Simulação da maré na margem continental da região localizada
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Simulação da maré na margem continental da região localizada
18 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA LEILANE GONÇALVES DOS PASSOS SIMULAÇÃO DA MARÉ NA MARGEM CONTINENTAL DA REGIÃO LOCALIZADA ENTRE AS LATITUDES 15,8ºS A 21,9ºS E AS LONGITUDES 34ºW A 41ºW Monografia Vitória 2008 19 LEILANE GONÇALVES DOS PASSOS SIMULAÇÃO DA MARÉ NA MARGEM CONTINENTAL DA REGIÃO LOCALIZADA ENTRE AS LATITUDES 15,8ºS A 21,9ºS E AS LONGITUDES 34ºW A 41ºW Monografia apresentada ao curso de graduação em Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Oceanografia. Orientador: Prof. Dr. Renato David Ghisolfi. Vitória 2008 20 LEILANE GONÇALVES DOS PASSOS SIMULAÇÃO DA MARÉ NA MARGEM CONTINENTAL DA REGIÃO LOCALIZADA ENTRE AS LATITUDES 15,8ºS A 21,9ºS E AS LONGITUDES 34ºW A 41ºW Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Oceanografia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Oceanografia. Aprovada em _____ de _______________ 2008. COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________________ Prof. Dr. Renato David Ghisolfi Universidade Federal do Espírito Santo Orientador ________________________________________________ Prof. Dr. Júlio Tomás Aquije Chacaltana Universidade Federal do Espírito Santo ________________________________________________ Prof. Dr. Valéria da Silva Quaresma Universidade Federal do Espírito Santo SIMULAÇÃO DA MARÉ NA MARGEM CONTINENTAL DA REGIÃO LOCALIZADA ENTRE AS LATITUDES 15,8ºS A 21,9ºS E AS LONGITUDES 34ºW A 41ºW por Leilane Gonçalves dos Passos Submetido como requisito parcial para a obtenção de grau de Oceanógrafo na Universidade Federal do Espírito Santo Julho de 2008 © Leilane Gonçalves dos Passos Por meio deste, o autor confere ao Colegiado do Curso de Oceanografia e ao Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da UFES permissão para reproduzir e distribuir cópias parciais ou totais deste documento de monografia para fins não comerciais. Assinatura do autor ........................................................................................................... Curso de graduação em Oceanografia Universidade Federal do Espírito Santo 14 de julho de 2008 Certificado por .................................................................................................................. Renato David Ghisolfi Dr. / Orientador Certificado por .................................................................................................................. Júlio Tomás Aquije Chacaltana Prof. Dr. / Examinador interno CT/UFES Certificado por .................................................................................................................. Valéria da Silva Quaresma Profª. Drª. / Examinador interno CCHN/UFES Aceito por ......................................................................................................................... Alex Cardoso Bastos Prof. Adjunto / Coordenador do Curso de Oceanografia Universidade Federal do Espírito Santo CCHN/DERN/UFES Dedico este trabalho à minha amada família. 19 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que cuidou de mim, me deu saúde e forças para concluir este trabalho. À minha mãe que desde a minha infância sonhou, me incentivou e investiu para que eu chegasse até aqui. Aos meus avós, Leila Barbosa de Avelar Gonçalves e João Gonçalves Pinto, por todo o amor, cuidado e profunda dedicação que me deram. Às minhas irmãs, tios e tias que me deram forças e estrutura para concluir este trabalho. Ao meu orientador Prof° Renato David Ghisolfi, pela confiança, conhecimento passado e pelos atritos, que me fizeram crescer. Ao Prof° Júlio Chacaltana, pelos sábios e preciosos momentos de conversa. Ao Prof° Arno Maschmann, por toda gentileza e disposição em responder as minhas dúvidas sobre maré. Ao Prof° Gilberto Barroso, pela disposi ção em revisar a Introdução deste trabalho. E a Profª Valéria Quaresma, por aceitar o convite de participar da Banca examinadora deste trabalho. Aos estagiários de Informática: Renato Cunha, por toda paciência e dedicação em me ajudar a construir as minhas lindas figuras e animações a partir de dados em netCDF, pela ajuda na programação em Python, C++ e o que viesse pela frente! E pelas resoluções de problemas de última hora no Mentor. À Adriano Abreu, pelas ajudas, preocupação, músicas bregas e boas risadas que tornaram o labPosseidon muito mais divertido. E à Roberto Brandão, que continuou o trabalho do Renato com a mesma dedicação e qualidade e sempre disposto a resolver meus problemas computacionais em qualquer hora! Meninos, sem vocês o trabalho teria sido muito mais árduo. Aos meus colegas de laboratório, Priscila Guaitolini, Igor, Flavinha e Sabrina que me deram forças e me proporcionaram um agradabilíssimo ambiente de trabalho. À Marcelo Travassos, por me dar acesso aos dados in situ das estações Vitória e Ubu, pela gentileza, confiança e disposição em me ajudar. E à empresa CEPEMAR pela liberação desses dados. Às queridas Larissa, Roberta, Pollyanna, Alexandra, Patrícia, Amine e Diana, pela agradável compania diária e por terem tornado a minha passagem na UFES mais alegre e divertida! À ABU (Aliança Bíblica Universitária), que me ajudou a compreender que crer é também pensar e a conciliar às minhas novas descobertas a minha fé cristã. Pelas preciosas amizades e enriquecedoras conversas que me ajudaram durante os anos de curso. Depois da minha família, vocês foram o meu principal suporte. À família Trancoso. Tio Aloísio, Tia Tânia, Tallys e Alisson por terem me acolhido como uma filha e irmã em sua casa, nos momentos finais de escrita deste trabalho. À família Souza. Sr. Darcy, Srª Mirian e Flávio. Pela hospitalidade e carinho com que me recebiam em sua casa, quando eu precisava de um lugar silencioso e calmo para escrever. Aos meus amados amigos, Ingrid, Alisson Hassan, compreenderam a minha ausência ao longo desses meses. Luciana e Érika que RESUMO Através do modelo numérico Princeton Ocean Model simulou-se a maré de forma barotropica, na área compreendida entre os paralelos 15,8ºS e 21,9ºS e os meridianos 34ºW e 41ºW. Utilizou-se uma grade retangular confeccionada a partir da base de dados batimétricos do ETOPO2V2. As amplitudes e fases de maré das componentes harmônicas M2, S2, K2, N2, 2N2, O1, P1, K1, Q1, Mf, Mm, e M4 foram obtidas do modelo global de maré FES2004 e implementadas como condições de contorno nas bordas abertas da grade (Norte, Leste e Sul) via elevação do nível do mar. Para a comparação dos dados gerados pelo modelo foram escolhidas quatro estações: Vitória, Ubu, Barra do Rio Doce e Abrolhos. Nestas estações foram comparados os dados de amplitude e fase de maré com dados obtidos in situ e com os dados gerados pela modelagem feita por Lemos (2006). Nas estações Vitória e Ubu foram sobrepostas e correlacionadas as curvas de elevação da maré obtidas in situ, tanto com os dados do presente estudo quanto com os dados do estudo de Lemos (2006). Foram gerados com os dados modelados mapas de isolinhas de amplitude e fase de maré, realizada análise da orientação e sentido do giro das elipses de maré e construída duas animações que demonstram a hidrodinâmica forçada pela maré na área, em um dia de simulação. Através desses resultados pode-se observar os principais fatores que influenciam a dinâmica da maré barotrópica na região. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Pontos anfidrômicos do oceano Atlântico Sul. Fonte: MESQUITA (1997) 24 Figura 2 - Classificação de modelos oceânicos. Adaptado de Kantha & Piacsek (1993) 26 Figura 3 - Região de estudo enquadrada na RAC, destacada em vermelho. Fonte: Martins, Olavo e Costa (2007) 32 Figura 4 - Passo de tempo no método Leapfrog. Adaptado de Kowalik e Murty (1993) 33 Figura 5 - Topografia de fundo e distribuição da profundidade. Resolvida pela coordenada z (linhas pontilhadas) e pela coordenada σ (linhas contínuas). Adaptado de Kowalik e Murty (1993) 34 Figura 6 - Interação temporal entre as partes 2D (modo externo) e 3D (modo interno) do modelo, conforme o método split. Adaptado de Kowalik e Murty (1993) 35 Figura 7 - Gráficos das isolinhas de amplitude e fase da componente M2 do FES2004. A visualização dos valores não é viável devido ao tamanho da figura e a grande quantidade de números, portanto esse gráfico é apenas de caráter ilustrativo 39 Figura 8 - Estação Vitória. Localização do ADCP fundeado (ADCP3). Fonte: CEPEMAR 43 Figura 9 - Estação Ubu. Localização do ADCP fundeado. Fonte: CEPEMAR 44 Figura 10 - Análise qualitativa das diferenças entre os dados batimétricos. (a) Dados batimétricos originais. (b) Dados batimétricos após o processo de filtragem (alisamento) 48 Figura 11 - Comparação entre os perfis batimétricos originais e filtrados até a profundidade de 500m 49 Figura 12 - Curvas comparativas entre os dados simulados e os dados obtidos in situ para o ponto de Vitória 51 Figura 13 - Curvas comparativas entre os dados simulados e os dados obtidos in situ para o ponto de Ubu 53 Figura 14 - Pontos escolhidos para análise do campo de isolinhas de amplitude e fase, em azul. Isóbata de 200m, em cinza 60 Figura 15 - Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas M2(a) e S2(b) 62 Figura 16: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas K2(a) e N2(b) 63 Figura 17: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas K1(a) e O1(b) 64 Figura 18: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas Q1(a) e P1(b) 65 Figura 19: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para a constante harmônica 2N2 66 Figura 20: Realce nos transectos que foram escolhidos para análise das elipses de maré, em azul marinho. Sentido dos giros das elipses de maré anti-horário, em marrom e horário, em laranja. Em cinza limite da plataforma continental. Devido às instabilidades não foi possível identificar o sentido de giro de alguns pontos 70 Figura 21: Profundidade e distribuição das componentes de velocidade U e V superficial no sistema cartesiano para cada ponto analisado. Observa-se para os pontos fora da plataforma continental, um direcionamento das elipses de maré sudoeste-nordeste (4, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 15). E um direcionamento noroeste- sudeste para os pontos 18, 19, 20, 23, 24, 27 e 28. 70 Fig 22 – Gráficos de isolinhas de amplitude e fase dos dados do FES2004. Pode-se notar a propagação da fase de ambas as componentes, na área de estudo, crescendo no sentido sudoeste-nordeste. E o comportamento diferenciado da diurna K1 aumentando de nordeste para sudoeste, ao passo que M2 cresce de sudoeste para nordeste. Fonte: LYARD, LEFEVRE, LETELLIER (2006) 74 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Nome, período e natureza de algumas componentes de maré. Fonte: PUGH (1996) 22 Tabela 2 - Característica das componentes obtidas do FES2004 e aplicadas ao modelo POM 40 Tabela 3 - Estações disponibilizadas pela empresa de consultoria ambiental CEPEMAR e pelo Catálogo de Estações Maregráficas Brasileiras-CEMB (SALLES ET AL., 2000) 41 Tabela 4 - Informações sobre amostragem dos dados obtidos in situ pela empresa CEPEMAR 41 Tabela 5 - Características da grade usada neste estudo. Os valores negativos correspondem ao Hemisfério Sul, no caso da latitude e ao Oeste de Greenwhich, no caso da longitude 46 Tabela 6 - Diferença entre a coordenada do local da obtenção dos dados in situ e a coordenada do local em que foram obtidos os dados simulados 50 Tabela 7 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré M2 55 Tabela 8 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré S2 55 Tabela 9 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré N2 56 Tabela 10 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré K2 56 Tabela 11 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré O1 57 Tabela 12 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré K1 57 Tabela 13 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré Q1 58 Tabela 14 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré P1 58 Tabela 15 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré 2N2 59 Tabela 16 - Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré M4 59 Tabela 17 - Comparação entre os maiores valores de amplitudes encontrados, sobre o Banco de Abrolhos, deste estudo (sim.) e do estudo de Lemos (2006) 61 Tabela 18 - Diferença entre as profundidades in situ e da grade nas estações de Ubu e Vitória 71 LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 – Segunda lei de Newton 22 Equação 2 – Velocidade de propagação de onda rasa 25 Equação 3 – Correntes de maré horizontais 25 Equação 4 – Aproximação Hidrostática 27 Equação 5 – Aproximação de Boussinessq 27 Equação 6 – Relação entre a coordenada sigma e a coordenada z 34 Equação 7 – Calculo da elevação nos pontos de borda 39 LISTA DE ABREVIATURAS BA – Banco de Abrolhos; BRC – Banco Royal Charlote; CVT – Cadeia de Montes Submarinos Vitoria-Trindade; RAC – Região Abrolhos-Campos; SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 18 1.1 JUSTIFICATIVA 20 1.2. OBJETIVOS 21 1.2.1 Objetivo geral 1.2.2 Objetivos específicos 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21 21 22 2.1. MARÉ 22 2.2. MODELOS 26 2.3. ESTADO DA ARTE 27 3. ÁREA DE ESTUDO 30 4. MATERIAL E MÉTODOS 33 4.1. PRINCETON OCEAN MODEL (POM) 33 4.2 O MODELO DE MARÉ FINITE ELEMENTS SOLUTIONS 2004 (FES2004) 35 4.3. CONSTRUÇÃO DA GRADE NUMÉRICA 37 4.4 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO 37 4.5 IMPLEMENTAÇÃO DA FORÇANTE DE MARÉ 38 4.6. COMPARAÇÃO 41 4.7. COMPARAÇÃO COM O ESTUDO DE LEMOS (2006) 45 5. RESULTADOS 46 5.1. GRADE NUMÉRICA 46 5.2. COMPARAÇÃO 50 5.2.1 Curvas de elevação 50 5.2.1.1 Estação Vitória 5.2.1.2 Estação Ubu 50 52 5.2.2. Amplitudes e fases 54 5.3. DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL DE AMPLITUDE E FASE 60 5.4. VELOCIDADES DE MARÉ 67 5.4.1 Animação das velocidades de maré em toda a área de estudo 67 Santo 5.4.2 Animação das velocidades de maré na região em frente ao Espírito 68 5.5. CAMPO DAS COMPONENTES DE VELOCIDADE DE MARÉ (ELIPSES DE MARÉ) 69 6. DISCUSSÃO 71 6.1. CORRELAÇÃO ENTRE AS CURVAS DE ELEVAÇÃO 71 6.2. AMPLITUDE E FASE DAS COMPONENTES DE MARÉ 72 6.3. ANÁLISE DAS VELOCIDADES E ELIPSES DE MARÉ 75 7. CONCLUSÕES 76 8. SUGESTÕES 77 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78 18 1. INTRODUÇÃO O conhecimento da circulação oceânica de uma determinada área é essencial como ferramenta para a conservação de recursos marinhos, observação e predição da resposta física a eventos ordinários e extremos, realização de estudos climáticos, operações de transporte comercial, gerenciamento do pescado, extração de recursos minerais, operações de busca e resgate, entre outros (COOK, 2000; KANTHA & PIACSEK, 1993). O estudo in situ da circulação oceânica é difícil e caro, principalmente para realizar medições sob condições adversas de mar e sob altas pressões (FRAGOSO, 2004). Há o alto custo operacional associado a manutenção de uma embarcação no mar, muitas vezes por semanas, para a coleta de dados in situ. Além disso, em alguns casos a amostragem de grandes áreas implica em perda de sinoticidade dos dados coletados. Por outro lado, a utilização de modelos numéricos apresenta-se como uma ótima alternativa para o conhecimento sinótico de meso-escala da dinâmica de uma região. O modelo numérico é uma tradução de um modelo matemático adaptado para diferentes métodos de cálculo como, por exemplo, diferenças finitas, volumes finitos e elementos finitos. Assim, a solução das equações matemáticas que governam os processos físicos é discretizada numericamente e resolvida computacionalmente (ROSMAN, 2006; HUGHES, 1993). A utilização de modelos numéricos para a simulação da dinâmica oceânica apresenta vantagens, tais como: uma simulação mais próxima da realidade dos fluxos em bacias oceânicas de acordo com a topografia da região, a inclusão da influência da viscosidade e da dinâmica não-linear, a possibilidade de cálculo de possíveis fluxos futuros e, talvez o mais importante, a possibilidade dos modelos assimilarem informações de observações in situ e informações remotas (sensoriamento remoto) (STEWART, 2005). Para se obter a descrição da circulação geral é preciso identificar as principais forçantes que atuam sobre o local e então, incorporá-las uma a uma dentro do modelo. Dentre as forçantes que atuam entre as coordenadas 15,8ºS - 21,9ºS e 34ºW – 41ºW, pode-se 19 destacar os movimentos gerados pelos campos termohalinos, o cisalhamento do vento, predominante de nordeste durante o verão e de sudoeste durante o inverno, de acordo com a entrada de frentes frias na região (CASTRO & MIRANDA, 1998); a Corrente do Brasil, que flui para o sul ao longo da quebra de plataforma, caracterizada por uma corrente estreita e bem definida (SILVEIRA et al., 2000); e a maré, cuja atuação da componente perpendicular a costa é maior do que a componente ao longo da costa (CASTRO & MIRANDA, 1998), podendo também ser o principal controlador das trocas entre águas rasas e oceano profundo (PEREIRA et al., 2005). A importância do estudo das marés e das correntes de marés origina-se nas interações entre elas e a costa e com a atividade biológica. No primeiro caso, a interação pode interferir diretamente na economia como, por exemplo, estabelecendo possíveis locais de instalação de edificações e portos, de acordo com o limite máximo de alcance da maré de sizígia; ou designando quais são as melhores condições de se lançar um efluente, de maneira que esse não se aproxime da praia, mas seja diluído e disperso para regiões de mar aberto durante as marés vazantes (PAWLAK et al., 2003). No segundo caso, os efeitos das trocas entre o oceano profundo e a plataforma continental causam a ascensão de nutrientes de camadas mais profundas para as camadas onde há radiação fotossintética ativa, aumentando a produtividade biológica no local. Embora a sua atuação represente um papel considerável sobre a oceanografia e biologia local da plataforma leste brasileira, os efeitos da maré ainda são pouco estudados nessa região da costa (PEREIRA et al., 2005). Pugh (1996) considera que uma boa análise de marés e suas correntes provêem uma base para predizê-las em tempos futuros. Assim, os resultados das análises podem fornecer parâmetros que podem ser mapeados a fim de descrever características de maré numa dada região. A modelagem da circulação oceânica forçada pela maré apresenta-se como uma ferramenta adicional para o entendimento da hidrodinâmica marinha na costa do estado do Espírito Santo. Esse é um fator importante quando se considera a escassez de informações oceanográficas disponíveis sobre a hidrodinâmica local. O presente estudo se dedica a modelar a circulação forçada pela maré barotrópica na região localizada entre as coordenadas 15,8ºS - 21,9ºS e 34ºW – 41ºW, utilizando o 20 modelo Princeton Ocean model. O trabalho apresenta sua justificativa na seção 1.1, os objetivos principais da realização do estudo na seção 1.2, na seção 2 é mostrada uma breve base teórica e o estado da arte. A área de estudo e suas principais características na seção 3. A metodologia é apresentada na seção 4, os resultados na seção 5, a discussão na seção 6, a conclusão na seção 7, as sugestões na seção 8 e as referências bibliográficas na seção 9. 1.1. JUSTIFICATIVA O oceano apresenta importantes recursos vivos e não-vivos, cuja freqüente exploração e explotação traz consigo pressões sobre a integridade do sistema marinho, tais como, sobre-pesca do estoque pesqueiro, intenso tráfego de embarcações e poluição, seja de esgotos provenientes de emissários submarinos ao longo da costa, por derrames de óleo, por escoamento fluvial ou por trocas de águas subterrâneas de bacias hidrográficas costeiras. Além das pressões antrópicas de curto prazo, têm-se ainda as pressões realizadas ao longo de séculos, como o aquecimento global onde o oceano desempenha importante papel no controle do clima global. Para maior segurança e eficiência na realização de operações, como as supracitadas, são necessárias informações sobre o estado do mar, tanto presente quanto futuro (FRAGOSO, 2004). Desta forma, a descrição e posterior previsão da circulação oceânica obtida por meio de modelos numéricos consegue suprir, mesmo que não totalmente, a demanda por dados operacionais para a compreensão do ecossistema marinho, contribuindo assim para o gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável da zona econômica exclusiva, como estabelecido no capítulo XVII da Agenda 211. A região localizada entre as coordenadas 15,8ºS - 21,9ºS e 34ºW – 41ºW, representa um papel importante na economia capixaba, pois serve como via de transporte para exportação e importação de bens e matérias-primas, de maneira que o Estado se destaca no comércio externo e interno realizado por via marítima. O Espírito Santo 1 Documento que estabelece as obrigações dos Estados para proteção e uso racional do meio ambiente marinho, resultante da Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. 21 possui atividades turísticas concentradas no período de verão, em especial nos municípios litorâneos (CALIMAN, 2005), sendo as praias fonte de renda e lazer. Os sistemas costeiros e oceânicos contíguos apresentam-se, também, como potencial produtor de proteínas de origem marinha, e, recentemente, como fonte de energia. Segundo Martins et al. (2005), a captura composta por peixes recifais, atuns e afins chega a alcançar uma produção anual de 22.725 toneladas no ES. As recentes descobertas de óleo e gás na bacia do Espírito Santo colocam o estado em evidência no setor de indústrias petrolíferas, ao mesmo tempo em que implicam na necessidade de assegurar um desenvolvimento sustentado, que promova a manutenção de um ambiente saudável conciliando o setor econômico com o aspecto ambiental da região. A dependência marítima que o estado possui torna primordial o conhecimento da dinâmica oceânica local, como condição essencial para um gerenciamento correto e equilibrado dos recursos marinhos, ou seja, uma gestão adequada à integridade do sistema marinho, economicamente eficiente e socialmente justa. 1.2. OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Simular a circulação oceânica forçada pela maré na região entre as coordenadas 15,8ºS - 21,9ºS e 34ºW – 41ºW. 1.2.2 Objetivos específicos 1. Comparar os resultados do modelo com dados obtidos in situ; 2. Comparar os dados da simulação de Lemos (2006) com os dados obtidos in situ e, em seguida, verificar quais foram os avanços deste estudo em relação à modelagem feita por este autor. 22 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. MARÉ Maré é a variação vertical periódica do nível do mar resultante de um sistema de forças gravitacionais geradas pela atração da Lua e, em menor escala, do Sol sobre os diversos pontos da Terra. A atração gravitacional desses astros é descrita pela segunda lei de Newton, que afirma que qualquer corpo de massa m1, no universo, atrai outra corpo de massa m2 com uma força que depende do produto das duas massas e do inverso do quadrado da distância entre si, conforme a equação 01. F =G m1 m2 r2 Equação 01 Onde F é a intensidade da força gravitacional, G corresponde a constante gravitacional (6,67.10 − 11Nm2 / Kg2) e r a distância entre os centros de massa das corpo m1 e m2. A ação das componentes das forças geradoras de maré acarretam primeiramente, o movimento horizontal da massa líquida (corrente de maré), do qual resulta o movimento vertical do nível do mar (MIGUENS, 2003). As marés são movimentos harmônicos compostos que podem ser discretizadas em vários movimentos harmônicos simples de diferentes naturezas. Algumas das componentes de maré identificadas e suas características são mostradas na Tabela 1. Tabela 1 – Nome, período e natureza de algumas componentes de maré. Fonte: PUGH,1996. Símbolo Nome Período (Hora solar) Natureza M2 Principal lunar 12,42 Semidiurna N2 Lunar elíptica larga 12,66 Semidiurna K2 Luni-solar 11,97 Semidiurna S2 Principal solar 12,00 semidiurna K1 Luni-solar diurna 23,93 diurna O1 Principal Lunar diurna 25,82 diurna Q1 Lunar elíptica diurna larga 26,87 diurna 2N2 Lunar elíptica semi diurna 12,91 semidiurna P1 Principal Solar diurna 24,07 diurna 23 Tabela 1 – Nome, período e natureza de algumas componentes de maré. Fonte: PUGH,1996. Símbolo Nome Período (Hora solar) Natureza S1 Solar diurna 24 diurna Mf Lunar quinzenal 327,90 Longo Período Mm Lunar mensal Constituinte de água rasa da principal lunar 661,30 Longo Período 6,21 Composta M4 2 3 De acordo com a teoria dinâmica de maré, desenvolvida primeiramente por Laplace, a compreensão do fenômeno das marés em determinada região deve levar em consideração a profundidade local, a configuração da bacia oceânica, a força de Coriolis, a força de inércia e as forças friccionais. Esses fatores influenciam diretamente no comportamento do fluido. A ação combinada entre os limites impostos pela geometria da bacia oceânica e a influência da força de Coriolis, resulta no desenvolvimento de pontos anfidrômicos (Figura 1). Os pontos anfidrômicos são locais onde a elevação da maré é nula e ao redor dos quais a crista da onda de maré se propaga, de forma circular durante cada período de maré. 2 Uma constituinte ou corrente de maré com um período que é independente da rotação da Terra, mas que depende do movimento orbital da Lua ou da Terra. As principais constituintes lunares de longo período possuem períodos de aproximadamente 15 e 30 dias. Já as constituintes solares de longo período, possuem períodos de aproximadamente 6 meses e 12 meses (Tide and Current Glossary, 1999). 3 Uma constituinte ou corrente de maré com uma velocidade igual a soma ou diferença, das velocidades de duas ou mais constituintes elementares. A presença de constituintes compostas é usualmente atribuída a condições de água rasa (Tide and Current Glossary, 1999). 24 Figura 1: Pontos anfidrômicos do oceano Atlântico Sul. Fonte: MESQUITA (1997). Na Figura 1 é mostrado o sistema anfidrômico da componente M2 da maré no Oceano Atlântico Sul de acordo com Mesquita (1997). Como resultado, verifica-se que a costa do Espírito Santo encontra-se sob a influência de dois pontos anfidrômicos, um mais meridional de giro ciclônico localizado em 32º S e 45º W e outro de giro anticiclônico localizado em 30º S e 25º W. A compreensão do fenômeno de maré é essencial para entender a dinâmica oceanográfica na plataforma continental, uma vez que próximo à costa, com a diminuição da profundidade, é onde ocorrem as maiores variações de maré e, conseqüentemente, é onde as correntes de maré alcançam os maiores valores. É importante ressaltar que este comportamento resulta do fato da onda de maré se comportar como uma onda de água rasa. Nesse caso, as dimensões verticais do oceano são pequenas quando comparadas ao comprimento da onda de maré. A velocidade de propagação da onda (c) é descrita de acordo com a Equação 02. 25 c = gΗ Equação 02 Sendo g a aceleração da gravidade 9,8 m/s2 e H a profundidade local (m). Já as correntes de maré horizontais (u) são diretamente proporcionais à amplitude, que aumenta com a diminuição da profundidade devido a energia da onda que se concentra numa área menor, e indiretamente proporcionais à profundidade (Equação 03 (PUGH, 2005)). u =ζ g Η Equação 03 Onde: g = aceleração da gravidade (9,8 m/s2); H = profundidade local (m); ζ = amplitude de maré (m); Para modelar a elevação gerada pela maré, Dyke (2001) enfatizou que o modelo deveria incluir fatores como a aceleração da partícula, a aceleração de Coriolis, a topografia da região modelada e a fricção. Essa é essencial num modelo numérico para dissipar o momento no leito marinho, caso contrário a solução das equações se tornaria consideravelmente energética. 26 2.2. MODELOS De acordo com Kantha & Piacsek (1993) os modelos oceânicos podem ser classificados conforme a Figura 2. Aproximação de Superfície Tampa Rígida Superfície Livre Nível fixo Isopicnal Modelos Oceânicos Graus de Liberdade na Vertical Coordenada Sigma Coordenada Híbrida Semi-Espectral Barotrópico Variação de Densidade Baroclínico Figura 2 – Classificação de modelos oceânicos. Adaptado de Kantha & Piacsek (1993). Em relação à discretização vertical, os modelos oceânicos podem trabalhar com um nível fixo no eixo z, com níveis discriminados de acordo com as isopicnais, com coordenadas sigma onde a profundidade é dividida em níveis que variam de 0 a -1, representando com mais acurácia o relevo de fundo; com coordenadas semi-espectrais, onde a variação das variáveis em cada campo na direção vertical é explicada pela superposição do polinômio de Chebyshev (HAIDVOGEL et al., 1991 apud KANTHA & PIACSEK, 1993); ou com coordenadas híbridas, em que a coordenada z, sigma e isopicnal são usadas conjuntamente dentro do modelo (BLECK, 2006). Os modelos de superfície livre permitem o desenvolvimento e a propagação de deformações superficiais como, por exemplo, ondas superficiais. Já nas simulações com modelos de tampa rígida são desconsideradas as deformações superficiais. 27 Normalmente, esta aproximação é utilizada em modelos de escala global onde essas deformações podem ser consideradas de caráter insignificante. De acordo com a variação vertical do campo isopicnal, os modelos podem ser classificados em barotrópicos, onde a coluna d’água é verticalmente integrada para se obter um valor de correntes horizontais; ou baroclinicos, no qual o campo termohalino varia tanto no tempo quanto no espaço. 2.3. ESTADO DA ARTE O primeiro modelo de simulação numérica foi desenvolvido por Kirk Bryan e Michael Cox (STEWART, 2006). O modelo utilizava equações primitivas, realizava o cálculo 3-D do fluxo utilizando equações da continuidade e do momentum com aproximações hidrostáticas4 (Equação 04) e de Boussinessq5 (Equação 05). O modelo incluía processos termodinâmicos, viscosidade na horizontal e na vertical, difusão para eliminar vórtices turbulentos menores que 500 km e tampa rígida (BRYAN, 1969). Stewart (2006) relatou que a primeira simulação foi regional e evoluiu rapidamente para uma simulação global com 2º de resolução horizontal e 12 níveis na vertical. ∂p = gρ ∂z Equação 04 p = p0 ( z ) + p′( x, y, z , t ) ρ = ρ 0 ( z ) + ρ ′( x, y, z , t ) onde ρ ′ << ρ0 e p′ << p0 Equação 05 Onde: 4 5 Considera que a variação da pressão na coluna d’água depende da densidade e da aceleração da gravidade local. Descreve a maneira que as variações da densidade são incorporadas na equação do movimento. Assume que o fluido encontra-se parado e que o movimento inicia-se devido às variações de pressão e densidade (KOWALIK & MURTY, 1993). 28 g – aceleração da gravidade (9,8 m/s2); p0 – pressão inicial (atm); p – pressão (atm); ρ0 – massa específica inicial (kg/m3); z – coordenada cartesiana vertical; p’– variação da pressão (atm); ρ – massa específica (kg/m3); ρ’ – variação da massa específica (kg/m3); A partir do modelo de Bryan-Cox desenvolveram-se vários modelos de equações primitivas, dentre eles os modelos costeiros. Neste escopo destaca-se o Princeton Ocean Model – POM, uma vez que esse tem sido utilizado com sucesso no estudo da hidrodinâmica costeira e oceânica em diversas regiões do mundo (O’CONNOR, 1991). Blumberg e Mellor (1983) utilizaram-no para prover um diagnóstico e um prognóstico da circulação na Costa Oeste do Atlântico Norte. De acordo com seus resultados foi observado que o modelo é capaz de melhorar a representação climatológica e de fato prover uma base para predições oceânicas sinóticas futuras. Cummins e Oey (1997) usaram o POM para estudar a maré barotrópica e baroclínica do nordeste da Columbia Britânica considerando as constituintes diurnas e semidiurnas. Seus resultados foram condizentes com os dados de maré observados na região, apresentando menos de 5% de diferença entre os dados modelados e os observados das principais constituintes. No trabalho desenvolvido por Palma et al. (2004) foi realizado o estudo da circulação barotrópica forçada pela maré e pelo vento na plataforma sudoeste do Atlântico por meio do POM. Eles encontraram uma circulação dominada pela propagação de marés semidiurnas, sobretudo na costa da Argentina. O modelo também foi capaz de reproduzir bem as variações sazonais do giro ciclônico presente na região. No Brasil, têm-se empregado consideravelmente modelos numéricos no estudo de marés e fenômenos associados. Pereira et al. (2005) utilizaram o modelo numérico SCRUM6 para estudar as interações entre as correntes de maré e a topografia de fundo ao longo da plataforma continental leste brasileira. Seus resultados apontaram uma 6 S-Coordinates Rutgers University Model 29 ressurgência da Água Central do Atlântico Sul no local que aumentaria a produtividade primária na região. O uso do modelo Princeton Ocean Model no estudo da circulação forçada pela maré na costa brasileira tem fornecido bons resultados e, por conseqüência, tido um importante papel na previsão de elevações e correntes de marés. Harari e Camargo (2003) utilizaram o POM para modelar a região costeira de Santos (BR), com resolução espacial de um quilômetro e forçando o modelo em seus contornos abertos com nove das principais componentes que atuam no local. Como resultado, encontraram a dominância das componentes M2 seguida da S2, fortes gradientes de energia potencial de maré na região dos canais, altos valores de energia cinética nos pontos mais profundos e picos em locais mais próximos da linha de costa e a energia total com valores aumentando na direção sudoeste e na parte interna dos canais. O modelo provou ser útil tanto na descrição das características da propagação de maré, quanto nas previsões operacionais de maré e correntes de maré, por ter gerado erros pequenos, insignificantes em aplicações práticas. Camargo, Harari e França (2006) implementaram uma versão customizada do POM na região de confluência Brasil-Malvinas. A simulação mostrou a relevância do mar de Weddell na propagação da maré e na formação dos pontos anfidrômicos sobre o Atlântico Sul, sendo decisivo para a representação correta das amplitudes e fases de maré na costa sul e sudeste do Brasil. Os resultados da simulação numérica de maré realizada por Lemos (2006), na costa do estado do Espírito Santo, foram coerentes com os dados medidos in situ, o modelo foi capaz de identificar a influência dos dois pontos anfidrômicos do Oceano Atlântico Sul na costa da região, evidenciando a complexa hidrodinâmica de maré na área. A simulação foi capaz de evidenciar as interações das feições costeiras e da batimetria com a maré barotrópica, o que possibilitou ao autor identificar, principalmente, as feições costeiras mais características. 30 3. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está localizada entre os paralelos 15,8ºS e 21,9ºS e os meridianos 34ºW e 41ºW e, de acordo com a classificação de Castro & Miranda (1998), enquadrase na região Abrolhos-Campos (RAC). A RAC, em destaque na Figura 3, é caracterizada por feições topográficas complexas. Ela possui em sua porção mais larga, ao norte, bancos rasos que emergem de grandes profundidades, como o banco Royal Charlotte (BRC) e o Banco de Abrolhos (BA), onde a plataforma chega a alcançar larguras de 110 km e 190 km, respectivamente. Em direção ao sul a plataforma estreitase, chegando a alcançar uma largura de 80 km na região de Campos. A complexidade batimétrica da região deve-se também a presença da cadeia de montes vulcânicos Vitória-Trindade (CVT) (Figura 3). A região é caracterizada pela ocorrência bifurcação da Corrente Sul Equatorial (CSE), dando origem a Corrente Norte do Brasil (CNB), que flue em direção ao norte; e a Corrente do Brasil (CB) que flui em direção ao sul na camada superficial (STRAMMA e ENGLAND, 1999). A CB flui para o Sul acompanhando a quebra de plataforma sendo que, ao interagir com o BA e a CVT, o fluxo sofre modificações que podem originar vórtices e meandros (FRAGOSO, 2004). O vórtice de Vitória, uma feição característica da região, distingui-se por possuir uma água fria e de baixa salinidade em seu núcleo. Seu possível mecanismo de formação está baseado num evento de forte ressurgência costeira, que leva a um meandramento da Corrente do Brasil no local (SCHMID et al., 1994). Entre 16ºS e 19ºS a CB flui na isóbata de 3000m; isso faz com que o stress do vento seja uma importante forçante sobre a plataforma. Já na porção Sul da RAC, a CB flui próximo a quebra de plataforma, de uma forma mais organizada se estendendo até o fundo (CASTRO E MIRANDA, 1998). O padrão de ventos na área é o resultado do deslocamento da Alta Subtropical do Atlântico Sul, com predomínio de ventos de nordeste no verão e ventos de sudoeste no inverno (CASTRO & MIRANDA, 1998). Sendo assim, nas porções interna e média da plataforma, durante o verão a corrente flui para sudoeste, reforçada pelos ventos 31 predominantes. Já durante o inverno, é verificada uma alta incidência de frentes, fazendo com que as correntes fluam na direção nordeste (CASTRO & MIRANDA, 1998). A maré na região de Abrolhos é semidiurna com altura máxima de 2,3 m, durante a sigízia e mínima de 0,5 m, durante a quadratura. As correntes de maré dirigem-se de sul para norte com um intervalo de 1 hora e 45 minutos a partir de Mucuri (Ba) para as ilhas de Abrolhos e Cumuruxatiba (LEÂO, 2002). Meyerhöfer & Marone (1996) citado por Leão (2002) evidenciaram em seu experimento a importância das correntes de marés superimpostas ao fluxo da CB. De acordo com simulações numéricas de maré realizadas por Lemos (2006), na margem continental do Espírito Santo, verificou-se que o comportamento da onda de maré é altamente influenciado pelo contorno da linha de costa ao Sul, na região de Cabo Frio e pela topografia ao norte, na região do BA e do BRC. 32 Sergipe Salvador 50 0 m 12°S América do Sul Bahia 14°S 16°S Banco Royal Charlotte Porto Seguro Minas Gerais 50 a 100 m Cadeia de bancos submarinos Banco Rodger dos Abrolhos Banco Minerva 500 m Banco Hotspur 18°S Espírito Santo Banco de Abrolhos Foz do Rio Doce 20°S Banco Besnard Cadeia de bancos submarinos Vitória Trindade Banco Eclaireur Banco Montague Vitória Banco Vitória Banco Jaseur Banco Davis Monte Submarino Columbia Ilha de Trindade Ilha de Martin Vaz Banco Dogaressa Rio de Janeiro 22°S Cabo de São Tomé 0 50 41°W m Banco Alte. Saldanha 39°W 37°W 35°W 33°W 31°W 29°W Figura 3 - Região de estudo enquadrada na RAC, destacada em vermelho. Fonte: Martins, Olavo e Costa (2007). 33 4. MATERIAL E MÉTODOS As simulações realizadas neste estudo utilizaram o modelo Princeton Ocean Model. As amplitudes e as fases das componentes de maré implementadas nesta análise foram oriundas do modelo global de maré FES2004. Informações adicionais sobre esses dois modelos são fornecidas nos itens a seguir. 4.1. PRINCETON OCEAN MODEL (POM) O POM é um modelo baseado na integração das equações primitivas, tridimensional, não-linear, de superfície livre, implementado com as aproximações hidrostáticas e de Boussinessq numa grade do tipo Arakawa-C e discretizadas por diferenças finitas segundo o método Leapfrog. O método Leapfrog utiliza, num determinado passo temporal, a informação referente a dois passos anteriores. (Figura 4), sendo capaz de resolver apropriadamente os processos altamente dependentes do tempo e nãolineares da dinâmica da ressurgência costeira e de vórtices (BLUMBERG & MELLOR, 1987). Figura 4 – Passo de tempo no método Leapfrog. Onde T é o passo de tempo e m é um instante qualquer. Adaptado de Kowalik e Murty (1993). O tratamento dos efeitos turbulentos, isto é, a determinação dos coeficientes de difusão de momentum, calor e sal é realizado em um sub-modelo interno, o esquema de fechamento turbulento desenvolvido por Mellor e Yamada (1982). O modelo é recomendado para estudos da dinâmica em regiões costeiras e oceânicas 34 principalmente, porque utiliza a coordenada σ e z relacionadas entre si de acordo com a Equação 06: σ= z −η Η +η Equação 06 Onde σ é a coordenada modificada, z é a coordenada cartesiana, H é a profundidade local e η é a elevação da superfície livre. A transformação de coordenadas permite ao modelo representar de maneira mais adequada os efeitos do relevo de fundo sobre a circulação (Figura 5). A desvantagem dessa transformação é que o uso de coordenadas σ pode induzir a processos de mistura horizontal irreais (FRAGOSO, 2004). Figura 5: Topografia de fundo e distribuição da profundidade. Resolvida pela coordenada z (linhas pontilhadas) e pela coordenada σ (linhas contínuas). Adaptado de Kowalik e Murty (1993). O modelo separa as equações integradas verticalmente (modo externo ou barotrópico) das equações de estrutura vertical (modo interno ou baroclínico), numa técnica conhecida como modo splitting (BLUMBERG & MELLOR, 1987). Essa técnica permite o cálculo da elevação da superfície livre resolvendo separadamente a velocidade de 35 transporte, do cálculo tridimensional de velocidade e das propriedades termodinâmicas (Figura 6). Figura 6 – Interação temporal entre as partes 2D (modo externo) e 3D (modo interno) do modelo, conforme o método split. Onde M é o passo de tempo e m é um instante qualquer. Adaptado de Kowalik e Murty (1993). As equações de velocidade do modo externo são obtidas através da integração das equações do modo interno sobre a profundidade, eliminando assim toda a estrutura vertical (MELLOR, 2004). 4.2 O MODELO DE MARÉ FINITE ELEMENTS SOLUTIONS 2004 (FES2004) A série de modelos de maré oceânicos – FES - foi desenvolvida pelo Grupo de maré Francês, liderado por C. Le Provost. Estes modelos usam o método de elementos finitos para solucionar equações hidrodinâmicas, juntamente com dados obtidos in situ e, a partir do FES99, com dados assimilados dos satélites altimétricos TOPEX/Posseidon e ERS (WÄUNSCH; SCHWINTZER; PETROVIC, 2005). O FES2004 é uma atualização do FES2002 e possui 15 constituintes harmônicas implementadas. As constituintes diurnas e semi-diurnas (M2, S2, N2, K2, 2N2 e K1, O1, Q1, P1) são resultantes do modelo hidrodinâmico CEFMO7 e do modelo de assimilação 7 Code aux Eléments Finis pour la Marée Océanique; 36 CADOR8. As componentes de longo período Mf, Mm, Mtm, Msqm são soluções puramente hidrodinâmicas do modelo CEFMO. A constituinte M4, que apresenta valores significativos sobre a plataforma continental foi obtida através do modelo MOG2D-G9. As vantagens do FES200410 em relação às versões anteriores são (LYARD, LEFEVRE, LETELLIER, 2006): • Refinamento da grade numérica de 300.000 pontos para 1.000.000 de pontos, o que aumentou a resolução de 1/4º para 1/8º; • Novos dados de batimetria e linha de costa; • Novos dados altimétricos (TOPEX/POSSEIDON e ERS-2); • Quatro ondas de longo período adicionadas Mf, Mm, Mtm, Msqm e adição das componentes S1 e M4. A adição destas constituintes fez com que o FES2004, apresentasse uma melhor representação dos dados nas regiões costeiras, em relação ao FES2002; • Novos dados de maré in situ; • Termo de dissipação adicionado às equações, que contribui na conversão da energia barotrópica dentro da energia de maré interna; • De acordo com Lyard, Lefevre, Letellier. (2006) a maior diferença entre o FES2002 e o FES2004 é a correção de-aliasing11, usada antes das análises de maré dos dados altimétricos; Todos estes fatores contribuíram para um aprimoramento nos dados gerados pelo FES2004, sobretudo nas áreas costeiras e plataformas continentais, mantendo a melhor acurácia possível no oceano profundo. No entanto, quando validado com os dados in situ, os dados do FES2004 ainda apresentam diferenças significativas em 8 Code d’Assimilation de Données Oriente Représenteur; Modelo oceânico com forçante atmosférica; 10 Pesquisa feita no site: http://www.aviso.oceanobs.com/en/data/products/auxiliary-products/global-tidefes2004-fes99/description-fes2004/index.html 11 aliasing: Condição de duas ou mais funções serem indistinguíveis, devido a terem o mesmo valor num conjunto de pontos finitos. Tais funções seriam ditas aliases (pseudônimos) uma da outra (MORRIS(1991) citado por (WÄUNSCH; SCHWINTZER; PETROVIC, 2005 ). O de-aliasing é o processo que remove o erro de distorção do sinal. 9 37 regiões costeiras, apesar da melhoria de qualidade (LYARD; LEFEVRE; LETELLIER; 2006). Os dados do FES2004 possuem a fase de referência em relação a Greenwich e o tempo de referência às 0 h de 01/01/1950. 4.3. CONSTRUÇÃO DA GRADE NUMÉRICA A grade numérica foi construída utilizando-se o programa de domínio público SeagridTM disponível em: http://woodshole.er.usgs.gov/staffpages/cdenham/public_html/seagrid/seagrid.html A grade construída é retangular, com dados topográficos do ETOPO2V2 (SMITH & SANDWELL, 1997). Esta versão possui informações sobre a topografia de fundo em intervalos de 2 minutos de grau, disponibilizados na internet no endereço: http://www.ngdc.noaa.gov/mgg/gdas/gd_designagrid.html. A linha de costa foi obtida do National Geospatial-Intelligence Agency (NGA) (SOLURI & WOODSON, 1990), disponível no endereço: http://rimmer.ngdc.noaa.gov/. Os dados topográficos foram interpolados bilinearmente e em seguida, passaram por um filtro gaussiano com o objetivo de reduzir os gradientes batimétricos. Neste processo utilizou-se o programa Generic Mapping Tools – GMT, de domínio público disponível em: http://gmt.soest.hawaii.edu/. Finalizado o processo de filtragem, a grade foi testada rodando-se o modelo com as bordas fechadas por 10 dias no modo 3 (baroclínico). O modelo foi rodado no modo baroclínico somente para o teste da grade. 4.4 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO Para a realização da simulação da circulação oceânica forçada pela maré na área de estudo, foi utilizado a versão OzPOM. O OzPOM é uma revisão realizada por John Hunter, da Universidade da Tasmânia, baseada no POM98 atualizado em 9/12/2001. O 38 código do OzPOM é de domínio público e está disponível no endereço: http://staff.acecrc.org.au/~johunter/ozpom.html Através da condição CFL12, estipulou-se um passo de tempo externo igual a 3 segundos e um passo de tempo interno igual a 99 segundos. O modelo foi rodado no modo 4, que realiza a simulação tridimensionalmente mantendo o campo termohalino fixo no tempo e no espaço. As demais variáveis sujeitas às modificações do usuário foram mantidas constantes, a exceção do parâmetro slpmax que foi estabelecido em 0,5. Essa modificação suaviza os contornos por meio de média implicou num novo alisamento dos contornos batimétricos para tornar o modelo estável. 4.5 IMPLEMENTAÇÃO DA FORÇANTE DE MARÉ As amplitudes e fases de maré foram implementadas como condições de contorno nas bordas abertas (Norte, Leste e Sul) via elevação do nível do mar. Neste estudo foram implementadas 13 das 15 componentes disponíveis, a saber, M2, S2, K2, N2, 2N2, O1, P1, K1, Q1, Mf, Mm, e M4 – Tabela 2. Os dados de amplitude e fase de maré (Figura 7) foram obtidos em: http://www.jason.oceanobs.com/html/donnees/produits/auxiliaires/fes_uk.html e em seguida, interpolados bilinearmente para os pontos das bordas abertas da grade. 12 Condição para que a resolução de equações diferenciais parciais, de determinados algoritmos seja convergente. (COURANT;FRIEDERICHS;LEVY, 1928). Latitude 39 Longitude Figura 7 – Gráficos das isolinhas de amplitude e fase da componente M2 do FES2004. A visualização dos valores não é viável devido ao tamanho da figura e a grande quantidade de números, portanto esse gráfico é apenas de caráter ilustrativo. Os dados de amplitude e fase de maré dos pontos correspondentes às extremidades próximas à costa, das bordas Norte e Sul, foram corrigidos manualmente pois apresentavam valores irreais. Isso ocorre porque os dados do FES2004 próximos à costa ainda são, em geral, de baixa qualidade (LYARD; LEFEVRE; LETELLIER; 2006). A correção foi realizada observando-se a taxa de variação dos valores próximos à região costeira, de modo que este padrão foi mantido a fim de se obter os novos valores. Em cada ponto de borda, a elevação foi calculada segundo a Equação 7: η= ∑f i =1,13 i H i ∗ cos (ω i *t + ((V0 + u )i − φ i ) ) Equação 7 Onde η é a elevação de maré para as componentes i=1,13 de maré impostas, f é o fator nodal, Hi é a amplitude das componentes, ωi é a velocidade angular de cada componente, t é o tempo em dias julianos modificados a partir de 1950 (em horas), (V0 + u)i é o argumento astronômico e φ i é a fase de cada componente que foi obtida do 40 modelo FES2004, para cada ponto das bordas abertas. Os valores de velocidade angular das componentes foram obtidos de Pugh (1996). Já os valores de fator nodal13 ( f ) e argumento astronômico14 (V0 + u), para o tempo de referência do FES2004, foram calculados pelo programa nodal.f, disponível no link http://www.adcirc.org/utility_programs/tide_fac.f, e são mostrados na Tabela 2. Tabela 2 – Característica das componentes obtidas do FES2004 e aplicadas ao modelo POM. Símbolo M2 Nome Velocidade angular Fator Nodal (º/hora) (1950) Argumentos astronômicos (1950) K2 Principal lunar semidiurna Larga lunar elíptica semidiurna Lunisolar semidiurna S2 Principal solar semidiurna 30 1.00000 0.00 K1 Lunisolar diurna 15.0411 1.11274 9.75 O1 Principal Lunar diurna 13.943 1.18303 61.68 Q1 Larga lunar elíptica diurna 13.3987 1.18303 206.14 2N2 Lunar elíptica semidiurna 27.8954 0.96320 0.22 P1 Solar diurna 14.9589 1.00000 349.92 S1 Solar diurna 15 1.00000 180.00 Mf Lunar quinzenal 1.0980 1.45155 127.94 Mm Lunar mensal Sobreposição da principal constituinte lunar em água rasa 0.5444 0.87156 215.54 57.9682 0.92776 142.61 N2 M4 28.9841 0.96320 71.30 28.4397 0.96320 215.76 30.0821 1.31695 199.47 A condição de contorno aplicada às bordas laterais foi uma combinação da condição radiacional de Orlanski (1976) com a condição de Flather (1976). Carter e Merrifield (2007) e Marchesiello; McWilliams; Shchepetkin (2001) recomendam o uso da condição 13 É um fator que dependendo da longitude do nó da Lua, quando aplicado ao coeficiente médio da constituinte de maré, adaptará o mesmo a um ano particular a partir do qual as predições devem ser feitas (Tide and current Glossary, 1999). 14 Fase teórica de uma constituinte de uma maré de equilíbrio. É geralmente representada pela expressão (V + u), em que V é uma mudança angular uniforme que envolve os múltiplos do ângulo da hora do Sol médio, as longitudes médias da Lua e do Sol, e as longitudes médias do perigeu lunar e solar; e u é uma lenta mudança do ângulo dependendo da longitude do nó da Lua. Quando se refere ao começo de uma série de observações, é expressada por (Vo+ u) (Tide and current Glossary, 1999). 41 de contorno de Flather, em simulações de maré, por ser o menos sensível aos erros nos valores de limite prescritos. 4.6. COMPARAÇÃO A curva de elevação gerada pelo modelo foi comparada com a curva de dado obtidos in situ para a estação Ubu e o para a estação Vitória. Foi realizada também uma comparação com os dados adquiridos in situ nas estações Abrolhos e Barra do Rio Doce. Os pontos utilizados para comparação e suas fontes de origem estão discriminados na Tabela 3. Tabela 3 – Dados disponibilizados pela empresa de consultoria ambiental CEPEMAR e pelo Catálogo de Estações Maregráficas Brasileiras-CEMB (SALLES ET AL., 2000). Estação Ubu (CEPEMAR) Vitória (CEPEMAR) Abrolhos (CEMB) Barra do Rio Doce (CEMB) Localização Latitude Longitude Próximo à costa 20º 47’ S 40º 32’ W Próximo à costa 20º 21’ S 40º 12’ W Arquipélago dos Abrolhos, na Ilha de Santa Bárbara 17º 57,6’ S 38º 42,2’ W No Pontal de Regência 19º 39’ S 39º 50’ W Os dados in situ disponibilizados pela CEPEMAR constituem-se nos registros da elevação do nível do mar, obtidos por um ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler) fundeado num período de 11 dias com dados amostrados a cada meia hora na estação Vitória; e por 41 dias com amostragem a cada 3 horas na estação Ubu (Tabela 4). Tabela 4 – Informações sobre amostragem dos dados obtidos in situ pela empresa CEPEMAR. Tempo de Estação Intervalo de Hora inicial da Data de início amostragem (horas) coleta (GMT) da coleta 11 0,5 19,5 10/07/2007 41 3 13 25/07/2006 amostragem total (dias) Vitória (CEPEMAR) Ubu (CEPEMAR) 42 A estação Vitória está localizada próxima a Baía do Espírito Santo (Vitória, ES), Figura 8 – ADCP3. Já a estação Ubu localiza-se na região costeira próxima a praia de UBU (Anchieta, ES), Figura 9. 43 Figura 8 – Estação Vitória. Localização do ADCP fundeado (ADCP2). Fonte: CEPEMAR. 44 Figura 9 - Estação Ubu. Localização do ADCP fundeado. Fonte: CEPEMAR 45 Os dados de elevação de Ubu e Vitória passaram pelo filtro de banda passabanda (WALTERS & HESTON, 1982), para eliminar os períodos de fenômenos oceânicos e meteorológicos menores que 5 horas e maiores que 28 horas. Para a comparação com os dados do CEMB, a saída de elevação do modelo foi processada pelo software Pacmare (FRANCO, 1992), que forneceu como resultado as amplitudes e fases das componentes harmônicas ao nível de 95% de grau de confiabilidade para cada constituinte. 4.7. COMPARAÇÃO COM O ESTUDO DE LEMOS (2006) As curvas de elevação obtidas in situ das estações Ubu e Vitória foram comparadas com as curvas de elevação obtidas do estudo realizado por Lemos (2006). Posteriormente, realizou-se uma comparação entre os dados de amplitude e fase adquiridos in situ, das estações Abrollhos e Barra do Rio Doce, com os dados resultantes da simulação de Lemos (2006) após processamento destes no software Pacmare. 46 5. RESULTADOS 5.1. GRADE NUMÉRICA As principais características da grade construída para este estudo são mostradas na Tabela 5. Tabela 5 – Características da grade usada neste estudo. Os valores negativos correspondem ao Hemisfério Sul, no caso da latitude e ao Oeste de Greenwhich, no caso da longitude. Propriedades da Grade Valor Latitude Máxima Latitude Mínima Longitude Máxima Longitude Mínima Profundidade Mínima (m) Profundidade Máxima (m) Pontos da grade na direção x Pontos da grade na direção y Pontos da grade na direção σ Mínimo valor de ∆x Máximo valor de ∆x Mínimo valor de ∆y -15.8313 -21.9696 -34.0228 -41.0843 5 4549.2 420 350 21 1926.4m 1998.8m 1918.2m Máximo valor de ∆y 1989.9m A grade possui a borda Oeste fechada e as bordas Norte, Leste e Sul abertas. Os limites máximos e mínimos da região modelada foram determinados a partir do estudo realizado por Lemos (2006), onde se observou a relevância do contorno da costa (Cabo de São Tomé) ao Sul e dos Bancos de Abrolhos e Royal Charlotte ao Norte, para a hidrodinâmica resultante do efeito da maré na área de interesse. As profundidades mínima e máxima foram estabelecidas de acordo com os objetivos do estudo. O número de pontos na direção X,Y e σ derivam de um processo de otimização, que buscou associar a área de interesse a maior resolução espacial possível, sem contudo aumentar demasiadamente o tempo de simulação. Banco de Abrolhos 47 A diferença qualitativa entre os dados fornecidos pelo ETOPO2V2 e interpolados pelo programa Seagrid dos dados filtrados, pode ser observada na Figura 10. Através desta figura pode-se notar que o processo de filtragem dos dados gerou o resultado esperado: a suavização dos contornos batimétricos. Isto fez com que os erros gerados pelos altos gradientes de pressão fossem diminuídos. As maiores diferenças resultantes do processo de filtragem são encontradas na quebra de plataforma. Através da Figura 11 pode-se observar uma diminuição do gradiente batimétrico vertical. Deve-se ressaltar também, que devido a grande variação na largura da plataforma na região de estudo, os locais onde esta é consideravelmente estreita, foram os mais afetados pela filtragem, tendo a sua largura bastante diminuída. Comparando o perfil com dados filtrados com o original em Y=300 na Figura 11, nota-se Banco de Abrolhos que a plataforma chega a ser inexistente neste ponto. Entretanto, teve que se aceitar essa perda na qualidade dos dados, uma vez que os erros gerados pelos altos gradientes batimétricos, impossibilitaram o modelo de simular a região de forma adequada. Isto por que, uma das desvantagens da utilização da coordenada sigma é o aumento irreal da difusão entre as isopcniais, o que pode resultar em correntes artificiais e instabilidades estáticas (BECKMANN & HAIDVOGEL (1993), apud AUCLAIR et al.(2000)). A grade construída foi considerada apta para uso por produzir na fase de teste, ao final do décimo dia de simulação, velocidades na ordem de 10-3 m s-1. 48 Banco de Abrolhos Cadeia Vitória-Trindade Vitória (a) Banco de Abrolhos Cadeia Vitória-Trindade Vitória (b) Figura 10 – Análise qualitativa das diferenças entre os dados batimétricos. (a) Dados batimétricos do ETOPO2V2 interpolados pelo programa Seagrid. (b) Dados batimétricos após o processo de filtragem (alisamento). 49 Batimetria Original em Y = 1 Batimetria Alisada em Y = 1 Batimetria Original em Y = 175 Batimetria Alisada em Y = 175 Batimetria Original em Y = 300 Batimetria Alisada em Y = 300 0 -50 -100 -150 -200 -250 -300 -350 -400 -450 0 -50 -100 -150 -200 -250 -300 -350 -400 -450 0 -50 -100 -150 -200 -250 -300 -350 -400 -450 0 1 2 3 4 5 Distancia (m) 6 7 8 0 5 x 10 1 2 3 4 5 Distancia (m) 6 7 8 5 x 10 Figura 11 – Comparação entre os perfis batimétricos dos dados batimétricos do ETOPO2V2 interpolados pelo programa Seagrid e o perfil gerado pelos dados filtrados, até a profundidade de 500m. 50 5.2. COMPARAÇÃO 5.2.1 Curvas de elevação Como o estudo é de meso-escala a linha de costa não foi minuciosamente representada, fazendo com que alguns pontos costeiros, onde foram obtidos os dados in situ, fossem representados na grade como pontos de terra. Além disso, como os valores de elevação são obtidos somente no centro de cada célula não foi possível o registro dos dados na latitude e longitude exata do local da coleta dos dados in situ. Dessa maneira, o local na grade utilizado para a comparação foi aproximado. A diferença entre os locais da coleta de dados in situ e os locais do registro das elevações na grade encontra-se na Tabela 6. Tabela 6 - Diferença entre a coordenada do local da obtenção dos dados in situ e a coordenada do local em que foram obtidos os dados simulados. Vitória Ubu in situ grade grade Lemos Latitude 20° 21,1’ 20° 21,4’ 20° 20,5’ 20° 47,9’ 20° 47,5’ 2 Longitude 40° 12,2’ 40° 12,4’ 40° 12’ 40°32,8’ 40° 25,8’ 40° in situ grade grade Lemos 0° 48’ 32,5’ 5.2.1.1 Estação Vitória Os resultados da comparação entre a série de dados obtida in situ, para a estação de Vitória, com a série de dados resultantes da simulação deste estudo e com a simulação realizada por Lemos (2006), encontra-se na Figura 12. A sobreposição dos dados in situ com os dados encontrados neste estudo apresenta registro de instabilidades nas extremidades máximas e mínimas da curva de elevação. No entanto, tanto a análise qualitativa como quantitativa dos dados apresenta uma boa sobreposição das curvas e uma correlação simples de 97,5%. Já a sobreposição com os dados de Lemos demonstra uma correlação simples de cerca de 98,37%. 51 Figura 12: Curvas comparativas entre os dados simulados e os dados obtidos in situ para o ponto de Vitória. 52 5.2.1.2 Estação Ubu A comparação entre a série de dados obtida in situ para a estação de Ubu, com a série de dados resultantes da simulação deste estudo e com os da simulação realizada por Lemos (2006), encontra-se na Figura 13. A sobreposição dos dados in situ com os dados encontrados neste estudo, não apresenta registro de instabilidades, como foi encontrado no ponto de Vitória. Entretanto, verifica-se que nos períodos de sizígia os dados de elevação simulados, nas extremidades máximas e mínimas, não alcançam o valor obtido em campo. Embora, durante a quadratura os valores simulados ultrapassem os valores obtidos in situ. A correlação simples entre os dados foi de 98.61 %. Já na sobreposição com os dados de Lemos (2006) pode-se observar que nos períodos de sizígia os dados de elevação simulados, nas extremidades máximas e mínimas da curva de elevação, alcançam com maior freqüência o valor obtido em campo. Todavia, durante a quadratura os valores simulados também ultrapassam os valores obtidos in situ. A correlação simples entre os dados foi de 98,16%. . 53 Figura 13: Curvas comparativas entre os dados simulados e os dados obtidos in situ para o ponto de Ubu. 54 5.2.2. Amplitudes e fases As Tabelas 7 a 16 mostram a comparação entre os dados modelados por este estudo (sim.), pelo estudo de Lemos (2006) (lemos) e os medidos in situ obtidos pelo CEMB e pela empresa CEPEMAR. A série de dados de 11 dias obtidos in situ, da estação Vitória é pequena para a identificação de constantes harmônicas de longo período. Isto e o filtro que separou somente as componentes de 5-28 horas fizeram com que não fosse possível a comparação entre as componentes de longo período Mm e Mf. Em relação às amplitudes é importante salientar que a diferença entre os dados simulados das constituintes semidiurnas (exceto N2 e 2N2) e M4, não alcançam os valores in situ. Enquanto que as amplitudes das harmônicas diurnas ultrapassam os valores in situ. Essa característica não é encontrada nos resultados de Lemos (2006). As diferenças de amplitude (∆ sim.) para a componente M2 verificadas por este estudo, são menores do que as diferenças encontradas pelo estudo realizado por Lemos (2006) (∆ lemos), para as estações Ubu e Barra do Rio Doce. As maiores diferenças de amplitude (∆ sim) nas componentes semi-diurnas (exceto N2 e 2N2) foram encontradas na estação Abrolhos, o que pode ter sido acarretado pela topografia peculiar do Banco (composta por canais), fazendo com que essas constituintes não fossem bem representadas na estação Abrolhos. Já os dados de amplitude da componente S2 de Lemos (2006) estão mais próximos dos obtidos in situ, do que os dados do presente estudo. Para a fase das principais componentes M2, S2 o ∆ sim. apresenta-se menor do que o ∆ lemos, para as estações Ubu e Vitória. Os dados não apresentaram um padrão de variação, possivelmente devido às instabilidades verificadas, sobretudo nas áreas mais próximas da costa. 55 Tabela 7: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré M2. Constante Harmônica de Maré M2 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 43,89 48,80 40,48 4,91 -3,41 175,19 94,76 101,03 -80,43 -74,16 Vitória 44,69 47,83 41,33 3,14 -3,36 171,17 94,14 101,47 -77,03 -69,7 Abrolhos 78,4 73,53 64,68 -4,87 -13,72 102 101,98 110,97 -0,02 8,97 Barra do Rio Doce 39,1 52,24 42,88 13,14 3,78 94 92,95 101,69 -1,05 7,69 Tabela 8: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré S2. Constante Harmônica de Maré S2 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 20,84 19,85 18,36 -0,99 -2,48 186,53 104,93 117,10 -81,6 -69,43 Vitória 22,09 19,22 18,62 -2,87 -3,47 193,83 104,30 117,75 -89,53 -76,08 Abrolhos 33,1 27,43 27,12 -5,67 -5,98 119 114,27 129,10 -4,73 10,1 Barra do Rio Doce 18,9 20,93 19,19 2,03 0,29 103 103,61 118,22 0,61 15,22 56 Tabela 9: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré N2. Constante Harmônica de Maré N2 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 6,82 6,43 7,54 -0,39 0,72 178,74 98,64 132 -80,1 -46,74 Vitória 8,33 6,37 7,71 -1,96 -0,62 168,49 97,22 131,67 -71,27 -36,82 Abrolhos 13,1 10,76 13,12 -2,34 0,02 105 97,21 133,84 -7,79 28,84 Barra do Rio Doce 3,9 6,96 8,06 3,06 4,16 68 94,81 131,34 26,81 63,34 Tabela 10: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré K2. Constante Harmônica de Maré K2 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 5,67 5,40 4,99 -0,27 -0,68 187,44 105,75 118,40 -81,69 -69,04 Vitória 6,01 5,23 5,06 -0,78 -0,95 195,66 105,13 119,07 -90,53 -76,59 Abrolhos 9,0 7,46 7,38 -1,54 -1,62 120 115,26 130,56 -4,74 10,56 Barra do Rio Doce 5,1 5,69 5,22 0,59 0,12 103 104,47 119,56 1,47 16,56 57 Tabela 11: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré O1. Constante Harmônica de Maré O1 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 9,02 6,29 13,03 -2,73 4,01 137,13 103,16 115,08 -33,97 -22,05 Vitória 8,38 6,17 12,99 -2,21 4,61 140,01 103,42 116,15 -36,59 -23,86 Abrolhos 7,8 5,38 11,74 -2,42 3,94 123 117,43 133,38 -5,57 10,38 Barra do Rio Doce 8,5 6,24 12,99 -2,26 4,49 95 104,18 117,07 9,18 22,07 Tabela 12: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré K1. Constante Harmônica de Maré K1 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 4,87 3,13 6,46 -1,74 1,59 203,70 161,72 147,96 -41,98 -55,74 Vitória 5,48 3,12 6,51 -2,36 1,03 202,61 160,64 149,12 -41,97 -53,49 Abrolhos 4,4 3,33 6,30 -1,07 1,9 182 169,81 173,61 -12,19 -8,39 Barra do Rio Doce 4,5 3,16 6,58 -1,34 2,08 143 159,59 150,30 16,59 7,3 58 Tabela 13: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré Q1. Constante Harmônica de Maré Q1 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 2,80 1,88 3,32 -0,92 0,52 124,31 58,37 66,20 -65,94 -58,11 Vitória - - - - - - - - - - Abrolhos 1,9 1,63 3,02 -0,27 1,12 113 71,70 80,03 -41,3 -32,97 Barra do Rio Doce 1,8 1,87 3,30 0,07 1,5 72 59,24 67,27 -12,76 -4,73 Tabela 14: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré P1. Constante Harmônica de Maré P1 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 1,61 1,04 2,14 -0,57 0,53 198,71 157,33 145,49 -41,38 -53,22 Vitória 1,81 1,03 2,15 -0,78 0,34 197,91 156,35 146,65 -41,56 -51,26 Abrolhos 1,5 1,10 2,09 -0,4 0,59 178 165,88 170,59 -12,12 -7,41 Barra do Rio Doce 1,5 1,05 2,18 -0,45 0,68 143 155,43 147,8 12,43 4,8 59 Tabela 15: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré 2N2. Constante Harmônica de Maré 2N2 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 0,91 0,85 1,00 -0,06 0,09 182,29 102,52 162,98 -79,77 -19,31 Vitória 1,11 0,85 1,03 -0,26 -0,08 165,81 100,30 161,88 -65,51 -3,93 Abrolhos 1,7 1,43 1,75 -0,27 0,05 106 92,45 156,70 -13,55 50,7 Barra do Rio Doce 0,5 0,93 1,07 0,43 0,57 42 96,66 160,98 54,66 118,98 Tabela 16: Tabela comparativa com: os dados de amplitude e fase observados (obs.), segundo o CEMB e a CEPEMAR; a modelagem feita por Lemos (2006) (Lemos) e a diferença entre os dados gerados pelo estudo de Lemos (2006) e os dados obtidos in situ (∆ lemos); os dados simulados (sim.) por este estudo e a diferença entre eles e os dados obtidos in situ (∆ sim.); correspondente a componente de maré M4. Constante Harmônica de Maré M4 Amplitude (centímetro) Fase (grau) Estação Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Obs. Lemos Sim. ∆ lemos ∆ sim. Ubu 0,68 - - - - 253,79 - - - - Vitória 1,32 0,10 0,06 -1,22 -1,26 259,40 147,34 353,91 -112,06 94,51 Abrolhos 3,1 1,12 1,05 -1,98 -2,05 203 171,59 83,85 -31,41 -119,15 Barra do Rio Doce 1,9 0,50 0,06 -1,4 -1,84 106 143,12 46,95 37,12 -59,05 60 5.3 DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL DE AMPLITUDE E FASE A Figura 14 ilustra a distribuição espacial dos pontos utilizados para o cálculo de amplitude e fase das componentes de maré. Nas Figuras 15 a 19 encontram-se as amplitudes e as fases das componentes harmônicas referenciadas ao horário local. Distribuição dos transectos na grade -16 Latitude -17 -18 -19 -20 -21 -41 -40 -39 -38 -37 -36 Longitude Figura 14: Pontos escolhidos para análise do campo de isolinhas de amplitude e fase, em azul. Isóbata de 200m, em cinza. Os maiores valores de amplitude encontram-se sobre o Banco de Abrolhos e estão associados às harmônicas M2 (72cm), seguido pelas componentes S2 (32cm), N2 61 (14cm), O1 (14cm), K2 (8,4cm), K1 (7,4cm), Q1 (3,45cm), P1(2,8cm), e 2N2(1,8cm), O que demonstra o domínio das harmônicas semidiurnas na região. Através da Tabela 17 pode-se notar que os valores da maioria das componentes semidiurnas desta simulação são menores do que os valores encontrados por Lemos (2006). Em contrapartida, entre a maioria das componentes diurnas, destacam-se valores maiores do que os simulados por Lemos (2006). Tabela 17 – Comparação entre os maiores valores de amplitudes encontrados, sobre o Banco de Abrolhos, deste estudo (sim.) e do estudo de Lemos (2006). Componente Valor máximo (cm) - lemos Valor máximo (cm) - sim. M2 S2 N2 O1 K1 K2 Q1 74 33 12 9 6,6 4,5 3,5 72 32 14 14 7,4 8,4 3,45 Através da análise das isolinhas de fase (Figuras 15 a 19) verifica-se a propagação das componentes, M2, S2, O1, K2, K1, Q1 e P1, no sentido sudeste-noroeste. Enquanto que a fase das harmônicas N2 e 2N2 propagam-se no sentido nordeste-sudoeste. As componentes Mf, Mm e M4 não apresentaram um grau de confiabilidade superior a 95%, na análise do Pacmare, não sendo, portanto, possível a construção das suas isolinhas de amplitude e fase. 62 S2 M2 -16 -16 -17 -17 Caravelas Caravelas -18 Latitude Latitude -18 -19 -19 -20 -20 Vitória Vitória -21 -21 -41 -40 -39 -38 -37 -41 -40 -39 Longitude Longitude (a) (b) -38 -37 Figura 15: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas M2(a) e S2(b). 63 N2 K2 -16 -16 -17 -17 Caravelas Caravelas -18 Latitude Latitude -18 -19 -19 -20 -20 Vitória Vitória -21 -21 -41 -40 -39 -38 -37 -41 -40 -39 Longitude Longitude (a) (b) -38 -37 Figura 16: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas K2(a) e N2(b). 64 O1 K1 -16 -16 -17 -17 Caravelas Caravelas -18 Latitude Latitude -18 -19 -19 -20 -20 Vitória Vitória -21 -21 -41 -40 -39 -38 -37 -41 -40 -39 Longitude Longitude (a) (b) -38 -37 Figura 17: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas K1(a) e O1(b). 65 P1 Q1 -16 -16 -17 -17 Caravelas Caravelas -18 Latitude Latitude -18 -19 -19 -20 -20 Vitória Vitória -21 -21 -41 -40 -39 -38 -37 -41 -40 -39 Longitude Longitude (a) (b) -38 -37 Figura 18: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para as constantes harmônicas Q1(a) e P1(b). 66 2N2 -16 -17 Caravelas Latitude -18 -19 -20 Vitória -21 -41 -40 -39 -38 -37 Longitude Figura 19: Isolinhas de amplitude (linha contínua em preto) dadas em centímetro e fase (linhas tracejadas em azul) dadas em grau, para a constante harmônica 2N2. 67 5.4 VELOCIDADES DAS CORRENTES DE MARÉ Para a análise das velocidades das correntes de maré foram confeccionados duas animações, que encontram-se em anexo digital, uma mostrando os resultados em toda a área de estudo (Animação 1) e outra focando a porção sul da região simulada (Animação 2). As animações exibem os resultados de velocidade das correntes de maré, para um dia de simulação, de uma maré de sizígia. O dia escolhido é cinco de fevereiro de 1996, mesmo dia utilizado por Lemos (2006) para analisar seus resultados. 5.4.1 Animação das velocidades das correntes de maré na margem continental da área de estudo A animação encontra-se em anexo digital. As maiores velocidades das correntes de maré são encontradas sobre o BA e sobre o BRC. Verifica-se em frente ao BRC e entre o BRC e o BA a formação de vórtices de sentido anti-horário nos períodos de maré enchente. É importante frisar a intensificação da velocidade, como por exemplo, em regiões fora da plataforma continental em locais onde há bancos submersos, como em 36ºW na altura de Caravelas e sobre a CVT. A configuração topográfica desses locais enriquece a hidrodinâmica forçada pela maré com vários contornos intensos, comparados com as áreas vizinhas. A área adjacente ao estado do ES mostra-se como uma região de velocidades reduzidas, com valores sempre menores do que as outras regiões costeiras da área de estudo. Já na latitude de 21,9ºS, sobre a plataforma, nota-se altas velocidades associadas à presença de uma plataforma continental mais larga e ao contorno da linha de costa. 68 5.4.2 Animação das velocidades das correntes de maré na margem continental do Espírito Santo A animação encontra-se em anexo digital. As velocidades sobre a plataforma continental capixaba são menores que 5cm s-1. Observa-se a formação de vórtices nos períodos de velocidades mais baixas, durante o dia simulado, sobre a CVT. As maiores velocidades são encontradas ao Sul do BA e sobre a CVT. Nota-se que entre o BA e a CVT o direcionamento das correntes de maré faz com que haja uma interação entre o banco e a cadeia, no momento em que a maré está subindo. Verifica-se também um comportamento diferenciado no campo hidrodinâmico, ao sul da CVT, antes e após a longitude de 37ºW. Enquanto os vetores encontram-se posicionados na direção nordeste/sudeste, nas porções anteriores a longitude referida, nas porções posteriores os vetores posicionam-se no sentido noroeste/sudoeste. 69 5.5. CAMPO DAS COMPONENTES DE VELOCIDADE DAS CORRENTES DE MARÉ (ELIPSES DE MARÉ) Vinte e oito pontos distribuídos em sete transectos perpendiculares à costa (Figura 20) foram escolhidos para mostrar a relação entre as componentes de velocidades de maré. A relação entre as velocidades leste-oeste (U) e norte-sul (V) das correntes de maré barotrópicas nos vinte e oito pontos, pode ser observada na Figura 20. Na construção dos gráficos foram verificadas instabilidades em maior grau nos pontos costeiros, que impossibilitaram a identificação do sentido de giro de alguns pontos, como se pode notar na Figura 20. No primeiro transecto (1-4) o sentido de giro é anti-horário. Nos transectos (5-7;8-12 e 13-15) observa-se o sentido anti-horário nos pontos próximos e sobre a plataforma e o sentido de giro horário nos pontos mais afastados dela. Na Figura 20 seguindo em direção ao norte, a partir da latitude de -19º destaca-se a mudança de sentido de giro entre o o ponto 15 (horário) e o transecto 16-20 (antihorário). É exatamente entre esses transectos que se observa na Figura 21 a mudança na direção dos eixos das elipses. A análise conjunta da Figura 20 e 21 dos pontos fora da plataforma continental evidencia um direcionamento da maioria das elipses de 1 a 15, sudoeste-nordeste. E da maioria dos pontos de 16 a 28, noroeste- sudeste. 70 Distribuição dos transectos de velocidade na grade -16 25 26 27 28 -17 21 -18 22 17 16 Latitude 24 23 13 18 19 20 15 14 -19 8 10 11 9 12 -20 5 6 2 3 7 -21 1 -41 -40 4 -39 -38 -37 -36 Longitude Figura 20: Realce nos transectos que foram escolhidos para análise das Figura 21: Profundidade e distribuição das componentes de velocidade elipses de maré, em azul marinho. Sentido dos giros das elipses de U e V superficial no sistema cartesiano para cada ponto analisado. maré anti-horário, em marrom e horário, em laranja. Em cinza limite da Observa-se para os pontos fora da plataforma continental, um plataforma continental. Devido às instabilidades não foi possível direcionamento das elipses de maré sudoeste-nordeste (4, 6, 7, 9, 10, identificar o sentido de giro de alguns pontos. 11, 12, 15). E um direcionamento noroeste- sudeste para os pontos 18, 19, 20, 23, 24, 27 e 28. 71 6. DISCUSSÃO 6.1 CORRELAÇÃO ENTRE AS CURVAS DE ELEVAÇÃO A correlação obtida entre as curvas geradas pela simulação deste estudo e pela simulação do estudo de Lemos (2006) foi satisfatória, todas acima de 95%. A diferença entre as correlações dos dois estudos foi pequena, cerca de 0,45% em Ubu e 0,87% em Vitória. Ao se analisar a profundidade das estações de coleta com a profundidade das estações nas grades de estudo, nota-se que as grades possuem uma profundidade bem menor do que as profundidades de coleta de dados in situ (Tabela 18). Tabela 18 – Diferença entre as profundidades in situ e da grade nas estações de Ubu e Vitória. Estação Ubu (CEPEMAR) Vitória (CEPEMAR) Profundidade Profundidade (m) do local na grade numérica Profundidade (m) do local na grade numérica de Lemos (2006) 25,4 6,8 10,4 35,7 9,4 24,6 Apesar da diferença entre as profundidades mostradas na tabela acima, as curvas de comparação apresentadas nas Figuras 12 e 13 possuem uma boa correlação qualiquantitativa, o que demonstra uma forte ação da força de atrito do modelo neste estudo e no estudo de Lemos (2006). A forte atuação das forças de fricção fez com que os valores das componentes semidiurnas desta simulação fossem menores do que os valores da simulação de Lemos (2006), conforme observado na Tabela 17. Apesar do valor do coeficiente mínimo de fricção de fundo ter sido o mesmo, em ambos os trabalhos, a resolução da grade foi maior neste estudo do que no trabalho de Lemos (2006), o que pode ter contribuído para que o erro gerado pelo coeficiente de fricção fosse maior neste estudo. 72 6.2 AMPLITUDE E FASE DAS COMPONENTES DE MARÉ A dominância da componente M2, seguida pela S2 na área de estudo, citada nos resultados, também foi encontrada nos estudos realizados por Harari e Camargo (2003), na região costeira de Santos (Br); por Pereira et al. (2005), na plataforma leste brasileira e por Mesquita (1997), na costa sudeste do Brasil. Nas Tabelas 7 a 16 observa-se uma resposta quantitativa diferenciada entre as harmônicas semidiurnas (exceto N2 e 2N2) e a M4, que não alcançaram os valores obtidos in situ, enquanto que as harmônicas diurnas simuladas ultrapassaram os valores observados in situ. Tanto a diferença quantitativa, entre as constituintes diurnas e semidiurnas observada nas tabelas 7 a 16, como a qualitativa (entre as isolinhas de amplitude), encontrada nas figuras 15 a 19, ocorre por que ondas de maré com alta freqüência são influenciadas pela batimetria, ao passo que ondas de maré com baixa freqüência não são influenciadas por profundidades menores (CLARKE, 1991). Analisando as saídas do FES2004 para as componentes K1 e M2 (Figura 22), verifica-se uma resposta distinta entre as isolinhas de amplitude das duas componentes, corroborando com o resultado da presente simulação. Cummins e Oye (1997) que simularam a maré no nordeste da Columbia Britânica, encontraram uma maior influência da batimetria sobre o comportamento das constituintes M2 e S2, enquanto que as componentes K1 e O1 foram pouco influenciadas pelas formas de fundo. Essa diferente resposta entre os sinais da onda de maré de alta e baixa freqüência, sustenta a idéia de que há um alto valor das forças de fricção atuando no modelo, fazendo com que os valores das harmônicas de alta freqüência não alcancem os valores medidos in situ, o que não ocorre com as constituintes de baixa freqüência. Ora, um alto valor de fricção, gera uma diminuição das correntes que ocasiona um menor empilhamento de água o que leva as componentes semidiurnas a não alcançarem os valores coletados in situ. 73 Aldridge e Davies (1993), em suas simulações com um modelo hidrodinâmico de maré, encontraram uma relação inversamente proporcional entre a fricção de fundo e as correntes médias, no modo bidimensional do seu modelo. Já no modo tridimensional, o aumento da fricção de fundo, gerou uma diminuição da velocidade das correntes próximas ao fundo e um aumento da velocidade das correntes na superfície. Por meio das Figuras 15 a 19 verifica-se também um adensamento das isolinhas de amplitude e fase sobre o BA. Isto se deve a uma associação dos efeitos do arqueamento da linha de costa com a batimetria da região. O arqueamento da linha de costa parece ter maior influência, uma vez que esta feição é encontrada somente sobre o BA; não sendo encontrada sobre o BRC, que apresenta baixas profundidades, mas não possui a linha de costa arqueada. No entanto, não se deve descartar a extensão dos bancos, uma vez que BA é bem maior do que BRC. O sentido de propagação em direção ao norte das isolinhas de fase das harmônicas M2, S2, O1, K2, K1, Q1 e P1, sugere que elas sofram uma maior influência do ponto anfidrômico de giro ciclônico localizado em -32º S e -45º W. Já o sentido de propagação, em direção ao sul, das componentes N2 e 2N2, sugere que elas sejam influenciadas pelo giro anticiclônico localizado em -30º S e -25º W. A associação entre o arqueamento da linha de costa, a baixa profundidade e o encontro de isolinhas de fase geradas por diferentes pontos anfidrômicos, confere a região dos Abrolhos uma hidrodinâmica distinta das áreas ao redor, com os maiores valores de amplitude da área de estudo. 74 Região que enquadra a área de estudo. K1 – Amplitude K1 - Fase M2 – Amplitude M2 – Fase Região que enquadra a área de estudo. Figura 22 – Gráficos de isolinhas de amplitude e fase dos dados do FES2004. Pode-se notar a propagação da fase de ambas as componentes, na área de estudo, crescendo no sentido sudoeste-nordeste. E o comportamento diferenciado da diurna K1 aumentando de nordeste para sudoeste, ao passo que M2 cresce de sudoeste para nordeste. Fonte: LYARD, LEFEVRE, LETELLIER, 2006. 75 6.3 ANÁLISE DAS VELOCIDADES E ELIPSES DE MARÉ As velocidades das correntes de maré são diretamente influenciadas pela batimetria (Equação 3). Ela é o fator principal que designa aonde se encontrarão os maiores valores de velocidade de correntes de maré, que são verificados através da análise do anexo digital da seção 5.4.1, tanto no BA quanto no BRC. A interação entre o sul do BA e a CVT, encontrada através da análise do anexo digital da seção 5.4.2, também foi constatada pelo trabalho de Martins, Olavo e Costa (2007). Os autores designam a interação entre o banco e a cadeia como complexo faunístico Abrolhos-Trindade, por possuir uma distribuição da fauna distinta das regiões ao sul e ao norte da área adjacente. A mudança da orientação das elipses de maré é visível na Figura 21 entre os pontos 115, onde a maioria das elipses possui orientação sudoeste-nordeste, enquanto que entre os pontos 16-25 a orientação da maioria das elipses é noroeste-sudeste. Analisando a Figura 21 juntamente com a Figura 20, observa-se a mudança no sentido de giro das elipses entre os transectos 15 e 17-20. Sob este aspecto é importante considerar a influência da topografia da plataforma sobre o sentido de giro das elipses de maré (CLARKE, 1991. In: PEREIRA et al., 2005). Em seu estudo Pereira et al. (2005) encontraram, para a componente M2 na região do BRC e do BA, elipses com giro anti-horário, sobre os bancos e elipses com giro horário, entre os bancos na plataforma continental, próximo à costa. O comportamento diferenciado do campo hidrodinâmico antes e após a longitude de 37ºW ao sul da CVT, citado no item 5.4.2, pode ser resultante da topografia da Cadeia que apresenta nessa longitude uma profundidade maior, localizada entre o Banco Vitória e o Banco Montague. A região central da costa do Espírito Santo (20º e 21º S e 39º e 41º W) é caracterizada por baixos valores de corrente de maré, com velocidades menores que 0,05 m/s. A hidrodinâmica forçada pela maré nessa área é resultante dos arqueamentos costeiros encontrados ao sul a ao norte de Vitória e da sua estreita plataforma continental. 76 7. CONCLUSÕES O Banco de Abrolhos possui uma hidrodinâmica peculiar gerada pela associação do arqueamento da linha de costa com a baixa profundidade. As maiores velocidades de maré foram encontradas sobre os Bancos de Abrolhos e sobre o Banco Royal Charlotte. Os arqueamentos da linha de costa fazem com que haja um adensamento das isolinhas de fase, gerando um atraso na propagação da onda das componentes M2, S2, K2, O1, P1, K1, Q1, em direção ao norte. De acordo com a direção de propagação destas constituintes, notou-se que elas sofrem maior influência do ponto anfidrômico de giro ciclônico localizado em -32º S e -45º W. Já as constituintes N2 e 2N2 propagam-se em direção ao sul, sendo influenciadas pelo giro anticiclônico localizado em -30º S e -25º W. Após passarem pelo arqueamento de costa em Abrolhos chegam quase que paralelas à costa ao sul da área de estudo. Através dos resultados observou-se a necessidade de calibração do modelo em relação à fricção. Apesar das instabilidades o Princeton Ocean Model deu uma boa resposta, o que demonstra a sua potencialidade e aplicabilidade no estudo da maré na região estudada. 77 8. SUGESTÕES Como trabalhos futuros sugere-se: Análise da energia cinética potencial e total da maré na região para quantificar a sua importância na hidrodinâmica local; Análise das correntes residuais da região de estudo; A simulação da maré baroclínica na área de estudo para checar os upwellings e dowellings encontrados por Pereira et al. (2005); Uma simulação focada somente na costa do estado do ES, com uma grade de alta resolução para checar possíveis feições que não foram identificadas neste estudo; 78 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALDRIDGE, J.N. ; DAVIES, A.M. 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