Uma contribuiç˜ao da Fenomenologia para a Arquitetura da

Transcrição

Uma contribuiç˜ao da Fenomenologia para a Arquitetura da
Hebbertt de Farias Soares
Uma contribuição da Fenomenologia para a
Arquitetura da Informação
Brası́lia, DF
Dezembro de 2004
Hebbertt de Farias Soares
Uma contribuição da Fenomenologia para a
Arquitetura da Informação
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Biblioteconomia.
Orientador:
Prof. Dr. Mamede Lima-Marques
Departamento de Ciência da Informação e Documentação
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da
Informação e Documentação
Universidade de Brası́lia
Brası́lia, DF
Dezembro de 2004
i
Reitor da Universidade de Brası́lia
Prof. Dr. Lauro Morhy
Diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da
Informação e Documentação
Prof. Dr. César Augusto Tibúrcio Silva
Chefe do Departamento de Ciência da Informação e Documentação
Profa. Dra. Sofia Galvão Baptista
Coordenador do Bacharelado em Biblioteconomia
Prof. Dr. Tarcisio Zandonade
Soares, Hebbertt de Farias, 1985 Uma contribuição da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação / Hebbertt de Farias Soares. – Brası́lia : CID/UnB, 2004.
x, 58 f.
Orientador : Prof. Dr. Mamede Lima-Marques.
Bacharelado (Monografia) - Universidade de Brası́lia / Faculdade
de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação
e Documentação / Departamento de Ciência da Informação e Documentação / Bacharelado em Biblioteconomia, 2004.
1. Arquitetura da Informação. 2. Fenomenologia. 3. Filosofia da
Ciência. I. Tı́tulo. II. Soares, Hebbertt de Farias. III. Lima-Marques,
Mamede.
ii
Referência bibliográfica
SOARES, Hebbertt de Farias. Uma contribuição da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação. 2004. 59 f. Monografia (Bacharelado em Biblioteconomia) –
Departamento de Ciência da Informação e Documentação, Faculdade de Economia,
Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brası́lia, Brası́lia, 2004.
Cessão de direitos
Nome do autor: Hebbertt de Farias Soares
Tı́tulo da monografia: Uma contribuição da Fenomenologia para a Arquitetura da
Informação
Grau: Bacharel
Ano: 2003
É concedida à Universidade de Brası́lia a permissão para reproduzir cópias desta monografia para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos
e cientı́ficos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta
dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.
Hebbertt de Farias Soares
SRIA QI 7 bloco E apt 207
CEP: 71020-056 – Guará/DF – Brasil
E-mail: [email protected]
iii
“O ponto de vista faz o objeto.”
Ferdinand de Saussure
“Da sag’n s’ dass ma’ so was net mach’n kann;
aber wann amal ein’s g’macht hat, dann wer’n s’ schon anders red’n!”
Adalbert Pösch.
iv
Agradecimentos
Certa vez o poeta português Fernando Pessoa declamou: “O valor das coisas não
está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem
momentos inesquecı́veis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. As poucas palavras
abaixo são para agradecer a todas pessoas que me auxiliaram para que eu concretizasse
esse projeto. Muito obrigado a todos!
Agradeço especialmente ao meu orientador, conselheiro, professor e sobretudo amigo
Professor Doutor Mamede Lima-Marques por sua preocupação com esse aluno rebelde
e afoito, sua paciência nas longas orientações durante esses últimos dois anos em que
trabalhamos juntos.
Não posso deixar de agradecer a atenção dispensada por todos os meus colegas do
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brası́lia, especialmente Flávia Macedo, João Luiz Pereira Marciano, Simone Suganuma, Roberta Pontes,
Rinalda Riecken, Edgar Oliveira e todos os outros cujas opiniões foram fundamentais.
Gostaria de agradecer ilimitadamente à Professora Doutora Sely Maria de Souza Costa
e a Professora Doutora Elmira Simeão, minhas “mães”, ao Professor Doutor Antonio Miranda os quais durante esses três anos de graduação me aconselharam e apoiaram.
Agradeço também aos professores Antonio Miranda e Tarcisio Zandonade por terem
aceitado o convite para serem membros de minha banca examinadora.
Agradeço aos colegas do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes
da Universidade de Brası́lia (CEFTRU/UnB), especialmente Professora Doutora Yaeko
Yamashita, George Lavor, Daniel Aldigueri, Diogenes Correia, Pastor Gonzalez, Carla
Sampaio, Alessandra Brandão, Érika Kneib, Thadeu Magalhães, Marcelo Queiroz, Luiz
Gustavo Pinheiro, Daliana Bandeira e Ednardo Ferreira por me ensinarem o significado da
Agradecimentos
v
amizade e do trabalho em grupo. Muito obrigado por “terem me ensinado a ser gente”.
Não existem palavras para descrever o quanto eu lhes sou grato.
Many, many, many special thanks to Ms Josélia Oliveira from International Labour
Office at Brasilia.
Agradeço aos meus colegas do bacharelado em biblioteconomia pela convivência nos
últimos anos.
Agradeço a enorme paciência de Geanny Pereira, minha amada.
E por último, mas não menos importante, sou eternamente grato aos meus pais, Francisca e Antônio, por terem me tirado de casa afim de que eu estudasse; e aos meus irmãos
Humberto, Hudson, Gleide e Hélio por todo o apoio nesse anos de convivência conjunta,
desde que saı́ da casa dos meus pais.
Agradeço a todas as outras pessoas que conviveram, estudaram e trabalharam comigo,
sem dúvida alguma todas foram e são importantes para mim.
Deixo registrado que todas as limitações desse trabalho, assim como seus erros e
equı́vocos, são de minha inteira responsabilidade.
vi
Resumo
Em face da babel terminológica na qual se encontra a área de Arquitetura da Informação (AI) são analisadas as possibilidades de contribuição que a Fenomenologia pode
oferecer para os fundamentos epistemológicos dessa disciplina. Baseado na definição de
Ciência da Informação proposta por Capurro, busca caracterizar a Arquitetura da Informação como uma subdisciplina do escopo da Ciência da Informação voltada para a
estruturação de sistemas de informação. Em seguida, analisa os conceitos de Arquitetura
da Informação existentes atualmente, assim como revisa a Fenomenologia, em especial a
teoria fenomenológica do conhecimento compendiada por Hessen. É proposto que a Fenomenologia pode contribuir na definição do objeto de estudo para a AI, realiza a distinção e
a localização das disciplinas envolvidas no estudo do Conhecimento, apresenta um entendimento do papel do sujeito na estruturação de sistemas de informação.
Palavras chaves: Fenomenologia, Arquitetura da Informação, Filosofia da Ciência
vii
Abstract
Due to the divergence on Information Architecture (IA) definition, it is analised how
Phenomenology can improve the IA epistemological foundations. Based on Capurro’s work
in Information Science theory, it is tried to characterise the IA as discipline from Information Science scope which focuses on information system structural design. Following
it is analised the practiced definitions of IA, as well as the definition for Phenomenology
focusing on Hessen’s interpretation for Phenomenology’s knowledge theory. It is discussed
on this work that the Phenomenology can improve the field of IA building the definition
of its object, the localization of the disciplines involved on knowledge question and the
understanding of human being roles in Information System design.
Key words: Phenomenology, Information Architecture, Philosophy of science
viii
Sumário
1 Introdução
p. 1
2 Objetivos
p. 2
2.1
Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 2
2.2
Objetivos especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 2
3 Justificativa
p. 3
4 Metodologia
p. 6
4.1
Metodologia de meta-modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 7
4.2
Procedimentos metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 8
p. 9
5 Estado da arte
5.1
Considerações iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.2
Estado da arte
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 9
p. 10
p. 17
6 Base teórica
6.1
Ciência da Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 17
6.2
Arquitetura da informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 19
6.2.1
Definições voltadas para a área de editoração . . . . . . . . . . . .
p. 20
6.2.2
Definições voltadas para a área de arquitetura e urbanismo . . . .
p. 21
ix
Sumário
6.2.3
Definições voltadas para a área de negócios e de tecnologia . . . .
p. 21
6.2.4
Definições voltadas para a área de gestão da informação . . . . . .
p. 23
6.2.5
Definições voltadas para a área de Ciência da Informação . . . . .
p. 23
6.2.6
Definições gerais que visam englobar várias áreas . . . . . . . . .
p. 25
7 Arquitetura da Informação no contexto da Ciência da Informação
7.1
7.2
Arquitetura da Informação como uma subdisciplina da Ciência da Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 29
Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação . . . . . . .
p. 31
7.2.1
Nı́vel Epistemológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 33
7.2.2
Nı́vel de tratamento
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 33
7.2.2.1
Sub-nı́vel de representação . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 34
7.2.2.2
Sub-nı́vel de armazenamento . . . . . . . . . . . . . . .
p. 34
7.2.2.3
Sub-nı́vel de organização . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 34
7.2.3
Nı́vel de análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 35
7.2.4
Nı́vel de recuperação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 35
7.2.5
Nı́vel de aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 36
p. 37
8 Base filosófica
8.1
p. 27
Fenomenologia
8.1.1
8.1.2
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 37
Edmund Husserl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 38
8.1.1.1
Redução eidética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 38
8.1.1.2
Redução fenomenológica . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 38
8.1.1.3
A noção de intencionalidade . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 39
Maurice Merleau-Ponty . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 39
x
Sumário
8.1.2.1
8.1.3
8.2
A fenomenologia da percepção . . . . . . . . . . . . . . .
p. 39
Martin Heidegger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 40
8.1.3.1
A retomada da intencionalidade . . . . . . . . . . . . . .
p. 40
8.1.3.2
A ontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 40
Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
p. 41
8.2.1
p. 43
Hermenêutica da teoria do conhecimento de Hessen . . . . . . . .
9 Contribuições da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação
p. 48
10 Trabalhos Futuros
p. 52
Referências
p. 53
1
1
Introdução
Este trabalho tenta argumentar que a Arquitetura da Informação pode ser considerada
uma disciplina inclusa no escopo da Ciência da Informação e que a Fenomenologia, em
especial a sua teoria do conhecimento, compendiada por Hessen (1973), pode servir de
base para uma epistemologia da Arquitetura da Informação.
No levantamento realizado para a execução desse estudo não foi encontrado nenhuma
definição unanimamente aceita acerca do que seja a Arquitetura da Informação. Diversos
grupos, desde pesquisadores da área de Ciência da Informação até arquitetos e urbanistas,
clamam para si a definição dessa disciplina. As definições existentes são, em sua maioria, voltadas para elementos da prática de uma parte da arquitetura da informação em
detrimento dos aspectos epistemológicos e cientı́ficos da disciplina1 .
Nessas definições observa-se uma verdadeira verborragia desmedida, rementendo aquilo
que o filósofo alemão Karl Popper denominou essencialismo, isto é, discussões acerca das
palavras e seus significados, desprovida de considerações sobre o fenômeno.
Baseado na exortação anti-essencialista “the relations between a theory and the words
used in its formulation is in several ways analogous to that between written words and the
letters used in writting them down” de Popper,2 propõe-se rever o conceitos de Arquitetura
da Informação em favor de uma construção fundamentada epistemologicamente na Ciência
da Informação fenomenológica-hermenêutica proposta por Capurro (1985) e na Teoria do
Conhecimento a partir da perspectiva da Fenomenologia.
1
Miranda (2003b) discute questão similar no contexto da biblioteconomia.
A primeira versão era “Never let yourself be goaded into taking seriously problems about words and
their meaning. What must be taking seriously are questions about facts: theories and hypotheses, the
problems they solve and the problems they raise” que posteriormente foi revista.
2
2
2
Objetivos
2.1
Objetivo geral
Caracterizar a Teoria do Conhecimento, fundamentada na fenomenologia, como base
epistemológica para a Arquitetura da Informação, disciplina da Ciência da Informação.
2.2
Objetivos especı́ficos
• Realizar revisão bibliográfica sobre o conceito de Arquitetura da Informação;
• Realizar revisão bibliográfica sobre o conceito de Teoria do Conhecimento;
• Realizar revisão bibliográfica sobre o conceito de Fenomenologia;
• Caracterizar a Arquitetura da Informação como disciplina da Ciência da Informação;
• Identificar modelos que utilizaram a Fenomenologia como base para uma teoria do
conhecimento;
• Caracterizar uma teoria do conhecimento a partir da Fenomenologia;
• Propor uma fundamentação epistemológica da Arquitetura da Informação baseada
na Fenomenologia.
3
3
Justificativa
A área de Arquitetura da Informação (AI) transformou-se em uma algazarra terminológica desprovida de fundamentos epistemológicos, cientı́ficos ou metodológicos.
As discussões para a definição dessa área do conhecimento são, em sua maioria, baseadas na prática, seguidas de uma indução ao status de definição ou mesmo de teoria.
Figura 1: Diagrama os homens cegos e o elefante de Rosenfeld e McMullin (2001b)
Considerando esses problemas, Rosenfeld e McMullin (2001a) propõem um diagrama
3 Justificativa
4
para representação gráfica do conceito de AI.
De fato, a proposta de Rosenfeld e McMullin (2001b) é criticar a falta de consenso na
área através da paródia com a fábula indiana de cegos que tateiam um elefante. Para ele,
seja em gestão do conhecimento, marketing de relacionamento, ou interaction design todos
estão tentando sintetizar campos, ferramentas, técnicas e experiências existentes em algo
novo, usando sua própria metodologia e perspectiva, para projetar sistemas de informação
de alta complexidade.
O que se observa na literatura é um emaranhado de definições, sendo que a maior parte
converge o entendimento da AI como uma prática voltada para o arranjo de interfaces
web. Paralelamente, verifica-se a ocorrência de manifestações das mais variadas origens
clamando por uma definição mais ampla e contextualizada.
Dillon (2002) afirma que é necessário definir aquilo que Morville (2000) chamou de big
Information Architecture, onde mostra que espaços de informação necessitam de projetos
de múltiplos nı́veis e que a experiência de vida do usuário naquele espaço é uma orientação
direta advinda da AI.
Haverty (2002) afirma que Arquitetura da Informação pode ser considerada um campo,
mas não ainda uma disciplina, devido à falta de uma teoria capaz de compreender a
interação entre os elementos que a compõem e nortear o planejamento de sistemas de
informação. Por este motivo, os sistemas acabam sendo projetados de forma indutiva, por
demanda, com soluções caso a caso. A autora alerta para a necessidade de uma teoria com
abordagem sistêmica para compreensão do objeto de estudo, que possa fornecer a base para
o planejamento de sistema de informação de um modo geral, num processo dedutivo de
solução de problemas. Segundo a autora, quando consolidar seu corpo teórico, AI passará
de campo para disciplina.
Latham (2002) afirma que é preciso estabelecer uma base teórica que caracterize AI,
e ao mesmo tempo um currı́culo acadêmico flexı́vel para abarcar matérias mais técnicas,
dependentes dos avanços tecnológicos, que são constantes.
Robins (2002) mostra que não existe um consenso nas propostas de cursos de formação
em Arquitetura da Informação, nas várias escolas especializadas dos EUA, tão-pouco, não
3 Justificativa
5
existe consenso em seu significado. AI ainda se encontra em um estado onde nem mesmo
o mercado possui uma definição, embora já absorva profissionais com especializações em
campos correlatos.
Se as discussões acerca do conceito de AI ainda são incipientes, aquelas acerca dos
fundamentos epistemológicos são inexistentes1 . Ao mesmo tempo verifica-se que a AI está
se consolidando como prática profissional2 e acadêmica3 .
Van Gigch e Pipino (1986) argumentam que, no estudo de um problema, o entendimento do seus pressupostos epistemológicos é essencial, uma vez que o mesmo é fundamento
para a criação de métodos e modelos cientı́ficos para o estudo.
Os autores partem do princı́pio de que quando uma área do conhecimento não busca
renovar ou auto-examinar as suas raı́zes epistemológicas, ela está condenada a se repetir,
caindo na incapacidade de renovar-se ou de sair dos modos e procedimentos estabelecidos.
Nesse contexto, eles propõem a Metodologia de meta-modelagem4 .
Considerando-se que a Arquitetura da Informação ainda está em um estágio embrionário, az-se necessário promover pesquisas no nı́vel epistemológico de modo a criar
elementos para o desenvolvimento de uma base cientı́fica da AI.
1
Não foi encontrada nenhuma literatura acerca do tema epistemologia da arquitetura da informação.
Recentemente o parlamento britânico anunciou a abertura de vagas para arquitetos da informação
3
Em 2004, o Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brası́lia criou
a linha de pesquisa em arquitetura da informação
4
Miranda (2003a) propõe “o conceito de metametodologia é derivado justamente da constatação de
que as metodologias que servem à uma área em particular, também podem, quando adaptadas a esse fim,
servir a outras disciplinas cientı́ficas, superando suas orientações e aplicações originais.”
2
6
4
Metodologia
O presente trabalho tem como objeto os fundamentos epistemológicos para a Arquitetura da Informação, como subdisciplina da Ciência da Informação. Não são focos dessa
discussão problemas de aplicações da Arquitetura da Informação, sendo esta, portanto, de
caráter abstrato e filosófico.
A construção desse trabalho está fundamentada em duas teses: a) a de que são necessários elementos epistemológicos para consolidação de uma disciplina, conforme proposto por Van Gigch e Pipino (1986); b) a Fenomenologia suporta modelos que permitem
trabalhar o complexo sem perder as suas essências.
Defende-se aqui que a Arquitetura da Informação está diretamente relacionada ao
desenho estrutural de sistemas de informação, e preocupa-se tanto com os aspectos de
forma quanto com os de conteúdo.
Observa-se que a área de sistemas de informação é caracterizada por um tecnicismo
dominante. Por tecnicismo (teckhne) entende-se a predominância de soluções técnicas,
sobre os aspectos humanos. São comuns os casos de aquisição de uma solução tecnológica
para criar um problema. Esse modelo pode ser visto como fruto de uma separação entre a
forma e o conteúdo, o corpo e alma, imposta por um paradigma positivista-cartesiano.
Todavia, a construção de sistemas de informação efetivos requer um equilı́brio entre
os aspectos humanos e tecnológicos, sem perder nenhum dos aspectos. A Fenomenologia
favorece esse ponto por criar, através da correlação, um equilı́brio.
Um segundo ponto para escolha da Fenomenologia foi o fato de ela possuir uma teoria
do conhecimento consolidada e com alto potencial de aplicabilidade no setor de tecnologia,
por exemplo, sua abordagem de objetos fenômenicos é isomórfica à abordagem de conceitos
4.1 Metodologia de meta-modelagem
7
de objetos utilizados na análise de informação em engenharia de software.
O terceiro fator foi o fato de a Fenomenologia ter se destacado como um dos grandes
movimentos filósoficos do século XX, tendo influenciando quase todas as áreas do pensamento humano.
Neste trabalho adotaremos a Fenomenologia como solidificante do estudo para uma
epistemologia da Arquitetura da Informação.
4.1
Metodologia de meta-modelagem
A Metodologia de meta modelagem consiste em diferentes nı́veis indagação. O primeiro
e mais baixo nı́vel é chamado de nı́vel de implementação, o nı́vel da prática ou o nı́vel de
intervenção. É o nı́vel no qual as pessoas - gerentes, cidadãos, clientes, etc. - estão
envolvidas diretamente nos problemas reais (real life problems). Neste nı́vel as teorias,
modelos, técnicas e tecnologias são empregados pelas organizações e pelas sociedades.
O segundo nı́vel consiste das atividades nas quais são criados modelos e teorias para
descrever, explicar, predizer ou modelar os problemas reais. Este nı́vel é chamado de nı́vel
da ciência, nı́vel do objeto ou nı́vel da modelagem.
O terceiro nı́vel “engloba as atividades que buscam definir a origem do conhecimento
da disciplina, justificar os seus métodos de raciocı́nio e enunciar a sua metodologia”(VAN
GIGCH; PIPINO, 1986). Esse nı́vel é chamado de nı́vel epistemológico ou nı́vel de meta-
modelagem (ERIKSSON, 1998).
A figura 2 ilustra a hierarquia do sistema de questionamentos e as relações entre cada
nı́vel, as entradas e as saı́das, assim como concebido na Metodologia de Meta-Modelagem.
O sistema funciona da seguinte maneira: o nı́vel epistemológico recebe uma entrada dos
nı́veis da prática e da ciência, assim como da Filosofia da Ciência; o nı́vel da ciência recebe
o paradigma1 proposto pelo nı́vel epistemológico e as evidências do nı́vel da prática. O
nı́vel da prática por sua vez emprega os modelos e teorias produzidos pelo nı́vel da ciência.
1
o termo paradigma é usado segundo a definição proposta por Kuhn (1970)
4.2 Procedimentos metodológicos
8
Figura 2: Ilustração da hierarquia do sistema de questionamentos e as relações entre cada
nı́vel, como concebido na metodologia de meta-modelagem. Adapatada com modificações
de Van Gigch e Pipino (apud ERIKSSON, 1998).
4.2
Procedimentos metodológicos
A fim de alcançar o objetivo pretendido, serão executadas as seguintes etapas:
1. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Arquitetura da Informação;
2. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Teoria do Conhecimento;
3. Realizar levantamento da literatura acerca do conceito de Fenomenologia;
4. Realizar levantamento do estado da arte sobre modelos que utilizam a Fenomenologia
como base para uma teoria do conhecimento;
5. Análisar dos conceitos da base teórica;
6. Caracterizar uma teoria do conhecimento a partir da Fenomenologia;
7. Desenvolver os argumentos para a possibilidade da Fenomenologia fundamentar uma
epistemologia da Arquitetura da Informação.
9
5
Estado da arte
5.1
Considerações iniciais
O objetivo do estado da arte é apresentar trabalhos publicados na mesma linha do
que está sendo proposto. Para a realização do presente, foi feita uma busca exaustiva nas
seguintes bases de dados:
• Google – buscador que conta com mais de oito bilhões de páginas indexadas;
• Science Direct – base de dados do grupo Elsevier que possui aproximadamente mais
sessenta de milhões de artigos indexados;
• The ACM Digital Library – biblioteca eletrônica publicada Association for Computing Machinery que conta com um acervo de aproximadamente um milhão de
entradas;
• ISI Web of Knowledge – base de dados publicada pelo grupo Thomson;
• Scientific Literature Digital Library – biblioteca eletrônica mantida pela National
Science Foundation e que possui aproximadamente setecentos mil itens.
Infrutiferamente, não foi encontrado nenhum1 trabalho sobre a epistemologia da arquitetura da informação.
O trabalho que mais se aproxima do tema desenvolvido é o de Macedo (2004), que
ainda está em fase de preparação.Neste trabalho a autora busca conceituar a Arquitetura
da Informação como uma subdisciplina do escopo da Ciência da Informação.
1
As buscas foram realizadas até o dia 25/11/2004.
5.2 Estado da arte
10
Os trabalhos encontrados com maior afinidade com o tema proposto foram na área de
epistemologia aplicada a sistemas de informação. Considerando-se que na década de 80
foram publicadas várias pesquisas na área de sistemas de informação, optou-se por buscar
trabalhos publicados nos últimos vinte anos, compreendendo o perı́odo de 1985 a 2005.
5.2
Estado da arte
Já em 1989, Hirschheim e Klein (1989) analisaram a importância dos paradigmas no
desenvolvimento de sistemas de informação. De acordo com os autores o desenvolvimento
dos sistemas computadorizados necessariamente envolvem crenças (explicı́tas e implı́citas).
Tais crenças estão relacionadas a maneira como entendemos e modelamos a realidade
para ser representada em um sistema de informação. Neste processo, são feitas escolhas a
favor de determinados aspectos em detrimento de outros.
Os autores argumentam que essas escolhas têm importantes conseqüências sociais, uma
vez que o sistema de informação virá a ser usado por todo um grupo. No estudo, observouse que as escolhas realizadas pelos desenvolvedores de software estão agrupadas em quatro
paradigmas predominantes, ilustrados na figura 3.
Figura 3: Paradigmas do desenvolvimento de sistemas de informação Burrell e Morgan
(apud HIRSCHHEIM; KLEIN, 1989)
Burrell e Morgan (apud HIRSCHHEIM; KLEIN, 1989) analisam as crenças sobre o
conhecimento (epistemológicas) e sobre o mundo (ontológicas), ambas variando em duas
5.2 Estado da arte
11
dimensões: subjetivismo-objetivismo e ordem-conflito.
A partir desses extremos é traçado um plano cartesiano para avaliação dos paradigmas.
No extremo objetivista, em essência, pretende-se aplicar os métodos das ciências naturais
nas ciências sociais, contrastando com o extremo subjetivista que nega todos os métodos das
ciências naturais e estuda o fenômenos sociais a partir do ponto de vista das experiências
individuais dos sujeitos.
No outro eixo, a ordem ou integracionismo enxerga o mundo social como sendo caracterizado pela ordem, estabilidade, integração e consenso ao passo que o conflito enxerga o
mundo social como sendo caracterizado pela desordem, instabilidade e desintegração. Por
meio da relação entre os quatro extremos é possı́vel encontrar os paradigmas subjacentes.
Winograd e Flores (1990)2 propõem que a área de inteligência artificial é dominada por
um modelo de análise construido a partir do pensamento cartesiano, o qual eles denominam
tradição racionalista.
Para os autores, esse modelo deve ser substituı́do por uma abordagem baseada na
hermenêutica, de forma a associar o entendimento dos processos biológicos e psicológicos
às máquinas. A grande contribuição dessa obra à área de epistemologia de sistemas de
informação é a “insurgência” contra o paradigma predominante na área de computação,
em especial da área de inteligência artificial.
Eriksson (1998) analisa metodologias para estudo de sistemas voltados para a resolução
de problemas dentro da perspectiva da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Utilizando
a Metodologia de Meta-modelagem de Van Gigch (1991) ele argumenta que os modelos
epistemológicos são necessários para o entendimento dos modelos e teorias de uma dada
área do conhecimento, e que sem aqueles não ocorre a evolução do pensamento cientı́fico,
pois mantém-se os mesmos paradigmas e métodos da pesquisa.
Gregg, Kulkarni e Vinzé (2001) se propõem a analisar como os modelos filosóficos das
ciências sociais poderiam ser aplicados à pesquisa em engenharia de software. Os autores
partem da premissa popperiana de que a qualidade de uma pesquisa não é baseada no seu
método empı́rico, mas sim na natureza do problema estudado. Eles concluem que, dado
2
Esta obra é considerada um das dez mais importantes obras na área de computação, segundo a
Association of Computing Machinery.
5.2 Estado da arte
12
o caráter de desenvolvimento3 da pesquisa em engenharia de software, faz-se mister um
novo paradigma para a área, uma vez que os paradigmas da ciências sociais não atendem
às suas demandas.
Turk (2001) considera que modelos conceituais em arquitetura e engenharia civil são
em essência estruturas de dados que podem ser utilizadas para descrever todas as etapas
do processo de construção, do projeto à demolição. Entretanto, os modelos conceituais
têm recebido pouca atenção na área.
Em seu trabalho o autor descontrói as abordagens tradicionais de modelagem usando a
fenomenologia e a hermenêutica como base filosófica. Ele conclui que um modelo conceitual
é incapaz de abarcar toda a realidade, ele é limitado e considera apenas um pedaço da
realidade, sendo possı́vel dessa maneira que existam diversos modelos corretos e diferentes
de uma mesma realidade.
Lee e Lacey (2003) estudam a influência da epistemologia no processo de desenvolvimento de agentes inteligentes. No estudo realizado são construı́dos dois agentes baseados em epistemologias opostas (o holismo e o atomismo). Colocados diante dos mesmos
fenômenos os agentes obtiveram resultados distintos. Em vistas das observações eles concluem que a escolha de uma epistemologia desempenha grande influência no desenvolvimento de agentes.
Fenema e Qureshi (2004) estudam a questão dos ambientes de trabalho policontextuais,
a partir da ótica da Fenomenologia. As novas tecnologias aportam uma série de questões
para a maneira como as pessoas trabalham. Os autores optaram por utilizar a fenomenologia, como ponto de partida para um método de análise, por causa da sua simplicidade, que
permite ao pesquisador trabalhar com a essência de um fenômeno observável, mas pouco
compreendido.
Na literatura pesquisada o autor que mais se aproxima do foco deste trabalho é Mingers
(2001b, 2001a, 2003, 2004b, 2004a) com seus trabalhos na área de epistemologia de sistemas
de informação.
Na obra Embodying information systems: the contribution of phenomenology, Mingers
3
developmental orientation
5.2 Estado da arte
13
(2001b) analisa a possibilidade da incorporação (embodiment) em sistemas de informação, a
partir de considerações sobre a função que o corpo exerce na cognição humana, e explorando
suas conseqüências para os sistemas de informação e a inteligência artificial. Baseado
no trabalho de Zuboff (1988), Mingers afirma que a influência da tradição racionalista a
cognição e a mente foram separadas do corpo e da ação, sendo que os sistemas de informação
adotaram essa abordagem e a expandiu. A reação ao modelo racionalista surge, no século
XX, dentro de alguns movimentos filosóficos, como a fenomenologia.
A partir do trabalhos de Husserl, Heidegger e Merleau-Ponty, Mingers (2001b) demonstra que é possı́vel sair do estado de pensamento puro de Descartes através do retorno ao
mundo da vida, o Lebenswelt, promovendo assim um retorno às essências, como previsto no
projeto fenomenológico. Dentro desse quadro, o corpo desempenha um papel importante,
sendo o elo de interação para o indivı́duo (e a sociedade), a ação e a cognição e conseqüentemente adquire um papel central no desenvolvimento de sistemas de informação
efetivos.
Na obra Real-izing information systems: critical realism as an underpinning philosophy
for information systems, Mingers (2004b) parte da constatação de que a pesquisa e o
desenvolvimento da área de Sistemas de Informação, sobretudo nos Estados Unidos da
América, é fundamentado por uma filosofia positivista (empiricista). Todavia durante a
década de 1980 e 1990 surgiram novas abordagens não positivistas como a etnografia,
hermenêutica, etnometodologia, fenomenologia e o realismo, dentre outras.
As filosofias realistas assumem que determinados elementos existem no mundo independentemente do sujeito mas que é possı́vel obter conhecimento delas, contrariando assim
as abordagens empı́ricas segundo as quais é possı́vel obter o conhecimento apenas a partir
do observável.
Para o autor a aplicação do realismo crı́tico é importante porque:
1. permite usar a argumentação desenvolvida pela filosofia realista;
2. permite unir as ciências naturais com as ciências sociais, permitindo uma melhor
fundamentação da área de sistemas de informação;
3. permite obter soluções satisfatórias para os problemas da área de Sistemas de In-
5.2 Estado da arte
14
formação como uma disciplina aplicada.
Klein (2004) discorda de Mingers (2004b) e argumenta que:
1. o realismo crı́tico é um tipo de filosofia da ciência denominado pós-positivista, isto
é, nada mais é do que uma ontologia e uma epistemologia positiva empı́rica que
considera as crı́ticas do empiricismo ingênuo do século XX, e que contraria o princı́pio
da falsificabilidade de Popper;
2. o realismo crı́tico não possui uma teoria do conhecimento explı́cita, que possa definir
o conhecimento ou critérios de verdade;
3. o realismo crı́tico possui um caráter impreciso em relação as normas e valores sociais;
4. o realismo crı́tico nada mais é do que uma sı́ntese das discussões de Kuhn (1970),
Lakatos (1970) e Lakatos e Musgrave (1970), não apresentando nenhuma inovação
do ponto de vista filosófico;
5. o realismo crı́tico traz uma versão limitada da noção de falsificabilidade e do ideal de
uma ciência unificada.
Outra crı́tica ao trabalho de Mingers (2004b) é feita por Monod (2004) que apresenta
os seguintes argumentos:
1. a afirmação de que o fenômeno é independente de sua concepção pelo sujeito é uma
idéia ultrapassada formulada pela fı́sica de Newton e Galileu, tendo sido superada
pelo princı́pio da incerteza de Heisenberg (1962), pelo princı́pio da complementariedade de Bohr (1963) e pela teoria da relatividade de Einstein (1990);
2. conceito de causalidade apresentado como central em Mingers (2004b) também é
rejeitado a partir da fı́sica contemporânea e das “‘condições de possibilidade” de
Kant (1974);
3. a respeito da separação entre as ciências sociais e naturais e a busca de uma “metodologia universal” é refutada a partir da distinção metodológica proposta por Kant
(1974), em Kritik der reinem Vernunft visando evitar casos de antinomia.
5.2 Estado da arte
15
Mingers (2004a) responde as crı́ticas de Monod (2004) da seguinte maneira:
1. quanto à crı́tica da separação entre o mundo e o sujeito, Mingers (2004a) argumenta
que a proposição de Monod (2004) trata-se de uma falácia epistêmica, inerente às
filosofias idealistas, derivada de uma incapacidade de diferenciar questões ontológicas
de questões epistemológicas;
Não existe contradição no argumento de que existe um mundo a priori transcendente ao sujeito (argumento ontológico) e ao mesmo tempo reconhecer que o nosso
conhecimento ou experiência desse mundo é moldado pelas experiências cognitivas
do sujeito (argumento epistemológico);
2. quanto a crı́tica da antinomia inerente ao realismo crı́tico, Mingers (2004a) afirma que
essa corrente de pensamento não “junta” outras vertentes, mas sim tenta incorporar
as noções que ela considera adequada.
Em relação as crı́ticas de Klein (2004), Mingers (2004a) afirma:
1. quanto à crı́tica que Klein (2004) faz à ontologia do realismo crı́tico, Mingers (2004a)
responde que o axioma desse modo de pensar está no argumento de que existe uma
separação entre o sujeito e o objeto aliada a um mecanismo de causalidade;
É importante salientar que a causalidade aqui é entendida diferentemente da noção
linear efeito-causa do pensamento positivista, mas sim o resultado de uma complexa
interação (interplay) entre múltiplas e estratificadas estruturas;
2. quanto à crı́tica que Klein (2004) faz à epistemologia do realismo crı́tico, Mingers
(2004a) responde que o conhecimento está intimamente relacionado à verdade. Sendo
possı́vel estabelecer quatro aspectos básicos para a verdade:
• Verdade fiduciária, isto é, que necessita de provas;
• Verdade justificável, isto é, garantida pelas evidências;
• Verdade proposicional, isto é, garantida pela relação entre as proposições e os
fatos;
5.2 Estado da arte
16
• Verdade alética, isto é, a causa ou razão real de um fenômeno.
3. quanto à crı́tica que Klein (2004) faz à moral do realismo crı́tico, Mingers (2004a)
responde que de fato esse aspecto não foi desenvolvido nos trabalhos originais, mas
tem potencial para futuros desenvolvimentos.
17
6
Base teórica
Este capı́tulo apresenta as bases teóricas que fundamentam o trabalho. Estão apresentadas na seguinte seqüência: apresentação das definições sobre Ciência da Informação
e definições sobre Arquitetura da Informação.
6.1
Ciência da Informação
A ciência é um produto humano que se encontra condicionado a uma situação histórica e
a um determinado tipo de sociedade. Ela não pode ser infalı́vel, nem pode ter a capacidade
de explicar o todo, tampouco pode ter como missão controlar a vida do homem. Sua missão
é trazer para o homem um conhecimento da realidade de modo que permita transformá-la
e satisfazer as suas necessidades (PAREJA; DAVILLA, 1984).
A Ciência da Informação (CI) é uma área do conhecimento que inicia o seu processo
de consolidação no perı́odo pós-guerra, recebendo influências de várias outras disciplinas
já existentes ou em processo de criação, tais como a Ciência Cognitiva, a Biblioteconomia,
a Informática dentre outras (SARACEVIC, 1996; LE COADIC, 1994). Esse agrupamento
inicial foi importante para a definição da CI enquanto área do conhecimento. Todavia, não
implica que o escopo da CI seja limitado àquelas.
A medida que a CI foi amadurecendo esses conceitos foram sendo modificados e incorporando as novas contribuições. Saracevic (1996) considera que a “Ciência da Informação
é um campo dedicado às questões cientı́ficas e à prática profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos,
no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação”.
6.1 Ciência da Informação
18
A definição de Saracevic (1996) evidencia um foco na área de comunicação e transferência da informação, sendo que questões relativas à gestão da informação, por exemplo,
estão implı́citas. Corroborando com Saracevic, Le Coadic (1994) afirma que as “atividades
técnicas são o manancial de onde surgem os conhecimentos cientı́ficos e técnicos que se
transformarão, depois de registrados, em informações cientı́ficas e técnicas (...) A ciência
da informação, as ciências do conhecimento, em geral, são, a esse respeito, excelentes exemplos de interdisciplinas. (...) onde o pesquisador que ganha é aquele que primeiro publica
a informação”.
Essas são apenas algumas definições, entretanto observa-se na literatura uma vasta
gama de autores que propõem definições de Ciência da Informação. A maioria destas do
tipo consuetidário, isto é, definem o “que é” e o “que não é” a CI.
Em face a essa diversidade faz-se mister rever as epistemologias que embasam a Ciência
da Informação.
Seguindo uma orientação Popperiana focada em problemas e não em áreas temáticas1
Capurro (1992) busca definir a CI não pelo que ela é (What is Information Science? ) mas
pela sua função (What is Information Science for? ).
Para Capurro (1985, 1992, 2000) o elemento fundamental da CI não é a informação,
mas sim o homem. Realizando assim uma importante mudança epistemológica. Em sua
obra é abandonada a idéia de informação como um elemento externo à mente humana, e
busca olhar o fenômeno da cognição como condição necessária para a determinação do que
é chamado informação.
Para Capurro (1992) a CI, enquanto disciplina retórico-hermenêutica, deve preocuparse com o estudo da dimensão pragmática-contextual das relações de trocas de informação
e conhecimento, de forma a estabelecer não apenas instrumentos, mas sim ways of being
2
(Wasein).
A mudança na organização dos sistemas de informação requer uma mudança na ciência
da informação.
1
2
Ver a exortação anti-essencialista de Popper.
Winograd e Flores (1990)
6.2 Arquitetura da informação
19
É necessário que a CI esteja aberta às perspectivas culturais e sociais dos processos
hermenêuticos, levando em consideração as diferenças qualitativas que existem entre o contexto e o suporte. Implicando assim na inclusão sine qua non dos processos hermenêuticos
nos processos informacionais.
Outro aspecto importante é que os processos hermenêuticos são essencialmente multi
e interdisciplinares (CAPURRO; HJORLAND, 2003).
6.2
Arquitetura da informação
A Arquitetura da Informação (AI) é um domı́nio ainda nebuloso. Apesar de o termo
já ser usado desde a década de 1960, é após a segunda metade da década de 1990 que ele
se populariza.
O primeiro uso explicı́to do termo arquitetura da informação é feito por Richard S.
Wurman um arquiteto que trabalhava na área de editoração, no inı́cio da década de 1960.
Como arquiteto, ele interessou-se pela relação entre os elementos que compunham a
paisagem urbana e as pessoas que a usavam, especificamente ele se especializou na organização de fontes de informação para urbanistas, arquitetos, engenheiros de transportes e
sobretudo para pessoas que vivem ou visitam na cidade.
Em 1976, como chair da American Institute of Architects National Conference Wurman
escolheu como um dos temas da conferência The Architecture of Information, nascendo
assim a expressão arquitetura da informação.
Todavia, a designação arquitetura da informação passa a ser usada de forma intensiva
a partir da segunda metade década de 1990 com a “explosão” da World Wide Web, a
WWW, que faz surgir a demanda por interfaces mais amigáveis e interativas.
Esse uso iniciado na década de 1960 é feito predominantemente pelas comunidades
de designers e artistas plásticos os quais associam a Arquitetura da Informação somente
à apresentação dos conteúdos na WWW, enfocando aspectos como usabilidade e ergonomia. Apesar de algumas vertentes entenderem a Arquitetura da Informação relacionada
ao urbanismo e a teoria da arquitetura.
6.2 Arquitetura da informação
20
As definições encontradas na literatura adotaram duas estratégias: ou definiram a AI
como especı́fica de um um domı́nio ou buscaram definições genéricas que englobassem
várias áreas do conhecimento
A seguir são apresentadas definições de AI encontradas na literatura, é importante
ressaltar que a proveniência dessas citações são, em sua maioria, de páginas da internet,
uma vez que ainda é pouco o número de trabalhos sobre teoria da arquitetura da informação
publicados em meios cientı́ficos.
6.2.1
Definições voltadas para a área de editoração
Para Wodke (2000) a AI é o estudo da organização de estruturas efetivas de sistema
web, em particular dos relacionamentos entre os elementos internos de uma página assim
como o relacionamento entre as páginas.
Shiple (2003) considera a AI como um campo que envolve a investigação, análise e
a implementação de sı́tios. Esta definição, no contexto da web, inclui a organização,
navegação, representação e mecanismos de busca. O objetivo é fazer com que os usuários
encontrem e gerenciem a informação de forma efetiva.
Hill (2000), influenciado pelos trabalhos de Rosenfeld e Morville, afirma que a AI
envolve o projeto, os rótulos, a navegação e a busca em sistemas de informação visando
ajudar os usuários a localizarem e gerenciar a informação de forma mais eficaz.
A arquitetura da informação é o processo de organização e apresentação dos dados para
o usuário de forma clara, intuitiva e significativa. AI é a base de todos os sites de sucesso.
Todos os outros aspectos do projeto gráfico devem ser feitos a partir da arquitetura de
informação segundo o Addwise smart web architecture (2004).
Esse conjunto de definições aponta para uma Arquitetura da Informação voltada exclusivamente para a editoração de páginas da internet, excluindo a possibilidade de arquitetura
da informação em outros ambientes.
6.2 Arquitetura da informação
6.2.2
21
Definições voltadas para a área de arquitetura e urbanismo
Burke (2002) considera que a AI estabelece um processo de estruturação, organização e
desenho3 de ambientes virtuais interligados, podendo ser utilizados os métodos empregado
no planejamento urbano.
A prática da arquitetura da informação requer a criação de grupos de trabalho interdisciplinares, dentro dos quais o arquiteto da informação trabalharia no papel de um elo
de ligação entre os diversos especialistas.
Para Coward e Salingaros (2004) as cidades podem ser entendidas como sistemas de
arquiteturas4 da informação. Sendo que as cidades efetivas são aquelas onde os sistemas
de arquiteturas respondem às mudanças no ambiente, isto é, as alterações no fluxo da
informação.
6.2.3
Definições voltadas para a área de negócios e de tecnologia
Os arquitetos da informação são profissionais encarregados de disponibilizar a informação e procuram, por intermédio de uma arquitetura adequada de TI, compor um
quadro abrangente e significativo de informações, transformando-a numa ferramenta estratégica para a organização. A criação de uma arquitetura de informação articulada,
contemplando as necessidades de informação dos usuários e os atributos da estrutura da
informação necessária para atendê-los viabilizam o uso da informação pelas diversas partes
envolvidas em todo o processo de gestão, o que envolve, também, o seu bom gerenciamento.
Logo, o modelo de gestão é um subsistema do sistema institucional, sendo influenciado,
além da missão, pelas crenças (convicções) e valores (apreciações), os quais sofrem o impacto da cultura organizacional. Do sistema institucional são emanadas diretrizes gerais
para orientar o processo de gestão. A empresa busca cumprir sua missão e assegurar a continuidade de suas atividades pelo sistema de gestão. O conjunto de princı́pios, conceitos
e normas definidos no modelo de gestão são operacionalizados no sistema de gestão, que
3
No sentido de projetar.
A expressão arquitetura é empregada com o mesmo sentido de arquitetura de computadores, ela não
se refere ao projeto de construções, mas sim à maneira como os componentes de um sistema complexo
interagem
4
6.2 Arquitetura da informação
22
orienta o processo de gestão organizacional, o qual, por sua vez, é suportado pelos sistemas de informações e social, conectados com o sistema fı́sico-operacional da organização,
segundo Beuren (1998).
Bidgood e Jelley (1991) propõem que a AI constitui-se no veı́culo para determinar
as necessidades de informações da organização, mostrando as atividades empreendidas no
negócio, ou parte dele, bem como os dados que essas atividades requerem, como devem ser
agrupadas, seqüenciadas, permitindo à organização planejar o desenvolvimento de sistemas
de informações em bases racionais. Uma arquitetura de informações convencional mapeia
atividades de negócio destinadas a uso por entidades de dados.
Os autores apontam que para produzir uma arquitetura de informações os analistas
devem evitar excesso de detalhes. As entidades e atividades identificadas deve ser relevantes para o nı́vel empresarial, não meramente para o nı́vel departamental. Cada atividade e
entidade identificada devem ser brevemente definidas, de tal forma que os negócios representativos possam validar o modelo e ser utilizados mais tarde pelas equipes de projeto.
Quanto mais detalhada for a análise, mais definição requererá e mais complexa e de difı́cil
manejo se tornará o quadro resultante, sendo menos provável que a arquitetura de TI dê
um retrato claro das necessidades de informações.
MacGee e Prusak (1994) consideram que a criação de uma Arquitetura da Informação
bem definida, elaborada e gerenciada de forma coerente permite que todas as partes envolvidas numa organização falem a mesma lı́ngua e utilizem a informação para tomada
de decisões significativas. Assim, o modelo e as metodologias em que a Arquitetura da
Informação se baseia procuram sistematicamente documentar todas as fontes de dados
importantes numa organização (por exemplo, clientes, produtos, funcionários, etc.) e as
relações entre os dados.
O objetivo é criar mapas abrangentes dos dados organizacionais e, em seguida, construir
sistemas baseados nestes mapas, definindo o espaço de informação da organização em
termos de domı́nios de interesse de informações essenciais e vias denominadas de fluxo de
informação, como também, os limites crı́ticos do espaço de informação da organização.
A Arquitetura da Informação se constitui em uma série de ferramentas que adaptam
os recursos às necessidades da informação. Um projeto bem-implementado estrutura os
6.2 Arquitetura da informação
23
dados em formatos, categorias e relações especı́ficas. A arquitetura, vista desse modo, é
uma abstração, uma representação simplificada da realidade que visa fazer a ponte entre o
comportamento, os processos e as pessoas, com métodos e estrutura. Em uma perspectiva
ecológica, a arquitetura inclui não apenas modelos de engenharia, mas também mapas,
diretórios e padrões. Essas ferramentas podem ser automatizadas, fixadas em documentos
ou podem simplesmente estar na mente de um único especialista de acordo com Davenport
(1998).
6.2.4
Definições voltadas para a área de gestão da informação
Para Evernden e Evernden (2003) a AI é uma disciplina voltada para a descrição de
teorias, princı́pios, guias, padrões, convenções e fatores para gerenciamento da informação
como um recurso.
Enquanto que White (2004) a considera um conjunto de ferramentas e abordagens que
podem ser utilizadas por profissionais de várias áreas para resolver uma vasta gama de
problemas de gestão da informação.
6.2.5
Definições voltadas para a área de Ciência da Informação
Para Lamb (2004) a AI trata-se de uma área emergente da Ciência da Informação
voltada para a identificação, organização e armazenagem da informação para uma razão
em particular.
Ao passo que para Macedo (2004) a “Arquitetura da Informação é a parte do escopo
da ciência da informação que se concentra na estruturação de Sistemas de Informação,
com vistas a promover o acesso à informação, considerando a integração entre contexto,
conteúdos e uso”.
A autora considera ainda que para a qualificação da arquitetura da informação como
disciplina a arquitetura da informação “deve construir seu arcabouço teórico e delimitar
seu campo de atuação, e que este não pode estar atrelado a ambientes informacionais
especı́ficos ou dependente de tecnologias especı́ficas”.
6.2 Arquitetura da informação
24
Figura 4: Componentes da arquitetura de um sistema de informação (LIMA-MARQUES,
2000)
Lima-Marques (2000) no contexto da arquitetura de sistemas de informação propõe um
modelo para estabelecimento de arquiteturas de sistemas. A proposta de Lima-Marques
(2000) define os sistemas de informação a partir de seus modelos: o modelo de captura de
dados, o modelo de informação, o modelo de comunicação e o modelo de operacionalização,
como mostrado na figura 4.
Esses modelos são agregados em função da missão organizacional e considerando os
aspectos de gestão, segurança e processos de negócio.
O modelo de informação da arquitetura de Lima-Marques (2000) é o elemento responsável pela criação de contextos especı́ficos na formação de informações. Ele estabelece
categorias, atribui significado, cria relacionamentos, interpreta e define os modos de integração, organização, estruturação, contextualização da informação.
O Modelo de Captura de Dados da arquitetura de Lima-Marques (2000) é um conjunto
de definições das polı́ticas de aquisição de dados básicos. Sua concepção estabelece as
estratégias de coleta, padrões de qualidade e de confiabilidade e performance de apropriação
de dados.
6.2 Arquitetura da informação
25
O Modelo de Comunicação da arquitetura de Lima-Marques (2000) é responsável pela
comunicação adequada das informações, utilizando-se de meios que interagem com o processo de transmissão de conhecimento aos atores do sistema.
O Modelo de Operacionalização da arquitetura de Lima-Marques (2000) é um conjunto de definições da infra-estrutura dos demais modelos e está baseado em elementos de
tecnologia da informação.
6.2.6
Definições gerais que visam englobar várias áreas
Enquanto as definições apresentadas anteriormente buscavam caracterizar a AI como
ligada a um ramo especı́fico, alguns autores preferiram criar definições “genéricas” que
englobassem várias áreas do conhecimento:
Em uma definição consuetudinária Morville (2002) afirma que a AI é:
• A organização de combinações, rótulos e esquemas de navegação dentro de um sistema
de informação;
• O desenho de estruturas para o espaço informacional, de modo a promover acesso
intuitivo aos conteúdos;
• A arte e a ciência de estruturação e classificação de sites web e intranets de forma a
ajudar as pessoas a localizarem e gerenciarem a informação.
A partir de um grupo de trabalho do projeto IAwiki, Lombardi et al. (2004) propõem
que a arquitetura da informação é o domı́nio do conhecimento voltado para o projeto de
ambientes de informação (como oposto de espaços fı́sicos) para seres humanos trabalharem,
estudarem ou divertirem-se5 .
Dillon (2002) argumenta que na comunidade de arquitetura da informação existem
vários autores que vêem a área como estando voltada apenas para o design de Web sites.
Ele considera implausı́vel a hipótese de que seja possı́vel fazer uma divisão entre arquitetura da informação web e aquelas que não o são, e conjectura que essa tentativa reside
5
play
6.2 Arquitetura da informação
26
na necessidade de alguns em enxergar uma única identidade para a área. Segundo esse
autor, a arquitetura da informação é o termo usado para descrever o processo de desenho,
implementação e avaliação de espaços informacionais que são humanamente e socialmente
aceitados para os seus stakeholders.
Garrett (2000), em sua obra “Elementos da experiência do usuário” ele apresenta um
diagrama (figura 5) onde compara a web como uma interface de software e como um
sistema de hipertexto. Dentro do seu projeto a AI se encontra no sistema de hipertexto
voltada para o “design estrutural do espaço de informação para facilitar o acesso intuitivo
ao conteúdo”.
Figura 5: Elementos da experiência do usuários
27
7
Arquitetura da Informação no contexto
da Ciência da Informação
Acreditamos que a Arquitetura da Informação é a parte do escopo da Ciência da
Informação voltada para a estruturação de Sistemas de Informação, tanto dos aspectos
de forma quanto dos aspectos de conteúdo, considerando a integração entre contexto,
conteúdos e uso.
A esse respeito da definição de uma área do conhecimento Barreto (2001) afirma que
é necessário definir os objetivos para uma área de estudos, para que estes possam nortear
todo o pensamento subseqüente em sua estruturação, orientar a pesquisa e o ensino, além
de delimitar as fronteiras, as inter-relações com outras disciplinas e o seu núcleo temático.
O autor declara ainda que “a Ciência da Informação clama por definições: do conceito de
informação, do seu objeto e do que seria pesquisa em seu campo de atuação”.
Por sua vez, a Arquitetura da Informação, considerada como parte da Ciência da Informação, sofre com os mesmos problemas, agravados pelo fato de estar sendo redefinida
como disciplina no nı́vel mundial. “Redefinida”porque defende-se aqui que o conceito de
AI não é novo, já vem sendo aplicado na área de planejamento de Sistemas de Informação
há tempos. Iniciativas como o encontro Information Architecture Summit que ocorre anualmente desde 2000, confirmam as tentativas de delimitação do campo de atuação da
disciplina.
Haverty (2002) afirma que Arquitetura da Informação pode ser considerada um campo,
mas não ainda uma disciplina, devido à falta de uma teoria capaz de compreender a
interação entre os elementos que a compõem e nortear o planejamento de sistemas de
0
Capı́tulo escrito em parceria com Flávia Macedo e Mamede Lima-Marques.
7 Arquitetura da Informação no contexto da Ciência da Informação
28
informação. Por este motivo, os sistemas acabam sendo projetados de forma indutiva, por
demanda, com soluções caso a caso. A autora alerta para a necessidade de uma teoria com
abordagem sistêmica para compreensão do objeto de estudo, que possa fornecer a base para
o planejamento de sistema de informação de um modo geral, num processo dedutivo de
solução de problemas. Segundo a autora, quando consolidar seu corpo teórico, AI passará
de campo para disciplina.
Quanto à questão da interdisciplinaridade, Saracevic (1995) afirma que a Ciência da
Informação é interdisciplinar por natureza, e a relação com outras disciplinas vem mudando constantemente; que está inexoravelmente conectada à tecnologia da informação;
que é participante ativa na evolução da sociedade da informação; e que, além e acima da
tecnologia, tem uma forte dimensão humana e social. O autor afirma ainda que as disciplinas que exercem influência mais forte sobre a CI são a Biblioteconomia, a Ciência da
Computação, a Ciência Cognitiva e a Comunicação.
Saracevic (1999) divide, por fim, a CI em duas grandes áreas ou sub-disciplinas: uma
com foco na comunicação e no uso da informação (esta última poderia incluir a gestão da
informação de hoje); e outra com foco na recuperação da informação. A primeira, centrada
na comunicação da informação, segundo Dias (2002), relaciona-se tanto à comunicação
cientı́fica - que inclui atividades que vão desde o momento em que o cientista tem uma
idéia de pesquisa até a incorporação dos resultados dessa pesquisa no correspondente corpus
de conhecimento - quanto à comunicação como um processo básico - que ocorre em todos os
demais segmentos informacionais, ou seja, os sistemas informais, baseados em informação
não-registrada.
A segunda, por conseguinte, constitui-se no objeto da arquitetura da informação. Nesse
sentido, AI integra o escopo da área de CI, complementando as áreas de Comunicação
Cientı́fica e Gestão do Conhecimento, mas ao mesmo tempo independente destas, de acordo
com o princı́pio sistêmico. Apesar da necessidade de reconhecimento do objeto de estudo
de cada área, as áreas são indissociáveis, pois formam um todo, a Ciência da Informação.
Dias (2002) destaca a relevância dos sistemas de informação afirmando que: “se adotarmos o pressuposto de que a questão básica da Ciência da Informação é a de acesso à
informação, ou facilitação desse acesso, isso implica em trazer para o primeiro plano a
7.1 Arquitetura da Informação como uma subdisciplina da Ciência da Informação
29
importância de sistemas de informação e de sistemas de recuperação da informação, cujos objetivos são os de facilitar o acesso à informação necessitada por uma determinada
comunidade de usuários”.
7.1
Arquitetura da Informação como uma subdisciplina
da Ciência da Informação
Pela etimologia do termo, arquitetura do latim architectúra,ae, significa “arte de edificar”. Pela definição, “é um conjunto de princı́pios, normas, materiais e técnicas usados
para criar o espaço arquitetônico; ou um conjunto de elementos que perfazem um todo;
estrutura, natureza, organização”(HOUAISS. . . , 2001).
O termo “arquitetura da informação”, como registra a literatura, foi utilizado pela
primeira vez pelo arquiteto Richard Saul Wurman em 1976, que definia o conceito como a
“ciência e a arte de criar instruções para espaços organizados”. Wurman encarava o problema da busca, organização e apresentação da informação como análogo aos problemas da
arquitetura de construções que irão servir às necessidades de seus moradores, pois o arquiteto precisa levantar essas necessidades, organizá-las em um padrão coerente que determine
sua natureza e suas interações, e projetar uma construção que as satisfaça (WYLLYS, 2000).
Wurman definiu arquiteto da informação como aquele capaz de estabelecer princı́pios
sistêmicos, estruturais e ordenados para fazer algo funcionar - o “fazer pensado”tanto de
artefatos quanto de idéias e de polı́ticas capazes de informar porque são claras.
Em busca de um conceito mais próximo dos propósitos de relação com a Ciência da
Informação, definiu-se AI como o planejamento de ambientes de compartilhamento de
informações. Para Bailey (2003) AI é “a arte e a ciência de estruturar e organizar sistemas
de informação para ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos. Arquitetos da informação
organizam conteúdos e projetam sistemas de navegação para ajudar as pessoas a encontrar
e gerenciar informação”. Arquiteto da informação, portanto, deve ser especialista em
estruturação e organização de espaços de informação.
Partindo da premissa de que informações só existem em contextos especı́ficos, para
“comunidades de significado”, caso contrário, são meros dados; e de que o ser humano (o
7.1 Arquitetura da Informação como uma subdisciplina da Ciência da Informação
30
sujeito) deve ter um papel privilegiado (CAPURRO, 1992) isso nos leva a crer que a AI
deve estar de acordo com as necessidades de informação dos usuários (postulado básico
para o desenvolvimento de sistemas de informação em CI).
A apresentação da interface e a arquitetura são interdependentes (desenvolvimento de
produtos e serviços de informação com valor agregado e ergonomia são conceitos também já
desenvolvidos em CI). O modelo abaixo pretende representar a Arquitetura da Informação
como a intersecção de conteúdo, usuários e contexto no ambiente da arquitetura (DENN;
MAGLAUGHLIN, 2000).
Necessidades de informação,
tipos de audiência,
especialidades,
tarefas, ecologia
Modelos de negócio,
objetivos estratégicos,
política, cultura,
recursos
Contexto
Usuários
AI
Conteúdos
Tipos de documentos,
estruturas de objetos,
atributos, meta-informação
Figura 6: Modelo de Arquitetura da Informação (ROSENFELD, 2002)
Portanto, para projetar um sistema de informação é necessário questionar de que forma
o sistema pode estruturar o conteúdo para que este esteja de acordo com o contexto, isto
é, em consonância com os objetivos estratégicos do sistema, e seja capaz de atender às
necessidades dos usuários.
Atualmente, a AI vem sendo projetada pela análise de cada caso e aplicação das “melhores práticas”do mercado (projetos que deram certo em outros ambientes). Nesse sentido,
Morin (1999) afirma que “há antes de tudo a pressão superadaptativa que força a conformar o ensino e a pesquisa às demandas econômicas, técnicas, administrativas do momento,
a reduzir o ensino geral, a marginalizar a cultura humanista...”.
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
31
Em conseqüência disso, pelo viés mercadológico, parte da literatura atual tende a
definir AI com escopo limitado a web. Morville e Rosenfeld, apesar de concentrarem seu
trabalho na web, atentam para o fato de que a AI não se aplica somente a websites, mas
a qualquer coleção de informações (ROSENFELD; MORVILLE, 2002).
Defende-se aqui uma abrangência maior, independente do suporte. Sob esse aspecto,
Latham (2002) afirma que é preciso estabelecer uma base teórica que caracterize AI, e
ao mesmo tempo um currı́culo acadêmico flexı́vel para abarcar matérias mais técnicas,
dependentes dos avanços tecnológicos, que são constantes.
Enfim, a essência de AI é promover o acesso à informação por meio do projeto de sistemas de informação. Entende-se sistema de informação como definido por Lima-Marques
(2000): “um conjunto de informações sistematicamente estruturado, servindo a propósitos
bem definidos. A arquitetura de um sistema de informação deve retratar o ciclo de vida
da informação: a gênese, a consolidação, a transformação e a comunicação da informação.
A arquitetura de um sistema é concebida a partir de modelos que caracterizam suas propriedades e as diferentes etapas do seu ciclo de vida”.
7.2
Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
De acordo com Haverty (2002), para projetar uma Arquitetura da Informação é necessário:
• Determinar os problemas de informação;
• Aplicar as teorias para nortear o desenvolvimento das soluções;
• Integrar as soluções no ambiente e validá-las.
Baseado em Lima-Marques (2000) é proposto um quadro conceitual representado na
figura 7.
Nessa proposta para a Arquitetura da Informação é considerado que a AI deve trabalhar
tanto os aspectos de forma quanto os aspectos de conteúdos da estruturação de um sistema
32
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
CONTEÚDO + CONTEXTO
Nível epistemológico
Modelo de informação
Nível de tratamento
Modelo de
captura da
informação
Nível de análise
Modelo de
Comunicação
FORMA
Nível de recuperação
Nível de aplicação
Modelo de operacionalização
Figura 7: Proposta de um quadro conceitual da Arquitetura da Informação
de informação.
Outro pressuposto é que uma Arquitetura da Informação consiste em quatro modelos
básicos:
• o modelo de captura de dados, responsável por definir a entrada de dados no sistema
de informação;
• o modelo de comunicação, responsável pela saı́da das informações do sistema de
informação;
• o modelo de informação, responsável pela estruturação das informações dentro do
sistema de informação;
• o modelo de operacionalização, onde serão definidas as tecnologias para implementação
do sistema de informação.
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
33
Todos os modelos são permeados por algum nı́vel da AI. Cada nı́vel é detalhado a
seguir.
7.2.1
Nı́vel Epistemológico
O nı́vel epistemológico oferece o arcabouço teórico para a determinação dos conceitos
a serem adotados em todos os nı́veis.
Neste nı́vel fica caracterizada a influência da interdisciplinaridade na formação da base
conceitual da AI. Dentre as áreas apontadas pela literatura como influentes no processo
estão: Lógica, Biblioteconomia, Ciência da Computação, Psicologia, Comunicação, Desenho Industrial, Administração e Lingüı́stica; e dentre as principais teorias: a Teoria
da Informação; Teoria do Conhecimento; Teoria Geral de Sistemas. Ressalta-se aqui a
importância de adaptar as teorias importadas de outras áreas, não somente importá-las.
Como observa Barreto (2001), “uma pesquisa, em uma área interdisciplinar, não pode
simplesmente transpor teorias e conceitos emprestados da outra área de conhecimento para
área de ciência da informação. Esta transmutação de idéias, métodos, do pensar em si tem
que respeitar as caracterı́sticas existentes e manifestas da área de ciência da informação,
do objeto informação em si, com todas as suas condições, caracterı́sticas e singularidades”.
O arquiteto da informação, na concepção de Rosenfeld e Morville, deve ter a habilidade
de compreender as perspectivas de outras disciplinas com conhecimentos especializados em
visualizar, organizar e classificar informação (LATHAM, 2002).
7.2.2
Nı́vel de tratamento
Este nı́vel está relacionado ao tratamento dos conteúdos. Segundo Dias (2002), o
tratamento da informação em sistemas de informação é definido como a função de descrever
os documentos, tanto do ponto de vista fı́sico (caracterı́sticas fı́sicas dos documentos)
quanto do ponto de vista temático (ou de descrição do conteúdo).
Neste nı́vel o conteúdo é preparado para ser recuperado pelo usuário.
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
7.2.2.1
34
Sub-nı́vel de representação
O sub-nı́vel de representação realiza a descrição dos conteúdos por meio de padrões. A
representação do conhecimento tem como maior desafio capturar e representar a riqueza
do mundo.
A formalização da representação é feita por meio da linguagem (sistema de signos).
O conhecimento, por sua vez, é “representado por uma estrutura de conceitos ligados por
suas relações”(LE COADIC, 1994).
A lógica, como representação geral, é a base para o desenvolvimento de uma série de
formalismos de representação do conhecimento.
Segundo Miranda e Simeão (2002), documentos nos quais a informação é registrada
podem ser caracterizados por:
• Tipo – é a forma que determinam a produção e uso do documento;
• Conteúdo – é o núcleo do documento, é determinado pelo seu tipo;
• Formato – é o desenho ou arquitetura do documento, determina a leitura de um texto
e sua seqüência;
• Suporte – é a parte acessı́vel do documento, pode ser fı́sico ou eletrônico.
7.2.2.2
Sub-nı́vel de armazenamento
Neste sub-nı́vel devem ser consideradas as questões de armazenamento dos estoques de
conteúdos, tais como suporte (base fı́sica que reúne as idéias construı́das em um determinado formato - ex: digital, papel) e preservação.
7.2.2.3
Sub-nı́vel de organização
Neste sub-nı́vel a informação é organizada (categorizada, classificada) no ambiente para
facilitar a recuperação pelo usuário.
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
35
A organização depende da forma de representação adotada. Pode ser feita por localização, alfabética, temporal, por categorias ou hierárquica. Rosenfeld e Morville (2002)
afirmam que sistemas de organização são compostos por esquemas e estruturas.
Os esquemas (ex: ontologias) definem as caracterı́sticas compartilhadas de itens de
conteúdo e influenciam o agrupamento lógico dos itens. Estruturas definem os tipos de relacionamentos entre itens de conteúdo e grupos (classificações, estruturas de rede) (WYLLYS,
2000).
A aplicação dessas estruturas e esquemas ocorre no nı́vel de representação, mas determina a forma de organização. Quando há necessidade, pode ser criada uma camada de
integração de conteúdos disponibilizados em mais de um sistema de informação neste nı́vel.
7.2.3
Nı́vel de análise
Neste nı́vel deve ser analisado o contexto, considerando os elementos do ambiente,
como polı́tica, missão, visão e objetivos estratégicos; requisitos dos gestores; polı́ticas de
segurança da informação.
Os fluxos de informação devem ser mapeados, com levantamento de necessidades de
informação e análise dos conteúdos e de sua forma de veiculação.
Posteriormente é preciso fazer a modelagem do sistemas de informação, que deve incluir
previsão de mudanças e crescimento.
7.2.4
Nı́vel de recuperação
Este nı́vel está relacionado ao uso do sistema de informação.
Os Sistemas de Recuperação de Informações são instrumentos fundamentais para localizar informação no respectivo sistema de informação. Funcionam por meio de mecanismos
e estratégias de busca; motores de inferência, entre outros.
O conceito de relevância, atribuı́do pelos usuários, é a medida da efetividade de recuperação de informação do sistema. Pode ocorrer em diversos nı́veis: algorı́tmico, temático,
cognitivo (relacionado ao estado de conhecimento do usuário), situacional (relacionado ao
7.2 Proposta de quadro conceitual da Arquitetura da Informação
36
problema a ser resolvido) e motivacional (relacionado à satisfação do usuário).
Neste nı́vel são definidos também os produtos e serviços de informação que o sistema
deve gerar. Questões como a forma de disseminação da informação e a personalização
devem ser discutidas nessa fase.
A definição da interfaces usuário-sistema também são definidas aqui, e deve-se levar
em conta as questões de interatividade, ergonomia e usabilidade, prevendo as diferentes
formas de procurar informação.
7.2.5
Nı́vel de aplicação
O nı́vel de aplicação permeia os demais, na medida em que abarca as ferramentas de
tecnologia da informação que atendem a todos os nı́veis. Entende-se aplicação como um
conjunto de metodologias de implementação de AI. Neste nı́vel deve-se definir as ferramentas de tecnologia da informação mais adequadas ao projeto, a infra-estrutura de tecnologia
e as metodologias de segurança da informação.
37
8
Base filosófica
8.1
Fenomenologia
A expressão Fenomenologia é usada pela primeira vez por Hegel (HEGEL, 1995) visando expressar o desenvolvimento dialético do espı́rito através de estados de racionalidade.
Todavia, é com os trabalhos de Emund Husserl que a Fenomenologia é consolidada dentro
da Filosofia.
A Fenomenologia pode ser caracterizada como um movimento ao invés de uma escola. Um movimento não precisa ter uma doutrina utilizada por todos os seguidores, pelo
contrário é mais uma abordagem.
As diversas abordagens fenomenológicas partilham alguns princı́pios em comum:
• Oposição ao naturalismo e foco no Lebenswelt;
• Oposição ao pensamento especulativo e preocupação com a linguagem;
• A sua técnica de reflexão metafı́sica busca entender a relação de cada objeto com o
mundo e vice-versa;
• Buscam produzir explicações tanto no nı́vel particular quanto no nı́vel eidético.
A seguir são analisadas as obras de Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty e Martin
Heidegger, considerados os principais autores da Fenomenologia.
38
8.1 Fenomenologia
8.1.1
Edmund Husserl
Edmund Husserl formulou uma doutrina de alta complexidade, mas que exerce uma
grande influência no pensamento contemporâneo.
Originalmente voltado para a Ma-
temática, em especial para a Teoria dos Números, após frequentar os cursos de Franz
Brentano desperta-lhe o interesse pelo estudo do problema da intencionalidade.
Os pontos centrais de sua obra são o estudo da redução eidética, da redução fenomenológica e da noção de intencionalidade.
8.1.1.1
Redução eidética
Husserl parte da crı́tica ao psicologismo empirista, o filósofo argumenta que tentar explicar o princı́pio de causalidade pelo hábito adquirido de esperar o retorno dos fenômenos
numa certa ordem, é reduzir a causalidade a um mecanismo psicológico, é negar a causalidade enquanto verdade. É roubar todo sentido verdadeiro à causalidade, é desqualificá-la
por suas origens.
A intuição das essências (Wesenschau) fornece os últimos fundamentos. A redução
empirista que nega a essência, pretendendo explicá-la por suas origens acidentais, Husserl,
substitui pela redução eidética que nos dá o “eidos”, a essência verdadeira, purificada de
todos os acidentes.
A redução psicológica que desqualifica as essências pela sua origem, Husserl opõe, então,
a redução eidética que apreende a essência em sua verdade.
8.1.1.2
Redução fenomenológica
Outro aspecto central da obra de Husserl é o conceito de redução fenomenológica.
Para Husserl enquanto o sujeito estiver no domı́nio da doxa, “da atitude natural”, ele é
capaz de conhecer apenas objetos diante de si. Ele esquece que os objetos existem apenas
para um sujeito pensante.
Baseado na dúvida metódica de Descartes, Husserl propõe uma maneira diferente de
se analisar a realidade, ao invés de abandonar o mundo ele faz é a simples “colocação entre
8.1 Fenomenologia
39
parênteses”do mundo, a “époché”em grego, einklammerung no alemão.
A dúvida husserliana se difere da dúvida cartesiana pelo fato de que em Descartes a
realidade do mundo exterior é negada, ao passo que em Husserl ela é suspendida. Husserl
põe em parênteses a afirmação da realidade substancial das evidências eidéticas.
Por conseqüência, a colocação entre parênteses de toda a existência substancial é exatamente uma redução fenomenológica, porque a minha experiência aı́ se encontra propriamente “reduzida”ao que é dado, ao que aparece, ao que se manifesta autenticamente.
8.1.1.3
A noção de intencionalidade
O terceiro ponto central na filosofia de Husserl é a noção de intecionalidade. Esse
conceito surge a partir da indagação sobre o que restaria após a realização da redução
fenomenológica. Oras, nada mais que o mundo
O conceito de intencionalidade em Husserl refere-se ao fato de que toda consciência
intenciona a um objeto.
8.1.2
Maurice Merleau-Ponty
A filosofia de Merleau-Ponty é uma filosofia do homem incorporado (embodied ), inserido
na temporalidade (ek-sistente) e em contato com outras consciências. Trata-se de uma
crı́tica ao intelectualismo e uma tentativa de recolocá-lo em uma existência preliminar.
Sua obra mais importante é a Fenomenologia da Percepção, onde analisa o comportamento sobre a ótica da Fenomenologia.
8.1.2.1
A fenomenologia da percepção
A fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty é uma superação da Gestalt, base
dos seus trabalhos iniciais. Para ele o comportamento não é um conjunto de reflexos
provocados no sujeito por estı́mulos, mas um conjunto de reações significativas dependentes
da adptação global do sujeito.
8.1 Fenomenologia
40
A percepção deixa de ser algo pré-existente, único e torna-se então algo dependente da
subjetividade viva do sujeito.
8.1.3
Martin Heidegger
Martin Heidegger exerceu grande influência no pensamento existencialista do século
XX, sua obra mais importante, o Ser e o Tempo, é dedicada ao amigo Edmund Husserl.
Sua obra gira em torno do problema da Ontologia.
8.1.3.1
A retomada da intencionalidade
Heidegger continua o projeto husserliano da intencionalidade, isto é, de que toda
consciência intenciona as um objeto, todavia ele faz as suas investigações em busca da
verdade.
A palavra verdade origina-se do grego alêtheia e significa revelação, algo que estava
oculto e é revelado. Como conseqüência de seu pensamento, não é o homem quem descobre
a verdade, mas é a verdade que se revela, em termos husserlianos isso implica que não é a
consciência que descobre o objeto, mas sim que o objeto se revela para a consciência.
8.1.3.2
A ontologia
A discussão acerca da intencionalidade leva ao ponto central da filosofia de Heidegger de
que a ontologia propriamente dita, está em um nı́vel mais profundo, fundamental, inscrito
nos Entes e que fazem com que os Entes sejam e é o próprio ser.
Ainda analisando o tema da tragédia humana, Heidegger faz duas asserções:
1. o homem que existe aqui, o ser-aı́ (Dasein), se descobre no momento em que toma
consciência dele próprio e do mundo como já estando aı́, recebendo a existência como
já estando aı́;
2. somente o Dasein é um ek-sistente, isto é, ele é capaz de sair de si, e se projetar para
o mundo ao mesmo tempo que possui um passado que lhe escapa.
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
8.2
41
Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
A Teoria do Conhecimento, ou Epistemologia, é o ramo da Filosofia preocupado com a
investigação acerca do conhecimento e suas propriedades, essencialmente ela estuda os problemas decorrentes da relação entre o sujeito e o mundo (objeto), assim como as condições
para um saber verdadeiro1 .
Hessen (1973), a partir de perspectiva fenomenológica do conhecimento, agrupa os
problemas da teoria do conhecimento em cinco classes, a saber:
• As questões acerca da possibilidade do conhecimento;
• As questões acerca da origem do conhecimento;
• As questões acerca da essência do conhecimento;
• As questões acerca das espécies de conhecimento;
• As questões acerca do critério de verdade.
É importante ressaltar que a Teoria do Conhecimento, enquanto ramo da filosofia é
única, mas como um entendimento acerca dos problemas do conhecimento ela é múltipla,
pois cada corrente, cada movimento filosófico a entende a sua maneira.
A Fenomenologia, enquanto movimento filosófico, possui várias teorias do conhecimentos, no contexto deste trabalho foi escolhida a definição compendiada por Hessen (1973),
considerada a mais adequada aos objetivos delineados.
Para Hessen (1973, p. 26-28) o problema do conhecimento pode ser explicado da seguinte maneira:
No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência e o objecto, o
sujeito e o objecto. O conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes
1
No sentido de episteme, como o oposto de doxa.
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
dois elementos, que nela permanecem eternamente separados um do outro. O
dualismo sujeito e objecto pertence à essência do conhecimento.
A relação entre os dois elementos é ao mesmo tempo uma correlação. O
sujeito só é sujeito para um objecto e o objecto só é objecto para um sujeito.
Ambos eles só são o que são enquanto o são para o outro. Mas esta correlação
não é reversı́vel. Ser sujeito é algo completamente distinto de ser objecto.
A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em ser
apreendido pelo sujeito.
Vista pelo lado do sujeito, esta apreensão apresenta-se como uma saı́da do
sujeito para fora da sua própria esfera, uma invasão da esfera do objecto e
uma recolha das propriedades deste. O objecto não é arrastado, contudo, para
dentro da esfera do sujeito, mas permanece, sim, transcendente a ele. Não no
objecto mas sim no sujeito alguma coisa se altera em resultado da função do
conhecimento. No sujeito surge algo que contém as propriedades do objecto,
surge uma “imagem”do objecto.
Visto pelo lado do objecto, o conhecimento apresenta-se como uma transferência das propriedades do objecto para o sujeito. Ao que transcende do
sujeito para a esfera do objecto corresponde o que transcende do objecto para
a esfera do sujeito. São ambos somente aspectos distintos do mesmo acto.
Porém, tem nele o objecto predomı́nio sobre o sujeito. O objecto é o determinante, o sujeito é o determinado. O conhecimento pode definir-se, por último,
como uma determinação do sujeito pelo objecto. Mas o determinado não é o sujeito pura e simplesmente; mas apenas a imagem do objecto nele. Esta imagem
é objectiva, na medida em que leva em si os traços do objecto. Sendo distinta
do objecto, encontra-se de certo modo entre o sujeito e o objecto. Constitui o
instrumento pelo qual a consciência cognoscente apreende o seu objecto.
Sendo o conhecimento uma determinação do sujeito pelo objecto, não há
dúvida que o sujeito se conduz receptivamente perante o objecto. Esta receptividade não significa, contudo, passividade. Pelo contrário, pode falar-se
de uma actividade e espontaneidade do sujeito no conhecimento. Esta não
se refere, naturalmente, ao objecto, mas sim à imagem do objecto, no que a
consciência pode muito bem participar, contribuindo para a sua elaboração.
42
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
43
A receptividade perante o objecto e a espontaneidade perante a imagem do
objecto no sujeito são perfeitamente compatı́veis. Ao determinar o sujeito,
o objecto mostra-se independente dele, transcendente a ele. Todo o conhecimento designa (“intende”) um objecto, que é independente da consciência
cognoscente. O carácter transcendente é próprio, enfim, de todos os objectos
do conhecimento.
(...)
Assim se esclarece o fenómeno do conhecimento humano nos seus aspectos
principais. Ao mesmo tempo verificamos que este fenómeno confina três esferas
distintas. Como vimos, o conhecimento apresenta três elementos principais:
o sujeito, a “a imagem” e o objecto. Pelo sujeito, o fenómeno toca esfera
psicológica; pela imagem, com a lógica; pelo objecto, com a ontológica.
8.2.1
Hermenêutica da teoria do conhecimento de Hessen
Uma vez elicitada a definição de teoria do conhecimento parte-se para a sua hermenêutica, isto é, uma interpretação acerca do sentido das ações propostas por Hessen
(1973).
1. No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência e o objecto, o sujeito e o
objecto. O conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes dois elementos,
que nela permanecem eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e
objecto pertence à essência do conhecimento. A relação entre os dois elementos é ao
mesmo tempo uma correlação. O sujeito só é sujeito para um objecto e o objecto só
é objecto para um sujeito. Ambos eles só são o que são enquanto o são para o outro.
Mas esta correlação não é reversı́vel. Ser sujeito é algo completamente distinto de
ser objecto.
Essa primeira asserção leva à reflexão acerca dos elementos que “formam” o conhecimento. Para Hessen o conhecimento só é possı́vel por causa da existência de um
sujeito e de um objeto, todavia esses elementos permanecem sempre separados. É interessante observar que mesmo o sujeito estando fisicamente no mundo (na dimensão
do concreto), na dimensão do conhecimento eles estão separados. O sujeito jamais
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
44
atingirá o objeto. Esse ponto é de grande importância para a ciência, pois como
conseqüência dele é impossı́vel que o sujeito acesse diretamente a realidade objetiva
(o objeto puro).
Nessa parte são apresentadas a noção de intencionalidade de Husserl, isto é, dois
elementos distintos, o sujeito e o objeto, que se intencionam.
2. A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em ser apreendido
pelo sujeito. Vista pelo lado do sujeito, esta apreensão apresenta-se como uma saı́da
do sujeito para fora da sua própria esfera, uma invasão da esfera do objecto e uma
recolha das propriedades deste. O objecto não é arrastado, contudo, para dentro da
esfera do sujeito, mas permanece, sim, transcendente a ele.
Dentro da correlação sujeito-objeto cada elemento tem uma função clara, definida e
distinta: a do sujeito é apreender o objeto; a do objeto é ser apreendido pelo sujeito.
O conceito de apreensão na teoria fenomenológica do conhecimento de Hessen referese à captação das propriedades do objeto e a apropriação das mesmas, não implicando
que o objeto seja unido ao objeto, pelo contrário, este permanece transcedente ao
sujeito, inalterado.
3. Não no objecto mas sim no sujeito alguma coisa se altera em resultado da função do
conhecimento. No sujeito surge algo que contém as propriedades do objecto, surge
uma “imagem”do objecto.
Trata-se do primeiro ponto central da teoria fenomenológica do conhecimento de
Hessen, a explicitação do conceito de conhecimento: uma imagem de um objeto
formulada por um sujeito cognoscente.
Ao formular o conceito da imagem como sendo o conhecimento, fica evidente a
influência Heideggeriana em Hessen, e na teoria do conhecimento fenomenológica.
Aquilo que Heidegger buscava e que estava além das evidências é justamente a imagem.
4. Visto pelo lado do objecto, o conhecimento apresenta-se como uma transferência das
propriedades do objecto para o sujeito. Ao que transcende do sujeito para a esfera do
objecto corresponde o que transcende do objecto para a esfera do sujeito. São ambos
somente aspectos distintos do mesmo acto.
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
45
Do outro lado, a colheita de propriedades do sujeito pelo objeto, é visto como sendo
uma transferência de propriedades do objeto para o sujeito. Outro ponto de grande
importância é a relação entre o sujeito e o objeto. Trata-se de uma relação de ambos
os lados, denominada correlação. Um sujeito é sujeito para um objeto ao mesmo
tempo que um objeto é objeto para um sujeito. Todavia, não é excluido o fato que
em determinados momentos um elemento que outrora exercera a função de sujeito
em uma relação A seja um objeto para outro sujeito no contexto de uma relação B.
Não caracterizando um novo tipo de relação, são ambos aspectos distintos do mesmo
ato. Ou seja dentro de uma mesma relação X é impossı́vel que um elemento seja
sujeito e objeto ao mesmo tempo, isto é, a correlação não é reversı́vel, todavia nada
obriga que os papéis continuem os mesmos em uma relação Y.
5. Porém, tem nele o objecto predomı́nio sobre o sujeito. O objecto é o determinante,
o sujeito é o determinado. O conhecimento pode definir-se, por último, como uma
determinação do sujeito pelo objecto. Mas o determinado não é o sujeito pura e
simplesmente; mas apenas a imagem do objecto nele.
Na correlação proposta pela teoria fenomenológica do conhecimento de Hessen o
objeto é sempre predominante, pois não é alterado durante a colheita de propriedades
pelo objeto, ao que a imagem construı́da pelo sujeito é determinada, isto é, alterada
de acordo com o objeto.
6. Esta imagem é objectiva, na medida em que leva em si os traços do objecto. Sendo
distinta do objecto, encontra-se de certo modo entre o sujeito e o objecto. Constitui
o instrumento pelo qual a consciência cognoscente apreende o seu objecto.
Aqui é apresentada o segundo ponto central da teoria fenomenológica do conhecimento de Hessen: a localização do conhecimento. Segundo esse modelo o conhecimento não está no sujeito, tampouco no objeto, mas, sim, em um terceiro elemento,
intermediário, que contém o conhecimento, a imagem.
Outro ponto apresentado é o critério de aferição da corretude da imagem é a medida
em que ela apropria se dos traços do objeto. A mensuração dessa objetividade é
justamente o papel desempenhado pelas ciências dentro do projeto fenomenológico.
7. Sendo o conhecimento uma determinação do sujeito pelo objecto, não há dúvida que o
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
46
sujeito se conduz receptivamente perante o objecto. Esta receptividade não significa,
contudo, passividade. Pelo contrário, pode falar-se de uma actividade e espontaneidade do sujeito no conhecimento. Esta não se refere, naturalmente, ao objecto, mas
sim à imagem do objecto, no que a consciência pode muito bem participar, contribuindo para a sua elaboração. A receptividade perante o objecto e a espontaneidade
perante a imagem do objecto no sujeito são perfeitamente compatı́veis.
Neste item é apresentado o terceiro e quarto pontos centrais da teoria fenomenológica
do conhecimento de Hessen. O terceiro é que não existe um único conhecimento, isto
é, uma única imagem para todos os sujeitos. Para cada sujeito existe uma imagem,
podendo as imagens serem semelhantes entre si.
Aqui se observa a influência da teoria da percepção de Merleau-Ponty, apesar de o
sujeito possuir um papel passivo na correlação, ele é uma consciência viva e a sua
percepção (e consequentemente a sua imagem) é determinada pela sua experêincia
global enquanto um ser-aı́ e ek-sistente.
O quarto ponto é que do processo de construção da imagem pode, naturalmente, a
consciência participar.
8. Ao determinar o sujeito, o objecto mostra-se independente dele, transcendente a
ele. Todo o conhecimento designa (“intende”) um objecto, que é independente da
consciência cognoscente. O carácter transcendente é próprio, enfim, de todos os
objectos do conhecimento.
Nesse ponto Hessen (1973) propõe que todo conhecimento vem de algum objeto,
independente do sujeito, retomando a noção de intencionalidade Husserl.
9. Assim se esclarece o fenómeno do conhecimento humano nos seus aspectos principais.
Ao mesmo tempo verificamos que este fenómeno confina três esferas distintas. Como
vimos, o conhecimento apresenta três elementos principais: o sujeito, a “a imagem”
e o objecto. Pelo sujeito, o fenómeno toca esfera psicológica; pela imagem, com a
lógica; pelo objecto, com a ontológica.
Hessen (1973) encerra a sua proposição localizando as disciplinas correspondentes a
cada domı́nio. Ao domı́nio do sujeito corresponde a Psicologia (o estudo do processos
de pensamento), ao domı́nio do objeto corresponde à Ontologia (o estudo do Ser) e
8.2 Caracterização da teoria do conhecimento sob a perspectiva de Fenomenologia
47
ao domı́nio da imagem corresponde à Lógica (o estudo da concordância do objeto
consigo mesmo).
Recapitulando, a teoria fenomenológica do conhecimento está fundamentada em cinco
pontos:
1. O conhecimento é uma imagem de um objeto formulada por um sujeito;
2. A imagem não se encontra no sujeito, tampouco no objeto. Ela é externa ao sujeito;
3. Não existe uma única imagem de um mesmo objeto para todos os sujeitos; sujeitos
diferentes possuem imagens diferentes do mesmo objeto;
4. A inteligência participa da construção da imagem, ela não é, essencialmente, uma
imagem.
5. Para cada domı́nio da relação do conhecimento existe uma disciplina destinada ao
seu estudo, e do fato gnoseológico ocupa-se a Teoria do Conhecimento.
48
9
Contribuições da Fenomenologia para a
Arquitetura da Informação
A partir dos expostos tentaremos apontar alguns caminhos pelos quais a Fenomenologia
pode ser aplicada à Arquitetura da Informação, e possivelmente à Ciência da Informação.
O primeiro ponto, e talvez o mais importante, é que a Fenomenologia pode trazer à AI
uma definição muito apropriada do conceito de conhecimento. A Fenomenologia através
de sua teoria do conhecimento estabelece um conceito claro e preciso de conhecimento, a
partir do qual podem ser obtidas, como conseqüência, definições sobre informação e sobre
dado bem adequadas à aplicação em AI.
Afirmamos que o conceito de conhecimento na Fenomenologia é claro e preciso devido
à sua simplicidade. Retomando o que Hessen (1973) aponta (ver seção 8.2.1, página 41)
a simplicidade dessa definição está na proposta de um modelo onde é possı́vel distinguir
com clareza seus elementos básicos, isto é, o sujeito, o objeto e a imagem. Esta clareza faz
com que possamos trabalhar com o conceito proposto de conhecimento de forma clara e
com aplicações precisas na AI.
Na Filosofia observa-se uma dualidade entre o sujeito e o objeto, em algumas teorias
o conhecimento é posto como algo do sujeito ao passo que em outras o conhecimento está
no objeto. A Fenomenologia supera essa dicotomia ao propor que o conhecimento é algo
externo ao sujeito e ao indivı́sduo, trata-se do resultado na correlação entre o sujeito e o
objeto, isto é, o resultado da experiência do Lebenswelt.
Para a Fenomenologia, o conhecimento é o conjunto das propriedades do objeto reunidas no que ela chama de “imagem”. Portanto, a imagem é a “materialização” do conhecimento que somente pode existir a partir da existência do sujeito e do objeto.
9 Contribuições da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação
49
O segundo ponto no qual a Fenomenologia pode contribuir para a AI é uma decorrência
da definição do conceito de conhecimento, que consiste na distinção e na localização
das disciplinas envolvidas no estudo do conhecimento.
Como já visto, para a Fenomenologia (ver Hessen (1973)) a relação do conhecimento
conta com três elementos de naturezas distintas: o sujeito, a imagem e o objeto. A cada
um desses corresponde uma disciplina de estudo de acordo com a sua função dentro da
relação do conhecimento:
• Ao sujeito, dentro da relação do conhecimento, corresponde a esfera da Psicologia,
disciplina voltada para a investigação acerca da origem e desenvolvimento dos processos da psique.
A Psicologia por si só não é capaz de resolver o problema do conhecimento pois em
suas análises ela prescinde do objeto. Portanto, tentar justificar o conhecimento por
esse caminho induziria ao equı́voco do psicologismo;
• Ao objeto, dentro da relação do conhecimento, corresponde a esfera da Ontologia.
Independentemente do seu tipo, o objeto apresenta-se como algo que é. E justamente
enquanto ser ele é objeto da Ontologia.
Assim como a Psicologia, a Ontologia por si só é incapaz de resolver o problema do
conhecimento, uma vez que ela prescinde do sujeito. Ora, se os elementos da relação
são indissociáveis, é inconcebı́vel que se considere o todo sem uma das partes. Tentar
justificar o conhecimento exclusivamente a partir da Ontologia levaria ao equı́voco
do ontologismo;
• À imagem, por se tratar de uma entidade lógica, corresponde a esfera da Lógica.
Uma justificação do conhecimento exclusivamente pela Lógica, relevando o sujeito e
o objeto, também resultaria em um equı́voco: o logicismo, uma vez que o seu objeto
de estudo é a concordância da imagem consigo mesma, dispensando completamente
a referência ao sujeito e ao objeto.
Mas então qual deveria ser, portanto, a disciplina encarregada de resolver o dilema
acima?
9 Contribuições da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação
50
A Fenomenologia (HESSEN, 1973) mostra que esse problema é de domı́nio da Epistemologia ou Teoria do Conhecimento, disciplina cuja missão está na descrição, interpretação
e explicação filosófica do fenômeno do conhecimento. Por decorrência, esta é a disciplina
que deverá fundamentar a AI, já que seu objeto é o conhecimento.
O terceiro ponto no qual a Fenomenologia pode contribuir para a AI é a caracterização do conceito de informação e de dados a partir da noção de conhecimento.
Parte-se da premissa de que se a Lógica é a disciplina responsável pelo estudo da
“imagem”, fornecendo, por conseqüência, “ferramentas” para se estudar a estrutura interna
do conhecimento.
Na Lógica de Predicados, o dado, o elemento mais simples,desprovido de significado,
desprovido de semântica, corresponde a um termo. Termo é um tipo de argumento que
pode ser uma constante, uma quantidade ou uma variável. Todos estes tipos obedecem a
definição de dado, isto é, são desprovidos de semântica.
A informação é um conjunto de dados com significado, com contexto. Na Lógica, a
estrutura que equivale a essa definição é o predicado. A contextualização se faz através da
predicação. A predicação consiste na atribuição de semântica a um conjunto de termos.
Temos, portanto, as mesmas condições que caracterizam a definição de informação.
Como a informação pode ser expressa por predicado, então a informação expressa
propriedade do objeto. Em decorrência, um conjunto de propriedades do objeto, ou um
conjunto de predicados, ou ainda um conjunto de informação caracteriza um certo conhecimento sobre o qual aquele conjunto se refere.
A partir dessa análise podemos afirmar que a diferença entre informação e conhecimento
está na granularidade da análise que consideramos sobre a “imagem”. Numa analogia com
a matéria, a imagem seria composta por moléculas (informação), e por átomos (dados).
O quarto ponto que a Fenomenologia pode contribuir para a Arquitetura da Informação
reside no entendimento do Dasein e do ser ek-sistente (ver seção 8.1.3.2, 40). Trata-se
de dois importantes aspectos a serem considerados na estruturação de sistemas de informação e sistemas de conhecimento. O Dasein assume o ser estando aı́, o ser agora, em
9 Contribuições da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação
51
pleno Lebenswelt, isto é, inserido em seu contexto. O Dasein é necessariamente embodied
(ver seção 5.2, página 12). Com isso é possı́vel superar a clássica separação cartesiana
entre mente e corpo, corroborando dessa maneira para um equilı́brio entre o tecnicismo e
o humanismo, objeto de nossa busca.
Outro aspecto do ser, na Fenomenologia, é que ele é ek-sistente, possui uma história.
Portanto, adotar essa vertente implica na possibilidade de projetar sistemas de informação
mais adequados às necessidades sócio-culturais do homem.
As conseqüências do Dasein e do ser ek-sistente para a Arquitetura da Informação
remontam ao nı́vel de seus fundamentos. Implicam na construção de uma nova disciplina,
que guardaria em si um aparente paradoxo (a dimensão humana e a dimensão tecnológica),
mas que de fato são apenas aspectos complementares do mesmo ato.
52
10 Trabalhos Futuros
Este trabalho não pretendeu esgotar o assunto, mas limitou-se a apontar caminhos que
podem ser empregados pela Arquitetura da Informação rumo à sua consolidação.
Em função do tipo deste documento e o tempo disponı́vel do projeto alguns pontos
foram prejudicados, sobretudo a base filosófica que ficou por demais sintetizada e a base
teórica que foi pouco discutida.
Quanto as contribuições da Fenomenologia para a Arquitetura da Informação, entendese, que são apenas asserções. Seus argumentos de prova devem ser desenvolvidos de modo
a confirmar ou a rejeitar tais argumentos.
Sugestões de continuação desse trabalho são diversas. Todavia, alguns pontos de investigação merecem destaque:
1. Proposição de uma Teoria Unificada da Arquitetura da Informação, isto é, a investigação acerca da possibilidade de se criar uma Teoria Unificada da AI, semelhante
àquelas observadas nas ciências naturais. Sobre esse assunto vale a pena levar em
consideração os argumentos de Capurro, Fleissner e Hofkirchner (1999);
2. Aprofundamento do estudo sobre as conseqüências de um Dasein Ek-sistente;
3. Investigação acerca das aplicações da noção de Dasein Ek-sistente em sistemas de
informação.
Sugere-se que esses temas sejam exploradas em diversos nı́veis da pesquisa, desde projetos de iniciação cientı́fica, até teses de doutorado.
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