Faculdade de Imperatriz FACIMP - farmácia
Transcrição
Faculdade de Imperatriz FACIMP - farmácia
Farmacognosia Faculdade de Imperatriz FACIMP Disciplina: Farmacognosia Prof. Dr. Paulo Roberto da Silva Ribeiro 3o Período de Farmácia Prof. Dr. Paulo Roberto 1 Introdução • QUINONAS = compostos oxigenados, formados a partir da oxidação de fenóis. Sua principal característica é a presença de 2 grupos carbonílicos formando um sistema conjugado. • há 3 grupos principais, em função do tipo do ciclo: • benzoquinonas O O O 1,2-benzoquinona (o-benzoquinona) O 1,4-benzoquinona (p-benzoquinona) Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto Ainda não foram descobertas aplicações terapêuticas para as benzoquinonas naturais. São encontradas nos artrópodos, sendo raras nos vegetais superiores. 2 1 Farmacognosia Introdução (contin.) • naftoquinonas: O O O 1,2-naftoquinona 1,4-naftoquinona O Algumas naftoquinonas são antibacterianas e fungicidas, outras apresentam atividades antiprotozoárias e antivirais. Entretanto, nenhuma naftoquinona natural é atualmente utilizada com fins terapêuticos. São encontradas nos fungos. Prof. Dr. Paulo Roberto 3 Introdução (contin.) • antraquinonas: O 8 9 1 7 2 6 3 5 10 4 9,10-antraquinona O Derivadas do antraceno, as antraquinonas (antranóides, derivados antracênicos ou deriv. hidroxiantracênicos) são abundantes na natureza, sendo encontradas em fungos, líquens e nas plantas. Apresentam importante atividade terapêutica. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 4 2 Farmacognosia Antraquinonas: características químicas: • interconvertem-se facilmente em hidroquinonas, sendo produzidas a partir de reações de oxidação de antranóis e antronas: antrona antraquinona antranol • a maioria apresenta-se como O-glicosídeos, com a ligação principalmente em C-1 (raro), C-8 ou C-6; os açúcares mais comuns são a glucose (em C-8) e a ramnose (em C-6); • os C-glicosídeos são derivados das antronas, com a ligação em C-10. Prof. Dr. Paulo Roberto 5 Características químicas (contin.): • há algumas variações estruturais nas geninas: HO 8 O 9 • grupos cetônicos em C-9 e C-10; OH 1 • hidroxilas em C-1 e C-8; 2 7 6 5 10 R1 O 3 4 R2 • substituintes em C-3 (metila, hidroximetila ou carboxila) e em C-6 (hidroxila fenólica livre ou eterificada); • gliconas em C-1, C-8 ou C-6. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 6 3 Farmacognosia Características químicas (contin.): • nas drogas secas, geralmente encontram-se mais oxidados que na planta fresca: PLANTA FRESCA: glicosídeos de antronas monoméricas oxidação glicosídeos antraquinônicos secagem dimerização glicosídeos de diantronas Prof. Dr. Paulo Roberto 7 Características químicas (contin.): • antraquinonas (antronas) - alguns exemplos: Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 8 4 Farmacognosia Características químicas (contin.): • diantronas - alguns exemplos: Prof. Dr. Paulo Roberto 9 Propriedades físico-químicas: • os glicosídeos são compostos cristalinos, amarelados, de sabor amargo, não sublimáveis, solúveis na água e no álcool e insolúveis no benzeno, clorofórmio. Dissolvem-se nos álcalis formando soluções laranja-avermelhadas; • os O-glicosídeos são hidrolisáveis em ácidos diluídos, bases fortes e enzimas; • as geninas apresentam-se como cristais amarelados ou avermelhados, sublimáveis, insolúveis na água e solúveis no álcool, benzeno, clorofórmio, éter, piridina; • as hidroxi-antraquinonas dissolvem-se nas bases corandoas de vermelho: a intensidade da cor varia conforme o no e a posição das OH e outros substituintes. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 10 5 Farmacognosia Métodos laboratoriais: • extração dos glicosídeos: com água ou soluções hidroalcoólicas; para a obtenção das formas reduzidas, devese utilizar temperaturas baixas, ausência de luz e de oxigênio; • identificação: reação de Bornträeger = coloração das quinonas em meio alcalino →1,8 dihidroxi-antraquinonas = vermelha; 1,2 dihidroxi-antraquinonas = azul-violeta; • IMPORTANTE: reação positiva apenas para antraquinonas livres. • apresentam absorção no UV; são coradas na luz visível; • doseamento: cromatografia (CCD e CLAE) e espectroscopia. Prof. Dr. Paulo Roberto 11 Ações farmacológicas e usos: • ação farmacológica principal: LAXATIVA (a intensidade é dependente da dose) - os principais responsáveis por esta ação são os derivados hidroxi-antracênicos: O-glicosídeos de diantronas e antraquinonas e também os C-glicosídeos de antronas; as formas reduzidas são 10 vezes mais ativas que as oxidadas; as geninas livres presentes na droga não têm atividade; - indicação: como laxantes em prisões de ventre medicamentosas, na preparação de exames radiológicos e colonoscópicos, pré e pós-cirurgias ano-retais, patologias anais dolorosas; • estudos têm demonstrado atividade contra Leishmania sp. e Trypanosoma cruzi, de algumas naftoquinonas. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 12 6 Farmacognosia Metabolismo: INGESTÃO: glicosídeos antraquinônicos NO CÓLON: hidrólise ( β -glucosidases da flora) e redução antraquinonas reduzidas formadas “in situ” atuação direta nas células epiteliais da mucosa intacta do intestino Obs.: tempo de latência = 6-8 hs. Prof. Dr. Paulo Roberto 13 Mecanismo de ação: • são laxantes irritantes do intestino grosso; • atualmente se conhecem 3 mecanismos de ação: - estimulação direta da contração da musculatura lisa do intestino, aumentando a motilidade intestinal (possivelmente relacionado com a liberação ou com o aumento da síntese de histamina ou outros mediadores); - inibição da reabsorção de água, sódio e cloro através da inativação da bomba de Na+/K+ - ATPase, (aumentando a secreção de potássio); - inibição dos canais de Cl-, comprovada para inúmeros 1,8-hidróxi-antranóides (antraquinonas e antronas), Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 14 7 Farmacognosia Orientações farmacêuticas: • não utilizar por períodos prolongados (mais de 10 dias): poderá ocorrer dependência, diarréias, cólicas, náuseas, vômitos, melanose reto-cólica (escurecimento da mucosa), alterações da mucosa e morfologia do reto e cólon (fissuras anais, prolapsos hemorroidais), atonia, carcinoma colorretal, transtornos hidroeletrolíticos com hipocalemia; • evitar o uso concomitante com cardiotônicos digitálicos e diuréticos hipocalemiantes; • não utilizar mais de 2 substâncias antraquinônicas na mesma formulação; • não utilizar em crianças e durante a gravidez e lactação (passa para o leite materno); • há um potencial mutagênico, ainda em estudo. Prof. Dr. Paulo Roberto 15 Curiosidades: • papel biológico: defesa química das plantas contra insetos fitófagos e outros patógenos (ex.: defesa contra cupins); função alelopática (inibição da germinação de outras plantas); • as quinonas são corantes naturais (ex.: antraquinona: alizarina, naftoquinonas chiconina e juglona). • a atividade dos glicosídeos de antronas é muito marcado (provocando cólicas), o que justifica o tratamento térmico ou o tempo de armazenamento de algumas drogas antes do uso (para haver a oxidação destes compostos). Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 16 8 Farmacognosia SENE - folíolos e frutos de Senna alexandrina Mill.: Cassia senna L. (C. acutifolia Delile) = sene-de-Alexandria), C. angustifolia Vahl. = sene-de-Tinnevelly, CAESALPINIACEAE / LEGUMINOSAE. Prof. Dr. Paulo Roberto 17 SENE • introduzido na medicina pelos árabes no século IX ou X; • principais componentes ativos: glicosídeos diméricos (diantronas): senosídeos A e B; • Farm. Bras. IV: frutos dessecados devem conter no mínimo, 4% de derivados hidroxiantracênicos, calculados em senosídeo A; folíolos dessecados devem conter, no mínimo, 2,5% de glicosídeos, calculados em senosídeo B. senidina A (dímero da reína-antrona) Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 18 9 Farmacognosia SENE • agliconas e glicosídeos do sene: AGLICONA ANTRO NAS G LICO SÍDEO senidina A reína-antrona/reína-antrona senosídeo A senidina B reína-antrona/reína-antrona senosídeo B senidina C reína-antrona/aloe-em odina-antrona senosídeo C senidina C reína antrona/aloe-em odina-antrona senosídeo D reidina A reína-antrona/em odina-antrona reosídeo A palm idina A aloe-em odina-antrona/em odinaantrona palm osídeo A Prof. Dr. Paulo Roberto 19 CÁSCARACÁSCARA-SAGRADA - cascas dessecadas de Rhamnus purshianus D.C., RHAMNACEAE. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 20 10 Farmacognosia CÁSCARA-SAGRADA • originária das regiões montanhosas dos EUA e Canadá; • devem ser aquecidos a 100oC por 1 a 2 hs ou estocados por no mínimo 1 ano antes do uso; • contém aprox. 6% de derivados hidroxiantracênicos, dos quais 60% de cascarosídeos; • 80 a 90% são C-glicosídeos e 10 a 20% são O-glicosídeos; • os cascarosídeos A, B, C e D são O-glicosídeos e Cglicosídeos (8-O-,10-C-diglicosídeos). Prof. Dr. Paulo Roberto 21 FRÂNGULA - cascas dessecadas de Rhamnus frangula L. (Frangula alnus Mill.), RHAMNACEAE. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 22 11 Farmacognosia FRÂNGULA • também conhecida como amieiro-preto, é originária da Europa e Ásia; • devem ser aquecidos a 100oC por 1 a 2 hs ou estocados por no mínimo 1 ano antes do uso, como a cáscara-sagrada; • seus constituintes monosídeos principais frangulina A e são os O-glicosídeos e os diglicosídeos B glicofrangulina A e B; • tem os mesmos usos que a cáscara-sagrada, tendo, no entanto, ação mais suave. Prof. Dr. Paulo Roberto 23 RUIBARBO - raízes e rizomas descascados de Rheum palmatum L. e Rheum officinale Baill., POLYGONACEAE. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 24 12 Farmacognosia RUIBARBO • originária da China e do Tibete, é uma das plantas mais antigas e conhecidas da medicina tradicional chinesa; • contém 3 a 12% de derivados antracênicos, sendo 60 a 80% glicosídeos de antraquinonas; • entre outros, contém taninos, o que pode induzir a prisão de ventre após a ação laxativa; • é também utilizado no tratamento tópico de inflamações e infecções da mucosa oral; • pode ser falsificado por ruibarbo rapôntico (principalmente R. rhaponticum L.) que, além de apresentar teores bem menores de antraquinonas, pode causar intoxicação grave, inclusive fatal (alto conteúdo de ácido oxálico corrosivo). Prof. Dr. Paulo Roberto 25 BABOSA - suco desidratado das folhas de Aloe vera L. (Aloe barbadensis Mill.) = aloés-de-Curaçao e Aloe ferox Mill. e seus híbridos com A. africana Mill. e A. spicata Baker = aloésdo-Cabo, ASPHODELACEAE / LILIACEAE. Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 26 13 Farmacognosia BABOSA • apresenta-se como massas opacas de cor pretoavermelhada, preto-castanho ou marrom escuro; sabor nauseante e amargo e odor característico e desagradável; • obtido a partir do látex amarelado produzido por células secretoras localizadas abaixo da epiderme, o qual é concentrado até a secura; • tem maior atividade laxante que as demais drogas; • apresentam C-glicosídeos antraquinônicos - aloína A e B: 25 a 40% no aloés-de-Curaçao e 13 a 27% no aloés-do-Cabo; • pode causar dores abdominais e irritação gastrintestinal e em altas doses, nefrite, diarréia com sangue e gastrite hemorrágica. Prof. Dr. Paulo Roberto 27 BABOSA • da babosa (A.vera) pode também ser produzido o gel, que consiste em mucilagem obtida das células da zona central da folha; • o gel é usado tradicionalmente para ajudar na cicatrização de feridas, queimaduras, eczema, psoríase, picaduras de insetos, eritemas solares etc.; • a origem desta atividade ainda não está completamente esclarecida; • o gel não contém substâncias antraquinônicas; Prof. Dr. Paulo Roberto Prof. Dr. Paulo Roberto 28 14