do verdeiro D éos, do que o noíío
inclyto Soberana? Contem plem o> feu incanfavd
zelo
m s Exequias JelRey D. Joao V .
y
zelo na mayor veneragaó do Auguftiilìmo Sacra­
mento ; o feu grande defvélo para com os T em ­
plos , já fundando liuns , reedificando outros, e
enriquecendo a todos cOm preciofas alfayas; jà
erigindo A lt a r e s , econfagrando Aras para os Sa­
crificios; e já finalmente augmentando o numero
dos Bifpados, e tudo para que mais , e mais fe multiplicaiTem os Divinos louvores. Finalmente era Jofias aquelle R e y t a ó - p io , e taó amante dos feus
Vailallos , que mais os regia com os aiFe£tos de Pay,
do que com as ibberanias de R e y . E quem poderà
negar no Sereniifimo, e Fideliííimo Senhor R e y D.
Joaó V . eñes mefmos effeitos, fe coni atten^aó confiderar as accóes pras, que obrou , em quanto vivo.
Parece-me que em tudo fe germanaó eftes dous .
efpeciofifiìmos Monarcas em quanto vivo s; e que
fe fegue agora , fenaó ferem tambem iguaes nos
VaÌTallos os fentimentos da fua morte ? A ambos ef­
tes Principes cortou a tyranna Parca os vitaes alentos ; porque era indifpenfavel o deixarem de pagar
à morte aquelle tributo da natureza humana : Statu- Ad hcì«-,
tU7n eft hominibus jemelmori. L à fentio aquelle Po- v!2'7r
v o taó amargamente o golpe , que rompeo a fua
inàgoa em repetidas queixas, expreflando nellas o
m otivo do feu fentimento. Experimenta agora ef­
te trifte , e defconfolado R e y n o a perda defta v i­
da : e que ha de fazer , fenaó huma publica demonftragaó da fua intani^ dor? Aflìm o eftà manifeftando todo o Povo , valendo fe das lagrimas pa•ra ferem embaixadoras da fua pena,: Mittmn lega.'-^ cypr,
tos lacrymas\ jà que efta. por defmedida Ihe naó
deixa articular palavras* Mas com efpecialidade
ma-
mayor o faz erta fanta Provincia da Arrabida, naó
fó pela mayor obrigaçaô, com que fe confiderà ;
mas ainda por fe reconhecer com mais propriedade naquelle P ovo retratada ; porque fe efte fe
denominava IfraeHtico por fer oriundo de Jacob ,
a quem o mefmo Deos mudou o nome para o de
Gen.Cflii. Ifrael : Nequaquam , ifjqu it , Ja c o b appellabìtur
Z2,v. is.
itmm , je d ljrael\ fendo Francifco meu ParxGir.d. dre hum expreffo retrato de-Jacob : O’ Patriar-^
s ’ p.%^.
pauperum . . . quos cancellatis manibus, ut moFraHc. rkfìs Ja c o b , benediocijìi : bem fe fegue fermos nós
por feus filhos verdadeiroslfraelitas ; logo por du­
plicada circunfiancia, ifto he por Portuguezes, e
por filhos de Francifco verdadeiro Jacob , e Ifrael
■da L e y da G raça, com motivo mais relevante fóbe
de ponto an o ííam d go a; porque nos falta a alegria
do noiTb coraçaô ; porque cahio em terra a co­
rca preciofa da nofia cabeça ; e porque defappareceo da C o rte aquelle monte de Siaó fublim e, ex­
cel fo , e Tempre digno de toda a memoria o Sereniifimo R e y o Senhor D . Joaó o V . , por cuja falta
os noííos olhos fe desfazem em lagrimas, e o c o ­
raçaô eftala com a pena : Propterea mæflum fa^
6 íum eji cor noftrum , ideo contenebrati fu n t acuii
nojlri : propter montem ^ion^ quia difperiit\ por­
que na realidade eílainos como filhos fem Pay: Pu­
pilli fa â ii jumus abfque Patre.
Filhos diíTe , e c o m r a z a ó : naó tanto porque
o R e y , como diz M aldonado, he Pay da Patria ,
e da R epública: Rex efúm R.eipíiblic¿s, ^ Patriie
€¡l Poter : pois iílo he huma razaó commua , e univeifaliííima para todos os R e y s j mas ílm porque
o noíTo
o noíTo foberano Monarca , que D eo s tem na fuá
gloria , como píamente creyó , com muita efpecialidade foy Pay amaiitiífuno defta fanta Provincia.
Ora efte ferá o fyftema defta funebre O raçao, co;ti
cuja demonftraçaô fe conhecerá a evidente r_a5íaó ,
que tem os fílhos defta fanta Provincia para clamarem ao Geo , reprefentando a D e o s , que fe achaó
fílhos orfaós fem Pay : Recordare Domine , quid ac­
ciderit nobis ... Pupillifa â liJumus ahfque Patre,
§.
I.
llh os orfaôs fe intitulaó os R eligiofo s da fan­
ta Provincia da Arrabida pela morte do Sereniííim o, e Fideliííimo Senhor R e y D . Joaó V . ;
Pupilli fû â îi fumus abfque Patre. Nem façaduvida intitularem-fe o rfa ó s, quando o texto expieffa pupillos ; porque fuppofto na rigorofa íignifícaçaô deftes nomes , pupillo feja aquelle, que ca­
rece de May ; e orfaó feja aquelle a quem falta o
Pay , com tudo ^ diz o meu L yra , huma denominaçaô vulgarmente fe toma pela outra: Pupillus tyraiik.
proprié e jl , qui caret matre : orphanus vero p atre ,
unu?n lamen frequenter accipitur pro alio. A ' lem
de que aonde a noíla Vulgata tem : Ptipilli fa óf i fu mus: le outra verfaó : Ó rphainfaóíi fumus ^ velut
mn habentes patrem. O rfa ó s, pois fe lamentaó na
falta defte amantifllmo, e amabiliflimo Pay.
Saó os Principes foberanos Pays dos feus Vaffallos. Efte he o feu proprio epitheto : Proprtnm
epithetmn eli Principis'^ ut fit Pater, Por iifofoi.
qua fi-
quando os Senadores, e Confules Romanos fe intitulavaó Paires conjcripti : o Emperador fe chamava Pay da Patria. A o que quiz alludir V irgilio ,
quando diíle :
I.ib. 9-
Æneiad.
V. 4^ 9.
------- Jmperiuniqtie Pater Romanus habebtt.
E o mefmo affirmou Aufonio , fallando do grande
Emperador Theodofio :
Tu 7nodo te juffíjje Pater Romane memento,
E Chryfantes intimava aos feusnaturaes, que nao
havia diílincaó alguma entre hum bom Principe , e
chryfan- Iium bom Pav : Etiam alias f e p é o viri animad, nihil inteTejJe inter Principem bonum ,
lib- Î- Patrem bonum.
Sendo pois o epitheto de Pay taó proprio dos
Soberanos; ninguem melhor defempenhou efte ti­
tulo , do que o noíTo SereniflÍmo Monarca ; e com
efpecialidade grande para com os fílhos deftafanta
Provincia. AÍTim o ha deconfeíTar , quem fo u b e r,
o que coftuma obrar hum amante Pay a refpeito
dos que reconhece por feus fílhos. D i z Berchorio ,
que todo o dcfvélo de hum Pay amante naó he outr o m a is , do que alimentar os fílhos: enfínallos ,
dando-lhes faulavéis con felh os, e incitando-os com
o feu exemple para as obras virtuofas* que por iíTo
fe intitula Pay , pois na realidade os apafcenta :
Eerchor. Pater filium valde diltgit , ipfumque fo v e t , m itrit ,
verb.pa- ifjjjru ít ,
erudit. Et ideo Pater à pajcendo dici'
tur y quia 5 ¡cilicet , filiipër Patrem pafcuntur,
cor^
corporaJiter mitrimitur. E accrefcenta o doutliïïmo
Sylveira , que o amor paternal naó fóffre viver re­
parado dos filhos 5 chegando a vencer todas as diiiìculdades, e a cortar por todos os impedimentos ,
que poderem impedirlhe o ailiftir com elles: Pa~ syiveir»
ternàlis amor pro iHio omnes difficiihates Ju perat ,
Qfnnia impedhnenta riim pit , ut eis adhæreat , ab erj~
que non Jeparetur. D efórte que entre muitas, tres
íaó
acçôes eípecialiílimas, com que fe compro­
va o amcir patern o, a fa b er, alimentar os filhos,
doutrinallos , e afliftir na fua companhia.
Mas oh , e quem jiaó dirá, que o Sereniííímo
Senhor R e y D . Joaó o V . foy amantiífimo Pay de
todos os Religiofos da fanta Provincia da Arrabi­
da ! Digaó-no as continuas , e repetidas eím ólas,
que todos os Conventos recebiaó por fua Real Uberalidade, que íó no breve efpaço de anno e meyo,
pelos livros das receitas dos Syndicos dos C o n ven ­
tos , pafláraó de dezafeis mil cruzados, fora ou­
tras m uitas, que fe receberaó em proprias efpecies.
Sejaó teftemunhas authenticas deíla verdade todos
os individuos deíle R eal Convento , a quem a fua
Real gran deza, e nativa piedade, fu ften to u , aliinentou , veftio , e aífiftio com tudo o precifo para
a fua confervaçao, naó por dias , ou mezes, mas
íim pelo decurfo de tantos annos. E à vifta difto
bem fe v é , o como por efta acçaô, e por efte be­
neficio , dignamente merece o titulo de Pay.
Querendo S. Paulo dar a conhecer aos Hebreos as grandes excellencias de M o y f é s , entre
muitas , que re fe re , d iz ,q u e c h e g o u a d e fp re za r a
C o ro a do E g y p to 3 negando fer filho da Princeza,
.
B
íilha
AdHebr. fiUia do R e y Faraó : Negavit fe effe filium fili ¿e
II.
pharaonis. ConfeiTo , que foy grande a refoluçaô ,
e rara a virtude de M o yfés nafte cafo Î Pois he acçaô heroica renunciar huma c o r o a , e defprezar hum
R e yn o . Tambem foy virtude grande fallar M oyfés
verdade; porque tendo Oféas affirmado., que nao
ofeás
havia verdade na terra : Non eft enim veritas .. ,in
terra\ excellencia grande, era que M oyfés a diíTefte.
Porém eu no que reparo he em fuppór aquelle Po­
v o , a aíTantar comfigo , que a fua Princaza era
máy de Moyfés , e que M o y fé s era feu fílho : pois
he certo , que aífim Faraó , -como a íua filha , eraó
G en tío s, e M oyfés era filho de Pays H e b re o s, co ­
mo a mefma Princaza publicamanta o affirmou :
E<oá.
Infantihus Hebræorum eft hic. Pois lo g o como tinhaó para íi , e aftantavaó por certo , que a
Princeza era fua m á y , e M oyfés era feu filho ? O ra
o Proto-Martvr Santo Eftevaó naquelle altiiîînio
A^o . Sermaó , que fez aos Judeos , apontou a caufa : Expofito autem illa ^ fuftulit eum filia Pharaoms ,
V. 11.
nntrivit eum fihi in filium. F o y o cafo. Tinha o
menino M oyfés íido lançado nascorrentes do N ilo
p or caufa daquella cruel perfeguiçaô , que Faraó
tinha movido contra o P o v o Ifraelitíco ; tomou-o
por fua conta aquella Princeza , criou-o , e fuftentou o dentro no feu Palacio: e fo y o mefmo fuftentallo , ealimentallo pelo decurfo de tantos an­
nos , e dar-lhe habitaçaô no feu P a ç o , que alTentarem to d o s, que era merecedora do titulo de fua
máy : Nutrivit eum fibi in filium negavit fe ejje fi-
cap.
lium filiíe Pharaonis.
L o g o fe os Egypcios aíTentavaó, que a fua
Prin-
Princeza era máy de M oyfés , eque efte era feu fíIho ; porque ella o fuftentou , aliinentou , e o teve recólhído no feu Palacio ; experimentando os fiIhos deíla fanta Provincia o mefmo na Real bene­
ficencia do nofFo inclyto Monarca , porque naÓ teráó a maxima honra de fe intitularen! filhos íeus ?
E porque naó logrará elle devidamente o titulo
de feu Pay ? Anteá cu difiera , que com mayores re­
alces fe Ihe déve dar efta denominagaó mais pelos
alimentar, do que ainda fe o foíTe, dando-lhes o
íer da natureza.
Contempla o Angelico D o u to r Santo Thomás
a Chrifto bem noíTo , obrando duas Angulares fi­
nezas pelos hom en s, huma no Cenáculo , e outra
no Calvario , e reconhecendo-as ambas finezas R e ­
Apoc^
gias ; pois eraó eíFeitos de hum R e y Soberano : Rex cap.
Regum ,
Dominus Dominantium : porque como
R e y fe ofteiitou na C r u z : Je fu s Na%arenus Rex\ joancap;
e como R e y o confefia ellen o Cenáculo : In hac
iríenCa
mvi Resis^
novum
P aich a ,r novie le^is
, Pha,
'
P
'
rr
j
rulem iu
je vetus termtnat : amrma que a fineza do Cenacu- corpor.
lo fora a mayor fineza : Miraculorum ah ipfo fa^ sA'hoL
éíorum mammtim. E como póde ifto fer aíFun ? Se opufc.í?i
no Cenáculo nos deu o C o r p o , e Sangue ; ifto
tambem nos d eu , e deu por nós na Cruz. Pois fe
os extremos faó iguaes na davida , como podem fer
defiguaes na razaó da fineza ? Eu bem fey , que no
Sacramento nos dá a vida : Qui manducat me ,
jpfe vivet propter me. Mas tambem he certo que v. ss,'
Cant.
na C ru z deu Chrifto ao mundo a vida ; Suh arbo- c..p. 8.
re malo fujcítavi te. Jdefl^ commenta o doutiíli- W e l R Í O
mo D e lR ío , animam fa b arbore malo Chrijius fu f- líc* '
B ii
citavit ,
V. 1«.
V. 5 .
citúvit , dam mortumn in peccatis per fideni Cru­
cis vivificavit. AiTiin h,e : poréni na C ru z deii-nos a
vida como P a y , proíiiziiido-nos à graça , e tirando-nos do nada da culpa : e no Sacramento dá-nos
a vida , pondo-nos à fui meza e mìniftrando nos
efte Divino Ìuftento das almas. N a C r u z foy Pay
proJuzindo os filhos, dando Ihes o fer da graca :
no Sacramento he Pay , fuílentando-os na vida da
mefma graca. E fubio tanto de ponto na conílderaça6 do Angelico D o u to r efta Paternidade do ali­
mento , que em contrapoiîçaô da Paternidade,
com que deu o fer, fó a ella reconhcceó pela mayor:
Miraculorum ah ipjofacíortim maxinmm. Ora con­
firmemos mais o penfamento.
Fatigado do catninho , e fequiofo mais da fatvaçaô das almas , do que da agua natural, íe alfentou Chrifto beni noífo junto ao poço de Sichar.
C h eg o u lo go huma peccadora Samaritana , que vinha bufcar agua , e encontrando fe com a fonte da
vida-eterna- Chrifto , que Iha promettia , duvidou
Joan, ella di promelfa com eftas notíiveis palavras : Nunqtitdtu maior es patre noftro Ja c o b , qui dédît no­
bis puteamì A duvida eííá em efta mulher chamar
a Jacob feu pay: Patre noftro Ja c o b ; pois he coufa aTentada entre os E xpofitorescom o doutiiììmo
Sylveira , que os Samaritano» nao procediao dos
Judeos , fenaó dos Aííyrios , e Gentios. Pois logo
com o chama a Jacob feu Pay ? A efta duvida refponBug,hîc,
^ GarJeal Haq^o : Q¿úa beneficia Ja co b experti
erant , cnjus terram , ^ habitationem jubintraverant. Tinha Jacob feito aquelle p o ç o , e os Samaritanos viviaô com o feu beneficio j e habitavaô
na
ñas Exequias delRey D . Joa^ V>
15
na fua terra, e no feu dom icilio; e por iflo Ihe
cbamavaó P a y , e Pay de todos. Deforte que os AíTirios eraó os Pays dos Samaritanos, por Ihes darem o
fer da natureza ; porém Jacob era feu Pay , por Ihes
fazer aquelle univerfal beneficio da agua , que tam­
bem he alimento ; e por Ihes dar habitagaó, em que
viviaó ; e por iíTo, por mayor excellencia , Ihe chamavaó Pay ; porque he mais Pay aquelle, que mul­
tiplica os beneficios no regalo , e n o f u í le n t o , do
que aquelle , que dá os primeiros alentos da natureza. Ou^aó ao Silveira confirmar o peníamcnto :
Ntílhís p 0 tí07^ijure Pater nuncupatur, qtiám Ule,
à quo beneficia obtimmus.
L o g o fe Santo Thomás , e tambem os Samaritaños afíentáraó , que aífim C hriílo , como Jacob ,
com mais razaó deviaó lograr as denominagoes de
P a y , pelos beneficios , e alimentos, que miniílraraó , do que C hriílo pelo fer da gra^a , que produzio , e os Aífirios pelos alentos da natureza , que
deraó , bem fe fegue , que mais logrou o nolTo So­
berano o titulo de Pay pelo fuflen ro, que nos d e u ,
e pela habitagaó , que nos fabricou , do que ainda
fe nos communicara o fer de Pay pela natureza.
Mas tambem claramente fe infere, que eftando
m o r to , e defunto, que eílamos na realidade filhos
orfans 1 fem o nolTo amantiífimo, e amabiliíTmio
Pay : Pupilli fa ó íi fum us abfque Patre,
ir.
A
Segunda a c ç a ô , em que fe conhece o amor
de Pay , he em doutrinar os filhos ? naó fó
com
com a palavra, mas tambem com as obras, ec o m
o exemple. A Julio Cefar acciamáraó os Romanos
com a denominaçaô de Pay , e fe perguntarmos a
Suetonioacaufa, dirá , que f o y , porque eíte Augiifto Principe os inflruia naó fó com as palavras, enÎÎnando-Ihes as acçôes moraes 5 e os exercicios bel­
licos ; mas tambem com as obras ; fendo elle o pri­
meiro , que fe punha na vanguarda dos Exercitos ,
fem que Ihe ferviiTe de embaraço , ou os ardores do
suetoniLsSol, OU as inundaçoe's daschuvas: In agminenon-
mmiquam m equo ^jæpius pedibus anîeibat capite
deteâio ^Jeu Sol ^feu tmber effet. O mefmo titulo
confeguio o Emperador O ttaó , como refere Corco;nei. uelio T a c lt o , por executar a mefma praxe : IÑec
-, ciut corruptum Itixu iter , fe d lorica
ferrea tifus ^
ante Jignapedefter ^horridus ^
incomptus. Qiiem deu a Eneas o epitheto de Pay
para com os T r o y a n o s , fe naó o ajuntar elle , como
diz V i r g i l i o , as obras com as palavras para exemplo
d e lle s , fendo o primeiro , que punha em execuçao 5 o que Ihes perfuadia.
vírf-n.üb.
é.Æncid.
Necmn Æneas opera imer taliaprimiis^
Hortatur Jocior , paribujque accingitur armis.
Finalmente por efte motivo fo y venerado Mayoriano com o mefmo titulo , como efcreve Sidonio.
sidon, ín
in h o n o r.
Mayoría-
----------------------------------- j¡c agmina mee
E rig ís , exemploque kvas , prmujque labores
Aggredcris quofcíimque jubes.
Mas
vas Exequias deíKey D . ]oa 1> V .
ly
Mas o h , e como eftá já inanifeftando-feefta
excellente denoininaçaô ein o noíTo foberano M o ­
narca ! Qual fo y o Prelado defta fanta Provincia ,
que chegaíTe a fallarihe , a quem elle naó recommendaífe com toda a eiBcacia a obfervancia da difciplina R e g u la r -, a guarda, e execuçaô das leys ;
e a perfeiçaô do culto Divino ? Qual tby o R eligiofo fubdito , que tiveíFe a permiíTaó , e ventura de
eftar a feus Reaes p é s, a quem naó perfuadiíTe a
inodeftia Religiofa ; o defprezo do mundo; e os
adiós de humildade ? Ifto em quanto as palavras ;
e em quanto às obras , qual foy a hora Canonica
do Officio D iv in o , a quedeixou de affiftir,quan­
do fe achava nefte feu Real Convento ? Sendo el­
le muitas vazes o primeiro ; porque prevenia o tem­
po , e na fua Real Tribuna efperava as horas com­
petentes. Qiie a¿lo de Communidade houve , ain­
da os mais particulares , a que naó affiftiíÍe? Pois
que direy do exemple da mayor hum ildade, que
nos deu? O h pafmo! O h aíTombro! N o d ia , em
que cumpria feus feliciffimos annos , depois de ter
confagrado, e dedicado efte Real Tem plo à D iv i­
na Mageftade debaixo'da tutela de Maria Santiffima com o titulo de NoíTa Senhora , e de Santo An­
tonio , chegou publicamente a fervir à meza a eftes
pobres Menores : exemplo , e acçaÔ, que naÓ referem as hiftorias executada publicamente por en­
tro algum Monarca. Finalmente documentou-nos
ñas obras de mifericordia , acompanhando com h u ­
ma tocha a hum Religiofo defunto , até o fepultarem : e no mefmo Cemeterio pcrgunlou, aonde
era a fepultura de o u tr o , de quem affirmou fer efpecial
pecial a m ig o , e o co m p ro vo u , naó fó lan^andoIhe agua beata fobre o tumulo , mas tambem com
as lagrimas, que fe Ihe viraó nos olhos ; imitando
niilo a C h riflo para com Lazaro ; pois naó fó perjiian.ii. gunfou pela iua fepultura; Ui?i pojmfti eum} Naó
iVirv.ii. fó Ihe chainou amigo : Lazarus amiciis nofter :
mas tambem confirmou a amìzadecom as lagrimas
ibid.v.jj.
olhos: Lacrymattis eft JeJu s : de que inferiaó os circùnftantes o grande am or, q u elh e tiibid.v.ii. nha : Ecce qtmnodo amabat eum. O h amantiilimo
Pay ! Muito , Senhor Soberano, e R e y Sereniifimo,
muito perfuadiaó as voflas palavras ; porém os do­
cumentos , que nos déftes com as obras ; a doutrina,
que nos poílilaftes' com as voíTas ac^óes , tinha tal
efficacia, que podíamos dizercom mais razaÓ, do
pim. in que Plinio : Flexibiles quamcumque in partem ducià Principe \ ^ titita dicam^ jequaces¡tmus\
cin. to.n. porque era doutrina mais relevante. Conheco que
era doutrina puramente humana na execugaó 5 mas
ella parecía Divina.
Contemplando aiguns Expofitores naquella
Eftrella dos Magos , affirmaraó , que era o Efpirito
Santo , terceira PeíToa deíTa Trindade Beatifica ,
que apparecera naquella figura, afíim como viera
íobre os Apoftolos em figura dechamma', e fobre
&
no Jordaó em apparencia de Pomba ; Fui[Je
íic^' Spirittitn SanSíiim. E que íingularidade extraordi­
naria admiráraó nefta E ftrella, os que a julgaraó
Pa^Tcr
Divina? A ifto refponde S. Leaó Papa: Steliflis tamquafu lìngua c(slorum. V ir a ó ,q u e efta
¿han. Eílrella era prégadora do Meífias, e que perfuadia
a todos-, que o bufcaíTem, e que o veneraílem. Con-
feíTo
feflo que a repofta do Santo Padre fnz aduvida
mais eicura. E como podia aquella Eilrella dar voz e s , e prégar , naó fendo animada ? Mas oh , que
ilm. deu vozes aquella Eftrella , e as maiseloquentes. Equaes foraó ? Eoraó os feus paiFos. Appareceo a Eftrella , e comegou a caminhar para o Prefepio. O que enfinava, e ra , o que praticava : os
feus paiTos eraó as melhores v o z e s , com que per­
fuadia ; as fuas obras eraó as fuas paìavras. A h fim ?
Pois doutrina , em que os paflos faÓ as v o z e s , e as
obras faÓ as palavras , podera fer doutrina de huma
pura creatura ; porém naó parece fenaó de huma
PeiFoa D ivin a : FuìJfeSpiritnm Sanóimn.
E fìe foy o co n ceito , que fe fez da Eftrella dos
M agos , por ferem obras as fuas palavras. Naó he
eiVe 5 o que eu formo das acgóes do noiTo Soberano
Monarca \porque o reconhe^o puramente homem :
mas fe aquella Eftrella era Eftrella R e a i , e demonftrativa de hum R e y : Hoc [ìgmim magni K e^ s eft : e* ecci.
todas as ac^óes do SereniflÍmo Senhor R e y D , Joaó
.
o V . , foraó Reaès documentos, com que nos inftruio ; mas por iiio o devemos reconhecer por noffo Soberano Pay ; porque fe defmerece efte nome
aquelle , que naó doutrina os filhos , ex oppofìto ,
,naó fe deve negar efte titulo , a quem pelo contrasrio obra. Segue-fe efta conclufaó, provado o ante­
cedente. Eu o provo.
Propoz Chrifto aquella parabola do iilho P ro ­
digo , e he digno de grande reparo lo modo com
que o D ivin o Meftre fe explicou: Homo quidam
hahuit duos filios. Hum homem teve dous iìlhos.
Pergunto ; efte homem naó era Pay ? He c e r to ,
G
porV. il.
porque tinha filh o s, e fillio he correlativo de Pay.
Pois logo porque Ihe nega Chrifto o nome de P a y ,
e fó lh e dá o titulo de homem? Reparem n o q u e
obrou eíle homem , ou no que deixou de obrar ,
econheceráó o myfterio. C h egou-fe a elle o fílho
mais m o go , pedio-Ihe a fua legitim a, para defte
modo viver à Tua vontade. E que fez o Pay. ? A tu­
do Ihe deferio , fem nem ainda com buma palavra o advertir, ou admoeftar. Ah firn ? Pois P a y ,
que defta forte falta ao filho com a doutrina , per­
ca o nome de P a y , e chame-fe fomente homem ;
porque defmerece femelhante titulo, quem falta
aos fííhos com a doutrina: Homo quidam habuit
dU GS
filins.
L o g o fe o Pay do Prodigo perdeo o titulo de
P a y por faltar ao filho com a doutrina , fegue-fe
ex oppojito^ que pelos Angulares documentos , que
em fua vida nos deu o Sereniifimo Senhor R e y D .
J o a ó o V . 5 naó fó por palavra, mas tambem com
as fuas Reaes acgóes, o devemos ore pleno decla­
mar noíTo amantiflimo , e amabiliflimo Pay. He
verdade que hoje m orto, e defunto ; mas por iflo
nos lamentamos filhos orfaós fem Pay : Pupilli fa -
M i fumus abfque Patre.
§.
III.
T erceira , e ultima acgaó , em que hum Pay
moftra o grande amor , que tem aos fílhos,
he o nao permittir feparar-fe delles: Paternalis
A
amor pro filio onmes difficultates fu perat ^ omnia
impedí'^
impedimenta rnmpit , ut eis adbæreat, ab eifque
mn feparetur. Proprieda^ie he do ain of, quando
he excefîivo , naó foíFrer auíencías de quem ama.
Avalia-fe por amor pequeño, o que confente feparaçaô de corpos ; porque o amor, que he perfeito de tal forte fe vivifica, e alegra com a companhia do feu o b je íb o , que apenas pode refpirar
fem elle: Impatiens efl amor ^¡i generofus f î t , ut Caiiiî.*
dileóíi fera t ahfentiam : nmwrque comprohattir, f i
corporum JuJiineat Jeperationem \ nam perfeÓius
ita dilecíi gaudet confortioj ut ûbfque ilio vioc poffit coi. i.*n!
refpirare. E quando por alguma caufa fe vè obrigado a aufentar-fe , ainda que feja por breve efpaÇ 0 , padece niilo grande violencia. Affim o moftrou Chrifiro no H orto , que fendo-lhe precìzo o
retiro de fèus Difcipulos para orar a feu Eterno
P ay , por violencia o explicou o fagrado Chronifta : Ipje avuljtis ejl ab eis , quantum jaâius efl Luc.cap.
lapidis. Qtiod eft quafl violenter , ^ invitus ex- cañlí.cic!
ir ahi à focietate Difcipulorum. D iile o Caílüho.
Bem eftava nefta maxima o noiTo inclyto M o ­
narca ; pois o feu g o f t o , e o feu alivio era eftar
ferapre na companhia deftes Menores pelo exceÌTo ,
com que os amava ; e quando pelas penfoens da
Mageftade fe via obrigado ao retiro , naó deixava
de experimentar nifto violencias. O h amor excefliv o ! Porém ainda occorre huma circunftancia , que
fazrealçar, e fubir mais.de ponto efìe amor ; por­
que naó fó nosailiftio, e acompanhou , em quan­
to viv o ; mas chegou a expreilar , naó huma , mas
multiplicadas vezes, que quería que o feu corpo
foíTe fepultado neíle R eal Convento entre eftes
C ii
feus
feus filhos menores. A t é aqui pedia chegar o exceffo ; porque efta expreÎÎÙiô he o final mais evi­
dente do mayor , e mais exceífivo amor.
M o rto eftava Chrifto no monte C alvario ,
quando hum Soldado fobre cegó infoiente com hu­
ma lança Ihe abrió o lado ; e logo pela ferldabrotáraó duas fontes, huma de fan gue, outra de agua :
Joan, w. Unus militum lancea latus ejus aperuit ,
conti7ÌUÒexivh Janguis , & aqua. S. Joaó Chryfoftomo
inverte a ordem , dizendo , que primeiro fahio a
agua, e depois o fangue ; tal v ez fundado, em
que a agoa como mais liquida , correría primeiro
5,Joan, que o fangue, por efte fer mais craflo : Mortuo
adhuc in Cruce pendenti, approxihom.. ad mavit m iles , latus lancea percujjît,
exinde aqua
^ fanguis. Porém eu ju lgo , que nem por
ilio fe oppoem o Santo D ou to r ao Evangelifta]
porque efte fó fe occupou em narrar o c a f o , fem fe
applicar a expreífar as prioridades das correntes.
O certo he que todos os Santos Padres intitulao a
efta ferida por demonftraçaô do am or, e do mais
exceífivo amor: Vülnus amoris.
Seja aíÍÍm : mas fe Chrifto*queria dar hum evi­
dente teftemunho do feu mayor amor para com os
homens por efta ferida, parecia-me que p e lh o r
confegiiia efte fim , fe a recebeíTe, em quanto v i ­
v o , e nao depois de m o rto , porque entaó fentia
G golpe , e confecutivamente merecia com aquel­
la cruel ferida. C o m o pois guarda para d ep o is'de
morto , o abrirem-lhe o lado ? Cada hum poderá
dèfcobrir razao fegundo o feu difcurfo ; porém
eu accommodo-me agora com huma , que dá o
dou-
doutiflimo C aílilh o conforme ao meu intento. Notein.
Aquella a g u a , diz Caftilho , que eílava no
peito de Chriílo , era figura dos hornens , que ñas
aguas fe retratao , como afiirma S. Joaó no feu
Apocalypfe : Aqti£ , quas vidijii . . . popuH fu n t , Apoc.
gentes ^
lingu£\ e de hornens recolhidos no
*7.
clauílro de feu facrofanto peito. Se o lado fe abriffe 5 em quanto Chrifto eftava vivo , neceft*aria4uen*
te fahiria a agua, e darfehia te m p o , em que ef­
te Senhor eftaria apartado dos hornens : para que
aífim naó foíTe, naó permittio o lado a b e rto , ein
quanto vivo ; porque nem ainda por figura quería
deixar de aífiftir com os homens , a cjuem com ex­
tremo amava: Cum ergo aqu£ illa tntra peÓíoris caflii.«-
Còr/Jìi claujirum ccntinerentur incluf'a ^ per
54.
homines dejignatitur \ fian permtjtt lateris percufJionern adhuc vivens , ne aperto latere defluerent
aqu'S , in quibiis Conventus hominum dejlgnabatur,
veritus adhuc in typo ab hominibus feparari. Tan­
to enim ardore erga nosflagrabat , ut vel typica^n,
obumbratam fugeret abfentiam.
N aó ha mais dizer. Admitto a razaó de GaftilIho: porém ainda duvido. Se naó confentio efte
apartamento, em quanto vivo , corno o permittio
depois de morto ; pois he certo que fe abrio o
laiio , e correo a agua fobre a terra ? Mas oh , que
ahi he que eftá o contraponto da fineza ^ e o
mayor exceiTo do amor ! Sabia muito bem Chrifto , que a fua alma Santiifìma havia de defceraos
In fern o s, que eraó nas entranhas da terra : fabia
tambem, que o feu facrofanto corpo hiiviadefer
fe-
Mattii. fepultado no cora^ao deiTa terra : Stcut em m fuit
in ventre ceti tribus diebus ^
tribus noéiiòus ; Jìc erit filius hominis in corde terr¿e. E
que fez nefte cafo ? D ifpoz , que a ferida foiTe
depois de morto , para que correndo a agua fobre
a terra , adiaiTe nella o feu corpo a companhia
dos homens , para que entendeiTem to d o s , que
fe em quanto vivo todo o feu difvélo era afllitir
combos homens , que por iiFo os tinha claufurados
no Reai palacio de feu peito ; depois de morto
nnóqueria, que o feu corpo efìiveife apartado deU
les.
O lugar he taó fuperficial, e claro , que to­
da a accommoda^aó ferá rep etir; pois (fallando
com a proporgaó devida ) faó eftas ac^óes demonftrativas do amor exceflivo de dous Monarcas :
C hrifto verdadeiro R e y , e Senhor: JeJu sN a z a renus Rex\ naó querendo apartar de fi os homens,
em quanto vivo ; e querendo eftar na fua companliia depois de morto na fepultura : o Sereniflimo Senhor R e y D . JoaÓ o V . , afiiftindo a eftes
pobres claulurados no feu R e ai Palacio , em quan­
to v iv o ; e expreÌTando repetidas vezes a vontade
de o feu Reai corpo os acompanhar depois de mor­
to. Os homens tiveraó a ventura de lograr huma,
e outra aflìft-encia ; eftes pobres Menores naó confeguiraó o_ total^ complemento daquelle Reai de«
fejo ; porque occorreraó, juftiiTimas caufas , que
obvmraó a fuá execu^aó. Mas f^ eftas demonftra^oes de aillftencia faó ac^óes proprias de hum
amor paterno , corno fe poderi negar femelhante
epitheto a efte amantiffimo, e amabiliifimo R e y ?
Po-
Porém como eftá morto , fentidos devemos pu­
blicar, que citamos filhos orfaós fem Pay; Pupilli
fa é íi Jumus abfque Patre.
Tem os vifto , qiiaes fejaó as acgoens , que
conñitiiem a hum fugeito verdadeiramente P a y ,
e juntamente o como as executouonoíToSerenifíim o , e Fideliffimo R e y o Senhor D. J o a ó o V . ,
para com eftes menores filhos da fanta Provincia
da Arrabida ; caufa , porque lamentando a fua fal­
ta , fe reconhecem , e deploraó filhos orfaós fem
o feu amantifíimo , e amabiliílimo Pay. Porém
oh Provincia fanta , e oh filhos do Serafim chagado ! fuavizay por agora o voíFo fentimento :
enxugay as lagrimas ; e fomente perfevére ém vos
a faudnde na memoria. Nefta noíTa grande afiiccaó
recorremos a Deos pelo rem edio, expondo-lhea
cau-a da nofía dor: Recordare Domine quid acci'
derit iiobis . . . Pupilli fa B i fumus abfque Patre.
Pois efte S en h o r, como Pay de mifericordia nos
acode com o alivio para a nofla m ag o a , e' com
o remedio para a noíTa orfandade, -dizendo-nos no
livro do Ecclefiaftico eftas palavras : Mortuns eft
Pater ejus , ^ qnajt mn eft m07'tíius : Jímile^n
enim fibt reliquit poft fe. He verdade oh Efpiritos
Seráficos ! He verdadé que vos faltou hum Pay
amantiulmo ; porém ahí tendes outro a elle em
tudo femelhante: ou ahí tendes o mefmo Pay reproduzldo 110 fílho , naó fó na heran^a tem p oral,
mas tambem nos coftumes, e ac^Óes de m.ifericordia , e piedade ; Qtiajt mn eft mortuus , qtáa quo- Lyrahíc»
dammodo remanet in filio , non folum in tempora­
li b¿ereditaie, Jed etiam in moribtis \ diíTe o meu
Ly-
24
Oragat Fiinelre
ra. D ay pois tregoas ao fentim ento, e occiipay.
vos fóniente nas demonfìracóes de agradecidos
com a repetigaó dos fuffragios. E para que fe
conhega eternamente a voiTa gratidaó , eni primei.
re lugar collocay aos Reaes pés do noilo amantiilìmo 5 e amabiliflimo Pay cada hum de vós o
feu cora^aó .todo abrazado em chammas, e com
ella letra gravada ; Amor hos accendit amores \ o
amor , que fempre nos teve em vida eftá d e fa fìando eftes obfequios , e rendidos affe£ì:os depois
de fua morte. Em fegundo lugar empenhaivos pa­
ra com Deos por meyo de oracó es, e rogativas,
para que fe digne , que a fua alma no palacio da
gloria Reqtitefcat in pace. Em te rceiro , e ultimo
lugar para que fiquem em eterna lembranga na
pofteridade fuas Reais acgóes confagray à fua me­
moria efte laconico, e lugubre Epicedio.
EPICEDIUM.
Orsfe r a , mors m qtíam , mors impía , fnorsque fe v e r a ,
In terris unqnmn peius es au fa nefas. *
Ouifu er at concefjafo in s , Cui vita fuperfies ,
Huic jcelerata noces,
celerata necas ?
Cui filera î regalis honor ^ nomenque ,Joa n 7Ùs ^
media tollis , maitts adorf a fcelus ?
Exemplar Regum ^
Lyfia dectis arripls ingens^
tibi cau fa , nefas ijlud ut auja fo res ?
H ic
M
Hicpatri¿e Pater alter e r a t , dzmifceptra vibravit ,
Et fuerat populi commoditatis amatis.
Ingemofu erat folers , ¿r corde benignus \
Sontibus iratus , fupplicibufque pius.
Flagrovit wagm ver£ pietatis amore ;
Optavit templis addere grande decus,
Ejus firmavit ftabilem prudentia pacem \
Dumpax Europa fini bus exul erat.
Canobii Pater Ule fu ti ^fundator <¡^ hu.jusl
Hoc aluit cunéiis , queis er at illude gens.
Innúmeras exhaußt opes, non a ris avarus :
Non fervavit opes , ut fabricar et opus.
A d noßros nimis illefu os exhaufit amores :
In fibris idem nofmet habebat amans.
In corde immenfos amor bos accendit amores :
Naßer enimfu erat fau tor , amanfque Pater.
Hoc ja tis infinuat tumuli cor fronte gravatum\
Indicai hoc nofirtim qtialis amator er at.
Solvere tarn grändern , F ratres , debetis amorem ,
Perpetuas UH centuplicate preces.
Exorate Deum , fit ut ipfe piiffimus tili ;
Sit pius bu ie , fu erat qui pietatis amans.
Aft licet
corpus mafta tumuletur in urna ^
Mens crepta filo ^jam manet ilia polo.
FINIS.
D
••’■Jï
V
y,i^
I'n,
.
■ ■ ■' .
’ ' ^
^
'
■
■ •'"
»> >-»■•■■ 'X V . .
■
' •. V.-*v '
V,
'
.
•-
■v y • •
. ...
Vyi,'-.
,j..; .
-,
\
. •'
•• /
tv-
f -»'y-
.
;.S:
.y '
/
->
'
/ S '
»
X.-d-
0/
o
o
■.
o
(J
/' yo'
/<
ÌL
i; .
>* 'V
1^
' 'aVV
-
•l
■
(
;
Vi
• ,a-
-
t
/ , •: .... ; :•:! Î..- • ; -• r-.-'
•>
'.Je o:*:.
:■
:.•' o
^
'•
í-'í“ '-'
'N ■
'i -. •
'ti
, •'*«v•y<<A'''r*«
■ >^- - __
V,/i>
f-. • •
'V '
ü í ' ' .•■
S-ï^ /-V» > V
.» Í,.
^.; fr-
,'i ;.
m
-fr

Documentos relacionados

i V i - Dadun

i V i - Dadun h e a m e fm a ; fe na m o r t e d i g o , e f a l t a d o noff o R e y p e r d e m o s o m e f m o , q u e a q u e l le s perd e r a ô na d o feu J o s î a s , q u e o u t r a c o u f a d e v e m ...

Leia mais