A ARTE E O ARTESANATO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA
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A ARTE E O ARTESANATO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA
A ARTE E O ARTESANATO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA COLETIVA Meiriane Ferreira Bezerra Santos1 - UFAL Mariana Cordeiro Wanderley Tenório Farias 2 - UFAL Maria Dolores Fortes Alves3 - UFAL Surama Angélica da Silva 4 - UFAL Idnelma Lima da Rocha5 - UFAL Grupo de Trabalho – Educação da Infância Agência Financiadora: BDAI-UFAL Resumo Este relato de experiência busca uma reflexão sobre a relevância do “Projeto Arte e Artesanato como Elementos Contribuintes no Desenvolvimento Cultural da Criança”. Nessa perspectiva, o objetivo é descrevê-lo e situá-lo como elemento inovador nas práticas pedagógicas desenvolvidas no Núcleo de Desenvolvimento Infantil- NDI da Universidade Federal de Alagoas no período compreendido entre outubro de 2014 a setembro de 2015. O projeto de intervenção em andamento está vinculado ao Programa de Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico e Institucional – BDAI e articula-se com o fomento da tríade ensino-pesquisa-extensão, favorecendo a formação complementar de graduandos do curso de Pedagogia. A orientação metodológica adotada neste trabalho apoia-se na análise do processo de construção e execução do projeto e na avaliação parcial dos resultados. Nesse sentido, 1 Graduada em Pedagogia pela Fundação Educacional do Baixo São Francisco Dr. Raimundo Marinho. Especialista em Pedagogia Organizacional e Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade Atlântico. Professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Alagoas(UFAL). E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Bolsista do Programa de Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico e Institucional da UFAL. E-mail: [email protected] 3 Doutora e Mestre em Educação – PUC/SP-CNPq e UB (Barcelona); Mestre em Psicopedagogia e Pedagoga UNISA; Pós-Graduada em Distúrbios da Aprendizagem pela UBA (Buenos Aires); Especialista em Educação em Valores Humanos-Fundação Peirópolis; Pesquisadora RIES (Rede Internacional Ecologia dos Saberes), ECOTRANSD (Ecologia dos Saberes e Transdisciplinaridade - CNPq), RIEC (Rede Internacional de Escolas Criativas), GIAD (Grupo de Investigação e Assessoramento Didático. UB) e ADESTE (A Adversidade Esconde um Tesouro - Universidade de Barcelona); Professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected] 4 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Especialista em Educação em Direitos Humanos e Diversidades pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected] 5 Graduada em Pedagogia e especialista em Psicopedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestra em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Alagoas. Tutora online do curso de Pedagogia a distância da UFAL/UaB. Membro do grupo de Pesquisa Gestão e avaliação da educação. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 35412 toma como foco de análise as experiências vivenciadas junto às crianças como produtoras de arte e cultura, considerando a aproximação ao artesanato local e regional e ao entrelaçamento com a arte em suas diferentes manifestações e linguagens. Deste modo, é possível verificar, que o desenvolvimento do projeto junto às 130 crianças do Núcleo, na faixa etária compreendida entre 2 a 5 anos de idade, colaborou na compreensão de que as atividades desenvolvidas favorecessem a competência, sensibilidade e criatividade infantis, promovendo, a partir das interações coletivas, o gosto pela arte e tornando-as apreciadoras curiosas do artesanato local. As experiências têm demonstrado que as práticas docentes que incorporam o fazer artístico cotidianamente, promovem o lúdico, potencializam talentos e contribuem para o desenvolvimento integral da criança de forma significativa; e ainda, fortalecem o vínculo entre toda comunidade educativa, ao promover experiências que consideram a participação efetiva das famílias no contexto da educação infantil. Palavras-chave: Projeto. Desenvolvimento Infantil. Arte e Artesanato. Criança. Introdução O Projeto “Arte e Artesanato como Elementos Contribuintes no Desenvolvimento Cultural da Criança” resulta do anseio de proporcionar as crianças experiências artísticas, cultivando o gosto pela arte e pela apreciação das manifestações artísticas e do artesanato local e regional, fomentando o desenvolvimento cultural na infância. O seguinte projeto foi coelaborado por aluna do curso de graduação em Pedagogia, vinculado a Bolsa de Desenvolvimento Acadêmico e Institucional e desenvolvido junto às crianças com faixa etária compreendida entre 2 e 5 anos de idade, em turmas de Educação Infantil sob o acompanhamento e orientação de Professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico que atuam no Núcleo de Desenvolvimento Infantil - NDI/CEDU da Universidade Federal de Alagoas. O Núcleo, situado no campus A.C. Simões na cidade de Maceió, atende crianças advindas das comunidades circunvizinhas e filhos (as) de servidores e estudantes da Universidade. O Núcleo possui parceria com a Secretaria Municipal de Educação e constitui-se em um espaço/lugar que desenvolve suas atividades com apoio de equipe multidisciplinar composta por pedagogas, psicólogas, nutricionista, técnicos em enfermagem e assistente social. Possui em sua organização, docentes, auxiliares de sala, bolsistas, estagiários de diferentes cursos, gestor e coordenadores pedagógicos. Nesse contexto, cabe ressaltar: qual a contribuição do projeto às crianças do NDI ao facilitar e promover o fazer artístico? Como se desenvolveram as experiências práticas com as crianças? Como o projeto se articulou com os desejos e escolhas das crianças e quais resultados se obtiveram em curto prazo? 35413 A construção teórica do projeto parte do pressuposto de que a arte está presente em tudo. Ela se revela em diversos contextos, de forma rica e variada. É possível percebê-la em uma obra de arte clássica ou em uma imagem ou elemento do cotidiano. Não se trata de produzir algo só para se alcançar resultados, pode-se sim haver resultados, mas o mais importante são as experiências vividas em cada situação, o processo que se constrói e o prazer consciente de usar os sentidos (não esquecendo também a intuição), experimentar suas capacidades, percepções, desejos, limites; e sensibilizar-se com o belo. Dessa forma, o projeto visa mostrar a importância da arte na educação infantil, as possibilidades que a arte proporciona na vida das crianças e aproximá-las do artesanato alagoano que representa e expressa a cultura de sua gente. Portanto, a construção de uma sociedade que valorize as produções artísticas em geral, com um novo olhar, um olhar sensível capaz de deslumbrar-se e permitir novas leituras da produção humana, depende, dentre outros elementos, de um processo que precisa ser iniciado desde a primeira infância. Aprender a apreciar e valorizar a arte, em suas diferentes manifestações, é um processo que não pode ser negado às crianças; e, portanto, deve fazer parte da práxis pedagógica na Educação Infantil. Lembrando-se que uma sociedade só aprende a valorizar sua cultura e sua arte se esta for vivenciada desde a mais tenra idade, tornando-se empiricamente, parte da vida. Nesse sentido, cabe a Educação Infantil divulgá-la e difundi-la. Caracterização descritiva do Projeto Arte e Artesanato como Elementos Contribuintes no Desenvolvimento Cultural da Criança: objetivos e referencial teórico adotado O Projeto Arte e Artesanato como Elementos Contribuintes no Desenvolvimento Cultural da Criança têm como objetivo mais amplo, possibilitar o desenvolvimento pleno de cada criança como produtora de cultura por meio da aproximação à arte, ao artesanato e as manifestações artísticas locais e regionais. Sua elaboração representa um processo de intensa imersão no cotidiano das crianças do Núcleo de Desenvolvimento Infantil e nas intenções pedagógicas de seus profissionais. A análise do contexto e da contribuição que traria as crianças também foram elementos importantes na sua construção, gerando um projeto movido pelo desejo de transformar a realidade e contribuir para o desenvolvimento de práticas docentes de qualidade na Educação Infantil. Nesse sentido, o projeto considera ainda, significativos os objetivos elencados abaixo: 35414 Despertar na criança o interesse pela arte ampliando os referenciais artísticos e estéticos através de exposições e apresentações culturais; Possibilitar que a Educação Infantil seja um lugar de acesso às manifestações culturais e artísticas produzidas pela humanidade; Proporcionar às crianças experiências estéticas ricas como: cheiros, gostos, sons, temperaturas, texturas e imagens; Estimular a imaginação, a criatividade e a expressão artística através das artes plásticas, visuais, literárias, decorativas e expressão musical; Garantir espaço e tempo adequados para os processos de criação individuais e coletivos, priorizando a participação efetiva das famílias, aumentando o repertório de atividades artísticas; Favorecer vivências na Educação Infantil, individuais e coletivas, em que as crianças conheçam e manifestem seus desejos, preferências, sonhos, medos, alegrias por meio da arte em suas diferentes linguagens; Promover ações junto às famílias e comunidade que possibilitem o acesso das crianças aos bens culturais, a arte e ao artesanato. No tocante ao referencial teórico, o projeto considera que ao longo da trajetória da educação no Brasil, o ensino de Artes foi embasado dentro de diferentes tendências pedagógicas e, com a LDB 9.394 de 1996, tornou-se obrigatório no currículo dos diversos níveis da Educação Básica, considerando a arte em seu contexto mais amplo e não mais como uma atividade curricular, mas sim como área de conhecimento, integrado à base de formação cultural do sujeito e, portanto da criança. Ressalta ainda, que recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, apontam a necessidade de imersão das crianças nas múltiplas linguagens em seus variados gêneros e formas de expressão (gestual, verbal, plástica, dramática e musical) e a promoção das interações com diversificadas manifestações, tais como a música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesias e literatura. Sendo assim, abre um leque de possibilidades para o desenvolvimento de atividades que priorizem a arte e suas vastas manifestações. Ressalta a compreensão de que a criança sofre influência da cultura e também a produz; arte e cultura se entrelaçam gerando um processo rico de experiências durante a infância. A arte está presente no cotidiano dos indivíduos e deve ser promovida como um fazer humano, com potencial para transformar os espaços educativos, pela diversidade e riqueza que apresenta. Nesse sentido, as Artes devem ser vistas como uma linguagem que tem 35415 estrutura e característica próprias, por meio dos seguintes aspectos, de acordo com o RCNEI (1998): Fazer artístico - centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de trabalhos de arte por meio de práticas artísticas, propiciando o desenvolvimento de um percurso de criação pessoal; Apreciação - percepção do sentido que o objeto propõe, articulando-o tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e suportes utilizados, visando desenvolver, por meio da observação e da fruição, a capacidade de construção de sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras de arte e de seus produtores; Reflexão - considerado tanto no fazer artístico como na apreciação, é um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias produções e as dos artistas. (BRASIL.1998, p.89) Entretanto, a arte configura-se como um conceito difícil de definir, pois existem várias formas de enxergá-la e de explicá-la, porém, o projeto buscou seguir o pensamento de Barbieri, ao enfatizar: Pois arte é infância. Arte significa não saber que o mundo já é, e fazer um. Não destruir nada que se encontra, mas simplesmente não achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos. E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol. Sem que se fale disso, involuntariamente. Nunca ter terminado. Nunca ter o sétimo dia. Nunca ver que tudo é bom. Insatisfação é juventude. (RILKE, apud, BARBIERI, 2007, p.17). Durante a infância o interesse da criança pela arte está relacionado ao meio social em que ela vive e ao acesso às produções culturais, por isso, é preciso pensar em formas lúdicas e criativas que possam estimular a criatividade e a imaginação da criança, pois é através dessas descobertas que a criança passa a conhecer a si mesma e o mundo do qual faz parte. É com seus pares que ela vivenciará trocas de experiências ricas em afetividade e descobertas. A prática educativa com projetos tem muito a colaborar nesse processo, sendo uma ferramenta muito importante para o amadurecimento das habilidades e potencialidades das crianças, pois é durante as etapas do projeto que elas tornam-se protagonistas das suas próprias descobertas. A contribuição de Barbosa e Horn (2008) reafirma com propriedade esse entendimento, ao concluir que: A pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. Para as crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas das suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, para além dos conteúdos, os diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos conhecimentos (2008, p. 87). 35416 De acordo com as palavras das autoras, trabalhar com projetos na educação infantil é uma excelente forma de atrair o interesse pelo conhecimento - de algo específico ou geral pois é neste momento que o educador tem a possibilidade de oferecer uma série de estratégias, onde ele, as crianças e a instituição de educação infantil podem participar de uma forma contínua e ativa em cada etapa do projeto. A criança que aprende por meio da pedagogia de projetos, tem a oportunidade de construir sua independência e posterior autonomia, aprender a pensar, a atuar no e com o coletivo, a argumentar, a entender o mundo ao seu redor e ser sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem. A escolha metodológica e o projeto O principio metodológico caracterizado pela pesquisa-ação, (THIOLLENT, 2008) apresenta-se no projeto como a possibilidade de vincular aspectos da pesquisa à prática pedagógica, ou seja, a ação; levando consequentemente a uma ressignificação do fazer docente. Assim sendo, ao iniciarem-se os momentos de acompanhamento de diversos grupos de crianças na faixa etária de 2 a 5 anos, da observação in loco das atividades das quais participavam, tornou-se evidente de que as crianças teriam assegurado o seu desenvolvimento pleno, à medida que aspectos mais específicos deste desenvolvimento fossem considerados e subsidiados em diversas propostas sistematizadas. Desta forma, analisou-se que a arte e o artesanato são elementos socialmente e culturalmente enriquecedores e que poderiam contribuir significativamente no desenvolvimento integral da criança. O projeto desdobrou-se em três etapas: a primeira refere-se à construção do projeto a partir de análise do contexto do Núcleo e suas necessidades, contato com bolsistas, professores e comunidade, levantamento de dados e pesquisa bibliográfica; a segunda etapa compreende o período de sistematização de algumas atividades de cunho artístico e preparação dos materiais; e a terceira etapa está vinculada a execução do projeto, a princípio, em turmas com grupos de crianças de 3 e 4 anos de idade. As oficinas de arte realizadas junto as crianças merecem um olhar atento, representando uma experiência muito significativa, sobretudo para as crianças. As famílias foram convidadas a participarem e sensibilizaram-se ao perceber a intensa criatividade infantil. Os trabalhos com pintura utilizando tinta guache em telas e as sobreposições com diversos materiais (sementes, fitas, tecidos, materiais plásticos) foram apreciados por todo o grupo, pais, familiares e crianças. Foi possível perceber o quanto as crianças sentiam-se 35417 reconhecidas por suas produções e demonstravam satisfação e auto-realização com a presença e participação dos pais ou familiares durante as atividades. O projeto reveste-se de um caráter inovador e socialmente relevante ao considerar como fundamental uma contínua parceria com as famílias junto às crianças, ao corpo docente, aos bolsistas, técnico-administrativos, comunidade e funcionários em geral. Apresenta, de forma simples, objetiva e pedagogicamente sistematizada as seguintes estratégias: Realização de exposições de arte no pátio da instituição, promovendo a oportunidade de apreciação de produções artísticas locais e regionais por toda a comunidade, com ênfase na participação da família; Promoção de exposição e demonstração das danças culturais alagoanas e no segundo momento as crianças são convidadas a participarem das danças; Organização de um momento chamado de “Vamos à feira”, onde as crianças terão contato com frutas e legumes, podendo sentir suas texturas, seus cheiros e gostos, além de perceber as diversas cores que elas possuem; Oferta de espaço-oficina onde as crianças juntamente com suas famílias e o corpo docente, terão a oportunidade de produzir trabalhos utilizando diversas técnicas como sobreposição, pintura em telas, modelagem em argila e massa de modelar; Contação de histórias da literatura infantil, de forma lúdica possibilitando a participação das crianças através da encenação teatral, onde as mesmas serão os personagens da referida história; Oficina para produção de instrumentos musicais com materiais reciclados; Oficina criativa onde as crianças realizam modelagens com o uso do Papel Machê produzido por elas; Realização da “Parede da minha vida”, onde as crianças podem expressar através de desenhos e pinturas, seus desejos, preferências, sonhos, medos e alegrias; Organização de uma mostra do artesanato local e regional em parceria com as famílias das crianças e artesãos da região; Promoção de um Sarau com a participação de toda comunidade (pais, crianças, funcionários e colaboradores). 35418 Tecendo algumas contribuições Pela arte, pela expressão artística, a criança constrói em seu interior, novas possibilidades, pensamentos, sonhos. É um aparato à construção cognitiva e um suporte as imensas possibilidades de expressão e elaboração dos sentimentos e emoções. A arte conduz o sujeito a si próprio e o liga a cultura. Produzir arte é produzir cultura e produzir cultura se traduz na materialização da essência do humano. A criança dá mergulhos cada vez mais profundos e traz à tona situações cheias de emoção. A brincadeira simbólica (a arte), por ser zona fronteiriça entre a realidade e a fantasia, entre o eu e o outro, entre o consciente e o inconsciente, muito próxima do sonho, dá realmente condições à criança de representar situações carregadas de afeto e emoção, e de se aproximar de forma mais criativa de conteúdos angustiantes. Há possibilidade também de viver os medos e as tensões do outro, de intervir papéis e, portanto, de compreender melhor as relações vividas (PIAGET, apud, OLIVEIRA, 2000, p. 33 e 34, grifo nosso). A arte é mais que lazer, é mais que um componente curricular; ela é uma expressão da plenitude humana, uma forma de liberação dos impulsos, uma linguagem, um modo impar, e singular de comunicação. Como fruto e produto cultural, ela é uma expressão de valores, sentimentos da própria cultura. Segundo Alves e Bossa (2006), o fazer artístico, para além de ser lúdico e criativo, constitui-se como um elemento estruturante das funções psíquicas. Ele traz representações simbólicas e faz emergir conteúdos inconscientes, possibilitando assim, a elaboração de traumas, afetos, sentimentos e sintomas. Sob a luz dessas considerações, o projeto, ainda em execução, representa um avanço na construção de uma educação que, voltada às crianças, priorizem a arte como expressão humana resultando em práticas de qualidade social. Iniciou-se em turmas onde a bolsista que o desenvolveu atuava, considerando que o vínculo existente facilitasse o desenvolvimento das atividades e contribuísse para que as crianças ficassem mais soltas, sem receio de errar, visto que o propósito das oficinas era favorecer a criatividade e a imaginação infantil, onde desejos, pensamentos, gostos e sonhos pudessem emergir nas telas. A apreciação de obras de arte reproduzidas através de recursos áudio visuais gerou momentos lúdicos e de muita diversão para as crianças, ficando atentas as imagens e por diversas vezes tentando reproduzi-las. As danças folclóricas alagoanas trouxeram momentos de grandes realizações, enriqueceram o repertório musical infantil e fortaleceram a valorização da cultura local e sua produção desde a infância. As crianças passaram a solicitar, escolher e sugerir quais atividades queria realizar 35419 e quais materiais utilizariam. Solicitavam constantemente a participação dos familiares e já tinham incorporado à prática de realizar os convites e lembretes relacionados às atividades. Paulatinamente, os pais e familiares foram percebendo a importância que o projeto assumira na vida das crianças e a contribuição que estava trazendo ao desenvolvimento das mesmas. Cada vez mais, a participação das famílias se ampliava e era possível verificar, por meios de vários relatos dos pais como eles também se realizavam ao terem a oportunidade de participar ativamente das atividades desenvolvidas junto às crianças. Considerando a perspectiva de ampliação do projeto, para além de uma intervenção, o propósito é direcioná-lo a outros grupos de crianças que juntamente com suas famílias possam vivenciar a arte em um espaço coletivo. Como um elemento gerador de inúmeras possibilidades, o projeto, atualmente, prevê uma parceria com uma comunidade escolar do município de Piaçabuçu no estado de Alagoas. O local oferece uma expressiva quantidade de cabaças (planta cultivada para alimentação e como recipiente de água) que servirão como matéria-prima para atividades de pinturas a serem produzidas pelas crianças. Considerações Finais Por meio da arte adquirem-se novas habilidades, fazem-se novas descobertas, se expressa frustrações e angústias, adquire-se autoconfiança, aprende-se a valorizar o seu potencial, existe uma rica troca de experiências que proporcionam o desenvolvimento cultural da criança. A arte proporciona um encantamento nas suas variadas formas e o contato cotidiano com as linguagens artísticas, possibilitam novos saberes. Assim, concebe-se o universo infantil como extremamente rico; relacionado às diferentes linguagens da arte e verifica-se que a criança produz cultura, produz arte e sente-se feliz quando é estimulada e suas produções reconhecidas pelo coletivo. O fazer artístico, inserido no cotidiano da criança, possibilita o seu desenvolvimento em aspectos variados; social, psicológico, intelectual e emocional e o contato com o artesanato possibilita o surgimento de um sentimento de apreciação, valorização e reconhecimento, aproximando-a da produção cultural de seu povo. Nesse sentido, o projeto colabora para a inovação e qualificação das práticas pedagógicas desenvolvidas no Núcleo de Desenvolvimento Infantil, e toma a forma de elemento gerador de atuação coletiva ao engajar os pais das crianças no cotidiano das aprendizagens, descobertas e produções na infância, representando ainda, uma contribuição experiencial àqueles que o vivenciam. 35420 Conclui-se que fazer arte traduz-se como um elo do mundo interior com o mundo exterior. A subjetividade se faz presente no fazer artístico embelezando a vida e a alma de quem a vivencia e a produz. A arte contribui significativamente para o desenvolvimento infantil, pois as crianças criam arte e recriam-se pela arte, que liberta os sonhos e a vida. REFERÊNCIAS ALVES, M. D. F; BOSSA, N. A. A fase inicial da criança e o olhar psicopedagógico como re-estruturante das funções psíquicas. in: ABPP- VII Congresso Brasileiro de Psicopedagogia. São Paulo : ABPP, 2006. v. VII. BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na infância? / Stela Barbieri; Josca Ailine Baroukh, coordenadora; Maria Cristina Carapeto Lavrador Alves, organizadora. S. Paulo: Blucher, 2012. BARBOSA, M. e HORN, M. Projetos pedagógicos na educação infantil. P. Alegre: Artmed, 2008. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. 3v.: il.Volume 1: Introdução; volume 2: Formação pessoal e social; volume 3: Conhecimento de mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998. ________. Resolução N. 5, De 17 de Dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: 2009. ________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil /Secretaria de Educação Básica. – Brasília : MEC, SEB, 2010. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.9.394, de 20 de dezembro de 1996. OLIVEIRA, V. B. de (org). O brincar e a criança: do nascimento aos seis anos. Petrópolis: Vozes, 2000. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2008.
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