PDF Reprint - Departamento de Ecologia

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PDF Reprint - Departamento de Ecologia
Rev. BrasU. Blol., 49(4):1009-1012
Novembi'O, 1989- Rio de Jaoeiro, RJ
NOVA ESPÉCIE DE COWSI'El'HUS DA AMAZÔNIA CENlRAL
(AMPlllBIA: DENDROBATIDAE)
MARCIO MARTINS
Departamento de Ecologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
.
Caixa Postal 478, 69083 Manaus, AM*
(Com 3 figuras)
RESUMO
Uma nova espécie de Colostethus é descrita da região da Usina Hidroéletrica
de Balbina, Município de Presidente Figueiredo, Estado do Amazonas. Colostethus stepheni sp. n. é caracterizado principalmente pelo porte pequeno, presença
de faixa dorsolateral clara e 32 dedo lateralmente expandido nos machos. A vocalização emitida por machos da nova espécie é descrita e ilustrada.
Palavras-chave Colostethus; espécie nova; Amazônia Central; Dendrobatidae.
ABSTRAcr
A New Species of Colostethus from Central Amazonia
(Amphibia: Dend.robatidae)
A new species of Colostethus is described from the Balbina Hydreletric
Station region, Municipality of Presidente Figueiredo, Amazonas State, Brazil.
Colostethus stepheni n. sp. is characterized mainly by small size, presence of pale
dorsolateral strips, and third fmger laterally expanded. The mating call of the new
species is described and ilustrated.
Key words: Colostethus; new species; Central Amazonia; Dendrobatidae.
Edwards (1974) em sua revisão do gênero Colostethus apresenta a diagnose de uma
espécie coletada em Manaus, Estado do Amazonas, e a denomina ..baeobatrachus". A espécie aqui descrita ocorre em Manaus e suas
características morfológicas concordam perfeitamente com a diagnose apresentada por
Edwards de "baeobatrachus". Dada a indisRecebido em 11 de janeiro de 1989
Aceito em 22 de junho de 1989
Distribuído em 30 de novembro de 1989
*Endereço atual: P6s-graduação em Ecologia,
Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia,
UNICAMP,Cx. Postal6109, 13081 Campinas, SP.
ponibilidade deste nome (publicado em tese,
ICZN, 1985, art. 9) e ~ necessidade de um
nome válido para a espécie, apresento aqui sua
descrição detalhada a partir de exemplares
coletados na região da Usina Hidroelétrica de
Balbina, em Presidente Figueiredo, Estado do
Amazonas.
As abreviaturas usadas para a identificação dos espécimes aqui referidos, são: INP A
(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
Manaus), MNRJ (Museu Nacional do Rio de
Janeiro), MZUSP (Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo) e ZUEC (Museu de
História Natural, Universidade Estadual de
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MARTINS
Campinas). As medidas são apresentadas em
milímetros.
As vocalizações foram gravadas em fitas
cassete em aparelho Sony TCM-2 com microfone Sony F-V 1OT e os sonogramas analisados em aparelho Sound Spectrograph Series
700 da V oice Identification Inc., em faixa de
300 Hz. C6pias das gravações estão depositadas no Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas.
Colostetluu st~puni sp. n.
Diagnose: Espécie de porte pequeno
(ôô 15,2 -16,5 mm, Cj?Cj? 17,0.18,0 mm) com
faixa dorsolateral clara acima de faixa lateral
escura; face ventral creme com regiões palmar
e plantar escuras; manchas amareladas nas inserções dos antebraços e coxas; 32 dedo lateralmente expandido nos machos; pouca membrana entre os artelhos.
Holótipo: MZUSP 64569, macho adulto,
proveniente da bica da vila residencial da Usina Hidroelétrica de Balbina, município de Presidente Figueiredo (aprox. 2"05'S, 59"55'W;
alt. 50 m), Estado do Amazonas, Brasil, coletado em 29 de novembro de 1986 por M. Martins e F. A. Marques.
Parátipos: Machos adultos INPA 722 e
727, ZUEC 6893 e MNRJ 4709, e fê.meas
adultas INPA 740 e 742, ZUEC 6894, MNRJ
4710 e MZUSP 64570, coletados no igarapé
Caititu (afluente do rio Uatumã), a cerca de 30
Km da Usina Hidroelétrica de Balbina, entre 3
e 5 de dezembro de 1986, por M. Martins e S.
Egler.
Fig. 1 - Colostetluls stepheni sp. n. (MZUSP 64569)
hol6tipo, macho adulto, de Presidente Figueiredo,
Amazonas, comprimento total 16,5 mm.
Descrição do hclótipo: Porte pequeno,
(16,5). Aspecto robusto (Fig. 1), cabeça larga
(6,0), com seu comprimento (5,0) pouco menor que 113 do comprimento do corpo. Focinho truncado visto de cima (Fig. 2a) e de perfil (Fig. 2b). Narinas salientes, próximas à extremidade do focinho. Região loreallevemente
côncava, canto rostral pouco marcado. Olhos
salientes, laterais, com diâmetro (2,1) pouco
menor que o espaço interocular (2,3). Tímpano indistinto. Saco vocal subgular, bem desenvolvido. Membros anteriores pouco robustos. Extremidades dos dígitos pouco expandidas; 32 dedo expandido lateralmente; polegar
maior que o 22 dedo, que é menor que o 32 e
semelhante ao 42 (Fig. 2c). Calos palmares e
subarticulares desenvolvidos. Membros posteriores robustos. Comprimento do fêmur e da
tfbia juntos (15,2) pouco menor que o comprimento do corpo, sendo a tíbia (7 ,8) pouco
maior que o fêmur (7 ,4). Artelhos com extremida~s expandidas; membrana interdigital
pouco desenvolvida atingindo menos de 1/3
de seus comprimentos (Fig. 2d). Calos plantares e subarticulares desenvolvidos. Pele granulosa no dorso e lisa no ventre.
Coloração: Em exemplar vivo, dorso
castanho-claro com pequenas manchas irregulares mais escuras e pouco distintas; barras
transversais distintas nas coxas e tíbias. Faixa
dorsolateral creme estreita, desde os olhos até
a região inguinal sobre outra faixa castanhoescuro desde a ponta do focinho até a região
inguinal. Lábios e flancos creme com pequenas reticulações escuras nos flancos. Manchas
amareladas geralmente pouco distintas nas inserções dos antebraços e coxas. Face ventral
creme com algumas reticulações escuras nos
membros; regiões palmares e plantares castanho-escuro. Íris acobreada.
Variação: Na série tipo existem variações na coloração do dorso, que pode ser castanho-escuro, na largura das faixas dorsolaterais e na quantidade de reticulações dos flancos e ventre. Também nas medidas são encontradas pequenas variações (Tabela 1).
Biologia: Colostethus stepheni sp. n. é
encontrado no folhedo de matas de terra firme.
V ocalizam geralmente sobre troncos e galhos
caídos ou folhas que sobressaem alguns centímetros do folhedo. Colostethus marchesianus, espécie que ocorre na mesma região e no
mesmo tipo de ambiente, vocaliza do folhedo
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NOVO COLOSTEI11US DA AMAZÔNIA
B
A
Fig. 2- Colostethus stepheni sp. n. (INPA 722)- a) cabeça em vista dorsal; b) cabeça em vista lateral; c) mão em vista
ventral; d) pé em vista ventral. As barras correspondem a 5 mm.
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MARTINS
TABELA I
Medidas, em millmetros, da série-tipo de Colostethus stepheni sp. n •• O exemplar
MZUSP 64569 é o ho16tipo
MZUSP MZUSP ZUEC ZUEC MN
MN
INPA INPA INPA
Comprimento total
Comprimento da cabeça
Largura da cabeça
Diâme tro do olho
Espaço interocular
Distancia olho-narina
Comprimento do f!mur
Comprimento da tfbia
Comprimento do ~
INPA
64569
64570
6893
6894
4709
4710
0722
0727
0740
ô
C?
ô
C?
ô
C?
ô
ô
C?
C?
16,5
5,0
6,0
2,1
2,3
1,6
7,4
7,8
7,9
17,2
5,0
6,2
2,1
2,4
1,9
8,0
8,0
8,0
16,4
5,1
5,6
1,9
2,3
1,8
7,7
7,9
8,2
18,0
5,3
6,4
2,1
2,5
1,8
8,2
8,4
8,5
15,4
4,8
5,7
2,0
2,4
1,7
7,1
7,6
8,0
17,0
5,2
6,0
2,1
2,4
1,9
7,9
8,0
8,0
16,1
4,6
6,0
2,0
2,0
1,7
7,6
7,8
8,1
15,2
5,1
5,8
2,0
2,3
1,6
7,6
7,9
8,2
17,4
5,1
6,1
2,2
2,5
2,0
7,8
8,1
8,1
17,1
4,9
5,9
2,1
2,3
1,9
7,9
8,0
8,0
0742
z 3+-------------------------------------------------------------------- ---"
SEGUNDOS
0 .1
s
Fig. 3 - Colostethus stepheni sp. n. - Sonognma de duas séries de notas características de sua vocalização; controle MM
07/08, 5 de dezembro de 1986, temperatura do ar 28 °C, 13:00, Presidente Figueiredo, Amazonas. Filtro em 300 Hz.
sem preferência aparente por locais mais elevados. Apesar dos grandes esforços dispendídos, desovas e girinos de Colostethus stepheni
sp. n. não foram encontrados .
Vocalização : A vocalização de Colostethus stepheni sp. n. é constituída de séries de
7 a 9 notas semelhantes , com duração de cerca
de 350 ms, emitidas a intervalos regulares de
aproximadam ente 700 ms e em ritmo de 50-60
séries/mín. As notas que compõem as séries
possuem duração de cerca de 20 ms, são separadas por intervalos de cerca de 35 ms e emitidas em faixa de 3,7 a 4,5 KHz apresentand o
discreta modulação (Fíg. 3).
Comparaçã o com outras espécies: Colostethus stepheni sp. n. distingue-se de Colostethus brunneus da localidade tipo (Chapada dos Guimarães, M1) pela presença de faixa
dorsolateral clara, presença de expansão lateral no 3!? dedo dos machos, corpo mais robusto
e pelas vocalizaçõe s, e de Colostethus mar-
chesianus de Manaus, pelo porte maior, presença de faixa dorsolateral clara, presença de
expansão lateral no 3!? dedo dos machos, dorso
mais granuloso, aspecto mais robusto e pelas
vocalizações .
Etimologia: O nome da espécie é dado
em homenagem a Stephen Edwards que já havia notado que esta era uma espécie provavelmente não descrita (Edwards, 1974).
Agradecimento s- Sou grato a A. J. Cardoso e C. F. B.
Haddad pela leitura crítica do manuscrito, e tamb&n ao primeiro pela confecção do sonograma; a F. Marques, J. B. Rocha e S. Egler pelo auxfiio nos trabalhos de campo; e à Eletronorte pelas facilidades em Balbina.
REFERÊNC IAS BffiLIOGR ÁFICAS
EDWARDS, S., 1974, A Phenetic analysis of the genus
Colostethus (Anura: DendrobatidLu). University of
Kansas. Dissertação não publicada.
ICZN
(Intemational
Commission
on
Zoological
Nomenclature). 1985 .lntemalional code ofZoowgicol
nomendature. 3rd ed. Adopted by the XX General
Assembly of the International Unioo of Biological
Scieoces. International Trust for Zoological
Nomenclature, Loodon. 338 pp.

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