A “bela primavera” descansou em Deus

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A “bela primavera” descansou em Deus
A “bela primavera” descansou em Deus
Hélio Dias Viana
Oriunda de estirpes de alta linhagem e célebre pela ferrenha oposição que ofereceu ao
comunismo no Vietnã, aos 86 anos faleceu piedosamente em Roma a indômita Madame Ngô
Dinh Nhu [foto ao lado], cujo nome de solteira – Tran Xuan – significa “bela primavera”. Ela
contava 86 anos. Era Domingo da Páscoa, na bela primavera européia.
Convertida em 1943, Madame Nhu [na foto, de véu assistindo uma Missa] manteve-se
militante católica até os últimos anos de sua vida, só saindo de casa para ir à Missa. Esta boa
católica incutia tanto medo aos comunistas do Vietnã que estes a chamavam de “Madame
Dragão”.
Seus pais – Tran Van Chuong e Nam-Tran Chuong – eram budistas e renunciaram aos postos de
embaixador nos EUA e de observadora permanente junto à ONU em protesto pela orientação
católica e anticomunista do governo sul-vietnamita de Ngô Dinh Diem, junto ao qual a filha
exercia grande influência.
Madame Nhu era casada com Ngô Dinh Nhu (1910-1963), irmão caçula e conselheiro político
de Ngô Dinh Diem (1901-1963), Presidente do Vietnã. Eles eram filhos de um mandarim
conselheiro do Imperador da Indochina cuja família fora convertida ao catolicismo por
missionários espanhóis no séc. XVII. E se honravam de ser irmãos do Arcebispo de Hué, Dom
Ngô Diem Thuc.
Após diversas vicissitudes, em 1955 – ano no qual Ngô Dihn Diem se tornou seu primeiro
presidente – o Vietnã estava dividido em duas partes: o Norte comunista, com capital em
Hanói, e o Sul capitalista, sediado em Saigon. Apoiado pela China, o Norte era uma ameaça
constante para o Sul, que reagia à altura apoiado pelos Estados Unidos.
Em 1961, com a ascensão de John Kennedy à presidência dos Estados Unidos, as coisas
começaram a mudar. Apesar de católico, Kennedy passou primeiro a adotar uma política de
passividade em face das agressões que comunistas e budistas inimigos da Fé moviam contra o
governo sul-vietnamita, passando depois a uma política colaboracionista. Assim, seguindo
ordens diretas de Kennedy, o embaixador Henry Cabot Lodge deixou de comparecer às
reuniões com o Presidente Ngô Dinh Diem, avalizando implicitamente aquelas agressões.
Tal situação perdurou até o momento em que, sabendo que alguns generais sul-vietnamitas
estavam dispostos a dar um golpe, o governo norte-americano lhes fez saber que podiam agir
livremente, pois os Estados Unidos não impediriam.
Assim, no dia 1º. de novembro de 1963 o Palácio Presidencial foi cercado, mas o Presidente e
seu irmão conseguiram fugir por uma passagem secreta. Capturados no dia seguinte, ambos
foram assassinados cruel e friamente por um capitão do exército.
Tudo isso provavelmente não teria acontecido se motivos de ordem pessoal – uma operação
no olho – não tivessem obrigado Madame Nhu a prolongar contra a sua vontade a
permanência nos Estados Unidos, pois ela, ao contrário do Presidente e do seu marido, não
confiava no governo Kennedy.
Seja como for, não se completaram três semanas e chegara a vez de Kennedy prestar contas.
Seu assassinato em Dallas no dia 22 de novembro foi interpretado pela Madame Nhu como um
castigo de Deus pelo hediondo crime contra os dois líderes anticomunistas e contra o próprio
Vietnã, cuja rendição ao comunismo estava sendo cuidadosamente preparada.
E chegou ao seu termo no dia 30 de agosto de 1975, quando o país foi unificado sob a bota
comunista. Iniciou-se então para a sua população um verdadeiro calvário. Milhares de pessoas
de todas as idades e condições se puseram em dramática fuga através dos mares, sem que as
nações os acolhessem. Ou quando algumas poucas o faziam, eles eram colocados
indefinidamente em condições simplesmente subumanas.
Em meio a todos esses horrores e traições, uma nota de dignidade: quando, pressionado por
Nixon – o iniciador da abertura para a China e consumador da traição de Kennedy em relação
ao Vietnã – chegou o momento de o embaixador sul-vietnamita assinar em Paris o “tratado de
paz” com o Norte, ele o fez; mas em seguida, indignado, jogou a caneta ao chão!
Esta cena foi fixada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no artigo que escreveu para a Folha de
S. Paulo, intitulado: “Jogando a caneta no chão”. Aliás, por iniciativa do fundador da TFP, esta
organização foi das poucas vozes que se alçaram em defesa dos vietnamitas no decurso de seu
trágico e longo opróbrio.
Dolorida, de seu exílio a tudo assistiu Madame Nhu. Mas agora, da Eterna Primavera, para o
seu Vietnã querido, mas traído, vilipendiado e escarnecido, ela está implorando à Rainha do
Céu e da Terra a pronta libertação da tirania comunista.

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