ANÁLISE EMERGÉTICA DE SISTEMAS AGROSILVIPASTORIS
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ANÁLISE EMERGÉTICA DE SISTEMAS AGROSILVIPASTORIS
ANÁLISE EMERGÉTICA DE SISTEMAS AGROSILVIPASTORIS *1 *1 *2 Teldes Albuquerque Enrique Ortega , Enrique Murgueitio 1 UNICAMP Universidade Estadual de Campinas – Laboratório de Engenharia Ecológica – CP 6121 CEP 13083-970, tel. 19-35214058, cel. 19-92616671 Campinas, São Paulo Brasil. [email protected], [email protected], 2 CIPAV Centro para la Investigación en Sistemas Sostenibles de Producción Agropecuaria, Cali Colombia. [email protected] RESUMO Este trabalho usa a Metodologia Emergética para avaliar a sustentabilidade da atividade agrícola. Foram avaliados os aspectos ambientais, econômicos e sociais de propriedades rurais que se enquadram no modelo denominado Sistemas Agrosilvipastoris (SASPs); duas delas já adotam este modelo por dez anos, enquanto as outras só implementaram o modelo há cinco anos. Os índices emergéticos calculados foram a (Tr) Transformidade, (%R) Renovabilidade, (EYR) Razão de Rendimento Emergético e (EIR) Razão de Investimento de Emergia. Além dos índices emergéticos, foi calculada a rentabilidade econômica e alguns índices sociais. A transformidade média dos SASPs de 10 anos é 110663 sej/J e no caso dos de 5 anos é 276831 seJ/J, mostrando que os SASPs desenvolvidos por mais tempo são mais eficientes. A Renovabilidade dos SASPs de 10 anos é levemente maior (49,1% versus 41,5%). A razão de rendimento emergético dos SASPs de 10 anos é 1,99 e dos de 5 anos de implantação 1,57, indicando saldo líquido de emergia maior. Já a razão de Investimento de Emergia das propriedades com 10 anos é menor (1,01 versus 1,41), indicando que os SASPs em estágio de transição exigem maior investimento. O estudo possibilitou a comparação das propriedades e concluiu que, a melhor relação custo/benefício tanto econômica, quanto social e ambiental foi obtida nos sistemas que adotam o modelo por mais de dez anos de produção. Possivelmente devido ao fato dos SASPs com mais de 10 anos diminuírem significativamente o uso de insumos externos e apresentarem um solo fértil, enriquecido pela cobertura natural das árvores e das leguminosas que aumenta a produtividade e os serviços ambientais. Palavras-chave: sustentabilidade, avaliação emergética, sistemas agrosilvipastoris. 1- INTRODUÇÃO Em muitos países da América Latina, a produção pecuária é uma atividade rural que está distante dos padrões ambientais desejáveis e da função social da propriedade. Esta atividade geralmente é extensiva, com valor baixo de emprego e baixa rentabilidade, alta erosão e perda de biodiversidade. Se for na modalidade intensiva, ela apresenta grande impacto ambiental devido à monocultura com grande uso de insumos químicos, e gerando uma situação preocupante em relação ao uso inadequado dos recursos naturais. Durante um curso na Embrapa-Agrobiologia tomou-se ciência dos trabalhos da Embrapa Gado de Leite com Sistemas Agrosilvipastoris (SASPs) e se obtiveram notícias do avanço das pesquisas sobre SASPs em Colômbia e Cuba. No III Congresso Brasileiro de Produção de Leite em Araxá (Ortega, 2003), o Dr. Enrique Ortega do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp conheceu o Médico Veterinário Enrique Murgueitio Restrepo, diretor da organização não governamental CIPAV, responsável por valiosos trabalhos de pesquisa e extensão na Colômbia. O Centro para Pesquisas em Sistemas Sustentáveis de Produção Agropecuária (CIPAV) oferece assessoria aos agricultores colombianos sobre sistemas de produção de leite aproveitando as técnicas agrosilvipastoris como alternativa sustentável para a produção pecuária. Ambos os pesquisadores se comprometeram a programar um convênio de trabalho e durante esta pesquisa de mestrado foi aprovado um convênio de cooperação institucional entre a Unicamp e a CIPAV, que tem como primeiro fruto à realização desta pesquisa. Considerando que os sistemas agrosilvipastoris são uma alternativa sustentável e econômica para a produção pecuária e que a economia clássica não permite calcular a viabilidade e a sustentabilidade ecológica destes sistemas, pois desconsideram aspectos ambientais e sociais. Nesta tese, realizamos o estudo dos SASP por meio da Análise Emergética que fornece indicadores de desempenho energético-ecológico. E, procedendo desta forma, achamos que será possível contribuir nos trabalhos de ordenamento do uso da terra. 2. METODOLOGIA Esta pesquisa foi realizada em três propriedades na Colômbia e uma no Brasil. No caso da Colômbia, foram escolhidos sistemas agrosilvipastoris que tem mostrado sucesso na sua implantação: Fazenda El Hatico, Fazenda El Rodeo e Fazenda La Meseta. A fazenda escolhida no Brasil foi a Fazenda Nata da Serra, situada na cidade de Serra Negra, Estado de São Paulo, que é uma referência em manejo orgânico. A análise emergética gera um perfil de entradas e saídas dos sistemas que permite o diagnóstico e sugere o caminho ideal para a reconversão social e ambiental da pecuária. 2.1 Procedimentos Análise Emergética A Metodologia Emergética (Odum, 1996), é usada para quantificar os fluxos de energia dos sistemas, mostrando a dependência do produto das diversas fontes de energia (naturais ou fósseis), discutindo a interação entre a economia e os ecossistemas, quantificando todos os fluxos de energia. A Metodologia Emergética considera as contribuições da natureza, o fornecimento de insumos da economia e o trabalho humano. Todos os fluxos são colocados em termos de energia solar incorporada (emergia solar) podendo-se agregar fluxos e fazer comparações. Primeira Etapa: Análise dos fluxos energéticos de entrada e saída do sistema. Nesta etapa ocorre à realização do fluxograma (Figura 1). Figura 1 Diagrama de Fluxos de Energia de sistemas de produção agrosilvipastoris. Segunda Etapa: Obtenção dos índices emergéticos. Consiste em converter cada linha dos fluxos de entrada do diagrama em uma linha de cálculo na tabela de avaliação de emergia. Os índices emergéticos são calculados com os resultados da tabela de avaliação de fluxos emergia e são tilizados para fazer as inferências da análise emergética. Além dos índices emergéticos, foram calculadas as rentabilidades econômicas e alguns índices sociais: trabalhadores por hectare, pessoas empregadas por hectare e custo do empregado por hectare de cada propriedade. Terceira Etapa: Com os valores dos fluxos agregados, é possível obter os índices emergéticos, os quais permitirão permitem avaliar os sistemas e para apontar os esforços a ser feitos para aprimorálo. Quarta Etapa: A comparação entre os modelos de produção que causam benefícios e impactos ambientais foi possível pelo fato de consideramos a energia da água infiltrada, da biomassa da mata nativa preservada e das reservas de bambu. 3. RESULTADOS 3.1 Renovabilidade: É a proporção de recursos renováveis utilizada na produção. Em todas as propriedades os índices são superiores a 42%. O melhor índice é o da fazenda Nata da Serra (50,93%) seguida de El Hatico (47,25%), El Rodeo (41,99%) e La Meseta (41,1%), conforme figura 2. As SASPs com mais de 10 anos de implantação (Nata da Serra e El Hatico) apresentam Renovabilidade maior do que as propriedades com apenas 5 anos (El Rodeo e La Meseta). Renovabilidade Média 300000 50 48 46 44 42 40 38 36 Transformidade Média 250000 SASPs 10 anos 200000 SASPs 5 anos 150000 49,09% SASPs 5anos 41,54% 100000 276831 50000 SASPs 10 anos 110663 0 Figura 2. Gráfico da Renovabilidade Média. Figura 3. Gráfico da Transformidade Média. 3.2 Transformidade: Índice que avalia a intensidade de energia do produto (eficiência do ecossistema produtivo). Observamos que os índices maiores são os das fazendas “El Rodeo” (244394) e “La Meseta” (309269) que têm 5 anos de SASPs, gastam mais recursos para produzir um joule do produto, enquanto a fazenda “El Hatico” (123051) e a “Nata da Serra” (98275) têm 10 anos de SASPs, apresentam os menores índices, pois não utilizam insumos químicos. Na Figura 3 colocamos a média das transformidades dos sistemas de 5 e 10 anos de implantação onde as propriedades que têm até 5 anos apresentam maiores índices por ainda usarem insumos químicos. EIR Taxa de Investimento de Energia EYR Taxa Média de Rendimento 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0, 6 0,4 0,2 1,5 SASPs 10 anos; 1,99 SASPs 5 anos 1,57 Figura 4 Taxa Rendimento Emergético Médio. 1,0 SASPs 5 anos 1,41 SASPs 10 anos 0,5 Figura 5 Taxa Média de Investimento de Energia 3.3 Taxa de rendimento emergético: Indica em que proporção os sistemas retornam energia em relação à energia econômica recebida. Os valores dos sistemas agrosilvipastoris implementados por até cinco anos; El Rodeo (1,31) e La Meseta, (1,83) são menores que os valores dos sistemas agrosilvipastoris de dez anos como Nata da Serra (2,04) e El Hatico (1,94). Nos SASPs de dez anos apresentam índices maiores devido à maior ciclagem interna de recursos, fato mostrado na Figura 4. 3.4 Razão de investimento de energia: A razão de investimento de emergia mede o esforço da sociedade para produzir um determinado produto em relação à contribuição da natureza. As propriedades que apresentam os menores índices são Nata da Serra (0,96) e El Hatico (1,06) (10 anos), significando que as mesmas usam os recursos da natureza em vez dos recursos da economia humana. La meseta (1,20) e El Rodeo (1,61) (5 anos) apresentam valores maiores, pois ainda estão em implantação e dependem de insumos químicos (Figura 5). 3.5 Rentabilidade Econômica Simples: Na Figura 6 pode-se constatar que os sistemas com mais de 10 anos apresentam índices menores, embora a receitas de todos os SASPs mostram um valor médio de 2000 US$/ha/ano. Neste calculo ainda não consideramos as externalidades negativas e os serviços ambientais não retribuídos monetariamente que comprovaria serem as propriedades com mais de 10 anos de SASPs as mais lucrativas. Beneficíos Totais −Custos Totais Rentabilidade Simples = Custos Totais Média da Rentabilidade Econômica Simples SASPs 5 anos Trabalhadores/hectare SASPs 5 anos 0,8 2,5 2 1,5 Média 2,49 0,6 SASPs 10 anos 0,4 1 0,2 Média 0,51 0,5 Figura 6 Rentabilidade Econômica Simples 0,63 SASPs 10 anos 0,07 Figura 7 Trabalhadores empregados por hectare. 3.6 Os índices sociais calculados foram: trabalhadores por hectare, emprego total por hectare e quantidade de trabalhadores familiares (vivem na propriedade) contratados. Observamos na Figura 7 que as propriedades de SASPs com 10 anos apresentam números menores de trabalhadores por hectare porque a área das mesmas são maiores que as propriedades de 5 anos de SASPs. Fazendas com 10 anos têm as áreas: Nata da Serra (102 ha), El Hatico (332 ha); Fazendas com 5 anos têm as áreas El Rodeo (11,2 ha) e La Meseta (39,2 ha). O mesmo acontece com as pessoas empregadas (Contador, Engenheiros, Maquinista, etc..) por hectare (Figura 8). Mas comparando o numero de trabalhadores familiares (vivem nas propriedades) nos dois sistemas verificamos que é bem maior o numero de trabalhadores familiares nas fazendas com 10 anos de SASPs (Figura 9). Pessoas (Contador, Engenheiro, etc...) contratadas por hectare SASPs 5 anos 2,5 2 1,5 1 0,5 2,06 SASPs 10 anos 0,075 Figura 9 Trabalhadores familiares contratados. Numero de Trabalhadores familiares (vivem nas propriedades) contratados 14 12 10 8 6 4 2 0 SASPs 10 anos Média 13,5 SASPs 5 anos Média 3,5 Figura 8 Pessoas contratadas por hectare 4. CONCLUSÃO E LIÇÃO APRENDIDA Considerando os aspectos econômicos, todas as fazendas (SASP) apresentam uma boa rentabilidade, porém, se considerarmos perda do sistema, então as opções melhores são as que não usam agrotóxicos como é o caso da Fazenda Hatico e Nata da Serra que tem mais de 10 anos de SASPs. Os SASPs são uma alternativa sustentável e econômica para a produção pecuária pelos bons índices emergéticos e econômicos. Através da implantação do SASP, com acompanhamento técnico e monitoramento de imagens das propriedades escolhidas poderemos: (a) Proteger e usar eficientemente os recursos naturais usando tecnologias apropriadas e melhorando a paisagem natural; (b) Maximizar a utilização dos recursos locais dando prioridade aos cultivos perenes com alta capacidade produtiva e diminuir até eliminar o uso de agroquímicos; (c) Aproveitar subprodutos das diferentes atividades. Os resultados deste trabalho vão ajudar na elaboração de 3000 manuais de boas práticas de manejo que serão distribuídos aos produtores de Campinas que quiserem fazer a reconversão para SASPs, aplicando as técnicas agroecológicas corretas para reduzir os impactos ambientais. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Odum, H. T.; Environmental Accounting. Emergy and Environmental Decision Making. John Wiley & Sons, Inc., New York, USA. , 1996. 370p. Ortega, E. 2003. A Análise emergética de sistemas pecuários: búfalo no Rio grande do Sul. http://www.unicamp.br/fea/ortega/extensao/12-LeiteBufalaRS.pps Acessado em 06/04/2009.