O mito da criação nas mitologias Grega e Egípcia

Transcrição

O mito da criação nas mitologias Grega e Egípcia
COLÉGIO OFÉLIA FONSECA
O MITO DA CRIAÇÃO NAS MITOLOGIAS GREGA E EGÍPCIA
Gabrielle Palmerio
São Paulo
2015
1
Gabrielle Palmerio
O MITO DA CRIAÇÃO NAS MITOLOGIAS GREGA E
EGÍPCIA
Trabalho realizado e apresentado sob a orientação do
Professor Luis Fernando Massagardi, da disciplina de História
2
Resumo
Desde os primórdios da humanidade, uma questão sempre foi debatida por defensores
da religião e cientistas, nunca se chegando a uma conclusão, a cosmogonia, ou seja, a
criação, o princípio de tudo. Neste trabalho apresentarei duas percepções de
cosmogonia, o mito da criação, sobre o ponto de vista da mitologia grega e egípcia.
Sendo feita uma análise comparativa entre elas. Com o objetivo de perceber as
semelhanças do mito da criação entre esses dois povos que não se relacionavam, e a
capacidade do ser humano de resultar numa mesma conclusão, mesmo sendo separados
por quilômetros de distância.
3
Agradecimentos
Agradeço a todos os meus amigos e familiares que me ajudaram na elaboração deste
trabalho. E a todos os meus professores que durante esses três anos contribuíram para o
meu futuro. Em especial ao meu orientador Luis, pois sem ele este trabalho não seria
possível.
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Sumário
1. Introdução ............................................................................................. 1706
1.1 Introdução à mitologia .........................................................................17
1.2 O mito. .................................................................................................... 18
1.3 Mito e Religião ...................................................................................... 182
1.4 Mitologia X Ciência...................................................................................14
2. Desenvolvimento.................................................................................... 186
2.1 A mitologia Grega ...............................................................................16
2.2 O mito da criação grego ......................................................................19
2.3 A mitologia egípcia ...............................................................................22
2.4 O mito da criação egípcio ........................................................................24
3. Conclusão ..................................................................................................27
4. Referências Bibliográficas .........................................................................29
5
INTRODUÇÃO
Neste trabalho abordarei o mito da criação sobre duas perspectivas, sobre a mitologia
grega e egípcia, comparando suas estruturas e seus elementos.
Iniciarei
este
trabalho tratando
do
conceito “mitologia”,
apresentando
suas
características. Será igualmente abordado as relações entre mito e religião e mito e
ciência. A passagem do mito à razão será outro assunto trabalhado. Para isso será
utilizado, num primeiro momento, a obra de mircea eliade a qual contempla a função
social e cultural da mitologia. Coloco em pauta a passagem do mito para a razão,
sempre com o objetivo de divulgar informações básicas para o leitor.
Então no Segundo capítulo entrarei de maneira bem específica no meu tema, primeiro
apresentando características da mitologia grega, divulgando um pouco sobre a
sociedade grega da época e elementos gerais dessa mitologia, para então, partir para o
mito da criação, desde os primórdios, quando nada existia além de Caos, para os tempos
de ‘hoje’, que está sobre o governo de Zeus.
Trabalharei também aspectos gerais da mitologia egípcia, apresentando características
do povo egípcio, e sua relação com a religião. Depois, explicarei o mito da criação,
começando, similarmente ao mito grego, com nada além de um mar de caos e trevas
chamado Nun, que termina com o reinado de Hórus.
Na conclusão apresento diversas diferenças e semelhanças entre esses dois mitos, como
o uso de incesto e a mudança no poder
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1. CAPÍTULO I
Aspectos gerais da mitologia e do mito
Neste trabalho abordarei alguns aspectos gerais sobre o conceito ‘mitologia’,
introduzindo o leitor ao tema, para que se tenha total compreensão do tema, assando
pelo mito, religião e ciência, analisando todas essas vertentes da mitologia.
1.1 Introdução à mitologia
Desde o início da humanidade, o ser humano tenta entender o mundo no qual está
inserido, e no passado essa compreensão do “universo” e tudo ao redor do ser humano
era feito através dos mitos. Os mitos narravam não apenas a origem do mundo e dos
seres vivos, mas todos os acontecimentos primordiais, que como consequência
converteram o ser humano no que ele é hoje.
Todas as culturas têm histórias tradicionais, as quais os povos da antiguidade
procuraram, de alguma forma, entender, relatar e explicar para justificar aspectos da
vida e da natureza.
Mitologia1 é um conceito criado após o surgimento da Filosofia. Na antiguidade grega,
antes da Filosofia, a mitologia era o modo narrativo que os gregos usavam para explicar
a causa dos fenômenos que rondavam a sociedade. As narrativas eram incontestáveis,
ninguém duvidava da credibilidade delas, e todos acreditavam. As narrativas falavam
sempre de um mundo que transcendia a natureza das coisas visíveis, havia uma
interação inquestionável entre homens, natureza e deuses. As narrativas mitológicas
chegaram aos gregos pela oralidade vindas de tempos imemoriais. A Grécia antiga do
1
Do
grego
mythos
+
logos
(λόγος)
=
estudo
da
palavra.
O grego mythos, deriva do verbo mytheyo e do verbo mytheo, o primeiro significa
narrar, contar, e o segundo, conversar, designar. Logos, significava inicialmente a
palavra
escrita
ou
falada,
o
Verbo.
Mas
a
partir
de
filósofos
gregos
como Heráclito passou a ter um significado mais amplo, passou a ser um conceito
filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual
ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza.
7
período homérico possuía uma cultura estritamente oral. As histórias não eram escritas,
mas sim passadas de geração a geração através do canto do Aedo 2.
Tem como objeto o estudo de mitos, os quais têm um caráter social e só são
compreendidos dentro do contexto geral da cultura em que foram criados e explicados
através de seres imaginários divinizados. O mito é desenvolvido num tempo anterior a
criação do mundo convencional.
“O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que
pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas
e complementares. [...]
“O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento
ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”.
(ELIADE, 1991)
Contém três funções: a função explicativa, umas causas no passado em quais os efeitos
permanecem; a função organizativa que legitima um sistema de permissões e
proibições; e a função compensatória que busca mostrar que os erros do passado foram
corrigidos.
Mitologia então nada mais é do que uma “racionalização” e “sistematização” dos mitos.
2
Aedo (ἀοιδός), que pode ser encarado como o bardo helênico. Aedo vem do verbo
aidô (ᾄδω) que significa exatamente “cantar”.
8
1.2 O mito
“Mito é algo que nunca existiu, mas que
existe sempre” - Joseph Campbell3
A verdade do Mito não obedece à lógica nem da verdade baseada na experiência, nem
da verdade científica. É verdade compreendida, que não necessita de provas para ser
aceita. É, portanto, uma percepção compreensiva da realidade, é uma forma espontânea
do ser humano situar-se no mundo. Normalmente, associa-se, erroneamente, o conceito
de mito a mentira, o mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem o vive. A
narração de determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo,
sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Considerados histórias
sagradas, são “verdadeiros”, porque sempre se referem a realidades, como por exemplo
o mito cosmogônico que é verdadeiro pois a existência do mundo comprova essa teoria,
assim como o mito da morte, e assim por diante. São ambíguos e sutis, contêm vários
significados , sendo flexíveis, adaptando-se a mudanças e a novos conhecimentos.
O mito sempre se refere a uma “criação”, contando como algo veio á existência, ou
como um comportamento, instituição; por isso os mitos mostram os paradigmas dos
atos humanos, eles apresentam modelos de sociedades arcaicas. Conhecendo o mito,
conhece-se a “origem” das coisas, e consequentemente se adquiri o poder de dominálas, manipulá-las e multiplicá-las.
“Não se pode realizar um ritual, a menos que se conheça a sua
“origem”, isto é, o mito que narra como ele foi efetuado pela
primeira vez.” (ELIADE, 1991)
O mito não é exclusividade de povos primitivos, existe em todos os tempos e culturas
simultaneamente sendo um componente insubstituível no modo em que compreendemos
a realidade. E é, na realidade, uma maneira de entender o passado e o presente, muitas
sociedades vivem com fundamentos na mitologia, pois ela é a base de muitas
religiões, como era para os gregos e egípcios, e ainda é para os cristãos e evangélicos
por
exemplo.
Os mitos podem não explicar os fatos de suas narrativas corretamente, sugerem que
3
Uma das grandes autoridades mundiais em mitologia.
9
implicitamente na explicação existe uma realidade que não pode ser conhecida ou
examinada.
Temos dois tipos de mitos: os mitos cosmogônicos, que mencionam uma matéria já
existente a toda a criação, como o oceano e o caos; e os mitos escatológicos, que tratam
de outro grande enigma, a morte.
Para a mitologia, a morte não aparece como fato natural, mas como elemento estranho à
criação original, algo que necessita de uma justificativa, de uma solução em outro plano
de realidade. Mas nesse trabalho aprofundaremos uma reflexão sobre a criação.
O verdadeiro objetivo do mito é dar sentido ao mundo.
“Vivemos pelo mito e o incorporamos, e ele nos incorpora. O que
é estranho é como o reconstruímos. ” (AYSRTON, Michael)
Os mitos recordam continuamente que eventos grandiosos tiveram lugar sobre a Terra, e
que essa glória é em parte recuperável, forçando o ser humano a transcender os seus
limites, obriga-o a se situar ao lado dos Deuses e dos Heróis míticos, a fim de poder
realizar os atos deles. Direta ou indiretamente elevando o ser humano, ajudando-o a
ultrapassar os seus próprios limites e condicionamentos.
Os mitos fornecem tanto um caminho para o mundo sacro quanto um guia sobre como
viver no mundo da realidade cotidiana, para uma sociedade que se identifica
completamente com a sua mitologia todas as ações neste mundo ecoam no dos deuses.
Numa cultura que é totalmente imersa no mito, como a do povo warao na região de
Orenoco, Venezuela, todos os aspectos da vida, por mais mundanos, estão imersos no
senso do sagrado. Povos como os waraos estão em sintonia com o meio ambiente, seus
mitos são histórias sobre os seres sagrados na época da criação e são um guia detalhado
para o equilíbrio natural do mundo em que vivem.
Como os mitos narram a origem do mundo e de tudo que está nele? De 3 maneiras
principais: A primeira delas é encontrar os geradores, aqueles que através de relações
sexuais entre forças divinas, geraram algo, seja um ser vivo ou uma coisa, como por
exemplo, os heróis ou os metais. Esse tipo de narrativa é de origem, sendo uma
genealogia. A segunda delas é encontrar uma aliança ou rivalidade entre os deuses que
fazem surgir algo no mundo. E por último, encontrando as recompensas ou castigo que
os deuses dão a quem lhes desobedece ou a quem obedece. Ou seja, o mito narra a
10
origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças
sobrenaturais que governam o mundo dos humanos.
Os mitos que abordam a temática ‘origem do mundo’ são conhecidos como
cosmogonias4 e teogonias5.
4
Princípios (religiosos, míticos ou científicos) que se ocupa em explicar a origem, o princípio do
universo. A palavra ‘gonia’ significa gerar, crescer, e ‘cosmos’ significa mundo ordenado e organizado.
Ou seja, nascimento do Universo.
5
É a narrativa de origem dos próprios deuses a partir de seus pais e antepassados.
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1.3 Mito e Religião
Assim como o mito, a religião, também apresenta uma explicação sobrenatural para o
mundo. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa explicação, e nunca
questioná-la. É uma parte fundamental da crença, a fé em que essa explicação
proporciona ao ser humano uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras ou
técnicas de obter e conservar essa garantia.
O mito é uma linguagem apropriada para a religião. A própria palavra ‘religião’ (vem
do latim religare) significa conectar deuses e homens. Isso não significa que a religião e
o mito, contem histórias falsas, mas que ambos traduzem numa linguagem de descrições
e narrações de uma realidade que superam o senso comum e a racionalidade humana.
A religiosidade das narrativas deve-se ao fato de que ao serem reatualizados, os mitos
deixam de existir no mundo de todos os dias, e penetram num mundo transfigurado,
impregnados da presença de Entes Sobrenaturais. Ou seja, não se trata de uma simples
comemoração dos mitos, mas a integração, entre humanos e o sobrenatural, o indivíduo
deixa de viver no tempo cronológico e passa a viver no tempo primordial, quando a
narração teve lugar pela primeira vez. Essa ligação que passa existir ao compartilhar os
mitos é uma forma de religião. Nas civilizações primitivas, o mito exprime, enaltece e
codifica a crença, impondo os princípios morais, sendo uma verdadeira codificação da
religião primitiva e da sabedoria prática, sendo um componente vital da civilização
humana.
Religião e mito quase chegam a ser antagônicos, quanto ao tipo de mensagem que
transmitem. Mas ao mesmo tempo, a mitologia era tratada como religião para os gregos.
Então mitologia e religião possuem essas duas faces, a antagônica e a de semelhança.
As duas tratam sobre fé naquilo que consideramos certo, e tratamos como verdade
absoluta.
Os mitos retratam a passagem do caos para a ordem, do irrepresentável para a
linguagem, seus relatos constroem o caminho, sempre imaginário. Neste sentido, o mito
é uma palavra fundadora de identidade. Sua perda pode ser vivenciada, em alguns casos,
como uma perda de identidade provocando o colapso da função simbólica que o mesmo
possui.
12
O pensamento mítico é um constante estudo sobre a classificação dos caracteres físicos
dos grupos humanos, complementares ao pensamento racional e não um estágio “menos
evoluído” deste.
“O mito, portanto, é um ingrediente vital da civilização humana;
longe de ser uma fabulação vã, ele é ao contrário uma realidade
viva, à qual se recorre incessantemente; não é absolutamente uma
teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira
codificação da religião primitiva e da sabedoria prática. ”
(MALINOWSKI, Bronislav)
O pensamento racional e científico não seria, portanto, um decifrador de mitos e
substituto do pensamento mítico, mas pode ser capaz de reconhecer sua atualidade.
Enquanto a astronomia, com suas descobertas, esvaziou os céus, antes povoados de
deuses, a sociologia e a psicologia descobriram forças que se impõem ao pensamento e
à vontade humana e, portanto, atuam e se manifestam de modo independente.
13
1.4 Mitologia x Ciência
“A busca pelo conhecimento científico é,
em essência, religiosa. Essa religião é bem
diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao
mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá
qual o nome que lhe damos. ” Albert Einstein
Mitologia e Ciência são duas maneiras diferentes de compreender nossa realidade, cada
um, a seu modo, tenta desvendar os segredos de nosso mundo.
anto a ciência como os mitos procuram criar uma ordem que dê sentido ao cosmos e s
coisas que experienciamos.
“Mythos e ogos são dois modos diferentes de produzir aquilo a
que se poderia chamar processos para a realização de
investimentos de verdade" (CAPRETTINI, 1987)
É claro que mito e ciência têm grandes diferenças entre si. O mito trata de um modo de
pensar que parte do princípio de que se não se compreende. Isto está inteiramente em
contradição com o modo de proceder do pensamento científico que consiste em avançar
etapa por etapa. Enquanto o mito trata da dúvida, a ciência quer a resposta.
A narrativa mitologia se utiliza da linguagem simbólica, trazendo diversas
representações. Estas representações vão construindo toda uma visão do mundo que, por
ser feita através de símbolos, tem um alcance mais profundo na mente e no imaginário
humano que qualquer outro discurso, cada um tem a sua compreensão do mito. O
discurso científico é unívoco, uma palavra apenas tem um sentido e não pode ter outro.
Hoje em dia a ciência é tratada como religião, temos os que acreditam fielmente nela, e
aqueles que não acreditam. Quase chega a ser mitologia, pois ao pensarmos, que a
ciência tenta explicar tudo aquilo que não compreendemos, e os que acreditam não a
questionam, a tratam como verdade absoluta, assim como povos antigos tratavam suas
religiões, com uma fé cega.
O próprio Big Bang pode ser considerado um mito, é simplesmente uma teoria da
criação do Cosmos, não temos tantas evidências concretas que nos fazem ter total
certeza de que foi realmente esse evento que criou o Universo, assim como não temos
certeza se foi Deus, que o criou, ou Gaia e Uranos, mas ao mesmo tempo, por ser a
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ciência que afirma esse evento, não o contestamos, pois atualmente ela é sinônimo de
verdade, nosso mito da Criação atual.
15
2. CAPÍTULO II
Entendendo a mitologia grega e egípcia, e seus respectivos mitos da criação
Neste capítulo apresentarei características da mitologia grega e egípcia, para, então,
apresentar seus respectivos mitos da criação e seus deuses.
2.1 A mitologia Grega
A mitologia dos gregos antigos é uma das mais ricas, compreendendo inúmeros deuses,
suas obras cobrem mais de um milênio, desde os primeiros poetas, Homero6 e Hesíodo7
(nossa principal fonte da mitologia grega), que viveram no século VIII ou VII a.C, aos
dramaturgos e poetas que floresceram durante o auge de Atenas no século V a.C.
Provavelmente a religião grega pode ter sido, uma mistura de crenças dos antigos
helenos, quando migraram para a Grécia, com aquelas dos habitantes nativos da região.
Existe forte evidência de uma origem minoico-micênia8 para vários mitos gregos,
relacionados com centros culturais como Micênai e Tírins.
Aparentemente sua fonte de inspiração era encontrada, em parte na personificação por
um povo primitivo das forças da natureza que afetam o ser humano, quer sejam elas
forças universais, como o céu, chuva e os relâmpagos; quer sejam forças locais, como
rios e árvores; em parte em ideias primitivas de magia, como rituais; em parte em ideias
primitivas de tabus, certas coisas eram impuras ou puras, sagradas ou malditas, trazendo
a ideia de maldição.
Entre as ideias que mais se destacam na religião grega primitiva estão as da santidade,
do que é consagrado a um deus e impedido ao uso profano; e as da purificação, isto é, a
remoção da impureza, concebida como uma contaminação.
6
O grande poeta épico grego, autor da “Ilíada” e da “Odisséia”, foram compostas para serem recitadas
ou cantadas, e ressaltam a beleza dos mitos abordados. Suas obras chegaram a ser consideradas uma
fonte de sabedoria geral e eram citadas constantemente, sendo imitadas frequentemente por poetas de
outras escolas literárias como o Arcadismo.
7
Um antigo poeta grego, autor de “Os Trabalhos e Os Dias”, a esse livro ele incorporou ordem ética e
conselhos derivados de sua própria experiência, adaptando-os á vida de um camponês. Foi o primeiro
poeta grego a procurar seu assunto em fontes desligadas do mito e da fantasia. Aparentemente
Hesíodos escreveu suas obras após a composição dos poemas homéricos
8
As civilizações Micênia (1600 a.C. e 1050 ) e a Minóica (2700 e 1450 a.C.) se desenvolveram na ilha
de Creta, ao sul do Mar Egeu.
16
Na época de Homero a mitologia grega havia assumido um traço antropomórfico9, ou
seja, as forças da natureza tinham as necessidades, os desejos e as fraquezas do ser
humano. Essas forças divinizadas dirigiam os assuntos humanos, e seu poder não estava
vinculado à concepções morais, eles governavam segundo suas inclinações pessoais.
Portanto o culto religioso consistia em agradar aos deuses e torna-los favoráveis às
iniciativas humanas mediante preces, oferendas ou sacrifícios.
Brevemente depois manifestou-se a tendência10 de introduzir um componente moral nas
relações entre os deuses e os homens, como o reconhecimento da justiça, da piedade e
da obediência às leis para agradar aos deuses. Afetada por várias influências a religião
grega se desenvolveu ainda mais, seus elementos morais e espirituais fortaleceram-se,
as noções de crime e culpa, castigo, expiação e purificação se ressaltaram; a ideia de um
julgamento pós-morte passou a ser tratado como algo coerente. A religião tomou um
aspecto fortemente cívico11. Teoricamente o Estado representava um parentesco de
sangue, e a religião do Estado era uma expansão da religião familiar e do mito dos
heróis. O rei, ou a autoridade suprema agia como o guardião da religião. A veneração
dos deuses era controlada pelo Estado, e constituía matéria de interesse para todo o
povo, graças a isso a religião tendeu a perder seu caráter pessoal e íntimo e a
transformar-se num espetáculo destinado ao público. Nesse meio tempo, os mitos
vinham sendo gradualmente desviados da verdade pelas críticas dos sofistas ou
esvaziados de sua percepção por explicações racionalistas. Durante algum tempo esses
mitos foram defendidos mediante a instauração de processos judiciais contra pessoas
acusadas de ateísmo, como Sócrates12.
É esse o primeiro exemplo de desmitificação, a mitologia grega não pode mais
representar para sua elite aquilo que havia representado para seus antepassados, para
essas elites, o essencial não deveria ser procurado numa história dos deuses, mas numa
situação primordial que precedeu essa história. Foi procurando a arché, o princípio, que
a filosofia reencontrou a cosmogonia. Ou seja, para encontrar o essencial deve haver um
esforço do pensamento, é nesse sentido que o autor Mircea Eliade afirma que as
9
1. cuja forma aparente evoca a de um ser humano; antropomorfo. 2. descrito ou concebido sob uma
forma humana ou com atributos humanos.
10
Tendências já perceptíveis na “Odisséia” e ainda mais acentuada em Hesíodos.
11
Referente ao cidadão como elemento integrante do Estado.
12
Sócrates foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos
fundadores da filosofia ocidental. Foi sentenciado à morte sob a acusação de introduzir novas entidades
novas divindades e corromper a juventude
17
primeiras especulações filosóficas derivam das mitologias. Ao longo do tempo, o
raciocínio grego superou a noção de religião e se tornou um pensamento leigo separado
da ideia do sagrado. É desse pensamento que surge uma questão. A filosofia rompe com
a cosmogonia? Historiadores chegaram a duas conclusões. Na primeira a filosofia
nasceu de uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação cientifica da
realidade produzida pelo Ocidente. Por outro lado, haviam historiadores que
acreditavam que a filosofia nasceu dos próprios mitos, sendo uma racionalização deles.
As lendas da mitologia grega podem dividir-se em três classes: os mitos propriamente
ditos, resultados de uma imaginação ingênua sobre fatos da realidade, que tentam
explicar fenômenos naturais, origens ou as características de animais, costumes ou
práticas religiosas; contos ou sagas incluindo um elemento histórico, por exemplo as
lendas sobre guerras e heróis, alteradas no processo de transmissão da história contando
com o acréscimo e omissão de detalhes do mito; e simples histórias de aventuras,
concebidas apenas para entretenimento, abordando assuntos naturais ou sobrenaturais.
Os gregos antigos imaginavam a Terra como uma planície quase uniforme, rodeada pelo
rio Oceanos, recoberta por uma cúpula celeste, por baixo da Terra ficava o Tártaro13, os
deuses habitavam ora o céu ora o Monte Olimpos14. A cosmogonia é imaginada na
forma de uma série de casamentos e nascimentos, aprofundarei esse tema na próxima
sessão.
13
Na mitologia grega, Tártaro correspondia a parte subterrânea do mundo onde ocorria o julgamento
das almas, e as punições aqueles que eram julgados perversos, assim respondendo por suas maldades
quando vivos.
14
O monte Olimpo é a mais alta montanha da Grécia, situada na região de Tessália, com 2 917 metros
de altitude e que para os gregos era tida como a residência dos deuses gregos, onde havia os tronos dos
doze deuses do Olimpo.
18
2.2 O mito da criação grego
No começo do Universo, nada existia apenas o Caos, o primeiro deus a existir e,
portanto, a mais velha das formas de consciências divinas, seus filhos nasceram através
da divisão de seu próprio corpo, assexuadamente. Do Caos nasceu Gaia (a Terra),
Tártaro, Eros (o amor), Érebo (escuridão) e Nix (a noite).
Após15 emergir do Caos, Gaia gerou Uranos (o Céu), as Montanhas e Pontos (o Mar).
Quando se uniram, Gaia e Uranos geraram os Titãs16, os Ciclopes e os Hecatonquiros.
Uranos enviava os filhos para o Tártaro, e assim seus filhos não podiam mais retornar à
luz. Oprimida pelo peso dos filhos presos e sufocada por Uranos que, tão grande quanto
ela, a envolvia em toda sua extensão, Gaia planejou um atentado contra o Uranos. Então
convence os Titãs atacarem o pai e fornece a Cronos uma foice de aço. Todos, exceto
por Oceano, o atacaram, Cronos cortou os testículos do pai e os jogou no mar. E depois
de destronarem Uranos, libertaram seus irmãos do Tártaro.
E a partir de então uma segunda divindade, que é seu filho, é quem se incumbe da tarefa
de criação. Esta sucessão põe fim ao tempo mítico, o momento primordial das origens.
A soberania de Cronos inaugura o tempo. Durante o período de indiferenciação entre
Céu e Terra, o tempo se encontrava paralisado. Fixado na distância, o Céu tornou-se a
morada dos deuses imortais, assim como a Terra é a morada dos mortais. E desde que
ambos se separaram, no espaço entre eles alternam-se Nýx e Hémera, a Noite e o Dia.
Estas divindades simbolizam o Tempo, que transcorre livremente desde que Cronos
assumiu.
Durante o período em que o mundo estava sob o domínio de Cronos, Cronos se casou
com sua irmã Rhéa, e com ela teve uma prole numerosa, divindades que presidiam a
todas as coisas. Mas Cronos também procedeu a atos impiedosos em seu governo,
enviando de volta ao Tártaro os Ciclopes e Hecatonquiros17 e devorando os próprios
filhos ao nascimento, para evitar que algum deles lhe usurpasse o poder, Rhéa salvou
seu último filho Zeus, o substituindo por uma pedra, que Cronos engoliu sem perceber a
15
A mitologia grega nos dá a perceber este período como um tempo mítico, momento em que as
potências celestes e telúricas se unem pela primeira vez e engendram as primeiras criaturas viventes.
16
Seis filhos e seis filhas: Oceanos, Coios, Crios, Hipérion, Iápetos, Cronos, Teia, Rhéa, Têmis,
Mnemosine, Fóibe e Tétis. Alguns deles representavam forças da natureza, outros, como Mnemosine
(Memória) são abstrações.
17
Também conhecidos por Centimanos, eram três gigantes da mitologia grega, Briareu, Coto e Giges,
possuíam cem mãos e cinquenta cabeças.
19
troca. Depois Gaia o escondeu em uma caverna, sob os cuidados das ninfas, com a
vigilância constante e a proteção dos guerreiros Curetes. Mas quem assegura a sua
vitória sobre Cronos é Métis, filha de Oceano, que com uma bebida, obrigou Cronos a
vomitar os filhos que havia devorado, e com o auxílio deles Zeus guerreou contra
Cronos e os Titãs.
Os Olímpicos não criaram o mundo, mas o conquistaram a partir do confronto com as
gerações de deuses anteriores. Para empreender esta conquista, Zeus precisou arruinar a
ordem cósmica criada pelas potências divinas que o antecederam, para depois
restabelecê-la novamente. Ele viu-se obrigado a destruir o mundo ordenado, imergi-lo
novamente na diferenciação do Caos, para mais tarde recriá-lo e devolver-lhe a sua
estabilidade. Rompendo com a criação pré-existente. É assim que o mundo se
transforma em um universo olímpico, sobre o qual Zeus e seus irmãos estão no poder.
Uranos e Gaia representam os deuses mais antigos, que engendraram criaturas
monstruosas associadas s forças incontroláveis da natureza e os itãs, os “primeiros
deuses” (que precisariam ser depostos pelos Olímpicos) soberanos. Os Olímpicos são
deuses mais próximos da forma humana e do ideal grego de civilização. São as
divindades do mundo ordenado, civilizado.
Para ocupar um território, portanto, é preciso dominá-lo através da “recriação”. É assim
que Zeus e os Olímpicos procedem na sua empreitada pelo domínio do mundo
organizado. Primeiro precisam destruir o que foi construído pelas entidades que
ocupavam
esse
espaço
antes
deles,
para
depois
novamente
ordená-lo.
Compreensivelmente, os deuses “ritualizam” a usurpação de uma autoridade que não
lhes pertencia para, então, restituírem a ordem que a guerra interrompeu e poderem
controlar o mundo que por eles foi ordenado.
O tempo histórico foi inaugurado por Zeus, quando este ascendeu ao trono do universo,
e se prolongou até os dias de Homero e Hesíodo.
Quando destruiu e reorganizou o mundo, Zeus tornou-se o senhor da ordem cósmica.
Como sua fase é a reorganização do que estava criado, Zeus assume o seu caráter
fecundador e gera deuses cujos atributos estão ligados aos ideais gregos de ordem,
constância e civilidade. Mais tarde estas criaram muitas divindades bem conhecidas dos
mitos posteriores.
20
Segue abaixo a genealogia dos titãs e deuses gregos:
(Imagem
retirada
do
site
http://fabiomesquita.files.wordpress.com/2010/08/genealogia.jpg 21/09/2015)
21
:
2.3 A mitologia egípcia
Os egípcios eram politeístas e seus textos mencionam tantos deuses que seria
impossível contá-los. Cada um existia inicialmente como um tipo de poder abstrato, um
estado de ser em potencial, que podia tomar uma forma individual, a maioria das vezes
de natureza animal. Essa multiplicidade de deuses podia ser vista nas inúmeras formas
animais18 que podiam possuir e no sincretismo de forças em divindades mistas. Os
egípcios não adoravam os animais em si, mas reverenciavam as formas animais nas
quais os deuses se manifestavam. Num ato de piedade, os adoradores pagavam pela
mumificação e enterro dos animais do templo, para que eles pudessem voltar à vida no
outro mundo e agir como intermediários entre os deuses e a humanidade.
Antiga religião egípcia é o nome dado a religião praticada no antigo Egito desde o
período pré-dinástico19, cerca de 3.000 anos a.C. até o surgimento do cristianismo.
Inicialmente era uma religião politeísta, mas após se modificar, passou a ser considerada
henoteísta20.
Os antigos egípcios viam os deuses como verdadeiros, e, portanto, múltiplos,
consequência de sua inacessibilidade imediata. A multiplicidade dos verdadeiros
autorizava a diversidade das respostas ás questões humanas em relação à natureza. Essa
característica de abordagem permitia a justaposição de imagens míticas aparentemente
contraditórias. A religião egípcia invocava jogos de imagens, palavras e metáforas. Os
mitos descreviam os fenômenos naturais e utilizavam uma linguagem formal na qual os
símbolos representavam os deuses e suas ações.
No plano teórico, o ritual egípcio funda-se em duas noções: a polissemia, a pluralidade
dos significados das imagens e objetos, diversos objetos podem ser os pontos de
emergência de uma mesma força saída do imaginário; e o caráter performático da
imagem e do objeto, ao pronunciar o nome de uma coisa, dá-se existência a ela.
São numerosos os objetos, lugares e seres que podem ser qualificados de ‘divinos’,
porém, com excessão do rei, os homens não se beneficiavam dessa possibilidade. O
termo sagrado para os egípcios deriva de um antigo verbo de movimento que
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Animais da região do Egito, como falcões, hipopótamos, crocodilos, leões, chacais e etc.
O período pré-dinástico Egito (anterior a 3 100 a.C.) é tradicionalmente o período compreendido
entre o neolítico antigo e o início da monarquia faraônica formada pelo rei Menés (ou Narmer).
20
Crença em um deus único, mesmo aceitando a existência possível de outros deuses.
19
22
significava ‘repelir, isolar’. Era sagrado o lugar que era isolado e podia receber uma
imagem ou objeto habitado pela potência divina.
23
2.4 O mito da criação egípcio
No início nada existia, a não ser um imenso vazio conhecido por Nun, o grande oceano
primitivo, bem ocorre que ao redor deste oceano reinavam o silêncio, as trevas e o caos
sem fim. Porém de forma misteriosa o oceano começa a se movimentar, despertando de
seu sono profundo, dele então surge uma flor de lótus e de dentro dela surge o deus
solar, Rá21, que ao abrir os olhos inundou o mundo com sua luz radiante, contemplando
o imenso vazio que ainda deveria ser totalmente criado, o deus tomou consciência de si,
e criou os deuses a partir de si mesmo, masturbando-se. De suas narinas veio Chu, o
deus do ar seco, e da boca ele cuspiu Tefnut, a deusa do ar úmido.
Rá usou três forças inatas para dar existência ao mundo, forças que mais tarde se
tornariam os próprios deuses e que o acompanhariam em sua barca solar, essas forças
eram Heka, poder mágico e criativo; Sia, percepção; e Hu, a afirmação. Usando-as, ele
conclamou todos os elementos da Criação, trazendo-os á vida. Após isso Rá criou um
quarto poder, Ma’at, a deusa da verdade e da harmonia cósmica, para regular sua
criação.
Rá enviou Chu e Tefnut por sobre as águas e fez o oceano primitivo de Nun se retrair
até surgir uma ilha onde ele pudesse se firmar, ilha conhecida como monte da criação, e
fez surgir de Nun todas as plantas, aves e outros animais da Terra.
Rá enviou seu olho, a deusa Hathor, à procura de Chu e Tefnut. Ao voltar e ver que um
outro olho havia tomado seu lugar, a deusa ficou irada, e suas lágrimas se tornaram os
primeiros seres humanos. Rá, então, a colocou na testa sob a forma de uma cobra
enraivecida, para tê-la consigo até o final dos tempos, quando após seu governo toda a
Criação desaparecerá, e o mundo será mais uma vez coberto pelo dilúvio infinito de
Nun.
Os filhos de Chu e Tefnut eram Geb, a terra seca, e Nut, o céu úmido. Nut e Geb,
unidos em cópula, geraram as estrelas, e o pai Chu, consumido pelo ciúme separou o
casal, suspendendo o céu com as mãos e apoiando os pés na Terra. Depois do
21
Deus-sol, e o mais importante da mitologia egípcia considerado o criador do Universo, tendo diversas
formas. As três principais eram: Khepri, o escaravelho, que era o sol nascente; Áton, o disco solar, que
era o sol do meio dia; e Atum, o sol poente, representado por um velho cansado apoiando-se num
cajado a caminho da terra dos mortos. Durante o dia, Rá navegava pelo céu em sua barca solar. Á noite
usava outra barca com Set, o deus do caos, e Mehen, o deus-serpente, e navegavam pelo Mundo
Subterrâneo, enquanto eram atacados por demônios liderados pela serpente Apófis. Todas as noites Rá
cortava a cabeça da serpente e assim o sol tornava a nascer.
24
nascimento das estrelas, Chu amaldiçoou a filha, para que ela nunca mais desse à luz.
Mas Nut fez uma aposta com Thot, o deus da lua e calculador do tempo, e ganhou cinco
dias dele para serem acrescidos ao calendário lunar de 12 meses com 30 dias cada.
Nesses dias, ela deu à luz a cinco filhos22: Hórus Cego, Osíris23, Set, Ísis e Néftis.
Todos, exceto Hórus, se juntaram a Rá, Chu, Tefnut, Geb e Nut formando a Enéada, os
nove deuses maiores do Egito.
A rivalidade entre os três irmãos Osíris, Set e Hórus Cego, refletem a luta entre a ordem
e o caos no mito da Criação egípcio. Os dois primeiros casaram-se com duas irmãs mas
cobiçaram a esposa do outro, essa rivalidade resultou no assassinato de Hórus Cego
pelas mãos de Set.
A responsabilidade por todo o cosmo começava a minar a vitalidade de Rá. Como
envelhecia, Rá buscou um substituto para suas obrigações de zelar pela terra. O
substituto viria a ser seu neto, Osíris. O que despertou a inveja de Set, o mesmo, então,
enganou Osíris, e o fez entrar em uma caixa de madeira, que vedou com chumbo
derretido e jogou no rio Nilo. Ísis, a esposa de Osíris, resgatou o corpo, porém Set os
encontrou e retalhou o corpo do irmão e espalhou os pedaços por todo o Egito.
Com a ajuda de sua irmã Néfti, Ísis conseguiu recolher os pedaços do marido, e com a
ajuda de Anúbis24 e Tot25, recompuseram o corpo para fazer a primeira múmia, Ísis
então, se transformou em uma ave e, sobrevoando o corpo de Osíris, conseguiu com o
vento de suas asas restituir-lhe o sopro vital e engravidou, e teve Hórus.
Set passara a ser então o senhor do mundo e em virtude de sua inclinação ao caos e à
violência, Rá e Hórus convocaram um grande exército para tomar seu poder. Os dois
22
Osíris criou a vida no além e todo o processo de jornada até o céu. Ísis é responsável por
todos os seres vivos. Seth representa os opostos, mas também coisas más, como ódio e caos.
Néftis representa o deserto, a orientação, e o ato de morte.
23
Será também ele o grande deus que ensinará aos homens, as artes da agricultura e do culto,
pois os homens ainda estavam envoltos em sua forma mais bárbara e primitiva de vida,
espalhando assim a civilização pelo mundo. Ele também é o primeiro deus a possuir forma
humana e reinar sobre as criaturas.
24
Anúbis era o deus dos mortos, da mumificação e do submundo. Guardião dos túmulos e juiz
dos mortos, ele era representado com o corpo de homem e a cabeça de um chacal.
25
É o deus da escrita e da sabedoria. Os egípcios acreditavam que Thoth tinha criado os
Hieróglifos, também era atribuída a ele a função de deus da lua.
25
destruíram as tropas de Set, e Hórus retalhou Set do mesmo modo que ele havia feito
com seu pai, Osíris. Assim, Hórus passou a comandar o mundo.
Segue a genealogia dos deuses egípcios:
(Imagem retirada de : http://www.espiritualismo.info/mitologia_egipcia.html julho de
2015)
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3. CONCLUSÃO
Num primeiro olhar, os dois mitos parecem ser extremamente diferentes, com estruturas
diferentes, deuses diferentes, gerações diferentes. Ao analisarmos, chegamos a
conclusão, de que, na verdade, os dois mitos possuem múltiplos elementos em comum.
Primeiramente, ao analisarmos as características das duas mitologias, temos a primeira
diferença. Na mitologia grega, os deuses da terceira geração possuem um aspecto
antropomórfico, humano, a própria religião tem uma preocupação cívica, de passar uma
ideologia, aos seus seguidores, normas para a sociedade. Já na egípcia, os deuses
possuem múltiplos aspectos, sendo o mais importante deles o de animais do Egito,
como crocodilos e falcões. Os egípcios não demonstravam a mesma preocupação social
que a mitologia grega demonstrava em suas histórias.
O incesto é uma temática recorrente na mitologia grega e egípcia, incluindo no mito da
criação. Cronos e Rhéa, são irmãos e juntos geram os deuses do olimpo, assim como
Zeus e Hera, que igualmente a seus pais, geram outros deuses. Na mitologia egípcia
algo similar ocorre, os irmãos Chu e Tefnut concebem Geb e Nut, e do mesmo modo, os
dois darão luz as estrelas, e a outros 5 deuses, que manterão relações entre si.
Num primeiro momento, ambos os mitos começam com nada mais do que caos e um
vazio, para os gregos essa figura primordial era Caos, para os egípcios Nun. A partir
deste momentos os mitos começam a divergir. Os gregos acreditavam que Caos deu
origem aos outros, de maneira assexuadamente, apenas se dividindo, a figura mais
importante criada por ele é Gaia, representação da Terra, é ela que dá origem ao céu,
seu parceiro, as montanhas e o mar, e junto com Uranos concebe os Titãs, ciclopes e
hecatonquiros, Ou seja, uma figura feminina é responsável por criar, 2 gerações de titãs
da mitologia grega, e Caos o primeiro criador, se torna coadjuvante após criar os 5
primeiros titãs, e a Terra, terá o papel de Criação do mundo como é hoje, sob o ponto de
vista geográfico. Para os egípcios, Nun, o primeiro elemento dessa mitologia, não
possui criações. Do meio do mar de trevas e caos, surge de forma espontânea uma flor
de lotús, onde está Rá, conhecido como o Deus criador. Rá irá se masturbar para criar
Chu e Tefnut, os primeiros deuses. Para ser capaz de criar o mundo, Rá precisou
primeiramente criar três forças que pudessem o auxiliar nesse processo, Heka, Si e Hu.
Posteriormente criou Ma’at, a deusa que seria responsável por regular toda sua criação.
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Rá enviou Chu e Tefnut para retraírem Nun, e assim surgiu uma ilha, e nela Rá criou as
plantas e os animais. Os dois deuses do ar, conceberam Geb, a terra seca e Nut, a noite
úmida, similarmente, os filhos copularam criando as estrelas, porém o pai furioso
separou os filhos, suspendendo o céu com as mãos e apoiando seus pés na terra, assim
criando essa noção geográfica do mundo. Para os egípcios, a figura primordial, não
criou nada, inclusive a figura criadora nasceu espontaneamente dele. Assim como para
os gregos, a figura primordial, ou o criador, no caso para os egípcios, não criou os céus,
outros deuses e titãs tiveram esse papel tão importante para explicar a criação. Ou seja,
a figura primordial não possui papel principal para os gregos, enquanto para os egípcios
Rá, por representar o sol, é o principal deus, que garante um novo dia, mantendo
Apófis, a serpente do mal que representa a escuridão e o fim do mundo, longe.
Na mitologia egípcia, temos duas gerações de “governadores”, primeiramente o deuscriador, Rá, é a figura de maior poder, ele escolhe seu neto Hórus, para ser seu herdeiro,
e assim ele passa a governar, e controlar e defender o Egito do caos. Na mitologia grega
temos 3 gerações que entram em confronto, e assim o poder é passado de uma em uma.
O mundo ordenado é destruído, para se recriar novamente. Esse ciclo acontece duas
vezes, ao longo da história grega, primeiramente Uranus é derrotado por Cronos, por
sua vez Cronos é derrotado por Zeus, o poder grego passou de um titã para outro, e por
final para um deus, mudando totalmente o tempo e o espaço em cada um desses
reinados.
Podemos concluir que, mesmo a Grécia e o Egito estando separados praticamente por
3500 quilômetros, a mitologia grega e egípcia possuem diversos pontos em comum, em
sua religião como um todo e no mito analisado, assim como divergências. Temos
diferentes personagens, diferentes meios, ambientes, e tempo, e ainda sim estruturas
parecidas são observadas.
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Referências
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WILKINSON, Philip. Mitologia. Cobaltide, 1955
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MIRCEA ELIADE, Aspects du Mythe, Paris, Gallimard, 1963
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O Mundo da Arte- Antiguidade Clássica. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,
1979
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