TCC Lister Claudio - SIGAA

Transcrição

TCC Lister Claudio - SIGAA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS HUMANAS/SOCIOLOGIA
LISTER CLAUDIO DOS SANTOS CHAVES
“TEMPO DE LIMPAR”: etnografia das queimadas no município de
Grajaú-Ma.
IMPERATRIZ-MA.
2014
LISTER CLAUDIO DOS SANTOS CHAVES
“TEMPO DE LIMPAR”: etnografia das queimadas no município de
Grajaú-Ma.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências
Humanas pela universidade Federal do Maranhão para obtenção do
Grau de Licenciado em Ciências Humanascom Habilitação em
Sociologia.
Orientador: Pr.º Mestre Emerson RubensMesquita
Almeida.
IMPERATRIZ-MA.
2014
Jousiane Leite Lima
Bibliotecária CRB 13/700
Chaves, Lister Claúdio dos Santos
“Tempo de limpar”: etnografia das queimadas no município de Grajaú-MA /
Lister Claúdio dos Santos Chaves. - Imperatriz, 2014.
64 f.
Orientador: Prof. MSc. Emerson Rubens Almeida.
Monografia (Graduação em Ciências Humanas e Sociologia) – Curso de
Licenciatura em Ciências Humanas e Sociologia, Centro de Ciências Sociais,
Saúde e Tecnologia de Imperatriz Maranhão (CCSST) / Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), 2014.
LISTER CLAUDIO DOS SANTOS CHAVES
“TEMPO DE LIMPAR”: etnografia das queimadas no município de
Grajaú-Ma.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências
Humanas pela universidade Federal do Maranhão para obtenção do
Grau de Licenciado em Ciências Humanas com Habilitação em
Sociologia.
Data da aprovação:______/_____2014
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof.º Mestre Emerson Rubens Mesquita Almeida
Orientador
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
______________________________________
Prof.ª Dr.ª Vanda Maria Leite Pantoja
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
______________________________________
Prof.º Mestre Salvador Tavares de Moura
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Resumo
O presente trabalho discute as representações dos moradores do município de Grajaú-Ma
sobre as queimadas ocorridas naquela cidade. Utilizando o método etnográfico, conforme
preconiza Malinowski (1976), bem como Geertz (1997) procura entender como essas pessoas
veem a questão do uso do fogo nessa região analisando, sobretudo as representações dos
vários segmentos sociais da cidade e comparando-os entre si. O trabalho alternou entrevistas
livres com observações de campo entre segmentos diversos, a exemplo do povo indígena
Guajajara, pequenos agricultores e seus vilarejos e ainda as grandes propriedades da região.
Sugere que a forma pela qual uma sociedade grajauense olha o fenômeno das queimadas é
fundamentalmente processual, sendo fortemente influenciada pela carga cultural que
carregam as pessoas que a praticam. Em fim, discuti proposições e indicações para futuros
trabalhos de aprofundamento da questão das queimadas, entendendo que a investigação atual
se deu em caráter exploratório e de forma incipiente pelas circunstâncias que foram
apresentadas no decorrer do trabalho.
Palavras Chaves: Queimadas; Fogo; Representações sociais; Discursos.
Abstrat
This paperdiscussesrepresentationsof the residentsof the city ofMa-on Grajaúfiresoccurred in
thatcity.Seeks to understandhow thesepeople seethe issueof theuse of firein this region.
Analyzesrepresentationsofvarious socialsegmentsof the cityand compares themwith each
other. Seeks to understandthis phenomenonby thebiasof the social sciencesin an attempt
toprovidean interpretation forthe issueof firesin that locality.Reports thetriggerthe
entiretrajectoryof thiswork amongthese social groups.Suggests thatthe wayasociety
looksgrajauensethe phenomenonof forest firesisprimarilyprocedural, beingstronglyinfluenced
byculturalloadcarryingpeoplewho practice it. Inthe end,propositionsanddiscussdirections
forfuture worktodevelop the issueof fires, understanding that the currentinvestigationwas
inexploratory andincipientlyby circumstancesthatwere presentedin this work.
Keywords: Fires; fire;Social representations; Speeches.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08
1 QUEIMADAS RURAIS. Considerações preliminares.....................................................11
1.1 O fogo nas terras indígenas do Povo Guajajara.............................................................12
1.2 Queimadas em vilarejos, fazendas e áreas de grandes empresas na Zona Rural de
Grajaú......................................................................................................................................19
1.2.1 O fogo em vilarejos........................................................................................................19
1.2.2 O fogo nas fazendas........................................................................................................22
1.2.3 O fogo nas áreas das grandes empresas.......................................................................24
2 QUEIMADAS URBANAS..................................................................................................29
2.1 Morro Branco: uma aldeia indígena Urbana.................................................................29
2.2 Observações nos bairros da Zona Urbana de Grajaú...................................................33
2.3 Dados hospitalares de pessoas doentes por causa das queimadas................................37
3 TEMPO DE LIMPAR EM GRAJAÚ: tradição ou problema social?..............................39
3.1 As diferentes representações dos moradores do município de Grajaú........................39
3.2 As diferentes representações das pessoas não indígenas...............................................43
3.3 Outras representações......................................................................................................46
3.4 Um olhar sociológico para as questões ambientais........................................................48
4 CONCLUSÃO......................................................................................................................53
REFERÊNCIAS......................................................................................................................55
APÊNDICES............................................................................................................................57
Para toda minha família, Santos chaves, minha
esposa Denise de Assunção Cantanhede Chaves e
amigos, pelo apoio e confiança.
Agradecimentos
A Meu Deus supremo.
Ao meu orientador Prof.º Mestre Emerson Rubens Mesquita Almeida, pelo empenho.
À minha Prof.ª Mestra Mônica Ribeiro Moraes de Almeida, pelo apoio especial inicial.
Ao Prof.ºMestre Ramon Luís de Santana Alcântara, pela força e paciência.
À minha esposa Denise de Assunção Cantanhede Chaves, por encarar essa luta comigo com
muito amor.Aos meus pais, Manoel Braga Chaves e Judithe Maria dos Santos, pela dedicação
e amor eterno.
Aos meus irmãos, Zacarias dos Santos Chaves e Elicardoso dos Santos Chaves, pela
consideração e apoio.
A todos os membros da família e amigos que me ajudaram nessa fase de minha vida.
A minha sogra Hildenê de Assunção, pelo apoio em todos os aspectos.
8
“TEMPO DE LIMPAR”: etnografia das queimadas no município de Grajaú-Ma.
INTRODUÇÃO
Ao chegar à cidade Grajaú-Ma, em Agosto de 2010, como estudante da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA), percebi que havia muita fumaça na atmosfera local e logo
comecei a questionar sobre a origem de tanta fumaça. Observei que as pessoas aparentemente
não se incomodavam com aquela situação, apesar de adoecerem. Os moradores atribuíam as
causas das queimadas aos pequenos agricultores (Índios e não índios). Inicialmente, acreditei
nesse discurso. Incomodado profundamente com a situação, iniciei, sem experiência e
orientação, a busca de respostas para entender a origem de tantas queimadas.
Meses depois foi aberto um seletivo para o Programa de Educação Tutorial (PET), o
qual fiz parte durante dois anos e quatro meses. O grupo PET tinha como objetivo iniciar
pesquisas de campo com os estudantes da UFMA. Isso facilitou o andamento desse trabalho, e
serviu como guia para essa pesquisa. O grupo resolveu trabalhar com questões ambientais,
tema este, que teve como importância a conservação das áreas verdes e das águas do rio que
existe na cidade (rio Grajaú). Quando apresentei o meu objeto de pesquisa ao grupo,
inicialmente, não tive apoio, pois não havia trabalhos nessa linha de pesquisa.
Coincidentemente, nesse período minha esposa começou a trabalhar como técnica de
enfermagem da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), na aldeia Mussum, que fica a
70 Km da cidade de Grajaú, na terra indígena Cana-Brava/Guajajara. Isso facilitou a minha
estadia nas aldeias. Quando iniciei a coleta de dados minha esposa me auxiliou nas
realizações das entrevistas nas aldeias. E aos poucos fui fazendo esse processo de conhecer
mais das representações desses povos sobre as queimadas. Como diz Magnani (1986):
[...] representação [...] [é] as experiências individuais decorrentes da realidade social
em que o ator está imerso, realidade esta que se apresenta sob a forma de círculo
concêntricos: família, rede de vizinhança, o bairro, categoria profissional, partido,
classe social, etc. [...] (MAGNANI, 1986, p. 139)
A SESAI disponibilizou um posto de saúde para a minha esposa se alojar e trabalhar.
Fui autorizado pelo cacique Abraão, da aldeia Mussum, a ficar alojado nesse posto de saúde
junto com ela durante o período que estivesse pesquisando. Isso possibilitou para que eu
ganhasse a confiança do cacique, Assim, foi possível um contato com outros caciques das
outras aldeias como Betel, Coquinho e Bacurizinho. Estas aldeias, com exceção da última,
9
ficam próximas uma das outras. Isso facilitou a ampliação da coleta de dados. De segunda a
quinta-feira realizava a pesquisa apenas durante o dia. Nos finais de semana e feriados,
permanecia nas aldeias por tempo integral.
Delimitei o campo de pesquisa da seguinte forma: zona rural, onde estão localizadas
as aldeias Mussum, Betel, Coquinho, Bacurizinho,vilarejos e fazendas, são áreas que ficam
afastadas da cidade e a maioria das pessoas vive da agricultura e da pecuária. E zona urbana,
onde estão localizados os grandes comércios centrais e os bairros mais desenvolvidos do
município. Desse modo, apenas como recurso didático utilizo no texto uma separação entre o
que chamei queimadas rurais e queimadas urbanas.
Não havia a princípio em minhas investidas uma metodologia clara – reitero que não
tinha nenhuma orientação preliminar – todavia à proporção que fui me introduzindo no
campo, conhecendo as falas e as pessoas, precisei me aproximar de um aporte teórico que
servisse como “chave-de-leitura” daquela realidade. Desta forma, fiz um caminho arbitrário e,
até certo ponto, contrário àqueles pensados academicamente. Primeiro fui a campo e
posteriormente reuni teoria e dados coletados. Assim, este trabalho representa essa trajetória
que tem ainda seus problemas, típicos de um neófito no campo acadêmico e no mundo da
pesquisa. No primeiro momento recebi orientações da Professora Mª. Mônica Ribeiro Moraes
de Almeida1 e posteriormente do Professor Ramon Luís de Santana Alcântara2, a quem
agradeço a ajuda inicial. Assim não foi fácil me desfazer por completo de minhas próprias
representações e preconceitos, mas creio que me encontro num ponto intermediário neste
caminho.
Após algum tempo de campo finalmente tive acesso a algumas leituras que me
direcionaram ao entendimento etnográfico. Entendi de forma inconsciente, que estava
utilizando como metodologia a etnografia, etnografia porque segundo Marcone e Presotto,
[...] consiste na observação e análise de grupos humanos considerados em sua
particularidade (frequentemente escolhidos, por razões teóricas e práticas, mas que
não se prendem de modo algum à natureza da pesquisa, entre aqueles que mais
diferem do nosso), e visando à reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de
cada um deles. (MARCONE E PRESOTTO, 1986, p. 25)
Essa metodologia foi adequada para as análises dessa pesquisa porque deu maior
possibilidade de uma aproximação da realidade desses grupos sociais. Assim, pude discutir as
1
2
Professora pós-graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão.
Professor graduado em Psicologia e pós- graduado em educação pela Universidade Federal do Maranhão.
10
diferentes formas que esses grupos veem a mesma realidade e entender como eles a
compreendem.
O presente trabalho objetiva entender as representações dos moradores da zona rural
e urbana do município de Grajaú-Maranhão, entre estes, os povos indígenas. Analisa as
representações desses povos e as compara entre si. Busca entender as causas pelo viés das
Ciências Sociais na tentativa de apresentar uma interpretação para a questão das queimadas
nessa região. Mostra a contribuição da sociologia na dinâmica do meio ambiente e realiza um
exercício comparativo, apresentando métodos utilizados em outras localidades que
contribuíram para que fosse possível que algumas práticas ambientais fossem modificadas.
Enfim, discuti proposições e indicações para futuros trabalhos de aprofundamento da questão
queimadas entendendo que a investigação atual se deu em caráter exploratório e de forma
incipiente.
11
1. QUEIMADAS RURAIS: Considerações preliminares
Este trabalho foi motivado por minha experiência negativa em relação às queimadas,
assim que cheguei à cidade de Grajaú. Por outro lado, compreendo que são múltiplos os
olhares de um único observador que está imerso, de alguma maneira, no universo social que
pretende entender. Como diz Louis Pinto (1996, p. 56)
Dizer que o sociólogo pertence ao mundo social não é uma afirmação relativista que
consiste em negar a objetividade do conhecimento sociológico: pelo contrário, é
levar em consideração a relação que ele mantém com seu objeto e pensá-lo como
uma relação social que permite revelar determinadas dimensões do objeto a ser
conhecido.
Dessa maneira, meu estranhamento ocorreu num momento em que eu mesmo estive
inserido no universo grajauense com as demandas sociais ali apresentadas. Desta forma, tento
descrever como este trabalho foi sendo construído e reconstruído conforme os olhares e
tensões do campo empírico que me possibilitou exercitar a prática que me levou a entender as
representações desses grupos sociais sem deixar o meu juízo de valor interferir nessas
observações. O iniciar do entendimento do universo representativo dessas pessoas foi um
crescimento muito significativo para minha vida como estudante.
Pensando por essa perspectiva, aos poucos comecei a entender que a forma como eu
via a realidade social não era a única forma de ver a realidade, mas era apenas uma dentre
muitas e que, todas as realidades eram socialmente construídas. Esta pesquisa teve o caráter
eminentemente exploratório, pois como já mencionei não tinha experiência. Por outro lado,
não podia perder a oportunidade de exercitar essa compreensão social e nem de realizar a
coleta de dados, já que estava em um campo tão rico.
Sendo assim, tentando empreender uma dinâmica de pesquisa, formulei um
questionário com as questões que entendia – na época – que seriam adequadas à investigação
do fenômeno das queimadas. É necessário destacar que o mesmo estava fortemente
influenciado pelo senso comum – e neste caso pelo o meu próprio – a respeito da questão da
utilização do fogo pelos segmentos entrevistados. Com auxílio das técnicas apreendidas na
academia pude relativizar o instrumento utilizado, contudo escolhi mantê-lo no escopo deste
trabalho, pois percebo que, a trajetória, que se passa desde a aplicação do questionário até a
presente interpretação, faz parte das transformações sofridas ao logo do itinerário da pesquisa.
O termo queimadas rurais que a autora Carcará (2012) cita ajuda como peça
explicativa para compreender o uso do fogo nessas áreas, e como se diferenciam das
12
queimadas da zona urbana. As queimadas rurais são as de maior incidência nessa região do
Centro Sul Maranhense segundo o Instituto Nacional de Pesquisas e Estatísticas (INPE).
Existem três tipos mais comuns de queimadas rurais: queimadas naturais, provocadas por
raios nas primeiras chuvas do ano; antropocêntrica, provocada pela ação do homem, sendo
intencional ou não, e, acidentais, provocadas por acidentes na fiação elétrica, ou, ao jogar um
resto de cigarro distraidamente nas rodovias (BR’s), estradas e etc..
1.1 O fogo nas terras indígenas do Povo Guajajara
As primeiras pessoas que tive a oportunidade de entrevistar foram das aldeias
Mussum, Betel e Coquinho, na terra Indígena Cana-Brava/Guajajara. Essas aldeias estão
localizadas na BR 226, entre Barra do Corda e Grajaú. Fiquei um período de dez meses (de
Março de 2011 a Dezembro do mesmo ano). Iniciei pela aldeia Mussum (um período de
quatro meses, de Março a Junho de 2011).
Em seguida fui para Aldeia Betel. Realizei as entrevistas durante um período de
quatro meses (Julho a Outubro 2011). Depois fui para Aldeia Coquinho, uma aldeia bem
estruturada em relação às demais, quando se refere à assistência de saúde e pavimentação de
ruas. Fiquei realizando as entrevistas nessa aldeia durante dois meses (Novembro e Dezembro
de 2011). Apesar de estar em aldeias diferentes durante esse período, o meu ponto de estadia
foi na Aldeia Mussum, por isso sempre observei essa Aldeia com maior frequência.
As informações que especificarei nesse primeiro momento são referentes as três
aldeias. Fiz dessa maneira porque a forma de usar o fogo entre essas pessoas é muito parecida.
Inicialmente tive dificuldades em desenvolver a aplicação do questionário porque os
moradores da Aldeia Mussum não se sentiam à vontade com a minha presença. Eles
demonstraram um estranhamento e se limitaram a dar informações para mim. Durante três
semanas eu tentei saber sobre seus costumes, mas eles fingiam não me entender.
Um dia pela manhã quando minha esposa foi fazer a visita de rotina eu a
acompanhei. Chegamos até uma residência que os moradores estavam assando milho em
frente à casa. Eles conversavam muito entre si em seu idioma3 e sorriam bastante também.
Minha esposa perguntou como eles estavam de saúde e a partir daí começamos a conversar.
Como forma de receptividade, eles nos ofereceram milho assado e nós aceitamos (o milho
estava sujo de terra, pois eles assam o milho com uma parte da espiga apoiada no chão) e
3
Segundo Arion Rodrigues (1989) os Guajajaras são um povo do tronco linguístico Tupi, falantes de língua
Tupi-guarani. Bilíngues, falam ainda o Português.
13
começamos a comer sem demonstrar qualquer rejeição. Eles ficaram muito satisfeitos, em
seguida uma senhora falou assim: “Vocês não tem nojo de Índio, comeu o awaxi (milho),
gosto de vocês!” (Índia Maria do Carmo 70 anos: Data 04 de Abril de 2011).
Felizes porque aceitamos comer com eles nos ofereceram um preá assado (um
pequeno roedor semelhante a um porquinho da índia) minha esposa só faltou vomitar ao ver
aquela refeição, mas não rejeitamos, pois podíamos botar tudo a perder, então aceitamos o
preá assado e guardamos na bolsa, lambendo os lábios falamos que iríamos comer em casa
aquela refeição. Assim, conseguimos escapar de comer o tal preá. Esse foi uma espécie de
“teste” para nos aceitarem como amigos. Depois desse dia todos os índios dessa aldeia
passaram a conversar conosco e levar assim que possível um animal estranho assado.
Este episódio marcou-me um rito de passagem que só me dei conta observando
retrospectivamente, pois minha ideia de refeição não incluía um animal semelhante a um
“rato”, assim em concordância com Almeida (2009) entendo que:
É no campo, diante do momento singular da atividade que, segundo Anthony Seeger
(1980), o pesquisador, envolto na especificidade de sua trajetória pessoal e teórica, de
suas condições de saúde e do contexto dado, consegue formar seu material
etnográfico. Essa atividade é exercida sobre um determinado grupo social que se
encontra num certo momento de seus próprios processos de transformação. Daí o
produto final é fruto de conjunções complexas que envolvem a subjetividade do
pesquisador e a do grupo pesquisado, mas que, segundo Claude Lévi-Strauss, deve-se
destinar ao mesmo o tratamento típico da Antropologia que “de todas as ciências [...] é
sem dúvida única, no transformar a mais íntima subjetividade em instrumento de
demonstração objetiva”.
Após o “rito do rato” tive livre acesso a quase todos os momentos da vida dos
nativos. De maneira comparativa poderia dizer que aceitar o preá foi como correr com os
nativos fugindo da polícia balinesa, na experiência vivida por Geertz (1997).
Um dia ao entardecer, na aldeia Mussum, me aproximei de um lavrador que tinha
chegado do trabalho e iniciei uma conversa com ele, falamos de vários assuntos e assim
aconteceu um diálogo informal. Em determinado momento perguntei porque ele colocava
fogo no mato, ele respondeu:
“Eu trabalho em roça e não tem como não queimar, temos que come rné! Onde já se
viu fazer roça sem queimar”? Nosso povo nos ensinaram a plantar e é isso que
sabemos fazer, se não colocar fogo, como é que vai plantar?”(Miissal4: da Aldeia
Mussum, data 04 de Abril 2011)
4
Apesar de autorizarem a divulgação de seus nomes originais, usarei nomes fictícios para a preservação da
identidade dos entrevistados.
14
A princípio me importou verificar a regularidade dos discursos frente à aplicação dos
questionários. Posteriormente, tentei cotejar essas representações com as observações
realizadas no campo. Segundo Gomes (2003), os sistemas de representação são construídos
historicamente; eles originam-se do relacionamento dos indivíduos e dos grupos sociais e, ao
mesmo tempo, regulam esse relacionamento. Relatos como esse foram muito mencionados
pelas pessoas que moram nessa aldeia.
Percebe-se que a utilização do fogo na reserva é algo bem rotineiro e faz parte do
cotidiano. Trata-se de uma prática milenar; demonstram que essa situação não os incomoda;
convivem com a emissão de fuligem de maneira tranquila. Demonstram que aprenderam
cultivar a terra para a plantação de seus alimentos dessa forma e que fazer as queimadas é
algo elementar, talvez inevitável e comum a todos. Como diz o autor: “O fato de que o
homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar
o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural” (LARAIA, 2009, p. 72).
Por isso em nenhum momento percebi, da parte deles, preocupação em inalar
fuligem das queimadas. Demonstravam tranquilidade em meio aquele fenômeno, e isso me
encorajou5 bastante, pois se eles conseguiam viver eu também poderia conseguir.
Em continuidade ao levantamento de dados continuei aplicando o questionário nas
Aldeias Mussum e Betel, aproveitando o momento em que eles se reuniam em grupos
durantes os finais das tardes para conversarem em frente as suas casas. Perguntei quando eles
usavam tratores para limpar o mato, eles responderam:
[...] Tratô é? Tem isso p’ra nós não, aqui é no fogo mesmo[...]! (Mario André da
Aldeia Mussum. Data: 18 de Abril de 2011)
Nunca vi tratô aqui não, só vi passando aí na pista! (Nonato da Aldeia Betel. Data:
18 de Abril 2011)
[...] E a terra presta p’ra pranta assim? Tem que queima antes...p’ra
fortalecer!(Mario André da Aldeia Betel. Data: 18 de Abril de 2011)
Observei que as pessoas dessas aldeias conhecem outras técnicas para a limpeza
dessas áreas usadas para a realização do plantio, mas não possuem acesso a esses meios
mecanizados. Os povos indígenas dessas aldeias, apesar de ter energia elétrica, se utilizam do
fogo durante a noite como forma de iluminação, para cozer os alimentos e se aquecer. Durante
o dia o fogo é usado também para limpeza das aldeias.
5
Estava passando mal por inalar fumaça há 5 meses.
15
As pessoas que moram nas três aldeias (Mussum, Betel e Coquinho) praticam
costumes tradicionais passados de pai para filho, valores característicos de seus grupos
familiares. As crianças da Aldeia Mussum e Betel, brincam de fazer fogueira todos os dias
durante várias vezes por dia, em tudo formam uma fogueira mantida por madeira, sandália,
plástico e tudo que pode ser consumido pelo fogo. Os moradores dessas duas Aldeias
divertem-se também, tomando banho no rio e subindo em árvores, mas durante as queimadas
pude observar a maior concentração deles contemplando o fogo, como se fosse uma sessão de
um filme. Tentei diversas vezes saber das crianças o que levavam a brincar com o fogo, mas
apenas sorriam e se afastavam correndo.
Um fator importante é o porte de objeto que produz fogo utilizado por essas pessoas.
Eles levam consigo, na cintura, um isqueiro ou fósforos. Quando um deles vai colocar fogo na
roça (área destinada à plantação), convida seus amigos para assistir o “espetáculo”6, as
mulheres, crianças e os mais próximos vão assistir. Ficam muito satisfeitos quando toda
vegetação é consumida pelo fogo sobrando apenas às cinzas, o que eles chamam de “roça é
bem queimada”.
As práticas das pessoas são semelhantes nas três Aldeias, no que se refere ao saber
colocar fogo no roçado, ou seja, essa prática é vista como sabedoria. Os homens, segundo
eles, que não são sábios realizam a roça má queimada (que não consome todos os vegetais
cortados na área destinada para o plantio). O motivo da crítica é porque depois do processo da
queima o passo seguinte é a plantação das sementes, mas quando a roça fica má queimada tem
que retirar todos os restos de vegetais (chamados de toco) aumentando assim o trabalho.
Assim, a relação com o fogo faz parte do sistema cultural desse povo, constituindo uma
importante ferramenta com diversas utilidades. Como relata o autor quanto diz que:
Cultura são sistemas (de padrões de comportamentos socialmente transmitidos) que
servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos.
[...] inclui tecnologias [...] organização econômicas, padrões de estabelecimento, de
agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por
diante (LARAIA, 2009, p. 59).
O fogo, para esse povo, é algo de tanta intimidade que é usado como se fosse uma
ferramenta inseparável de trabalho. A questão das queimadas nas matas significa algo muito
rotineiro. O fogo representa alegria e recreação. A fumaça é usada para tratar de algumas
doenças e espantar espíritos ruins. Às vezes, se protegiam da fumaça próxima, mas não se
preocupavam em inalar as grandes quantidades de fuligem lançadas na atmosfera durante o
6
O fogo consumindo todo material vegetal cortado pelo agricultor.
16
período das queimadas. O que eu via como um caos, eles viam como algo rotineiro e de certo
modo funcional.
Os moradores das três Aldeias descritas acima são semelhantes também na forma de
utilização do fogo como ferramenta, mas apesar de fazerem parte do mesmo povo possuem
suas características particulares. Os moradores da Aldeia Mussum, por exemplo,
demonstraram-se muito reservados e resistiram inicialmente em passar informações para mim,
enquanto os moradores da Aldeia Betel foram bem mais comunicativos (mas tem a questão da
informação entres as aldeias que ajudou). Já na Aldeia Coquinho a população é mais
numerosa e os moradores demonstraram-se mais reservados do que os da Aldeia Mussum, por
isso tive que fazer um trabalho mais observacional do que comunicativo. Entre os moradores
da Aldeia Coquinho não presenciei crianças utilizando o fogo como brinquedo e nem grande
números de fogueiras. Isso o diferenciava dos moradores das Aldeias Mussum e Betel. Porém,
todas eles veem as queimadas como práticas milenares em suas vidas.
Após a troca da conveniada responsável pela assistência na área da saúde nas aldeias,
minha esposa saiu do trabalho (em Abril de 2012) e voltamos para Grajaú. A aldeia
Bacurizinho fica próxima da cidade de Grajaú e como estávamos de volta a cidade preferi
continuar a pesquisa nessa aldeia que fica na terra indígena do Bacurizinho7 a 95 Km ao
nordeste do município de Grajaú, no sentido Grajaú - Formosa da Serra Negra. Fiquei apenas
dois meses nessa aldeia. Por ser próxima da cidade de Grajaú não foi preciso usar alojamento,
pois fiquei apenas durante o dia nessa aldeia.
Tive acesso a essa aldeia por intermédio de uma amiga (indígena) que mora nessa lá.
Ela nos convidou para passarmos um dia na Aldeia e conhecermos o Rio Mearim que passa
ao meio da aldeia. Assim, conhecemos toda a sua família e pude pedir apoio para realizar a
pesquisa. Todos responderam as perguntas que fiz sem questionamentos. Por esse motivo foi
mais fácil obter informações sobre esses moradores do que nas aldeias anteriores.
Outra situação favorável a essa pesquisa foi o interesse da promotoria de justiça
sobre as questões ambientais no município, que durante as visitas do promotor de justiça do
ministério público do Maranhão (Carlos Rostão), tive acesso a muitas informações que antes
não tinha, e pude auxiliar na campanha, contra as queimadas, organizada por ele e fazer coleta
de dados bem interessantes. Essa campanha do Ministério Público mobilizou autoridades dos
municípios vizinhos e das aldeias, e durante essas reuniões tive acesso para conhecer muitas
pessoas, entre elas, o chefe de departamentos e várias versões acerca das queimadas. Em um
7
Bacurizinho é o nome da terra indígena em que a aldeia (com o mesmo nome Bacurizinho, que realizei a
pesquisa) está localizada.
17
desses encontros o cacique Manoel Vieira, da aldeia do Bacurizinho, relatou que os
madeireiros são os que mais colocam fogo e desmatam nas reservas indígenas.
Quando estive na Aldeia Bacurizinho percebi que os moradores tinham um
envolvimento estreito com as pessoas não indígena da zona urbana de Grajaú. Eles relataram
também que obtinham conhecimento de outras práticas agrícolas, mas não tinham acesso a
elas. Essas pessoas demonstraram interesse pela a preservação de sua reserva e lamentaram a
devastação provocada pelos madeireiros. Os Índios relataram que muitos de seus amigos
tinham sido mortos pelos madeireiros por tentarem impedir a invasão (segundo relatos
indígenas, essas retiradas de madeira ilegal acontecem durante a noite).
O cacique demonstrou ser informado dos seus direitos e preocupado com a
preservação de sua aldeia. Explicou que as queimadas realizadas por eles são controladas e
são feitas para a realização da agricultura, pronunciou que essas queimadas contribuem para
emissão de fumaça, mas não era a principal causa. O coordenador técnico local da FUNAI,
Douglas Silva, também, relatou que os madeireiros estavam desmatando as reservas federais,
e confirmou que os Índios estavam sendo assassinados. Veja alguns relatos obtidos como
resposta quando perguntei por que eles colocavam fogo na mata.
Para plantar! Agente queima com muito cuidado aqui, mas os índios estão
morrendo de tanta fumaça que os madeireiros que colocam fogo aí, eu queria ajudá
meu filho! Mas agente não sabe para quem correr! (Seu Lucio 87 anos. Da Aldeia
Bacurizinho. Data: 25 de Abril de 2012)
Agente queima a roça para prantar, mas isso é os madeireiros. Eles estão fazendo
queimada dentro de nossa reserva e não podemos falar nada que morre, o povo da
cidade pensa que é agente! (Seu Lucio 87 anos. Da Aldeia Bacurizinho. Data: 02
de Maio de 2012)
[...] todo mundo aqui bota fogo na roça nesse tempo, mas essa fumaça ai é daqueles
assassinos, os madeireiros, entra na nossa reserva a noite e derriba nossas árvores
com máquinas e corrente, mas derruba tudo mermo, e depois volta para tocar fogo,
queima nossas casas, mata nossos índio, esse ano mataram três índios nossos e
queimaram tudo aí (cacique Manoel Vieira 89 da Aldeia Bacurizinho. Data: 23 de
Maio de 2012)
Na Aldeia Bacurizinho os indígenas apresentam um discurso diferente com relação
aos seus patrícios da Terra Cana-Brava. Quando falam que colocam fogo com cuidado e que
preservam a reserva, representa que essas pessoas veem de forma diferente a questão das
queimadas. Relataram que apesar de usarem o fogo em seus serviços agrícolas, sabiam dos
riscos que corriam.
Demonstraram também que não estão satisfeito com o que estava acontecendo em
sua reserva naquele período. O modo de vê as queimadas para essas pessoas é bem diferente
18
das pessoas das aldeias anteriores. Mas como uma herança histórica, os madeireiros não
respeitam a demarcação dessas reservas, fazendo com que essas pessoas se sintam
desrespeitadas em relação às pessoas não indígenas.
Quando perguntei por que eles não usavam máquinas para fazer a limpeza da área de
plantio, responderam assim:
Sei que tem máquina. Um tempo o governo deu umas máquina para nós trabalhar
ela escangalhô e nunca vieram ajeitar acabou enferrujando ai no mato! (Moises 70
anos da Aldeia Bacurizinho. Data: 28 de Maio de 2012)
Aqui todo mundo queima moço, sempre queimô. Essa história de máquina é só
mentira, agente não tem condição de ajeitar um negócio daquele! (Dona Zilda 36
anos da Aldeia Bacurizinho. Data: 29 de Maio de 2012)
Quem dera se eles dessem máquina nova para o índio trabalhar, mas não dão, eles
não gosta de índio. Eu estudo lá em Grajaú eles não gostam da gente não! (Carlos 24
anos da Aldeia Bacurizinho. Data: 23 de Maio de 2012)
Essas pessoas conhecem outras técnicas de preparar a terra para a agricultura e já têm
experiências com essas técnicas, mas não tiveram como manter, pelo alto custo da
manutenção que as máquinas disponibilizadas exigiram para eles.
A aldeia Bacurizinho tem a estrutura de “um bairro”, as pessoas vivem da agricultura
e muitos estudam e trabalham na zona urbana do município de Grajaú. Nos finais de semana
fazem suas compras nos supermercados da cidade e vivem como as demais pessoas não
indígenas. Utilizando-se da língua materna Tupi-Guarani. Assim, os costumes e tradições
deixados pelos seus ancestrais são passados para seus descendentes. Eles também aprendem a
falar o Português de forma influente através das escolas instaladas na aldeia. Utilizam-se do
fogo para fazer limpeza da roça e queimar o lixo e limpeza da área onde moram (não há coleta
de lixo nas aldeias que visitei). Não presenciei o fogo sendo utilizado para outro fim que não
fosse como uma ferramenta de trabalho. Demonstraram-se incomodados com as queimadas de
grandes proporções e veem com importância à preservação da vegetação em sua reserva.
A forma de brincar entre as crianças é bem diferente das aldeias anteriores. As
crianças brincam de tomar banho no rio, correr, jogar bola, subir em árvore, dançar funk e
outras músicas eletrônicas e lutar capoeira. Não há brincadeira com fogo nessa aldeia
também. Esses moradores realizam plantações em sua terra, eles não praticam agricultura
apenas em locais que precisam ser desmatados, pois a sua terra é usada como um local
permanente de cultivo de seus alimentos. Todos têm acesso à energia elétrica e quase todos
possuem televisão. A maioria das casas é feita de barro (taipa) e coberta com telhas.
19
As representações acerca do uso do fogo nestas aldeias estão relacionadas às
tradições passadas através das gerações. As explicações para o uso do fogo são simples,
porém esclarecedoras: “sempre foi assim”. Este tempo imemorial está ligado à técnica, isto é
ao aprender fazendo. O fim último não é a queima por queimar, o fogo estaria sempre
associado a uma utilidade, a principal delas é a limpeza do terreno para preparar o plantio.
Daí, algumas perguntas que fiz baseadas em minhas próprias representações, entre elas uma
“pretensa” consciência ambiental eram ridicularizadas pelos meus interlocutores. “Se eu não
queimar como vou plantar?”.
Por outro lado, há clara disputa territorial quando se trata de madeireiros e outros
invasores nas terras indígenas. Neste caso o fogo torna-se um elemento de disputa e conflito.
Quem queima e como queima determina sua condição de “vilão” na disputa pelos bens
contidos na terra indígena.
1.2 Queimadas em vilarejos, fazendas e áreas de grandes empresas na zona rural de
Grajaú.
Nesse subcapítulo falo das pessoas não indígenas e suas relações com a temática em
pauta. Neste espaço social a dinâmica foi bem diferente porque as pessoas não precisaram me
conhecer para falar sobre as queimadas, são pessoas que discutem abertamente essa questão.
Muitos pensaram que eu trabalhava na prefeitura e perguntaram o que eu estava fazendo. Ao
me identificar eles demonstraram descrédito na possibilidade de modificar aquela realidade,
dizendo que aquela situação não tinha jeito porque as queimadas são algo que não tem como
saber as causas. Fiquei pesquisando nessas áreas de Julho de 2012 a Dezembro do mesmo
ano.
1.2.1 O fogo em vilarejos.
Observei que os moradores, não indígenas, que vivem próximos dessa aldeia,
colocavam fogo nas matas com mais frequência do que os Índios. Eles queimam pelos
mesmos motivos, para limpeza da área usada para plantio, para limpar seus terrenos e para
eliminar o lixo. Essas pessoas têm o conhecimento de outras técnicas de limpeza da área de
trabalho agrícola, mas não têm o acesso a essas técnicas também. Em seu discurso dizem que
veem às queimadas como algo prejudicial à natureza, mas ainda assim fazem por necessidade.
Limpeza do lixo como madeira, folhas, sacos e restos de roupas, é feita através das
20
queimadas, porque também não há coleta de lixo nessas áreas do município. Durante as tardes
muitos focos de incêndio foram avistados provenientes da queima desse lixo. Ao perguntar se
eles não sabiam que aquela fumaça fazia mal para saúde e senão era possível conseguir um
trator para fazer essa limpeza, eles responderam assim:
Eu sei que as queimada faz mal, mas nós não tem outro jeito, tem que ser manual!
(João da Cruz Alves de Araújo 58 anos povoado do Sabonete. Data: 03 de Julho de
2012).
Tem que queimar, né moço? Como é que vamos plantar? Esse negocio de trator não
é para nosso bico não, todo mundo queima aqui. O negócio é que não tem o que
fazer e ficam falando essas coisas de natureza, NÃO DÁ EMPREGO agora não quer
deixar a gente plantar também? (Gonçalo junta 50 anos povoado do Sabonete. Data:
19 de Julho de 2012)
Os agricultores desta região têm uma representação negativa de sua condição
econômica, porque se acham atrasados em relação aos moradores da cidade8. Mesmo tendo
conhecimento de outros meio de trabalho sem ser a agricultura, relataram que fazem tal
atividade por falta de opção. Essa representação são resultados quem vem a reboque da ideia
de “desenvolvimento” nos moldes capitalistas, que associa à conquista de um emprego uma
colocação positiva na sociedade da região. No que se refere às queimadas demonstram
permanecer com a tradicional forma de limpeza, a utilização de maquinário é uma realidade
muito distante para eles, “coisa de rico”.
Alguns argumentaram que, “o legume só nasce vigoroso se queimar a terra. Quando
o arroz é plantado em uma roça nova quemadinha, o arroz nasce verdinho, tem que queimar
para dá força”! (Maria do povoado do Sabonete. Data: 16 de Julho de 2012). Percebe-se
nesse relato a existência de uma crença entre essas pessoas, que queimando a área para
plantar, o solo fica mais forte e o capim nasce mais verde. Especialistas como Carcará9
explicam que pode acontecer um processo inverso.
O ato de queimar é negativo do ponto de vista agrícola, uma vez que o solo perde
nutriente e os microrganismos que garantem a fertilidade. Dessa forma, a fina
camada da superfície do solo fica empobrecida e, no decorrer de consecutivos
plantios, a situação se agrava gradativamente resultando na infertilidade da área [...]
(CARCARÁ, 2012, p. 31)
8
Pela idéia de desenvolvimento produzidos pelo meio empresarial
Em sua dissertação de mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFP). Linha de pesquisa na área de Políticas Públicas e
Desenvolvimento.
9
21
Esta autora trabalha a questão da preservação ambiental e aborda as queimadas como
problema de sua pesquisa. Durante seu trabalho realizou análise física e química do solo
queimado. Afirma que as queimadas empobrecem o solo e não enriquece como muitos
pensam, na região onde a pesquisa foi realizada.
Segundo relatos dos agricultores, esse tipo de cultivo em roça é feito em média, duas
vezes no mesmo local e depois o local é abandonado. Eles acreditam que devem mudar de
lugar porque criou mato demais na roça ou simplesmente é hora de mudar “virou capoeira”
(como eles se referem a esses lugares pobres em nutrientes) eles não têm uma explicação para
essa espécie de nomadismo agrícola10, explicam esse fenômeno pela tradição. O fazem como
seus ancestrais faziam. Isso demonstra que não atribuem o empobrecimento precoce do solo
as queimadas e que desconhecem todo efeito negativo das mesmas na agricultura. Acreditam
que o empobrecimento origina-se de um “cansaço do solo”. Isto é, séculos de tradição
agrícolas trouxeram o conhecimento que, deixar a terra “descansar”, faz com que ela
recupere-se.
Os discursos de muitas mulheres nesses vilarejos foram diferentes em relação aos
dos homens. Veja esses relatos.
Agente tem que limpa a casa toda hora por causa da cinza, esse período é assim
(Maria de Lurdes 27 anos) [...] a casa da gente fica toda suja, olha! (Celia 22 anos
do povoado Remanço. Data:15 de Agosto de 2012)
Eu nem me importo mais moço com esse fogo e nem com a sujeira da casa eu não
vou ficar doida! (Daniela Oliveira, 50 anos do povoado próximo do Alto Brasil.
Data: 15 de Agosto de 2012)
Essas mulheres não demonstraram preocupação com a questão da fuligem que
empobrecem o ar, em quantidade necessária de oxigênio para a respiração. Elas demonstram
incômodo com a sujeira deixada pelas cinzas e medo de morrerem queimadas pelo excesso de
fogo próximo de suas casas, que são cobertas com palhas, mas não se demonstraram
incomodadas com a emissão de fumaça a qual estão submetidas.
As pessoas que moram na zona rural geralmente moram em áreas grandes, essas
áreas são limpas com o fogo. Existem terrenos muito grandes que anualmente são queimados
para a manutenção dessa limpeza. Na zona rural do município de Grajaú a agricultura de
subsistência é praticada dessa forma pela a grande maioria dos agricultores. Quando arguidos
sobre outras formas de limpeza alegam não conhecerem ou não ter acesso às técnicas
10
Mudança do local de plantação. Continuam morando no mesmo lugar, porém muda-se apenas o local de
trabalho agrícola.
22
agrícolas mecanizadas. A política governamental ainda não fez uma implantação definitiva
dessas técnicas no município, com isso (até a data 09 de 2012), as queimadas eram a única
forma ao alcance dos agricultores observados. A esse respeito a autora fala que:
[...] a agricultura, antes de ser uma atividade essencialmente econômica, é uma
atividade também cultural e, mais do que processos naturais, trata-se
fundamentalmente de processos socioculturais de uma construção humana, sendo
fortemente influenciada pela carga cultural que carregam os indivíduos que praticam
(CARCARÁ, 2012, p. 30)
Dentre as atividades praticadas na agricultura as queimadas são uma herança que
persiste até os dias atuais nessas localidades. Por ser uma realidade cultural, as pessoas que
habitam nesses locais não veem como um problema, mas como um fenômeno natural que
acontece nessa data do ano. Desse modo, os problemas respiratórios que afetam a todos
provocados pela fumaça das queimadas são atribuídos apenas à mudança do tempo (como eles
se referem à mudança das estações do ano). A senhora Ilda Martins fez o seguinte comentário:
“a mudança do tempo faz todo mundo gripar, é assim mesmo meu filho!” (Ilda Martins do
Alto Brasil. Data: 23 de Julho de 2012)
Assim como dona Ilda, muitos associam os problemas de saúde provenientes da
fumaça das queimadas às mudanças climáticas. Todos apresentam problema respiratório e
desenvolvem gripes, mas esperam a cura no passar dos dias.
O tempo seria então, na visão da maioria dos moradores, o responsável inclusive por
trazer e levar o fogo. Este seria um fenômeno semelhante à chuva, que tem tempo certo para
chegar e ir embora. Aliás, a chegada de um seria a antítese do outro. Desta forma, as pessoas
não estariam preocupadas com o fogo, exceto quando esse atinge de forma direta um
indivíduo ou propriedade, a exemplo do fogo que invade uma fazenda e queima a sede ou
coisa parecida. Daí é comum ouvir a expressão entre os agricultores e mesmo entre os índios
que entrevistei que “é tempo de limpar”. Isto é: é tempo de queimar, tempo de usar o fogo
como instrumento de limpeza e preparação do terreno para o plantio, ou mesmo para limpar a
sujeira deixada para trás pelo próprio homem.
1.2.2 O fogo nas fazendas.
Foi neste campo específico que percebi que a dimensão do fenômeno queimada era
bem maior que eu imaginava. Foi a partir desse momento que minha concepção começou a
modificar-se sobre as representações de cada grupo social sobre as queimadas.
23
Grajaú contém muitas fazendas de gado bovino, a história do município está
relacionada com expansão da criação do gado bovino. O processo de derrubada para abertura
de pastagens torna os criadores de gado grandes usuários do fogo nessa região. Esses
fazendeiros ocupam as áreas já desmatadas, por eles próprios ou terceiros, e através das
queimadas realizam a limpeza da área do pasto. Por serem muitas fazendas no município há
um destaque em queimadas nessas áreas. O município tem sua história marcada pela pecuária,
povos que vieram do litoral do Estado de Pernambuco, Bahia e outros lugares, migraram para
o sul do Maranhão a procura de grandes áreas para criação do gado, por causa do crescimento
populacional nessas regiões litorâneas, e até os dias atuais observa-se a grande quantidade de
criadouros de gado bovino nessa região do Estado. A autora explica que:
Expandindo-se noutra direção, sempre acompanhando os campos naturais contínuos,
a frente de vaqueiros ocupou, no início do século XIX, as dilatadas pastagens
regadas pelo Rio Grajaú, onde foram instaladas inúmeras fazendas [...] (CABRAL,
1992, p. 118)
A queimada é praticada por todos os donos de fazendas (me refiro a todos da área
pesquisada). Explicam que, o investimento em medicação, para controle das pragas, é muito
alto e difícil, por isso é mais acessível usar o fogo. Os fazendeiros demonstraram certo
conhecimento acerca da relação do uso do fogo e o meio ambiente, no entanto, tendo
prioridades econômicas aproveitam enquanto não há fiscalização. Muitos fazendeiros não
residem em Grajaú, são de outros estados. Ateiam fogo deliberadamente nos pastos no
período em que os agricultores colocam fogo nas roças, aproveitando-se dessa cultura na
região para não serem notados. Nos relatos a seguir estas intenções ficam mais claras:
[...] aqui é terra sem fiscalização, todo mundo faz o que quer. A gente aproveita né!
Mas daqui a pouco não pode mais fazer isso [...] (fazendeiro Luis Lopes 57 anos.
Data: 06 de Setembro de 2012)
Se eu for comprar remédio para cuidar do gado, mais ante procurar outro ramo p’ra
viver porque é caro não tem condição não, esses carrapatos são uma peste [...]
queimando acaba com as praga tudo. Mas essa fumaceira não é desse foguinho feito
aqui não, é de gente grande! (Dono de fazenda Felipe Bourma. Data: 10 de
Setembro de 2012)
Demonstram representações diferentes entre os interlocutores. Isto é, entre
fazendeiros, geralmente não nascidos no município e os nativos de Grajaú nota-se uma
dissimulação dos primeiros sobre os costumes culturais praticados pelos segundos. Os
fazendeiros praticam as queimadas em pastos desde quando chegaram à região (há dois
24
séculos). Hoje, eles mencionam possíveis males que as queimadas podem causar, motivados
pelo discurso de preservação ambiental amplamente midiatizado. Desse modo, alegam que há
uma causa maior de queimadas, que não é provocada por eles, e sim por alguém com maior
poder econômico. Conclui-se que boa parte dos fazendeiros não partilha da cultura local,
sendo assim o recurso da queimada uma forma mais barata de investimento. Para os
trabalhadores das fazendas as queimadas são parte inerente aos seus costumes.
A tradição das queimadas, mais que isso, a relação com o fogo é considerado algo
rotineiro para os trabalhadores nascidos no município.Vocês não se sentem mal com essa
fumaça?Perguntei em determinada ocasião aos trabalhadores de uma fazenda. Obtive a
seguinte resposta: “Faz mal nada, toda minha família viveu assim e só morre de velho, isso é
porque eles só querem pra eles!” (Ormilo Vaqueiro. Data: 11 de Setembro de 2012).
A longevidade familiar funciona neste caso como um “atestado” de inofencividade
da fumaça. O fogo teria ainda propriedades terapêutica e preventiva contra pragas:“Eu
trabalho nessa fazenda há dez anos, quando agente não bota fogo gera tanto carrapato, por
isso agente coloca fogo pra matartodo carrapato!” (Carlos Diniz vaqueiro. Data: 14 de
setembro de 2012). E ainda contra ervas daninhas, “Essa capoeira não deixa o mato do pasto
nascer bonito, nós dá uma limpeza com o fogo aí nasce o mato bonito, bom para o gado!”
(Miguel 25 anos. Data: 17 de Setembro de 2012).
Desse modo, compreende-se uma relação naturalizada com o fogo. Os trabalhadores
das fazendas reagem como os pequenos agricultores que residem no município. O primeiro
relato tem um trecho que diz “[...] eles só querem para eles [...]”, que foi muito repetido
entre as pessoas entrevistadas nesse grupo. Esta frase refere-se ao estado de luta pelo domínio
das terras, latente na região. Daí percebe-se que há certa reprovação por parte de pequenos
produtores com relação às práticas das grandes fazendas, embora todas utilizem do fogo como
principal instrumento de limpeza das pastagens.
1.2.3 O fogo nas áreas das grandes empresas
Conhecer as empresas que estão instaladas no município foi um impulso inevitável
em minha pesquisa, sobretudo após ter tido contato com os fazendeiros e suas reclamações,
pois até aquele momento não havia considerado essa possibilidade. A princípio ignorei a
indústria na região, mas depois que fiz uma rápida busca e observei que existem empresas
como madeireiras, empresas de gesso, carvoarias, plantadoras de eucalipto e soja envolvidos
nas queimadas na região pesquisada, mudei completamente minha concepção inicial. Estas
25
fazem o que chamam de parceria para a realização do desmatamento. Tive assim a
oportunidade de testemunhar como o processo de realiza.
Primeiramente os plantadores de eucalipto e soja usam tratores em dupla com uma
corrente entre eles, para derrubar toda vegetação, esse processo é realizado em áreas
gigantescas. Depois da derrubada esperam o período das queimadas das roças do pequeno
agricultor para pegarem uma espécie de “carona” para o processo ser realizado sem que as
pessoas notem. Em seguida, as empresas de gesso e as carvoeiras, entram em cena para retirar
toda madeira fina, pois a madeira grossa é retirada pelos madeireiros, ainda verde, antes da
derrubada, por fim deixam a área sem vegetação. Os plantadores de eucalipto entram depois
para preparar a terra para o plantio da vegetação. Neste seguimento, consegui alguns relatos
entre os trabalhadores como, por exemplo, carvoeiros.
Eu não sou daqui não, sou de Amarante, vim para cá para trabalhar aqui [...] esses
forno é quente que as vezes eu passo mal. Agente pega essa lenha no mato, o trator
passa derrubando, depois queima e nós ajunta e coloca no jerico, traz para cá e corta
de manchado todinha, aí amontoa ali e vai colocando no forno de porquinho [...]Dia
de segunda e terça nós vamos atrás de lenha em todo lugar. O patrão arranja lenha
nas terras dos outro. Gente que faz derrubada e não quer a lenha, eles ajeita para
gente. É difícil agente botar fogo no mato porque a gente consegue mais é assim
com os outros![...] Eu gosto de trabalhar aqui, tô empregado né! Melhor que ficar na
juquira, o cara tem que crescer! (Donisete Galha 35 anos, trabalhador de uma
carvoaria. Data: 25 de Setembro de 2012)
Rapaz isso é complicado, essa fumaça não é disso aqui não, essa fumaça que tá aí
aparece nesse tempo de junho pra Novembro, e nosso trabalho é direto. Se fosse a
gente a fumaça estaria direto aí! A gente consegue essa madeira negociando com
outros donos de terras para nos vender a madeira. O jeito agora é parceria. Tem as
fabricas de gesso que disputa essa madeira e com agente [...] Comecei aqui como
ajudante, hoje sou o chefe da turma aqui! (Nilton, 57 anos, encarregado de uma
carvoaria. Data: 26 de Setembro de 2012)
Essas pessoas, em sua maioria, não são moradoras de Grajaú, são de outros
municípios próximos, eles saem de suas terras de origem a procura de melhores condições de
vida. Percebe-se a influência forte da agricultura industrial proveniente do “desenvolvimento”
presente no discurso desses trabalhadores. O que prevalece nesses grupos não é o trabalho
para a sobrevivência apenas, mas o crescimento dos requisitos curricular. Despertando assim,
o desejo de crescimento em experiência e especialização em uma área, visando assim o fim do
desemprego.
Constata-se que a extração de gesso figura como a principal fonte econômica do
município de Grajaú. Agricultura e a criação de gado figuram como coadjuvantes na
economia do município, enquanto a produção de gesso é segunda maior do Brasil, perdendo
apenas para Estado de Pernambuco. Além das queimadas, existem outros fenômenos causados
26
por essas pessoas ao solo, que são as escavações provocadas pelas garimpagens do minério de
gesso, a gipsita, assim enormes crateras estão sendo formadas no município. Veja esses
relatos.
Na verdade essa fumaça que está sendo emitida aí vem em grande quantidade dos
catadores de madeiras para fábricas de gesso, eles fazem o processo de calcinação
do gesso utilizando a madeira. Eles derrubam com máquinas grandes áreas de matas
esperam secar um pouco e nesse período queimam para depois cortarem a madeira
que fica. Eles não deixam secar muito não sabe, porque a madeira um pouco verde o
fogo não consome toda e é melhor para trabalhar porque custa mais ser consumida
pelo fogo no forno da fábrica. Olha, pode acreditar, eu trabalho combatendo
incêndio aqui há cinco anos e os que mais queimam sãos donos de fabrica de
gesso! (Tarceis Rego 39 anos, trabalha no PREVFOGO11. Data: 10 de Outubro de
2012)
O Grajaúzão tá desenvolvendo, essa empresa que trabalho é muito rica eu gosto
muito daqui. Tuvê essa área aí se fosse tirada na foice como antigamente, agente
passava um ano p’ra terminar, eles coloca trator do lado do outro com uma corrente
no meio e sai, cara é muito rápido para limpar. Quando vão tocar fogo agente não
pode fica aqui de tanta fumaça e quentura. Depois de uns dia tá tudo limpo. Os
donos de carvoaria e os donos de fábrica de gesso fazem a limpeza dos galhos que
ficam, eles só faltam se matarem por esses galhos que ficam. É depois que planta o
eucalipto! (Moano Marcos 27 anos, trabalhador de uma empresa que planta
Eucalípto para Suzano.Data: 26 de Setembro de 2012)
Trabalhadores das empresas de gesso estão presentes em toda área rural fazendo a
coleta de madeira para levar para a zona periurbana porque nessas localidades ficam
instaladas as fábricas de gesso (em volta da cidade). É importante enfatizar que, durante a
pesquisa, observei que os empresários que trabalham com o gesso são os que mais desmatam
e provocam as queimadas no município. Seu envolvimento, no entanto, com o desmatamento
é discreto, uma vez o que processo é realizado no dito sistema de parcerias, entre os quais
estão os plantadores de eucalipto e soja que realizam derrubadas para a retirada da madeira
para queimar. As fábricas de gesso são movidas a lenha retirada das derrubadas destes
parceiros. Destaca-se que as fábricas de gesso são uma forte fonte de emprego dos moradores
da zona urbana de Grajaú.
Como destacamos, um dos parceiros das fábricas de gesso são as fazendas de
eucalipto. Nestas as queimadas também são utilizadas para limpar essas grandes áreas
destinadas de plantação. Há uma preparação da terra logo após as queimadas. Essas áreas são
tão imensas que foi impossível eu ter o tamanho exato para descrevê-las. Do mesmo modo,
encontramos processos de preparação de terra semelhantes entre os sojeiros:
11
Centro nacional de prevenção e combate a incêndios florestais – prevfogo. Equipe de profissionais especialistas
em apagar incêndios florestais ou de qualquer natureza.
27
[...] estamos lutando para termos a maior plantação de soja do Brasil, a terra aqui
para a plantação de soja é muito boa. Essa fumaceira aí é esse povo colocando fogo
aí, não é nós não! (Quetilo Freito 50 anos, dono de plantações de soja. Data: 16 de
Outubro de 2012)
O processo se repete com os empresários plantadores de soja, que fazem como os
plantadores de eucalipto, ou seja, o desmatamento é praticado de forma muito mais intensa
por esses empreendimentos. Esses empresários têm plena consciência do que estão
praticando, essas pessoas donas de empresas, se aproveitam dessa configuração do município
para explorar a matéria prima e se utilizarem dos meios mais baratos. A maioria é de outros
estados do Brasil como Rio Grande do Sul, Goiânia, São Paulo, Mato Grosso do Sul e outros.
Segundo Layrargues (2010) o uso incorreto dos recursos naturais acarreta
degradação ambiental, não só por causa do desconhecimento dos aspectos ecológicos e
tecnológicos, mas também por causa da ganância individual de determinados agentes sociais
na exploração do recurso natural a fim de obter ganhos monetários em curto prazo,
maximizando uma atividade produtiva, por causa da incorreta percepção do censo comum de
que o patrimônio ambiental não deve ser tratado como um bem da coletividade, mais sim
como um bem individual. Como também relata a autora Penteado:
Em sociedades como a nossa, cuja vida econômica se orienta pelo sistema capitalista
de produção, toda esta forma de organização empresarial visa alcançar a maior
produção possível, com os menores gastos, para obtenção do maior lucro imediato.
(PENTEADO, 2010, p. 26)
Essa situação se propaga no município de forma silenciosa através do discurso
otimista de desenvolvimento da cidade, assim levam todos os recursos naturais da região
como madeira, gesso, para fora do Estado do Maranhão para o enriquecimento privados.
Iniciei a pesquisa com um pensamento, mas no decorrer dos dias fui percebendo que
não era como eu imaginava. O PET contribuiu na construção de um olhar de pesquisador.
Pois, eu esperava ver uma causa em relação às queimadas e vi que há diversas causas e muitos
ainda não têm consciência do que está acontecendo no município12.
Percebe-se que as queimadas na zona rural têm diversas causas e é notável que o
município esteja passando por um processo de “desenvolvimento industrial” que compromete
a biodiversidade. Como podemos perceber também muito mais grave do que o “arcadismo
12
Refiro-me a consciência do processo de industrialização que o município de Grajaú está passando, pois muitos
atribuem as queimadas apenas aos indígenas e pequenos agricultores.
28
agrícola”13 é o “modernismo” industrial capitalista. Os agricultores estão inseridos como os
principais causadores das queimadas, e na região observada, mas podemos ver que esse é o
menor dos problemas. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa e Estatísticas (INPE) houve
um aumento de queimadas nos últimos 10 anos, dentre as pessoas que moram no município, a
maioria não percebe, porém para os estrangeiros esse contraste no ambiente é notório.
Deste modo, entendemos que o papel do empresariado grajauense tem se mostrado
determinante para o fenômeno que estou chamando de queimada. Os dados sobre as
queimadas coincidem com o dito desenvolvimento econômico do município. Almeida (2007)
apresenta um balanço dos processos de desenvolvimento ligados, sobretudo a grandes
projetos14 econômicos, em seu texto Grajaú aparece já no intervalo de 1995 à 2005 numa
ascendente com relação a produção de carvão vegetal, figurando em terceiro lugar entre os
maiores produtores deste segmento no Maranhão.
Como já destaquei é possível relacionar o silêncio acerca da emissão de fumaça por
esses produtores, com a ideia vigente e naturalizada de que “sempre foi assim”, sempre houve
queimadas, conforme os afirmam os moradores de Grajaú. Do mesmo modo, os empregos
gerados pelas indústrias da região ajudam no obscurecimento da relação dos grandes projetos
com o meio ambiente local. Neste caso, os aspectos culturais da população de Grajaú são –
como já mencionei – dissimulados pelo empresariado em seu benefício. Mesmo sendo
detentores de meios financeiros e tecnológicos para empreender suas atividades econômicas,
utilizam-se deliberadamente das queimadas por ser um maio mais barato. Incorporam
discursos tradicionais locais que ajudam a proliferar um acordo tácito sobre os usos do fogo
no município.
13
Em relação ao uso de maquinário na agricultura mas modernas em muitas regiões, o uso do fogo na agricultura
é visto como uma forma arcaica.
14
[...] empreendimentos de grande porte, geralmente relacionados com atividades industriais básicas localizadas
nos setores minerais, de produção de energia e de obras de infra-estrutura [...] um Grande Projeto diz respeito ao
fato de que eles necessitam de um volume muito levado de recursos financeiros, que se concretizam na
realização de um investimento que é muito concentrado no tempo e espaço, causando geralmente modificações
profundas no meio-ambiente e promovendo o deslocamento de populações locais (CARNEIRO: 1999, p. 06).
29
2. QUEIMADAS URBANAS
Nesse capítulo analiso as queimadas na zona urbana de Grajaú. Investigo os motivos
que levam os moradores da zona urbana a usarem o fogo como acessório no cotidiano
também. Questiono o que leva essas pessoas, que moram em uma área não agrícola,
utilizarem tantas queimadas. Comparo os registros, feitos nos hospitais do município, das
pessoas que adoeceram no ano de 2011 e 2012 por problemas respiratórios no período das
queimadas e como os moradores da zona urbana de Grajaú veem essa questão.
2.1 Morro Branco: uma aldeia indígena urbana.
Existe uma aldeia chamada Morro Branco na zona urbana de Grajaú, onde resolvi
continuar as observações por essa aldeia. A aldeia fica situada dentro da Terra Indígena de
mesmo nome e soma 49 hectares, segundo dados da FUNAI.
Ao chegar à Aldeia Morro Branco, em 12 de Fevereiro de 2013, procurei o cacique
Rômulo para pedir autorização para realizar as entrevistas. Eu me identifiquei como estudante
e fui autorizado a permanecer na aldeia o quanto eu precisasse. Passei uma manhã em uma
escola, que fica dentro dessa aldeia. Observei que os professores eram todos indígenas assim
como os zeladores e as cozinheiras. As crianças moravam ao redor da escola e falavam muito
bem a língua portuguesa. Muitos moradores dessa aldeia trabalham na prefeitura de Grajaú,
nos comércios e outros serviços na cidade.
Demonstraram-se dispostos a conversar e curiosos em saber o motivo da visita.
Havia, no entanto, certa tensão no que se refere aos postos de trabalho ocupados por eles,
porque se preocupavam em perder vagas de trabalho para as pessoas não indígenas. Quando
perguntei ao cacique como funcionavam as instituições existentes na aldeia, ele me respondeu
da seguinte forma:
Aqui agente não aceita homem branco tomar a vaga de Índio na aldeia, agente só
quer os Índios trabalhando aqui. De primeiro o Índio não era enfermeiro nem
professor aí o homem branco fazia porque nós não sabia fazer, mas agora nós
sabemos. Lá no trabalho do branco o Índio não tem muita chance, aqui também não
queremos eles. Só quando a gente não sabe agente deixa com eles [...] (Cacique
Rômulo da Aldeia Morro Branco. Data: 13 de Fevereiro de 2013)
Segundo relatos dos moradores, as funções como enfermeiro, professor, agente de
saúde eram ocupadas por pessoas não indígenas que, na maioria das vezes, não prestavam um
bom atendimento e mudavam constantemente de posto de serviço, tendo que sair da aldeia.
30
Os membros do povo Tentehar não gostaram dessa mudança constante, procuraram manter
as mesmas pessoas trabalhando nas funções por mais tempo, mas esses profissionais foram
removidos mesmo assim. Sentindo-se prejudicados, resolveram aprender todas as funções e
ocupar essas vagas de trabalho.
É importante enfatizar que nas áreas indígenas dessa região acontecem constantes
conflitos, quando se refere à vaga de trabalho, pois os povos indígenas lutam para ocupar
todas as funções existentes nas aldeias. Por outro lado, as pessoas não indígenas preferem
trabalhar nas aldeias por essas pagarem melhores salários. Esses são alguns motivos para que
haja essa disputa por vagas de trabalho nessas regiões.
A aldeia Morro Branco não tem estrutura básica de pavimentação como asfalto e
esgoto, por outro lado há energia elétrica e água encanada em todas as residências. Existem
pequenos comércios na aldeia, no entanto, a grande maioria dos produtos alimentícios e
outros produtos são negociados nos supermercados no centro da cidade de Grajaú. Os
moradores da Aldeia Morro Branco, engrossam a massa de indivíduos da cidade de Grajaú
que movimenta a economia do município como agricultores, comerciantes, funcionários das
empresas de gesso, professores, técnicos em enfermagem entre outras funções.
Eles trabalham nessas funções fora da área demarcada de seu território por diversos
fatores, entre eles, a localização da aldeia na área urbana propicia a relação com outras
culturas e o tamanho reduzido da Terra Indígena. Os Índios dessa região têm uma relação com
a terra muito diferente do que somos acostumados a ver na cultura das pessoas não indígena
no meio urbano, pois a confiança deles não é centrada no trabalho de carteira assinada em
empresas, em formação em universidades e nem aprovação em concursos. Eles confiam nas
produções de suas terras. A garantia de vida para esses indígenas são as terras onde eles
cultivam seus alimentos.
A relação com a terra, todavia, é prejudicada pelo tamanho reduzido desta Terra
Indígena. A prática de agricultora, por exemplo, é organizada em diversos casos nas terras dos
parentes indígenas mais próximos, a exemplo da Terra Bacurizinho. Por outro, lado a
impossibilidade de sustentar-se somente dos produtos da terra faz com que muitos procurem
empregos fora da aldeia, e, principalmente em trabalhos relacionados aos empreendimentos já
citados: fábricas de gesso, carvoarias entre outros.
No dia 14 de Março iniciei as entrevistas nas residências. Comecei pela casa de um
senhor chamado Gonçalo, de 70 anos, que gostava de passar as tardes na frente de sua casa.
Apresentei-me e conversamos diversos assuntos. Perguntei a seu Gonçalo o que ele achava
dessas queimadas nessa época do ano, ele respondeu: “Normal! Sempre foi assim. Nessa
31
época de seca o mato fica fácil de pegar fogo e quando os trabalhadores vão colocar fogo na
roça passa para a mata aí não tem quem apague...!” (Gonçalo. Data: 13 de Fevereiro de
2013)
É muito comum acontecer esse tipo de queimadas fora das áreas planejadas para
queimar, porque o tempo encontra-se seco propiciando o alastramento do fogo nas matas
nesse período do ano. Perguntei se ele trabalhava na agricultura. Ele disse:“Minha vida toda...
Hoje me aposentei, mas planto aqui no fundo do meu quintal...! (Gonçalo, de 70 anos. 13 de
Fevereiro de 2013)” Quando perguntei se ele utilizava o fogo para queimar os vegetais da
área que ele utiliza para cultivar a agricultura, ele confirmou: “Coloco! Capino na enxada e
depois coloco fogo no mato...!”
Assim como seu Gonçalo muitos dos que vivem nessa aldeia utilizam-se de
pequenos cultivos agrícolas nos fundos de seus terrenos e a relação com o fogo está presente
nessas práticas. Eles utilizam o fogo para consumir todo lixo que retiram de suas casas
(porque não havia coleta de lixo nessa aldeia). A época das queimadas é conhecida como a
época de limpar. Os Tentehar não sabem dizer com exatidão quando começou a época de
limpar, fazem referências a tempos imemoriais.
Em termos reflexivos poderíamos recorrer a História de outros povos indígenas que
há milhares de anos utilizam-se do fogo para limpar as áreas de cultivo agrícola. Segundo
Gendrop (2002), essa prática data de 2500 anos a. C. Nesse período os povos indígenas Maias
já se utilizavam do fogo como instrumento. Nessa obra ele relata que:
Tudo isso contribui, pois para ampliar as possibilidades agrícolas, geralmente
limitadas apenas às müpas (campos de milhos), tradicionalmente explorados pelo
sistema de cultura extensivo e rotativo, com o emprego de queimadas praticamente
inalterado até hoje nessas florestas tropicais, que oferecia baixo rendimento e exigia
esforços suplementares do homem [...] Aproximadamente em fins de abril, quando
termina a estação seca, ateia-se o fogo e, nos primeiros dias de maio, faz-se a
semeadura, lançando-se os grãos dentro de orifícios cavados por meio de um bastão
(coei), cuja ponta é endurecida a fogo [...] (GENDROP, 2002, p. 40)
Assim como esses povos indígenas que viveram na América Central, na região onde
se encontra o México, muitos povos indígenas que viveram na América do Sul utilizaram-se
do fogo no trabalho da agricultura, passando essa prática as suas descendências até os dias
atuais.
A relação desse povo com o fogo é tão antiga que minhas perguntas originais
causaram estranhamento. Uma senhora demonstrou-se incomodada com as pergunta que
realizei, ela se mostrou surpresa, pois para ela as perguntas sobre as queimadas que fiz são
sem lógica. Ao perguntar se ela não se incomodava com a fumaça, ela me respondeu:
32
Não! Estamos acostumado! Mas porque a pergunta? Você se importa? Porque
alguém vai se importar se o povo que moram no interior precisam plantar. Nós não
trabalhamos mais de roça porque estamos aqui e trabalhamos de outra coisa, mas
antes agente fazia que nem eles. Eu não me importo, eu vivi assim a vida
toda...Você não é daqui não...? (Dona Marta de 40 anos. Data: 13 de Março de
2013)
Para aquela senhora esta é uma realidade vivenciada por toda sua vida, mesmo não
trabalhando mais em agricultura ela sabe que essa prática é necessária para as pessoas que
ainda trabalham como agricultores. Ela declarou que não se importava com aquela situação.
Fui delatado pela pergunta que fiz, pois se tratava de alguém que não era da região, ou seja, os
da região não fariam tal pergunta e não se importariam assim como ela não se importa.
O uso do fogo para limpeza de área que não é destinada a agricultura é frequente,
essas queimadas são utilizadas para eliminar o lixo produzido. Então busquei respostas para
essa outra forma de usar o fogo. “[...] A gente queima porque aqui não juntam o nosso lixo,
só lá na parte do homem branco que eles fazem isso [...]” (índio Danilo 41ano. Data: 13 de
Março de 2013). Danilo, apesar de praticar queima do lixo durante sua vida, reconhece o
serviço público. Não significa que, se houvesse coleta de lixo nessa aldeia o uso do fogo seria
descartado, por outro lado se eles quisessem parar de usar o fogo para queimar o lixo, não
teriam apoio dos serviços públicos.
Existem pessoas que não trabalham como agricultoras, mas como seu Danilo planta
no fundo de seus quintais, mas há aqueles que mesmo morando nessa aldeia urbana
continuam trabalhando apenas como agricultores. Esses vão para áreas distantes realizarem as
plantações e, à noite, retornam para seus lares. Muitos desses índios passam a semana no
trabalho e retornam nos finais de semana, “Aqui quase todos são aposentados, mas ainda
trabalham de roça lá no sertão. Agente vai pela manhã e volta de tarde, as vezes só Sábado
ou Domingo... A gente queima para poder plantar[...]” ( Saulo Marques 38 anos. Data: 04 de
Março de 2013)
Diferente das outras aldeias observadas, no capítulo anterior, as pessoas dessa aldeia
vivem em seu cotidiano práticas bem diversificadas, muitos se assemelham as práticas das
outras aldeias e ao mesmo tempo práticas semelhantes as das pessoas dos bairros da cidade de
Grajaú. Apesar de ser localizada na zona urbana e os moradores terem acesso às coisas dessa
região, muitas práticas estão associadas àquelas vivenciadas no campo, o exemplo disso, são
às pequenas plantações no fundo de seus quintais e o hábito guardar arroz e feijão com casca
na sala. A maioria das casas é feita de parede de barro (taipa) e algumas de alvenaria (tijolo),
33
criam animais, como galinha e porco no quintal e cultivam plantas frutíferas nos fundos dos
quintais.
As tradições como a festa do moqueado, as pinturas corporais, as danças e outros
costumes, são preservadas por essas pessoas. Através das escolas instaladas na aldeia eles
realizam essa transferência de experiência que é passada dos mais velhos para os mais jovens.
Minha pequena permanência – dois meses – na aldeia foi o suficiente para perceber a
ligação daquelas pessoas com a terra e suas formas de utilização. O fogo é elemento
fundamental, seja na limpeza do lixo, seja na limpeza dos poucos terrenos que restam para
plantar. Neste local, a exemplo do que vi nos vilarejos e aldeias nas áreas rurais, predomina a
consciência do tempo de limpar, o período em que é relativamente permitido queimar.
2.2 Observações nos bairros da zona urbana de Grajaú
Na zona urbana de Grajaú existe uma grande quantidade de galpões em quase todos
os bairros que são usados para realizarem trabalhos como a fabricação de placas de gesso. As
grandes fábricas ficam em volta da cidade e usam madeira15 como combustível principal no
processo de calcinação16. A zona urbana de Grajaú é situada geograficamente sobre planalto e
cortada pelo Rio Grajaú. Da parte alta da cidade pude observar nos finais das tardes a grande
quantidade de focos de queimadas provenientes da queima do lixo e terrenos baldios.
Uma tarde avistei um senhor que arrumava um amontoado de mato para colocar fogo
em frente sua casa no Bairro Canoeiro. Aproximei-me para pedir informação, ele me atendeu
muito bem, em seguida ele colocou fogo e se assentou para assistir à queimada e começamos
a conversar diversos assuntos. Ao perguntar para ele porque não esperava o caminhão do lixo
para recolher aquele material, ele disse:
Ah eles só passam o dia que querem e só levam o que querem, mato para eles não é
lixo não, por isso agente queima logo. Na verdade eu nunca esperei mesmo eles
levarem meu lixo eu falo isso porque as pessoas que esperam falaram (Juvenal, 59
anos. Data: 22 de Maio de 2013)
Relato como esse de seu Juvenal foi muito repetido entre os entrevistados, é
importante observar como ele relata a relação dos coletores de lixo com o capim retirado dos
quintais, que segundo seu Juvenal eles não consideram como lixo. O lixo para esses coletores
15
Madeira proveniente do desmatamento do município Grajaú
Calcinação é o processo que passa o mineiro do gesso (gipsita) sendo levado a uma alta temperatura para ser
moído e transformado em um pó branco
16
34
da prefeitura são apenas embalagem plásticas, papeis e todos os materiais de origem de
fabricações, porém madeira e capim não são visto como lixo. Perguntei para seu Juvenal o
que ele achava daquela grande emissão de fumaça.
Rapaz isso é esses vagabundos, que procuram morrer, tocam fogo no mato só de
mal. Também esses diabos desses Índios. Tem gente falando que eles tocam fogo
nas fazendas inteiras só para tomarem as terras dos outros... Eu odeio Índio, aquilo
não são cristão não! (Juvenal, 59 anos. Data: 22 de Maio de 2013)
Nota-se um discurso de inconformidade com as queimadas e com os povos
indígenas17, mas ao mesmo tempo queimam também. Pode-se notar que para seu Juvenal,
quando se fala em queimadas, o fogo que estávamos assistindo não estava no contexto das
queimadas. Para muitos moradores os responsáveis pelas queimadas são os povos indígenas e
outros que “não tem o que fazer” como seu Juvenal se refere. Muitos têm por base as histórias
contadas há 30 ou 50 anos, sobre conflitos entre índios e não índios, contadas apenas a versão
que coloca os povos indígenas como responsáveis.
Existe coleta de lixo em todos os bairros, mas as pessoas preferem queimar o lixo em
vez de exigir para o caminhão da prefeitura levar. Existe um fator importante que induz
esses moradores a agirem assim com o lixo. Assim como os moradores da Aldeia Morro
Branco, os moradores dos bairros de Grajaú não veem o mato como lixo e para eles o correto
é queimar. Esse ponto de vista é comum entre os moradores da zona rural. Quando eles
migram para uma área urbana continuam com as mesmas práticas. Isso pode ajudar entender o
comportamento dos trabalhadores da prefeitura quando fazem a coleta de lixo na cidade e não
ajuntam o mato. Ajuda explicar também porque os moradores não se importam com isso.
Um dia perguntei a um senhor que queimava o lixo também, se ele era nascido na
cidade de Grajaú ele disse: “Não! Eu sou de um povoado chamado Mata Fria [...] Os meus
filhos nasceram aqui [...] Esse pessoal mais velho tudo é do interior, os filhos da gente que
nasceram aqui!” (seu Carlos, 70 anos. Data: 23 de maio de 2013). Assim como seu Carlos a
maioria das pessoas da faixa etária de 40 anos para cima não nasceram na zona urbana da
cidade. Procurei saber também qual era a opinião de seu Carlos sobre o meio ambiente, ele
respondeu assim: “Temos que cuida do meio ambiente. Não cortar as árvores, não caçar os
animais [...] Aqui não é a natureza esse fogo não vai matar animais, eu posso apagar quando
quiser [...]!” (Seu Carlos, 70 anos. Data: 23 de maio de 2013). Observa-se como ainda é visto
a questão ambiental para seu Carlos. Assim como ele, muitos veem as áreas urbanas como
17
Para muitos que residem nos bairros de Grajaú são os Índios e os pequenos agricultores os principais
causadores de queimadas no município.
35
separada do meio ambiente, que o ambiente urbano não faz parte da natureza. Para eles o
meio ambiente é apenas aquele local longe dos centros urbanos com preservação de
vegetações e animais. Como seu Carlos, muitos pensam que as queimadas urbanas não
contribuem para a poluição do meio ambiente.
Os discursos de algumas mulheres dessa área foram bem parecidos com os discursos
das mulheres das áreas rurais que ao perguntar o que elas acham desse período das queimadas
relataram que, “Nesse tempo o piso da casa fica só cinza eu tenho que passar o pano
molhado toda hora” (Brena Limos 25 anos. Data: 27 de Maio de 2013).
“É mesmo [...] E a casa da gente! fica toda suja nesse tempo, olha como já está só
de cinza” (Maria das Dores 43 anos. Data: 27 de Maio de 2013).
Para essas mulheres, a sujeira é a causa maior que as queimadas causam as pessoas. Um dia
observei um terreno muito grande que pegava fogo e muitas pessoas saíam de suas casas com
medo de morrerem queimadas; o fogo estava muito alto que estava danificando a fiação
elétrica. Havia uma moça com pano no rosto passando mal por causa da fumaça. Aproximeime dela e perguntei quem havia colocado fogo naquele terreno, ela respondeu:
“Sei lá moço! Os donos desses terrenos nem moram aqui, mandam queimar e não se
preocupam com a população, eu quase morri de tanta fumaça!” (Michelle estudante 17 anos.
Data: 30 de Maio de 2013).
Esses grandes terrenos que existem em Grajaú, são reservados para futuras
implantações de indústrias, são áreas extensas que acumulam muitas vegetações que todos os
anos são queimadas. Além da fumaça que estava no grande terreno que ficava atrás da casa da
moça, havia um fogo em frente à casa da Michelle. Perguntei a ela se aquele fogo não
colaborava para originar mais fumaça, ela respondeu:
Com certeza, mas o que prejudica mesmo são as queimadas feitas pelos vagabundos
que não tem o que fazer. Esses malandrozinho de beira-de-rua que toca fogo só de
mal [...] Esse fogo aqui, do lixo, não faz mal não. Agente queima e não deixa
espalhar é só o lixo [...] Eu não vô ficar com isso na minha porta (Michelle estudante
17. Data: 30 de Maio de 2013)
Como Michelle muitos justificam a queima do lixo. Nesse período é possível ver
moradores colocando fogo por toda parte. As pessoas que são afetadas por grandes
queimadas, saem de suas casas com a mão no rosto e quando o fogo termina, retornam para
suas casas e colocam fogo no mato que sobra. É comum casas serem consumidas pelas
chamas em Grajaú. Durante a pesquisa presenciei um caso onde uma criança morreu
36
queimada dentro da casa onde morava em um bairro chamado Vilinha. A casa pegou fogo
enquanto a criança dormia.
Um dia estava fazendo umas compras e vi o dono do comercio desesperado por ter
recebido uma notícia que sua casa estava sendo consumida pelo fogo, assim como as suas
terras. Perguntei se ele sabia como aquilo tinha acontecido. Ele disse: “Os índios querem
tomar tudo, eles botaram fogo na fazenda do primo meu, antes de ontem e agora colocaram
na minha casa [...] Essa fumaça toda aí é Índio atentando e o pessoal queimando roça!”
(Carlos 40 anos. Data: 06 de Junho de 2013)
Por esse e outros motivos históricos, muitas pessoas da zona urbana de Grajaú
desprezam os povos indígenas, pois todos que são parecidos com índios são desprezados pela
maioria dos grajauenses. Muitas vezes quando eu realizava as entrevistas nas casas, não me
deixaram entrar por pensarem que eu fosse índio. Uma vez uma senhora me atendeu muito
mal e mandou eu me retirar da casa dela por pensar que eu fosse descendente de índio. E
assim passei por muitas discriminações na cidade de Grajaú.
Testemunhei um episódio em que uns jovens saiam de uma escola e em meio deles
havia alguns alunos indígenas. Um desses alunos indígenas disse que queria namorar uma
jovem não indígena. Ela falou da seguinte forma: “Deus me livre! Só me faltava essa namorar
um Índio, só me aparece esse tipo de coisa na vida!” As outras jovens sorriram dela por ter
sido paquerada por um índio. Diante desse contexto social vivem os índios da região de
Grajaú. Porém, embora haja conflito interétnicos entre índios e não índios no que tange ao uso
do fogo ambos agem de forma semelhante, ou seja, práticas semelhantes com significados
diferentes.
Conversei também com vários senhores que trabalhavam na câmara municipal e
professores sobre essa questão e, segundo essas pessoas, as queimadas sempre foram
praticadas no município, porém aproximadamente nos finais dos anos 90 o fogo de grandes
proporções começaram aparecer e a cada ano essas queimadas estão aumentando. Entrevistei
muitos idosos que acompanharam a história do município e esses falaram que sempre houve
queimadas, mas não assim como nos últimos anos. Segundo eles o mês em que as queimadas
são mais intensas depende das estações, inverno e verão, mas geralmente acontece no mês de
Agosto a Dezembro.
37
2.3 Dados hospitalares de pessoas doentes por causa das queimadas
Ao chegar a um Hospital “Santa Neuza” procurei a diretora geral para pedir
autorização para conferir os números de fichas de pacientes que procuraram serviços médicos
por sentirem problemas respiratórios por causa da fumaça das queimadas. Ela autorizou para
eu realizar a pesquisa no Hospital. Em seguida procurei o Hospital São Francisco. Comparei
os seguintes resultados:
No Hospital Sociedade Beneficente “São Camilo” (Hospital “São Francisco”). No
ano de 2010, foram mil e nove (1009) registros de pessoas doentes com problemas
respiratórios. Em 2011 (período em que as queimadas tiveram o índice menor) foram
conferidos seiscentas e oito (608) registro de pessoas com problemas respiratórios. Esses
dados foram mostrados por: Lídia Rodrigues de Carvalho do setor administrativo.
No hospital “Santa Neuza”, em 2010, foram registrados mil setecentos e um (1701)
casos de pessoas com problemas respiratórios. Em 2011, setecentos e oitenta e oito (788)
registros de pessoas atendidas com problemas respiratórios. Esses números não demostram a
quantidade de pessoas que adoeceram no município, porque os moradores não costumam
procurar tratamento médico quando adoecem. Mas pode-se perceber o aumento de pacientes
nos dois hospitais em 2010 (período em que as queimadas foram mais intensas no município).
Consegui conversar com muitos funcionários desses hospitais e perguntei como era a
rotina nesse período das queimadas, a técnica de enfermagem me respondeu: “Ah meu irmão
é um inferno. Agente não tem como atender tanta gente e não tem nebulizador para todo
mundo. Agente prioriza as crianças e os idosos. Você não mora aqui?” (Carla Técnica em
enfermagem 32anos. Data: 12 de Junho de 2013) Respondi que morava e continuei a
interrogar para saber qual era a visão dela sobre as queimadas, ela respondeu que era “O povo
queimando roça, às vezes é o tempo que está muito quente e incendeia o mato... Mas tem
ano que é bem menor a quantidade de fumaça [...] Mas esses últimos anos tá de morte!”
(Carla Técnica em enfermagem 32. Data: 12 de Junho de 2013)
Os profissionais de saúde percebem bem o quanto as queimadas fazem mal a saúde
da população, não porque se incomodam com a fumaça, mas pela lotação nos hospitais. Esses
funcionários também usam o fogo para limpar. Quando perguntei a Carla se ela usava o fogo
para esse fim, ela disse: “Às vezes, quando melhora mais o tempo de fumaça...! (Carla
Técnica em enfermagem 32. Data: 12 de Junho de 2013). Eles pensam como os moradores na
zona rural,para muitos na zona urbana,a causa das doenças respiratórias é a mudança
climática.
38
Muitas vezes eu realizei a pesquisa, nos hospitais, como paciente porque estava
passando mal, e durante a espera para o atendimento podia sentir o que aquelas pessoas
sentiam e ainda perceber o quanto podíamos ver a mesma coisa de forma diferente. Em uma
dessas visitas encontrei alguém que se demonstrou incomodada com a fumaça e não via como
algo relacionado à mudança do clima. Refiro-me a uma paciente que, ao ouvir a conversa, em
que eu entrevistava as pessoas, interferiu dizendo: “Gente! temos que fazer alguma coisa,
pessoas estão morrendo por causa dessa fumaceira toda. Morreu uma senhora na Trizidela
por falta de ar de tanta fumaça. Não tá demais já!” (Josiane Silva 25 anos. Data: 14 de Junho
de 2013).
Esta paciente demonstrou incômodo com que estava acontecendo, observa-se que ela
termina a frase dizendo que estava demais a situação, quer dizer que, antes dava para suportar
e que agora não dá mais, ou seja, sempre houve queimada, mas agora está mais intenso. Podese considerar que o uso do fogo para esse fim é prática muito antiga para essas pessoas
também, mas que a cada dia está aumentando. Podemos perceber também a semelhança na
forma de ver as queimadas entre esses grupos, e como as representações desses grupos são
parecidas em relação ao uso do fogo.
Muitos não conhecem a situação que o município Grajaú está passando. Com formas
diferenciadas de ver o uso do fogo, associam problemas de saúde proveniente das queimadas
a questões climáticas e aguardam um atendimento hospitalar nas longas filas. Os moradores
de Grajaú já estão habituados a verem os céus cobertos pelas fumaças das queimadas a cada
ano e simplesmente aguardam esse período passar. Uma das explicações que justifica a
passividade desses moradores diante de tanta fumaça é por confundir fumaça com neblina.
Em Grajaú sempre acontece um fenômeno que cobre parte do município de neblina e
por já estarem habituados a verem o ambiente dessa forma, quando está cheio de fumaça
ninguém estranha. Depois de observar esses dois pontos dessas sociedades, pude fazer uma
melhor análise para entender as representações que esses grupos estão imersos e que
justificam essas práticas.
39
3. TEMPO DE LIMPAR EM GRAJAÚ: tradição ou problema social?
As pessoas que moram em aldeias e povoados18 na zona rural, representaram
discursos e comportamento parecidos, da mesma forma como as pessoas que moram próximas
e dentro das áreas urbanas. As representações são iguais entre os nativos do município em
relação ao uso do fogo nas duas áreas citadas acima. Observa-se que apesar da semelhança
que existe entre os grupos rurais e urbanos, essas sociedades apresentaram características
particulares também. Há diferença não apenas entre as pessoas que habitam zonas diferentes
(urbana e rural), mas entre as pessoas indígenas e não indígenas que habitam nas mesmas
zonas. Dessa forma pude entender como esses moradores convivem com o fogo de forma tão
intensiva diferenciando-se daquilo que Bourdieu explica como:
As lutas em torno da identidade étnica ou regional, quer dizer, em torno de
propriedades (estigmas ou emblemas) ligados à origem através do lugar de origem,
bem como das demais marcas que lhes são correlatas [...] constituem um caso
particular das lutas entre classificações, lutas pelo monopólio do poder de fazer ver e
de fazer crer, de fazer conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima
das divisões do mundo social e, por essa via, de fazer e desfazer os grupos [...]
(BOURDIEU, 2008, p. 108)
Por esse viés pode-se entender como cada grupo representa sua projeção social
acerca do uso do fogo para explicar o fenômeno das queimadas nessa região. Quando estive
observando esses grupos, a princípio, eu não levava em consideração a minha interferência no
meio social deles. Foi depois de compreender as equipes de representação19 Golffman (2007)
que observei suas particularidades representativas em relação às queimadas e que a minha
presença desequilibrava a dinâmica presente, naquele momento, entre aquelas pessoas. Sendo
assim, tive que encontrar meios para que eles me vissem como um deles.
3.1 As diferentes representações dos moradores do município de Grajaú
Enquanto nas primeiras aldeias afastadas da zona urbana o uso do fogo é bem mais
intenso, nas aldeias próximas dessa zona o uso do fogo era menor. Mas para todos eles é
tradicional a utilização do fogo como forma de limpar as áreas de trabalho e moradia. Essas
pessoas têm por base um costume arraigado à tradição familiar. Esse tipo de ação se adota
18
Os povoados são constituídos por pessoas que não se reconhecem como índio
Termo usado por Goffman para se referir a qualquer grupo de indivíduos que cooperem na encenação de uma
rotina particular
19
40
quase automaticamente reagindo a estímulos habituais. É o que Weber (1970) chama de ação
social. É o tipo de comportamento específico que existe em cada grupo social frutos dos
costumes e valores locais.
Tentei observar o comportamento dessas pessoas com o mínimo de interferência20 de
minha parte nos locais de observação. Em relação a isso Golffman (2007, p. 12) fala que
quando se refere a verificações das atividades de um grupo social. “[...] as atividades
‘verdadeiras’ ou ‘reais’, as crenças e emoções do indivíduo só podem ser verificadas
indiretamente, através de confissões ou do que parece ser um comportamento expressivo
involuntário [...]”
Pude perceber que eles veem essas práticas como algo rotineiro em sua realidade.
Esse relato: “[...] Onde já se viu fazer roça sem queimar [...]”? (Miissal, da Aldeia Mussum,
data 04 de Abril 2011). Representa que embora conheçam outros meios para realizarem essas
atividades agrícolas, as tradições e costumes os impelem a continuar fazendo uso do fogo. O
uso do isqueiro na cintura e uma fogueira sempre em chamas na aldeia descreve que esses
moradores precisam do fogo como identificação de sua realidade. Eles veem o fogo como
símbolo de status social, assim como nós usamos o celular, eles usam objetos que produzem
fogo, como isqueiro ou fósforo presos à cintura.
Sentem-se satisfeitos em poder produzirem fogo a qualquer hora, acender um cigarro
para alguém ou colocar fogo quando quiserem no que for necessário. Poder fazer tais
atividades é questão de honra para eles. Obtenção de objetos que produzem fogo demonstra
posições hierárquicas específicas a esses grupos. O isqueiro é usado pelos líderes e aqueles
que os imitam, o fósforo é usado por aqueles que não conseguiram ainda comprar um isqueiro
e mais atrás está o grupo que precisa manter a fogueira acesa para não perder o fogo. Durante
a noite acendem uma fogueira debaixo de suas redes; essa prática tem diversas finalidades,
entre elas as espirituais. Serve também para espantar os insetos e luminar o ambiente.
Ao comparar os discursos com as práticas percebe-se que o uso do isqueiro e do
fósforo representa que, não só os discursos, mas as práticas dessas pessoas em relação ao uso
do fogo são diferenciadas, se comparadas ao uso do fogo em outras sociedades. Pois o fogo
para esses moradores é indispensável em quase todas as atividades realizadas nessas áreas.
Os moradores das aldeias: Mussum, Betel e Coquinho são parecidos no que se
referem aos discursos, mas diferenciam-se na prática, porque enquanto os moradores das
aldeias Mussum e Betel usavam o fogo a qualquer hora do dia em diversas formas, inclusive
20
Porque ficava muitas vezes observando de um ponto estratégico para eles não notarem minha presença.
41
como brincadeira de criança, os moradores da aldeia Coquinho não realizavam essas formas
de queimadas. Na aldeia Coquinho todos usam o fogo quando trabalham na agricultura e para
realizarem a limpeza da aldeia, mas raramente se via crianças brincando de fazer fogueira ou
adultos com isqueiro na cintura. Mas todos eles relataram que não podiam deixar de usar o
fogo em seu trabalho.
Nesta última aldeia há um número maior de moradores e possui fatores que
modificaram as práticas desse grupo, a igreja evangélica, por exemplo, modificou costumes
mais antigos. Assim em vez de todos ficarem conversando em volta de uma fogueira, muitos
se reúnem nos cultos da igreja. É possível perceber que eles têm uma convivência diferente
em relação ao fogo, se comparados aos moradores aldeias Mussum e Betel, porém os
discursos são parecidos.
O que nos leva a entender que mesmo estando próximas, apresentam práticas
diferentes do uso do fogo. Nota-se que nem todos naquela região rural são iguais na forma de
ver uso do fogo. Mas as três aldeias se igualaram no que se refere a não demonstrar incômodo
com a emissão da fumaça proveniente das queimadas. Os focos de queimadas nessas aldeias
eram pequenos em relação a grande emissão de fumaça que se podia avistar na atmosfera. O
motivo que impedia o fogo de se propagar nessa área era a vegetação úmida e intacta ao solo
(na forma natural, sem ser cortada)21.
Já os moradores da aldeia Bacurizinho demonstravam-se incomodados com a
emissão da fumaça, e em seus discursos reclamaram do desmatamento e das queimadas
provocadas pelos madeireiros. Nota-se também uma preocupação com a vegetação de sua
reserva, Esses moradores tem um olhar diferente sobre o ambiente que o cerca. Relataram
muitas vezes que precisam preservar a vegetação e que o povo indígena depende de todos os
recursos naturais para sobreviver.
Observando o relato podemos ver a diferença nos
discursos:
[...] todo mundo aqui bota fogo na roça nesse tempo, mas essa fumaça ai é daqueles
assassinos, os madeireiros, entra na nossa reserva a noite e derriba nossas árvores
com máquinas [...] (cacique Manoel Vieira 89, da Aldeia Bacurizinho. Data: 23 de
Maio de 2012)
21
Porque esses grupos desmatam pequenas áreas com o uso de ferramentas manuais como a foice.
42
Essas pessoas se utilizam do fogo como forma tradicional de limpeza de suas áreas
de trabalho e de moradia, mas apresentam preocupação com as queimadas descontroladas.
Demonstraram cuidados em colocar fogo nas áreas de plantio (roça) ao fazerem largos
aceiros para as chamas não se estenderem por toda vegetação. Mesmo com todo esforço,
surgem vários focos de incêndio e todos tentam apagar as chamas jogando água, mas
dificilmente conseguem. Nessa área a intensidade de queimadas é bem maior por causa das
grandes áreas desmatadas22.
Podemos ver o diferencial de práticas e discursos dos moradores dessa aldeia. Apesar
dessas pessoas usarem o fogo na realização de suas atividades, eles apresentaram indignação
com as grandes queimadas. Eles não atribuíram os problemas respiratórios ao tempo,
atribuem esses problemas de saúde as queimadas provocadas pelos madeireiros. Eles
acreditam que o fogo que eles realizam não é prejudicial, mas dos madeireiros sim. Como
podemos observar quanto mais levamos em consideração a diversidades de acontecimentos
que ocorrem nessas regiões, mais diferentes serão as representações.
Na aldeia Morro Branco que fica localizada na zona urbana de Grajaú, o uso do fogo
entre esses moradores possue diferença, se comparada aos moradores da aldeia Bacurizinho.
Os moradores da aldeia Morro Branco vivem de forma muito parecida com as outras pessoas
não indígena dos bairros da cidade. Poucos trabalham de agricultura, e a maioria usa o fogo
apenas para queimar a vegetação dos terrenos e o lixo. A pesar de não haver convivência
harmoniosa entre os Índios e o não índio na zona urbana de Grajaú, eles são parecidos na
forma de usar o fogo.
Podemos encontrar vários exemplos bem distintos de representações em relação ao
fogo entre os indígenas. Onde um grupo tem uma tradição mais íntima (os moradores das
aldeias Mussum e Betel), e outros apresentam uma diferença na relação com o fogo
(moradores da Aldeia Coquinho). O terceiro grupo, apesar de usar o fogo em diversas
maneiras, demonstra preocupação com a conservação das árvores (É o caso dos moradores da
Aldeia Bacurizinho) e por último, as representações dos indígenas da zona urbana (moradores
da Aldeia Morro Branco) sendo muito parecida com comportamento das pessoas não
indígenas dessa área de Grajaú, porém bem distinta das primeiras aldeias citadas.
Os indígenas da aldeia urbana deveriam se comportar como os moradores das
primeiras aldeias observadas (caso o comportamento fosse determinado pelo aspecto
biológico, como muitos acreditam em Grajaú). Mas, pela influência social que todos da zona
22
Área com muita vegetação morta e seca (cortadas pelas empresas instaladas no município) que propicia os
grandes incêndios nessa área.
43
urbana estão imerso, é possível notar o uso do fogo de forma igual para todos na zona urbana.
Como diz Elias.
Os seres humanos criam um cosmo especial próprio dentro do cosmo natural, e o
fazem em virtude de um relaxamento dos mecanismos naturais automáticos na
administração de sua vida em comum. Juntos, eles compõem um contínuumsóciohistórico em que cada pessoa cresce como participante a partir de determinado ponto
[...] (ELIAS, 1994. p. 43)
Eles vêm essa relação com o fogo como natural. Por não estarem próximos dos
locais desmatados onde acontecem os enormes focos de incêndio, não estranham a emissão da
fumaça e quando acham necessário, colocam fogo onde precisa ser queimado. Há muito
focos de incêndio nessa aldeia, a maioria deles com objetivo de limpar os terrenos e para
queimar o lixo; poucas vezes pude presenciar uma queimada com objetivo de limpar área
destinada para agricultura.
O olhar dos índios da aldeia urbana “Morro branco”, sobre as queimadas, é igual o
olhar dos moradores não indígenas dessa mesma área. Assim como os índios, os moradores
não indígenas se comportam em relação ao uso do fogo. Pude observar a explícita semelhança
de comportamento e discurso. Mas, apesar das semelhanças esses índios têm suas
particularidades, eles se preocupam em viver o presente, não há preocupação em se preparar
para o futuro. Para eles suas terras tem um valor transcendental que vai além do valor
material, é algo de valor espiritual, porque os seus ancestrais estão enterrados nessas áreas.
Eles não praticam exploração predatória de madeiras porque sabem que viverão em
suas terras para sempre; a maioria não se preocupa em saber quem vai ser eleito para
presidente do Brasil ou prefeito da cidade, eles querem saber de viver e usufruir de tudo de
bom que estiver ao seu alcance. Os que trabalham em comércio ou cargos públicos fora da
aldeia, não têm a preocupação em competir crescimento profissional apenas querem se manter
trabalhando. O uso do fogo da forma que apresento é prática muito antiga para eles, assim
como para todos da região. O cheiro de fumaça faz parte da história de vida deles e não se
imaginam em um ambiente diferente daquele.
3.2 As diferentes representações das pessoas não indígenas
Tantos o trabalhadores autônomos (conhecido como o trabalhador de roça) como o
que são empregados em uma empresa, veem essa forma de usar o fogo como algo tradicional
44
em suas vidas. Através desse relato pode-se analisar o que as queimadas representam para
eles.“Tem que queimar né moço, como é que vamos plantar?[...]”(Gonçalo junta 50 anos.
Data: 19 de Julho de 2012)
As pessoas que trabalham nas empresas almejam um crescimento profissional,
enquanto os que trabalham em roça objetivam apenas manter a família alimentada
(semelhante aos indígenas), mas no que se referem ao uso do fogo ambos são iguais. Porque
não dispensam o fogo para a realização de quase todas as atividades. Nesses povoados
existem muitas pessoas que trabalham em comércios, mas durante certo tempo deixam suas
esposas tomando conta do negócio e vão cuidar de roças.
Das pessoas que moram na zona urbana de Grajaú poucos trabalham com agricultura.
A maioria vive das atividades que são realizadas dentro da cidade. Mas, existe uma grande
parcela que trabalha nas áreas afastadas do centro urbano (nas carvoarias, fábricas de gesso e
até como operador de motosserra).
Os moradores nascidos na região de Grajaú têm característica específica quando
chega o Tempo de limpar. Essas práticas são tradições para as pessoas da zona rural e urbana
do município. Por isso é compreensivo que mesmo diante de tal situação os moradores de
Grajaú estejam sempre dispostos a defender os costumes da sua cidade. Como cita o autor
Magnani quando se refere às representações sociais:
[...] são os ‘moradores’, os ‘militantes’, os ‘desempregados’, as ‘classes populares’
etc. Que falam. Em suma, são as condições sociais de inserção dos agentes o que,
determina suas representações e a forma de sua manifestação, o discurso, colhido em
entrevistas abertas, entrevistas dirigidas, história de vida. (MAGNANI,1986. p. 128)
Através desse contexto pode-se entender porque esses moradores convivem com o
fogo de forma tão intensiva. Observa-se que mesmo estando em contextos diferentes, todos
são provenientes de uma mesma prática tradicional. Por isso, mesmo morando em lugares
diferentes e realizando atividades diferentes, todos usam o fogo como aprenderam a usar.
Os moradores de Grajaú desenvolveram uma relação social baseada em descendentes
familiares e amigos. A maioria dos moradores se conhece e com facilidade percebem a
presença das pessoas que não são do município. O meio de informação mais usado entre eles
é a oralidade. Um fenômeno não precisa ser visto por todos; basta apenas um presenciar o fato
e contar para os amigos mais próximos, que todos se encarregam em divulgar a informação
em toda cidade23.
23
Essas informações muitas vezes são apenas invenções para prejudicar a vida social de alguém (fofocas)
45
Para os moradores de Grajaú não há lugar melhor para se viver do que sua terra natal.
Diante das pessoas forasteiras eles se demonstram receptivos, “aceitam” as reclamações sobre
a cidade e até “ajudam reclamar” se possível, fingindo-se incomodados também, mas assim
que têm oportunidade, informam a todos sobre o ocorrido (transmitindo informações
negativas sobre o forasteiro), a partir daquele momento esse visitante é tratado com
indiferença por todos. Na verdade os grajauenses reclamam de seu município, mas não
aceitam ninguém reclamar. O autor Bourdieu cita que:
[...] o reconhecimento prático dos interesses dos quais o locutor é porta-voz, bem
como de forma particular de censura que veda a expressão direta de tais interesses,
dá acesso direto àquilo que o discurso quer dizer, a despeito de qualquer operação
consciente de decodificação. Esta compreensão, aquém das palavras, nasce do
encontro entre um interesse expressivo ainda inexprimido, ou até mesmo recalcado,
a sua expressão nas formas, isto é, já efetuado de acordo com as normas de um
campo. (BOURDIEU, 2008. p. 157 e 158)
Por isso foi importante observar que alguns moradores ao perceberem que eu estava
incomodado com a fumaça fingiram estarem incomodados também (tentando me agradar),
mas quando chegava o Tempo de limpar, colocavam fogo em seu lixo ou terreno como os
demais. Ao comparar os discursos com as práticas percebe-se que “[...] o indivíduo
evidentemente transmite informação falsa intencionalmente por meio de ambos estes tipos de
comunicação, o primeiro implicando em fraude, o segundo em dissimulação.” (GOLFFMAN,
2007. P. 12). Para quem não conhece o comportamento dessa sociedade é difícil imaginar que
aqueles indivíduos, que se demonstraram tão “incomodados”, colocavam fogo também. Por
outro lado quando eu já havia construído uma relação mais confiável pude obter muitas
informações orais importantes que condiziam com as práticas desses moradores. Como diz o
autor: “[...] discurso e prática não são realidades que se opõem, um operando por distorção
com respeito à outra; são antes pistas diferentes e complementares para a compreensão do
significado.” (MAGNANI,1986. p. 140)
Na zona rural e na zona urbana de Grajaú, pude observar diferentes discursos e
práticas em relação ao uso do fogo entre os moradores indígenas e não indígenas. E apesar de
suas diferenças, todos representaram uma relação íntima e tradicional com o fogo. Importante
observar que durante as entrevistas de campo na zona urbana de Grajaú, não houve menção da
contribuição dos empresários para o aumento das queimadas na região.
46
3.3 Outras representações
Grajaú localiza-se em uma região onde ainda existe muita vegetação e não há uma
unidade de conservação ambiental24, algumas empresas instalaram-se no município para
explorar os recursos naturais da região e usam o fogo como recurso de trabalho. Esses grupos
representam muito bem as características descritas por Lenzi quando fala das sociedades de
risco na atualidade. Percebe-se isso através das respostas dadas por essas pessoas quando não
assumem que usam o fogo para realizar as queimadas no município. Essa é uma das
características das sociedades de risco que, segundo Lenzi:
A sociedade de risco propicia um quadro difuso e complexo em que os riscos
produzidos não são atribuíveis a ninguém. Essa impossibilidade de atribuir
responsabilidade pela produção desses riscos [...] [chama-se] irresponsabilidade
organizada [...] Essa irresponsabilidade organizada aponta para uma crise de
responsabilidade institucional das sociedades modernas [...] (LENZI, 2006. 145)
Os trabalhadores entrevistados e donos do negócio discursaram que estavam
incomodados com a situação das queimadas, porém vi nesses locais os maiores incêndios do
município. Grandes áreas de vegetação cortada por tratores estavam prontas para serem
queimadas e depois substituídas por outra espécie de vegetação como eucalipto e a soja. Essas
vegetações, deixadas pelos madeireiros nessas enormes áreas, são usadas também como
combustível nas fábricas de gesso e transformadas em carvão pelas carvoarias. Por isso o
autor fala que: “[...] isso leva à visão da pesquisa antropológica como uma atividade mais
observadora e menos interpretativa do que ela realmente é [...]” (GEERTZ, 1989, p.07).
Dessa forma, pude fazer uma análise bem diferente do que muitos dos entrevistados tentaram
passar através dos discursos.
Os donos dessas empresas representam a cultura global do progresso industrial,
possuem interesses opostos à preservação do meio ambiente. Essas pessoas se retiram do
município no tempo de limpar por não suportarem tanta fumaça. Procuram essas áreas para
fazerem investimentos baratos e obterem maiores lucros. Almeida cita em um artigo
divulgado ainda em 2007, que:
Neste município podemos constatar, ainda nos anos 90, a implantação de plantações
de eucalipto que margeiam a rodovia estadual MA-006 que liga Grajaú a Formosa
da Serra Negra e Fortaleza dos Nogueiras. No lado esquerdo desta mesma rodovia,
no sentido Grajaú/Formosa as fazendas de eucalipto fazem fronteira com o Rio
24
Segundo informações provenientes das autoridades do município divulgadas em Dezembro de 2012
47
Mearim que, por sua vez, separa a Terra Indígena Bacurizinho dos referidos
empreendimentos. (ALMEIDA, 2007. p. 07)
Há muito tempo Grajaú vem passando por esse processo de exploração dos recursos
naturais. Áreas como o município de Grajaú estão cada vez mais difíceis de serem
encontradas porque as áreas verdes do planeta estão sendo devastadas por esses grupos, que
priorizam a manutenção do crescimento do mercado internacional. Almeida também comenta
que:
[...] em artigo publicado no Jornal Porantim, apresenta denúncia de invasão de
madeireiros e grilagem na Terra Indígena Bacurizinho que se encontrava, e continua,
em processo de revisão implantada pela portaria da presidência da FUNAI
725/PRES de 30 de agosto de 2001. Em 2003, também é registrada a maior
produção de carvão vegetal deste município em relação aos oitos anos anteriores.
Nos anos subsequentes a produção cresceu 1.000 toneladas a cada ano. (ALMEIDA,
2007. p. 07)
Esses grupos aproveitam-se dos costumes da região para realizarem essas atividades,
usam o discurso da chegada do desenvolvimento para fazer com que os moradores os recebam
de braços abertos. Grajaú é hoje uma das principais cidades produtora de carvão vegetal do
Estado do Maranhão, esse carvão é usado em sua maioria nas usinas de ferro gusa da Vale,
porém isso não é divulgado.
Os sociólogos dizem que a cultura tem vários efeitos na vida dos indivíduos de uma
sociedade “[...] A primeira delas é que a cultura é melhor vista [...] como um conjunto de
mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções [...], para governar o
comportamento [...]” (GEERTZ, 1989, p.32 ). Até Junho de 2013, podia-se notar o
crescimento da quantidade de empresas instaladas no município, todas interessadas em apenas
explorar os recursos naturais.
A cultura do desenvolvimento citada por Penteado (2010) descreve a prevalência
desses grupos sobre as regiões conhecida como campo ou áreas rurais, pois para esses
moradores são ensinados que locais onde existem muitas árvores e as pessoas vivem da
agricultura de subsistência e do artesanato, são classificadas como não desenvolvidos. Com
esse discurso as empresas obtêm a aceitabilidade dessas pessoas e a mão de obra barata. Mas,
esse comportamento está trazendo graves consequências para as sociedades não apenas local
mais global. O autor Layrargues diz que:
[...] o uso incorreto dos recursos naturais acarreta degradação ambiental, não só por
causa do desconhecimento dos aspectos ecológicos e tecnológicos, mas também por
causa da ganância individual de determinados agentes sociais na exploração do
48
recurso natural a fim de obter ganhos monetários a curto prazo, maximizando uma
atividade produtiva; ou, ainda, por causa da incorreta percepção do censo comum de
que o patrimônio ambiental não deveria ser tratado como um bem da coletividade,
pois seria um bem individual. (LAYRARGUES, 2010, p.22)
Mesmo obtendo tais práticas, esses grupos empresariais utilizam-se dos discursos de
sustentabilidade, discursos bem elaborados que soam de forma agradável para todos os
ouvintes. Assisti várias palestras desses empresários, porém pude presenciar as práticas
contradizerem os discursos. Observa-se uma cultura que contém discursos contraditórios, de
um lado uma campanha mundial a favor do meio ambiente do outro o processo de devastação
ambiental de maior nível.
É importante enfatizar que autores como Coutinho (1976) diz que as regiões
compostas por cerrado estão localizadas nas áreas mais quentes do globo terrestre e são as
regiões onde mais acontecem queimadas naturais. As queimadas fazem parte da dinâmica
desses ecossistemas e já foram bem estudadas e documentadas. Mesmo que as pessoas
deixassem de usar o fogo como forma de limpar as áreas destinadas a diversas atividades
econômicas, ainda assim surgiriam queimadas provocadas por aquecimento solar ou por raios
nessas regiões. O Maranhão por ter uma grande área de cerrado está sujeito a altos índices de
queimadas naturais e deixa vulnerável todo resto para queimadas antropocêntricas.
Em uma palestra realizada na cidade de Grajaú, foi apresentado resultados de
estudos, realizados em 2011 pelos geógrafos da Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA), que disseram que a cidade de Grajaú encontra-se em processo de desertificação por
causa das queimadas e do desmatamento, e que o Rio Grajaú25 está previsto para secar em 10
anos (a contar de 2011), se continuar com o mesmo ritmo que se encontra na atualidade.
3.4 Um olhar sociológico para as questões ambientais
Durante todo trabalho tento ver de forma sociológica essa questão das queimadas,
mas uso conceitos que bem descreve situações relacionadas ao meio ambiente nos anos 1970
até aos dias atuais, no Brasil e em outros países do mundo. Trouxe essa discussão porque
achei pertinente para a situação que Grajaú se encontra. Não me refiro aos pequenos
agricultores, mas ao processo de industrialização que o município passa.
Segundo Lenzi (2006), nos dias atuais o meio ambiente ainda é visto por muitos
como algo que não tem ligação com as Ciências Sociais. Sociedade e ambiente são vistos de
25
Esse Rio deixou de ser navegável. Foi através dele que os primeiros habitantes se locomoveram, mas por
causa do desmatamento, em 2013, podia-se atravessar trechos do Rio com água que cobriam apenas os pés.
49
forma independentes. Pode-se perceber essa separação, como resultado da fragmentação das
atividades como: o trabalho e o ensino. Separou-se algo que não deveria separar-se. Passou-se
a ver de forma isolada o que se complementam.
Mesmo a Sociologia reconhecendo que o biológico tenha uma parcela de
contribuição na formação do homem em sociedade, os pioneiros da Sociologia tiveram que
romper por completo com essas teorias para evitar conflitos maiores. A consequência disso é
que hoje muitos não associam as Ciências Sociais com o meio ambiente. Assim como está
acontecendo em Grajaú, acontece em muitos lugares do mundo. Muitos sociólogos, biólogos
e ambientalistas ainda não conseguem ver a contribuição da Sociologia nesse processo de
conservação ambiental.
Até os anos 1970 não se conseguia ver uma conciliação entre economia e
sustentabilidade, assim os movimentos ambientalistas radicalizavam a forma de preservação
ambiental que segundo eles seria soma zero entre proteção ambiental e crescimento
econômico. Somente nos anos 80 essa concepção foi sendo mudada. Como diz Lenzi:
[...] Como discurso político, a Modernização ecológica não apareceu por acaso, mas
como resultado de uma série de mudanças que se desdobraram desde a década de
1970 e que acabaram por criar um contexto social propício para o seu surgimento na
década posterior. Sua origem, portanto, está associada às reflexões que foram
produzidas na década de 80 tendo por objeto de crítica os processos de tomada de
decisão da política ambiental executados na década de 1970 [...] Assim, já no início
da década 1980, o perfil do movimento ambientalista já não era mais o mesmo.
Enquanto na década de 1970 o movimento se caracterizou por uma permanente
atitude de confronto com o Estado, na década de 1980 eles passaram a se mostrar
‘menos radicais, mais práticos e mais orientados para a política’ [...] (LENZI, 2006.
54)
Por muito tempo separou-se os acontecimentos sociais dos ambientais. Essas áreas
ambientais ficaram como áreas de estudos das ciências exatas. Hoje tenta-se conscientizar as
pessoas que o ambiente está intrinsicamente ligado ao comportamento do homem e que uma
coisa influencia na outra. Depois que as autoridades perceberam que os recursos naturais eram
finitos e que a forma de produção econômica precisava ser reformulada, passaram ater outro
olhar sobre a relação do homem com a natureza. Assim, em meio a muitos embates
conseguiram conciliar teoricamente essas duas áreas, e até os dias atuais tenta-se fazer
funcionar essa parceria em todos os países do mundo.
[...] os grupos ambientais foram forçados a encontrar um meio de reconciliar
reestruturação econômica com proteção ambiental a fim de reconquistar a
credibilidade pública de seu discurso. A partir daí, tornou-se importante para o
movimento ambiental ver a economia de mercado e a proteção ambiental como
parceiros e não como inimigos. (LENZI, 2006. p. 55)
50
Lenzi (2006) sugere que exista um ramo da Sociologia que estude as relações das
ações sociais e meio ambiente para buscar encontrar meios para economia continuar
crescendo sem a degradação do meio ambiente. Com diz Lenzi: “Muitos cientistas sociais
contemporâneos concordam que a Sociologia começou muito tardiamente a se preocupar
com a questão ambiental [...]” (LENZI, 2006. 36).
Segundo o autor, todos os habitantes do planeta precisam conscientizar-se que o
homem precisa da natureza para continuar existindo e precisam colocar em prática a
conciliação entre economia e sustentabilidade como alguns países colocaram. O autor acredita
que é possível viver de forma sustentável e que: “[...] é possível compatibilizar crescimento
econômico com proteção ambiental [...]” (LENZI, 2006. 65). O autor cita exemplos de países
onde a sociologia ambiental descobriu métodos para a conservação do ambiente, que diz:
[...] estudo realizado [...] [em] 31 países industrializados, ele percebeu o surgimento
de um ‘efeito ambiental gratuito’ advindo da mudança estrutural ocorrida nessas
economias. Nos países em que se teria constatado um melhoramento na relação
entre crescimento econômico e impacto ambiental, tal melhoramento foi visto como
um resultado associado a uma mudança da estrutura econômica desses países. Essas
economias deixaram de ser compostas essencialmente por indústrias intensivas em
energia e recursos materiais e passaram a se caracterizar, em sua grande parte, por
indústrias intensivas em conhecimento e serviço. (LENZI, 2006. 77)
Chegamos a um estágio da história das sociedades que todos precisam trabalhar em
conjunto para resolver essas questões ambientais, mas para realizar qualquer posicionamento
em qualquer sociedade é preciso entender o que leva as pessoas a agirem de determinada
forma.
Sabemos que existem diversos tipos de culturas e que devemos tentar entender e
respeitar a cada uma delas, mas quando a cultura de um grupo compromete a qualidade de
vida retirando elementos básicos que todos os seres vivos precisam para sobreviver, nos faz
concluir que é hora de fazer alguma coisa. Sendo assim, vejo a educação ainda como o
principal meio de fazer os grupos sociais a pensar essa questão ambiental de forma
semelhante.
Veja alguns dados em relação às queimadas no município de Grajaú e perceba como
os movimentos sociais podem modificar os comportamentos das sociedades. Podemos fazer a
comparação dos números de focos de incêndio entre os anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e
2014, e perceber que, nos anos em que foram realizados movimentos sociais para consciência
ambiental, houve diminuição dos focos de incêndio no município. Esses três primeiros dados
representam a relação dos grajauenses com fogo sem interferência de movimentos sociais.
51
Em 2010, Grajaú ocupa o 1º lugar em queimadas no Maranhão e o segundo no
Brasil, com 396 ocorrências, ficando atrás apenas de Corumbá-Mato Grosso do Sul. (INPE)26
Em 2011 Grajaú fica no 2º lugar em queimadas no Maranhão com: 841 focos
registrados27.
Em 2012. Grajaú retoma a posição de 1º lugar no Maranhão e segundo no Brasil, com o
maior índice de queimadas, atrás apenas de Corumbá, no Mato Grosso do Sul28.
Os dados a seguir mostra a modificação que houve, na relação da sociedade
grajauense com o fogo, no ano em que se realizou movimentos sociais antes da chegada do
período das queimadas.
Em 2013, Grajaú deixa o ranking nacional de queimadas, segundo dados do INPE. A
vizinha Barra do Corda aparece na lista do instituto entre os municípios com os maiores
números de focos de incêndio do país29
Esses dados demonstram que sem os movimentos sociais as atividades locais
retomaram a rotina. Esses dados são referentes ao ano em que deixaram de trabalhar
antecipadamente os movimentos contra as queimadas.
Em 2014, Grajaú volta a liderar em quantidades de focos de incêndios no Maranhão.
Queimadas em áreas indígenas chegam a 56% a mais do que o ano passado. A cidade com
maior foco de calor é Grajaú-Ma. Com mil e treze (1.013) focos de incêndio.
Esses dados demonstram que é possível através da educação, modificar a concepção
acerca da conservação ambiental. A pesar dos movimentos terem sidos direcionados apenas
para conscientizar os moradores (pequeno agricultores e indígenas) e não aos grupos
empresariais. Nota-se uma mudança30. Porém é importante saber que a maneira que essas
pessoas relacionam-se com o fogo representa uma característica local construída ao longo de
26
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-08-13/em-apenas-12-dias-agosto-ja-tem-mais-do-dobrode-queimadas-registradas-no-mesmo-periodo-de-2011 (Acesso dia 07/07/2014)
27
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/urbano/2012/10/10/interna_urbano,124403/queimadas-afetam-ofornecimento-de-energia-destroem-vegetacao-e-animais-silvestres.shtml (Acesso dia 07/07/2014)
28
http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/08/focos-de-queimadas-se-alastram-pelo-cerrado-na-regiaocentral-do-estado.html (Acesso dia 07/07/2014)
29
http://grajaudefato.com.br/variadas/grajau-deixa-o-ranking-nacional-de-queimadas-segundo-dados-doinpe(Acesso dia 07/07/2014)
30
A mudança ocorreu principalmente pela colaboração das empresas que se sentiram inibidas pela presença do
ministério público na causa.
52
sua história e que tal característica está sendo usada para a realização das explorações em
larga escala das indústrias na região.
53
4 CONCLUSÃO
As queimadas em Grajaú acontecem por diversos fatores que, ao longo do texto, foram
relatados com base nos segmentos diferentes da sociedade grajauense. Nota-se que as
representações acerca das causas do “problema” estão, via de regra, relacionadas aos povos
indígenas e aos pequenos agricultores da zona rural de Grajaú. Os discursos oficiais isentam
os empresários da indústria e do agronegócio dos fatores que geram as queimadas. Por outro
lado, as atividades realizadas pelo pequeno agricultor (no que se refere à forma de produção
agrícola a base da prática da compostagem, reutilização das terras sem uso de produtos
inseticidas) podem servir de exemplo de sustentabilidade para as sociedades capitalistas.
Observa-se que os pequenos agricultores do município de Grajaú ainda realizam um tipo de
agricultura que se pretende retomar por ser considerada sustentável. No fim, o que seria “os
responsáveis pelo problema” pode servir de exemplos de sustentabilidade.
O uso do fogo pelo pequeno agricultor ajuda a acelerar o processo de degradação
ambiental do município, mas não é a principal causa das queimadas naquelas áreas. A maior
parte do desmatamento é resultado das ações predatórias das empresas (privadas), no processo
de produção em larga escala para manutenção do mercado capitalista.
Percebe-se que tudo é uma questão de representação e que cada grupo social defende
o que conhece como verdade. A forma que alguns grupos se relacionam com o fogo
representa como eles veem à realidade. Os indivíduos que se referem ao pequeno agricultor de
Grajaú, como atrasados por usarem métodos antigos para realizarem esse tipo de agricultura,
são os que têm suas representações construídas pelos o viés da ideologia do desenvolvimento
industrial capitalista.
Lenzi (2006) relata que as sociedades industriais capitalistas devem voltar a praticar
a agricultura pré-industrial como os pequenos agricultores de Grajaú praticam até hoje, por
exemplo. Segundo ele, esses agricultores conseguem viver de forma sustentável. Os pequenos
agricultores que residem no município de Grajaú obtêm costumes que hoje são vistos como
alternativas para resolver questões ambientais.
Depreende-se que o uso do fogo vai para além das utilizações no cotidiano, está
relacionado desde o imaginário coletivo dos moradores da cidade de Grajaú, até conflitos
econômicos gerados pela disputa aos já escassos recursos ambientais no município. Este
trabalho, longe de tentar resolver as questões das queimadas serviu-nos como provocação às
futuras inserções. Esse trabalho teve caráter exploratório, pois há várias questões ainda a
serem respondidas. Não foi possível aprofundar alguns aspectos importantes e que ficarão
54
para ser estudados no município de Grajaú, a exemplo da questão da exploração do gesso e
suas dimensões ambientais, as plantações de eucalipto e soja, o destino da madeira retirada do
município, as relações dos moradores com o Rio Grajaú e etc... São exemplos de objeto de
estudos que precisam ser mais explorados. Dessa maneira as questões socioambientais do
município serão melhor compreendidas.
55
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Emerson Rubens M. O Maranhão vai virar carvão: Evolução da produção de
carvão no Maranhão segundo dados do IBGE/2005.SÃO LUÍS: UFMA, 2007.
ALMEIDA, E. R. M. Ser ou não ser civilizados: os Tentehar e a relação com a alteridade.
Monografia 72 pp. UFMA: São Luís, 2009.
BOURDIEU, Pierre. A força da representação. In:_____________ A ECONOMIA DAS
TROPAS LINGUISTICAS o que falar o quer dizer. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2008
COUTINHO, Leopoldo Magno. Aspectos ecológicos do fogo no cerrado. II As queimadas e a
dispersão de sementes em algumas espécies enemocóricas do estrato herbácio-subarbustivo.
São Paulo: Bol. Botânica, 1977.
CABRAL, Maria do Socorro Coelho. CAMINHO DO GADO: Conquista e ocupação no
SuldoMaranhão. São luís: SIOGE, 1992.
CARCARÁ, Maria do Socorro Monteiro. As queimadas na cobertura da mídia impressa do
Piauí. Queimada rural: nescessidade técnica ou questão cultural, Piauí, 2012, 30 e 31, 24 de
Jan. 2012.
CARNEIRO, M.S. Terra, trabalho e Poder. Conflitos e lutas sociais no Maranhão
contemporâneo. Anablume. São Luís, 2013
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber Local. Novos ensaios de antropologia interpretativa. Petrópolis:
Vozes, 1997.
GOMES, Nilma Lino; SILVEIRA. Cultura negra e educação. 76 Maio/Jun/Jul/Ago 2003 Nº
23Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.
GENDROP, Paul. A civilização Maia. Rio de Janeiro: Zaha, 2002.
LARAIA; Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. 23ª ed. Rio de Janeiro. 2009.
LAYRARGUES, Philippe Pomier. Educação para a gestão ambiental: a cidadania no
enfrentamento político dos conflitos socioambientais. In: LOUREIRO, Carlos Frederico
Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza de. SOCIEDADE E
MEIO AMBIENTE: a educação ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2010.
LENZI, Luis Cristiano. Ulrich Beck e Anthony Giddens: sociedade de risco e política
ecológica. In: Sociologia Ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, São
Paulo: EDUSC, 2006.
56
LENZI, Luis Cristiano. Ecologizando a Sociologia: o desafio de uma sociologia ambiental.
In: Sociologia Ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, São Paulo:
EDUSC, 2006.
LENZI, Luis Cristiano. Modernização Ecológica: crescimento econômico versus proteção
ambiental. In: Sociologia Ambiental: risco e sustentabilidade na modernidade. Bauru, São
Paulo: EDUSC,2006.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. Discurso e representação, ou de como os baloma de
kiriwina podem reencanar-se nas atuais pesquisas. In.: DURHSOM, Eunice R; et al.
Aaventura antropológica teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: paz e terra, 1986.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. (introdução). São Paulo:
Abril Cultural, 1976 [1922]
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma
introdução. São Paulo: Atlas, 1986.
NATURATINS, Instituto Natureza do Tocantins. Queimadas Urbanas. Palmas, 2009
PENTEADO, Heloisa Dupas. Meio ambiente e formação de professores. São Paulo: Cortez,
2010. (Coleção questões da nossa época; v. 13)
PINTO, Louis. Experiência vivida e exigência científica de objetividade. In: Iniciação à
Prática Sociológica. Organizador: Dominique Merlié... [et al] Tradução de Guilherme João de
Freitas Teixeira. Petrópolis. RJ. Vozes, 1996. p. 13-56
SEEGER, Anthony. Os índios e nós: estudos sobre sociedades tribais brasileiras.
Tradução: Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Rio de Janeiro. Ed. Campus, 1980.
WEBER, Max. Ação social e relação social. In: FORACCHI, MarialiceMencarine;
MARTINS, J. de Souza. Sociologia e sociedade. São Paulo: Livros Técnicos Científicos,
1977.
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-08-13/em-apenas-12-dias-agosto-jatem-mais-do-dobro-de-queimadas-registradas-no-mesmo-periodo-de-2011 (Acesso no dia 07/
07/ 2014)
http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/urbano/2012/10/10/interna_urbano,124403/queima
das-afetam-o-fornecimento-de-energia-destroem-vegetacao-e-animais-silvestres.shtml
(Acesso 07/ 07/ 2014)
http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2012/08/focos-de-queimadas-se-alastram-pelocerrado-na-regiao-central-do-estado.html (Acesso dia 07/ 07/ 2014)
http://grajaudefato.com.br/variadas/grajau-deixa-o-ranking-nacional-de-queimadas-segundodados-do-inpe(Acesso dia 07/07/2014)
57
APÊNDICES
58
APÊNDICE A- Questionário.
1º Porque vocês colocam fogo no mato nessa época do ano?
2º Não seria melhor usar máquina para limpar as áreas de plantio?
3º O que você acha dessa época de queimada?
4º Porque vocês não esperam o carro do lixo recolher esse mato?
5º Você acha que essa fumaça polui o meio ambiente?
6º Qual é o período que começa as queimadas no município de Grajaú?
7º As queimadas sempre foram assim de forma intensiva?
8º Qual o período que você acha que as queimadas foram se intensificando aqui no
município?
8º Quem são os causadores das queimadas?
9º Para que eles queimam tanto?
10º Como é a situação nesse hospital no período das queimadas?
11º Há registro de óbito proveniente das queimadas nesse hospital?
12º Vocês se sentem mal com essa fumaça?
13º Vocês atribuem a quê esse surto de gripe?
14º Para que vocês queimam o pasto?
15º Vocês não têm acesso a tratores para esse serviço?
16º Você é de Grajaú?
17º Para que serve essa lenha retirada desse desmatamento?
18º Essa áreas desmatadas são destinadas a quê?
19º As árvores são importantes para vocês? Em que sentido?
20º Vocês gostam de Grajaú nessa época de queimada?
21º Vocês gostam da forma que as pessoas não indígenas tratam vocês?
22º Vocês gostam das pessoas não indígenas?
23º o que vocês acham das pessoas não indígenas?
24º Porque vocês não gostam de Índio?
25º Vocês já visitaram alguma aldeia?
26º Porque vocês brincam com fogo?
27º Vocês não têm medo de morrerem queimados?
28º Você acha que essas queimadas ajudam esquentar o clima da região?
29º Qual o motivo que está causando a seca do Rio Grajaú?
30º Porque a prefeitura não proíbe a retirada da vegetação das margens do Rio Grajaú?
59
31º Porque a prefeitura não interfere na poluição desse Rio?
32º O que você acha das plantações de eucalipto no município de Grajaú?
33º Porque os moradores não se mobilizam para interferir essas empresas?
34º Você acha que vale apena perder os recursos naturais em troca dessa industrialização?
60
APÊDICE B- Fotos da pesquisa de campo
Figura 1- foto dos indígenas da Aldeia Bacurizinho no momento de recreação no Rio Mearim.
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 2-foto de queimadas durante a noite nas áreas próximas as reservas indígenas
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
61
Figura 3-Queimadas urbanas em Grajaú.
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 4- Foto de queimadas urbanas em Grajaú
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
62
Figura 5-Foto que demonstra a concentração de fumaça no município de Grajaú
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 6-Queimadas urbanas durante o dia em Grajaú
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 7-Queimadas urbanas em Grajaú
63
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 8 - Um indígena da Aldeia Mussum
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 9 - Queimada urbana em Grajaú.
Grajaú
Figura 10-Queimada urbana em
64
Fotos tiradas pelo estudante Lister Claudio
65
Figura 11- Foto que demonstra as condições do Rio Grajaú em processo de seca por causa do
desmatamento.
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 12 - Queimadas nas áreas periurbana
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
66
Figura 13-Fotos de indígenas da Aldeia Betel
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
Figura 14 - Foto de um indígena da Aldeia Coquinho
Foto tirada pelo estudante Lister Claudio
67
Figura 15-Foto do momento da pesquisa nos hospitais da cidade de Grajaú.
Foto tirada por uma funcionária do Hospital Santa Neuza

Documentos relacionados