Aula 14
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CAESP - Artes Aula 14 - 20/07/2016 TRANSFORMAÇÕES FINAIS DO SÉCULO XVI: MANEIRISMO, REALISMO E PROTO-BARROCO. De 1525 a 1600 temos uma profusão de diferentes estilos artísticos que rivalizam entre si. A forma de representação da realidade havia sido explorada totalmente pela Renascença, o equilíbrio e a harmonia haviam sido conquistados. O que haveria de novo para a Arte? Como seria possível manter o fazer artístico nas fronteiras da originalidade como função precípua da Arte? Essa é uma época de crise artística, com rivalidades e contradições, sem um ideal único dominando toda a produção artística. Mas não caia na tentação de interpretar “crise” negativamente, pois, em Arte, a crise de uma época é o catalizador do nascimento de outra. Lembre do conceito de Polemos (Πόλεμος) em Heráclito e os gregos clássicos. Mesmo com a profusão de estilos, esse tempo pode ser considerado como um período único justamente pela superposição temporal e geográfica dos produtores dessas diferentes tendências rivais e pela principal característica comum desses autores que foi uma espécie de “negação” do Renascimento em busca da renovação da originalidade. Eles vão buscar representar nas obras a emoção, a imaginação e o dinamismo dissonante. Exatamente o contrário de todo o racionalismo, o realismo e a harmonia do Renascimento. EMOÇÃO – IMAGINAÇÃO – DINAMISMO Você deve lembrar que é muito comum nos momentos de crise de um estilo e surgimento de outro, que os artistas busquem diferentes formas de expressão para poderem dar voz e forma às suas buscas interiores. Para compreender melhor, imagine que você pretende produzir uma obra de arte, mas o estilo consagrado da sua época com os seus cânones, não seja mais suficiente (ou mesmo interessante) para que você expresse o que deseja com a obra. Qual a solução? A experimentação, buscando a sua própria solução estilística para aquela necessidade ou desejo artístico. Por isso vemos no Maneirismo um estilo tão visionário, inquietante e voluntarioso, pois existe uma necessidade de inventar algo novo para expressar o que urge no interior da mente artística. Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a emergência da subjetividade. Inicialmente o Maneirismo foi visto de forma muito preconceituosa. Esse preconceito é originário do sarcasmo com que foi recebido pelos seus próprios contemporâneos renascentistas ainda atados aos grilhões dos cânones. O Maneirismo foi visto em sua própria época como um estilo “artificial”, uma imitação ruim de algumas características dos grandes autores do Renascimento, mas não era nada disso. Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a emergência da subjetividade. O Maneirismo é muito mais do que isso, uma análise mais livre e cuidadosa das obras desses autores permite vermos elas como veículos de expressão da subjetividade de seus autores, superando (ou burlando) as regras da autoridade da Natureza e dos antigos clássicos greco-romanos, para poder dar vazão a uma “leitura particular” dos autores sobre os temas. Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a emergência da subjetividade. Os autores maneiristas vão buscar se afastar propositalmente da realidade objetiva para buscarem novas formas de expressividade. Eles buscam se afastar do mundo estável, harmônico, racionalizado e constante característico do Renascimento. O mundo será representado por figuras distorcidas através de espelhos (Parmigianino, Autorretrato, 1524), distorções do corpo físico e escolhas “arbitrárias”, no sentido de desconectadas da realidade tangível, do cenário (Parmigianino, Madona de pescoço comprido, 1535). Parmigianino – Autorretrato em um espelho convexo – 1523–1524 Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a emergência da subjetividade. Contrapposto: é uma forma de representação do movimento com o corpo torcido como se a pessoa estivesse para dar o passo, ou iniciado o mesmo. Parmigianino – A visão de São Gerônimo – 1527 Parmigianino – Madona de pescoço alongado – 1534–1540 Parmigianino – Madona de pescoço alongado – 1534–1540 As distorções e desproporções (de corpos e objetos) são representadas nas obras com o mesmo valor da própria realidade objetiva, como se fosse uma declaração de que não existe apenas um valor de medida e conhecimento da realidade, mas múltiplas possibilidades de apreensão do real. Evidentemente que essa é uma postura muito distante do Monismo (Parmênides, Platão e Aristóteles), que era reinante no pensamento filosófico da época e mais próxima da Multiplicidade e da Transformação (Heráclito). Certamente, podemos muito bem argumentar que havia pouco conhecimento da doxologia de Heráclito na época e menos ainda suporte à sua visão filosófica (a justa retomada de Heráclito será apenas com Nietzsche em seu “A Filosofia na era trágica dos gregos” de 1874). Agnolo Bronzino – Pietá – 1530 O Maneirismo fará muito o gosto dos mecenas da época, sendo associada à sua apreciação (e posse) a um refinamento do gosto. Será “elegante” possuir obras maneiristas e ser capaz de admirar suas obras. Dessa forma, serão muitos os retratos produzidos da nobreza, do alto clero e dos ricos comerciantes. Os artistas maneiristas conseguiram fazer essas pessoas representadas não parecerem com pessoas comuns, mas como membros de uma classe de pessoas para além do cotidiano, como se pertencessem a uma outra realidade. Agnolo Bronzino – Cosimo I de Medici em armadura – 1545 Agnolo Bronzino – Eleonora de Toledo com seu filho Giovanni – 1544–1545 Tintoretto – Jesus no mar da Galiléia – 1575-1780 Tintoretto – Paraíso (Detalhe)– 1588 Tintoretto – Última Ceia – 1595 El Greco – Sepultamento do Conde Orgaz – 1586 Realismo: os artistas do Realismo Italiano do século XVI (não confunda com o Realismo Francês do século XIX) buscam apoio estilístico e de composição nos mestres renascentistas, mas buscam retirar a aura idealista e sagrada das representações fazendo uma deliberada opção pelo mundo cotidiano. Esse mundo cotidiano será tanto o dos camponeses quanto da emergente burguesia urbana e da nobreza cortesã. As figuras são representadas no ambiente doméstico, seja ele o da choupana camponesa ou dos salões dos mansões e palácios. Essas mesmas figuras também não posam de forma divina, heroica ou galante, mas se comportam normalmente como se não houvesse um observador julgador ou se, mesmo na presença desse, a opinião dele não tivesse nenhuma importância frente ao viver e, consequentemente, aproveitar o momento. As pessoas são representadas sem nenhum dos idealismos renascentistas e os ambientes arquitetônicos são “reformados” pelo pintor, mas são pessoas e ambientes apresentados em sua crua cotidianidade e humanidade. Essa é uma característica marcante do Gótico Tardio. A iluminação também não está a inundar todo o quatro de forma artificial, mas ela está representada mais soturna, muito carente de fontes luminosas, cheias de escuridões e penumbras. Não há uma luz especial para cada ser e objeto representado na obra, existem, quando muito, as luzes do ambiente, e todo o restante é banhado ou não por elas. Esse recurso da iluminação, permite obras com um caráter muito mais intimista e mágico. É provável que os Renascentistas Italianos tenham buscado essas influências na Europa Setentrional dos Países Baixos. Os realistas italianos do século XVI também buscam remover das pinturas as referências explícitas ao sagrado, quase como em um movimento de laicização da pintura e dos seus temas. Nelas também os seres humanos não são representados idealizados como à maneira antropocêntrica, mas eles são pintados como estão no mundo tangível. As cenas sacras são laicizadas através da incorporação de elementos do mundo tangível e a remoção das representações dos seres e elementos sagrados. Gerolamo Savoldo – Lamentação sobre o Cristo morto – 1513–1520 Gerolamo Savoldo – São Mateus – 1535 Proto-Barroco: os autores proto-barrocos, especialmente Corregio, vão desenvolver um estilo tão virtuoso e especial que pode ser considerado como um adiantamento do Barroco. Eles produziram obras onde o equilíbrio clássico renascentista é afastado completamente. Em seu lugar são representados movimentos contínuos que carregam todas as figuras da composição como um turbilhão. As figuras são reais (de carne e osso), mas conseguem se mover nos turbilhões como se a gravidade tivesse pouca, ou nenhuma, influência sobre elas. É buscado comunicar ao público que há pouca diferença entre o êxtase espiritual e o carnal, onde o corpo testemunha aquilo que acontece no espírito. Correggio – Assunção da Virgem (Catedral de Parma) – 1526–1530 Correggio – Assunção da Virgem (Catedral de Parma) – 1526–1530 Correggio – Natividade – 1530 Correggio – Júpiter e Io – 1531 Muito obrigado. Bons estudos! Prof. Heleno Licurgo do Amaral <[email protected]>
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