Controle Biológico das Pragas dos Citros
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Controle Biológico das Pragas dos Citros
BOLETIM CITRÍCOLA Junho nº 21/2002 CONTROLE BIOLÓGICO DAS PRAGAS DE CITROS José R. P. Parra EECB branco BOLETIM CITRÍCOLA Junho nº 21/2002 CONTROLE BIOLÓGICO DAS PRAGAS DE CITROS José R. P. Parra EECB Copyright © : Editora Novos Talentos P258c Controle biológico das pragas dos citros. Bebedouro: EECB, 2002 Parra, José R. P. 37p. : il ; 21 cm. (Boletim Citrícola, 21) 1. Citros. 2. Pragas. I. Título CDU - 634.3:632 Ficha catalográfica elaborada pelo STATI - SBD. 2002 Editora Novos Talentos Av. Carlos Berchieri, 1671 - CEP 14870-200 Tel/Fax: (16) 3202-2246 - Jaboticabal - SP ÍNDICE Prefácio ......................................................................................................... 07 Introdução ...................................................................................................... 09 Controle biológico natural (conservação) .................................................... 11 Controle biológico clássico e aplicado ........................................................ 15 1. Minador-dos-citros - Phyllocnistis citrella ...................................... 15 2. Moscas-das-frutas ......................................................................... 20 3. Bicho-furão - Ecdytolopha aurantiana ........................................... 26 4. Ácaros ............................................................................................ 26 5. Cochonilhas ................................................................................... 28 6. Cigarrinhas vetoras da CVC .......................................................... 30 7. Curculionídeos-da-raiz .................................................................. 30 8. Pulgões .......................................................................................... 30 9. Coleobrocas-dos-citros ................................................................. 32 Considerações finais .................................................................................. 32 Agradecimentos .......................................................................................... 33 Bibliografia citada ........................................................................................ 33 branco PREFÁCIO Com a domesticação e cultivo das plantas, multiplicou–se a produção de alimentos e, concomitantemente, o ambiente envolvido no sistema de produção tornou–se inóspito para determinados organismos e favorável para outros que aÍ encontraram fonte de alimento e proteção. Esta condição determinou a necessidade de se lançar mão de formas de compensar esses desequilíbrios. Um destes artifícios constitui–se no uso de produtos químicos. Estes são aliados do agricultor quando bem empregados, mas seu uso descontrolado e sem critérios tem reduzido sua vida útil pelo favorecimento da resistência das pragas, além da contaminação do ambiente, dos alimentos, do homem e dos organismos que seriam responsáveis pelo equilíbrio entre as pragas e a produção. O controle biológico de pragas é uma estratégia que cresce à medida que o mundo exige produtos limpos , com qualidade e que respeitem o meio ambiente, produzidos dentro dos conceitos de Produção Integrada. Como exemplos de eficiência no controle de pragas dos citros através de meios biológicos, lembramos a introdução dos parasitóides de mosca-dasfrutas , da Ageniaspis controlando a larva minadora , dos feromônios no monitoramento do bicho-furão e mosca-das-frutas; da Beauveria para controle da ortézia, dentre muitos outros. A adoção do controle biológico de pragas e de seus conceitos proporciona a produção de alimentos limpos dentro das boas práticas agrícolas em um ambiente equilibrado e ecologicamente correto. A EECB e a Coopercitrus tem a satisfação de contar neste boletim, com a colaboração do Dr. Parra, eminente professor da Esalq, USP de Piracicaba, para abordar tão importante assunto. Agostinho Mario Boggio - Coopercitrus 07 Controle Biológico das Pragas de Citros branco 08 Controle Biológico das Pragas de Citros CONTROLE BIOLÓGICO DAS PRAGAS DE CITROS J.R.P. Parra INTRODUÇÃO O controle biológico ocupa posição de destaque em qualquer programa de Manejo de Pragas (MIP), seja como responsável pela manutenção do nível de equilíbrio de pragas, seja como importante medida de controle. Os inimigos naturais (parasitóides, predadores e patógenos) são os principais fatores de mortalidade no agroecossistema, e, ao lado da taxonomia, métodos de amostragem e níveis de controle são a sustentação de qualquer programa de MIP. Como medida de controle, podem atuar isoladamente, mantendo as pragas em níveis populacionais toleráveis, ou serem integrados com outros métodos de controle como os culturais, físicos, de resistência de plantas, métodos comportamentais (feromônios) que podem ser harmoniosamente integrados com métodos químicos, especialmente reguladores de crescimento e produtos de última geração, pouco agressivos ao ambiente (PARRA, 2000). No Manejo de Pragas de Citrus, como em qualquer cultura, devem ser adotados os procedimentos básicos de controle biológico, quais sejam, introdução, conservação e multiplicação. Dado o grande número de pragas existentes em pomares cítricos, o controle biológico através da conservação, também chamado de Controle Biológico Natural, é o que deve ser mais utilizado. Este tipo de controle visa à manutenção dos inimigos naturais já existentes na natureza, usando inclusive táticas que possam aumentar a sua população, por serem eles os responsáveis pela manutenção do equilíbrio no agroecossistema. Neste caso, a utilização de produtos seletivos é muito importante para evitar a destruição dos inimigos naturais existentes. Ao lado da utilização de produtos seletivos, outras técnicas culturais poderão ser adotadas visando conservar (e se possível aumentar) a população de agentes biológicos benéficos por meio da manipulação de seu ambiente de forma favorável (utilização de produtos químicos em épocas corretas, reduzir as dosagens de tais produtos, preservar o hábitat ou fontes de alimentação para inimigos naturais). 09 Controle Biológico das Pragas de Citros A introdução de inimigos naturais constitui o Controle Biológico Clássico, ou seja, no caso da introdução de uma praga, busca-se, no local de origem da mesma, seu parasitóide, predador ou patógeno para liberá-lo em quantidades pequenas (liberações inoculativas). Esse tipo de controle aplica-se a culturas perenes, pois o inseto importado irá estabelecer-se a longo prazo, dando, conseqüentemente, resultados de controle com o passar do tempo. Essa forma de controle é a mais conhecida, sendo registrado em Citrus o caso clássico de controle biológico, no século 19, do “pulgão-branco” Icerya purchasi. Para controlar essa praga na Califórnia, EUA, foi introduzida da Austrália a joaninha australiana, Rodolia cardinalis, em 1888. Um ano depois, a cochonilha citada estava sob controle, sendo esta data (1889) considerada o marco do controle biológico clássico no mundo (BOSCH et al., 1982). O controle biológico como um todo e o clássico em particular deixaram de ser utilizados no período de 1940 a 1960, pois, neste período, houve utilização maciça de inseticidas organossintéticos, que haviam surgido no final da década de 30. Para o Controle Biológico, esse foi, segundo KOGAN (1998), um período negro. Posteriormente, com a forte pressão mundial contra o uso abusivo de inseticidas, houve o ressurgimento do controle biológico, passível de ser novamente utilizado pelo desenvolvimento de produtos menos tóxicos e menos agressivos ao ambiente. A recente utilização de Ageniaspis citricola, o parasitóide introduzido para controlar o minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella, registrado pela primeira vez no Brasil em 1996, é uma prova eloqüente desse ressurgimento do controle biológico clássico. Para a utilização do controle biológico clássico, é fundamental que exista um sistema de quarentena eficiente que permita ao agente biológico importado permanecer por algumas gerações confinado antes da sua liberação no campo. No Brasil, a EMBRAPA-CNPMA, em Jaguariúna-SP, possui o Sistema de Quarentena “Costa Lima”, que tem desempenhado de forma adequada tal atribuição. O terceiro procedimento em Controle Biológico é o da multiplicação, que consiste na multiplicação do parasitóide ou predador, como no caso do Controle Biológico Clássico, no hospedeiro natural ou alternativo. O mais comum é multiplicar-se sobre o hospedeiro natural (por exemplo, se é um parasitóide do minador-dos-citros, ele vai ser multiplicado sobre o minador); entretanto, existem casos, como Trichogramma spp. (parasitóide de ovos), em que ele pode ser multiplicado em ovos de diversas espécies de traças ou mesmo óvulos ou ovos do bicho-da-seda (PARRA, 1997). Em Citrus, Diachasmimopha longicaudata (Hymenoptera, Braconidae), parasitóide principalmente de Anastrepha spp. (mosca-das-frutas), vem sendo criado no hospedeiro alternativo, Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo). 10 Controle Biológico das Pragas de Citros Nesse caso de multiplicação, tem-se o Controle Biológico Aplicado, e as liberações, ao invés de pequena escala (inoculativas), são inundativas. Por isso, há necessidade de grandes criações de insetos, facilitadas, nos últimos anos, pelo desenvolvimento de dietas artificiais para os hospedeiros dos inimigos naturais, especialmente para espécies de Lepidóptera, Coleóptera e Díptera (SINGH & MOORE, 1985; PARRA, 2001). As liberações são realizadas com baixa população da praga, para cada estágio de desenvolvimento, conforme seja um parasitóide ou predador de ovo, larva (ninfa), pupa ou adulto. Como as liberações são inundativas, o efeito é semelhante ao de inseticidas, sendo por este motivo mais facilmente aceito como medida de controle pelo agricultor, que se acostumou, ao longo do tempo, com produtos químicos de ação imediata. Com tal liberação, consegue-se restituir o nível de equilíbrio, sem esperar que o parasitóide ou predador se estabeleça nas áreas de liberação. É conveniente salientar que as medidas biológicas são específicas e que, por este motivo, devem ser analisadas caso a caso para cada cultura e praga a ser controlada. Neste trabalho, será discutido o potencial de agentes de controle biológico das pragas de Citrus, bem como a melhor forma de utilizá-los na prática, relatando os casos de sucesso existentes no Brasil. CONTROLE BIOLÓGICO NATURAL (CONSERVAÇÃO) Existem tabelas de seletividade de inseticidas e acaricidas elaboradas com base em pesquisas da IOBC1 Working Groups “Pesticides and Beneficial Organisms”. Essas tabelas levam em conta o efeito de produtos químicos (inseticidas, acaricidas e fungicidas) sobre parasitóides e predadores, incluindo efeitos diretos (eclosão e emergência) e indiretos, como efeito sobre fertilidade, ecdises, repelência, etc. Nesse trabalho, foi feita a adaptação de uma lista de seletividade elaborada pela Koppert Biological Systems (Tabela 1). No caso dos inimigos naturais, os produtos são classificados em quatro categorias: 1. Inofensivos (matam menos que 25% de tais agentes biológicos); 2. Levemente prejudiciais (25-50%); 3. Moderadamente prejudiciais (50-75%); 4. Muito prejudiciais (> 75%). Recentemente, ALVES et al. (2001a) publicaram uma listagem da toxicidade de produtos utilizados em citros para os fungos Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Verticillium lecanii, baseando-se no efeito de tais produtos sobre o crescimento vegetativo e esporulação dos referidos fungos (Tabelas 2 e 3). 1 International Organization of Biological Control 11 Controle Biológico das Pragas de Citros Tabela1- Adaptação de uma lista de seletividade elaborada pela Koppert Biological Systems Amblyseius californicus Phytoseiulus persimilis Crysoperla carnea Hippodamia convergens Harmonia axyridis Orius Podisus Aphidius laevigatus maculi- colemani ventris ervi Encarsia formosa Trichogramma spp. 3 4 4 4 4 1 4 1 4 4 4 4 1 4 2 3 4 4 1 4 4 1 4 4 2 2 3 4 1 Ninfa Ninfa Adulto Ninfa Adulto Adulto 1 1 1 4 1 1 4 2 4 2 4 2 2 4 3 4 2 3 4 1 4 4 1 4 1 1 1 4 2 4 4 4 1 4 4 4 4 1 4 1 1 4 4 4 4 4 4 4 4 3 1 Pupa 4 1 4 1 4 1 4 4 4 Adulto 1 3 4 4 4 4 1 4 1 4 4 4 Adulto 1 1 1 1 4 4 2 3 1 4 4 1 Larva ovo 2 3 2 1 1 2 4 1 1 4 Pupa 1 4 4 1 1 4 4 1 4 4 4 4 1 1 4 4 1 4 2 Adulto 1 1 1 1 1 1 3 Ninfa/ Adulto Ninfa/ Adulto 1 4 1 Adulto Vertimec Orthene Rufast Temik Peropal Ecotech Pro Talstar Neoron Applaud Sevin Marshal Citrex Lorsban Sipcatin Decis Polo Diazinon Kelthane Dimilin Larva Abamectin Acephate Acrinathrin Aldicarb Azocyclotin Bt. Var. Kurstaki Bifenthrin Bromopropylate Buprofezin Carbaryl Carbosulfan Chlorfenapyr Chlorpyrifos Cyhexatin Deltamethrin Diafenthiuron Diazinon Dicofol Diflubenzuron Produto comercial ovo Fase Ingrediente ativo 1 4 2 4 4 1 4 4 4 4 4 3 1 4 1 1 4 4 1 4 2 3 1 4 1 4 1 4 3 1 4 1 2 1 1 4 4 4 4 4 4 1 4 1 4 1 4 3 4 4 4 4 4 3 1 4 Tabela 2 - Limites para a classificação do efeito de produtos químicos comerciais sobre fungos entomopatogênicos (ALVES et al., 2001a). T - associado diretamente ao crescimento vegetativo e esporulação do fungo sob a ação das formulações. 12 Controle Biológico das Pragas de Citros Tabela 3 - Toxicidade de formulações de produtos fitossanitários utilizados na cultura dos citros para três fungos entomopatogênicos, em condições de laboratório (ALVES et al., 2001a). Produto Nome técnico Classe 1 Patógeno 2 Metarhizium Beauveria Verticillium anisipliae bassiana lecanii C C C C C C MD C MD C T C C C C C C C C C C C C C C C C C C C C C C C C MD C C C I Deltametrina IA Vamidotion FA Enxofre A Bromopropilato IA Monocrotofós A Propargite IA Acefato IA Dimetoato H Glifosato A Acrinatrin IA Bifentrin IA Metamidofós A Óxido de fembutatina C C I Imidacloprid Winner 1 A - acaricida; I - inseticida; IA - inseticida-acaricida; H - herbicida; F - fungicida 2 C - compatível; MD - moderadamente tóxico; T - tóxico Decis 25 CE Kilval 300 Kumulus DF Neoron 500 CE Nuvacron 400 Omite 720 CE Orthene 750 BR Perfekthion Roundup Rufast 50 SC Talstar 100 CE Tamaron BR Torque 500 SC ? Os patógenos também devem ser preservados, pois eles estão presentes e podem ser reguladores da população de diversas pragas dos citros (ALVES et al., 2001b) (Tabela 4). Portanto, a escolha do produto químico adequado na cultura cítrica é fundamental para evitar desequilíbrios desastrosos aos pomares. 13 Controle Biológico das Pragas de Citros Tabela 4 - Principais pragas dos citros, seus patógenos e estratégias de emprego (ALVES et al., 2001b). Praga Ácaros Phyllocoptruta oleivora Brevipalpus phoenicis Panonychus citri Mosca-das-frutas Tephritidae Bicho-furão Ecdytolopha aurantiana Cochonilhas Chrysomphalus spp. Coccus viridis Parlatoria spp. Orthezia praelonga Cigarrinhas Cigarrinhas da CVC Outras Cupins Pulgões Moscas-brancas Coleobroca 14 Patógeno Hirsutella thompsonii Verticillium lecanii Hirsutella thompsonii vírus de partícula livre Hirsutella thompsonii Entomophthorales Metarhizium anisopliae Bacillus thuringiensis Myiophagus Nectria e Myriangium Fusarium sp. Verticillium lecanii Aschersonia aleyrodis Fusarium sp. Nectria e Myriangium Beauveria bassiana Colletotrichum gloesporioides Metarhizium anisopliae Verticillium lecanii Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Entomophthorales Beauveria bassiana Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Verticillium lecanii Entomophthorales Beauveria bassaiana Aschersonia aleyrodis Metarhizium anisopliae Controle Biológico das Pragas de Citros CONTROLE BIOLÓGICO CLÁSSICO E APLICADO 1. Minador-dos-citros - Phyllocnistis citrella 1.1. Parasitóides Os resultados obtidos em diversos países mostram que a população do minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella, pode ser reduzida pela ação de parasitóides. Existe um número significativo de inimigos naturais associados naturalmente ao controle desta praga, especialmente parasitóides das famílias Encyrtidae, Eulophidae e Elasmidae. Tão logo foi registrado no Brasil em março de 1996, o minador passou a ser parasitado por inimigos naturais nativos com parasitismos próximos a 50% (SÁ et al., 1999), principalmente Galeopsomyia fausta (Figura 1), com ocorrência de outros eulofídeos (Cirrospilus sp. - Figura 2 e Horismenus sp.), elasmídeos (Elasmus sp.) e calcidídeos (Conura sp.). Com a ocorrência do minador no Brasil, aumentaram os problemas do cancro-cítrico, pois as minas de P. citrella facilitam a disseminação da bactéria Xanthomonas anoxopodis pv. citri (CHAGAS et al., 2001). Por esse motivo e também devido aos danos diretos causados pela praga, importou-se o parasitóide Ageniaspis citricola Logvinovskaya (Figura 3) que tem dado resultados espetaculares de parasitismo após sua introdução em outros países, como EUA (60 a 80%), Argentina (89%) e Peru (98%) (CHAGAS et al., 2002). O material foi introduzido dos EUA (Flórida) com a colaboração da Dra. Marjorie A. Hoy, tendo sido trazido pela pesquisadora da Austrália, embora este parasitóide tenha sido descrito de material do Vietnã. Os adultos deste encirtídeo são pequenos, de coloração preta, com 0,8 a 1,0 mm de comprimento. A oviposição é realizada em ovos ou lagartas do 1o instar do minador-dos-citros, sendo um endoparasitóide poliembriônico (Figura 3). O minador-dos-citros, inicialmente restrito às áreas tropicais e subtropicais da Ásia, dispersou-se rapidamente a partir de 1993 para vários países da África, Ásia, Europa, Austrália, Caribe e para as Américas do Norte, Central e do Sul. A partir de 1994, iniciaram-se as liberações de A. citricola com sucesso nas áreas mencionadas. Um dos poucos locais em que o parasitóide não se adaptou, foi a Espanha, devido, provavelmente, às condições climáticas adversas, especialmente seca excessiva. O sistema de criação do parasitóide no Brasil foi bastante simplificado, utilizando-se de tubetes ao invés de mudas cítricas, como nos EUA. A produção do parasitóide sobre P. citrella, criado em plantas de limão-cravo, tem sido otimizada em razão, basicamente, da praticidade de manuseio das plantas 15 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 1 - Galeopsomyia fausta, parasitóide nativo de Phyllocnistis citrella. Desenho da Bióloga Patrícia Milano. Figura 2 - Cirrospilus sp., parasitóide nativo de Phyllocnistis citrella. 16 Controle Biológico das Pragas de Citros cultivadas em tubetes, as quais se mantêm vigorosas até a terceira poda, desde que apresentem caule com diâmetro variável de 0,5 a 0,7 cm em sua base. Esse sistema, entre outras vantagens, demanda sobretudo pouco espaço para a criação do parasitóide, sendo possível monitorar o seu desenvolvimento em laboratório, utilizando-se de câmaras climatizadas e/ou pequenas salas de criação de modo a programar toda a produção, tomando-se como base as exigências térmicas de cada inseto. Assim, é possível manter em média 400 plantas/m2, com um potencial médio de produção de 6.300 parasitóides em um período médio de 19 dias, nas condições de 25 ± 1oC, UR de 80 ± 10% e fotofase de 14 horas. Para tanto, consideram-se, segundo observações em laboratório, valores médios de quatro folhas passíveis de postura/planta, dois ovos/folha, produção de 3,3 A. citricolla/hospedeiro parasitado e ainda 60% de viabilidade de parasitismo. Levando-se em conta esses índices de produção, poder-se-á estabelecer um sistema de criação que tenha como meta a produção média de 1.000 parasitóides/ dia, devendo-se realizar, contudo, a poda de 240 plantas, a intervalo de dois dias, a fim de induzir brotações necessárias à manutenção da colônia do hospedeiro e produção do parasitóide e, ao mesmo tempo, formar uma gaiola composta de 160 plantas, totalizando 12 gaiolas por mês. Estabelecida a criação nessas condições, é preciso repor 1.000 plantas em “tubetes” no sistema de produção a cada 45 dias, considerando-se que as plantas se mantêm vigorosas até a terceira poda, quando submetidas ao sistema de condução preconizado no sistema de produção do parasitóide. Para a liberação do inimigo natural em campo, faz-se necessário o monitoramento periódico dos pomares, a partir do início do período das chuvas, a fim da assegurar as condições básicas ao parasitismo e o conseqüente estabelecimento desse inimigo natural nas áreas não irrigadas cultivadas com citros. Para tanto, será imprescindível que as plantas apresentem emissão de brotações, isentas de inseticidas não seletivos ao parasitóide (VILLANUEVAJIMÉNEZ & HOY, 1998) por, pelo menos, três semanas, e que também apresentem ovos e/ou lagartas de P. citrella de primeiro instar com, no máximo, dois dias de idade. Atenção deve ser dada desde o início da amostragem das plantas até a liberação dos parasitóides, uma vez que, dependendo da variedade e/ou espécie cítrica cultivada e de fatores abióticos capazes de interferir no desenvolvimento vegetativo das plantas, o fluxo de brotações passíveis de postura pelo minador-dos-citros poderá ocorrer em um curto intervalo de tempo. Embora a produção de gerações superpostas contribua, teoricamente, para a manutenção constante do hospedeiro em campo, nos estágios passíveis de parasitismo, há de se analisar, sobretudo, o tempo bastante reduzido que o inseto exige para completar o período de incubação e o primeiro instar larval (3-4 dias a 25oC). Assim, considerando-se a estreita relação entre esses fatores, pode-se inferir que o sucesso da liberação de A. citricolla e conseqüente 17 Controle Biológico das Pragas de Citros estabelecimento, com vistas ao controle biológico do minador-dos-citros, dependerão, entre outros fatores, do conhecimento, em campo, da evolução populacional da praga e do monitoramento das plantas quanto a sua fenologia, visando à sincronização da produção do parasitóide em laboratório aos demais fatores favoráveis em campo. As liberações deverão ocorrer, de preferência, ao amanhecer e/ou após as 17 horas, períodos do dia em que são registradas temperaturas mais amenas, embora ainda não se conheçam exatamente as exigências climáticas do parasitóide nas condições de campo do Brasil. Atendidos esses requisitos e as exigências térmicas do inseto, de 30 a 50 folhas, contendo pupas desse parasitóide, provenientes das câmaras de emergência, devem ser acondicionadas em recipientes plásticos (câmaras de liberação), pendurados no interior da copa das plantas, em uma relação de quatro recipientes por talhão de 25 hectares. Essas quantidades poderão ser alteradas em razão da disponibilidade do parasitóide no sistema de criação, bem como das condições favoráveis à liberação descritas anteriormente. As câmaras de liberação poderão ser confeccionadas de tubos plásticos de PVC (6 a 8 cm de diâmetro por 15 cm de comprimento) com uma das extremidades vedadas e a outra protegida por um tecido de voil fino, que impeça a entrada de predadores e permita a saída dos parasitóides. No fundo dessas câmaras, são introduzidos chumaços de papel-toalha, ou equivalentes, umedecidos, a fim de promover umidade elevada em seu interior, capaz de manter a turgescência foliar e, conseqüentemente, evitar a dessecação das pupas de A. citricola. O esquema de produção do parasitóide sobre P. citrella (Figura 4) baseiase nos dados de desenvolvimento de ambas as espécies nas diferentes temperaturas (Tabela 5) e na sua capacidade de parasitismo (Tabela 6). A sincronização da criação, envolvendo planta, parasitóide e praga, é baseada nas exigências térmicas de ambas as espécies, ou seja, de 197,7 graus dias para A. citricola e de 243,3 graus dias para P. citrella. Tabela 5 - Duração média (dias) e viabilidade (%) do ciclo total (ovo-adulto) de Phyllocnistis citrella e Ageniaspis citricola criados em diferentes temperaturas (UR: 80±10% e fotofase: 14h) (CHAGAS et al., 2002). P. citrella A. citricola D uração (dias) (% ) Duração (dias) (% ) 95,7a 97,2a 32,7±0,23a 46,2±0,02a 88,6ab 98,0a 26,9±0,11b 31,5±0,05b 85,7ab 96,1a 20,4±0,08c 23,9±0,04c 86,4ab 94,4a 16,5±0,10d 17,5±0,06d 91,4ab 96,3a 14,2±0,13e 13,8±0,07e 84,3ab 37,0b 12,1±0,07f 12,1±0,08e 67,2a 11,5±0,10g Médias seguidas da mesma letra, na vertical, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Tem po ( o C) 18 20 22 25 28 30 32 18 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 3 - Ageniaspis citricola. A. adulto; B. pupas. Figura 4 - Esquema da produção de Phyllocnistis citrella e Ageniaspis citricola. 19 Controle Biológico das Pragas de Citros Tabela 6 - Números médios de descendentes, de hospedeiros parasitados e porcentagem de parasitismo de ovos e lagartas de Phyllocnistis citrella por Ageniaspis citricola acasaladas ou não (adaptado de EDWARDS & HOY, 1998). Parâmetros Descendência produzida P. citrella parasitado (no de ovos e lagartas) Parasitismo (%) Fêmea acasalada 141,8 ± 38,9 a 51,4 ± 13,8 a 73,7 ± 11,2 a Fêmea não acasalada 84,2 ± 19,6 b 54,0 ± 12,3 a 68,2 ± 8,8 a As liberações do inimigo natural em pomares de citros do Estado de São Paulo iniciaram-se em outubro de 1998, nos municípios de Descalvado e Nova Granada. O programa de controle biológico do minador-dos-citros, dentre outros aspectos, contempla a produção e liberação de A. citricola, visando a seu estabelecimento nas áreas de citros desse Estado, estimadas em aproximadamente 800.000 ha, bem como pomares dos Estados do Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, Piauí e Rio Grande do Norte. Até abril de 2002, foram liberados cerca de 400.000 parasitóides em diferentes propriedades, distribuídas em 75 municípios representativos da citricultura paulista (Figura 5). A recuperação do parasitóide em pomares do Estado de São Paulo deu-se a partir de três meses da sua liberação em algumas localidades. Observou-se, em levantamento realizado em 2002, a adaptação de A. citricola em 100% das regiões citrícolas do Estado (Norte, Noroeste, Centro e Sul) e, nos 18.500 ha amostrados, ocorreu maior parasitismo nas regiões mais úmidas, embora mesmo em áreas distantes do ponto de liberação ele já esteja estabelecido. A sua rusticidade tem sido demonstrada, pois foi registrada a sua ocorrência com alto parasitismo (76%), mesmo em áreas que receberam várias aplicações de inseticidas. Espera-se que, a médio e longo prazos, o parasitóide contribua para a redução do minador e, conseqüentemente, do cancro-cítrico no Brasil. 1.2. Predadores Chrysoperla rufilabius, nos EUA (BROWNING & PEÑA, 1995), e C. externa, no Brasil (RIBEIRO, 2002), têm sido referidos como predadores do minador-dos-citros, como também Orius, aranhas (Clubionidae), vespas e formigas, sem, no entanto, até o momento, terem sido utilizados na prática. 2. Moscas-das-frutas Dentre os diversos agentes de controle biológico das moscas-das-frutas, 20 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 5 - Locais de liberação de Ageniaspis citricola no Estado de São Paulo. O valor entre parênteses refere-se ao número de liberações por local. Figura 6 - Diachasmimorpha longicaudata, parasitóide das moscas-das-frutas. 21 Controle Biológico das Pragas de Citros incluindo-se vírus, fungos, nematóides, predadores e parasitóides, são esses últimos os referidos como mais efetivos (CARVALHO et al., 2000), especialmente os representantes da família Braconidae. Apesar de existirem registros de parasitismo por inimigos naturais nativos, variáveis de 1,20% a 30,38%, a sua eficiência em termos práticos não é satisfatória (NASCIMENTO & CARVALHO, 2000). Segundo CANAL & ZUCCHI (2000), raramente este parasitismo ultrapassa 50%. Aparentemente, neste caso, justifica-se a utilização do controle biológico aplicado com liberações inundativas. É o que se pretende fazer no Brasil com o parasitóide Diachasmimorpha longicaudata (Figura 6), que tem sido largamente utilizado no mundo e que foi introduzido no Brasil em setembro de 1994 pela EMBRAPA Mandioca e Fruticultura (NASCIMENTO et al., 1996). Esse parasitóide, originário do sudoeste da Ásia, foi introduzido no Havaí para controlar as moscas-das-frutas. Na década de 70, foi introduzido na Flórida para o controle da mosca-do-caribe, Anastrepha suspensa, onde se estabeleceu rapidamente. Atualmente, é produzida massalmente e liberada no Havaí, Flórida e Sul do México. Em Tapachula (Programa Moscamed) é produzido meio milhão de parasitóides por semana. Em alguns locais, foram liberados 200 mil parasitóides semanalmente. Nesses locais (Vale do Mazapa, México), conseguiu-se uma elevação do nível de parasitismo de Anastrepha ludens de 20 para 60% após tais liberações (CARVALHO et al., 2000). O parasitismo em moscas-das-frutas depende do tamanho do fruto. A larva da mosca, ao se alimentar, produz vibrações identificadas pelo parasitóide através de suas antenas. A seguir, a fêmea do parasitóide introduz o ovipositor através da casca e realiza a postura no interior da larva. Os ovos fecundados darão machos e fêmeas e, se não houver fecundação, haverá reprodução por partenogênese arrenótoca (apenas machos). O desenvolvimento do parasitóide será no interior da larva, emergindo posteriormente o parasitóide do pupário da mosca. 2.1. Multiplicação do parasitóide D. longicaudata O parasitóide é multiplicado num hospedeiro alternativo, ou seja, larvas do 3 instar de Ceratitis capitata, a mosca-do-mediterrâneo, obtidas em dieta artificial (CARVALHO et al., 1998) (Tabelas 7 e 8). o 22 Controle Biológico das Pragas de Citros Tabela 7 - Componentes da dieta artificial para larvas de Ceratitis capitata (CARVALHO et al., 1998). Tabela 8 - Componentes da dieta artificial para adultos de Ceratitis capitata (CARVALHO et al., 1998). Componentes Componentes Quantidade Quantidade 120 ml Água Água destilada ou deionizada 1000 Açúcar mascavo 45,0ml g 0,8 Ágar Farelo de soja 326,0 Açúcar comum 68,0gg Os(vitamina parasitóides são multiplicados, adotando-se uma metodologia 0,05 Ácidode ascórbico C) 326,0 Farelo trigo Levedura de cerveja 9,0 gg os adultos alimentados com 0,005 Nipaginbastante simples (CARVALHO et al., 1998), sendo83,0 Açúcar Sustagen 1,0 ggg carboidratos e vitamina C (Tabela 9). 120 ml Mel de abelha 86,0 g Levedura de cerveja Hidrolisado de proteína 45,0 ml 6,5 gml Metildeparahidroxibenzoato (nipagin) Mel abelha 15,0 Tabela 9 - Dieta artificial para adultos de Diachasmimorpha longicaudata (dieta 2,5 g Benzoato de sódio 7,0 g Ácido cítrico utilizada em Gainesville - Flórida) (CARVALHO et al., 1998). A liberação dos parasitóides deve ser feita a partir de dois a três dias após a emergência, pois, com nove dias, atinge o máximo de sua capacidade de parasitismo (Figura 7) (CARVALHO et al., 1998). O Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP, em Piracicaba, tem capacidade para produzir de 45 a 55 milhões de parasitóides 23 Controle Biológico das Pragas de Citros por mês (WALDER, 2002). 2.2. Parasitóides nativos Dentre os parasitóides nativos, Doryctobracon areolatus tem sido o mais abundante (CANAL, 1996), parasitando maior número de espécies de moscasdas-frutas. CANAL & ZUCCHI (1969) listaram a ocorrência de treze espécies de braconídeos parasitóides de moscas-das-frutas no Brasil. Outras espécies de braconídeos são Utetes anastrephae e Opius sp., além de Aganaspis pelleranoi (família Figitidae), que podem ser importantes em determinadas regiões (GUIMARÃES et al., 2000) (Figura 8). Em geral, o parasitismo de moscas-das-frutas é afetado pelo fruto hospedeiro, pela mosca hospedeira, pelo local e época da coleta. Segundo CANAL & ZUCCHI (2000), o fruto talvez seja o principal fator que influencie o parasitismo de larvas frugívoras. A textura do tecido e o odor do fruto são os principais fatores que exercem atração sobre os parasitóides. As larvas de moscas são encontradas mais freqüentemente em frutos pequenos, de pericarpo fino e mesocarpo raso. Assim, espécies como Opius bellus e U. anastrephae só apresentaram altos parasitismos nestes tipos de frutos. Por outro lado, D. areolatus tem o ovipositor longo, o que permite o parasitismo em frutos maiores. Em geral, o controle biológico das moscas-das-frutas é bastante dificultado pela existência de hospedeiros silvestres e pelo nível de danos muito baixo exigido para a fruticultura. Para produtos de exportação, esta tolerância é zero e, em muitos casos, por ser considerada praga quarentenária, a exportação é embargada pela simples presença de mosca na região de produção ou até mesmo no país exportador. Entretanto, o que tem sido realizado nos EUA/México, é a associação de controle biológico e moscas estéreis com bastante sucesso (WALDER, 2002). No Brasil, após a introdução e adaptação de D. longicaudata, caminha-se para a produção massal do parasitóide em “fábrica” a ser instalada em Juazeiro-Bahia, com o suporte financeiro internacional e do governo brasileiro. São poucos os predadores referidos, exceto aranhas, formigas e pássaros (CARVALHO et al., 2000). Segundo estes autores, o uso de fungos, bactérias, vírus e nematóides é ainda incipiente e sem perspectivas de utilização para o controle das diferentes espécies de moscas-das-frutas; estes grupos, sejam predadores ou patógenos, atuariam preferencialmente sobre as pupas no solo. Estudos deveriam ser concentrados para a produção massal de D. areolatus, principal agente nativo de controle biológico das moscas-das-frutas. Neste caso, a sua criação esbarra na produção em grande escala das espécies de Anastrepha em dietas artificiais. 24 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 7 - Ritmo de parasitismo de Diachasmimorpha longicaudata (CARVALHO et al., 1998). Figura 8 - Parasitóides de moscas-das-frutas. A. Doryctobracon areolatus; B. Aganaspis pelleranoi. 25 Controle Biológico das Pragas de Citros 3. Bicho-furão - Ecdytolopha aurantiana O parasitóide desta praga, que tem mais chamado a atenção, é o braconídeo Hymenochaonia sp. (Figura 9). Ele pode aparecer em altas populações em algumas épocas do ano, atingindo parasitismos de 56% (GARCIA, 1998), podendo, portanto, ter importância na dinâmica populacional da praga. Como se desconhece a sua biologia, supondo-se que parasite lagartas de 3o instar, emergindo na pupa, deve-se optar, para o controle do bicho-furão, por produtos seletivos, preservando o parasitóide no ecossistema (controle biológico natural). A Dominica, um outro inseto, do gênero Bassus (Hymenoptera: Braconidae), é referido parasitando E. aurantiana (WHITE, 1993). GARCIA (1998) conseguiu parasitismos de ovos de E. aurantiana por Trichogramma pretiosum. Em infestações artificiais de campo, tais parasitismos chegaram a 81% para ovos recém-colocados e a 100% para aqueles com 24h de idade. O referido autor verificou que o parasitismo vertical chega a quatro metros. A dispersão horizontal do parasitóide é de 11m com uma área de dispersão de 140,45m2, indicando serem necessários 71 pontos de liberação do parasitóide por ha. Como para outras frutíferas, estima-se que, para o controle do bicho-furão, devam ser feitas liberações inundativas com números altos de parasitóides (em torno de 1 milhão de indivíduos por ha). Estudos nesta direção vêm sendo conduzidos no Departamentto de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ/USP. O conhecimento da bioecologia de Hymenochaonia e o desenvolvimento de técnicas de criação da espécie em laboratório poderão propiciar condições para liberações inundativas deste parasitóide, visando ao controle de E. aurantiana. 4. Ácaros Embora existam coccinelídeos e crisopídeos ou mesmo patógenos (Tabela 4) que atacam os ácaros, os mais importantes inimigos naturais dos ácarospraga são os ácaros fitoseídeos. Eles são mais ágeis do que os ácaros-praga e podem também alimentar-se de pólen de plantas invasoras. Vivem nos ramos, frutos e folhas do interior das plantas cítricas e são globosos e brilhantes. O ácaro Iphiseiodes zuluagai, arredondado, de coloração vermelha e por este motivo conhecido com ácaro-maçã (Figura 10), é o mais comumente encontrado em São Paulo, predando os ácaros Brevipalpus phoenicis e Phyllocoptruta oleivora. Cada fêmea coloca cerca de 40 ovos, sendo o seu ciclo bastante rápido, ou seja, 6 dias, em condições ótimas, sendo sua 26 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 9 - Hymenochaonia sp., parasitóide do bicho-furão Ecdytolopha aurantiana. Figura 10 - Predadores de ácaros: A. Iphiseiodes zuluagai; B. Euseius concordis. 27 Controle Biológico das Pragas de Citros longevidade de 35 dias. Outros predadores importantes são Euseius citrifolius e E. concordis (Figura 10), conhecidos como ácaros-pêra por apresentarem formato desse fruto e coloração amarelo-clara. Têm cerca de 0,5 mm e seu ciclo é de 5 dias, com longevidade de 34 dias (GUEDES, 2001). 5. Cochonilhas Das diversas espécies de cochonilhas, incluindo as com carapaça e sem carapaça, ALVES et al. (2001b) citaram diversos patógenos que podem atacálas (Tabela 4). Para Orthezia praelonga, vêm sendo recomendados Colletotrichum gloesporioides, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae em pulverizações a cada dois meses. Segundo SANTANA et al. (1994), tais fungos ocorrem mais intensamente em janeiro, sendo observados sobre ninfas de 2o instar (fêmeas) e sobre adultos. Dentre os predadores, os coccinelídeos são importantes inimigos naturais de cochonilhas-de-carapaça em citros, sendo registrados no Estado de São Paulo sobre S. articulatus,os predadores Chrysoperla spp., Pentilea egena, Coccidophilus cítricola, Azya luteipes, Cycloneda sanguinea e Scymnus spp. (Figura 11). PRATES et al. (1998) relataram que 80% das formas imaturas de S. articulatus foram predadas por coccinelídeos e crisopídeos, ocorrendo o restante da predação sobre adultos (20%). Segundo XAVIER et al. (1997), cada indivíduo de Chrysoperla chega a predar 45 cochonilhas (S. articulatus) enquanto Pentilea egena preda 21 machos e 44 fêmeas desta espécie. Os crisopídeos são generalistas. Os principais predadores das cochonilhas-de-carapaça são as joaninhas, principalmente C. citricola (cerca de 1 mm) e P. egena (2 mm) também preta, arredondada e cuja larva é cinzenta e recoberta de fios de cera brancos. O. praelonga é bastante predada por A. luteipes de coloração cinza, com duas manchas pretas no dorso e com cerca de 4 mm de diâmetro; suas larvas também são recobertas por fios de cera branca sobre o corpo (GRAVENA et al., 1995). Dente os parasitóides, que são mais comumente encontrados em julho, novembro e janeiro, os mais freqüentes são Aphytis spp. e Encarsia spp. (Figura 12), embora em níveis baixos. Os orifícios de saída são bastante visíveis no corpo da cochonilha, sendo Encarsia mais freqüente nas cochonilhas-escamavírgula, escama-farinha e cabeça-de-prego. 28 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 11 - Predadores: A. Chrysoperla externa; B. Pentilea egena; C. Coccidophilus citricola; D. Azya luteipes; E. Cycloneda sanguinea; F. Hippodamia convergens. Figura 12 - Parasitóides de Selenaspidus articulatus. A. Aphytis sp.; B. Encarsia sp. 29 Controle Biológico das Pragas de Citros 6. Cigarrinhas vetoras da CVC Os ovos de cigarrinhas são parasitados por vespinhas da família Mymaridae (Gonatocerus spp.) (Figura 13) (PARRA et al., 2002) e Trichogrammatidae (Uscanoidea sp. e Zagella sp.) (GRAVENA et al., 1997). Tal parasitismo é mais freqüente no final do verão e outono, podendo contribuir para a redução populacional dos vetores. Segundo S. Gravena (comunicação pessoal), aranhas como Latrodectus sp. (tecelã) e Frigga quintensis (saltadoras) são eficientes predadores de ninfas e adultos de cigarrinhas. Embora em baixa frequência, pode ocorrer infecção natural dos vetores por fungos, como Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Zoophthora sp. (S.B. Alves, comunicação pessoal). 7. Curculionídeos-da-raiz Posturas de Naupactus cervinus e N. versatilis, colocadas próximas à inserção do pedúnculo entre o cálice e a casca do fruto, foram parasitadas por microimenópteros do gênero Fidiobia. São espécies cosmopolitas e que se desenvolvem em posturas de curculionídeos e crisomelídeos. A espécie coletada sobre ovos de N. cervinus em Itapetininga, SP, é Fidiobia citri, pela primeira vez referida neste hospedeiro. A espécie encontrada sobre N. versatilis é nova para a ciência (GUEDES et al., 2001). Além desses parasitóides de ovos, foram encontrados, no mesmo local, uma espécie de Carabidae, Notiobia chalcites, predando larvas das duas espécies de curculionídeos-das-raízes, e nematóides da família Steinernematidae, parasitando larvas e pupas de Naupactus spp. (GUEDES, 2002, inf. pessoal). 8. Pulgões Os pulgões Aphis spiraecola e Toxoptera citricidus apresentam diversos inimigos naturais, incluindo parasitóides, predadores e patógenos. Entre os predadores, destacam-se os sirfídeos (Diptera: Syrphidae), o bicho-lixeiro (Chrysoperla spp.) (Neuroptera: Chrysopidae) e joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae), podendo ser citadas Cycloneda sanguinea e Hippodamia convergens (Figura 11). Existem microimenópteros que mumificam os pulgões e pertencem às famílias Aphidiidae e Aphelinidae, como Aphidius lysiphebus (Figura 14). Alguns patógenos são também referidos (item Controle Biológico Natural - Conservação). 30 Controle Biológico das Pragas de Citros Figura 13 - Gonatocerus sp., parasitóide de ovos de Acrogonia sp. Figura 14 - Parasitóide de pulgões, Lysiphlebus sp. A. Adulto parasitando; B. Múmias resultantes do parasitismo. 31 Controle Biológico das Pragas de Citros 9. Coleobrocas-dos-citros Não há registros de parasitóides ou predadores eficientes sobre este grupo. A utilização de Metarhizium anisopliae é recomendada por MACHADO (1998) (Tabela 4). Formigas podem atacar as larvas das coleobrocas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A tendência atual de os mercados internacionais exigirem dos países exportadores de frutas frescas a ausência de resíduos tóxicos e que elas sejam provenientes de sistemas de Produção Integrada, tem obrigado estes países a substituírem, a curto e médio prazos, produtos químicos por outras alternativas para o controle das principais pragas. Dentro desta visão, para qualquer cultura nesta condição, o Controle Biológico ocupa posição de destaque como parte de programas de Manejo de Pragas. Devido ao grande número de pragas em Citrus, muitas vezes, considerase inviável a utilização de Controle Biológico, dada a especificidade deste método. Entretanto, conforme relatado no início deste capítulo, existem procedimentos básicos em Controle Biológico, conservando o que já existe (Controle Biológico Natural), importando inimigos naturais e liberando pequenas quantidades de parasitóides ou predadores (Controle Biológico Clássico), para que eles se adaptem e dêem resultados ao longo do tempo, através das liberações inoculativas ou, ainda, liberando grandes quantidades de inimigos naturais (Controle Biológico Aplicado) para a obtenção de resultados imediatos. A conservação dos parasitóides, predadores e patógenos é sempre muito importante e deve ser observada para todas as pragas de Citrus através da aplicação de produtos seletivos. O Controle Biológico Clássico, através da importação de Ageniaspis citricola para o controle de Phyllocnistis citrella, é um caso recente de sucesso na citricultura nacional. Apesar de ser o primeiro caso de sucesso na cultura, outros casos poderão surgir desde que se utilizem cada vez mais produtos menos agressivos ao ambiente. A volta ou ressurgimento do Controle Biológico Clássico é uma tendência mundial, pois existe forte pressão mundial contra o uso abusivo e indiscriminado de produtos agressivos ao homem e animais e, conseqüentemente, ao ambiente. Os estudos sobre técnicas de criação de parasitóides e predadores vêm sofrendo grandes avanços no Brasil. Com este desenvolvimento, muitos parasitóides e predadores serão multiplicados em laboratório e liberados de forma inundativa. Há o caso recente de Diachasmimorpha longicaudata para 32 Controle Biológico das Pragas de Citros controle das moscas-das-frutas que vem sendo liberada em vários pontos do País. O aperfeiçoamento de técnicas de criação de outros parasitóides, como Doryctobracon areolatus, parasitóide nativo mais abundante das moscas-dasfrutas, poderá facilitar tais liberações massais. Outros casos já estudados para outras culturas poderão ser aproveitados em citros, como Trichogramma spp., parasitóide de ovos de várias pragas da Ordem Lepidóptera. Isto não somente se aplica para condições de campo, mas também para casas de vegetação. Os predadores começam a ser melhor estudados, existindo Centros, como a UNESP-Jaboticabal, que já produzem crisopídeos e que poderão ser utilizados para controle de pragas de citros; por outro lado, para várias espécies de coccinelídeos e ácaros fitoseídeos, há necessidade de maiores estudos para sua produção em grande escala. Embora não seja o principal objetivo do presente trabalho, os patógenos em citros começam a ser estudados de forma detalhada por pesquisadores da ESALQ e da Embrapa e poderão ser aproveitados de forma mais racional, além da preservação da sua ocorrência natural. De qualquer forma, é importante que sejam selecionados parasitóides, predadores e patógenos com potencial para as diferentes pragas e “trabalhados” de forma adequada antes de serem oferecidos ao agricultor como solução para um determinado problema, pois um produto que não seja devidamente estudado antes de ser repassado, poderá cair no descrédito e gerar desconfiança numa alternativa tão promissora num país com biodiversidade tão ampla e mal explorada como o Brasil. AGRADECIMENTOS Aos Profs. Dr. R.A. Zucchi, Dr. J.D. Vendramim do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ/USP, ao Eng. Agr. Diogo Rodrigues Carvalho, ao Eng. Agr. Paulo E.B. Paiva e ao Eng. Agr. Jerson Carús Guedes, da UFSM-RS, pela leitura crítica do texto. Ao Biólogo Heraldo Negri de Oliveira, pela parte fotográfica. BIBLIOGRAFIA CITADA ALVES, S.B.; R.B. LOPES; M.A. TAMAI; A. MOINO JR.; L.F.A. ALVES, 2001a. 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