ferramentas para uma arquitetura não solicitada

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ferramentas para uma arquitetura não solicitada
FERRAMENTAS PARA UMA ARQUITETURA NÃO SOLICITADA:
UMA EXPERIMENTAÇÃO NA CIDADE DE JOINVILLE
Bernardino da S. Neto1, Graziella C. Demantova2
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INTRODUÇÃO
Práticas e propostas urbanas, com base totalmente interativa, que surgem a partir de experiências em
diversas partes do mundo, exemplificam as ferramentas da prática "Arquitetura não solicitada" e seus
potenciais. Segundo PESUDO
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esta nova corrente da arquitetura e urbanismo pode ser agrupada em três
territórios temáticos: Mobilidade, Espaço Público e Vazios Urbanos - todos relacionados às necessidades
sociais e oportunidades urgentes nas cidades. Essa demanda evidencia a importância de se alcançar um papel
mais ativo dos arquitetos na sociedade e de se promover troca de experiências para lidar com os desafios e os
problemas atuais das cidades.
A “Arquitetura Não Solicitada” é uma maneira de fornecer uma mudança urbana, realizada por
profissionais e moradores em seus próprios bairros ou comunidades, com suas próprias mãos e com os meios
e ferramentas disponíveis. Iniciativas comunitárias evoluem a partir desses gestos ativos, com o apoio do
cidadão, participando ativamente na escala local. Depois de identificada a demanda e organizado o plano de
ação, é necessário o uso criativo dos recursos existentes e a realização de parcerias para atingir as metas prédefinidas. O objetivo principal dessas iniciativas é melhorar a qualidade de vida das comunidades.
Para ROGERS
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, as ações de urbanismo em pequena escala, também chamada de micro-urbanismo,
são únicas, desenvolvidas diretamente pelos indivíduos ligados ao espaço modificado. Elas são realizadas em
escala local, como produtos de sua cultura e meio ambiente. Lidam, muito sensivelmente, com a
infraestrutura física e emocional, bem-estar, educação, juntamente com a reformulação do ambiente
construído.
O conceito de “Arquitetura não Solicitada” foi explorado pela primeira vez em um estúdio de design
dirigido por Ole Bouman no Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 2007, cujos resultados foram
publicados no Volume 14. Desde então alguns escritórios se dedicam ao assunto, como o Studio for
Unsolicited Architecture; é um projeto experimental iniciado pelo Netherlands Architecture Institute (NAI),
que explora as formas em que a arquitetura possa desempenhar um papel significativo na resolução de
desafios sociais e de design. Através da criação de alianças com outras partes interessadas e apresentação de
soluções de arquitetura, o Studio for Unsolicited Architecture tenta resolver o impasse enfrentando muitos
problemas sociais e espaciais.
No Brasil, presenciamos iniciativas nesse sentido. Alguns projetos em São Paulo demonstram como a
organização espontânea consegue atender algumas demandas urbanas, gerando espaços de qualidade que
incentivam a participação da comunidade. A iniciativa pioneira do sociólogo Jeff Anderson, visa melhorar a
vida em favelas, através da ação social e do conceito ‘faça você mesmo’, em que ele e os membros da
comunidade são envolvidos em diferentes projetos. Jeff Anderson desenvolveu uma série de medidas
estéticas que transformaram a qualidade espacial do bairro dentro de um curto período de tempo. Essas
medidas incluem a limpeza de pequenos espaços e áreas em frente das casas da comunidade, a criação de
jardins, utilização de material reciclado para humanizar as fachadas de edifícios, e ainda a criação de obras
de arte públicas. Todos os materiais utilizados no projeto vieram a partir de resíduos e lixo encontrados na
vizinhança. A atividade coletiva começou com a instalação de uma biblioteca aberta para os moradores, e
seguiu com a organização de oficinas que transformou lixo em objetos que apoiaram atividades diárias e
agregou um valor estético aos caminhos e becos. As atividades têm levado a um forte senso de comunidade e
um uso intenso do espaço aberto (rua e becos), que deu origem a novas situações criadas pela articulação dos
objetos criados e atividades diárias. A utilização do espaço aberto e o contato coletivo tiveram um impacto
positivo sobre o ambiente construído e a sua segurança.
Essas iniciativas, concentradas principalmente em áreas centrais de grandes cidades como São Paulo e
Rio de Janeiro (Brasil), Bombaim (Índia), Istambul (Turquia), Cidade do México (México) e Cidade do
Cabo (África do Sul), acabam se espalhando por toda área metropolitana destas cidades. Como resultado
indireto destas ações, se destacam o uso coletivo do espaço através da cultura, arte e educação, bem como a
criação de oportunidades de lazer. ROSA
(3)
e WEILAND
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concluem que estas iniciativas são uma
experiência para as pessoas descobrirem como uma cidade pode ser melhor. Para os autores deveríamos
capacitar as pessoas a iniciarem a construção de algo novo, e não simplesmente replicar ideias. É importante
que conheçam o lugar onde vivem e participem dentro desse contexto. Devemos incentivar as iniciativas da
comunidade, que mantêm as cidades habitáveis e produtivas. Esta é a lição aprendida a partir dessas
iniciativas, o enorme poder e a capacidade que moradores locais e pessoas comuns podem fazer e alcançar.
Essas cidades podem ser enriquecidas por essa característica múltipla, diferente centros construídos por uma
multidão de pessoas com diferentes origens. O papel do arquiteto nesse movimento é facilitar, apoiar essa
transformação.
OBJETIVO
Dentro desse novo cenário de participação dos arquitetos, o objetivo principal desse trabalho de
pesquisa é investigar ferramentas para a aplicação da “Arquitetura não Solicitada”. Os objetivos específicos
são: (a) fortalecer nos pesquisadores a compreensão das necessidades dos indivíduos e dos grupos sociais,
(b) motivar o arquiteto em formação buscar respostas criativas e inovadoras aos problemas urbanos e (c)
democratizar o acesso à arquitetura.
METODOLOGIA
A metodologia de trabalho está centrada em pesquisa, revisão teórica, análise crítica para investigar e
conhecer as origens do movimento “Arquitetura Não Solicitada”, ferramentas para identificação e
diagnostico das demandas urbanas, bem como a construção de um quadro referencial com as principais
ferramentas para se fazer uma
“Arquitetura Não Solicitada” afim de subsidiar iniciativas no Brasil.
Pretende-se aplicar as ferramentas selecionadas para se fazer uma experiência de Arquitetura Não Solicitada
na cidade de Joinville.
CRONOGRAMA
Cronograma de execução do projeto
Descrição das etapas
1. Elaboração de um programa de pesquisa
2 . Pesquisa bibliográfica sobre as origens do movimento
3. Identificação das experiências internacionais e nacionais
4 . Investigação das principais ferramentas para diagnósticos
socioambientais - a fim de instrumentar os arquitetos para a
identifacação da arquitetura "não solicitada"
5 . Classificação das ferramentas
6 . Seleção de local / região na cidade de Joinville para se
fazer um projeto de "Arquitetura não Solicitada" com a
utilização das ferramentas identificadas
7 . Ida a campo para levantamento de demandas
8 . Elaboração de diagnóstico
9 . Desenvolvimento do projeto
10 . Identificação dos agentes sociais envolvidos no processo
11 . Entrega do projeto aos envolvidos no processo
12 . Relatório da Iniciação Cientifica
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2013
Meses
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2014
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RESULTADOS ESPERADOS
Esse trabalho visa o desenvolvimento pratico da pesquisa e a capacidade analítica, ampliando sua
consciência sobre o papel do arquiteto enquanto transformador social. Como produto concreto dessa
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pesquisa será desenvolvido um quadro referencial de diretrizes para os interessados em fazer a “Arquitetura
não Solicitada” contribuindo dessa forma para a democratização do acesso à boa arquitetura.
REFERÊNCIAS
1. PESUDO, C.G. The Architectural Agonism of the Unplanned, a Play in Ten Acts. Domus, Rozzano,
Itália, n.935, p. 148 - 159, 2010.
2. ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gilli, 2005.
3. ROSA, Marcos L.WEILAND, Ute E. Handmade Urbanism. Mumbai - São Paulo - Istanbul - México
City - Cape Town. From Community Initiatives to Participatory Models. Berlin, Alemanha: Jovis, 2013.