O nome de Deus é misericórdia síntese

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O nome de Deus é misericórdia síntese
15/02/2016
"O nome de Deus é misericórdia" ­ síntese
"O nome de Deus é
misericórdia" - síntese
2016­01­12 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) – A misericórdia
é “a carteira de identidade” de Deus,
afirma o Papa Francisco, no livro­
entrevista “O nome de Deus é
misericórdia”, nas livrarias italianas a partir
desta terça­feira, 12. A obra é uma
compilação de uma conversa entre o
Pontífice e o vaticanista do jornal italiano
“La Stampa”, Andrea Tornielli, e coordenador do site “Vatican Insider”. Dividido
em nove capítulos e 40 perguntas, o livro – editado pela Piemme – tem a capa
autografada pelo Papa Francisco. A primeira cópia do volume, em italiano, foi
entregue ao Pontífice na tarde de segunda­feira, 11, na Casa Santa Marta.
Entrevista gravada em julho de 2015
Julho de 2015, Casa Santa Marta. O Papa Francisco recém havia retornado de
sua viagem apostólica ao Equador, Bolívia e Paraguai. É uma tarde abafada
quando recebe o jornalista Andrea Tornielli, munido de três gravadores. Diante de
si, sobre uma pequena mesa, o Santo Padre tem uma Bíblia e um livro com
citações dos Padres da Igreja. A misericórdia é o tema da conversa que nasce
entre os dois, em vista do Jubileu Extraordinário que foi aberto cinco meses após.
Hoje, os frutos daquele diálogo estão compilados no livro “O nome de Deus é
misericórdia”.
Capítulo I – É o tempo da misericórdia
Oração, reflexão sobre os Pontífices precedentes e uma imagem da Igreja como
“hospital de campanha”, que “aquece os corações das pessoas com a
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proximidade”. São estes os três fatores – explica o Papa – que o impeliram a
convocar o Jubileu da Misericórdia. “A nossa época é um tempo oportuno” por isto
– observa – porque hoje se vive um duplo drama: perdeu­se o sentido do pecado,
e ele é considerado também incurável, imperdoável. Por isto, a humanidade ferida
por tantas “doenças sociais” – pobreza, exclusão, escravidão do terceiro milênio,
relativismo – tem necessidade de misericórdia, desta “carteira de identidade de
Deus”, daquele que “permanece sempre fiel”, mesmo que o pecador o renegue.
A graça da vergonha torna o pecador consciente do pecado
Também é central neste primeiro capítulo a reflexão do Papa sobre o tema da
vergonha, entendida como “uma graça”, porque torna o pecador consciente do
próprio pecado. Em particular, a ênfase ao assim chamado “apostolado da
escuta”, ou seja, a capacidade dos confessores de “ouvir com paciência”, pois
hoje as pessoas “buscam sobretudo alguém que esteja disposto a doar o próprio
tempo para escutar os seus dramas e as suas dificuldades”. Entre outras coisas –
observa – é por isto que tantos procuram os quiromantes. O Pontífice destaca,
ademais, “que se o confessor não pode absolver, dê alguma bênção, mesmo sem
absolvição sacramental”, porque “o amor de Deus existe também para quem não
está na disposição de receber o Sacramento”.
A grande responsabilidade de ser confessor
“Tenham ternura com estas pessoas – recomenda o Papa aos sacerdotes – não
as afastem”, porque “as pessoas sofrem” e “ser confessor é uma grande
responsabilidade”. A este respeito, o Pontífice cita o caso de sua sobrinha: “Eu
tenho uma sobrinha que casou no civil com um homem, antes que pudesse ter o
processo de nulidade matrimonial. Este homem era tão religioso, que todos os
domingos, quando ia à missa, ia ao confessionário e dizia ao sacerdote: “Eu sei
que o senhor não pode me absolver, mas pequei nisto e naquilo, me dê uma
bênção”. Este é um homem religiosamente formado”.
Capítulo II ­ Confissão não é lavanderia, nem tortura. Ouvir, não interrogar
Além disto, se vai ao confessionário “não para ser julgado”, mas para “alguma
coisa maior do que o juízo: para o encontro com a misericórdia” de Deus, sem a
qual “o mundo não existiria”. Por isto – enfatiza Francisco – o confessionário não
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deve ser “nem uma lavanderia”, onde se lava o pecado a seco, como uma simples
mancha, nem “uma sala de tortura”, onde se depara com “o excesso de
curiosidade” de alguns confessores, curiosidades às vezes “um pouco doentias”,
mórbidas, que transformam a confissão em um interrogatório.
Capítulo 3 ­ Reconhecer­se pecador. Um coração em pedaços é uma oferta
agradável a Deus
Pelo contrário, “no diálogo com o confessor é necessário ser ouvidos, não
interrogados”. Neste sentido, o sacerdote deve “aconselhar com delicadeza”. Mas
para obter a misericórdia de Deus – reitera novamente Francisco – é importante
reconhecer­se pecador, porque “o coração em pedaços é uma oferta agradável
ao Senhor, é o sinal de que estamos conscientes de nossa necessidade de
perdão, de misericórdia”. O Papa recorda, depois, que a misericórdia de Deus é
“infinitamente maior do que o nosso pecado”, porque o Senhor “nos primeireia”,
“antecipa­se a nós, nos espera” com o seu perdão, com a sua graça”. “Somente o
fato de uma pessoa ir ao confessionário – explica – indica de que já existe um
início de arrependimento”. E às vezes vale mais “a presença desajeitada e
humilde de um penitente que tem dificuldade em falar, do que as tantas palavras
de alguém que descreve o seu arrependimento”.
Capítulo IV – Também o Papa tem necessidade da misericórdia de Deus
O Papa define­se como “um homem que tem necessidade da misericórdia de
Deus” e dá alguns conselhos ao penitente e ao confessor: ao penitente, sugere
que não seja soberbo, mas que olhe “com sinceridade a si mesmo e ao próprios
pecados”, para assim receber o dom da misericórdia de Deus. Aos confessores,
por sua vez, Francisco sugere a pensarem, antes de tudo, nos próprios pecados e
depois, ouvirem “com ternura”, sem “atirar nunca a primeira pedra”, mas
procurando “assemelhar­se a Deus na sua misericórdia”. Como modelo, o
Pontífice cita o pai que vai de encontro ao filho pródigo e o abraça, antes ainda
que o jovem admita os seus pecados. “Este é o amor de Deus – sublinha o Papa
– esta é a superabundância da misericórdia”.
Capítulo V – A Igreja condena o pecado, mas abraça o pecador
E para aqueles que afirmam que na Igreja existe “muita misericórdia”, o Papa
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responde sublinhando que “a Igreja condena o pecado”, mas “ao mesmo tempo
abraça o pecador que se reconhece como tal, fala a ele da misericórdia de Deus”.
É necessário perdoar “setenta vezes sete”, isto é, sempre”, enfatizou o Pontífice,
porque “Deus é um pai cuidadoso, atento, pronto em acolher qualquer pessoa que
dê um passo ou que tenha o desejo de dar um passo” em direção a ele, e
“nenhum pecado humano, por mais grave que seja, pode prevalecer sobre a
misericórdia e limitá­la”. A Igreja, portanto, “não está no mundo para condenar,
mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de
Deus”.
Igreja deve estar “em saída”, ser “hospital de campanha” para os necessitados de
perdão
Para fazer isto, porém, ela deve ser “Igreja em saída”, “hospital de campanha que
vai de encontro aos tantos “feridos” necessitados de escuta, compreensão,
perdão, amor”. É importante, de fato, “acolher com delicadeza aqueles que estão
diante de nós, não ferir a sua dignidade”, afirma o Santo Padre, citando uma
experiência pessoal, que remonta aos tempos em que era pároco na Argentina:
uma mulher que se prostituía para manter os seus filhos, agradeceu a ele por
sempre trata­la por “Senhora”.
Capítulo VI – Não lamber as feridas do pecado, mas ir em direção a Deus
Francisco também chama a atenção para a atitude de quem desespera “pela
possibilidade de ser perdoado” e prefere lamber as feridas do pecado, impedindo
de fato a cura. “Esta é uma doença narcisista que leva à amargura”, observa o
Papa, em que se encontra “um prazer na amargura, um prazer doentio”. Pelo
contrário, “o remédio existe”: basta somente dar um passo em direção a Deus ou
ao menos ter o desejo de dar este passo, “assumindo a própria condição”, sem
crer­se “autossuficiente” e sem esquecer as nossas origens, “a lama de onde
fomos tirados, o nosso nada”. E isto “vale sobretudo para os consagrados”,
sublinha. Na vida, de fato, o importante não é “não cair nunca”, mas sim,
“levantar­se sempre”. Esta, então, é a missão da Igreja. “Que as pessoas
percebam que sempre é possível recomeçar se permitimos que Jesus nos
perdoe”.
Delicadeza e não marginalização das pessoas homossexuais
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Respondendo, depois, a uma pergunta sobre pessoas homossexuais, o Papa
explica o que afirmou em 2013, durante a coletiva de imprensa no avião que o
trazia de retorno do Rio de Janeiro, isto é, “se uma pessoa é gay, busque o
Senhor e tenha boa vontade, quem sou eu para julgá­la?”. “Eu havia parafraseado
de memória o Catecismo da Igreja Católica – pondera – onde explica que estas
pessoas devem ser tratadas com delicadeza e não devem ser marginalizadas”. O
Papa aprecia a expressão “pessoa homossexual” porque, explica, “antes existe a
pessoa, na sua totalidade e dignidade”, que “não é definida somente pela sua
tendência homossexual”. “Eu prefiro que as pessoas homossexuais venham
confessar­se, que permaneçam próximas ao Senhor, que se possa rezar juntos”,
acrescentou.
Misericórdia é doutrina, é o primeiro atributo de Deus
Quanto à relação entre verdade, doutrina e misericórdia, Francisco explica: “Eu
amo antes dizer: a misericórdia é verdadeira”, “é o primeiro atributo de Deus”.
“Depois se podem fazer reflexões teológicas sobre doutrina e misericórdia –
acrescenta – mas sem esquecer de que a misericórdia é doutrina”. A este
propósito, o Papa cita “os doutores da lei, os principais opositores de Jesus, que o
desafiam em nome da doutrina”. Eles seguem uma lógica de pensamento e de fé
que olha “ao medo de perder os justos, os já salvos”. Jesus, pelo contrário, segue
outra lógica: aquela que redime o pecado, acolhe, abraça, transforma o mal em
bem, a condenação em salvação. É a lógica de um Deus que é amor – explica o
Papa – um Deus que quer a salvação de todos os homens, que não se detém “em
estudar a situação em uma mesinha”, avaliando os prós e os contras. Para o
Senhor, o que conta realmente é “alcançar os afastados e salvá­los”, curar e
integrar “os marginalizados que estão fora” da sociedade.
Lógica de Deus é lógica do amor que escandaliza os “doutores da lei”
Certamente – sublinha Francisco – esta lógica pode escandalizar, antes como
agora, provocando “o resmungo” de quem está habituado aos próprios “esquemas
mentais e à própria pureza ritualística”, ao invés de “deixar­se surpreender” por
um amor maior. Pelo contrário, é precisamente esta lógica o caminho que o
Senhor nos indica diante das pessoas que “sofrem no físico e no espírito”, para
vencer assim “preconceitos e rigidezes” e evitar de julgar e condenar “do alto da
própria segurança”. Ir em direção aos marginalizados e aos pecadores –
prossegue Francisco – não significa permitir aos lobos que entrem no rebanho,
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mas sim procurar alcançar todos, testemunhando a misericórdia, sem nunca cair
na tentação de sentir­se “os justos ou os perfeitos”.
Adesão formal às regras leva à degradação do estupor
Quem se descobre “doente na alma”, de fato, deve encontrar portas abertas, não
fechadas; acolhida, não julgamento ou condenação; ajuda, não marginalização.
Os cristãos que “apagam aquilo que o Espírito acende no coração de um
pecador”, avalia Francisco, são como os doutores da lei, “sepulcros caiados” que,
com a hipocrisia, viviam apegados à letra da lei, sabiam somente fechar portas,
colocar limites, mas negligenciavam o amor. Se prevalece a adesão formal às
regras – chama a atenção o Papa – então se verifica “a degradação do estupor”,
ou seja, se maravilha menos diante da salvação trazida por Deus, e isto nos leva
a acreditar “conseguirmos fazer sozinhos, sermos nós os protagonistas”. Este
comportamento “é a base do clericalismo” e leva os ministros de Deus a
acreditarem­se como “donos da doutrina, titulares de um poder”.
Lei da Igreja é inclusiva, não exclusiva
A Igreja não deve nunca ser assim – afirma o Papa – não deve ter o
comportamento de quem impõe “fardos pesados” nas costas das pessoas. “Para
algumas pessoas rígidas – disse – faria bem uma escorregada, porque assim,
reconhecendo­se pecadores, encontrariam Jesus”. “A grande lei da Igreja, de fato,
é aquela do et et e não aquela do aut aut”. A este propósito Francisco cita
exemplos negativos, como os cinquenta mil dólares pedidos a uma mulher por um
processo de nulidade matrimonial ou como o funeral em uma igreja, recusado a
uma criança, por esta não ser batizada.
Capítulo VII – Corrupção, um pecado elevado à sistema. Pecadores sim,
corruptos não!
Ampla, após, a reflexão de Francisco sobre a corrupção, definida como “o pecado
elevado à sistema, que tornou­se um hábito mental, um modo de viver”. O
corrupto peca e não se arrepende – diz o Papa – finge ser cristão e com a sua
vida dupla provoca escândalo, acredita não precisar mais pedir perdão, passa a
vida em meio aos atalhos do oportunismo, ao preço da dignidade sua e dos
outros. Com o seu “rosto de santinho”, o corrupto evade os impostos, dispensa os
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funcionários para não assumi­los definitivamente, explora o trabalho informal e
depois se vangloria de suas espertezas com os amigos ou até mesmo vai à missa
no domingo, mas depois usa o suborno no trabalho. E “frequentemente não se dá
conta de seu estado” como “quem tem a respiração pesada”. “Pecadores sim,
corruptos não!” – exorta o Papa – convidando a rezar, durante o Jubileu, para que
Deus abra brechas nos corações do corruptos, dando a eles “a graça da
vergonha”.
Justiça não basta por si só, é necessária a misericórdia
Após, o Pontífice recorda que a misericórdia “é um elemento indispensável”, para
que exista fraternidade entre os homens. A justiça, por si só, de fato, não basta:
com a misericórdia, Deus vai além da justiça, “a engloba e a supera” no amor.
“Não existe justiça sem perdão – disse ainda Francisco, no fulcro de João Paulo II
– e a capacidade de perdão está na base de todo projeto de uma sociedade
futura, mais justa e solidária. E não somente: “a misericórdia contagia a
humanidade” e isto se reflete “na justiça terrena, nas normas jurídicas”. Basta
pensar à crescente rejeição da pena de morte que se registra a nível mundial.
Família, primeira escola de misericórdia
“Com a misericórdia a justiça é mais justa” – sublinha ainda Francisco ­
enfatizando que isto não significa “ser exageradamente condescendente,
escancarar as portas das prisões a quem se manchou com crimes graves”, mas
sim ajudar a quem caiu a levantar­se, porque Deus “perdoa tudo”, “realiza
milagres também com a nossa miséria” e a sua misericórdia “será sempre maior
do que qualquer pecado”, tanto que ninguém pode colocar um limite a ela. O
Pontífice recorda, após, que a família “é a primeira escola da misericórdia”, pois
nela “se é amado e se aprende a amar, se é perdoado e se aprende a perdoa”.
Capítulo VIII – A compaixão vence a globalização da indiferença
Quanto às características do amor infinito de Deus, o Papa Bergoglio recordou
que Deus nos ama com compaixão e misericórdia; a primeira tem um rosto mais
humano. A segunda, por sua vez, é divina. De fato, Jesus não olha à realidade a
partir do exterior, “como se tirasse uma fotografia”, mas “deixa­se envolver”. Hoje
existe necessidade desta compaixão ­ explica ­ e existe necessidade dela para
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vencer “a globalização da indiferença”.
Capítulo IX – Praticar obras de misericórdia. Está em jogo a credibilidade dos
cristãos
Na conclusão do livro­entrevista, o Papa coloca o foco nas obras de misericórdia,
corporais e espirituais: “São atuais e sempre válidas – diz – estão na base do
exame de consciência e ajudam a abrir­se à misericórdia de Deus”. Disto, vem a
exortação a servir Jesus “em toda pessoa marginalizada”, excluída, faminta,
sedenta, nua, prisioneira, doente, desempregada, perseguida, refugiada. Na
acolhida do marginalizado, ferido no corpo, e do pecador, ferido na alma, joga­se,
de fato, “a credibilidade dos cristãos”, conclui o Pontífice. Porque no fundo, como
dizia São João da Cruz, “no anoitecer da vida, seremos julgado no amor”. (JE)
(from Vatican Radio)
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