Prof. Dr. António Rochette

Transcrição

Prof. Dr. António Rochette
ORDENAMENTO E PLANEAMENTO DE EQUIPAMENTOS DESPORTIVOS COM BASE NUM
PROJECTO DE CARTOGRAFIA DINÂMICA.
Bases metodológicas na passagem da análise de âmbito autárquico para âmbito nacional
A. M. ROCHETTE CORDEIRO∗
O conhecimento do território é hoje premissa fundamental nas questões do Planeamento e do
Ordenamento. Nunca como agora, o estudo preciso da ocupação do solo, a nível concelhio, regional, ou
mesmo nacional, se impôs com tamanha premência.
A necessidade de planificar novos investimentos, tendentes à implementação de infra-estruturas, tanto
em municípios que apresentam deficiências e distorções graves, como em perspectivas de investimentos
intermunicipais ou regionais, esteve na base do desenvolvimento de um projecto de elaboração de cartas
de equipamentos desportivos intermunicipais.
Num país onde os recursos financeiros são limitados, constata-se que existe, ainda, um longo caminho a
percorrer no âmbito do planeamento ao nível dos equipamentos e, em especial, dos desportivos.
Com a concretização do projecto de cartas de equipamentos desportivos concelhias (Cordeiro et al.,
2003; Cordeiro et coll., 2005), as respectivas autarquias passaram a dispor de ferramentas capazes de
analisar a situação actual no seu território, assim como criar modelos virtuais de simulação dos efeitos
criados pela introdução de novas variáveis no sistema. No entanto, estas cartas municipais encontram-se
confinadas unicamente às suas próprias fronteiras.
Tendo como base a realização de diferentes cartas concelhias contíguas, e com a informação recolhida e
trabalhada, passou a ser possível o implementar da tão desejável análise intermunicipal de equipamentos
(Cordeiro et al., 2005), facto que poderá vir a permitir, no futuro, a optimização dos investimentos
públicos, em especial nos sectores de fronteira ou nas diferentes infra-estruturas de nível superior –
especializados, de competição e de espectáculo.
Foi neste contexto que foi desenvolvido um projecto de “Informação Georeferenciada Interterritorial
Desportiva” (IGID), no qual um Sistema de Informação Geográfica se apresentou como peça
fundamental, com diferentes bases de dados a abarcarem todo um conjunto de campos temáticos equipamentos desportivos, índices de referência, demografia, rede escolar, estradas e rede de
∗
Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - 3000-447 – Coimbra.
[email protected]
1
transportes públicos, entre muitos outros -, tornando possível a criação de uma cartografia
permanentemente actualizável, bem como a capacidade de decisão de um qualquer utilizador,
impensável há alguns anos.
Nesta nova fase de desenvolvimento do projecto tentaram enquadrar-se outras variáveis associadas aos
diferentes tipos de espaços, assim como de outras valências do processo desportivo. Conseguiu-se
assim associar num mesmo projecto as “Cartas de Desporto Aventura em Espaços Naturais”, os
“Parques Infantis” e o “Movimento Associativo”, apresentando-se mesmo a primeira com possível
visualização em três dimensões (3D).
Um pressuposto, no entanto, deve ser de imediato realçado. Quanto melhor se conhece a realidade
presente de um território, melhor este pode ser gerido e perspectivado. O conhecimento espacial dos
equipamentos é algo que se impõe para uma correcta gestão do espaço e um verdadeiro planeamento
sustentável. Contudo, coloca-se a questão: Será a actual geração capaz de tirar o máximo partido dos
instrumentos que tem à sua disposição? Esta é uma resposta que as próximas gerações dirão, cabendo a
cada um de nós, desde os agentes decisores ao cidadão comum, alterar as tendências que ainda se
verificam no nosso território neste início do século XXI.
1 - Contextualização da problemática
Quando se desenvolveram os projectos de cartas dinâmicas de Equipamentos Desportivos autárquicos,
num primeiro momento, existiu um cuidado efectivo de se equacionar esses territórios ao nível do
planeamento urbano, embora apenas em termos das infra-estruturas desportivas artificiais. Contudo, este
cuidado obrigou a uma especial atenção à integração dos espaços considerados como informais –
relvados, parques com espaços livres, entre outros –, que deveriam ser assumidos como verdadeiro
“mobiliário” urbano visando, deste modo, a qualidade de vida dos residentes e proporcionando, à
semelhança dos espaços verdes públicos, uma revitalização urbana (FERREIRA, 2003).
A tarefa de planear e conceber uma rede de equipamentos desportivos, que satisfaça a procura por parte
dos diferentes segmentos da população, impõe um prévio conhecimento e análise das características dos
existentes, “obrigando”, por essa razão, à inventariação da totalidade dos equipamentos do território
municipal.
Com as novas exigências de espaços e condições, os equipamentos devem, assim, responder às
necessidades das populações, procurando cobrir o mais amplo espectro de actividades, tomando sempre
em consideração que a vocação primeira das autarquias, isto em termos desportivos, deve ser o da
criação de infra-estruturas de base, entre as quais se devem integrar aqueles espaços que são
designados como “logradouros desportivos”.
2
Assim, deve ser referido que a totalidade dos espaços onde se realizam actividades desportivas devem
ser agrupados em três grandes grupos:
- espaços naturais;
- espaços verdes “construídos” ou adaptados;
- espaços artificiais ou equipamentos propriamente ditos.
Os espaços naturais são aqueles que se apresentam sem interferências antrópicas (ou mesmo ligeiras),
permitindo, a realização de determinadas práticas desportivas sem que, para tal, seja necessário uma
qualquer edificação ou mesmo arranjo material dos espaços (DGOTDU, 2002).
Ao analisar-se os territórios concelhios verifica-se que este tipo de espaço pode apresentar potencial
muito diversificado. Se um município se localiza no litoral, neste território pode ser praticado todo um
conjunto de actividades desportivas associadas ao mar e à linha de costa (surf, o windsurf, o bodyboard,
a vela, a pesca ou o mergulho/pesca submarina) sem que, para tal, tenha existido qualquer intervenção
humana. De igual modo, a utilização das lagoas ou de uma baía pode ser feita pelos praticantes de vela
ou remo, num idêntico contexto.
Nos nossos dias, e em função de uma nova perspectiva de se encarar o desporto a actividade física, nos
terrenos irregulares das montanhas ou nos espaços florestais, provas de BTT, escaladas, provas de
orientação, entre muitas outras associadas aos desportos aventura, são actividades desportivas
(enquadradas ou não) que observam um crescendo de prática no nosso país, e que se desenvolvem
preferencialmente nestes espaços naturais.
Por outro lado, observam-se os que foram por nós considerados como espaços “verdes construídos” ou
adaptados e que são espaços que, sem o serem verdadeiramente, devem ser equacionados como
espaços para a prática desportiva. Alguns integram os habitualmente designados de verdes públicos, um
pouco no entendimento do “mobiliário” urbano, pensado numa fase preliminar para integrar territórios de
fruição que associam diferentes componentes do lazer, essencialmente no sentido da filosofia de
“corredores verdes” (CORDEIRO, 2005). Outros são aqueles espaços desportivos adaptados após
intervenções antrópicas com vista a outras finalidades que não o desporto (CORDEIRO et al., 2003) .
Referimo-nos, no primeiro caso, a circuitos de manutenção ou mesmo campos de futebol ou voleibol que
são utilizados (permanentemente ou não) nos espaços relvados existentes, enquanto que no segundo
caso, podem encontrar-se inúmeros exemplos, os melhores dos quais são os sectores portuários ou as
barragens que servem inúmeras vezes para todo o tipo de desportos náuticos.
De igual modo podem ser considerados os espaços que são utilizados de uma forma complementar,
com outras actividades. Um aeródromo do interior, por exemplo, pode servir como tal, como apoio ao
combate a incêndios, mas também pode servir de espaço para actividades ligadas ao balonismo, ao
3
parapente ou à asa delta, ou mesmo de base logística à iniciação de todo um conjunto de actividades
associadas ao desporto de aventura.
Quanto aos espaços artificiais ou equipamentos construídos são os espaços que se encontram
vocacionados para a prática desportiva formal e que se encontram, por norma, identificados como
destinados a equipar os subsistemas de actividades desportivas. A sua construção implica sempre uma
aplicação de meios financeiros (mesmo que diminutos).
Estes equipamentos desportivos de base englobam todo o conjunto de tipologias de espaços que
integram os “Grandes Campos de Jogos”, as “Pistas de Atletismo”, os “Pequenos Campos de Jogos”, os
“Pavilhões Desportivos Polivalentes”, as “Salas de Desporto”, as “Piscinas Cobertas” e as “Piscinas de
Ar livre”1. São aqueles, que no essencial, se encontram associados ao desporto formativo e recreativo,
objecto fundamental dos projectos desenvolvidos no âmbito autárquico (CORDEIRO et al., 2005).
Existem outros equipamentos que devem ser igualmente referidos, até porque são aqueles cuja
programação se deve enquadrar no âmbito do projecto agora apresentado: os especializados, de alto
rendimento ou de espectáculo.
Porém, parece ser evidente que num projecto de equipamentos desportivos intermunicipais, outro tipo de
análise deve ser equacionada, com a concretização um novo campo de estudo relacionado com a
hierarquização da malha de equipamentos, tomando em consideração as diferentes situações tipo:
equipamentos de bairro, escolares, locais, concelhios, intermunicipais ou nacionais.
2 - Algumas bases metodológicas
O projecto agora apresentado – Informação Georeferenciada Interterritorial Desportiva (IGID) - assume
como plataforma fundamental, um Sistema de Informação Geográfica, no qual se interliga todo um
conjunto de diferentes bases de dados que integram diversos campos temáticos associados aos mais
variados aspectos relacionados com o fenómeno desportivo.
A primeira fase de desenvolvimento dos projectos obriga à identificação, localização e inventariação dos
diferentes equipamentos em cada município, tal como a respectiva georeferenciação que culmina com a
criação de diferentes base de dados, uma representativa de cada uma das diferentes “tipologias”, outra
relativa ao “movimento associativo”, outra ao “desporto aventura” e ainda uma outra relativa aos “parques
infantis”.
A estas bases de dados vão associar-se, em plataforma, bases de dados que integram temáticas muito
díspares. Nestas foram integradas, num primeiro momento de evolução do projecto, a demografia
(passada presente e prospectiva), e que é efectuada, por seu turno, a diferentes escalas (pode ir do lugar
1 A tipologia utilizada refere-se à que tem vindo a ser descrita pelo IDP ao longo das últimas décadas. Porém, e conforme foi
anteriormente referido, por força de todas as transformações que a actividade física e as práticas desportivas têm vindo a sofrer
neste período, julga-se ser urgente a sua modificação (CORDEIRO et al., 2003).
4
ao distrito, passando pela subsecção estatística, freguesia e concelho ou mesmo áreas de planeamento),
as características físicas do território (hipsometria, declives, exposições, etc.), as características do
construído (evolução histórica, situação actual e projecções com base nos loteamentos aprovados), a
rede viária, a rede educativa (especialmente os estabelecimentos do 1º CEB e de todos os outros que
integram equipamentos desportivos), assim como em alguns concelhos outras temáticas julgadas
pertinentes, por exemplo unidades de saúde (Fig. 1).
Figura 1 – Visualização da plataforma desenvolvida – IGID – onde se pode observar a totalidade das temáticas
introduzidas, assim como o fácil manuseamento por parte do utilizador.
Construiu-se, assim, uma vasta e complexa rede de informação relacionada directa ou indirectamente
com a totalidade dos aspectos desportivos concelhios, à qual foi ainda associada uma base de dados
referente aos índices de comunidade (referência), quer gerais, por concelho e por freguesia (ou mesmo
por áreas de planeamento), quer por tipologia.
De modo a ser concretizada a interligação entre toda esta informação, foi desenvolvido a plataforma de
Informação Georeferenciada Interterritorial Desportiva (IGID), que assenta na criação de um módulo que
permite a disponibilização de toda a informação alfanumérica sincronizada com a informação cartográfica
georeferênciada, facto que só foi possível recorrendo a um conjunto de diferentes tipos de programação,
que alternam entre o software mais vocacionado para a disponibilização da cartografia e uma aplicação
desenvolvida especificamente para a leitura e disponibilização de dados alfanuméricos (Fig. 2).
5
Figura 2 – Exemplo da sincronização das bases de dados e a cartografia georeferenciada concretizado a partir de um
pequeno campo na Carta de Equipamentos Desportivos do Município da Figueira da Foz.
Assim, em permanência e em contínuo, podem associar-se aos aspectos referidos, e não directamente
relacionados com o fenómeno desportivo, todos aqueles que se relacionam com este, e que são
apresentados em bases de dados individualizadas: equipamentos desportivos artificiais por tipologia, o
movimento associativo, os parques infantis e o desporto aventura. Todos eles podem ser visualizados,
quer através de bases de dados simples, quer através de bases cartográficas.
Deve entender-se este processo como sendo complexo mas, ao mesmo tempo, de grande objectividade,
desenvolvendo-se todo o projecto com a finalidade de uma grande funcionalidade para os utilizadores.
Esta encontra-se de acordo com as necessidades e dificuldades sentidas pelos decisores e/ou
planeadores no que respeita à permanente actualização, à manipulação e à visualização simultânea de
toda a informação alfanumérica e cartográfica georeferenciada.
Assim, qualquer alteração, eliminação ou introdução poderá ser realizada em duas plataformas, de modo
dinâmico. Qualquer destas operações pode ser realizada em qualquer sentido, mantendo as
propriedades e mostrando o dinamismo da Carta de Equipamentos Desportivos.
6
3 - Alguns exemplos das potencialidades desta metodologia
A realização de diferentes cartas concelhias contíguas, através de informação georeferenciada, recolhida
e trabalhada, tornou possível o implementar da tão desejável gestão intermunicipal de equipamentos,
facto que pode vir a permitir, no futuro, a optimização dos investimentos públicos, em especial nos
sectores de fronteira ou nas diferentes infra-estruturas de nível superior – especializados, de competição
e de espectáculo.
No entanto, algo deve ser referido de imediato. A construção deste projecto foi direccionado,
preferencialmente, tendo como objecto preferencial o utilizador, criando-se uma plataforma onde toda a
informação se encontra disponível através de opções simples ou complexas mas sempre de execução
imediata.
Com base no IGID a gestão de um parque desportivo à escala intermunicipal (ou mesmo nacional) passa
a ser possível quer através da análise geral dos equipamentos, quer através da selecção e análise de
uma ou várias tipologias (na Fig. 3 seleccionou-se apenas a tipologia “pavilhão”). Deste modo, estaremos
mais próximos de uma análise que se aproxima, não só das necessidades dos agentes de planeamento,
mas também das carências dos potenciais utilizadores.
Como se pretende demonstrar, a necessidade de colmatar tais necessidades não pode ser reduzida aos
limites de um só município, isto sob pena de facilmente se caminhar para duplicação de equipamentos.
Tornou-se assim necessária a interacção entre cartas de municípios contíguos de modo a optimizar a
utilização dos diferentes espaços.
O caso da tipologia “Pavilhão” (Fig. 3) assume alguma importância no contexto intermunicipal, não só
pelos custos de construção destes equipamentos, mas também pela sua funcionalidade e polivalência.
Assim, parece-nos ser interessante observar numa primeira fase e num trabalho com estas
características, a gestão integrada e a análise dos padrões de distribuição espacial dos mesmos.
Em sectores limítrofes de diferentes municípios a construção de um equipamento desta tipologia (ou
mesmo a recuperação de algum já existente), deve ser equacionado de modo a se evitar a duplicação de
infra-estruturas, cuja taxa de utilização facilmente se pode prever que se vai apresentar reduzida (Fig. 3).
7
Figura 3 – Carta Intermunicipal – tipologia “Pavilhão” analisada num primeiro momento de aproximação.
A título de exemplo, e como forma de se perspectivar o modo de funcionamento, no sector em destaque
(Fig. 4), um único pavilhão com dimensões standard para um conjunto de modalidades poderia servir de
apoio, isto de uma forma clara, o sector Oeste do Município de Cantanhede – (Freguesia da Tocha), o
sector Norte da Figueira da Foz (Freguesias de Bom Sucesso, Ferreira-a-Nova e Moinhos da Gândara),
assim como parte território do concelho de Montemor-o-Velho (parte das Freguesias de Arazede e
Liceia). Globalmente, estes são sectores com totais e densidades populacionais bastante reduzidas (esta
variável pode ser de imediato colocada no ecrã), claramente insuficientes para a ocupação razoável de
mais que um pavilhão, pelo que o Pav. da Escola Básica do 2º e 3º Ciclo da Tocha poderia vir a ser
potenciado para esta vasta área. Assim, no futuro, com o entendimento entre os municípios, este pavilhão
deveria servir esta vasta comunidade, assumindo-se este sector como uma área de planeamento
intermunicipal.2
Situação antagónica verifica-se no limite dos municípios de Montemor-o-Velho e Coimbra a norte do rio Mondego.
Dois pavilhões foram construídos a uma distância de poucos quilómetros, servindo populações reduzidas em
qualquer dos concelhos, levando a que ambos os equipamentos apresentem uma diminuta actividade desportiva.
2
8
Figura 3 – Pavilhões dos sectores limítrofes dos Municípios de Cantanhede, Figueira da Foz e Montemor-o-Velho.
Este caso analisado para a tipologia “pavilhão” apresentou-se, como se observou, de uma clareza
singular na optimização desta área de planeamento no âmbito dos equipamentos desportivos artificiais.
Aliás, basta observar-se como podem ser integrados num mesmo momento, temáticas tão diferentes
como a divisão administrativa, a variação populacional intercencitária por freguesia e os grandes campos
(Fig. 4).
Figura 4 – Análise de diferentes temáticas associadas à relação entre a tipologia “Grandes Campos” (localização e tipos
de piso) e a variação populacional intercensitária por freguesia (Município da Lousã).
9
Num momento seguinte podem identificar-se os grandes campos por tipo de piso (ou qualquer outra
variável pretendida), ao mesmo tempo que pode associar-se o Movimento Associativo, tomando-se de
imediato conhecimento de quais os espaços desportivos que se encontram sem actividades quotidianas.
Numa fase mais recente do desenvolvimento do projecto, procurou-se a integração de novos campos de
informação. Foi nesse sentido, e devido à solicitação de autarquias que têm no “Desporto Aventura” uma
mais valia da promoção da actividade física no seu território (assim como a promoção turística), que se
tentou com êxito a integração desta “vertente” desportiva, quer nas cartas municipais, quer nas
intermunicipais.
Assim, foi possível concretizar, numa mesma plataforma, a totalidade das actividades desportivas de
aventura (inclusive por temas específicos – actividades de cordas, BTT, parapente, percursos pedestres,
canoagem, etc.), sendo possível, no momento actual, a sua visualização através de modelos de 3D
(Figura 5), a partir do qual se podem ainda observar as características dos percursos ou retirar as
coordenadas por GPS, isto entre muita outra informação.
Figura 5 – Desporto Aventura analisado através da visualização em 3D dos percursos pedestres e de BTT (Serra da
Lousã).
Relativamente aos equipamentos de alto rendimento, especiais ou de espectáculo, estes podem ser
diferenciados em espaços de índole Internacional, Nacional, Regional, Concelhio ou Local.
Assim, com base na metodologia desenvolvida para a realização da Carta de Equipamentos Desportivos
Intermunicipal, pode a qualquer momento conhecer-se os equipamentos disponíveis para a realização de
um determinado evento, quer seja internacional ou nacional, ou não criar um novo equipamento de custos
muito elevados sem que os critérios de planeamento estejam devidamente equacionados (por exemplo
10
população a servir). Por outro lado, através da interacção entre a informação geográfica e matricial
podemos aferir, de imediato, todo um conjunto de atributos do equipamento, permitindo o seu total
conhecimento e possibilitando uma melhor adaptação ao tipo de competição e de modalidade pretendida.
4 - Alguns aspectos conclusivos
O papel do planeamento apresenta-se, cada vez mais, como um aspecto decisivo no desenvolvimento
sustentável de um território, uma vez que as decisões hoje tomadas não devem servir para a resolução
“imediatista” de problemas do presente, antes devendo perspectivar condições futuras.
A constatação de que existe um longo caminho a ser percorrido no âmbito do planeamento ao nível dos
equipamentos, e no caso particular dos desportivos, é algo que facilmente se reconhece quando se
percorre o nosso país. O investimento nas infra-estruturas desportivas é fruto, não raras vezes, de acções
isoladas, normalmente sem planificação prévia e sem estudos ponderados, levando inúmeras vezes a
“amontoados” de tipologias de equipamentos desportivos que manifestam uma visível falta de
planeamento e de visão prospectiva.
A duplicação de infra-estruturas sem que as taxas de utilização das primeiras estejam ultrapassadas, o
desconhecimento sobre as necessidades face à evolução demográfica e as dificuldades de definir
critérios para financiamento ou de gestão de equipamentos de zonas periféricas são alguns dos inúmeros
problemas que se colocam nos nossos dias, não só às divisões de desporto das autarquias, mas também
às inúmeras estruturas do poder central que definem os financiamentos, ou a construção de novas infraestruturas desportivas – IDP, CCDRs, Ministério da Educação, entre outras.
O projecto que se tem vindo a desenvolver, ao longo dos últimos três anos, apresentou como plataforma
fundamental um Sistema de Informação Geográfica (SIG), no qual se interligou em plataforma um
conjunto de diferentes bases de dados que integram diferentes campos temáticos: equipamentos
desportivos, movimento associativo, demografia, rede educativa, parques infantis, estradas e rede de
transportes públicos, entre outros que interagem entre si.
Esta plataforma proporciona a elaboração de cartografia temática, permanentemente actualizável, a qual
passa a conceder ao utilizador e a quem decide uma capacidade de previsão e decisão impensável até
há alguns anos. A classificação automatizada das diferentes variáveis possibilita o desenvolvimento de
ficheiros de gestão de equipamentos desportivos, assim como a criação de modelos tridimensionais, sua
manipulação e integração em sistemas multidisciplinares de análise.
A primeira fase de desenvolvimento do projecto visou a concretização de projectos individuais (de
preferência em contínuo), em ambiente SIG, de “Cartas de Equipamentos Desportivos Artificiais
Autárquicos”, passando, com estas cartas, os municípios a dispor de um melhor conhecimento da
11
realidade do seu parque desportivo, passando a ter disponível uma ferramenta de análise capaz de criar
modelos virtuais de simulação dos efeitos criados pela introdução de novas variáveis no sistema.
Julga-se que, num futuro próximo, as entidades regionais ou nacionais possam dispor de cartas
intermunicipais de equipamentos desportivos, facto que poderá permitir a optimização dos investimentos
públicos, em especial nos sectores de fronteira ou nos diferentes equipamentos especializados.
Referências bibliográficas
Cordeiro, A. M. Rochette (2005) – “Corredores Verdes concelhios como plataforma de base para o ordenamento do
território nos Planos Directores Municipais de 2ª geração. O exemplo do Município de Coimbra – Centro de
Portugal”, in SILVA, A. N. R.; SOUZA, L. C. L. e MENDES, J. F. G. (2005) - Planejamento Urbano, Regional,
Integrado e Sustentável. Desenvolvimentos recentes no Brasil e em Portugal. São Carlos (SP) – Brasil, pp.
229-247.
Cordeiro, A. M. Rochette; Caridade P.; Castro, E. e Canteiro, M. (2003) - “Cartas de equipamentos desportivos
intermunicipais ou metropolitanas. Aproximação metodológica ao planeamento de infra-estruturas desportivas a
nível regional”. Livros de Resumos do IV Colóquio de Coimbra, Coimbra.
Cordeiro, A. M. Rochette; Caridade P. e Castro, E. (2005) - “Cartas de Equipamentos Desportivos Intermunicipais
(Cartas metropolitanas, regionais ou nacionais). Aproximação metodológica ao planeamento de infra-estruturas
desportivas a nível regional”. Actas do PLURIS 2005 – 1º Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento
Urbano, Regional, Integrado e Sustentável, São Carlos (SP) – Brasil.
Cordeiro, A. M. Rochette et coll. (2005) - Carta de Equipamentos Desportivos do Município da Figueira da Foz.
Relatório Final (policopiado), Figueira da Foz (Relatório escrito+DVD).
DGOTDU (2002) - Normas para a programação e caracterização de equipamentos colectivos. Colecção Informação,
nº 6, Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, Lisboa.
Ferreira, A. F. (2003) – “O Desporto e a Cidade”, O Desporto para além do óbvio, IDP, Lisboa, pp. 199-204.
Instituto Nacional do Desporto (1996) - Carta das Instalações Desportivas Artificiais - Distrito de Coimbra, 1996,
Secretaria de Estado do Desporto, Lisboa.
12

Documentos relacionados