Efeito do licopeno do tomate na prevenção do câncer de próstata
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Efeito do licopeno do tomate na prevenção do câncer de próstata
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN Efeito do licopeno do tomate na prevenção do câncer de próstata Lycopene’s effect of tomato on prevention of prostate cancer El efecto del lipoceno del tomate en la prevención del cáncer de próstata Ademar Pereira Soares Júnior Graduando do curso de Nutrição da Faculdade NOVAFAPI. E-mail: [email protected] Luciana Melo de Farias Especialista em Distúrbios Metabólicos e Nutrição. Nutricionista. Docente do curso de Nutrição da Faculdade NOVAFAPI. e-mail: lmfarias@novafapi. com.br RESUMO Estudos apontam o licopeno como eficiente inibidor da proliferação celular, evidenciando seu fator preventivo ao câncer de próstata. Neste levantamento bibliográfico, foram utilizadas dissertações, teses, artigos originais e de revisão com o objetivo de abordar o efeito do licopeno presente no tomate e seus derivados como preventivo ao câncer de próstata. Foram incluídos estudos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, no período de 2001 a 2011. Para a busca, os termos de indexação utilizados foram: alimentos funcionais, câncer, licopeno, tomate. Cerca de 85% do licopeno consumido vem do tomate ou de seus derivados, e muitos estudos têm comprovado seu efeito protetor ao câncer de próstata. O tratamento térmico e a homogeneização mecânica do tomate aumentam a absorção do licopeno nos tecidos corporais. O tomate possui antioxidantes que atuam na proteção do organismo, podendo impedir a formação de radicais livres, interceptar os radicais livres gerados pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, evitando a formação de lesões e perda da integridade celular. Também podem reparar lesões causadas pelos radicais livres, removendo danos da molécula de DNA e reconstituindo membranas celulares danificadas. Assim, considera-se que o consumo de tomates e de seus produtos está associado à redução do risco de câncer. Descritores: Alimento funcional. Câncer. Próstata. ABSTRACT Searches lead that lycopene as an effective inhibitor of cell proliferation emphasizing the preventive factor of prostate cancer. On this bibliographic research has been used reports, theses, original articles and reviews which the main purpose is approach the effect of lycopene attendant on tomato and itself derivatives in prevention of Prostate Cancer. It has been seen in Portuguese, English and Spanish languages between 2001 and 2011. For the researches the used terms were: functional food, Cancer, lycopene, Tomato. There about 85% of consumed lycopene comes from tomatoes and itself derivatives and plenty of studies have verified the powerful effect to prevent prostate cancer. The thermal treatment and mechanical homogenization of tomato increase the lycopene’s absorption in our skin. Tomato has antioxidant effect that helps to protect our organism, so it mays prevent formation of free radicals, to intercept the free radicals made by cellular metabolism or even exogenous sources avoiding the formation of injuries and also losing cellular integrity. We can also repair injuries caused by the free radicals removing damage from DNA molecule and rebuilding cell membrane which was damaged. In short, we can consider the consumption of tomatoes and itself products is associated to the reduction of the risk to get cancer. Descriptors: Functional foods. Neoplasms. Prostate. RESUMEN Submissão: 05/01/2012 Aprovação: 28/02/2012 50 Los estudios demuestran lipoceno como inhibidor eficaz de la proliferación celular, demostrando su factor de prevención de cáncer de próstata. Este estudio bibliográfico utilizó tesis, trabajos originales y de revisión a fin de abordar el efecto del lipoceno en tomates y sus derivados como preventivo para el cáncer de próstata. Se incluyeron los estudios publicados en idioma: portugués, inglés y español, Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.2, p.50-54, Abr-Mai-Jun. 2012. Efeito do licopeno do tomate na prevenção do câncer de próstata del periodo de 2001 hasta 2011. Para la búsqueda, los términos de la indexación utilizados fueron: alimentos funcionales, cáncer, lipoceno, tomate. Aproximadamente 85% del lipoceno se consume del tomate o sus derivados, y muchos estudios han probado su efecto protector para el cáncer de próstata. El tratamiento térmico y homogenización mecánica del tomate aumentan la absorción de lipoceno en tejidos corporales. El tomate tiene antioxidantes que trabajan en la protección del cuerpo, puede impedir formación de radicales libres e interceptar los generados por el metabolismo celular o por fuentes exógenas, evitando al mismo tiempo la formación de lesiones y pierda de la integridad celular. También puede reparar los daños causados por los radicales libres, quitando daños de la molécula de DNA y reconstituyendo las membranas celulares dañadas. Por lo tanto, se considera que el consumo de tomates se asocia con menor riesgo de cáncer. Descriptores: Alimentos funcionales. Neoplasia. Próstata. 1 INTRODUÇÃO O licopeno é um carotenóide antioxidante de cor avermelhada encontrado em vegetais como tomate, goiaba, pitanga, melancia, etc. (LEMOS JÚNIOR, BRUNELLI e LEMOS, 2011). Existem em média 600 pigmentos carotenóides encontrados na natureza e 25 no plasma e tecidos humanos, estando o licopeno incluído em ambos. Este caracteriza-se por estrutura simétrica e acíclica, constituído por átomos de carbono e hidrogênio, com 11 ligações duplas conjugadas e 2 ligações não conjugadas. Sendo ainda um pigmento sem atividade pró-vitamina A, apesar do seu efeito protetor contra radicais livres. (WALISZEWSKI e BLASCO, 2010). Estudos apontam uma ação antioxidante dessa substância, sendo portanto, sugerido na prevenção de câncer e doenças cardiovasculares (SHAMI e MOREIRA, 2004; PALOMO et al. 2010). Cerca de 85% do licopeno consumido vem do tomate ou seus derivados, com evidência de que 80 a 90% dos carotenóides presentes nesse vegetal é de licopeno, servindo assim como corante natural ou como um complemento nutricional (MORITZ e TRAMONTE, 2006; GALICIA et al. 2008). O câncer de próstata (CaP) é a neoplasia mais diagnosticada entre homens nos países desenvolvidos, apresentando-se como a segunda causa de morte por câncer nesses países. É uma patologia relacionada com o avanço da idade e sua incidência aumenta progressivamente com esse processo (FONTANA et al. 2009). Esses autores apontam também que há evidências de que o aparecimento do câncer de próstata é favorecido pelos hábitos alimentares ocidentais, como o consumo de alimentos hipercalóricos e hiperlipídicos, ricos em ácidos graxos saturados, assim como pobre em vitamina E, selênio, licopeno e fibras. Este estudo de revisão bibliográfica tem como objetivo abordar o efeito do licopeno presente no tomate e seus derivados como preventivo ao câncer de próstata, usando textos, dissertações, teses, artigos originais e de revisão selecionados em bases de dados como Scielo, Lilacs, Bireme e Pubmed, no período de agosto a outubro de 2011, inseridos no recorte temporal dos últimos 10 anos. Foram incluídos estudos experimentais envolvendo animais, selecionando publicações científicas nas línguas espanhol, inglês e português que se inseriam de alguma forma na discussão do tema proposto. Para a pesquisa foram usados os termos de indexação: tomate, licopeno, biodisponibilidade e câncer de próstata, isoladamente e associados, nas três línguas delimitadas para o estudo. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.2, p.50-54, Abr-Mai-Jun. 2012. 2 BIODISPONIBILIDADE DO LICOPENO A biodisponibilidade representa a parte do nutriente ingerido que tem o potencial de suprir as necessidades fisiológicas dos tecidos; e em geral não corresponde à quantidade ingerida do nutriente. Estando, assim, relacionada a vários fatores, entre eles a forma de apresentação do alimento, a digestão, a captação intestinal e sua absorção, distribuição para os tecidos e sua utilização por eles (MOURAO et al. 2005). Muitos fatores podem influenciar na biodisponibilidade dos carotenóides, entre eles podem ser citados a matriz alimentar; a quantidade do carotenóide na dieta; a presença de fatores inibidores ou facilitadores da absorção; a forma isomérica em que ele se apresenta; a quantidade e tipo de gordura dietética; o processo de absorção; as interações entre os carotenóides; a presença de fibra alimentar na dieta; o processamento de alimentos fontes; o estado nutricional do indivíduo; fatores genéticos; fatores relacionados com o indivíduo e interação entre estas variáveis. Desses fatores aqueles relacionados à dieta têm sido os mais estudados, sendo o principal deles o tipo de alimento em que o nutriente em questão está presente (CAMPOS e ROSADO, 2005). A absorção do licopeno se processa da seguinte forma: após ser consumido, o licopeno se incorpora às micelas dos lipídios da dieta e são absorvidos na mucosa intestinal através de difusão passiva, onde se incorporam aos quilomícrons e são liberados para o sistema linfático para serem transportados ao fígado. Assim, o licopeno é transportado pelas lipoproteínas através do plasma para a distribuição a vários órgãos. Por possuir natureza lipofílica, o licopeno pode ser encontrado também em partes das lipoproteínas LDL, VLDL e HDL. Sendo que essa absorção por humanos é de 10 a 30%, o restante é excretado pelo organismo (WALISZEWSKY e BLASCO, 2010). Moritz e Tramonte (2006) falam de uma pesquisa sobre a biodisponibilidade do licopeno de diferentes matrizes alimentares com 22 mulheres não-fumantes – fator que também influencia na biodisponibilidade dessa substância bioativa –, divididas em três grupos, aos quais foram submetidas à ingestão diária de 5mg de licopeno durante seis semanas. O grupo 1 ingeriu cápsulas de licopeno oleaginoso (lic-o-mat); o grupo 2 ingeriu uma quantidade equivalente de tomate cru; e o grupo 3 ingeriu suco de tomate. Verificaram que a absorção foi semelhante nos grupos que recebeu as 5mg do licopeno administrado em cápsula oleaginosa e em suco de tomate. Já no grupo que ingeriu o tomate cru, não foi observado diferença estatisticamente significativa em sua biodisponibilidade, se comparado aos demais grupos, sendo essa menor absorção devida à presença da matriz alimentar, que pela presença de outros carotenóides, diminuiu a biodisponibilidade do licopeno. Esses autores ainda ressaltam que a absortividade do licopeno pode ser aumentada quando se utiliza derivados do tomate em detrimento ao produto in natura. O calor, o processamento e a associação com lipídios favorecem esse aumento. Isso é mostrado através de um estudo em que o consumo de molho de tomate cozido em óleo resultou em um aumento, um dia após a sua ingestão, de duas a três vezes da concentração sérica de licopeno, embora nenhuma alteração tenha sido observada no consumo do suco de tomate fresco. 3 OS RADICAIS LIVRES E O CÂNCER DE PRÓSTATA O câncer é definido como uma doença crônica de várias etiologias, que se caracteriza pelo crescimento descontrolado das células. É apon51 Júnior, A. P. S.; Farias, L. M. tada como uma das principais causas de mortalidade no mundo e sua prevenção se tornou uma meta importante no campo da ciência. O desenvolvimento do câncer está associado a fatores endógenos, ambientais e da interação entre eles, sendo a dieta um dos principais fatores (GARÓFOLO et al. 2004). O CaP envolve a proliferação de células epiteliais localizadas na zona periférica da glândula prostática. No entanto, a causa exata dessa patologia ainda é desconhecida. Pode ir de uma lesão latente focal para um estágio avançado, ou ainda para uma doença metastática sem a formação de nódulos no interior da glândula (BOZZETTO, 2009). Os radicais livres são átomos ou moléculas produzidas nos processos metabólicos. Eles atuam como mediadores para a transferência de elétrons nas reações bioquímicas. As mais relevantes fontes de radicais livres são as organelas citoplasmáticas que geram grande quantidade de metabólitos. Metabolizam o oxigênio, o nitrogênio e o cloro e o seu alvo celular (proteínas, lipídeos, carboidratos e moléculas de DNA) está relacionado com seu sítio de formação. O desequilíbrio no organismo pela geração excessiva de radicais livres ou redução da velocidade de remoção destas espécies, é conhecida como estresse oxidativo e pode conduzir à oxidação maciça de substratos biológicos. A cronicidade desse estresse oxidativo pode estar envolvida, além do próprio processo de envelhecimento, com o aparecimento e desenvolvimento de um grande número de doenças, entre elas o câncer e a aterosclerose (SHAMI e MOREIRA; SCHNEIDER e OLIVEIRA, 2004). Como fontes exógenas de radicais livres encontramos as radiações gama e ultravioleta, os medicamentos, a dieta, o cigarro e os poluentes ambientais. As modificações oxidativas do DNA são uma das causas mais importante da mutagenicidade. Com isso, as moléculas de teor antioxidante se mostram como potenciais preventivos dos processos oxidativos na oncogênese. Muitos estudos mostram que o consumo de frutas e verduras reduzem o risco de aparecimento de alguns tipos de câncer. Nisso, pesquisas demonstram que o licopeno do tomate diminui especialmente o risco do CaP (PALOMO et al. 2010). Bozzeto (2009) realizou um ensaio clínico, randomizado, controlado com 156 homens, com idade entre 45 e 75 anos, com diagnóstico histológico de hiperplasia prostática benigna (HPB) e níveis séricos do antígeno protástico específico (PSA) entre 4 e 10 ng/ml. Foram distribuídos em três grupos de tratamento: licopeno (15 mg/dia), extrato de tomante (50 g/dia) e placebo. Ao final o único grupo em que os valores séricos de PSA total não se elevaram foi o do extrato de tomate. Encontrou-se também efeito dos três grupos de tratamento sobre as variáveis estudadas, evidenciando um efeito placebo. No entanto, o estudo mostra uma redução dos níveis séricos de PSA livre nos indivíduos que utilizaram extrato de tomate, em comparação ao grupo que recebeu licopeno. O autor evidencia a necessidade de ensaios clínicos que comparem indivíduos ingerindo extrato de tomate com indivíduos que restrinjam esse alimento por longo tempo, para assim determinar se a ingestão de extrato de tomate tem impacto em desfechos clínicos, em homens com HPB. Um estudo semelhante foi realizado por Edinger e Koff (2006) com 43 homens, com idade de 45 a 75 anos, histologicamente diagnosticados com HPB e PSA de 4 a 10 ng/ml. Todos os pacientes receberam 50 g de pasta de tomate por dia durante 10 semanas consecutivas, sendo que os níveis de PSA foram analisados antes, durante e após o consumo da pasta de tomate. A ingestão diária de 50 g de pasta de tomate durante as 10 semanas reduziu significativamente os níveis de PSA no 52 plasma dos pacientes com HPB, provavelmente como resultado da alta quantidade de licopeno na pasta de tomate. O desenvolvimento de CaP é tipicamente acompanhado por um aumento nos níveis plasmáticos de PSA, portanto, qualquer intervenção que afeta esses níveis pode sugerir um impacto na progressão da doença. Em outro estudo realizado por Sendão (2004), investigou-se o efeito mutagênico de diferentes doses do licopeno e o seu possível efeito protetor sobre as aberrações cromossômicas induzidas pela cisplatina (cDDP), que é um agente antineoplásico usado para o tratamento de pacientes com cânceres, mas que está associada com vários efeitos colaterais, incluindo indução de aberrações cromossômicas. Os animais tratados de forma aguda e subaguda com diferentes doses do licopeno e com o antitumoral cDDP, mostraram uma redução significativa no total de aberrações cromossômicas e no número de metáfases com aberrações cromossômicas, comparado com os animais tratados apenas com a cDDP. Esta proteção do licopeno sobre os danos cromossômicos induzidos pela cDDP pode ser atribuída à capacidade deste carotenóide de seqüestrar radicais livres. 4 O FATOR ANTIOXIDANTE Os antioxidantes são substâncias que mesmo em baixas concentrações, quando comparadas a um substrato oxidável, reduzem ou inibem a oxidação desse substrato. O sistema de anti-oxidação é composto por agentes enzimáticos e não-enzimáticos, podendo estar presentes no organismo ou nos alimentos ingeridos. Os carotenóides reagem com radicais livres, em especial com os radicais peróxidos e com o oxigênio molecular, sendo essa a base de sua ação antioxidante. Carotenóides, incluindo o licopeno, exercem funções antioxidantes em fases lipídicas, bloqueando os radicais livres que danificam as membranas lipoprotéicas (SHAMI e MOREIRA, 2004). Embora as defesas antioxidantes endógenas sejam efetivas, não são infalíveis, e constantemente há formação de radicais livres que interagem em diferentes níveis com o ambiente celular antes de serem eliminadas. A eliminação desses radicais não é favorecida em condições fisiológicas normais, devido às baixas concentrações dos agentes antioxidantes, que são a principal forma de eliminação e interrupção de reações em cadeias propagadas pelos radicais livres (CERQUEIRA, MEDEIROS e AUGUSTO, 2007). Matos et al. (2006), mostraram através de um estudo in vivo o efeito de proteção do licopeno e do ß-caroteno contra danos causados pelo estresse oxidativo induzido por ferro na próstata de ratos. Para o estudo eles se utilizaram da análise de 8oxo7,8dihidro2´desoxiguanosin a (8oxodGuo), um importante marcador de estresse oxidativo do DNA. Segundo eles os ratos suplementados com licopeno ou ß-caroteno por 05 dias antes do tratamento de oxidação induzida mostrou uma redução de cerca de 70% dos níveis de 8-oxodGuo. Concluindo-se que o pré-tratamento com o Licopeno ou ß-caroteno impediram quase que completamente o dano lipídico nesses animais. Devido ao seu sistema de ligações duplas conjugadas, o licopeno é uma substância rica em elétrons, susceptíveis de serem atacados por reativos eletrofílicos. Assim, o licopeno pode se unir ao oxigênio singleto e aos radicais livres como o radical hidroxila (HO) e vários radicais peróxidos. Este comportamento é a base de sua ação antioxidante nos sistemas biológicos, sendo, portanto, um eficiente agente quimiopreventivo (VITALE, BERNATENE e POMILIO, 2010; CARVALHO et al. 2005). Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.2, p.50-54, Abr-Mai-Jun. 2012. Efeito do licopeno do tomate na prevenção do câncer de próstata 5 O USO PREVENTIVO E A RECOMENDAÇÃO DIÁRIA O principal objetivo dos oncologistas no tratamento de pacientes com câncer é tentar melhorar a taxa de sobrevida dos pacientes, o que inclui a combinação quimioterápica com ou sem terapia de radiação. Devido a constante sensação de tristeza, medo, raiva, como resultado do alto índice de mortalidade, os pacientes freqüentemente optam também por terapias complementares e alternativas. Entre elas o uso de substâncias antioxidantes, recomendada para pacientes oncológicos durante o tratamento neoplásico citoredutor. Sabe-se que os antioxidantes podem ser úteis na redução dos efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, por reduzir sua toxicidade. No entanto, há a necessidade de mais estudos para avaliar se os antioxidantes podem ou não reduzir a eficiência dos tratamentos radio ou quimioterápico sobre as células cancerosas (SENDÃO; ZAPATERO, 2004). Fontana et al. (2009) , realizaram um estudo com o objetivo de analisar e comparar o índice de massa corporal (IMC) e o histórico alimentar, especialmente o consumo de gorduras e antioxidantes, em sujeitos diagnosticados com CaP e sujeitos sem a patologia. Observou-se que o IMC foi maior nos sujeitos com CaP em comparação ao grupo controle, porém sem variações significativas. Embora tenha sido observada uma correlação direta entre o IMC e a agressividade do tumor. O consumo de gorduras totais, saturadas, monoinsaturadas e poliinsaturadas foi significativamente maior pelos sujeitos com CaP. Enquanto que o consumo de ácidos graxos ω3, vitamina C e licopeno foi significativamente menor. Os autores concluíram que um peso saudável e uma alimentação pobre em gorduras totais, saturadas, monoinsaturadas e poliinsaturadas; e ricas em ácidos graxos ω3, vitamina C e licopeno se associam a um menor risco de CaP. Atualmente não se sabe a quantidade exata da ingestão diária de licopeno. Estudos epidemiológicos podem trazer informações importantes sobre os níveis de licopeno que se pode utilizar, ainda que não se tenha chegado a uma dose padrão devido à grande variedade de concentração de licopeno em suas diversas fontes. Alguns estudiosos não reconhecem a importância do licopeno para a saúde por sua falta de atividade pró-vitamina A. No entanto a evidência do efeito preventivo do licopeno para a saúde humana despertou um grande interesse por parte dos nutricionistas e outros profissionais da saúde que sugerem níveis de ingestão diária baseados em conhecimentos científicos (WALISZEWSKI e BLASCO, 2010). Lemos Júnior et al. (2011), sugerem que o consumo de uma porção por dia de tomate ou derivados pode apresentar um efeito protetor contra danos ao DNA. É sabido também que altas concentrações de licopeno no sangue estão associadas ao menor risco de desenvolvimento de CaP (SANTILLO e LOWE, 2006; NUNES e MERCADANTE, 2004). No entanto, não existe uma quantidade específica, mínima ou máxima, prescrita de licopeno a ser considerada segura para ingestão. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.5, n.2, p.50-54, Abr-Mai-Jun. 2012. Estudos apontam que consumir entre 05 e 10 mg de licopeno por dia é suficiente para a obtenção dos benefícios desse nutriente. Alguns autores sugerem o consumo médio de 04 mg/dia de carotenóides, não ultrapassando 10 mg/dia. Contudo, pesquisas foram realizadas utilizando uma dose de licopeno de 25 mg/dia, sendo que 50% desse valor foi obtido através da ingestão de tomates frescos. Devido ao fato de os tomates frescos serem menos biodisponíveis que os processados, os autores aconselham uma maior ingestão de alimentos processados. Com isso, sugere-se o consumo de 35 mg/dia de licopeno (SHAMI e MOREIRA, 2004; MORITZ e TRAMONTE, 2006). O uso de tomate na prevenção ao câncer é facilitado pelo fato desse ser um alimento comum, presente em muitas dietas e preparações típicas. Tanto o tomate in natura como seus derivados são considerados alimentos saudáveis pelo baixo teor calórico e lipídico, estando portando livre de colesterol e por ser uma boa fonte de fibra e proteína. (WALISZEWSKI e BLASCO, 2010). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos estudos evidenciam a importância de se estudar o efeito do licopeno sobre o organismo humano, principalmente no que diz respeito ao seu efeito preventivo a diversas patologias. Em análise dos estudos já realizados é possível observar os benefícios do licopeno proveniente do tomate, que é um produto largamente consumido em todo o mundo. Estudos experimentais e clínicos destacam a propriedade antioxidante dessa substância, assim como seu papel na prevenção de alguns tipos de câncer, em especial ao câncer de próstata. Ainda que se reconheça a importância do licopeno para a saúde humana, mesmo este sendo um carotenóide sem atividade pró-vitamina A, não se tem nenhum consenso sobre seus reais efeitos no câncer, sendo considerado apenas o fator preventivo. Não há também consenso sobre a quantidade mínima ou máxima da substância a ser ingerida por dia, fazendo-se necessários mais estudos com esse fim. Neste estudo foi apresentado um levantamento bibliográfico acerca do efeito do licopeno na prevenção do câncer de próstata, evidenciando seu fator antioxidante. Estudos dessa natureza têm sua importância pelo fato de alertar os profissionais da Nutrição para a correta prescrição de alimentos ricos em licopeno, que é encontrado em um número limitado de fontes alimentares. Considera-se importante o incentivo ao consumo de tomates e derivados, visando a redução do risco de desenvolvimento do câncer de próstata e de outras doenças crônicas. Diante disso, deve ser fortalecido o incentivo a novos estudos que visem complementar o conhecimento acerca do licopeno e seus efeitos sobre o organismo humano, em especial para se chegar a um valor de recomendação diária; novos esclarecimentos acerca de sua biodisponibilidade e sua ação sobre o sistema imunológico. 53 Júnior, A. P. S.; Farias, L. M. REFERÊNCIAS BOZZETTO, M. E. S. Efeito do Licopeno e do Extrato de Tomate Sobre os Níveis Séricos de PSA Total e Livre, Testosterona, IGF-1 e Sintomas Prostáticos em Pacientes com Hiperplasia Prostática Benigna: Um Ensaio Clínico Randomizado Controlado. 2009. 111 f. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul. 2009. CAMPOS, F. M.; ROSADO, G. P. Novos fatores de conversão de carotenóides provitamínicos A. Ciênc. Tecnol. Aliment. Campinas, v. 25, n.3, p. 571-578, jul.-set. 2005. CARVALHO, W. et al. 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