Alfaces

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Alfaces
Alfaces
Classificação Botânica
A alface cultivada, Lactuca sativa, faz parte da Família das Asteraceae e da Tribo das
Lactuceae. O gênero Lactuca compreende cerca de 100 espécies conhecidas.
Geralmente os botânicos consideram que a Lactuca sativa vem da espécie selvagem
Lactuca serriola. Existe uma enorme variabilidade dentro de Lactuca sativa. Geralmente são
determinados quatro tipos em função das características morfológicas:
1. Lactuca sativa capitata. É a alface de pomo que se subdivide em alface repolhudas e em
alface manteiga. A alface manteiga se caracteriza por uma folhagem lisa e pouco recortada.
A alface repolhuda se caracteriza por uma folhagem quebradiça, mais ou menos recortada,
cuja cor varia do amarelo-verde das alfaces chamadas “européias” ao verde muito escuro das
alfaces chamadas “americanas”, de tipo iceberg.
2. Lactuca sativa longifolia. É a alface romana cujas folhas são alongadas e a forma é
oblonga.
3. Lactuca sativa crispa. É a alface chamada “para cortar” ou crespa que geralmente não
forma coração e cujas certas variedades têm folhas muito frisadas.
4. Lactuca sativa angustana ou cracoviensis. É a alface aspargo cujo atrativo culinário
principal reside na haste carnuda, mais particularmente na Ásia.
Foto. Alface repolhuda:
Red Iceberg
História
Na mitologia Grega, a história de amor entre a deusa Afrodite e o jovem Adonis teve um fim
dramático quando esse último foi morto por um porco selvagem na horta das alfaces no qual ele estava
escondido.
Nessa mitologia, a alface foi assim simbolicamente relacionada a um aspecto de morte e ainda por
cima, a um aspecto de impotência masculina (no coração da história de Adonis).
Entretanto, essas diversas conotações mitológicas não parecem ter tido muita influência sobre o povo
Romano, pois desde a época do Imperador Domitien, do ano 81 ao ano 96, era costume das elites servir
alface como entrada, antes do prato principal, com rabanetes e outros legumes crus. Essa prática ainda
perdura em algumas regiões ou em certos países.
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Na época Romana, a alface já
era rica de todo um conteúdo cultural,
medical, religioso e alimentício, é
claro. Ela foi cultivada pelos antigos
Egípcios e nós temos representações
em certos túmulos que datam de quase
2700 anos antes de Cristo.
Foto. Alface para cortar:
Devil's tongue
Uma das representações é
visível no Museu Egípcio de Berlim: é
uma alface com quase 90 cm de altura.
Os Egípcios desenvolveram a cultura
dessas alfaces que agora chamamos
“Romanas”, pois os romanos adotaram
o ‘savoir-faire’ dos Egípcios nesse tipo
de alface. Segundo Pline e Columelle, os Romanos no início da era cristã cultivavam também alfaces de
pomo e frisadas.
Os Romanos só consumiam as jovens alfaces cruas: eles cozinhavam as alfaces chegadas à
maturidade ou então colocavam um molho com óleo e vinagre quente diretamente sobre as folhas. Eles
exaltavam o gosto da alface com um tempero de rúcula. Parece que na França, por volta dos anos 1500,
somente algumas variedades de alfaces
eram conhecidas. Rabelais, o escritor,
trouxe um certo número de variedades de
Nápolis por volta de 1535.
As alfaces Romanas foram sem
dúvida trazidas para a França pelos papas
em Avignon. A primeira menção desse tipo
de alface se encontra no Tratado de
Agricultura de Crescenzi, agrônomo
italiano do século 13.
Cultiva-se hoje em dia um grande
número de variedades cuja determinação
por tipo não é muito fácil.
Foto. Alface com pomo: Forellenschuss
Nutrição
O aspecto nutricional das alfaces varia consideravelmente em função dos diferentes tipos. Eis aqui,
por exemplo, os resultados de um estudo americano cujos números são dados por 100 gramas de folhas. Para
a Vitamina A, são as Romanas e as Alfaces “a cortar” ou crespas que detêm a palma, com 1900 UI
(Unidades Internacionais) contra 970 UI para as Alfaces “manteiga” e somente 330 UI para as Repolhudas.
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Para a Vitamina C e o cálcio,
nós temos a mesma ordem de
grandeza: para as Romanas e as
Alfaces “a cortar”, 18 mg de Vitamina
C e 68 mg de cálcio, para as Alfaces
“manteiga” 8 mg de Vitamina C e 35
mg de cálcio e para as Repolhudas,
somente 6 mg de Vitamina C e 20 mg
de cálcio.
Quanto ao ferro, são as Alfaces
“manteiga” que levam, com 2 mg
contra 0,5 mg para as Repolhudas e 1,4
mg para as Romanas e as Alfaces “a
cortar” ou crespas.
Foto. Alface romana: Cimarron
Polinização
A inflorescência da alface, que chamamos de capítulo, contém aproximadamente 24 floretos. Esses
floretos são auto-fecundos. Entretanto, as polinizações cruzadas podem se manifestar entre diversas
variedades cultivadas por um lado, e entre duas alfaces cultivadas e alfaces selvagens por outro lado.
Assim, Lactuca sativa pode se hibridar naturalmente com Lactuca serriola que é encontrada em
volta da bacia mediterrânea, por exemplo na Argélia, nas Ilhas Canárias, e em certas regiões da Ásia
Ocidental temperada. Encontra-se também na Índia do Norte e no Nepal.
Nas alfaces cultivadas, pudemos observar até 8% de hibridações naturais entre diferentes variedades.
Isso depende muito das variedades e do tipo de floração. Assim, para algumas variedades, as flores ficam
abertas durante 30 minutos enquanto que para outras, elas ficam durante muitas horas. A tendência à
alogamia é mais elevada quanto mais o
clima é quente e ensolarado. Nossas
experiências de produção de sementes
de alfaces na região de Aïr no norte da
Nigéria destacaram uma alogamia muito
forte com as dezenas de variedades nas
hortas.
Em
zona
temperada,
é
normalmente aconselhável deixar alguns
metros entre cada variedade. É também
aconselhável nunca colher sementes de
alfaces
que
foram
re-semeadas
espontaneamente.
Os amadores querendo produzir
sementes de alface podem aumentar as
distâncias de isolamento ao máximo, se
o espaço na horta o permite.
Foto. Porta-sementes de alfaces
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Produção de sementes
A seleção e a eliminação das plantas não conformes ao tipo são principalmente fundadas na
observação das características morfológicas a partir da emergência da planta até a emergência da haste portasementes. Esse processo de seleção pode se efetuar durante três fases do crescimento da planta:
- A primeira fase é o estádio da plântula da quarta à sexta folha.
- A segunda fase é o início da formação do pomo ou do coração.
- A terceira fase é a emergência da haste porta-sementes.
A alface é uma planta muito
sensível a seu ambiente e alguns tipos
são facilmente influenciados pela
duração do dia. É então aconselhável,
para a produção de sementes, de
respeitar os ciclos próprios a cada
variedade. Assim, uma alface de
inverno será conduzida em bianual
enquanto uma alface de primavera
será conduzida em anual. Além disso,
o respeito ao ciclo próprio de cada
variedade permite de confirmar muito
mais facilmente as características
morfológicas em vista de uma seleção
eficaz.
Foto. Tamis para fazer a
triagem das sementes
A haste porta-sementes não sai sempre facilmente do coração da alface. É o caso, por exemplo, das
variedades de tipo repolhudas, cujos primeiros pomos duros têm folhas muito apertadas. Os pomos muito
duros constituem assim uma barreira bastante intransponível pela haste porta-sementes. Existem muitos
métodos para favorecer a emergência dessa haste. Pode-se cortar o topo da alface tomando cuidado para não
tocar o ponto de crescimento muito frágil. Pode-se também dar uma palmada aplicada secamente sobre o
topo da alface para soltar as folhas basais e arrancar a cabeça. Nesse caso onde somente algumas portasementes devem ser ajudadas, pode-se simplesmente retirar as folhas que envolvem o coração, uma a uma.
É muito aconselhável conservar somente as porta-sementes que são saídas de alfaces que se
desenvolveram de forma harmoniosa. De fato, as sementes saídas de alfaces que brotaram prematuramente
vão induzir a uma degeneração da variedade, sobretudo quando essa prática perdura durante anos.
É por isso que a agricultura química precisa de dois tipos de produtores de sementes de alface: os
que produzem as sementes “elite”, respeitando os ciclos de crescimento, e os que produzem semente “sem
triagem” que vai ser comercializada. Esses últimos utilizam, por exemplo, o ácido giberélico, para induzir o
crescimento antes da formação completa da alface.
Uma bela alface vai produzir uma bela porta-sementes, pesada de sementes, que corre o risco de
virar com grandes ventos. Em regiões um pouco turbulentas é mais seguro tutorar as porta-sementes maiores,
ou passar um fio entre a primeira e a última da fileira.
A abertura dos capítulos da alface porta-sementes se efetua de forma progressiva. A maturidade das
sementes se efetua igualmente de forma progressiva.
Para cada capítulo, do início da floração até a formação da semente, se passam de 12 a 21 dias, em
função das condições ambientais. As temperaturas elevadas favorecem a rapidez de crescimento e de
maturidade. Além disso, a evolução das temperaturas diurnas e noturnas, durante o processo de maturação,
influencia sobre a produtividade das porta-sementes: de 15 à 27 gramas de sementes por planta. Ela
influencia também sobre a velocidade de germinação, a emergência da plântula e a formação da alface. A
priori, não são as temperaturas mais elevadas que geram a maior produtividade das sementes.
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Como as sementes amadurecem de forma muito progressiva, é aconselhável colher as portasementes quando se estima que a metade dos capítulos são maduros. Se espera-se que as sementes dos
últimos capítulos esteja maduros, as sementes que terão amadurecido primeiro já terão caído no chão.
Uma outra técnica de colheita consiste em passar a cada 2 ou 3 dias, para sacudir as porta-sementes
fazendo cair as sementes maduras em um recipiente ou um saco de tela. Esse método requer mais tempo,
mas permite colher quase a totalidade das sementes produzidas.
É aconselhável deixar as porta-sementes colhidas em um abrigo ventilado, para que as sementes
continuem a secar durante alguns dias. As porta-sementes são sacudidas em seguida, contra as paredes
interiores de um grande recipiente (as grandes lixeiras de plástico de 50 litros são perfeitas), o que permite às
sementes maduras se soltarem. Resta apenas fazer a triagem das sementes com um tamis ou um ventilador,
pois caem muito destroços durante a fase de extração das sementes.
As sementes de alface têm uma duração germinativa média de 5 anos. Entretanto, elas podem
conservar uma faculdade germinativa até 9 anos. Se as condições de estocagem não são adequadas, as
sementes de alface perdem 50% de viabilidade no final de dois anos e até 90% de viabilidade no final de 3
anos, e isso mais particularmente nas zonas tropicais.
O bilhão de sementes pesa de 0,6 a 1 grama em função da variedade. Belas porta-sementes podem
facilmente produzir 10-15 gramas de sementes.
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