Toninho Consultoria

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Toninho Consultoria
CPI das pizzas?
Por Enrico Monteiro Ribeiro (*)
Nos últimos dias, a mídia deu grande destaque à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
que investiga as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários de
vários ramos. Mas, na verdade, o que mais se tem ouvido é que essa CPI, assim como outras,
acabará em pizza. Será que é verdade? O que é acabar em pizza?
Na política, há diversos fatores que influenciam a conduta do parlamentar, como a ética e a
moral. A quebra desses preceitos deveria, em alguns casos, dar em cadeia. Contudo, será que
somente existe essa penalidade? A visão normativa que o único instrumento de penalidade de um
parlamentar, assim como de qualquer cidadão, seria as sanções previstas no nosso ordenamento
jurídico é, de certa maneira, incompleta e perigosa.
Por mais que o primeiro instinto seja apenas olhar para as nossas leis e suas aplicações, a
política se molda em diversos outros quadrantes que o Direito não é capaz de explicar.
Se analisarmos a última grande CPI, a do chamado mensalão, que se divulga que acabou
em uma grande pizza veremos que isso não é totalmente verídico. Por mais que ainda não se tenha
condenado nenhum investigado, não se pode falar em pizza. Vale ressaltar que a CPI tem como
única finalidade investigar (afinal é uma Comissão Parlamentar de Inquérito), e não julgar e
condenar quem quer que seja. Esse é o papel do Judiciário.
Vamos à CPI do mensalão. Na ocasião, diversos parlamentares foram denunciados por
fazerem parte de um esquema de propina e caixa 2 para as suas campanhas. O caso foi tão
grandioso que até mesmo o presidente da República chegou a ter seu nome envolvido e sua
reputação abalada.
Mesmo não tendo ninguém condenado, José Dirceu, um dos principais políticos com
projeção nacional, que era o candidato natural a suceder o então presidente Lula, nome forte dentro
do seu partido, hoje está "politicamente morto". O que na política significa dizer, que dificilmente
ele conseguirá se eleger para algum cargo eletivo. Isso para qualquer político é maior que qualquer
sanção judicial, já que o maior princípio da política, como diria Maquiavel, é a luta, conquista e a
manutenção do poder.
Na mesma ocasião, diversos outros políticos de renome, presidentes de partidos
importantes e grandes, figuras imponentes e de grande prestígio tiveram o mesmo destino, o
cadafalso político.
Hoje, nos deparamos com a nova CPI e já se espera a nova pizza. Mas será?
Um dos senadores mais importantes do Senado Federal, um dos parlamentares mais
influentes do Congresso Nacional, o chamado "paladino da moralidade" e cogitado para concorrer à
Presidência da República, esse mesmo homem, se depara hoje com sua imagem abalada, sua
influência baixa e com altíssimas chances de perder seu mandato.
Ele está fadado à cova da política, e se ver jogado ao ostracismo político, sem chances de
reaver qualquer cargo eletivo e manter o seu poder e influência. Por mais que haja, e deve haver,
caso seja considerado culpado, sanções judiciais contra ele, a sua maior sanção é não ter mais
perspectivas de ter mandato eletivo.
Vale lembrar que esta CPI não investiga somente o senador, provavelmente apenas mais
um no esquema, mas também diversos empresários, políticos e empresas de grande porte. Com o
avançar das investigações, diversos outros atores políticos, como os governadores dos estados,
poderão perder seu prestígio, influência e até poder, tendo mesmo fim do senador.
Isso valeria pensar: será que pizza só significa sanção judicial? Será que pizza só
significaria julgar e condenar alguém porque a mídia o coloca como culpado, mesmo antes de um
julgamento justo?
Não é dessa forma que a política se faz e se molda, e nem deveria. A política se faz em um
jogo em que qualquer movimento errado te tira, definitivamente, da partida. Essa, sem sobra de
dúvidas, é a principal sanção que um jogador poderia sofrer.
(*) Bacharel em Ciência Política pelo Centro Universitário UDF e Assessor Legislativo da
Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical.