Kardec e a Codificação
Transcrição
Kardec e a Codificação
CAPA FidelidadESPÍRITA | Setembro 2009 Kardec e a Codificação por Therezinha Oliveira E m 1854, Paris era a capital cultural do mundo e nos seus salões tornaram-se moda as tables tournantes (girantes ou dançantes). PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS Um amigo informou sobre esse tipo de fenômeno ao Prof. Hyppolite Léon Denizard Rivail. Discípulo do grande pedagogo Pestalozzi, o Prof. Rivail era também educador, autor de várias obras didáticas, membro de diversas academias culturais, e estava na plena madureza dos seus 50 anos. Respondeu ao amigo que o fenômeno das mesas girantes podia ter explicação natural, simples ação do fluido magnético. MAIO DE 1855 Numa terça-feira deste mês e ano, em casa da Sra. Plainemaison, Rivail presenciou, pela primeira vez, o fenômeno das mesas “que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar a qualquer dúvida”. Assistiu, também, a ensaios imperfeitos de escrita mediúnica numa ardósia (lousa), com o auxílio de uma cestinha. Observação: À época, Mesmer com sua teoria sobre magnetismo estavam em destaque e o Prof. Rivail também estudara os fenômenos magnéticos. Argumentaram-lhe, posteriormente, que a mesa respondia a perguntas. — Isto, agora, é outra questão (respondeu o Prof. Rivail). Só o acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. 14 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP 4 ASSINE: (19) 3233-5596 CAPA Setembro 2009 | FidelidadESPÍRITA Entrevi, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, alguma coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei que tomei a mim estudar a fundo. Conheceu a família Baudin, em cuja casa, através da mediunidade das jovens Caroline e Julie, e pelos fenômenos com auxílio da cesta escrevente, teve ensejo de observar: Comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes até a perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. Observou e deduziu: uma causa inteligente. Ninguém imaginou os espíritos como meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra (espírito). Disseram ser as almas dos que já viveram na Terra. Verificou, também, que os espíritos comunicantes não são todos iguais em conhecimento nem em moralidade. Mesmo assim, suas informações serão sempre valiosas como as de viajantes que nos fazem seus relatos e nos permitem conhecer o estado de um país. Freqüentou, também, reuniões em que a médium era a Srta. Japhet e pôde fazer novas e mais completas observações. harmoniosamente entrosados, revelando as leis divinas (naturais e imutáveis) que regem o Universo e a vida dos seres. Era a doutrina dos espíritos; eles é que a haviam ditado, o Prof. Rivail não a criou nem a fundou, foi, apenas, o seu Codificador (quem coletou e organizou os ensinos, as leis e os princípios revelados). Para distingui-la das demais doutrinas espiritualistas, Rivail a denominou Espiritismo e, aos seus O Espiritismo surgiu, portanto, da manifestação dos espíritos, de suas revelações adeptos, chamou de espíritas ou espiritistas. Para apresentar e divulgar essa doutrina, publicou livros. A fim de que não estabelecessem conotação com as suas obras como pedagogo (agora, as idéias, os ensinos, não eram seus, mas dos espíritos) publicou-as sob um pseudônimo: Allan Kardec, nome que tivera em urna encarnação anterior, entre os celtas (conforme lhe havia sido revelado). O ESPIRITISMO SURGIU, PORTANTO, DA MANIFESTAÇÃO DOS ESPÍRITOS, DE SUAS REVELAÇÕES Como, aliás, têm surgido todas as religiões. É, na origem, uma revelação divina (por ser de iniciativa dos espíritos do Senhor); mas é humana na sua elaboração (pelo4 SURGE O ESPIRITISMO À medida que o Prof. Rivail coletava os ensinos e os organizava de forma didática, foi se evidenciando que constituiam toda uma doutrina! Um conjunto de princípios, ASSINE: (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP 15 CAPA FidelidadESPÍRITA | Setembro 2009 trabalho de Kardec e de todos os estudiosos e pesquisadores) com base nas informações prestadas pelos espíritos.(A Gênese, Cap. 1, itens 12 e 13) . SEU ASPECTO TRÍPLICE E CARÁTER PROGRESSIVO O Espiritismo é uma doutrina filosófica, de bases científicas e conseqüências morais (ou religiosas). Pode ser apreciada ou estudada por três aspectos diferentes: — o das manifestações; — o dos princípios e da filosofia que delas decorrem; — e o da aplicação desses princípios. passado) e, modernamente, com a Parapsicologia, a Psicobiofísica e a Psicotrônica, que também se interessam pelos fenômenos transcendentes do ser humano. Pesquisando a verdade no campo espiritual, o Espiritismo faz prever que, um dia, a Ciência e a Fé estarão em aliança, porque a Ciência encontrará, nas realidades ...o Espiritismo faz prever que, um dia, a Ciência e a Fé estarão em aliança espirituais, os fundamentos invisíveis mas reais da Fé; e a Fé deixará de lado crendices e superstições para se fixar apenas no que for realidade espiritual. O Espiritismo tem um caráter progressivo e acompanha o progresso científico. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará. Kardec (em A Gênese, Cap. 1. “Os Milagres e as Predições’ 1:55 e em Obras Póstumas, “Constituição do Espiritismo’ II, Dos Cismas). 4 CIÊNCIA Quando estuda as manifestações dos espíritos (os fatos). Tem um objeto: os seres espirituais (sua existência, natureza, origem e destinação e suas relações com o mundo corporal). Estuda-os com método próprio, específico e adequado ao objeto que investiga: a experimentação, por meio da mediunidade. Observa, analisa, compara e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege. Depois, deduz-lhe as conseqüências e busca as aplicações úteis. A teoria vem, então, explicar e resumir os fatos. Em seus estudos, o Espiritismo apresenta conotações com a Metapsíquica de Charles Richet (no 16 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP ASSINE: (19) 3233-5596 CAPA Setembro 2009 | FidelidadESPÍRITA Mas não se detém onde a ciência materialista pára, prossegue além, nas realidades transcendentes. FILOSOFIA Quando enfoca os princípios e a filosofia que decorrem dos fatos. Com base nas novas descobertas reveladas e pesquisadas, faz a interpretação da natureza e dos fenômenos, reformulando a concepção do mundo e de toda a realidade. Trata dos princípios e dos fins, respondendo às perguntas: Quem somos? De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde iremos, depois? E nos dá, assim, uma nova filosofia de vida. Tem aceitação oficial como filosofia, no Brasil e no exterior, tanto que consta, por exemplo: — do Dicionário Filosófico do Instituto de França; — do Panorama da Filosofia de São Paulo (edição conjunta do Instituto Brasileiro de Filosofia e da Universidade de São Paulo, sob a coordenação do Prof. Luiz Washington Vitta). MORAL OU RELIGIÃO Quando faz a aplicação desses princípios. Como conseqüência das conclusões da sobrevivência humana após a morte (baseadas nas provas), o Espiritismo projeta a realidade conhecida para o plano das relações homem e divindade. ASSINE: (19) 3233-5596 Assume, então, aspecto moral; ou religioso, porque, para Kardec, moral e religião se eqüivalem. A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana; uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. 1, item 8). Se a Religião revela as leis do mundo moral, o Espiritismo, Assume, então, aspecto moral; ou religioso, porque, para Kardec, moral e religião se eqüivalem apontando conseqüências morais, mostra seu terceiro aspecto: o religioso, ao orientar como agir perante as leis divinas, agora mais bem conhecidas. 2) Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes e, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto, desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem, princípios absolutos em matéria de fé (dogmas), casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, cerimônias, privilégios e a mistificação e os abusos. Kardec (Discurso em Nov./l868 — RE dez./1868): De fato, a definição de culto, em francês e espanhol, por exemplo, inclui cerimônias, rituais, exterioridades. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, (continua Kardec) o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; hierarquias, cerimônias e privilégios; não o separaria das idéias de mistificação e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública. Seria colocar “remendo novo em pano velho”... E Kardec queria evitar essa confusão. w BIBLIOGRAFIA: POR QUE NÃO FOI APRESENTADO LOGO COMO RELIGIÃO? Por duas razões (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. II): 1) Afim de evitar rejeição e até perseguição prematura. Aguardando maturidade da inteligência humana os bons espíritos, previdentes, sabiamente cautelosos, estabeleceram primeiramente os fundamentos filosóficos e científicos. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. “A Minha Primeira Iniciação ao Espiritismo”, “Introdução”, itens IV e VI; e O Livro dos Espíritos, “Conclusão”, item VII. PIRES, J. Herculano. “O Infinito e o Finito”, Curso Dinâmico de Espititismo. Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. Espiritismo - A Doutrina e o Movimento. Págs.21 – 28. Editora Allan Kardec. 2003 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP 17