ST JOHN OF GOD

Transcrição

ST JOHN OF GOD
Roma, 8 de Março de 2009
Ref. N. PG030/2009
FESTA DE S. JOÃO DE DEUS
PARA TODA A ORDEM
Irmãos, Colaboradores, Voluntários, Benfeitores
e todos aqueles a quem servimos pelo Carisma de Hospitalidade
Meus queridos irmãos e irmãs em Hospitalidade,
Preâmbulo
É com muito prazer que me dirijo uma vez mais a todos vós no momento em que a Família
Hospitaleira celebra a Festa do nosso Fundador, S. João de Deus. Por esta ocasião especial, gostaria
de reflectir convosco sobre vários aspectos da Festa de S. João de Deus que se celebra no calendário
litúrgico da Igreja no dia 8 de Março. Dado que neste ano o dia 8 de Março calha num domingo, a
Festa será celebrada liturgicamente no sábado, dia 7 de Março. E a minha primeira reflexão é sobre
a vida de João e aquilo que nós podemos aprender com ela. Além disso, há o aspecto social da
celebração, ou ágape, isto é, a partilha da refeição. Dado que os nossos Colaboradores estão tão
intimamente unidos à missão da Ordem, gostaria de partilhar alguns pensamentos sobre a relação
que João de Deus teve com o seu companheiro e muito bom amigo João de Ávila ou, como João lhe
chamava, Angulo. Depois, como conclusão, desejo dirigir algumas palavras de encorajamento
àqueles a quem temos o privilégio de servir através do Carisma, ou pelo dom, da Hospitalidade.
João de Deus – o homem e a sua missão
Quanto mais reflicto sobre a vida de João de Deus, mais me sinto emocionado e me encho de
admiração por este homem. No curto espaço de tempo de doze anos, João deixou de ser considerado
uma pessoa irrelevante pelas pessoas de Granada e passou a ser venerado por essas mesmas pessoas
como um santo. A gente havia-o classificado como um indivíduo mentalmente desequilibrado, na
melhor das hipóteses a ser evitado ou, na pior das hipóteses merecedor de ser ridicularizado e
marginalizado. Porém, quando o conheceram verdadeiramente e compreenderam a sua missão, os
habitantes de Granada não só mudaram a percepção que tinham a seu respeito, mas cooperaram
com ele e apoiaram-no no seu trabalho. Com o tempo, deram-lhe o nome pelo qual nós o
conhecemos hoje – João DE DEUS.
Na minha reflexão, vejo em João uma pessoa humilde e modesta extraordinária. Para suportar o que
suportou e realizar o que realizou, João tinha que ser um homem com ideias firmes e determinado.
Após a sua experiência de conversão, focalizou muito claramente a sua mente naquilo que desejava
realizar no resto da sua vida. Tendo experimentado o amor misericordioso do Senhor, sentiu-se
impelido a dedicar-se totalmente aos outros: a tornar-se hospitalidade para os outros. Como todos
sabemos, João não era um homem letrado, mas sim de acção. Era uma pessoa como as outras,
alguém que compreendeu as outras pessoas, viveu junto delas e dedicou-se completamente aos seus
irmãos e irmãs que viviam com grandes necessidades.
Quando olhamos para aquilo que João conseguiu realizar na cidade de Granada, somos
imediatamente confrontados com esta pergunta: Como é possível alguém realizar o que ele pôde
realizar apesar de tantas adversidades? Julgo que o modo como João de Deus superou as
contrariedades que encontrou pela frente possa servir de exemplo, ou ser fonte de encorajamento e
inspiração, nos dias hoje, para as pessoas que, devido à crise económica, perderam o emprego ou
vêem os seus salários reduzidos a quase nada. João mostra aquilo de que um ser humano é capaz:
ele nunca se deu por vencido – nem mesmo quando foi levado para uma cela do Hospital Real de
Granada e tratado como um animal. Pelo contrário, lutou com uma energia renovada que provinha
do mais íntimo do seu ser. Devido à terrível experiência que viveu ao ser classificado como doente
mental, foi obrigado a questionar-se profundamente a seu respeito e sobre a vida e o seu significado.
João começou gradualmente a compreender que existia um plano superior no qual ele iria
representar um papel. A orientação do seu director espiritual, Padre João de Ávila, tornou mais
claro o papel que João iria desempenhar na concretização dos planos de Deus. João respondeu às
solicitações e deixou-se guiar pelo Espírito Santo, agindo através das pessoas e dos acontecimentos,
e começou a levar os pobres e os doentes abandonados da cidade para o átrio de entrada da Casa da
família Venegas. Nesse átrio, João e os seus companheiros “marginalizados”, de quem se ocupava
como teria cuidado do próprio Jesus, conheceram e experimentaram “toda a plenitude de Deus” (Ef
3, 19).
Um homem para o nosso tempo
João acabou por aperceber-se de como os seres humanos são inconstantes e de como os bens
materiais podem perder-se ou desaparecer de um dia para o outro. Ele perdeu não só os bens
materiais, mas também a própria fama, a dignidade e o lugar que ocupava na sociedade: essa perda
deixou-o vulnerável e despojado aos olhos do mundo. Com a sua nova missão, João recebeu os
recursos espirituais que lhe permitiriam realizar a sua missão. No entanto, iria depender das pessoas
de Granada para poder dispor dos recursos materiais e económicos de que precisava para levar a
cabo a própria missão. Dificilmente podemos imaginar que se João tivesse sabido o que aquela
missão iria exigir em termos de sacrifício pessoal, e o que ele conseguiria realizar no arco da sua
vida terrena, e que a obra por ele iniciada em Granada se difundiria como um grande incêndio pelo
mundo, decerto que ele teria concordado prontamente com os habitantes de Granada que,
humanamente falando, isso, simplesmente, não podia acontecer. Mas, com a nova missão de João,
chegou também uma nova identificação e a audácia de acreditar que, com a graça de Deus, nada é
impossível, e que “de tudo sou capaz naquele que me dá força” (Fl 4, 13).
Além disso, João deixou de se preocupar com o que as pessoas poderiam pensar dele. Tinha
encontrado um novo rumo para a sua vida. Recebeu também a preciosa intuição, ou graça, de
compreender que esta não era a sua missão, mas uma missão que fazia parte dos planos de Deus
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para o seu povo, nos quais ele iria participar activamente. Ele ia-se tornar um instrumento de Deus,
com consequências positivas não só nas vidas dos cidadãos de Granada mas, graças aos seus
seguidores, incluindo-nos a vós e a mim, nas vidas de milhões e milhões de pessoas doentes e
necessitadas ao longo dos séculos. Através da sua fidelidade, João conseguiria transformar a vida de
uma cidade inteira. Sem necessidade de pregar do alto de um púlpito nem de gritar num palco
destinado a comícios políticos, ele conseguiu eficazmente difundir os seus pensamentos e a sua
visão do futuro.
O segredo do sucesso de João
O segredo do sucesso de João está revelado na sua biografia, onde podemos ver que, graças ao seu
encontro constante com o Senhor vivo e sempre presente, a misericórdia de Deus actuou através
dele e ele tornou-se um dos seus canais. A sua relação com Deus não se exprimiu por isso numa
direcção “'vertical”, mas estendeu-se abundantemente aos outros, e particularmente aos seus irmãos
e irmãs pobres, doentes e abandonados, para os quais ele se transformou em hospitalidade.
A surpreendente proximidade de Deus junto de todos os seus filhos e filhas, especialmente quando
se encontram em necessidade, tornou-se visível através de João. Quando morreu, todos os
habitantes da cidade acorreram para assistir ao seu funeral e manifestar-lhe publicamente a sua
gratidão e o grande respeito que tinham por este homem que haviam aprendido a conhecer e a amar.
Eles proclamaram a influência positiva que João tinha tido nas suas vidas, como pessoas, e na sua
cidade. A presença de João e do seu ministério transformou a cidade de Granada, sem Deus,
despreocupada e materialista, num lugar mais humano e atento às necessidades dos outros.
Um “Dia anual do Colaborador”?
Quando olhamos de perto para a vida de João, somos incitados pelo seu exemplo e a sua obra a
colocar-nos esta questão: Como é que ele conseguiu atrair as pessoas que se juntaram a ele no seu
projecto de vida? E imediatamente vem à memória o episódio do Evangelho quando os primeiros
discípulos se uniram a Jesus. Mesmo sem dizer uma palavra, era como se João lhes pedisse, como
fez Jesus com os seus discípulos: “vinde e vede” (Cf. Jo 1, 35-39)
Neste contexto, gostaria de evocar a figura do homem que foi um dos companheiros mais íntimos
de João de Deus, João de Ávila – Angulo. Foi a bondade de João que atraiu Angulo para junto de si,
a sua maneira de “fazer bem” aos outros, de um modo absoluto e completamente inclusivo. Numa
palavra, a sua hospitalidade. Angulo conquistou a confiança incondicional de João. Nas suas Cartas,
João deixou inequivocamente claro que Angulo era o seu fiel companheiro de viagem. Tornaram-se
o tipo de amigos que se podiam repreender um ao outro, como sabemos que aconteceu durante a
viagem na qual acompanharam algumas ex-prostitutas até Toledo. Recentemente, o Ir. Matias de
Mina, que estudou a vida e a família de Angulo nos arquivos de Granada, concluiu que, “Se João
de Deus é o protótipo do Irmão, e Angulo o protótipo do Colaborador, então a sua [amigável]
relação deve ser o protótipo das relações entre os Irmãos e os Colaboradores hoje”.
Dado que atribuo uma grande importância às cartas circulares que escrevo anualmente por ocasião
da Festa do nosso pai e fundador, comecei a redigir esta carta já no início deste ano. Por
conseguinte, pensei muito em João de Deus e na sua conversão, ocorrida em Granada, no dia 20 de
Janeiro, quando reparei que o dia 19 de Janeiro era o aniversário da morte, em 1583, do seu íntimo
amigo e colaborador Angulo.
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O Ir. José Maria Javierre, na sua obra que narra a vida de João de Deus – “João de Deus – Louco
em Granada” (1996) – conta-nos que no seu apostolado, em Granada, João contratou para o seu
serviço um ajudante – “um homem jovem para o acompanhar pelas ruas e cuidar da casa durante
a sua ausência. Precisava de alguém que merecesse a sua total confiança e estivesse a seu lado até
ao fim. Esse homem chamava-se João de Ávila, por mera coincidência e, tinha o mesmo nome do
Mestre de Ávila. Para evitar quaisquer confusões, João deu-lhe o apelido de “Angulo” (...) Nós
não conhecemos a razão da escolha deste sobrenome, nem sabemos se outros, além de João, lhe
chamavam Angulo. Ele tinha uns 30 anos quando, em 1544, conheceu pela primeira vez o nosso
João e passou a estar ao seu serviço; era ainda solteiro naquela altura, mas casou-se alguns anos
mais tarde, na primavera de 1549. João de Deus contratou-o pagando-lhe o seu salário, não como
discípulo. Ele mereceu a total confiança do seu patrão, como veremos em circunstâncias notáveis.
João referiu-se afectuosamente a Angulo como o “meu companheiro” e tornaram-se grandes
amigos. Foi um empregado exemplar e mereceu ser chamado “amigo de João” (Cf. Cap. 26).
Sabemos, pelas suas próprias palavras, algo mais sobre a experiência de Angulo com João de Deus.
Disse ele: “Tomei parte no trabalho de João de Deus desde 1544, seis anos antes da sua morte.
João era um homem de grande paciência e de santa vida, e caminhava pela cidade vestindo roupa
de tecido grosso e áspero, descalço e com um capuz na cabeça. Levava consigo uma cesta aos
ombros e pedia esmolas por amor de Deus. As pessoas davam-lhas a ele levava-as para os pobres,
de quem se ocupava depois no seu hospital, na rua chamada Gomeles. Se bem me recordo, eu tinha
vinte e oito anos, mais ou menos, quando pela primeira vez vi João de Deus andar pela cidade a
pedir esmolas repetindo o seu grito peculiar para chamar a atenção. Eu próprio vivi no hospital e
vi aquilo de que estou a falar com os meus próprios olhos. Logo depois de me ter encontrado com
João, ele comprou uma casa que tinha sido um convento de freiras, com um poço próprio, na Rua
Gomeles, por quatrocentos ducados. A generosidade de muitas pessoas simples da cidade tinha
tornado possível a compra da casa. Mais tarde, João de Deus construiu nela uma cozinha e
realizou obras de adaptação e reparação gastando outros quatrocentos ducados. Fez tudo isso por
meio de doações que também lhe permitiram colocar camas e equipar enfermarias. Ele comprou
tudo o que era necessário para o serviço dos pobres. Ele tinha um capelão que ouvia as confissões,
administrava os sacramentos e acompanhava os funerais até os defuntos serem enterrados”.
Angulo casou-se com Beatriz de Ayvar, no dia 14 de Maio de 1549, menos de um ano antes da
morte de João, e o casal teve quatro filhos. É importante observar que o compromisso de Angulo
pela Hospitalidade não estava centralizado na pessoa de João de Deus e ele continuou a fazer parte
do seu movimento durante os muitos anos que decorreram entre a morte de João e a sua. A relação
de Angulo com João durou seis anos. A sua relação com os Irmãos prolongou-se por mais 33 anos.
Se alguma vez a Ordem decidisse escolher uma data para celebrar como “Dia anual do
Colaborador”, o dia 19 de Janeiro poderia ser uma boa opção.
Tempo para reflectir e fazer algumas perguntas
Em todas as actividades, a repetibilidade pode retirar ao evento o seu verdadeiro significado, e isso
aplica-se até mesmo às Festas litúrgicas da Igreja, como o Natal, a Páscoa e – no nosso caso – a
Festa de S. João de Deus. A Festa anual de S. João de Deus dá-nos, a nós, seguidores de João, a
oportunidade de reflectir sobre a sua vida e a missão que ele nos legou. Considero esta celebração
anual como uma oportunidade para renovar o nosso compromisso de darmos continuidade ao
trabalho de João, segundo o espírito e o modo que ele nos indicou. Acredito que a preparação para a
Festa poderia ser um tempo para reflectirmos a um nível mais profundo sobre a vida e a obra de S.
João de Deus, de forma a tornarmo-nos mais familiarizados com a sua espiritualidade. Poderíamos
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também aproveitar para nos colocarmos algumas perguntas, como por exemplo: Por que é que o
Senhor achou por bem enviar este homem, esta figura exemplar de santidade, para o meio de nós?
Poderíamos também reflectir sobre a razão por que nós mesmos nos unimos à Família Hospitaleira
e, de modo talvez ainda mais importante, por que razão cada um de nós é Irmão ou Colaborador?
Como Colaborador, sobre o qual se reflectiu numa recente conferência, poderíamos fazer a seguinte
pergunta: Onde está João de Deus hoje? No plano prático, pessoal, poderíamos ainda
questionarmo-nos: O que faria João de Deus na minha situação concreta? Mais um pensamento a
este respeito: Nestes tempos difíceis para tantas pessoas, qual seria a resposta de João de Deus?
Tempo para recordar
De acordo com quanto João de Deus desejava e segundo os planos de Deus que no-lo enviou como
modelo, julgo que a celebração da Festa de S. João de Deus deveria ser muito mais do que uma
celebração meramente exterior ou material. Trata-se, na minha perspectiva, de uma oportunidade
admirável para explorarmos a verdade que esta celebração litúrgica nos oferece.
Uma pergunta que as pessoas fazem frequentemente é a seguinte: Por que é que certas pessoas são
proclamadas santas? Sem entrar numa explicação teológica profunda, quanto mais tenho reflectido
sobre isto ao longo dos anos, e especialmente quando medito sobre a vida de pessoas como João de
Deus, Bento Menni, Olallo Valdez, Eustáquio Kugler e outros, chego à conclusão que Deus, na sua
misericórdia e sabedoria, sabendo como a vida pode ser difícil para nós, deu-nos homens e
mulheres que nos servem de modelo na nossa viagem ao longo da vida. Para mim, João de Deus
não é apenas um modelo a seguir quando procuro viver a minha vocação, mas um companheiro, um
amigo e um defensor na minha jornada.
Colocar a pessoa assistida no centro das celebrações
As celebrações são, pela sua natureza, eventos sociais que congregam as pessoas. Nós temos uma
longa tradição segundo a qual, no dia da Festa de S. João de Deus, procuramos oferecer algo
especial ou diferente às pessoas a quem temos o privilégio de servir nos nossos centros, ou através
dos serviços que lhes proporcionamos. Por isso, quando visitamos um dos nossos Centros ou
Serviços, no dia 8 de Março, ou sempre que se celebra a Festa de S. João de Deus, é maravilhoso
ver os nossos convidados sentirem-se em companhia, saboreando uma boa refeição, fruindo de boa
música e até dançando, ou estando envolvidos em quaisquer outros actos de que são capazes ou em
que desejam participar.
As celebrações são também uma expressão da hospitalidade de S. João de Deus. Pelo menos
durante algum tempo, as pessoas que entram em contacto connosco, devido a alguma doença ou
necessidade nas suas vidas, conseguem pôr de parte as suas preocupações e aborrecimentos
particulares e sentem-se serenas. Estou certo de que essas pessoas que, por outro lado, podem estar
deprimidas ou preocupadas com as suas necessidade particulares ou devido à doença, ao sentiremse assim felizes, dão a João de Deus um grande prazer.
Passei o Natal do ano passado com a nossa comunidade na China onde a Ordem tem um Hospício
para pessoas doentes na fase terminal, normalmente vítimas de cancro. Também aqui organizámos
uma festa para o pessoal e os utentes do Hospício, na véspera de Natal. Dado que as pessoas
estavam muito doentes e sujeitas a dietas particulares, conforme as necessidades de cada uma, não
era apropriado preparar um jantar especial, mas cada utente recebeu uma prenda bem
confeccionada. Um homem muito doente comentou, com as lágrimas nos olhos, que era a primeira
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vez na sua vida que recebia uma prenda. E, com amor, abraçou a esposa que lhe tinha oferecido a
prenda que recebera de um Colaborador para lhe oferecer. No limiar da morte, este homem pôde
experimentar a hospitalidade de S. João de Deus sem saber que dali a muito pouco tempo (viria a
falecer alguns dias depois) estaria na presença do Deus da Hospitalidade que lhe ofereceria o dom
da vida eterna, a maior prenda de Natal. Actos de hospitalidade semelhantes acontecem
diariamente, a todo o momento, onde quer que a Ordem tem uma presença e os seus membros se
esforçam por ser fiéis à missão que lhes foi confiada, indo ao encontro dos irmãos e irmãs mais
vulneráveis e necessitados no meio de nós, levando-lhes a cura, alegria, esperança num futuro
melhor, compreensão e respeito, num ambiente acolhedor e prestando-lhes os cuidados necessários.
Heróis da hospitalidade
Como seres humanos, estamos sempre à procura de pessoas que nos possam servir de exemplo –
pessoas que nos possam motivar e apoiar no nosso apostolado. Os jovens, sobretudo, têm os seus
ídolos do futebol, beisebol, críquete, ou heróis ou heroínas de ténis que “adoram”! Como já disse,
Angulo é um grande modelo para os Colaboradores: ele manteve-se muito próximo de João de
Deus, partilhando o modo de ele trabalhar e agir, e dando depois continuidade ao seu trabalho
juntamente com os Irmãos, até muito tempo depois de João ter falecido. Também nós temos os
nossos Irmãos Santos e Beatos, como o Ir. Olallo Valdez, recentemente beatificado, que durante 54
anos exerceu incansavelmente o seu apostolado, chegando mesmo a trabalhar completamente
sozinho durante 10 longos anos. O Ir. Olallo permaneceu fiel à sua vocação Hospitaleira, à Igreja e
à sua missão e nunca descurou a vida de oração. É quase uma coincidência, então, que também este
nosso Irmão, como o homem que ele imitou tão perfeitamente, João de Deus, tenha ficado
conhecido como o “apóstolo da caridade.”
Este ano teremos a alegria de celebrar outra beatificação, na cidade alemã de Regensburg
(Ratisbona), na Baviera. Desta vez, será o Ir. Eustáquio Kugler. O Ir. Eustáquio é um outro exemplo
eloquente de como a vocação do Irmão na Igreja, quando é vivida com fidelidade e perseverança,
conduz à santidade. A beatificação do Ir. Eustáquio é uma ulterior confirmação de que a semente
lançada por João de Deus produziu grandes frutos espirituais em quantos, desde então, se uniram ao
seu projecto de pôr em prática o Evangelho da Misericórdia. O Ir. Eustáquio tinha uma grande
compaixão pelos pobres e os doentes, particularmente por aqueles que sofriam de uma variedade de
doenças mentais ou deficiências. Nas suas orações, consagrava-se inteiramente a Deus e, na sua
sincera veneração por Nossa Senhora e adoração do Senhor, reiterava o desejo de amar o próximo
como amava a Deus. Ele viveu plenamente o espírito das Bem-aventuranças tornando-se portador
da Boa-Nova.
Uma mensagem especial para aqueles a quem servimos
através do Carisma da Hospitalidade
Nesta Festa de S. João de Deus, que a Igreja declarou santo patrono de todos os doentes e dos
profissionais da Saúde, dirijo as palavras finais desta minha carta a todos aqueles que se encontram
nalgum Centro de S. João de Deus ou que, por qualquer motivo, beneficiam dos serviços prestados
pela Ordem. Quem está gravemente doente ou hospitalizado durante muito tempo, devido a alguma
doença ou deficiência, pode achar que é difícil rezar. Nestes casos, o seu sofrimento, aceite da
melhor maneira possível, é a sua oração – e uma oração muito poderosa. Dou-me conta de que,
perante a miséria humana e o sofrimento, mesmo as palavras de conforto mais adequadas não
explicam as razões do sofrimento; mas elas proclamam certamente a Boa-Nova que Cristo carregou
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sobre si a doença e suportou o nosso mesmo sofrimento humano. Por isso, Cristo está com eles no
seu sofrimento, oferecendo cura aos corações que provavelmente se sentem despedaçados e, por
vezes, a sofrer de solidão.
Os Irmãos e Colaboradores que vos dão assistência, ou que vos acompanham nos tempos de
necessidade, querem sinceramente aliviar a vossa dor, responder às preocupações que atormentam o
vosso espírito ou aquietar a ansiedade que às vezes cresce dentro de vós. Eles existem para vos
ajudar e apoiar, assim como as vossas famílias e os vossos amigos que, por causa da vossa doença
ou deficiência, também sofrem, preocupados, e procuram uma palavra de conforto e esperança.
Além disso, gostaria que soubessem que todos os dias os Irmãos de S. João de Deus, nas suas mais
de 200 comunidades religiosas espalhadas pelo mundo, se lembram de vós e das vossas
necessidades, de modo especial quando se recolhem na capela para rezar. Eles oferecem a Deus a
vossa dor, os vossos sentimentos e aspirações, o vosso desejo de cura e de plenitude, pedindo ao
Senhor as suas bênçãos, coragem e força para a cura, para vós e os vossos familiares. Os Irmãos
fazem isso de modo particular quando se reúnem ao redor do altar para celebrar a Eucaristia e
também na sua oração, individual ou privada. Consideramos esta solicitude como uma expressão
muito importante da hospitalidade que professamos. Dado que somos um instituto religioso
internacional, presente nos cinco continentes, em mais de 50 países, podemos estar certos de que
noite e dia, nalguma parte do mundo, as vossas necessidades e as aspirações dos vossos corações
estão a ser recordadas pelos Irmãos. Espero que este pensamento vos dê algum conforto espiritual.
Conclusão
Para terminar, consagremo-nos a nós mesmos, de alma e coração, a Maria, nossa Mãe do Bom
Conselho e, pela intercessão de S. João de Deus, deixemos que Nosso Senhor guie os nossos passos
e o nosso trabalho quotidiano, sempre para o bem daqueles que se dirigem a nós e se colocam sob
os nossos cuidados nos momentos de especial necessidade.
Por fim, juntamente comigo, o Governo Geral da Ordem, os Colaboradores e a Comunidade da
Cúria Geral, em Roma, enviam a todos os membros da grande Família Hospitaleira de S. João de
Deus, os melhores votos fraternos e orantes por ocasião da Festa de S. João de Deus.
Como sempre, ao vosso dispor, com uma saudação muito sincera em S. João de Deus,
Ir. Donatus Forkan, O.H.
Superior Geral
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