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VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM
OBSTÉTRICA E NEONATAL
Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de
Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido
24 à 26 de junho de 2009
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O ACOMPANHANTE DURANTE O PARTO NA PERSPECTIVA DE PUÉRPERAS
Hélcia Carla dos Santos Pitombeira 1
Liana Mara Rocha Teles2
Amanda Souza de Oliveira 3
Jamile de Souza Pacheco Paiva4
Ana Kelve de Castro Damasceno5
1. Acadêmica de enfermagem no 9º semestre da Universidade Federal do Ceará – UFC, bolsista de
iniciação Científica Funcap. Membro do grupo de pesquisa/CNPq: Enfermagem na Promoção da
Saúde Materna. E-mail: [email protected]
2,4. Enfermeiras, graduadas pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Membro do grupo de
pesquisa/CNPq: Enfermagem na Promoção da Saúde Materna. Cursando Especialização em
Cuidados Intensivos pela Universidade Estadual do Ceará - UECE.
3. Acadêmica de enfermagem da Universidade Federal do Ceará – UFC, bolsista de Extensão
Universitária UFC. Membro do grupo de pesquisa/CNPq: Enfermagem na Promoção da Saúde
Materna. E-mail: [email protected]
5. Enfermeira e Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará - UFC. Membro do grupo de pesquisa/CNPq: Enfermagem na Promoção da Saúde Materna
Email: [email protected]
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UM ACOMPANHANTE DURANTE O PARTO NA PERSPECTIVA DE PUÉRPERAS
No processo de parturição a mulher vivencia momentos de grande intensidade
emocional, marcados pelos sentimentos de ansiedade e medo. Neste cenário, surge
a necessidade do acompanhante como um provedor de suporte à mulher. O
presente estudo tem como objetivos: Caracterizar o perfil de puérperas que
vivenciaram o parto humanizado; Identificar os motivos que justifiquem a importância
em ter acompanhante durante o processo do parto e Realizar uma comparação com
a experiência do parto anterior de acordo com as puérperas. Trata-se de uma
investigação do tipo descritiva, transversal, com abordagem predominantemente
quantitativa, realizada no período de setembro a outubro de 2008 com 105
puérperas internadas no alojamento conjunto da Maternidade Assis Chateaubriand
(MEAC). Os dados foram coletados a partir de um formulário, sendo os dados
subjetivos analisados segundo o método de análise de conteúdo de Bardin e os
dados objetivos ordenados, classificados e analisados com o auxílio do programa
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 15.0. Das puérperas que
participaram deste estudo, 98 (93,4%) tinham entre 18 e 34 anos, apresentando, em
sua maioria, baixos níveis socioeconômicos: 53,4% das puérperas tinham nível
fundamental incompleto/ completo e 82 (78%) possuíam renda igual ou inferior a um
salário mínimo. A inserção de um acompanhante no processo de parto foi uma
prática aprovada pela grande maioria das mulheres, tendo 104 (99%) destas
considerado isto importante ou muito importante. Assim, 86 (81,9%) mulheres
consideraram melhor o parto atual, enfatizando diferentes motivos como: a
companhia de alguém de confiança, o acolhimento e assistência por parte dos
profissionais, a organização do ambiente, a rapidez do parto e diminuição das dores.
Em contrapartida, 14 (13,3%) puérperas consideraram melhor o parto anterior
devido à maior rapidez, por este ter sido menos doloroso e por ter recebido maior
assistência profissional. O(s) parto(s) anterior (es) e o atual foram considerados
igualmente bons por 7 (6,6%) mulheres, e duas mulheres não responderam à
questão.Conclui-se que a experiência de ser acompanhada durante o parto foi
considerada positiva pela quase totalidade das puérperas, reforçando a importância
deste personagem no processo de parto. Também ficou evidenciado a humanização
dos profissionais da instituição em estudo na assistência ao parto, assim como a
contribuição positiva de um ambiente acolhedor e organizado para uma melhor
vivencia deste período. Logo, através desse estudo ficou evidenciado o grande
benefício que o acompanhante traz à mulher, indo desde o suporte físico ao
emocional. Assim, percebemos o quanto é importante assegurar esse direito à
mulher para que ela possa desfrutar de um parto saudável, provido de apoio,
segurança e conforto.
Palavras-chave: Enfermagem; Humanização de Assistência ao parto;
acompanhantes de pacientes.
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1 INTRODUÇÃO
No processo de parturição a mulher vivencia momentos de intensa emoção,
marcados pelos sentimentos de ansiedade e medo. Neste cenário, surge a
necessidade do acompanhante como um provedor de suporte psísico e emocional à
mulher, contribuindo para que o parto seja visto como uma experiência positiva pela
mesma.
Estudo realizado com 19 participantes identificou que 14 (74%) gestantes
tinham expectativas negativas em relação ao parto, caracterizadas por: receio de
que o bebê nascesse prematuro, preocupação com a dor, insegurança quanto ao
atendimento a receber, medo de ser incapaz, receio de não reconhecer os sinais do
parto, medo de morrer e de não ter controle sobre o parto. Durante trabalho de parto
e parto, estes receios que acompanharam a mulher ao longo da gestação, podem
concretizar-se ou não, fazendo com que os sentimentos de ansiedade, medo e
excitação adquiram maior intensidade (LOPES, 2005).
De fato, a institucionalização do parto normatizou práticas que tornaram estes
receios preocupantes, pois fizeram a mulher se despir de sua individualidade e
autonomia. Além da separação da família e pessoas de confiança, a internação
hospitalar incluiu práticas que tornaram ainda mais discrepantes a diferença entre o
parto domiciliar e o hospitalar: remoção de roupas e de objetos pessoais, limpeza
com enema, jejum obrigatório, proibição da deambulação, entre outras.
Em estudo realizado por Gale, Fothergill-Bourbonnais e Chamberlain (2001)
acerca das atividades de apoio realizadas por enfermeiras em centro obstétrico,
percebeu-se que 12,4% do tempo da enfermeira é dedicado a oferecer apoio à
parturiente, sendo o tipo de apoio mais observado o de informação e instrução,
perfazendo 70% deste tempo.
O acompanhante é um aliado da equipe de enfermagem, já que nem sempre
o enfermeiro dispõe de tempo suficiente para oferecer um apoio emocional
adequado. Brüggemann, Osis e Parpinelli (2007) defendem esta idéia ao relatar que
a presença do acompanhante proporciona uma maior abrangência ao cuidado, pois
aumenta a observação e a interlocução das suas necessidades.
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Assim, a presença de um acompanhante, que é um direito garantido através
da lei nº. 11.108 sancionada em abril de 2005, e uma assistência de enfermagem
adequada, que leve em conta os sentimentos e anseios da mulher durante as fases
do trabalho de parto, transmitem a esta uma maior segurança e, consequentemente,
uma vivência mais tranqüila deste período.
Diante do exposto e tendo em vista a vivência enquanto acadêmica de
enfermagem, ao notar situações de parto sem acompanhante e observar situações
de ansiedade e angústia experimentada pela maioria das mulheres durante este
processo, teve-se o intuito de desenvolver o presente estudo com o enfoque de
investigar como está sendo a experiência do parto com a presença do
acompanhante, na visão da puérpera.
2 OBJETIVOS
Geral
Investigar a importância dada pelas puérperas à presença de um
acompanhante durante o processo de trabalho de parto.
Específicos
- Caracterizar o perfil de puérperas que vivenciaram o parto humanizado;
- Identificar os motivos que justifiquem a importância em ter acompanhante durante o
processo do parto;
- Realizar uma comparação com a experiência do parto anterior de acordo com as
puérperas.
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo descritivo, transversal, com abordagem
predominantemente quantitativa. Para Polit; Beck e Hungler (2004), a pesquisa
quantitativa tem o intuito de coleta sistemática de informação numérica,
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condicionada a um controle rigoroso, além da análise dessa informação utilizando a
estatística. O estudo descritivo tem como objetivo maior descrever as características
de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre as variáveis
(GIL, 2001).
A pesquisa foi realizada no alojamento conjunto da Maternidade Assis
Chateaubriand (MEAC), após ser aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
própria instituição. Também foi assinado pelas puérperas, o termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE), aceitando participar do estudo.
A população foi composta por 137 puérperas que atendiam os seguintes
critérios de inclusão: 1. Puérperas que já vivenciaram um ou mais parto sem
acompanhante; 2. Terem tido a presença do acompanhante de sua escolha durante
o parto atual; 3. Aceitarem participar do estudo. Através da fórmula para populações
finitas: N= Z².P.Q.N / Z².P.Q.N+ (n-1).E²,
(n: tamanho da amostra; Z: nível de
confiança; P: prevalência do fenômeno; Q: 1-p; N: população e E: erro amostral)., foi
contabilizado uma amostra de 105 mulheres.
A coleta de dados foi realizada em setembro a outubro de 2008. Os dados
foram coletados por meio da aplicação de um formulário. Sendo assim, foi elaborado
um formulário composto por 42 perguntas objetivas e três subjetivas, estando as
mesmas dividas em quatro tópicos: Dados socioeconômicos das puérperas, história
obstétrica das puérperas, perfil do acompanhante e avaliação da participação do
acompanhante.
Os dados advindos das respostas objetivas foram ordenados, classificados e
analisados com o auxílio do programa SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) versão 15.0. As respostas de cunho subjetivo foram trabalhadas segundo
análise de conteúdo, seguindo orientação geral apresentada por Bardin (1977), que
propõe três etapas para trabalhar os dados: a pré-análise, a exploração do material
e o tratamento dos resultados (a inferência e a interpretação).
As falas foram agrupadas, sendo as categorias apresentadas em forma de
tabelas, tendo em sua discussão inclusa as falas mais representativas das
puérperas, utilizando como codificação a numeração dos formulários. A discussão
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dos resultados foi confrontada com dados da literatura pertinente.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escolha do acompanhante pela parturiente é realizada antes desta subir
à sala de parto. Após a escolha, o acompanhante preenche um cadastro com: nome;
número de identidade; grau de parentesco com a parturiente; data e hora da
entrada; local de procedência e motivo de acompanhamento, no Serviço Social da
instituição ou na emergência. Recebe orientações quanto às normas e rotinas da
instituição, sobre seus deveres como acompanhante, vestimenta, comportamento e
sobre as proibições. Nesse momento é informado ao acompanhante o horário e o
procedimento para troca de acompanhantes.
Observou-se que 88 (83,8%) das puérperas entrevistadas encontravam-se
na faixa etária ideal para a concepção, ou seja, entre 20 e 35 anos. (BRASIL, 2000).
Não tendo as mulheres em idades de risco reprodutivo uma prevalência significante:
1 (1,3%) das mulheres tinha menos de 17 anos e 7 (8,8%) tinham mais de 35 anos
de idade. Vale ressaltar que trata-se de mulheres que já vivenciaram o parto mais de
uma vez, ou seja, já engravidaram anteriormente em uma idade mais jovem.
A maioria das mulheres, ou seja, 92 (87,6%) era proveniente da capital,
sendo tal achado justificado por esta instituição ser uma das unidades de referência
em atenção obstétrica do Estado e ter um serviço de emergência como uma de suas
portas de entrada.
A cor parda teve prevalência de 63 (60,0%) entre as puérperas.
Corroborando com este dado, o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000, também apontou a prevalência da cor
parda em 57,5% da população cearense.
Quanto ao nível de instrução, 56 (53,4%) puérperas tinham baixa
escolaridade (nível fundamental incompleto/ completo) e 82 (78,0%) possuíam renda
igual ou inferior a um salário mínimo. A baixa escolaridade contribui para a redução
das chances de inserção no mercado de trabalho formal, restando como escolha a
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realização de atividades laborativas de baixa remuneração, que nem sempre
oferecem à mulher direitos trabalhistas fundamentais como a licença maternidade.
A PNDS realizada em 2006 revelou que, no momento da entrevista,
apenas 54,2% das mulheres em idade reprodutiva declararam estar trabalhando.
Além disso, traz o baixo nível de formalização do trabalho entre estas mulheres, uma
vez que apenas 34,5 % de todas as mulheres que trabalhavam à época da
entrevista ou tinham trabalhado nos 12 meses anteriores à realização desta tinham
registro em carteira assinada. A mesma pesquisa também observou que, em geral,
são as mulheres menos escolarizadas as que apresentam as piores condições em
termos de inserção nas atividades produtivas (BRASIL, 2008).
A maioria das mulheres 91 (86,6%) possuía companheiro fixo, estando as
mesmas casadas ou em união consensual. A companhia do esposo é fundamental
para proporcionar apoio afetivo e emocional á mulher, principalmente durante o
puerpério, fase pós-parto em que a mulher experimenta modificações físicas e
psíquicas. Segundo Zagoneli et al. (2003), o início da adaptação à maternidade
suscita nos pais sentimentos de incapacidade e confusão frente às novas
demandas, levando a buscar apoio um no outro.
As puérperas estavam internadas no alojamento conjunto da maternidade
em estudo, em média, há 2,6 dias. Entre elas, 36 (34,3%) tinham um acompanhante
durante a internação. O grau de parentesco destes acompanhantes prevaleceu
nesta ordem: mãe 15 (14,3%), irmã 9 (8,6%), amiga 3 (2,9%), sogra 2 (1,9%) e
cunhada 2 (1,9%). Vale ressaltar aqui a proibição de homens como acompanhante
no alojamento conjunto, justificando a ausência do esposo.
A presença de um acompanhante no sistema de alojamento conjunto se
faz importante por permitir o aprendizado das necessidades e cuidados com o
binômio mãe e recém-nascido, contribuindo para a continuação desta assistência no
domicílio. Além disso, possibilita o auxílio nas tarefas maternas como banho e
amamentação e nos cuidados diretos ao recém-nascido que, muitas vezes,
encontra-se dificultado pela condição de cansaço e exaustão na qual a mulher se
encontra durante o puerpério imediato (primeiras 24 horas pós-parto).
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Ao averiguar a importância dada pelas puérperas à presença de um
acompanhante durante o processo de parto, entre as 105 participantes 87 (82,8%)
consideraram ser o acompanhante muito importante, 17 (16,2%) julgaram ser
importante e 1 (1,0% ) classificou-o como pouco importante. As justificativas para
tais assertivas foram agrupadas em seis categorias: suporte emocional, conforto
físico, suporte de informações, defesa, compartilhamento de experiências e
facilitação do parto, com freqüências segundo a tabela a seguir.
Tabela 1: Distribuição de justificativas atribuídas por puérperas à importância da presença de um
acompanhante no processo de parto. MEAC, set a out de 2008, Fortaleza-Ceará, 2008.
Variáveis
N
%
Transmite segurança
44
41,9
Apoio emocional
62
59,0
Diminui a solidão
26
24,8
Reduz o medo
4
3,8
Transmite compreensão
2
1,9
Proporciona maior equilíbrio emocional
2
1,9
Ajuda a aliviar as dores
4
3,8
Realiza massagens
1
0,9
Conversa
3
2,8
Orienta
1
0,9
Proteção
3
3,8
Auxilia em alguma eventualidade
5
4,7
Compartilhamento de experiências
5
4,7
Facilitação do parto
4
3,8
Suporte Emocional
Conforto Físico
Suporte de Informações
Defesa
Segundo Motta e Crepaldi (2005) o apoio emocional configura-se
mediante aproximar-se da parturiente de forma carinhosa, dizer palavras de
encorajamento e fazer elogios. Neste estudo, a categoria Suporte Emocional
envolve puérperas que enfatizaram o recebimento deste tipo de apoio como
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justificativa para determinar o grau de importância do acompanhante. As mulheres
relataram à incorporação de sentimentos positivos, tais como: segurança, coragem,
tranqüilidade e conforto, com conseqüente redução do medo e ansiedade. Outras
citaram a importância de ter a companhia contínua de uma pessoa ao lado,
diminuindo a solidão. A compreensão demonstrada pelos acompanhantes também
foi ressaltada. Tais sentimentos são traduzidos em diversas falas, entre elas,
podemos citar:
“Muito importante. Principalmente se mãe ou esposo; se sente mais
segura, mais protegida, mais firme emocionalmente, pois tem alguém que
você ama por perto”. (P3)
“Muito importante. Ajuda muito, dá força” (P24)
“Muito importante. No momento você está nervosa, a pessoa ao lado dá
mais conforto, diminui o medo”. (P37)
“... tem horas que a gente se sente só aí a pessoa ta sempre lá” (P22)
“... é muito ruim sofrer sozinha”. (P45)
“Muito importante. Porque você se sente melhor, tem uma pessoa
conhecida que dá apoio, minha mãe entendia o que eu tava passando”.
(P12)
O conforto físico fornecido pelo acompanhante tais como massagens e
auxílio no alívio das dores também fizeram com que algumas mulheres tivessem
uma visão positiva da participação deste personagem durante o parto, originando a
categoria Conforto Físico. Motta e Crepaldi (2005) trazem que o apoio físico dá-se
por meio de toques, massagens e do incentivo à deambulação e a mudanças de
posição, buscando sempre oferecer conforto físico à mulher. Nestas falas, as
puérperas ressaltam a importância do apoio físico para o alívio da dor.
“Muito importante. Porque ajuda com palavras, dá força, dá massagem,
diminui a dor”. (P65)
“O pai sabe o que a mãe tá passando e faz massagens para ajudar a aliviar
as dores” (P30)
A categoria Suporte de Informações foi obtida através da análise de
relatos que trazem as conversas e orientações partilhadas com o acompanhante
como justificativa para a importância do acompanhante no parto.
“... já sendo de casa, sabe o que dizer para dar força”. (P16)
“Muito importante, porque o acompanhante lhe ajuda e lhe orienta, lhe traz
mais tranqüilidade”. (P60)
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Nakano et al (2007) trazem que participar como acompanhante reveste-se
de uma postura fiscalizadora da assistência prestada pelo serviço de saúde. Tal
assertiva está inclusa na categoria Defesa, a qual abrange falas que contemplam a
presença do acompanhante como uma certeza de proteção e auxílio em possíveis
eventualidades.
“Muito importante, porque você pode passar mal e tem uma pessoa para
auxiliar”. (P71)
“... tem uma pessoa para contar e ajudar”. (P72)
Na categoria Compartilhamento de Experiências, foram agrupadas as
justificativas que envolveram a importância de partilhar a experiência do parto com
pessoas queridas e importantes para a parturiente.
“... pelo fato de meu marido ser o pai do bebê e ter me acompanhado
durante a gestação, é importante ele vivenciar e estar presente no parto”.
(P33)
“... é uma emoção maior ter uma pessoa participando que é de confiança.
Foi o primeiro neto dela”. (P20)
Hotimsky e Alvarenga (2002) analisam a importância da participação
paterna durante o parto para as mulheres utilizando duas vertentes como
justificativas. Na primeira vertente, a presença do marido no parto implica em uma
aproximação com o ideário do 'casal grávido' e da 'família moderna' no sentido da
valorização da indiferenciação em relação aos papéis conjugais. Na segunda
vertente, é enfatizada a presença do cônjuge como uma maneira das mulheres
sentirem-se mais valorizadas pelos esposos, visto que eles iriam presenciar o
sofrimento vivenciado por estas. Tal vertente entende que a presença dos maridos
no parto pode vir a reforçar valores “tradicionais” existentes.
Estudo realizado por Bruggemann et al (2007), um dos efeitos positivos da
presença do acompanhante, na opinião dos profissionais de saúde, foi a boa
evolução do trabalho de parto e parto, tornando a parturiente mais segura e
colaborativa. No presente estudo, quatro mulheres afirmaram que a presença do
acompanhante facilitou o trabalho de parto, perfazendo a categoria Facilitação do
Parto.
“A companhia de uma pessoa importante facilita o parto”. (P29)
“Com a presença de uma pessoa conhecida fica mais fácil”. (P42)
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“Muito importante, a gente se sente mais segura, facilita o parto”. (P46)
“Porque com uma pessoa do nosso lado fica mais fácil, ela nos
ajuda”.(P105)
Como citado anteriormente, apenas uma das mulheres considerou pouco
importante a presença do acompanhante durante o parto, relatando ter sentido
vergonha perante o mesmo. É preciso dar condições de uma boa escolha, bem
antecipada. Hotimsky e Alvarenga (2002) trazem que algumas mulheres optam por
não ter acompanhante pelo desejo de preservar sua privacidade, dando a luz
apenas na presença do profissional responsável pela assistência. Segundo os
mesmos autores, isto é mais comum em mulheres mais velhas e, com três ou mais
filhos, talvez pelo maior recato e modéstia em relação à sexualidade, estando nestas
uma reprodução mais próxima dos padrões “tradicionais” de gerações anteriores.
Ao solicitar à mulher que fizesse uma comparação entre o parto atual e o
parto anterior, não foi estabelecido em que aspectos esta comparação deveria
acontecer, permitindo á mulher enfocar seus próprios critérios e julgar em qual deles
teve uma vivência melhor. Assim, 86 (81,9%) mulheres consideraram melhor o parto
atual, enfatizando diferentes motivos como: a companhia de alguém de confiança, o
acolhimento e assistência por parte dos profissionais, a organização do ambiente, a
rapidez do parto e diminuição das dores. Em contrapartida, 14 (13,3%) puérperas
consideraram melhor o parto anterior devido à maior rapidez, por este ter sido
menos doloroso e por ter recebido maior assistência profissional. O(s) parto(s)
anterior (es) e o atual foram considerados igualmente bons por 7 (6,6%) mulheres, e
duas não responderam à pergunta.
Tabela 2: Comparação entre a experiência de parto anterior e atual segundo puérperas. da MEAC no
período de set a out de 2008. Fortaleza- Ceará, 2008.
Variáveis
N
%
Presença do acompanhante
49
46,6
Acolhimento/ assistência profissional
22
20,9
Organização do ambiente
8
7,6
Menos demorado
9
8,7
Menos doloroso
4
3,8
Parto atual melhor
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Parto anterior melhor
Menos doloroso
7
6,6
Menos demorado
7
6,6
Melhor assistência profissional
2
1,9
A presença do acompanhante foi trazida como um dos fatores
determinantes para uma melhor vivência do período de parto por 49 (46,6%) das
mulheres, com discursos como:
“No parto sem acompanhante eu tinha que fazer tudo sozinha” (P2).
“Esse foi muito melhor, porque tinha apoio, mais segurança. No outro eu
era sozinha, era mais complicado” (P19).
“O com acompanhante foi muito bom e eu tinha alguém comigo, e o outro
eu estava sozinha e os profissionais não me davam atenção” (P64).
O suporte de alguém de confiança traz diversos benefícios à mulher,
sendo estes percebidos principalmente no que se refere à saúde materna: redução
da taxa de cesariana; diminuição do uso de ocitocina, do tempo do trabalho de parto,
do uso de fármacos para o alívio da dor, e uma elevação da realização materna no
que se refere ao nascimento do filho. A metanálise de Zhang et al (1996) avaliou o
suporte provido por mulheres com ou sem treinamento, apontando como resultado
uma redução da duração do trabalho de parto, uso de ocitocina, fórceps e
cesarianas; e um aumento no número de partos normais espontâneos, satisfação
materna com a experiência e período pós-parto sem intercorrências.
Corroborando estes dados, observou-se que houve uma diminuição na
necessidade de procedimentos invasivos, sendo isto representado pelos relatos de
não ter havido necessidade de ocitocina e episotomia, respectivamente.
“No parto anterior tive que ser ajudada pelo médico (induziu o parto), nesse
houve a presença do acompanhante” (P25).
“Esse agora foi melhor, pois ficou alguém comigo. Foi mais rápido. Não tive
que ser cortada” (P25).
Outro fator que merece destaque é o acolhimento concedido pelos
profissionais e a humanização do serviço, sendo isto ressaltado por 22 (20,9%)
mulheres com um dos fatores determinantes para tornar o último parto melhor que
os demais.
“Nesse agora me senti mais calma, a atenção dos profissionais foi melhor,
enquanto no primeiro parto eu me senti só” (P38).
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“Neste eu tive um bom atendimento na MEAC pelos profissionais” (P27).
“O atendimento, a ajuda dos profissionais nesse parto foi melhor 100%, foi
tudo diferente. No outro parto, estive sozinha a maior parte do tempo”
(P60).
O bom desenvolvimento do trabalho de parto está intimamente
relacionado ao bem estar físico e emocional da mulher, para isso, se faz necessário
o respeito ao direito da mulher a privacidade, segurança e conforto. Nesse sentido, a
organização do ambiente foi um aspecto enfatizado por 8 (7,6%) mulheres.
“Esse parto foi mais rápido. Os profissionais estavam presentes
acalmando, tinha quarto individual. No outro parto, o fato de ser quarto
coletivo e ver outras mulheres parindo ao lado me deixava nervosa” (P37).
“Esse eu gostei porque tinha uma sala reservada para a gente, podia ter
acompanhante, os profissionais eram atenciosos” (P40).
Ao comparar o parto atual com o(s) anterior (es), 9 (8,7%) enfatizaram ter
havido uma redução na freqüência e intensidade das contrações e 4 (3,8%)
relataram uma diminuição do tempo de trabalho de parto.
“Eu achei melhor este parto, foi mais rápido, a pessoa deu mais força”
(P14).
“No outro eu tive contrações mais fortes e mais freqüentes. Neste eu tive
menos contrações” (P24).
Bruggemann et al (2005) discorrem que as variáveis duração do trabalho
de parto e uso de analgesia/medicamentos para alívio da dor foram avaliadas em
oito ensaios clínicos. Em três deles, ambas as variáveis apresentaram redução no
grupo de intervenção, isto é, nas parturientes que receberam suporte, tendo sido a
redução na duração do trabalho de parto mais freqüente nos estudos em que o
suporte foi provido por mulheres leigas sem treinamento e por doulas.
O parto é um evento único e, a cada vivencia, traz características clínicas
próprias que contribuem ou não para sua facilitação. Das puérperas, 14 (13,3%)
consideraram melhor o parto anterior, tendo entre as justificativas: menor período de
tempo em que este ocorreu, contrações dolorosas menos intensas e melhor
assistência profissional.
“O primeiro foi melhor, pois foi mais rápido” (7).
“Embora tivesse sozinha nos outros, senti menos dor” (39).
Quanto à pretensão de ser acompanhada novamente em um próximo
parto, 104 (99,0%) mulheres responderam sim, indo ao encontro do alto grau de
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importância que a maior parte destas mulheres atribuíra a presença do
acompanhante durante o parto.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inserção de um acompanhante no processo de parto foi uma prática
aprovada pela maioria das mulheres, tendo 104 (99,0%) destas considerado
importante ou muito importante a participação deste personagem durante o parto.
Assim, podemos concluir que a experiência de ser acompanhada durante o parto foi
considerada positiva pela quase totalidade das puérperas, pois somente uma
puérpera afirmou não ter o desejo de ser acompanhada novamente. Também ficou
evidenciado a humanização dos profissionais da instituição em estudo na
assistência ao parto, como a contribuição positiva de um ambiente acolhedor e
organizado para uma melhor vivência deste período.
Logo, através desse estudo ficou evidenciado o grande benefício que o
acompanhante traz à mulher, indo desde o suporte físico ao emocional. Assim,
percebemos o quanto é importante assegurar esse direito à mulher para que ela
possa desfrutar de um parto saudável, provido de apoio, segurança e conforto; e
acima de tudo, que o ambiente hospitalar seja adequado para promover a inserção
do acompanhante e principalmente, que seja oferecido à mulher condições para o
parto humanizado.
6 REFERÊNCIAS
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