World Bank Document - Documentos e informes
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Public Disclosure Authorized Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento IPP310 23 de julho de 2008 PROJETO PROACRE Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized PLANO PARA OS POVOS INDÍGENAS Introdução: OS Povos Indígenas no Projeto (OP e BP 4.10) PROACRE é um projeto integrado e intersetorial, envolvendo componentes de educação, saúde e desenvolvimento sustentável. Para atingir seus objetivos de desenvolvimento e gerar benefícios de forma mais efetiva, o projeto envolve parte as interessadas locais, incluindo os povos indígenas, em particular nas áreas de desenvolvimento comunitário, gestão territorial, promoção diferenciada de técnicas e qualificações e assistência especial para o desenvolvimento e fortalecimento de cadeias produtivas baseadas no uso sustentável dos recursos naturais da floresta. O desenho do projeto destaca a importância de se trabalhar com as populações indígenas do Estado do Acre, não apenas por causa das suas necessidades especiais como grupo historicamente excluído, mas, principalmente, por causa da riqueza de suas culturas, seu papel central na preservação dos recursos naturais da Amazônia, e sua habilidade de viver e trabalhar na floresta, mantendo seu balanço ecológico. Em concordância com a política do Banco, este Plano para Povos Indígenas (PPI) foi preparado pelo Governo do Estado do Acre, delineando ações e sua razão de ser contidas no projeto para beneficiar estes povos. Representantes de grupos dos povos indígenas serão envolvidos como beneficiários e em atividades de aconselhamento nos níveis de planejamento e política, e em atividades de monitoramento e avaliação de atividades financiadas pelo projeto relacionadas às suas comunidades. Uma vez que o projeto não gerará impactos negativos sobre os povos indígenas, a participação dos indígenas será crucial para otimizar os benefícios do projeto. Por gerações, os povos indígenas usaram ecossistemas de florestas tropicais para sua subsistência sem causar degradação ambiental, sendo esta uma das principais razões pelas quais muitos cientistas reconhecem que a expertise indígena na gestão dos recursos naturais é exemplar. Além disso, por sua relação próxima com a floresta, os povos indígenas são a população mais vulnerável às drásticas mudanças que têm ocorrido Amazônia. Este PPI foi preparado para responder às questões contidas nas OP e BP 4.10. A primeira seção deste PPI provê antecedentes gerais sobre povos indígenas no Brasil. A segunda seção revê o quadro legal e institucional que governa a relação do Brasil com povos indígenas. A terceira seção descreve como a legislação as políticas brasileiras lidam com a questão da posse de terras. A quarta seção aborda as principais características dos povos indígenas residentes no estado do Acre. A quinta seção descreve as organizações indígenas no Acre. A sexta seção detalha o processo de consulta que ocorreu durante a preparação do PROACRE. A sétima seção especifica o plano para participação indígena nas atividades planejadas do projeto, além dos benefícios diretos e indiretos esperados. 1 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento O PPI também contém os seguintes anexos: Anexo A: traz um resumo do projeto VIGISUS, financiado pelo Banco Mundial, que provê recursos para que a FUNASA execute o seu mandato federal de atender a saúde indígena; Anexo B (em Português): com termos de referência para o Processo de Consulta; Anexo C (em Português): com a Ajuda Memória da Primeira Consulta com os povos indígenas, em Cruzeiro do Sul; Anexo D (em Português): com a Ajuda Memória da Primeira Consulta com os povos indígenas em Tarauacá; e, Anexo E (em Português) com a Ajuda Memória da terceira, final e conclusiva Consulta com líderes indígenas em Rio Branco, em 11 de Junho de 2008. 1. As Sociedades Indígenas do Acre - Antecedentes Entre todos os países da América Latina, o Brasil tem uma das populações mais diversas. No Brasil, descendentes de vários grupos étnicos se miscigenaram, incluindo habitantes ameríndios originais, colonizadores portugueses e holandeses, invasores franceses, imigrantes europeus e asiáticos e africanos trazidos como escravos. Ao contrário do que normalmente se acredita, a miscigenação nem sempre foi harmoniosa. Ela produziu desigualdades e resultados díspares em termos de acesso a recursos e oportunidades e de controle sobre o acesso. Com os portugueses viajando sem mulheres e sem esposas, a miscigenação foi inevitável. Pesquisas sobre o genoma humano brasileiro mostram que 60 por cento dos brasileiros que se consideram brancos têm pelo menos um ancestral ameríndio ou africano. Mas foi do conflito entre os grupos indígenas e migrantes nordestinos que se originou a sociedade acreana atual. Os povos indígenas do Brasil incluem um grande número de diferentes grupos étnicos, cujos ancestrais viviam no território brasileiro antes da existência do Estado brasileiro. O Brasil provavelmente ainda tem a maior população indígena do mundo vivendo em isolamento, com grupos indígenas no Acre e outros estados ainda a serem contatados e, portanto, sem nenhuma comunicação com o mundo exterior. À época da descoberta européia, os povos indígenas eram tradicionalmente semi-nômades e subsistiam com base na caça, pesca, coleta, e agricultura migratória. Muitas das estimadas 300 nações e tribos que existiam antes de 1500 morreram de doenças trazidas por colonizadores europeus ou por contatos ulteriores com outros grupos. Muitos também foram assimilados. A população indígena decaiu de estimados quatro a seis milhões para 734.000 em 2000, de acordo com o IBGE, que usa o critério da auto-declaração. Para esses povos, a história brasileira por cinco séculos significou a contínua perda de liberdade, independência e terra. Estudos recentes indicam traços de povoamento humano no Acre entre 20 mil e 10.000 anos atrás. Registros arqueológicos indicam que a formação dos povos indígenas do Acre tem origem 2 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento na longa e demorada migração de grupos provenientes da Ásia que se instalaram nas terras baixas da Amazônia. A história da ocupação do Acre pelos povos indígenas se traduz na história da constituição de grupos indígenas distintos ao longo do curso dos rios. Em meados do século XIX, quando a região amazônica começou a ser conquistada e inserida no mercado, a ocupação dos rios Purus e Juruá pelos povos nativos apresentava uma divisão territorial entre dois grupos lingüísticos distintos, com relevantes diferenças: no Purus havia o predomínio dos grupos Aruan e Aruak, do mesmo tronco lingüístico. No Juruá, predominavam os povos indígenas do grupo Pano. No médio curso do Rio Purus, hoje Estado do Amazonas, habitavam povos de língua Aruan do tronco Aruak. Grupos pouco aguerridos, eram geralmente submetidos por outros ou se refugiavam na terra firme, espalhando-se por ambas as margens do médio Purus. Segundo recentes análises lingüísticas, registros dessa presença na área datam de pelo menos 2.000 anos atrás. No curso do Rio Purus e no baixo Rio Acre estavam estabelecidas diversas tribos do tronco lingüístico Aruak: Apurinã, Manchineri, Kulina, Canamari, Piros, Ashaninka. Esses grupos se espalharam desde a confluência do Rio Pauini com o Purus até a região das encostas orientais dos Andes, cerca de 5.000 anos atrás. A eles teria cabido resistir à expansão das civilizações andinas antes de enfrentar o avanço dos brancos sobre suas terras na época da borracha. No alto curso do Rio Acre, alto Iquiri, Abunã e outros afluentes do Rio Madeira, em território boliviano, havia um enclave de grupos falantes das línguas Takano e Pano. Alguns, como os Paçaguara, eram bastante aguerridos. Outros, como os Kaxarari, eram mais sociáveis e, apesar das diferenças lingüísticas e culturais, mantinham contato com os Apurinã. A língua takana é de origem mais recente, tendo surgido entre 3 e 2 mil anos atrás. Na região intermediária entre o médio curso do Purus e o Juruá, ao norte do Acre, habitavam os Katukina, sobre os quais há raras informações. Esse grupo teria surgido há cerca de 2 mil anos. Eram pouco numerosos e ficavam contidos entre os Aruak a leste e os Pano a oeste, restandolhes a exploração das terras firmes menos ricas em alimentos, ao contrário dos povos que viviam às margens dos rios. Considerável espaço do médio e alto curso do Rio Juruá (o rio das muitas curvas) e seus afluentes, como o Tarauacá, o Muru, o Envira, o Moa, era dominado por numerosos grupos falantes da língua Pano: Kaxinawa, Jaminawa, Amahuaca, Arara, Rununawa, Xixinawa, grupo linguístico com registro de mais de 5 mil anos na área. Devido ao seu caráter guerreiro, os Pano conquistaram territórios de outros povos e também do mesmo tronco linguístico. Esse fato ajuda a explicar a fragmentação que eles apresentavam quando os nordestinos começaram a chegar à região. No entanto, existem algumas diferenças metodológicas na coleta de dados sobre população indígena. Enquanto o IBGE usa o critério da auto declaração, incluindo, assim, aqueles que, 3 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento mesmo vivendo em áreas urbanas, se consideram indígenas, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) considera como indígenas apenas aqueles que vivem nas aldeias. Esta diferença se reflete nos números: enquanto os dados do IBGE mostram 734.000 indígenas no Brasil, a FUNAI reporta 450.000. A diferença também é refletida nos mecanismos de atendimento ao publico alvo: apenas aqueles que vivem nas aldeias são o público alvo das políticas governamentais para os povos indígenas. No desenho do projeto, dada a sua característica espacial, a definição do IBGE será usada. Em outras palavras, o projeto gerará benefícios diretos para grupos indígenas rurais residindo em aldeias, além de gerar benefícios indiretos para populações as indígenas localizadas nas vilas e pequenas cidades. Desde os tempos coloniais, o Brasil tem lidado com a questão dos trabalhadores rurais sem terra por meio da expansão da fronteira agrícola no sentido oeste. A ocupação do Estado do Acre por povos não indígenas começou na segunda metade do Século XIX, com o primeiro ciclo da borracha, agravou-se no segundo ciclo da borracha, durante a Segunda Guerra Mundial, aumentou na década de 1970 e continua até o presente. Os ciclos da borracha, que marcaram a história da Amazônia e em especial a história do Acre, responsáveis por ondas migratórias vindas do Nordeste, transformaram trabalhadores rurais nordestinos em seringueiros ao longo de mais de um século e, consequentemente, em atores involuntários na disputa de territórios com os povos indígenas do Acre. Para suprir a demanda da Europa e dos Estados Unidos pela borracha do Acre, foi necessário criar um sistema de circulação de mercadorias e produtos ligando os empresários seringalistas com os trabalhadores seringueiros. Em 1882 foi criado o primeiro Seringal do Acre, o Seringal Empresa, onde hoje se localiza a capital do Estado, Rio Branco. Este sistema, que abriu as portas do Acre para as empresas extrativista, foi o primeiro a abrir picadas para forçar os povos indígenas do Acre a abandonar suas terras. Como parte do mesmo processo de produção da borracha para suprir a demanda externa, enquanto os caucheiros peruanos exploravam o Acre através das cabeceiras dos Rios Juruá e Purus, os seringalistas bolivianos cercavam territórios ao sul através do vale de Madre de Dios. Com isso, os povos indígenas do Acre viram-se cercados por todos os lados por brasileiros, peruanos e bolivianos e, na maioria das vezes, não puderam resistir. Mas foi durante o primeiro ciclo da borracha, especialmente entre 1890 e 1910 que muitos grupos indígenas foram exterminados, alguns poucos conseguiram se isolar na cabeceira dos rios, e a grande maioria, ao fazer contato com os invasores, viu-se forçada a modificar seu modo de convivência com a floresta para sobreviver. Nos anos 70 do Século XX, o regime militar proveu incentivos por meio de programas de colonização e de esquemas de reforma agrária, para que um grande número de pessoas sem terra migrasse para o estado. Todavia, a experiência foi decepcionante. A migração de pequenos agricultores das antigas para as novas fronteiras representou uma ameaça para a floresta e, uma década depois, a economia local estava estagnada e o preço da terra havia aumentado. 4 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento A instabilidade macroeconômica dos anos 1980 e 1990 também contribuiu com o desmatamento de duas formas: (a) mudando a demanda por terra como fator produtivo para terra como ativo especulativo; e (b) reduzindo os custos de oportunidade para que pequenos agricultores deixassem suas terras e desmatassem novas terras1. Como resultado, estes colonizadores levaram a fronteira para áreas mais no interior da floresta. Num dado momento, estes agricultores começaram a migrar para assentamentos urbanos na região, que não tinham a capacidade, as rendas, ou o serviço para responder à entrada de novos habitantes. Sua vulnerabilidade se tornou extrema, assim como a vulnerabilidade dos povos indígenas, que foram desalojados e cujas vidas foram desestruturadas no processo. 2. Aspectos Legais e Institucionais 2.1. Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT O governo brasileiro ratificou a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre povos indígenas e Populações Tribais. Em 1966, o Brasil assinou a Declaração da ONU sobre Direitos Humanos, que incluiu o Pacto por Direitos Civis e Políticos e o Pacto por Direitos Econômicos, Políticos, Sociais e Culturais, que se tornaram lei em 1992. Como parte da lei e em conjunto com direitos que cobrem toda a população (direitos ao trabalho, saúde, educação, sustentabilidade ambiental, etc.), direitos específicos focados em populações vulneráveis foram incluídos.2 Provisões foram estabelecidas para proteger todos os grupos vulneráveis, incluindo povos indígenas e a diversidade de seus padrões culturais e organização social. 2.2. O Estatuto do Índio A Lei Federal 6.001, conhecida como Estatuto do Índio, foi aprovada em 1973. Esta lei estipula a relação entre o governo brasileiro e os povos indígenas. Os Povos indígenas foram considerados “relativamente capazes” e que deveriam ser tutorados por uma organização do governo federal: primeiro, o Serviço Nacional de Proteção ao Índio, substituído pela Fundação Nacional do Índio-FUNAI. 2.3 A Constituição da República Federativa do Brasil No final dos anos 1980, como resultado de intensas mobilizações e debates promovidos por organizações indígenas e vários grupos da sociedade civil, o Brasil inaugurou um novo quadro para direitos indígenas. Apesar de o Estatuto do Índio continuar em vigor, a Constituição Federal de 1988 modificou uma de suas premissas centrais: que povos indígenas deveriam ser integrados na sociedade brasileira. Osório, A.L. e Campari, J, Sustainable Settlement in the Brazilian Amazon, The World Bank 1995. Art. 11 - 1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados-partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre consentimento 1 2 5 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento A Constituição de 1988 reconheceu a diversidade do Brasil, mas não solicitou a integração dos povos indígenas no padrão geral brasileiro. Ao invés disso, ela reconheceu diferenças historicamente produzidas e garantiu o direito dos povos indígenas de viver de acordo com seus valores e heranças tradicionais. A constituição contém um capítulo inteiro sobre os direitos dos povos indígenas, que assegura o respeito por sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e reconhece seu direito original sobre as terras tradicionalmente ocupadas por eles (título VIII, "Da Ordem Social", capítulo VIII, "Dos Índios"). Desde então, os direitos constitucionais dos povos indígenas incluem pelo menos dois conceitos importantes e inovadores, em comparação com as Constituições anteriores e o Estatuto do Índio. A primeira inovação é o abandono do ponto de vista da assimilação, que, no final, destinaria os povos indígenas ao desaparecimento. A segunda inovação é o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas sobre suas terras, definido antes mesmo da criação do próprio Estado brasileiro. A atual Constituição da República Federativa do Brasil, outorgada em 1988, reserva aos povos indígenas capítulo próprio, consolidado em seus artigos 231 e 232, onde: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. São consideradas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios aquelas por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes; O aproveitamento dos recursos hídricos, inclusive os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com a autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada (caso autorizada a lavra) a participação em seus resultados de lavra, na forma da lei. É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantindo, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. 2.4. Legislação Complementar desde 1988 Desde a Constituição de 1988 - e em paralelo às mudanças políticas mais amplas relacionadas ao retorno à democracia, a política indígena no Brasil começou a se mover na direção de um arranjo institucional mais descentralizado, com responsabilidades para os povos indígenas sendo compartilhadas por múltiplas organizações em múltiplos níveis. Tradicionalmente, a FUNAI implementava de maneira centralizada as políticas e programas indígenas: 6 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Decreto 1141 (Maio de 1994) : substituiu outros decretos e estabeleceu um quadro para a descentralização dos mais relevantes serviços providos à população indígena. Ele redistribuiu para pelo menos sete ministérios (Justiça, Desenvolvimento Agrário, Educação, Meio Ambiente, Desenvolvimento Social e Saúde) as atividades que envolvem povos indígenas nas áreas de saúde, educação, desenvolvimento econômico, direitos humanos e gestão dos recursos naturais. A FUNAI continuou responsável por coordenar e monitorar estas políticas. O Decreto 1141 também estabeleceu que o cuidado preventivo e curativo básico para indígenas deveria fazer parte do mandato da FUNASA. Em 1999, por meio da Lei 9.936, as normas que regem o subsistema de provisão de serviços de saúde indígena foram mais precisamente definidas. Este novo subsistema foi organizado sob a premissa de que a saúde indígena é uma atribuição do governo federal (Ministério da Saúde), devendo ser ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando todos os princípios a ele aplicados e se baseando nos distritos sanitários indígenas. Estes distritos proverão serviços de saúde a aldeias indígenas e ser responsáveis por unir estes serviços ao SUS. Igualmente, os distritos indígenas devem considerar a diversidade de cada grupo indígena.3 Ademais, os povos indígenas devem participar na gestão destes distritos por meio de conselhos locais. O decreto número nº. 3.156, 27 (27 de agosto de 1999) confirmou a responsabilidade do governo Federal para com a saúde indígena, estabelecendo como prioridade para a saúde dos indígenas: (a) queda na mortalidade materna e infantil; (b) interrupção do ciclo de doenças transmissíveis; (c) controle da desnutrição; (d) cuidado dentário; (e) restauração de condições ambientais degradadas; e (f) total e completo cuidado médico e dentário, em colaboração com organizações indígenas. Ele também estabelece que estas ações não devem conflitar com aquelas levadas a cabo por governos estaduais e municipais, sob o (SUS). Em suma, dois importantes avanços na legislação atual incluem: (i) ênfase na abordagem diferenciada, com atenção às realidades locais e à diversidade cultural; e (ii) uma visão sistêmica da saúde indígena, englobando não apenas serviços de saúde, mas também habitação, oferta de água, saneamento, segurança alimentar, meio ambiente e educação ambiental, e segurança fundiária4. Contudo, a legislação atualmente existente não levou a um nível satisfatório de garantia de execução ou implementação. De fato, durante os últimos anos, o setor de saúde se tornou o mais conflituoso de todos os setores que lidam com povos indígenas, possivelmente porque as expectativas eram altas devido à reorganização do sistema. Um consenso parece estar emergindo ao redor das principais causas para a falta de resultados. 3 Luciano Maia, Minorias: Retratos do Brasil de Hoje, htpp://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/lucianomaia102.html, consultado em 02/06/2006. 4 Como a saúde é um mandato federal, o governo do Acre está trabalhando próximo a esta instituição para abordae a questão da saúde entre povos indígenas. Ademais, o estado do Acre tem um grande programa financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que trata da educação indígena, construindo escolas, identificando e treinando professores e produzindo materiais de ensino culturalmente apropriados. Por essas razões, o PROACRE está focado no desenvolvimento comunitário para populações indígenas. Além disso, por meio de três consecutivos VIGISUS, o Banco apóia com 40 milhões de dólares o programa do Ministério da Saúde para saúde, água e saneamento indígenas, por meio da FUNASA. 7 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Em primeiro lugar, a divisão inicial de responsabilidades entre FUNAI e FUNASA, quando a FUNAI ainda retinha a responsabilidade por atividades de saúde relacionadas ao tratamento de doenças dos indígenas. Em segundo lugar, a transferência de recursos da FUNASA para organizações indígenas, ONGs e pequenos municípios sem capacidade institucional ou técnica para prover serviços, comprar insumos e preparar registros financeiros5. Em terceiro lugar, a fraca capacidade de monitoramento da FUNASA. Em quarto lugar, serviços de saúde, quando providos a povos indígenas, requerem capacidade profissional para transito entre múltiplos quadros culturais, múltiplos sistemas terapêuticos, e múltiplos conceitos sobre saúde e doença. Na prática, porém, há poucos profissionais com esse perfil. Em quinto lugar, a participação feminina em todos os níveis de tomada de decisão é inadequada. E em sexto lugar, não existe uma clara política sobre o quadro institucional necessário para lidar com o crescente número de indígenas que vivem fora das terras indígenas mas que se identificam como índios. Eles residem frequentemente em assentamentos rurais e urbanos que não são considerados aldeias nem pela FUNAI nem pela FUNASA6. 3. As Sociedades Indígenas do Acre e suas Terras O Acre conta hoje com 34 terras indígenas (TIs), o que corresponde a 14,55% do seu território. Destas, 30 já estão completamente regularizadas e apenas quatro estão em processo de regularização. Entretanto, há profundas diferenças nas formas de organização dos povos de cada TI, diferenças essas causadas pelo grau de contato com a civilização ocidental, da sua localização geográfica e das políticas públicas das quais foram e continuam sendo objeto. Parte das TIs está situada em áreas de influência direta das BRs 364 e 317, hoje palco de rápidas transformações fundiárias e ambientais. Uma outra parte, constituindo um mosaico contínuo de áreas reservadas, onde a biodiversidade está em larga medida preservada, está distribuída ao longo da fronteira internacional com o Peru. 3.1. A Posse da Terra7 Este projeto não envolve posse da terra e não terá impacto nesse tema. No entanto, como no passado, o preço da terra aumentou consideravelmente na maioria das fronteiras, a pressão especulativa pelo desmatamento cresceu a uma taxa mais rápida que a pressão advinda da O projeto proposto buscará evitar estas inadequações. Ele trabalhará por meio do SUS para estender o atendimento básico aos indígenas residentes em áreas urbanas e aglomerações rurais, e fortalecer sistemas de referenciamento e emergência através da região com o publico alvo, melhorando, assim, o acesso ao atendimento especializado. Ele também irá prover treinamento e assistência técnica a ONGs e provedores municipais sob contrato com a FUNASA. 6 O projeto VIGISUS, apoiado pelo Banco, busca melhorar a capacidade da FUNASA’s para prover serviços de saúde de qualidade para populações indígenas. Ver Anexo C para uma descrição sumária do projeto. 7 O Banco Mundial trabalha diretamente com a demarcação de territórios indígenas na região Amazônica por meio do PPG7; e, como parte do Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais do Brasil, o Projeto Terras Indígenas busca “ampliar o bem-estar dos povos indígenas e promover a conservação de seus recursos naturais, completando a legalização e assistindo na proteção de aproximadamente 121 áreas indígenas na Amazônia.”. O Projeto Corredores Ecológicos apóia a proteção da diversidade biológica em terras indígenas, contribuindo para o uso sustentável dessas terras e para a conservação de seus recursos ecológicos. Beneficiários são povos indígenas vivendo nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. 5 8 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento produção. Além disso, conflitos anteriores sobre terras indígenas que poderiam ter impacto no projeto não o terão, pois a proteção às terras dos povos indígenas no Acre, incluindo suas fronteiras, foi abordada pelo governo do estado durante os últimos doze anos, em parceria com o governo federal. Desde o início do século vinte, a legislação brasileira confere reconhecimento legal ao direito dos povos indígenas a suas terras, que constituem cerca de 82 milhões de hectares, ou 16,4% da Amazônia Legal8. Ainda, terras indígenas são áreas reservadas protegidas por meio do Código Florestal, designadas para serem áreas permanentes de conservação. A legalização de terras indígenas requer cinco passos: que a terra seja formalmente identificada, delimitada, demarcada, decretada e registrada. Terras indígenas são territórios oficialmente reconhecidos pelo governo federal como de posse permanente dos povos indígenas. Cabe mencionar a natureza legal sui generis das terras indígenas: elas pertencem à União, mas são constitucionalmente reconhecidas como posses permanentes e dedicadas ao uso exclusivo pelos indígenas vivendo nessas terras. Tais terras são não disponibilizáveis e os direitos dos indígenas sobre elas são perenes. A Constituição reconhece expressamente esses direitos como primordiais, o que significa que eles precedem o próprio Estado nacional. Como parte integral do território nacional, as normas gerais do sistema legal brasileiro se aplicam a elas. Por exemplo, se é ilegal desmatar em cabeceiras em qualquer lugar do país, então também é proibido fazê-lo em terras indígenas. Portanto, qualquer ato ou norma específico sobre uma parcela específica que seja incompatível com ou restritiva ao direito indígena de uso exclusivo é constitucionalmente considerada vazia. A Constituição também declara nula e vazia qualquer alegação de propriedade privada sobre terras indígenas. Ela permite mineração, atividades florestais ou outras atividades em terras indígenas apenas quando elas são de interesse nacional e são especificamente acordadas por ato do Congresso. Como resultado da Constituição de 1988, cerca de 80 por cento das terras indígenas estão agora delineadas. Em suma, terras indígenas são: (a) Propriedade do governo Federal e apenas agências federais, como a FUNAI e a FUNASA têm mandatos para conduzir políticas em seu interior; (b) Direcionadas para ocupação permanente por povos indígenas; (c) Quaisquer atos legais que afetem este direito de posse são declarados nulos e vazios, exceto aqueles de relevante interesse público para o governo federal; (d) Apenas povos indígenas podem desfrutar da riqueza do solo, rios e lagos existentes nelas; (e) A exploração de recursos aquáticos, a pesquisa e a extração de riquezas minerais só podem ser realizadas [em terras indígenas], com a autorização do Congresso Nacional, depois de ouvidas as preocupações das comunidades afetadas e garantida sua participação nos benefícios de tal exploração. 8 De acordo com a FUNAI, as terras indígenas no Brasil ocupam 929.209 km2, cerca de 11 por cento do território brasileiro. 9 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento 4. As Sociedades Indígenas do Estado do Acre A história dos povos indígenas no Acre provavelmente começou entre 20.000 e 12.000 anos atrás, quando os primeiros grupos humanos, provavelmente vindos da Ásia, chegaram na América do Sul. Naquela época, o processo de aquecimento da terra começou, associando um aumento na umidade que provocou o desaparecimento da mega fauna, a uma expansão das florestas e de animais menores. Grupos humanos começaram a contar com recursos alimentares mais diversos, dando origem, cinco mil anos atrás, ao desenvolvimento do que os antropólogos chamam de Cultura da Floreta Tropical. Esta cultura é caracterizada por uma agricultura incipiente, complementada pela caça e pesca, coleta de sementes e alguma forma de cerâmica. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Arqueologia indicam a existência de duas formas diferentes de cerâmicas; a primeira prevalecendo no vale dos rios Purus e Acre (Cerâmica Quinari), e a segunda prevalecendo no vale dos rios Juruá e Tarauacá (Cerâmica Acuriá). As formas distintas de sua cerâmica representam uma divisão territorial entre dois grandes grupos lingüísticos que subsistem até hoje: o Aruan e Arawak na região do Purus, e o Pano na região do Juruá. A partir de 1860, colonizadores brancos começaram a descobrir não apenas povos indígenas no Acre, mas também a riqueza dos recursos naturais dos rios acreanos. Milhares de homens, do Brasil e da Bolívia, começaram sua jornada através desses rios, explorando seringais nativos e, então, dominando a região do Purus. Com os brancos, vieram as novas doenças, às quais os povos indígenas não tinham meios povos indígenas não tinham meios para resistir – doenças que, às vezes, matavam aldeias inteiras períodos muito curtos de tempo. Alguns poucos grupois sobreviveram, escondidos em partes distantes de rios, apesar da sistemática perseguição dos colonizadores. Apenas após 1976, com o estabelecimento do primeiro posto da FUNAI, os indígenas puderam encontrar alguma esperança de sobrevivência. Hoje, há (apenas) aproximadamente 14.000 indígenas no Acre (em 686.000 habitantes), falando as línguas Pano, Arawak e Arawá. Em 2007, 34 terras indígenas haviam sido reconhecidas pelo governo federal e estão agora em diferentes passos de seus processos de regularização. Alguns desses grupos são: Jaminawá9: População de 500 no Brasil, 324 no Peru, e 630 na Bolívia. Língua da família Pano. Os Jaminawá são habitantes do centro da mata e da periferia miserável das cidades: representam o "selvagem" arredio ou o índio "deculturado" que esmola nas ruas. Encarnam as contradições mais dramáticas do imaginário e da história da Amazônia. Podemos encontrar as duas versões dos Jaminawá numa única página da Gazeta de Rio Branco (17/09/97): uma matéria informa da sua presença numa favela da capital acreana e uma outra atribui aos "Jaminawá" uma série de ataques que aterrorizam os habitantes de um remoto seringal.. Os Yaminawá praticam uma agricultura de subsistência quase monopolizada pela macaxeira e a banana. Dispõem em geral de caça abundante; a pesca, ao menos na aldeia do rio Acre, é pobre durante boa parte do ano. Sua Quase toda informação sobre grupos indígenas foi retirada da Enciclopédia dos povos indígenas no Brasil, do ISA. Além disso, o Governo produziu uma análise, “Contexto Geral Para Análise dos Povos Indígenas no Acre”. 9 10 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento integração econômica no mundo branco é secundária e marginal; os salários e as aposentadorias obtidos do FUNRURAL, de projetos educativos ou desenvolvimentistas estão em geral comprometidos, a crédito, com comerciantes de Assis Brasil. Salários como diaristas, ou o produto da venda de banana, peixe ou caça, servem em geral para financiar as viagens e estadias em Assis Brasil e Rio Branco. Os empreendimentos de criação de bovino ou suíno ou de plantação de arroz são individuais e pouco significativos, assim como as atividades extrativas. A pressão dos brancos sobre os seus territórios – em geral fronteiriços com áreas de preservação – resume-se à ação individual de pescadores ou caçadores. A eventual pavimentação da ligação rodoviária Acre-Peru por Assis Brasil-Iñapari pode alterar essa situação. Kulina: População de cerca de 2.600, vivendo ao longo dos rios Juruá e Purus, a maioria no Brasil (Acre) e nas áreas meridionais da floresta Amazônica. Apesar de viverem próximos a assentamentos urbanos, eles nunca deixam suas aldeias. No passado os Kulina viviam em grandes malocas de palha, possuindo duas aberturas situadas uma a leste e outra a oeste, que abrigavam grandes famílias. Atualmente vivem em casas construídas sobre pilotis, nos moldes regionais das habitações dos seringueiros amazônicos. Seu assoalho é de paxiúba, variando entre um e dois metros sua distância em relação ao solo. O telhado é coberto com folhas de jarina uma espécie de coqueiro local -, inclinando-se em duas águas, num ângulo de aproximadamente 45 graus. De acordo com as crenças dos Kulina todos os homens e mulheres foram criados pelos heróis mitológicos Tamaco e Quira, inclusive os brancos, mas somente os Kulina são gente: Madija. Dentre essas gentes madija, pode-se citar os Madija ssaco ("gente da traíra"), Madija ccorobo ("gente do peixe jejum"), entre outros, totalizando em torno de 76 tipos conhecidos de Madija, sendo que cada epônimo caracteriza os membros do grupo de descendência a ele associados. Os Madija ssaco, por exemplo, são considerados introspectivos, como acredita-se que seja o comportamento ssaco. Neste sentido, não somente o social atribui às diferentes gentes características do seu animal ou planta identificado, como também as gentes assim se acreditam. Para a tematização paradigmática dessa forma de classificação totêmica, as diferenças entre uma série natural (animal e ou vegetal) são atribuídas e constituem as diferenças da série cultural. No casamento Kulina há uma série de regras que ambos os sexos devem cumprir. O marido deve obrigações ao sogro, em retribuição à concessão da esposa, e recebe em manaco (troca; retribuição) obrigações dos seus cunhados por cuidar da irmã. Estas dizem respeito principalmente aos trabalhos coletivos, como a derrubada da mata para a roça e a construção de casas e canoas. À mulher ele deve oferecer dádivas e presentes em troca dos seus favores, necessidade que se expressa inclusive publicamente, como por exemplo, no ritual da Coidsa, em que os homens retornam da floresta trazendo alimentos que entregam publicamente às suas esposas. Normalmente, a vida das meninas começa muito cedo, com 3 ou 4 anos, a parecer-se com a das respectivas mães. Apesar de não terem compromissos na primeira infância, logo são incentivadas a fazer um pequeno fogo e brincar de cozinhar com pequenas panelas de barro confeccionadas pelas mães. As mães também lhes fazem pequenos cestos de buriti, reproduções dos cestos que as mulheres mais velhas usam para buscar macaxeira nas roças, com os quais elas as acompanham e brincam de trabalhar. Ashaninka: Também conhecidos como Kampa, ou Kampa do Rio Amônia. Vivem no Acre e nas florestas próximas do Peru. A população atual no Brasil é estimada em cerca de 1,000, 11 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento falando uma lingual da família Arawak. Os Ashaninka têm uma longa história de resistência e de se lutar contra invasores desde a época do império Inca (de acordo com sua história oral, os Kampa que vivem no Brasil têm como abcestrais os Kampa de Arequipa no Peru que, para resistir à colonização, fugiram para o Brasil com suas famílias, logo após a chegada dos espanhóis ao Peru nos anos 1500). Os Ashaninka conseguiram manter sua terra, tradição, valores espirituais e culturais apesar da pressão do boom da borracha no século XIX e, mais recentemente, estão resistindo à intromissão dos madeireiros, desde os anos 1980 até hoje. Após longa luta durante os anos 1980s contra as atividades madeireiras mecanizadas em suas terras, os Ashaninka do rio Amônia foram obrigados a enfrentar o problema novamente no final do ano 2000, quando madeireiros peruanos começaram a invadir seu território ao longo da fronteira Brazil-Peru. Apesar da resistência incansável dos Ashaninka, os madeireiros continuam operando até hoje. Eles possuem uma impressionante capacidade de conciliar costumes e valores tradicionais com idéias e práticas do ocidente, tais como aquelas que têm a ver com a sustentabilidade socioambiental. Arara: Devido ao fato de os Arara estarem em contato com a população ao seu redor por muito tempo (aproximadamente 60 anos), sua organização política e social, bem como suas práticas culturais tradicionais, sofreu consideráveis perdas ou praticamente desapareceram. Do que foi possível determinar a partir dos idosos, havia festas tradicionais (por exemplo, a festa da colheita do milho), e havia também a reclusão dos jovens até a época do casamento. Havia dois grupos distintos de Arara: aqueles que existem hoje e os chamados "Pés Pretos", que supostamente falavam um dialeto diferente dos Arara. Relatos contam que apesar de habitarem regiões próximas e manterem boas relações de amizade, os dois grupos em várias ocasiões tiveram episódios de animosidade, que redundaram em mortes de ambos os lados. Atualmente não há registro da existência de índios do grupo "Pé Preto" entre os Arara. Alguns aspectos ainda mantidos de sua organização social são, por exemplo, o fato dos homens, ao casarem, irem trabalhar para o sogro até que este os libere de suas atividades (como por exemplo, o trabalho nas roças, a caça, a pesca etc.). Esta prática se observa mesmo com os Arara (homens e mulheres) que se casaram com índios de outra etnia, principalmente os Gavião. No final de 1999, informações da primeira fase do Zoneamento Econômico-Ecológico do Acre reconheceu a existência de 28 Terras Indígenas, ocupando 2.167.146 hectares, representando cerca de 14 por cento do território do estado. Em julho de 2007, este número cresceu para 34 Terras Indígenas demarcadas, ocupando 2.415.644 ha, cerca de 14,6% do estado. Juntos, cerca de metade dos 22 municípios do Acre tem Terras indígenas em seus limites. Durante este período, o processo de regularização foi concluído para catorze terras Indígenas, das quais nove foram demarcadas enquanto as outras estão em processo não conflituoso de reassentamento e compensação de residentes não indígenas. Durante o mesmo período, quatro novos territórios foram identificados e dois estão no chamado processo “a identificar”. Este processo está documentado no GT Fundiário10. Contribuíram com a produção deste documento os Antropólogos Antonio Pereira Neto (in memoriam), Terri Valle de Aquino e Marcelo Piedrafita Iglesias, várias organizações indígenas, e membros da sociedade civil. 10 12 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Tabela 1: Status das Terras Indígenas Quantidade % Hectares Status Regularizadas Homologadas Declaradas como existentes Em identificação A identificar Outras (sem contato) Total % 23 02 02 67,5 5,9 5,9 1.725.621 230.190 448.370 71,43 9,53 18,56 04 02 01 34 11,9 5,9 2,9 100 11.463 2.415.644 0,48 100 Durante as últimas três décadas, uma série de regularizações de terras, promovidas por diferentes organizações governamentais, nos níveis Federal e Estadual, criaram um mosaico espacial contínuo, com 43 terras destinadas a finalidades distintas. Concentrado ao longo de 17 dos 22 municípios acreanos, este mosaico tem quase 8.000.000 de hectares de floresta contínua, cerca de 48 da área do estado. Nesta área, vive aproximadamente cinco por cento da população do Acre11. Em uma área de rica biodiversidade, o mosaico conta com 27 terras indígenas, catorze unidades de conservação e dois projetos para assentamentos. Terras indígenas representam 33 por cento da área Tabela 2. Mosaico de Terras Regularizadas Terras Indígenas Unidades de Conservação CATEGORIAS Uso Sustentável Proteção Integral Projetos de “Assentamento” Reservas Extrativistas Florestas Nacionais Florestas Estaduais Parque Nacional Parque Estadual Estação Ecológica Número 27 5 3 3 1 1 1 2 ha 2.667.832 2.678.994 425.332 % 33,51 33,65 5,34 486.319 843.012 695.303 77.500 86.748 6,11 10,59 8,73 0,98 1,09 % 33,51 45,10 20,30 1,09 TERRAS INDÍGENAS NO ACRE A área do mosaico já inclui áreas que estão propostas para proteção pelo grupo de trabalho da FUNAI, incluindo áreas em identificação - (Arara do Rio Amônia e Nawa), e ainda a identificar - (Jaminawa do Rio Caeté) e os limites expandidos do Rio Gregório. 11 13 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Mosaico de Áreas Protegidas: Unidades de Conservação (Verde Escuro), Terras Indígenas (Laranja) e Unidades de Uso Sustentável A (Verde Limão) 5. Organizações e Representações Indígenas Nos anos 1980, coincidindo com o fim do período militar, o número de organizações indígenas se multiplicou. Em 1988, havia dez dessas organizações na região amazônica. Já em 2005, havia 14 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento mais de 180 organizações identificadas em seis estados amazônicos (Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Pará e Amapá) e mais de 250 organizações em toda a Amazônia Legal (que também inclui partes dos Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão). A maioria destas pequenas organizações, compostas pelos povos e baseadas em comunidades, que frequentemente começaram como uma mobilização etno-política informal, se engajaram em diálogos conflituosos com o governo Federal sobre terras. Subsequentemente, tornaram-se organizações indígenas, que hoje trabalham com uma ampla gama de assuntos econômicos e sociais. Pelo menos dois fatores principais explicam esse aumento: primeiro, o reconhecimento dos direitos indígenas pela Constituição de 1988, particularmente o direito dos indígenas de serem tratados diferenciadamente; e segundo, a descentralização de muitos serviços sociais para estados e municípios, tais como saúde e educação, que antes eram prestados (ou presumivelmente prestados) pelo governo federal. A maioria das organizações indígenas amazônicas e acreanas são ligadas pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB. Fundada em 1989, a COIAB iniciou um novo padrão para ação: mais programático, mais prático e mais orientado para projetos. Na época, organizações indígenas começaram a buscar a legalização de suas organizações, incluindo a abertura de contas bancárias para receber doações e créditos para implementar projetos. Este movimento redefiniu sua relação com o governo brasileiro e com o governo do Acre ao tornar os povos indígenas mais ativos em suas sociedades, ao invés de serem apenas recebedores passivos e assistência do Estado12. Hoje, a maioria das organizações é local e muitas são estruturadas ao redor de uma atividade profissional ou econômica, tais como grupos de produtores, agentes de saúde, professores, etc. Há também importantes redes de associações de mulheres e associações de estudantes indígenas. Finalmente, os povos indígenas são bem organizados no Acre, como mostrado na tabela a seguir. A avaliação indígena identificou mais que 30 organizações formais ativas. Além das organizações relacionadas a grupos étnicos específicos, um grande número de organizações tem se unido ao redor de uma gama de temas, incluindo gênero, saúde, produção agrícola, educação, e artesanato. Essas organizações podem servir como parceiros potenciais para a implementação de projetos. A pesar da diversidade mostrada acima, os povos indígenas que vivem na área do Projeto compartilham importante características em comum, incluindo: 12 Sistemas tradicionais de subsistência adaptativa baseados em recursos florestais. Atividades econômicas incluem agricultura de subsistência, pesca, caça, coleta e artesanato. Como resultado do contato com a sociedade não indígena e o perigo de perda da identidade, há muitos problemas sociais como conflitos intragrupo e violência (por exemplo, entre idosos e jovens), altas taxas de suicídio entre mulheres e jovens, alcoolismo e proliferação de doenças sexualmente transmissíveis. Fundação Estadual dos Povos Indígenas, htpp://www.fepi.am.gov.br/programas, consultado em 02/06/2006. 15 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Crescente dependência de rendas monetárias e assistência externa, abandono de hábitos culturais tradicionais, degradação dos recursos naturais e empobrecimento. Padrões semi-nomádicos de assentamento relacionados a necessidades adaptativas e tradições culturais. Pressões de outros grupos sociais sobre recursos da terra que foram, no entanto, contidos durante os últimos doze anos. Nos últimos quinze anos, organizações que representam interesses indígenas se tornaram crescentemente efetivas em seu diálogo com a sociedade civil regional e agências governamentais nos níveis estadual e federal. Tabela 3. Organizações dos Povos Indígenas do Acre Nome 1. Associação do Povo Arara do Igarapé Humaitá 2. Asociação do Povo Indígena Nukini da República 3. Associação dos Povos Indígenas Kaxinawá do Rio Humaitá 4. Associação dos Produtores Kaxinawá da Aldeia Paroá 5. Associação Katukina do Campinas 6. Associação Katukina de Sete Estrelas - Rio Gregório 7. Organização dos Agricultores Kaxinawa da Terra Indígena Colônia 27 8. Associação dos Produtores e AgroExtrativistas Hunikui do Caucho 9. Associação dos Produtores e Criadores Kaxinawa da Praia Carapanã 10. Organização Comunitária Agro-Extrativista Jaminawa 11. Associação do Povo Jaminawa-Arara (Chave do Futuro) 12. Manxineryne Ptohi Kajpa Hajene 13. Associação Agroextrativista Manchineri de Aldeia Jatobá - Rio Iaco 14. Associação Jaminawa e Jaminawa-Arara da TI Jaminawa do Igarapé Preto 15. Associação do Povo Hunikui do Alto Purus 16. Associação Agro-Extrativista Kaxinawa Novo Lugar 17. Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá 18. Associação do Povo Arara do Igarapé Humaitá 19. Associação Ashaninka do Rio Amônia 20. Associação Agro-Extrativista Poyanawa do Barão do Ipiranga 21. Organização dos Povos Indígenas do Sigla APAIH Terra Indígena Arara do Igarapé Humaitá Município Porto Walter AIN Nukini Mâncio Lima ASPIH Kaxinawá do Rio Humaitá Feijó APROKAP Katukina/Kaxinawa Feijó AKA AKSERG Campinas/Katukina Rio Gregório Cruzeiro do Sul Tarauacá AOKATI 27 Kaxinawá da Colônia 27 Tarauacá ASKPA Kaxinawá do Igarapé do Caucho Kaxinawá da Praia do Carapanã OCAEJ Jaminawa do Rio Caeté Sena Madureira Jaminawa-Arara do Rio Bagé APAHC Tarauacá Tarauacá MAPKAHA AAEMRY Mamoadate Mamoadate Marechal Thaumaturgo Sena Madureira Sena Madureira AJJAIP Jaminawa do Igarapé Preto Cruzeiro do Sul Alto Purus Alto Purus Santa Rosa Santa Rosa APHAP OPIRJ Povos Indígenas do Rio Juruá APAIH APIWTXA AAPBI Ashaninka do Amônia Poyanawa OPITAR 16 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Tarauacá 22. Associação dos Produtores Extrativistas Yawanawa do Rio Gregório 23. Organizações dos Povos Indígenas do Rio Envira 24. Associação Comunitária Shanenawa de Morada Nova 25. Associação dos Seringueiros Kaxinawa do Rio Jordão 26. Organização dos Povos Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia 27. Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas, e Noroeste de Rondônia 28. Organização dos Professores Indígenas do Acre 29. Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre 30. Federação Kaxinawa OAEYRG OPIRE ACOSMO ASKARJ OPIN SITOAKORE OPIAC AMAAIAC 6. Preparação do Projeto e Consultas Durante a preparação do projeto, os seguintes processos e atividades consultivas foram realizados para avaliar a participação, benefícios e impactos sobre povos indígenas: 6.1. Screening No início do ciclo do projeto, com o apoio de pessoal qualificado do Banco, incluindo conselhos do Especialista Sênior em Desenvolvimento Social e Sociedade Civil do Banco, que tem amplo conhecimento de questões indígenas e de sociedade civil no Acre, e a consultoria de um Cientista Social com vasta experiência com IPPs, inclusive na Amazônia brasileira, antropólogos trabalhando para o estado, representantes de povos indígenas e o governo, a Secretaria de Estado para Assuntos Indígenas lançou um processo de consulta para determinar se os povos indígenas tinham um entendimento coletivo do conceito e desenho do projeto, aprovado pelo governo federal por meio de uma Carta Consulta. Durante e após os diálogos, concluiu-se que os povos indígenas se beneficiarão diretamente e indiretamente de todas as atividades relacionadas com e derivadas do desenvolvimento comunitário no Componente 1. Considerando a concepção espacial do PROACRE, este componente aborda as necessidades de comunidades rurais muito pequenas, difíceis de alcançar dada a distância e a falta de opções de transporte. 17 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Como a saúde indígena é legalmente um mandato federal implementado pela FUNASA, que já conta com um empréstimo do Banco por meio do projeto VIGISUS (Anexo A), e como o programa estadual para educação indígena já é financiado pelo Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o processo de screening indicou, de acordo com as próprias organizações indígenas, que esses não eram, na época, setores prioritários para o projeto. Assim, a equipe do projeto recomendou que se concentrasse em atividades relacionadas à gestão comunitária. De fato, desde 1999, com a criação, no âmbito da Secretaria de Educação, de um setor dedicado exclusivamente à educação indígena, muitos progressos foram feitos, como mostrado nas Tabelas 4 e 5 abaixo, sendo que a matrícula universal no ensino fundamental foi atingida para todas as crianças indígenas. O apoio do BNDES permitirá a expansão da qualidade, a produção de novos materiais de ensino e abordará a necessidade de um maior número de professores qualificados. Ano Total 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 42 77 102 126 149 170 212 216 236 Tabela 4. Número de Professores Indígenas – 1999- 2007 T Professores Professores Professores Professores com Professores com com com educação educação matriculados educação educação fundamental fundamental no ensino secundária secundária incompleta completa superior incompleta completa 15 15 12 0 0 7 0 50 20 0 17 15 50 20 0 52 0 0 70 4 50 25 0 70 4 56 25 15 70 4 68 35 15 90 4 50 59 12 25 70 10 49 50 57 70 Fonte: Secretaria de Educação Tabela 5. Matrícula entre Crianças e Jovens Indígenas Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Educação Infantil 20 38 108 73 137 136 210 306 Primeira à quarta série 827 931 2095 2045 2463 2595 2808 2943 Quinta a oitava série 0 0 39 42 162 193 245 431 Ensino Médio 0 0 0 0 0 0 0 76 Total 847 969 2243 2160 2762 2924 3263 3756 18 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento 2007 170 3024 379 270 3843 Fonte: Secretaria de Educação 6.1.Consulta com o Mutuário A consulta com o Governo do Acre se seguiu. O Governo validou as conclusões quanto à presença de povos indígenas. O Estado tem um diagnóstico detalhado das características dos principais grupos na área.13 Ademais, o Governo já desenvolveu e institucionalizou o quadro de políticas públicas para povos indígenas por meio da criação da Assessoria Especial para os Povos Indígenas, vinculado ao Gabinete do Governador, e que responde diretamente ao próprio Governador. 6.2. Consultas com os Povos Indígenas A estratégia para a participação local foi construída sob a premissa de que melhorias em pesquisas, capacitações e parcerias contribuirão para uma melhora no desempenho das comunidades e organizações indígenas. Um esforço de colaboração mais efetiva com especialistas locais vem e continuará sendo feita, bem como continuará sendo mantido o apoio contínuo às redes e organizações dos indígenas. Durante a preparação, organizações indígenas chave foram identificadas. Ainda assim, como participação não se resume a ir a reuniões ou a consentir com decisões já tomadas, bem como para evitar a falta de comunicação que poderia levar a mal-entendidos eventuais e relações conflituosas durante a preparação do Projeto, tendo em vista que crescentemente, povos indígenas no Brasil estão demandando participação ex-ante nos processos de tomadas de decisão, o Governo optou por organizar um amplo e democrático processo de consultas. As Consultas ocorreram durante a preparação e antes das atividades direcionadas aos povos indígenas serem desenhadas. Seus principais objetivos foram o de descentralizar as decisões para áreas, entendendo a realidade local dos indígenas, coletando suas visões e promovendo transparência. Para preparar o desenho tentativo do projeto, uma equipe técnica do Governo do Estado promoveu três consultas públicas, duas em municípios com grandes concentrações de aldeias indígenas e uma terceira em Rio Branco. Essas consultas foram organizadas pelo governo estadual, por meio da Assessoria Especial para os Povos Indígenas e da Secretaria Estadual de Planejamento (Anexos C, D e F). 6.2.1. Consulta de Cruzeiro do Sul 13 Um diagnóstico similar pode ser visto em http://www.socioambiental.org/home_html. 19 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento A primeira consulta ocorreu em Cruzeiro do Sul e contou com representantes de Organizações e Comunidades Indígenas (OPIRJ); representantes dos grupos Katukina, Nukini, Arara, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawá, Shanenawa and Yawanawá; um representante da FUNAI e representantes dos prefeitos de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Marechal Thaumaturgo. 6.2.2. Consulta de Tarauacá A segunda consulta ocorreu em Tarauacá e contou com 16 representantes de Organizações e Comunidades Indígenas (OPIRE, OPITAR, OAKAT 27, OAEYRG, ASKPA, APAHC, FUNAI, Pólo Base, AMAAIAC, Agente Indígena de Saúde, Lideranças Femininas, TI Humaitá e Caucho), dos municípios de Feijó e Tarauacá e do governo (Secretaria indígena, SEPLAN, SEMA e DERACRE). 6.2.3. Consulta de Rio Branco A terceira e mais ampla consulta ocorreu em Rio Branco, com a participação de todas as comunidades indígenas do estado. Dezenove representantes de organizações indígenas participaram, incluindo OPIRJ, OPITAR, COOPYAWA, OAEYRG, AMAYAC, APIYTXA, ASKARJ, MAPKAHA, líderes dos grupos étnicos Katukina, Hunikuí, Nukini, Arara, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawá, Shanenawa, Yawanawá e Manchineri e representantes da Comissão PróÍndio e da FUNAI. 6.3. Principais Desafios Encontrados no Processo de Consultas Durante as consultas, foram identificados os principais desafios que o projeto, por meio da proposta de Planos de Gerenciamento para Aldeias, irá enfrentar. O projeto enfrentará tais desafios por meio de atividades a serem identificadas e financiadas pelas próprias aldeias, com o necessário apoio técnico: a) A legislação, apesar de ser um passo importante, não garante por si só automaticamente os direitos. O Brasil aprovou progressivas políticas e importantes resoluções constitucionaois para povos indígenas, mas os direitos garantidos nesses documentos frequentemente não são implementados ou postos em prática. b) Faltam profissionais capazes de realizar intervenções de forma culturalmente apropriada; a participação indígena é garantia de um processo apropriado. c) Não há política clara acerca do quadro institucional que deve lidar com o crescente número de povos indígenas que vivem fora de terras indígenas, mas que se identificam como indígenas. Muitos vivem frequentemente em áreas urbanas, mas mantém sistemas de crença indígenas. 6.5 As Recomendações dos Povos Indígenas Seguem as recomendações recebidas pelo governo durante as consultas com os povos indígenas: Desenhar um subcomponente enfocando especificamente os povos indígenas, com financiamento proporcional ao tamanho de sua população no Acre. As atividades a serem 20 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento implementadas neste subcomponente devem derivar de um plano de gestão de aldeia, desenhado por cada aldeia, enfatizando suas características, e estabelecendo prioridades baseadas em como os residentes querem avançar. Fortalecer a capacidade de desenhar e implementar planos para gestão das Aldeias. Adotar uma visão de política pública dos povos indígenas que os veja além de meros trabalhadores, coletores ou produtores de matérias primas. Tratar das ameaças de não indígenas a recursos indígenas, particularmente terras indígenas. Promover o uso econômico do conhecimento tradicional, particularmente quanto a florestas e conservação biológica. Apoiar a comunicação entre a ampla gama de povos indígenas e aldeias. Assegurar assistência técnica aos povos indígenas para criação de um Fundo Indígena autônomo. Garantir a integração de políticas de saúde e educação com atividades financiadas pelo projeto. 6. 6. A Resposta do Governo O governo entende e respeita o mérito destas demandas, concluindo que parte das recomendações propostas poderão ser incorporadas no desenho do projeto conforme descrito abaixo: Criação de linhas específicas de atividades com as correspondentes linhas orçamentárias para comunidades indígenas nos seguintes contextos: o Componente 1 - Provisão de serviços básicos e segurança alimentar em ZAPs rurais; o Componente 2 - Expansão e modernização de serviços para o desenvolvimento socioeconômico sustentável em ZAPs rurais; e, o Componente 3 - Contratação de um estudo de sustentabilidade sobre o Fundo Indígena, e alocação de recursos para a Assistência Técnica na eventual elaboração e execução do mesmo, de forma autônoma, pelos próprios povos indígenas. O projeto não capitalizará o Fundo, mas assegurará o apoio técnico necessário caso os povos indígenas, depois do Estudo de Sustentabilidade, queiram implementá-lo. o Componente 4 – Fortalecimento e modernização da capacidade institucional, incluindo a alocação de fundos para promover o fortalecimento institucional de organizações indígenas, a capacitação e o treinamento de seus líderes o Componente 5 – Apesar de o fortalecimento institucional para organizações comunitárias estar planejado incluindo as organizações indígenas, custos específicos para esta atividade serão incluídos na linha de capacitação do componente 4. 6.7. Mecanismos de Informação dos Resultados da Consulta Para manter a sua política de prestação de contas visando fortalecer o controle social, aumentar a confiança e assegurar a transparência em sua relação com os líderes indígenas e suas 21 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento comunidades, o governo do Acre informará os representantes indígenas que participaram das consultas através de: Disseminação do Plano Indígena do Projeto na página do Estado na Internet. Carta aos e às participantes informando do Resultado. Reuniões individuais com lideranças indígenas por iniciativa do Estado ou solicitação das lideranças indígenas. 7. Estratégia e Plano para Participação Indígena no Projeto proposto Os elementos chave da estratégia do projeto para alcançar os povos indígenas incluem: (a) enfatizar a importância de uma abordagem integrada ao desenvolvimento humano, gestão de aldeias, crescimento econômico e sustentabilidade ambiental; (b) fortalecer a representação, particularmente entre povos indígenas na área do projeto durante a implementação; (c) incorporar mecanismos participativos, incluindo a promoção de uma forte interação entre os diferentes grupos, para priorização, planejamento, seleção (incluindo atividades produtivas), implementação, monitoramento e avaliação; (d) mobilizar órgãos representativos para maximizar benefícios, reconhecendo o valor dos recursos locais, ativos e antecedentes culturais; e (e) disseminar o desenho do projeto, da preparação à conclusão, utilizando materiais culturalmente apropriados, incluindo princípios orientadores, objetivos, estratégias e resultados. 8. Benefícios Previstos Os benefícios previstos do projeto para os povos indígenas incluem: (a) melhora em sua capacidade de representação pública pelo reconhecimento de seu papel como atores sociais; (b) construção de capital social e avanços na apreciação pelo conhecimento local soluções apropriadas para problemas locais; (c) disponibilização de financiamento para pequenas, mas sustentáveis atividades produtivas, junto à assistência técnica e treinamento; (d) planejamento participativo das aldeias e desenvolvimento institucional que criarão um ambiente institucional para facilitar sua capacidade de desenvolver, implementar e monitorar o uso sustentável dos recursos naturais enquanto se protege o meio ambiente; (e) facilitação da colaboração intersetorial para abordar as necessidades dos povos indígenas; (f) promoção de maior coordenação entre os diferentes níveis de governo para trabalhar temas e demandas indígenas; e (g) manutenção da abertura dos canais de comunicação entre Governo e povos indígenas. Além disso, povos indígenas serão incluídos em uma Linha de Base aprofundada sobre condições demográficas, sociais e econômicas, com foco no acesso a serviços básicos e ativos produtivos. O governo já conta com equipe específica, formada por indivíduos indígenas, para lidar com os temas do projeto. Os seguintes pontos iram orientar tais atividades: (i) Atividades de treinamento diferenciadas, ajustadas às necessidades dos povos indígenas, são necessárias. A experiência de programas do governo e do Banco envolvendo doações para atividades produtivas de populações indígenas mostram que a implementação frequentemente atrasa devido à falta de capacidade de planejamento, gestão e monitoramento. Ademais, grupos indígenas participando de consultas a partes 22 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento (ii) (iii) interessadas também solicitaram apoio para capacitação gerencial. Como tal, o projeto incluirá um modulo de treinamento diferenciado, que focará nas seguintes áreas: planejamento para o desenvolvimento de aldeias, priorizando desenho, gestão, implementação e monitoramento; conceptualização do plano; organização do trabalho; contabilidade, registro e contratação. A Assessoria dos Povos Indígenas, com ampla experiência prática com o desenvolvimento de projetos para povos indígenas desenvolverá e implementará o programa de treinamento, com o apoio de outros órgãos parceiros. Documentação, orientações e processos culturalmente apropriados serão desenvolvidos para facilitar a conceitualização, planejamento, aplicação, execução e monitoramento dos planos de gestão de aldeias. Itens específicos incluem manuais simplificados em línguas indígenas quando necessário, de acordo com consultas indígenas: (i) definição de objetivos, prioridades, atividades, responsabilidades e controle social, e de arranjos institucionais para a implementação do Plano; e (ii) orientação prática sobre procedimentos financeiros e de licitações, incluindo fluxo de recursos, controle e relatoria para a implementação do Plano. Assistência técnica especial e culturalmente apropriada será provida para populações indígenas para preparar e executar seus Planos de Aldeia e o Fundo Indígena: uma das principais razões para a falha de tentativas anteriores de ampliar o volume e a qualidade das atividades produtivas entre grupos vulneráveis era a falta de assistência técnica em quase todas as áreas de gestão, tanto antes e depois do início do “negócio”. O projeto disponibilizará os recursos e arranjos institucionais para assistência técnica. 9. Indicadores de Resultados 80% dos Planos para Gestão de Aldeias finalizados com sucesso 60% das demandas apresentadas nos Planos das Aldeias cumpridas Estudo de Viabilidade do Fundo Indígena realizado 10. Indicadores intermediários de resultados 10 membros da equipe da Secretaria Estadual treinados e equipados para prover assistência técnica para dialogar e prover assistência aos Planos de Aldeia. Treinamento diferenciado e programa de assistência técnica para Planos de Aldeia em implementação para os povos indígenas. Documentação culturalmente apropriada, preparada para os povos indígenas. 11. Linha de Base, Monitoramento e Avaliação Não há censos ou pesquisas oficiais no Brasil que sejam especificamente desenhadas para coletar informação sobre povos indígenas. No entanto, números e indicadores parciais foram produzidos 23 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento – por agências governamentais (FUNAI ou FUNASA), pela Igreja Católica e por ONGs, como o Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ou pelo IBGE.14 A estimativa da população indígena diverge por pelo menos duas razões chave. Primeiro, há povos indígenas isolados sobre os quais não há informação; e segundo, porque alguns indivíduos começaram a alegar identidade indígena, mesmo quando vivendo fora de ambientes indígenas tradicionais. Em uma amostra de aldeias, um Estudo para a Linha de Base será conduzido durante o primeiro ano do projeto, e repetido ao final, para permitir a medição dos impactos esperados. Ele incluirá a coleção de dados sobre grupos indígenas residindo em aldeias, bem como outros residindo em áreas urbanas e aglomerações rurais. O sistema de monitoramento e avaliação incluirá indicadores de desempenho e impacto retirados da Linha de Base. Indicadores de desempenho irão avaliar a efetividade da estratégia de gestão inclusiva do projeto, sua capacidade de incluir povos indígenas nos processos de tomada de decisão e sua capacidade de mobilizar a sociedade local para atingir os objetivos de desenvolvimento do projeto. Indicadores de impacto avaliarão as mudanças nas vidas dos beneficiários do projeto, incluindo os benefícios ambientais, de desenvolvimento humano e de infra-estrutura social gerados. 11. Arranjos Institucionais para o Comitê Consultivo Permanente no Acre Secretarias Setoriais Estaduais Aldeias A Secretarias Setoriais Federais Sec. Indígena Aldeias A A A Ass. Indíg. A ONGs A A A A A PLANO O Censo de 2000 do IBGE mostra que em áreas urbanas, a idade média da população indígena (30,1) é substancialmente mais BANCO FUNASA alta que em áreas rurais MUNDIAL e terras indígenas (16,8). A taxa de BNDES alfabetização continua baixa, apesar do aumento entre 1991 e 2000 (de menos de 50% para 74 %). Em 1991, crianças indígenas com menos de dez anos tinham uma escolaridade média de dois anos, enquanto em 2001 a média aumentou para 5,9 anos. Obviamente, o fato de que mais e mais indivíduos que vivem em áreas urbanas se consideram indígenas influenciou os números deste progresso. 14 24 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Anexo A: VIGISUS Povos Indígenas, Saúde, Água e Saneamento Projeto de Vigilância e Controle de Doenças (APL de três fases) Para povos indígenas em reservas federais, o mandato federal é implementado por meio do programa VIGISUS. Os objetivos do VIGISUS II de desdobram em dois: (a) reduzir a mortalidade e a morbidade por doenças comunicáveis e não comunicáveis e a exposição a fatores de risco associados com a má saúde, e (b) melhorar os resultados de saúde de grupos especialmente vulneráveis, incluindo populações indígenas e quilombolas. Isto está sendo alcançado atualmente: (a) pelo contínuo fortalecimento do sistema público nacional de vigilância e controle de doenças comunicáveis e saúde ambiental, particularmente em estados e municípios; (b) pela melhora e ampliação do escopo da vigilância de saúde pública e controle de doenças, para incluir doenças não comunicáveis, ferimentos e saúde materna, e a vigilância e prevenção de fatores de risco; (c) pela expansão do acesso e utilização de serviços de saúde para populações indígenas; (d) pela melhora na efetividade da atenção à saúde indígena por meio do desenvolvimento institucional, melhora na qualidade e adequação cultural; e (e) expansão dos serviços de água e saneamento para comunidades rurais e quilombolas. O VIGISUS II financia uma parte de dois grandes programas governamentais: Epidemiologia e Controle de Doenças e Saúde Indígena. O valor agregado do Banco se relaciona mais às contribuições de know-how técnico e experiência relacionados à vigilância de saúde e práticas de controle de doenças, capacitação institucional para a vigilância de saúde em níveis subnacionais, arranjos organizacionais e instrumentos financeiros para melhorar a qualidade e a efetividade dos serviços de saúde indígenas, estabelecimento de iniciativas de desenvolvimento guiado pela comunidade e a introdução de um esquema de financiamento baseado em desempenho para o apoio à vigilância de doenças e a atividades de controle nos estados e municípios. Por meio do VIGISUS I, a primeira fase do APL, o Banco e o governo adquiriram considerável expertise técnica para fortalecer sistemas de vigilância e controle de doenças nos níveis central e regional, trabalhando junto de mais de 50 ONGs que prestam serviços a comunidades de povos indígenas. Resultados chave do VIGISUS II incluem completa cobertura de populações indígenas com um pacote integrado de serviços preventivos e curativos; (b) todos os provedores sob contrato com a FUNASA operando em arranjos de contratação baseados em desempenho; (c) protocolos para cuidado materno-infantil implementados em todos os Distritos Sanitários Especiais para Indígenas (DSEIs). Entre outros, resultados mensuráveis para povos indígenas incluem (a) 50% das grávidas indígenas em distritos com público alvo recebem pelo menos três consultas pré-natais de acordo com os protocolos da FUNASA (a proporção alcançou 67% em 2005); (b)100% das mães indígenas com crianças menores que dois anos identificadas com peso inadequado recebem educação nutricional e aconselhamento sobre práticas de alimentação culturalmente apropriadas; (c) todos os módulos dos sistemas de informação indígenas funcionando em todos os DSEIs; (d) 70% das equipes de saúde em DSEIs com publico alvo provendo planos benchmark de serviços integrados; (e) um terço dos novos Agentes Comunitários de Saúde contratados são mulheres indígenas; e (f) Sistemas de Vigilância indígena completamente operacionais em 10 DSEIs. Portanto, por meio de apoio financeiro para FUNASA executar seu mandato constitucional com a saúde dos indígenas, o apoio a essas 25 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento populações e também aos quilombolas é coberto por outra operação financiada pelo Banco com o mesmo Ministério da Saúde. Apesar de ainda haver espaço para melhoras devido a atrasos na aprovação do orçamento, em Dezembro de 2005 o VIGISUS havia feito progressos substanciais quanto à população indígenas, entre outros: (a) comparado à Linha de Base (40%), 50% dos povos indígenas foram cobertos com um regime completo de vacinação; (b) a proporção de mulheres indígenas recebendo pelo menos três consultas pré-natais havia alcançado 67%; (c) 50% das ONGs estavam atuando sob contratos baseados em desempenho. Os onze DSEIS com maior incidência de malária estão recebendo laboratórios aptos a processar tarefas mais complexas, incluindo a sorologia da leishmaniose, dengue e outras doenças. Ao mesmo tempo, a realização da primeira pesquisa de nutrição em áreas indígenas possibilitará o diagnóstico da incidência de anemia, que é uma das doenças mais recorrentes entre povos indígenas no Brasil. O VIGISUS está financiando essa pesquisa. Finalmente, cinco DSEIs (Interior Sul, Mato Grosso do Sul, Leste de Roraima, Litoral Sul e Yanomami) foram definidas como prioritárias para campanhas preventivas para câncer cervical entre mulheres indígenas. Em áreas urbanas, a FUNASA está abordando temas de saúde indígenas sob o Programa Federal de Saúde da Família (PSF). Desde sua criação em 1994, o PSF aproximou a saúde primária das famílias, mudando do tradicional modelo de centro estático de saúde (um posto de saúde primária tipicamente atendido por um pediatra, um obstetra e um clínico geral, mais enfermeiras e pessoal administrativo) para temas de saúde familiar, responsável por acesso externo e serviços passivos. Os beneficiários do programa são todos residentes das unidades de área (referidos como residentes). A razão de se oferecer um tipo de atendimento que define como prioridade a prevenção de doenças e a promoção da saúde, em adição à provisão de atendimento curativo, prestado tanto nos postos ou, sempre que necessário, por meio de visitas domésticas. Povos indígenas vivendo em áreas municipais são cobertos por meio deste programa. Em áreas do projeto compostas por pequenos municípios, este programa Federal é particularmente apropriado, uma vez que povos indígenas tendem a viver em vizinhanças próximas. 26 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Anexo B: Termos de Referência para Consultas – PROACRE RESUMO EXECUTIVO O Governo do Estado do Acre optou por um único processo de consulta, precedido por duas préconsultas, a ser realizada no dia 11 de junho de 2008, incluindo os temas pertinentes a todos os componentes do projeto. A consulta será realizada sob a coordenação geral de Jarbas Anute, sob a supervisão de Antonio Xavier e Fabio Vaz de Lima, assessores especiais do Governador Binho Marques. A consulta do PROACRE será realizada na cidade de Rio Branco observando os seguintes pressupostos: Pressuposto 1: O projeto foi organizado com atendimento previsto para os povos indígenas no sub-componente Desenvolvimento Comunitário do Componente 1. Conforme postulado do Governo, não está programada a inclusão de investimentos em educação indígena com financiamento pelo projeto porque estes investimentos já estão contemplados em outras fontes orçamentárias, em especial com recursos do próprio Estado e do BNDES. Da mesma forma, ações de saúde não entram como parte do projeto porque investimentos em saúde indígena é constitucionalmente um encargo federal, através da FUNASA, à qual o próprio Banco Mundial já concedeu empréstimo, através do projeto VIGISUS. Desta maneira, a consulta aos indígenas se refere às ações que os beneficiam, e, como parte do EA, a manejo florestal comunitário. Pressuposto 2: O projeto contará com uma análise das principais questões sociais envolvidas, embora não com uma avaliação social completa, uma vez que não foram identificados potenciais riscos sociais e/ou institucionais. Isto significa um processo que consulta os principais atores sociais de todos seus componentes em todas suas dimensões, inclusive, diferentemente do caso dos indígenas, em educação e saúde. Esta análise inclui uma revisão dos indicadores e dos processos sociais e institucionais do Estado naquelas dimensões tratadas dentro do PROACRE bem como recomendações derivadas do processo de análise e consulta. Presssuposto 3: Os dois itens de consulta acima referidos, bem como o relacionado à Avaliação Ambiental ocorrerão na mesma data e como parte do mesmo processo de consulta. METODOLOGIA A consulta está organizada em três módulos: uma apresentação inicial do projeto como um todo em plenária; uma discussão simultânea por grupos - o indígena; o ambiental, cujos elementos deverão ser desenvolvidos por equipe própria mas que se guiam pela preocupação com o manejo sustentável de florestas; o rural não- indígena; e o urbano, temas esses inicialmente propostos na Matriz Lógica. A organização, convocação, facilitação e produção de resultados ficarão a cargo do Governo. O Banco Mundial será convidado a participar como observador. 27 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento POVOS INDÍGENAS Existem aproximadamente 15 mil indígenas no Acre, distribuídos em 14 grupos étnicos. No processo de consulta, representantes destas 14 etnias estarão presentes. A consulta estará norteada pelo princípio de que políticas a serem adotadas no projeto não devam afetar sua identidade cultural. A despeito que presentes em apenas um sub-componente do primeiro componente, e apesar de que se integrem ao projeto como beneficiários, não sofrendo qualquer impacto negativo, o projeto seguirá o mandato da OP e BP 4.10 para este caso, incluindo desenho e implementando as recomendações de uma Análise Social e Plano para o Desenvolvimento e Planejamento Comunitário entre os Indígenas do Acre. Tal documento incluirá a legislação brasileira e estadual sobre povos indígenas, as convenções internacionais assinadas sobre os mesmos, uma análise socio-demográfica-econômica- cultural dos indígenas no Acre, uma descrição de sua organização social e política, elementos de suas relações com o governo, os procedimentos adotados para sua consulta, os resultados da mesma e, finalmente, como o projeto os refletirão, inclusive em seus custos, matriz, cronograma e sistema de avaliação. COMPOSIÇÃO Dois outros grupos formar-se-ão durante a consulta, o primeiro discutindo o primeiro e segundo e o terceiro componentes; e o segundo, discutindo o quarto componente. Cada grupo contará com um moderador. PARTICIPANTES DA CONSULTA O Governo optou por uma consulta com cerca de 50 representantes dos conselhos, redes e movimentos sociais indígenas e da sociedade civil organizada, incluindo 18 representações das associações e movimentos indígenas, representantes do Grupo de Trabalho Amazônico – GTA, do Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS, da Comissão Indígena do Acre, e dos Conselhos Estaduais da Educação, do Trabalho, da Juventude e da Mulher, dentre outros, conforme lista de participantes proporcionada pelo Governo. 28 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Anexo C: Primeira Consulta com Lideranças Indígenas 30 de maio de 2008 Cruzeiro do Sul - AC Ajuda Memória 1. A reunião teve início às 9h00, na sede da Organização dos povos indígenas do Rio Juruá - OPIRJ, com a participação de 10 representantes de Organizações e Comunidades Indígenas (OPIRJ, Lideranças dos Katukina, Nukini, Arara, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawá, Shanenawa e Yawanawá, além de representante da FUNAI) dos Municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Marechal Thaumaturgo, conforme lista de presença em anexo, bem como, representantes do Governo, através da Assessoria Especial dos povos indígenas, SEPLAN, SEMA e DERACRE. 2. A exemplo da reunião realizada em Tarauacá, o objetivo do encontro se deu pela necessidade de apresentar o PROACRE, suas linhas gerais de ação e sua integração com outras fontes de financiamento que compõem o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado, com a intenção de antecipar a pauta da Consulta Publica que será realizada em Rio Branco no dia 11 de junho de 2008, para que as comunidades formulem uma avaliação sobre a importância do Programa e como podem se posicionar e fazer suas considerações durante a Consulta, bem como as formas de participação durante a elaboração e implementação do Programa. 3. A abertura da Consulta Prévia foi iniciada com Assessor Especial Indígena - Francisco Pinhanta, apresentando o motivo da reunião e convidou as lideranças a se apresentarem e o Coordenador da Organização dos povos indígenas do Rio Juruá explicando que em virtude de compromissos assumidos previamente, algumas lideranças da região não puderam participar da reunião, ressaltando a necessidade em agendar compromissos com bastante antecedência. Na seqüência Jarbas Anute, Coordenador do PROACRE, pela Secretaria de Estado de Planejamento (SEPLAN) em parceria Wiliam Flores Coordenador do Departamento Ambiental e Gestão Territorial na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), realizaram uma breve apresentação sobre o Planejamento Estratégico do Governo, como o PROACRE está sendo construído e sua integração com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Governo. Ressaltou como as ações de 29 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Governo devem estar alinhadas estrategicamente a partir dos eixos, programas e projetos que elevem a qualidade de vidas das populações nas cidades e nas áreas rurais. Apresentando os conceitos e estruturas das Zonas de Atendimento Prioritário (ZAP) e Zonas Especiais de Desenvolvimento (ZED). Também foram apresentadas as classificações de comunidade de Atendimento Universal (CAU), Comunidade de Atendimento Prioritário (CAP) e Comunidade de Organização Prioritária (COP) que resultam a atender organizadamente as comunidades através da potencialização das infraestruturas promovendo serviços básicos de qualidade, com um recorte para a organização das comunidades indígenas. 4. Foi explicada a composição das diversas fontes de financiamento do Programa de Desenvolvimento Sustentável enfocando que os recursos do Banco Mundial complementam o Plano de Governo. Em seguida, se apresentou os Componentes do PROACRE: (i) Prover serviços básicos e segurança alimentar; (ii) Ampliação e modernização dos serviços para o desenvolvimento socioeconômico; (iii) Promoção de inclusão social e empreendedorismo; (iv) Fortalecimento e modernização de capacidade institucional; e (v) Gestão e avaliação do projeto. Na seqüência, foi apresentado como está sendo formulado o modelo de arranjo institucional do PROACRE que deverá ser composto o Comitê Gestor - por representantes do Governo, das Comunidades, Organizações Sociais, entre outros -. Como será a Coordenação do Programa, estrutura implementação das ações conforme cada Componente e quais as Secretarias executoras envolvidas. O volume total em negociação de U$ 150.000.000,00 que ainda deverão ser discriminados e orçados por atividades, conforme cada Componente, em fase posterior. 5. Foi apresentado a estratégia de implementação das ações a partir do Plano de Gestão das Aldeias – PGAs, que deverá ser elaborado pelas próprias comunidades – com apoio do Governo -, no qual constará as demandas reais das comunidades, as quais deverão ser apoiadas pelo PROACRE, em conformidade com as prioridades do Governo. Ressaltou o estágio atual da negociação com o Banco Mundial e a importância da participação na Consulta Pública que será realizada com representantes do Banco Mundial, do Governo, das Organizações das comunidades e convidados. 6. Foi ressaltado que o Plano Integrado de Desenvolvimento Sustentável tem principal objetivo promover a autonomia das comunidades. Nesse contexto o PROACRE oportunamente vem atender o planejamento estratégico das comunidades visando sua sustentabilidade. O empoderamento das comunidades se constitui de reflexão das realidades observando as potencialidades e dificuldades através de diagnósticos específicos, que estarão orientando um planejamento participativo elaborado a partir de indicadores sócio-econômicos com enfoque amazônico, e ainda, oferecer mecanismos de auto-gestão. 7. Ainda na apresentação foi esclarecido que os serviços básicos em educação e saúde não serão financiados diretamente com recursos do Banco Mundial, pois o Governo já conta com outras fontes para isso. Entretanto, serão discutidas no âmbito do Programa, as 30 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento estratégias de ação para que esses serviços possam ser melhor viabilizados para as comunidades. 8. Na exposição também foi apresentado a estrutura da política voltada aos povos indígenas que tem a cultura e a gestão territorial como referência para elaboração dos PGAs. 9. O Coordenador da OPIRJ, Luiz Valdenir ressaltou a importância de como o Governo está construindo o Programa, promovendo a participação das comunidades, ao tempo que enfatizou que ainda precisa ser melhor discutido a gestão dos PGAs e os mecanismos para atender as demandas reais das comunidades. Avaliou que pelo que foi apresentado, o Governo está preocupado em levar serviços de qualidade para as comunidades, conforme as características de cada uma delas, e não qualquer tipo de serviço. Comentou ainda, da necessidade de garantir maior representatividade. Perguntou quem estará elaborando os PGAs. Sendo explicado pelo Francisco Pinhanta que se trata de uma construção participativa, feito pelas comunidades com apoio do Governo, aproveitando, alguns casos, experiências já desenvolvidas anteriormente, a exemplo dos Etnozoneamentos. Também foi perguntado sobre o prazo para aprovação e início do PROACRE, onde Jarbas Anute informou que a meta é assinar o Contrato até dezembro de 2008 e iniciar a implementação até o final do primeiro trimestre de 2009. 10. Foi encaminhado que, ao final da reunião, os participantes elegerão um grupo de 05 representantes da Regional Juruá para participar da Consulta Pública em Rio Branco. 11. Foi explicado também a estratégia de implementação dos Planos de Gestão das Aldeias, que deverão ser construídos a partir das demandas e especificidades locais. 12. Após a apresentação, deu-se início a discussão para dirimir dúvidas e colher sugestões, sendo proposto que as lideranças presentes levarão as discussões para as comunidades de forma que pactuem uma avaliação mais ampla sobre a importância do Programa, que deverá ser apresentada na Consulta Pública. 13. Ficou definido que os representantes da Regional Juruá, que participarão da Consulta Pública em Rio Branco, serão: - Joel da Silva Lima - Liderança do Povo Poyanawa - Isaac da Silva Pinhanta - Liderança do Povo Ashanika - Jose Nogueira da Cruz - Liderança do Povo Shawãdawa - Luis Valdenir da Silva Souza - Liderança do Povo Nukini - Fernando Rosas da Silva ou Orlando - Liderança do Povo Katukina 14. Após a leitura e validação da Ajuda Memória por todos os presentes, deu-se por encerrada a reunião, às 11h40. Cruzeiro do Sul - Acre, 30 de maio de 2008. 31 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Anexo D: Consulta com Lideranças Indígenas 29 de maio de 2008 Tarauacá - AC Ajuda Memória 1. A reunião teve início às 8h40, no auditório da Escola Estadual Djalma Cunha Batista, com a participação de 16 representantes de Organizações e Comunidades Indígenas (OPIRE, OPITAR, OAKAT 27, OAEYRG, ASKPA, APAHC, FUNAI, Pólo Base, AMAAIAC, Agente Indígena de Saúde, Liderança de Mulheres, TI Humaitá e Caucho) dos Municípios de Feijó e Tarauacá, conforme lista de presença em anexo, bem como, representantes do Governo, através da Assessoria Especial dos povos indígenas, SEPLAN, SEMA e DERACRE. 2. O Objetivo da reunião se deu pela necessidade de apresentar o PROACRE, suas linhas gerais de ação e sua integração com outras fontes de financiamento que compõem o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado, com a intenção de antecipar a pauta da Consulta Publica que será realizada em Rio Branco no dia 11 de junho de 2008, para que as comunidades formulem uma avaliação sobre a importância do Programa e como podem fazer suas considerações durante a Consulta bem como sugerir formas de participação durante sua elaboração e implementação. 3. A abertura da Consulta Prévia foi iniciada com Assessor Especial Indígena - Francisco Pinhanta, apresentando o motivo da reunião e convidou as lideranças a se apresentarem. Na seqüência Jarbas Anute, Coordenador do PROACRE, pela SEPLAN, apresentou um breve resumo sobre o Planejamento Estratégico do Governo e como o PROACRE está integrado com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Governo. Ressaltou como os programas devem estar alinhados estrategicamente a partir dos eixos, projetos e ações, que elevem a qualidade de vidas das populações nas cidades e nas áreas rurais. 32 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Apresentando os conceitos e estruturas das Zonas de Atendimento Prioritário (ZAP) e Zonas Especiais de Desenvolvimento (ZED). Também foram apresentadas as classificações de comunidades de Atendimento Universal (CAU), Comunidades de Atendimento Prioritários (CAP) e Comunidades de Organização Prioritária (COP). A composição das diversas fontes de financiamento do Programa de Desenvolvimento Sustentável enfocando que os recursos do Banco Mundial não fazem parte de um Programa isolado, mas que complementam uma proposta integrada de desenvolvimento. Em seguida, apresentou os Componentes do PROACRE: (i) Prover serviços básicos e segurança alimentar; (ii) ampliação e modernização dos serviços para o desenvolvimento socioeconômico; (iii) promoção de inclusão social e empreendedorismo; (iv) fortalecimento e modernização de capacidade institucional; e (v) gestão e avaliação do projeto. Na seqüência, apresentou como está sendo formulado o modelo de arranjo institucional através de um Comitê Gestor, que deverá ser composto por representantes do Governo, das Comunidades, Organizações Sociais, entre outros. Como será a Coordenação do Programa, estrutura implementação das ações conforme cada Componente e quais as Secretarias executoras envolvidas. O volume total em negociação de U$ 150.000.000,00 que ainda deverão ser discriminados em atividades e onde serão efetivamente alocados, em fase posterior. Comentou ainda, sobre a estratégia de implementação das ações a partir do Plano de Gestão das Aldeias – PGAs, que deverá ser elaborado pelas próprias comunidades, no qual constará as demandas reais das comunidades, as quais deverão ser apoiadas pelo PROACRE, em conformidade com as prioridades do Governo. Ressaltou o estágio atual da negociação com o Banco Mundial e a importância da participação na Consulta Pública que será realizada com representantes do Banco Mundial, do Governo, das Organizações das comunidades e convidados. 4. Foi esclarecido ainda, que os serviços básicos em educação e saúde não serão financiados diretamente com recursos do Banco Mundial, pois o Governo já conta com outras fontes para isso. Entretanto, serão discutidas no âmbito do Programa, as estratégias de ação para que esses serviços possam ser melhor viabilizados para as comunidades. 5. Foi encaminhado que, ao final da reunião, os participantes da reunião elegerão um grupo de 06 representantes da Regional Tarauacá/Envira (03 de Feijó e 03 de Tarauacá) para participar da Consulta Pública em Rio Branco. 6. Foi explicado também a estratégia de implementação dos Planos de Gestão das Aldeias, que deverão ser construídos a partir das demandas e especificidades locais, levando em consideração inclusive aquelas experiências já desenvolvidas, a exemplo dos Etnozoneamentos. 7. Após a apresentação, deu-se início a discussão para dirimir dúvidas e colher sugestões, sendo proposto que as lideranças presentes levarão as discussões para as comunidades de forma que pactuem uma avaliação mais ampla sobre a importância do Programa, que deverá ser apresentada na Consulta Pública. 33 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento 8. Na fala das Lideranças Francisco das Chagas e Assis Kaxinawa foi enfatizada a necessidade de apoiar aquelas atividades produtivas que a comunidade já tem prática, e principalmente a importância em fortalecer a Gestão das Organizações comunitárias, pois essa é uma das grandes demandas das representações indígenas. Ressaltaram que o Governo tem que apoiar as comunidades para que elas possam assumir cada vez mais as responsabilidades pela sua gestão e desenvolvimento, inclusive com acompanhamento técnico para algumas atividades produtivas. 9. A Liderança Aldaisio Yawanawá ressaltou a necessidade de se fazer uma discussão e avaliação prévia de toda e qualquer ação ou projeto a ser implementado nas comunidades indígenas. 10. A liderança e Agente Comunitário de Saúde Degilson Sergio Saboia ressaltou e agradeceu a apresentação do Programa pelo Governo e a importância em trazer essa discussão para as comunidades. Comentou a importância de promover discussões com as comunidades para que o Governo conheça cada vez mais suas necessidades e apoie exatamente aquilo que elas precisam para melhorar sua produção e suas vidas. 11. A liderança Inácio Brandão ainda sobre o apoio que o Governo tem feito as comunidades indígenas, e da necessidade de concluir as ações já planejadas e inserir outras que não foram previstas. Comentou sobre a importância de ações de segurança alimentar, uma vez que só tem saúde quem se alimenta bem. 12. A liderança Antonio Ferreira comentou que a AMAAI/AC está a disposição para estabelecer parcerias com organizações indígenas e não indígenas, visando o apoio as comunidades buscando a melhora da qualidade de vida de todas as comunidades. 13. Ficou definido que os representantes da Regional Tarauacá, que participarão da Consulta Pública em Rio Branco, serão: Jaime Barbosa - Coordenador da OPIRE (Feijó); Raimundo Décio Barbosa – Liderança do Povo Kaxinawá (Feijó); Francisco das Chagas Reinaldo Pereira – Coord. da OPITAR (Tarauacá); Aldaiso Luiz Vinuya - Liderança do Povo Yawanawá (Tarauacá); Antonio Alberto ou Antonio Ferreira - Coordenador da AMAAIAC; Biraci Brasil – Liderança do Povo Yawanawá (Tarauacá) 14. Após a leitura e validação da Ajuda Memória por todos os presentes, deu-se por encerrada a reunião, às 12h26. Tarauacá - Acre, 29 de maio de 2008. 34 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Anexo E: Consulta Final em Rio Branco - 11 de junho de 2008 Local: Palácio das Secretarias, 232, Centro, Rio Branco - AC 1 - Breve Contexto A aprovação da Carta Consulta do PROACRE, pela Comissão de Financiamentos Externos COFIEX, órgão federal ligado ao Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão, foi concebida ao Governo do Estado do Acre em 13 de dezembro de 2007. Iniciava-se assim, em janeiro de 2008, a primeira Missão Oficial do BIRD ao Acre para iniciar a preparação do Projeto. Nesta fase, estão sendo realizados estudos que permitirão o refinamento dos componentes do Projeto, que contará com a participação da Sociedade, visando à identificação das opções técnicas, institucionais, econômicas e financeiras disponíveis que possibilitarão a formulação do projeto a ser apresentado à Diretoria do Banco Mundial. O Programa tem como objetivo principal a promoção da inclusão social associada ao desenvolvimento econômico comunitário sustentável de famílias acreanas em Zonas de Atendimento Prioritário. O PROACRE traduz o compromisso assumido pelo Governo do Estado com a sociedade acreana, no sentido de garantir, especialmente, apoio aquelas comunidades que historicamente encontram-se em situação de vulnerabilidade social, ambiental e econômica. 2 - Consulta Pública 2.1 - Metodologia e Participantes 35 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento As reuniões tiveram início aproximadamente às 9h00, em duas salas localizadas no palácio das Secretarias, sob a coordenação da SEPLAN com o apoio SEMA, SEF, SEAPROF, SDCT, SEE, SESACRE, IDM, SAS, SGA, Assessoria Especial dos Povos Indígenas e Coordenação da Área de Inclusão Social, além do Banco Mundial, que como convidados. A Consulta contou com a presença de 32 representações das diversas esferas dos movimentos sociais e não governamentais, totalizando 71 participantes (lista de presença - Anexo I) e foi realizada, paralelamente, com 02 grupos, sendo: i. Grupo I - Representantes dos Conselhos, Sindicatos, Redes, ONGs e Cooperativas: estiveram presentes representantes de 13 organizações (FETACRE, CNS, CEAS, CEE, CES, SINTEAC, GTA, CTA, UICN, CET, CEDIM/RAHM e AMAC), totalizando aproximadamente 46 participantes, incluindo os representantes do Governo e convidados. ii. Grupo II - Lideranças Indígenas: participaram 19 representantes de Organizações e Comunidades Indígenas (OPIRJ, OPITAR, COOPYAWA, OAEYRG, AMAYAC, APIYTXA, ASKARJ, MAPKAHA, Lideranças dos Katukina, Huni Kúi, Nukini, Arara, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawá, Shanenawa, Yawanawá e Manchineri, além de representantes da Comissão Pró-Índio - CPI e FUNAI), além dos representantes do Governo e convidados; 2.2 . Objetivo O objetivo da Consulta foi apresentar à sociedade acreana o PROACRE, suas linhas gerais por área de ação e sua integração com investimentos e outras fontes de financiamento que compõem o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Governo do Acre, promovendo o debate e avaliação da sua importância, seu alinhamento com as reais demandas sociais e prioridades do Governo. Nesse sentido, o debate permite a participação social na formulação de melhorias no escopo do Programa durante as fases de elaboração e implementação. 2.3 . Desenvolvimento e Resultados A apresentação do PROACRE (Anexo II) iniciou com um breve resumo sobre o Planejamento Estratégico e como o PROACRE complementa o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Governo. Em seguida, foram apresentados os conceitos e estruturas das Zonas de Atendimento Prioritário - ZAP e Zonas Especiais de Desenvolvimento - ZED. Também foram apresentados os diferentes tipos de classificações de comunidades, que serão foco do Programa: Comunidades de Atendimento Universal - CAU; Comunidades de Atendimento Prioritários . CAP; e, Comunidades Pólo - COP. A partir desse momento, iniciou-se a exposição específica sobre o Programa, com seu objetivo, estrutura dos Componentes e detalhamento de linhas gerais de ações. Na seqüência, foi apresentado o modelo de arranjo institucional, sua coordenação e as Secretarias executoras diretamente envolvidas em cada Componente. Ponto importante na apresentação foi a explanação da estratégia para implementação das ações, a partir da elaboração de Planos de 36 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Desenvolvimento Comunitários. PDC e Planos de Gestão das Terras Indígenas. PGTI, que deverão ser construídos pelas comunidades a partir das demandas e especificidades locais, com apoio do Governo, levando em consideração o aproveitamento de experiências e diagnósticos similares já desenvolvidos anteriormente. Por fim, foi exposto o volume total em negociação de U$ 150.000.000,00, os quais deverão ainda ser alocados a partir do detalhamento das atividades por Componente, em fase posterior. No caso do Grupo indígena, ainda foi esclarecido que os serviços básicos em educação e saúde não serão financiados diretamente com recursos do Banco Mundial, pois o Governo conta com outras fontes de financiamentos, além de parcerias com o Governo Federal e Municípios para executar tais ações. Entretanto, ficou acordado que as estratégias de ação para que esses serviços possam ser melhor viabilizados nas comunidades deverão ser alvo de debates constantes no âmbito do Programa. Após a exposição supramencionada, foi apresentado o Termo de Referência da Avaliação Ambiental (Anexo III), documento disponibilizado previamente aos participantes. Ressaltou-se que mesmo o Programa não prevendo impactos negativos decorrentes de suas ações diretas, deverá ser elaborado um relatório que será apresentado ao BIRD como precondição no processo de aprovação. Finalizado as exposições, iniciou-se o debate, a partir do conteúdo apresentado e da formulação prévia de 03 perguntas: i. O PROACRE está claro ao que se propõe? ii. As propostas estão em conformidade com as demandas das comunidades? iii. Que sugestões teriam, DENTRO DO ESCOPO DO PROACRE, para melhorar o Projeto? No Grupo I, quanto à clareza do projeto e convergência no tocante as demandas das comunidades, a avaliação dos participantes foi que, apesar do Programa de ter sido apresentado em linhas gerais - o que dificulta o processo de avaliação e sugestões -, o PROACRE é bastante interessante, especialmente considerando o contexto a partir da visão de desenvolvimento local. Também foi declarado que o fato do PROACRE ter sido construído a partir da base do Zoneamento Econômico Ecológico - ZEE, o caracteriza como legítimo, além de expressar uma dimensão inovadora ao Projeto. No tocante a melhoria do Programa foram registradas as seguintes sugestões: Educação infantil (3-5 anos) e sistema de creches nas ZAPs rurais; Credenciamento de escolas, pois as mesmas precisam ser regularizadas e legalizadas; Adaptação dos currículos do Ensino Médio Rural com foco nas potencialidades da floresta; Inserção do tema Conceitos de Cooperação (cooperativismo) nos currículos da Educação; Oferta de serviços de seguridade social, nos moldes do ProjetoCidadão, nas ZAP rurais; Acrescentar o atendimento ao SUS nas ZAP rurais; Pactuar com os municípios a adesão ao PSF; 37 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Criação de fundo de financiamento reembolsável, com gestão mista (modelo de OSCIP), viabilizando acesso aos créditos, especialmente capital de giro, com recursos do Banco Mundial; Que na elaboração dos PDC e PGTI sejam aproveitados os estudos e diagnósticos já realizados, além de garantir que estes sejam realmente apoiados. Também, que sejam elaborados em fases, para ajustar o ritmo da ação com a capacidade operacional do Programa; Garantir ampla participação interinstitucional no Comitê Gestor, previsto no Arranjo Institucional. No Grupo II, no tocante ao entendimento dos participantes quanto à clareza do projeto, registrouse: Para a maioria dos presentes o programa é importante e consideram a iniciativa de promover a participação social, uma forma diferenciada de elaboração de políticas públicas para os povos indígenas; Consideraram que a linguagem técnica e a base conceitual de CAU, CAP, COP dificulta o entendimento do escopo do Programa, inclusive devido o curto tempo para internalização do PROACRE entre as comunidades; Quanto às convergências do Programa em relação às demandas das comunidades, os participantes ressaltaram que o Programa prevê ações importantes para o fortalecimento institucional das associações indígenas, valorização e fortalecimento da cultura e da produção tradicional, formação profissionalizante diferenciada (Agente agroflorestais e outros), gestão territorial (ZAPs) e ambiental, desenvolvimento de cadeias produtivas, estudos dos potenciais dos recursos naturais em Terras Indígenas, ações para garantir segurança alimentar, elaboração de planos conforme demanda específica de cada comunidade. Quanto às sugestões para melhoria, o Programa deve contemplar: A instrumentalização e capitalização de fundo para que o acesso aos recursos ocorra conforme demandas e características de cada comunidade indígena; Ações de apoio a fiscalização nas Terras Indígenas; Ações de intercâmbio dos povos indígenas acreanos com outros povos dos países de fronteira; Criação de um subcomponente com ações/atividades e recursos específicos para as comunidades indígenas; Garantir a articulação das ações de saúde e educação indígena com o Programa, além de uma maior articulação com a FUNASA para solucionar problemas de epidemias, etc. Outras sugestões que não compõem o escopo do Programa: Criação de uma agenda de ações com a visão indígena; Ações de educação em nível superior, através de bolsas para estudantes; Ações de promoção e apoio da medicina tradicional e a valorização dos Pajés. 38 Estado do Acre Secretaria de Estado de Planejamento Quanto ao processo de Avaliação Ambiental, colocado em discussão pelos moderadores, ressalta-se que nenhum comentário ou manifestação sobre possíveis impactos negativos ou mesmo qualquer preocupação em relação ao tema, no âmbito do Programa, mencionado foi registrado. ____________________________ Gilberto do Carmo Lopes Siqueira Secretário de Estado de Planejamento Coord. da Área de Infra-estrutura ____________________________ Fábio Vaz de Lima Secretário de Estado de Governo Coord. da Área de Desenvolvimento Econômico ____________________________ Antonio Carlos da R. Xavier Assessor Especial do Governador Coord. da Área de Inclusão Social ____________________________ Jarbas Anute Costa Chefe do Depto. de Monitoramento/SEPLAN Coord. do PROACRE Rio Branco - Acre, 13 de junho de 2008. GOVERNO DO ESTADO DO ACRE Secretaria de Estado de Planejamento Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado do Acre - PROACRE ANEXOS: I. Lista de presença dos participantes II. Apresentação do PROACRE III. Termo de Referência da Avaliação Ambiental IV. Ajuda memória da Consulta Preliminar com indígenas em Tarauacá V. Ajuda memória da Consulta Preliminar com indígenas em Cruzeiro do Sul VI. Lista de Presença da Consulta Preliminar com movimentos sociais em Rio Branco 39