de degustação
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de degustação
não há paz sem luta. aliste-se. Os guardiões. Os que lutam pela segurança planetária. Se a justiça é a força que impede a propagação do mal, há de ter seus agentes. Quem são os guardiões? A quem é confiada a responsabilidade de representar a ordem e a disciplina, de batalhar pela paz? Cidades espirituais tornam-se escolas que preparam cidadãos espirituais. Os umbrais se esvaziam; decretou-se o fim da escuridão. E você, como porá em prática sua convicção em dias melhores? Robson Pinheiro, pelo espírito Ângelo Inácio Volume 2 da trilogia Os Filhos da Luz sumário prefácio Jesus não é só misericórdia, x por Leonardo Möller editor Capítulo 1 Os guardiões, 18 Capítulo 2 Imersão no passado, 58 Capítulo 3 Entre amigos, 100 Capítulo 4 O mito de exu, 146 Capítulo 5 Pombagira, 196 Capítulo 6 Guardiões de mundos, 236 Capítulo 7 Os especialistas, 282 Capítulo 8 Confronto entre as dimensões, 322 Capítulo 9 A revolta dos oprimidos, 376 Capítulo 10 Não há vitória sem lutas, 432 Referências bibliográficas, Sobre o autor, 477 476 e 21 ra já muito tarde e a cidade mergulhava em trevas, uma vez que o sol se punha no horizonte daquela parte do mundo. Nova Iorque apresentava-se à sua visão espiritual como se fosse a capital do mundo, com seus arranha-céus desafiando a visão tanto dos habitantes da superfície quanto de quem por ali passava voando, a deslizar nos fluidos ambientes de um mundo cheio de vida e pululante de embriaguez dos sentidos e emoções. O New York Times Building, com seus mais de 50 andares, erguia-se majestoso, como se fosse uma das construções místicas do monte sagrado de Tsion, a cidade mitológica dos deuses decaídos. Passando sobre aquela que era considerada a babilônia das nações, voltou-se logo após para uma construção astral que se erguia no coração da cidade — Manhattan —, a uma altura equivalente a mais de 100 andares acima das maiores edificações humanas. O ser renegado observou a cidade imperial quando da aproximação das sombras da noite. Sua fisionomia, ao receber os últimos raios do sol e a cintilação das primeiras estrelas, parecia inabalável, embora denotasse, para quem o examinasse mais atentamente, um misto de reflexão profunda e intensa preocupação com o futuro próprio e o da- 22 queles dos quais era um dos líderes mais preeminentes. Alguém que vivera tantas vidas quanto vagou por várias terras e mundos; um ser medonho por natureza, que seguramente poderia ser considerado um dos representantes mais inteligentes que viera do cosmos, de outros mundos, trazia em si insondáveis mistérios impregnando a aura, como se fossem milhares de moléculas feitas de luz, embora uma luz desconhecida pelos humanos. Ao longo de suas peregrinações, conhecera quase infinitos mistérios e desvendara uma enormidade de ciências, todas ainda desconhecidas pelos habitantes daquele mundo que observava. Dominara uma variedade inumerável de criaturas do submundo, imergira nas profundezas mais obscuras das regiões abissais e, por fim, fora levado a contragosto a observar e conhecer as regiões indizíveis de mundos redimidos, onde uma vontade soberana outorgava, àquelas consciências que ali habitavam, um estilo e qualidade de vida que ele estava longe de compreender, tal como as vertentes das ciências ali aplicadas, estudadas e conhecidas. Aquele era um ser que vivera milhares de vidas em mundos que, agora, perdiam-se na amplidão. Mesmo que pudesse localizar seu mundo original, sua pátria sideral, 23 não mais conseguiria voltar a ela. Quem sabe seus conterrâneos já tivessem ascendido a uma etapa da vida universal ou a uma dimensão tão mais ampla, profunda e desconhecida que não saberia mais como atingi-los ou contatá-los… Uma saudade indizível parecia querer romper as barreiras dos conflitos internos, quase imensuráveis, que eclodia como consciência de culpa, também dificilmente traduzível na linguagem dos humanos do planeta Terra. Um ser que se convertera num genocida das estrelas, que tomara parte no extermínio de mundos, certamente não poderia viver impune perante a própria consciência, ainda que milênios e eras tivessem transcorrido desde sua última investida contra a humanidade desses orbes por onde passara. Contudo, se o semblante revelava preocupação com o futuro, denotava também a reflexão engendrada pelo confronto de duas visões antagônicas — de um lado, sua política inumana; de outro, a política sintetizada na figura do Cordeiro, a qual combatera durante a maior parte da vida. Não obstante, transparecia nele a experiência de quem vira surgir e desaparecer impérios e nações, civilizações inteiras e quem sabe até, em dado momento, convivera com criaturas tão interessantes quanto elevadas e muito mais 24 evolvidas do que qualquer ser que jamais pisara nos planeta dos homens. A mente, ao olhar a cidade logo abaixo de si, em seu voo singular, trazia à memória as nações por onde passara, os requintes dos continentes perdidos, onde inspirara os mais astutos planos de domínio e vira sucumbir toda uma raça sob a ostentação de seu poder, sobrepujando aqueles habitantes de outrora. Os olhos, iluminados pela astuta inteligência, pareciam congelados no tempo, como se estivessem gravados em suas pupilas os clamores e as dores das civilizações antigas, com sua diversidade de povos, raças e criaturas que compunham o genoma daquele mundo. Desde as construções antigas da Suméria às Torres do Silêncio da Pérsia, desde os edifícios majestosos da Atlântida até os jardins suspensos da Babilônia — a todos vira florescer e perecer, como a flor do campo que um dia se mostra exuberante e no outro fenece ou é ceifada da base que a nutre com a seiva da vida. Enquanto voava pelos céus de Nova Iorque sua mente fervilhava. Ao mesmo tempo, nas telas ultrassensíveis de sua memória espiritual, desfilavam todos os povos com os quais mantivera contato, inclusive aqueles hominídeos que encontrara pela primeira vez ao ser deportado para o mun- 25 do prisão conhecido como Terra. Exibia uma aparência que remetia aos deuses gregos, no auge de sua força e virilidade, ou então aos homens mais belos, no ápice da juventude; talvez, ainda, aos anjos mais viris e elegantes, segundo as descrições mitológicas de povos cristãos. A história de toda a humanidade vibrava ainda na mente daquele que parecia se sentir o ser mais solitário de todos os tempos. Uma solidão que doía, uma dor que jamais poderia ser mensurada ou descrita, calcada numa alma tão perversa quanto jamais algum homem pudesse cogitar existir ou como qualquer pesadelo pudesse descrever. O renegado pairou sobre a cidade e resolveu se deter em uma das construções mais importantes da nova babilônia. Prostrou-se sobre o mais alto dos edifícios da cidade como se estivesse paralisado, petrificado. Se fosse visto pelos mortais ou por aqueles que se consideravam poderosos e julgavam dominar as nações da Terra, teria sido percebido quase como uma estátua, uma gárgula, petrificado, imóvel por horas e horas a fio, incessantemente observando, pensando, refletindo sobre como retornar a seu antigo reduto, nas entranhas do orbe. Cogitava mesmo se deveria regressar, já que ficara prisioneiro por séculos [...] r 435 aul acordou esfomeado e muito tonto, como se estivesse com sintomas de labirintite. Irmina, mal se viu no corpo, pulou da cama e foi logo tomando as providências para ir ao Rio de Janeiro, convidando quatro amigos, agentes que moravam na Europa, como ela, a fim de viajarem juntos. Auxiliariam o Brasil diretamente no local dos eventos; lá, contatariam Raul. Mas o médium mal acordara e já sentia que o corpo não ia nada bem. A repercussão vibratória dos eventos ocorridos na dimensão astral seriam sentidos ainda por muitos dias. Mas não era só isso. Como Watab e Pai João haviam previsto, Raul trazia o espírito marcado pelas lutas no plano extrafísico. Estava satisfeito, embora cansadíssimo, e o esgotamento talvez perdurasse por mais um mês, repercutindo em seu corpo e sua mente. Além do mais, as emoções, fragilizadas em razão dos desafios dos dois lados da vida, permaneceriam à flor da pele por um bom tempo. Mas não havia como descansar enquanto não terminassem os eventos que marcavam este momento histórico em ambas as dimensões da vida. Raul tonteou; quase caiu ao levantar-se da cama, mas resolveu que o chuveiro o ajudaria a acordar, e não houve quem o dissuadisse des- 436 sa ideia. Nem mesmo Kiev, que ficara de plantão em sua casa, evitando a intromissão de energias discordantes e de eventuais visitantes indesejados. Uma ajuda seria enviada a Raul oportunamente, alguém com quem pudesse dividir certas dificuldades e responsabilidades, além de lhe dar suporte emocional para facilitar seu cotidiano no mundo dos viventes. Irmina também seria assessorada por outra pessoa, que os guardiões encaminhariam logo ao seu encontro, a fim de que pudesse se retemperar energeticamente quando estivesse no corpo. Enfim, não ficam sós os que amam e trabalham pelo bem da humanidade. Numa dimensão muito mais profunda do que aquela onde se encontravam os magos negros, um ser medonho observava, triste, cabisbaixo; parecia deprimido. O local ao redor era conhecido dele há pelo menos dez milênios. Fora enviado de volta à dimensão das prisões eternas, ao universo sombrio onde outrora fora um dos maiorais mais temidos entre os demônios; fora considerado por séculos e séculos o pai da mentira, o arquiteto da maldade. Mas agora estava abatido, derrubado do trono de suas pretensões. O enorme salão da fortaleza, que fora quase invencível um 437 dia, abrigava o número 2 do concílio tenebroso. Cercado por sete recintos recheados de tecnologia muito superior à dos humanos do planeta Terra, observava nas telas de seu aparato tecnológico a estátua do Cristo Redentor, em uma das cidades do mundo. Parecia ironia do destino. Olhava exatamente uma representação do semblante do Cristo, aquele mesmo que ele intentara combater, enfrentando-lhe a política em tudo divergente da sua. A estátua parecia mirá-lo de longe, de muito distante da dimensão física; mesmo assim, ele se sentia impotente diante do que representava aquela estátua gigantesca, tão gigante quanto suas pretensões de outrora. Um pedestal no centro do salão luxuosamente mobiliado exibia uma cadeira totalmente coberta com pedras preciosas, encravadas em ouro puro, uma cópia exata, ou melhor, o original da qual uma cópia imperfeita estava exposta no Vaticano. Uma cadeira ricamente adornada, um trono, coberto de material sutil, suave, um tecido desconhecido pelos humanos, de cor vermelha e ornado em ouro. Um brasão com as serpentes enroscadas entre si formava o símbolo máximo dos maiorais nas regiões ínferas. Mas o trono estava vazio, agora. Não tinha a mínima vontade [...] 466 [...] tendo o Congresso Nacional à frente. Levitando sobre os fluidos ambientes, os pais-velhos vinham, trazendo agora a estrutura perispiritual modificada, transfigurados na aparência que tinham no passado, como magos e iniciados dos antigos colégios e templos de sabedoria. Enquanto isso, centenas de guardiões da noite, especialistas e antigos políticos da nação estavam ao lado dos representantes do poder entre os encarnados. Um dos magos, notando a movimentação, o coro de vozes que ameaçava visivelmente sua estabilidade, gritou para os demais: — Fujamos, pois os desgraçados encarnados parecem trabalhar para nossos oponentes; eles cantam, eles soltam um grito de guerra; os malditos estão do lado da luz. — Fugir para onde, Belial? Foi você quem abriu caminho para este lugar. E agora estamos todos prisioneiros desta maldita situação. Os pais-velhos pararam por um momento. — Fiquemos aqui, por enquanto — falou um dos magos brancos ao lado de um dos dirigentes desencarnados da nação. — Não podemos colocar em risco nossos amigos encarnados, nem comprometer o movimento pacífico e le- 467 gítimo que realizam. Vamos esperar até o povo elevar ainda mais a voz e as emoções. Precisamos de mais energia, e vamos aproveitar esta multidão para livrar o Congresso da presença dos magos negros. — Devemos ter cuidado também por causa dos quiumbas, entidades vândalas que acompanham bandos de pessoas que pretendem estabelecer o caos. Os quiumbas podem fazer muito estrago por aqui. Emitindo um sinal com o braço levantado, o mago branco — na verdade, Vovô Rei Congo transfigurado — chamou alguns oficiais do comando superior dos guardiões. Kiev logo atendeu ao chamado e providenciou uma guarnição de soldados do astral. Mais de 500 soldados, guardiões e especialistas foram colocados em pontos estratégicos antes de tentarem algo diretamente contra os magos negros. Havia quiumbas misturados à multidão, assim como alguns vampiros e uma malta de obsessores; todos, a qualquer custo, tentavam causar confusão em meio à gente que caminhava pacífica. — Não poderemos resolver tudo, mas vamos amenizar os efeitos causados pela ação desses espíritos — deu a ordem Rei Congo. 468 Os guardiões se misturaram ao povo. Além da guarnição posicionada logo acima do Congresso, uma multidão se dirigiu ao espaço entre as cúpulas, onde toda a gente se reunia, logo acima dos símbolos da arquitetura modernista, que eram um dos principais cartões-postais da capital brasileira. Watab entregou pessoalmente um documento nas mãos de um dos seus mais confiáveis generais. O guardião então volitou sobre os céus da capital, rumando diretamente a outra unidade da federação, onde a situação parecia assumir proporções preocupantes. Os guardiões sabiam muito bem como trabalhar em conjunto quando recebiam ordens diretas do comandante. Os diversos comandos de guardiões, embora se dividissem em várias especialidades, eram coesos em suas ações. Onde se pudesse perceber a ação dos espíritos emissários da lei e da ordem, poderiam ser vistas nuvens de seres alados indo de uma latitude a outra do país, conduzindo recursos para apoiar as legítimas manifestações em busca de um mundo melhor e evitar, ao máximo, situações indesejáveis e de risco, embora dependessem bastante da resposta humana às suas ações e intuições. Três dias depois, os magos continuaram [...] HÁ quem chame de céu. há quem chame de paraíso. nós chamamos WW DEG UST EE W.CA SAD O SESP www.casadosespiritos.com | IRIT M: OS.C OM