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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CIÊNCIA E CULTURA Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Endereço: POSGRAD - Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto 14783-226 – Barretos – SP – Brasil [email protected] www.feb.br/revista/revista.htm Publicação Semestral / Semi-annual publication Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS Reitor: Prof. Dr. Álvaro Fernandez Gomes Pró-Reitor de Graduação: Profa. Dra. Luiza Maria Pierini Machado Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio Superintendente de Administração e Finanças: Prof. Ms. Ênio G. Porto Luiz Carlos Diniz Buch - Presidente Rogério Ferreira da Silva - Vice Presidente Orlando de Paula Filho - Tesoureiro Paulo Roberto Teixeira Júnior- Secretário Editor: Editores Adjuntos: Ezisto Hélio Fernandes Césari - Conselheiro Ronaldo Fenelon Santos Filho - Conselheiro Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente Roberto Arutim - Suplente Prof. Dr. Sebastião Hetem (Unesp/Araçatuba e UNIFEB) Prof. Dr. João Antonio Galbiatti (Unesp/Jaboticabal) Prof. Dr. Raphael Carlos Comelli Lia (Unesp/Araraquara e UNIFEB) Profª. Dra. Regina Helena Porto Francisco (USP/São Carlos e UNIFEB) Prof. Dr. Victor Haber Perez (UNIFEB) Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio (UNIFEB) Adriana Galvão Moura (Direito – FEB) Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB) Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos) Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto) Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB) Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França) Clovis Sansigolo (INPE) Alfredo Argus (Serviço Social – FEB) Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB) Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB) Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto) Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG) David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava) André Del Negri (Direito – UNIUBE) David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB) Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB) Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna) Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara) Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara) Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa) Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU) Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB) Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara) Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos) Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU) Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP) Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP) Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Durval Dourado Neto (Ciências Agrárias - USP) Carlos José dos Santos Pellegrino (Odontologia – FEB) Édson Alves Campos (Odontologia – FEB) Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado) Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP) Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB) Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná) v. 2, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB) Eleny Balducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP) Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos) Lizeti Toledo de Oliveira Ramalho (Odontologia – UNESP/Araraquara) Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB) Lorival Larini (Farmácia – FEB) Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB) Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal) Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG) Luiz Antonio Hungria Cecci (Serviço Social – FEB) Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto) Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB) Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB) Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB) Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP) Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB) Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB) Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP) Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB) Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB) Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara) Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP) Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos) Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga) Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais) Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ) Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo) Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB) Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB) Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba) Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará) Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB) Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB) Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos) Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB) Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP) Jeosadaque José de Sene (Química – FEB) Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara) João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos) João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB) João Marino Júnior (Administração – FEB) Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba) Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS) Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB) José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca) José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco) José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis) Marlei Aparecida Seccani Galassi (Odontologia – FEB) José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba) José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca) Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB) Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB) Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB) Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB) Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP) Odila Florêncio (Química – UFSCAR) Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ) Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR) Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Química - FEQ/UNICAMP) Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU) Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB) CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB) Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB) Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP) Patrícia Nassar (Química – FEB) Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE) Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos) Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro) Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras) Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos) Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB) Paulo José Freire Teotônio (Direito – FEB) Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG) Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara) Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe) Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos) Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto) Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB) Rael Vidal (Biologia – FEB) Sebastião Hetem (Odontologia – FEB) Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP) Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB) Sérgio do Nascimento Kronka (Estatística - UNOESTE) Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas) Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE) Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB) Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL) Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL) Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Reginaldo da Silva (Direito – FEB) Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB) Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB) Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu) Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sonia Regina Meira (Educação - FAEX) Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná) Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP) Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT) Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB) Victor Haber Perez (Engenharia de Alimentos – FEB) Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB) v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB A pesquisa em uma Instituição Universitária precisa ser vista e entendida como um investimento que proporciona retorno altamente compensador sob a égide de sua divulgação. Uma publicação em revista de abrangência nacional leva imediatamente o nome da Instituição a todos os recônditos da nação. Uma publicação em revista Internacional, geralmente bastante exigente quanto ao teor, a qualidade e a contribuição que a mesma propicia, divulga a Instituição em todos os locais onde é distribuída. Exemplo bastante simples e notório é proporcionado pela “Ciência e Cultura - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB” - que é enviada para todos os autores de artigos em cada número, para todos os professores cadastrados como membros da Comissão Editorial e para um grande número de bibliotecas do país. A atividade de pesquisa nesta Instituição Universitária passa a ter um maior significado ao ver-se as Faculdades Unificadas da FEB alcançarem o status de Centro Universitário - UNIFEB - o que merece congratulação. Sob essa nova denominação, a responsabilidade da Instituição não somente aumenta como se agiganta e as atividades de pesquisa passam a constituir um pilar que tem a absoluta necessidade de estar solidamente implantado. Segundo Flávio Fava de Moraes (Novo Crosp, n. 118, p.7, 2007), uma Faculdade deve gerar conhecimento através da pesquisa e uma Faculdade de vanguarda se conceitua mais pelas pesquisas do que pelo ensino, porque a atividade científica enriquece o ensino. A necessidade de apresentação dos Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC) por todos os concluintes de cursos, a autorização para funcionamento do Curso de Mestrado Profissionalizante na área de Periodontia e Implantodontia pela CAPES, a consolidação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC e a ampliação do número de docentes da UNIFEB que vêm realizando atividades de pesquisa isoladamente ou em grupos, fazem prever o aumento das atividades de pesquisa na Instituição para o que a Revista Ciência e Cultura da UNIFEB estará apta e desejosa de realizar as publicações resultantes assim como dos trabalhos de outras Instituições, levando o nome da UNIFEB para todos os recantos do Brasil. Maio/2008 Sebastião Hetem Editor Chefe CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 SUMÁRIO Artigos Científicos Original Articles Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw Hybrids and maize varieties performance in relation to puccinia polysora underw Marcelo TICELLI1; Ivana Marino BÁRBARO1; Fernando Bergantini MIGUEL1; Aildson Pereira DUARTE2; Christina DUDIENAS2; Eduardo SAWAZAKI3; Laerte Souza BÁRBARO JÚNIOR4; João Henrique BARBERO5 ..................................................................................................................................................................................................................................11 Polimorfismo de hemoglobina e sua relação com a formação étnica brasileira Hemoglobin polimorphism and its relation to the brazilian ethinic formation Paula Juliana Antoniazzo ZAMARO1 , Claudia Regina BONINI-DOMINGOS2 .....................................................................................................................................................................................................................................21 Reação de genótipos de soja ao oídio (Erysiphe diffusa) em condições de campo, casa-de-vegetação e laboratório* Reaction of soybean genotypes to the powdery mildew (Erysiphe diffusa) under field conditions, greenhouse and laboratory. Elaine C. P. GONÇALVES1, Antonio O. DI MAURO2 , Alberto CARGNELUTTI FILHO3 ..................................................................................................................................................................................................................................33 Ocorrência do sulco palato-radicular em dentes de humanos: estudo in vitro Occurrence of palato-radicular grooves in human teeth: an in vitro study Maria Fernanda da Costa ALBARICCI1, Débora Aline Silva GOMES1, Elizangela Partata ZUZA2, Elizabeth Pimentel ROSETTI2, Benedicto Egbert Corrêa de TOLEDO2, Valdir RODRIGUES3 ....................................................................................................................................................................................................................................39 Estresse hídrico e doses de nitrogênio na cultura do trigo Water stress and nitrogen rates of the wheat culture Fabio Olivieri de NOBILE1, João Antônio GALBIATTI2, Marcio Martins FERREIRA3, Reginaldo Itiro MURAISHI4 ...................................................................................................................................................................................................................................45 A questão das ações afirmativas - a reserva de cotas para negros, à luz do princípio constitucional da igualdade The affirmative action questions – quotas reservation at the university for black peoples under the equality constitutional principle Adriana Galvão Moura Abílio 1 ..................................................................................................................................................................................................................................55 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw Hybrids and maize varieties performance in relation to puccinia polysora underw Marcelo TICELLI1; Ivana Marino BÁRBARO1; Fernando Bergantini MIGUEL1; Aildson Pereira DUARTE2; Christina DUDIENAS2 ; Eduardo SAWAZAKI3; Laerte Souza BÁRBARO JÚNIOR4; João Henrique BARBERO5 1 Pesquisador Científico da Apta Regional Alta Mogiana. Avenida Rui Barbosa, s/nº, CEP: 14770-000, Caixa Postal 35, Colina, SP. Fone/ Fax: (17) 3341-1400/1155; E-mails :[email protected]; [email protected], [email protected] 2 IAC/Apta Regional Médio Paranapanema, 19800-000. Assis, SP. E-mail: [email protected] 3 Instituto Agronômico IAC. CEP: 13001-970. Campinas, SP. 4 Acadêmico de Agronomia da FAFRAM. E-mail: [email protected] 5 Acadêmico de Agronomia do ITES. E-mail: [email protected] O aumento no número de enfermidades na cultura do milho tem sido um dos fatores limitantes para a elevação de patamares de produtividade. Dentre as principais doenças, destaca-se a ferrugem polissora como sendo a mais destrutiva entre as ferrugens. O presente trabalho objetivou avaliar a severidade do fungo Puccinia polysora Underw em cultivares comerciais de milho, cultivados em dois locais, no ano agrícola 2005/06. Foram instalados dois experimentos um envolvendo 50 híbridos simples e triplos (HST) e um outro composto por 22 híbridos duplos e variedades (HDV) nos municípios de Colina-SP e Guaíra-SP. Para avaliação da severidade da doença foi utilizada uma escala diagramática com notas variando de 1 (altamente resistente) a 9 (altamente suscetível). O delineamento adotado foi o de blocos ao acaso com 3 repetições para o ensaio HST e 4 repe- tições para HDV, sendo que cada parcela foi constituída por quatro linhas de 5,0 metros de comprimento, com espaçamento entrelinhas de 0,90 m, sendo considerada como área útil da parcela as duas linhas centrais. Pelos resultados obtidos, verificou-se que o nível de resistência entre os híbridos avaliados é variável. As maiores severidades médias dessa ferrugem foram obtidas em Colina-SP. De modo geral, o comportamento dos híbridos em relação a severidade, não coincidiram nos dois locais, sendo que, os híbridos que mais se destacaram quanto a resistência foram: o 30S40 no experimento HDV para Colina-SP e Guaíra-SP e os híbridos Impacto, DAS 2B710 e 30F90 para Colina-SP e DAS 2B710 para Guaíra-SP, no HST. Palavras-Chave: Zea mays, cultivares, doenças, resistência. The increase in the number of diseases in the culture of the corn has been one of the main factors restrictive for the elevation of yield landings. Among the main ones, she stands out the southern rust as being the most destructive among the rust. The present work objectified to evaluate the severity of the fungi Puccinia polysora Underw in the cultivars commercial of corn cultivated in two places, in the agricultural year 2005/ 06. Two rehearsals were installed one involving 50 hybrids simple and triples (HST) and another one composed by 22 hybrids double and varieties (HDV) in Colina/SP and Guaíra/SP. To evaluation of the severity of the disease a scale diagrammatic was used with notes varying of 1 (highly resistant) for 9 (highly susceptible). The experimental design was the complete randomized block, with three replications for the rehearsal HST and four replications for HDV, and the plot was constituted by four five meter long row considering as useful plot the two central rows. The rows were spaced 0,90 m. For the obtained results, it was verified that the resistance level among the hybrid ones appraised it is variable. The largest medium severities of the rust were obtained in Colina-SP. In general, the behavior of the hybrid in relation to severity, they didn’t coincide in the two places, and, the hybrid ones that more they stood out as the resistance was: the 30S40 in the HDV experiment for Colina-SP and Guaíra-SP and the hybrids Impacto, DAS 2B710 e 30F90 for Colina-SP and DAS 2B710 for Guaíra-SP, in HST experiment. Keywords: Zea mays, cultivars, diseases, resistance. Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw INTRODUÇÃO A cultura do milho (Zea mays L.), não somente no Brasil, mas em todo o mundo, é considerada de suma importância, tanto econômica quanto social. Representando cerca de 40% da safra de grãos do País, tem sua produtividade ameaçada por um grande número de doenças, dentre as quais se destaca a ferrugem polissora, causada pelo fungo Puccinia polysora Underw (ANDRADE et al., 2000). No Brasil, desde o início da década de 80, a ferrugem polissora tem adquirido um caráter epidêmico nas regiões Sudoeste de Goiás, Triângulo Mineiro e, mais recentemente, no Noroeste de São Paulo, no Leste e no Norte do Paraná e no Mato Grosso do Sul. Sob condições favoráveis e em cultivares suscetíveis, essa doença pode ocorrer severamente nas folhas, caule e bainhas foliares das espigas, causando a seca prematura das plantas e, conseqüentemente, redução acentuada no tamanho das espigas e dos grãos (CASELA et al., 2006). A severidade da ferrugem polissora é favorecida por umidade relativa alta e temperaturas em torno de 27ºC (FERNANDES E OLIVEIRA, 2006). Além disso, sua ocorrência fica limitada à altitude, com maior intensidade em altitudes abaixo de 700 m. O aumento na incidência e severidade dessa doença pode também estar associado a diversas razões, destacando-se a freqüente introdução de cultivares comerciais mais produtivas, porém suscetíveis, e os plantios de safrinha, que podem contribuir para a perpetuação do patógeno e aumento do inóculo (EMBRAPA, 1997). A doença pode ser observada em qualquer estádio de desenvolvimento das plantas de milho, aparecendo inicialmente nas folhas baixeiras. Os sintomas consistem em pústulas circulares a ovais, de coloração marrom-clara em plantas jovens, distribuídas em maior parte na face superior das folhas, tornando-se marrom-escuras a medida que a planta se aproxima da fase de maturação (CASELA et al., 2002). Para locais e épocas em que predominam condições climáticas favoráveis, permitindo sempre a ocorrência da doença, a medida mais econômica e eficiente TICELLI et al. de controle é o uso de cultivares com resistência genética. Já, em locais em que as condições climáticas favoráveis ocorrem apenas em determinadas épocas, é possível escapar da doença realizando-se o cultivo nos meses em que essas condições são desfavoráveis (CASELA et al., 2002). Vários híbridos de milho com resistência a referida doença estão disponíveis no mercado, evidenciando a importância da atuação dos programas de melhoramento genético na incorporação de resistência genética (PINHO et al., 2001). Assim sendo, a avaliação do comportamento de cultivares de milho em relação á ferrugem polissora, é necessária, para o direcionamento dos programas de melhoramento que visam à obtenção de novos cultivares resistentes. Além disso, pode contribuir para a orientação da escolha e recomendação de cultivares para as mais variadas regiões do país, principalmente quando existe a possibilidade de escape quando realizado o cultivo nos meses em que as condições são desfavoráveis ao patógeno (CASELA et al., 2006). No Brasil, utilizam-se duas escalas para avaliação da ferrugem polissora, sendo uma composta por notas de 1 a 9 refletindo de forma crescente um aumento na área foliar afetada da planta (AGROCERES, 1996), e outra, a de Cobb, inicialmente proposta para avaliação da ferrugem do trigo contendo um diagrama de 5 seções de folhas envolvendo diferentes porcentagens de área foliar atacada (AMORIM, 1995). Diante da importância da cultura do milho e da doença ferrugem polissora, o presente trabalho objetivou avaliar o comportamento de cultivares de milho em relação a ferrugem polissora no Estado de São Paulo, na safra 2005/06, nos municípios de Colina, SP e Guaíra, SP. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram instalados em 27 de dezembro de 2005, em área pertencente a sede do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Mogiana (PRDTA-AM), situada em Colina, SP e em 25 de novembro de 2005 no Cen- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB tro de Pesquisa e Apoio ao Produtor Rural (CEPAR) em Guaíra, SP. v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Na Tabela 1 constam os dados meteorológicos, altitudes e coordenadas geográficas dos locais onde os experimentos foram conduzidos. Tabela 1. Dados meteorológicos (média), altitudes e coordenadas geográficas dos locais onde os experimentos foram conduzidos. Ano Agrícola 2005/06. Foram avaliados 50 híbridos simples e triplos (HST) e 22 híbridos duplos e variedades (HDV), os quais são discriminados na Tabela 2. O delineamento experimental para HST e HDV foi em blocos ao acaso, respectivamente, com 3 e 4 repetições. As parcelas foram constituídas por quatro linhas de 5 m de comprimento, com espaçamento entrelinhas de 0,90 m, sendo consideradas somente as duas linhas centrais como parcela útil. As linhas laterais das parcelas foram tidas como bordadura. O solo em ambos os locais foi preparado de maneira convencional. A adubação das áreas foi feita com base na interpretação dos resultados das análises químicas dos solos, distribuindo-se no sulco de semeadura a quantidade de 450 e 400 kg/ha da fórmula 08-28-16 e como cobertura 78 e 66 kg/ha e 80 e 60 kg/ha de nitrogênio nos experimentos HST e HDV, respectivamente, para Colina-SP e Guaíra-SP. A semeadura dos cultivares foi feita manualmente, colocando-se duas sementes por cova. As sementes dos cultivares receberam o tratamento com inseticida Futur + Gaúcho. O desbaste foi realizado 15 a 21 dias após a semeadura, obtendo-se uma população de plantas de 55.500 plantas/ha (25 plantas/5 m linear) para o HDV e 57.500 plantas/ha (27 plantas/5 m linear) para o HST. Foi efetuada a aplicação do herbicida comercial Primestra Gold em pós-semeadura e pré-emergência de plantas daninhas e capinas manuais. Para o controle da Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw TICELLI et al. Tabela 2. Descrição dos híbridos e variedades de milho avaliados em relação a ferrugem polissora nos municípios de Colina-SP e Guaíra-SP. Ano Agrícola 2005/06. * Base genética - HD = híbrido duplo; HS = híbrido simples; HSs = híbrido simples de sintético; HT = híbrido triplo; V = variedade. 1 Reação - SI = sem informações quanto a reação de resistência a ferrugem polissora; AT = alta tolerância; T = tolerante; MT = moderadamente tolerante; S = suscetível; MS = moderadamente suscetível; MR = moderadamente resistente; R = resistente. Fonte: (CRUZ e PEREIRA FILHO, 2006). CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB lagarta do cartucho, seguiram-se as recomendações da Embrapa (2007). A avaliação da severidade da doença foi feita por ocasião do florescimento, considerando toda a área foliar afetada da planta adulta, através de escala de notas de 1 a 9, correspondendo a: 0%; 1%; 2,5%; 5%; 10%; 25%; 50%; 75% e mais de 75% da área foliar afetada (AGROCERES, 1996). Posteriormente à avaliação visual, foi atribuída uma nota média para cada parcela útil. Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A análise exploratória dos dados foi feita com o auxílio do pacote estatístico Genes (CRUZ, 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve alta severidade da ferrugem polissora, devido às condições ambientais favoráveis à doença (Tabela 1), nos dois locais onde os experimentos foram conduzidos, o que possibilitou uma apurada discriminação dos híbridos de milho quanto à reação de resistência. As notas médias para cada região variaram de 1,67 (0,84% de área foliar afetada) a 7,00 (50% de área foliar afetada) (Tabelas 3 e 4). Pela análise de variância, constataram-se diferenças significativas (P=0,01) entre os híbridos, locais e na interação híbridos x locais. Isto mostra que ocorreu variabilidade entre os 50 híbridos simples e triplos na resposta à infecção da ferrugem polissora (Tabela 3). No experimento HST conduzido em Colina-SP, foram mais resistentes à ferrugem polissora, por apresentarem menores severidades médias os híbridos: Impacto, DAS 2B710 e 30F90 com nota média 2,0 (1% de área foliar afetada), não diferindo significativamente de 19 híbridos: 30F80, DKB 466, DKB 191, AG 7010, GNZ 2004, AG 7000, 30K73, A 2555, AG 5020, BM 2202, GNZ 2005, AG 8088, AGN 20A20, NB 7233, DG 501, DAS 2C599, AG 8060, DKB 390 e DAS 8480 que mostraram notas médias de 2,67 até 4,0 (até 5% de área foliar afetada) (Tabela 3). No geral, os resultados obtidos concordam com a classificação pro- v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 posta pelas empresas (CRUZ e PEREIRA FILHO, 2006), com exceção dos híbridos BM 2202, DG 501 e DAS 8480, os quais são descritos como moderadamente suscetíveis (Tabela 2). Para a mesma região, os híbridos mais suscetíveis foram: XB 7110, 30P70 e AS1548, com nota média 7,00 (75% de área foliar afetada), sendo que os mesmos não diferiram estatisticamente pelo teste de Tukey dos híbridos: DKB 979, XB 7253, DKB 789, BRS 1010, A 010, A 015, XB 7116, BRS 1030, 30F98, Balu 761, Master, DKB 350, AS 1575, AS 1567, BRS 3003, AL Bandeirante, Somma, DKB 330, Balu 551, Garra e AS 1570, com notas médias de 5,00 a 6,33 (até 67,82% de área foliar afetada) (Tabela 3). Comparando-se esses resultados com a Tabela 2, nota-se que em geral, muitos desses híbridos foram classificados pelas empresas como altamente resistentes e/o altamente tolerantes a moderadamente resistentes, discordando dos resultados obtidos no presente trabalho. Em Guaíra-SP, mostrou-se mais resistente à ferrugem polissora o híbrido: DAS 2B710 com nota média 1,67 (Tabela 3), apesar de não diferir significativamente dos híbridos Impacto, 30F90, 30F80, DKB 466, DKB 191, AG 7010, GNZ 2004, AG 7000, 30K73, AG 5020, BM 2202, GNZ 2005, AG 8088, AGN 20A20, NB 7233, DG 501, DAS 2C599, AG 8060, AGN 31A31, DKB 979, XB 7253, DKB 789, XB 7116, 30F98 e Balu 761. Esses resultados são coincidentes com as informações disponíveis pelas empresas detentoras desses híbridos (Tabela 2). No outro extremo, como material mais suscetível está o híbrido AS 1570 que apresentou nota média 7,0 (75% de área foliar afetada) (Tabela 3), não diferindo estatisticamente de outros 8 híbridos, discordando da reação de moderada resistência proposta pela empresa (Tabela 2). O local onde ocorreu a maior severidade da ferrugem-polissora foi Colina-SP, com valor médio de nota de 4,60, e o de menor severidade foi Guaíra-SP, com valor médio de nota de 3,88 (Tabela 3). Alves e Del Ponte (2007) relatam que além da temperatura e umidade relativa elevadas, a infecção é favorecida por período de molhamento da folha de 2 a 24 horas, bem como, Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw TICELLI et al. Tabela 3. Avaliação de híbridos simples e triplos de milho quanto à severidade da ferrugem polissora, em dois locais (Colina-SP e Guaíra-SP), em condições naturais de infecção. Notas médias obtidas de três repetições. Ano Agrícola 2005/06. (1) Notas de 1 a 9 correspondendo às severidades 0; 1; 2,5; 5; 10; 25; 50; 75 e mais de 75% de área foliar afetada (AFA). Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%; (2) ** significativo a 1% pelo Teste F. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB aumento do inóculo para as semeaduras mais tardias. Com base nas informações meteorológicas (Tabela 1) obtidas nas estações experimentais nos períodos onde os experimentos foram conduzidos, presume-se que o cultivo efetuado no final do mês de dezembro de 2005, ou seja, cerca de um mês a mais quando comparado com o de Guaíra-SP e a elevada precipitação (378,73 mm) principalmente no período de emergência das plântulas podem ter favorecido a ocorrência da doença em Colina-SP. Analisando o comportamento de cada híbrido nos diferentes locais, nota-se que os resultados mostraram diferenças estatísticas pelo teste de Tukey a 5% nos híbridos: XB 7110, Balu 551, AS 1567, BRS 3003, AL Bandeirante, Somma, DKB 330, DKB 350, 30F98, Balu 761, DAS 2C599, DAS 8480, AGN 31A31, DKB 979, XB 7253, DKB 789, BRS 1010, A 010, XB 7116 e BRS 1030. Tais resultados novamente sugerem que as condições climáticas particulares de cada região, bem como, diferentes épocas de semeadura foram possíveis agentes responsáveis pela diferença estatística na severidade da doença de um mesmo híbrido quando avaliado nos dois locais. Por sua vez, os híbridos: Impacto, DAS 2B710 e 30F90 apresentaram os melhores resultados (menores severidades) nos dois locais em estudo, não diferindo estatisticamente entre si. A Tabela 4 apresenta os resultados dos 22 híbridos. Houve diferença significativa (P=0,01) entre os híbridos, locais e na interação híbridos x locais. Isto mostra que ocorreu variabilidade entre os 22 híbridos duplos e variedades na resposta à infecção da ferrugem polissora. No experimento conduzido em Colina-SP (Tabela 4), o híbrido 30S40 comportou-se como mais resistente à ferrugem polissora, apesar de não diferir estatisticamente do híbrido AG2040. No entanto, mostraram maiores severidades médias os híbridos: AL Alvorada, AL Piratininga, AG 122, AGN 2012, CD 308 e Traktor. Semelhante ao ocorrido em Colina-SP, notase que em Guaíra-SP, o mesmo híbrido se destacou como mais resistente, porém não diferindo estatisticamente dos híbridos XB8010, SHS 4080, A 4454 e Turbo. No entanto, comportou-se como mais suscetível, o híbrido CD 308 não diferindo significativamente dos híbridos: v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 AL Bandeirante, AL Alvorada, AG 122 e Traktor (Tabela 4). Resultados semelhantes com a classificação das empresas (Tabela 2) foram verificados para os híbridos 30S40, AG2040, XB8010, SHS 4080, A 4454 e Traktor. Entretanto, as elevadas severidades médias (75% de área foliar afetada) obtidas em Colina-SP para os híbridos AG 122 e AGN 2012 divergem da discriminação das empresas detentoras desses híbridos, pois os mesmos são classificados como tolerante e resistente, respectivamente (Tabela 2). Nota-se que semelhante ao ocorrido para o experimento HST, o local onde ocorreu a maior severidade da ferrugem polissora foi Colina-SP, com valor médio de nota de 5,90, e o de menor severidade foi GuaíraSP, com valor médio de nota de 3,68. A significância da interação híbridos x locais (Tabela 4), revela a não coincidência no comportamento dos híbridos duplos e variedades nos diferentes locais, existindo casos em que híbridos que foram suscetíveis (nota média 7,0) em Colina-SP, apresentaram reação de resistência em GuaíraSP (nota média 3,5). Com base nos resultados obtidos no presente trabalho quanto ao comportamento dos híbridos e considerando as condições climáticas favoráveis para a ocorrência severa da ferrugem polissora (FERNANDES e OLIVEIRA, 2006; ALVES e DEL PONTE, 2007) que foram coincidentes com os locais avaliados na safra 2005/06, permitem fazer inferências de que: principalmente os híbridos cujas severidades médias foram as mais elevadas (nota 7 - 75% de área foliar afetada) os seus cultivos devem ser evitados, e somente os híbridos que mostraram níveis aceitáveis de resistência, ou seja, com as mais baixas severidades devem ser recomendados para esses locais. Já, a opção pelos híbridos que mostraram severidades intermediárias e/ou houve mudança significativa e substancial nas notas de severidade de um local para outro, somente torna-se viável para o agricultor, caso se proceda a semeadura o mais antecipada possível. Contudo, deve ser salientada a necessidade de mais avaliações do comportamento desses híbridos por um maior número de anos e épocas para recomendações com maior chance de sucesso. Comportamento de híbridos e variedades de milho em relação a puccinia polysora underw TICELLI et al. Tabela 4. Avaliação de híbridos duplos e variedades de milho quanto à severidade da ferrugem polissora, em dois locais (Colina-SP e Guaíra-SP), em condições naturais de infecção. Notas médias obtidas de quatro repetições. Ano Agrícola 2005/06. (1) Notas de 1 a 9 correspondendo às severidades 0; 1; 2,5; 5; 10; 25; 50; 75 e mais de 75% de área foliar afetada (AFA). Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. (2) ** significativo a 1% pelo Teste F. CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O nível de resistência entre os híbridos avaliados é variável em função de sua base genética, bem como, das condições climáticas particulares de cada região; As maiores severidades médias da ferrugem polissora foram verificadas em Colina-SP; Os híbridos que se comportaram como mais resistentes a ferrugem polissora foram: Impacto, DAS 2B710, 30F90 (HST) e 30S40 (HDV) para Colina-SP e DAS 2B710 (HST) e 30S40 (HDV) para Guaíra-SP. AGROCERES. Guia agroceres de sanidade. São Paulo: Sementes Agroceres, 1996. 72p. ALVES, R.C., DEL PONTE, E.M. Ferrugem Polissora. In: Del Ponte, E.M. (Ed.) Fitopatologia.net - herbário virtual. Departamento de Fitossanidade. Agronomia, UFRGS. Disponível em: http://www.ufrgs.br/agronomia/ fitossan/herbariovirtual/ficha.php?id=101. Acesso em: 04 agosto 2007. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB AMORIM, L. Avaliação de doenças. In: BERGAMIM FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. 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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Polimorfismo de hemoglobina e sua relação com a formação étnica brasileira Hemoglobin polimorphism and its relation to the brazilian ethinic formation Paula Juliana Antoniazzo ZAMARO1 , Claudia Regina BONINI-DOMINGOS2 1 Prime Lab – Assessoria e Consultoria na Área da Saúde; Rua Tenerife, 740, Anchieta 15050-120 - São José do Rio Preto, SPTel./Fax: 3224-2762 – e-mail: [email protected] 2 Departamento de Biologia – IBILCE/UNESP – São José do Rio Preto, SP. A população brasileira caracteriza-se em geral, por apresentarem grande heterogeneidade genética, derivada da contribuição de seus grupos étnicos formadores. Essa diversidade de etnias tem proporcionado magnífico campo de pesquisas para polimorfismos genéticos, e dentre esses, o das hemoglobinas. O polimorfismo de hemoglobinas, geralmente, é formado por alterações que envolvem genes estruturais e conseqüentemente, dão as moléculas características físico-químicas diferentes denominando-se hemoglobinas variantes. A maioria é originada pela substituição de um único aminoácido, resultado de mudanças na seqüência de nucleotídeos. Mais de 900 variantes de hemoglobinas foram identificadas e algumas estão associadas a alterações hematológicas, como anemias ou policitemias; outras são assintomáticas, sendo encontradas em grandes estudos populacionais. Pela característica triíbrida de formação da população brasileira muitas dessas variantes de hemoglobinas encontram-se aqui representadas. Um passo importante para a identificação desses polimorfismos de hemoglobina na nossa população foi à inclusão do diagnóstico de hemoglobinopatias no programa nacional de triagem de neonatal, em 2001, contribuindo diretamente na prevenção destas alterações genéticas, na identificação de hemoglobinas anormais e melhor conhecimento da formação da população brasileira. The Brazilian population is characterized by a high genetic dissimilarity, derived from the contribution of its ethnic founder groups. This diversity has proporcionated magnificent field of research for genetic polymorphisms, including the hemoglobins. The hemoglobin polymorphism usually is formed by alterations that involve structural genes, and gives the molecules, called variant hemoglobins, different physical chemistry characteristhics. Most of them is originated by the substitution of a single aminoacid leading to changes in the nucleotide sequence. More than 900 variant hemoglobins were identified and some are associated with hematological alterations, as anemia or policitemia; others are asymptomatic, being found in large population studies. Because of the trihybrid formation of the Brazilian population, many of these hemoglobin variants are represented here. An important step for the identification of these hemoglobin polymorphisms in our population was the inclusion of the hemoglobinopathies diagnosis into the national program of neonatal selection in 2001, contributing directly for the prevention of these genetic alterations, in the identification of abnormal hemoglobin and better knowledge about the formation of the Brazilian population. Keywords: hemoglobin polymorphisms, variant hemoglobin, Brazilian population, genetic diversity. Palavras-chave: hemoglobinas; polimorfismos; hemoglobina variante; população brasileira; diversidade genética. Polimorfismo de hemoglobina e sua relação com a formação étnica brasileira 1. HEMOGLOBINAS HUMANAS A hemoglobina (Hb) é um tetrâmero, com peso molecular de 64.458 Daltons, formada por quatro subunidades (Figura 1). Cada subunidade é composta de duas porções: a globina, fração protéica que varia geneticamente, e o heme, grupo prostético que contém o ferro, o qual se combina com o oxigênio e confere à molécula sua capacidade de transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos e de parte do gás carbônico no sentido inverso (HONIG e ADAMS, 1986; WEATHERALL e CLEGG, 2001). O grupamento heme é essencial para a função de todas as células com atividade aeróbicas. É um complexo de ferro com protoporfirina IX e é usado como grupo prostético em várias hemoproteínas como os citocromos, as guanilato ciclases e as hemoglobinas, servindo para várias funções incluindo o transporte de oxigênio e transdução de sinais (Figura 2). O heme livre age como um pró-oxidante tóxico para a molécula de hemoglobina, e as células têm sistemas específicos para manter sua concentração menor 10-9M (FORESTI et al., 2006). A estrutura monomérica da globina, altamente conservada entre as espécies, é constituída por oito ahélices, nomeadas de A até H, separadas por pequenos segmentos em espiral (Figura 3). As hélices são anfipáticas com predominância de resíduos não polares em seu lado interno. São descritos três grupos hidrofóbicos, entre eles o que protege o grupamento heme. Substituições por aminoácidos não polares são toleradas causando pequenas mudanças na orientação da molécula, já substituições por aminoácidos polares em geral comprometem a sua estabilidade (BELLELLI et al., 2006). Embora a globina forme um único domínio globular compacto, pode ser dividida em motivos, conservados estruturalmente. Um motivo é definido como o segmento helicoidal no qual resíduos conservados ocorrem em intervalos constantes, e identificam e distinguem a molécula da globina de outras proteínas (BASHFORD et al.,1987). A fração protéica da molécula de Hb é formada ZAMARO et al. por quatro cadeias num total de 574 aminoácidos. Duas delas são constituídas por 141 aminoácidos cada e são chamadas tipo alfa. As outras duas possuem 146 aminoácidos cada e são denominadas tipo beta (HONIG e ADAMS, 1986; WEATHERALL e CLEGG, 2001). 2. ORGANIZAÇÃO DOS GENES DA GLOBINA Em geral, os genes globínicos são compactos e divididos em três exons e dois íntrons. As posições dos íntrons são conservadas em todos os genes globínicos e refletem eventos evolutivos para chegar à proteína funcional (HONIG e ADAMS, 1986). O complexo de genes globínicos alfa localiza-se na extremidade do cromossomo 16, na região 16 p 13.3 (HONIG e ADAMS, 1986). Um segmento de 26Kb de DNA contém os genes a e estende-se por um segmento de 150Kb para o grupo todo sendo, portanto, maior que 200Kb e rico nas bases GC. O complexo gênico inclui os genes a propriamente ditos, que aparecem em duplicata; um gene embrionário z 2; três pseudogenes – yz 2, ya 2 e ya1; e o gene expresso em tecidos eritrocitários na fase embrionária e fetal q1. Todos estão arranjados na seqüência 5’-3’ (MAMALAKI et al., 1990). A estrutura idêntica de dois alelos distintos da globina alfa e o alto padrão de homologia entre os loci alfa1 e alfa 2, indicam que existem mecanismos para a supressão de polimorfismos alélicos e troca de informações genéticas nesse complexo gênico (LIEBHABER et al., 1981). As regiões complementares localizam-se entre os genes ya1, a2 e a1 e são identificados por X, Y e Z. Os genes funcionais a e z apresentam 58% de homologia em seus 141 aminoácidos. Por outro lado, os genes a1 e a2, são homólogos e codificam proteínas idênticas, diferindo somente no segundo íntron, na sua região não codificadora 3’, sendo essa divergência de aproximadamente 17% (HIGGS et al., 1989). Existem cinco regiões estruturalmente hipervariáveis (HVRs – Hypervariable regions) separando os genes que fazem parte do complexo gênico alfa. Cada uma dessas regiões é composta de múltiplos CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB segmentos repetitivos de pequenas seqüências ricas em GC, com tamanho variando de 17 a 57pb, e altamente polimórficos em algumas populações, mas esses polimorfismos são neutros e não parecem apresentar conseqüência para a expressão dos genes a (RUCKNAGEL et al., 1978; LIEBHABER, 1989; HIGGS et al., 1989). Os genes do complexo beta da globina humana G A (e g g yb d e b) estão localizados no braço curto do cromossomo 11, abrangendo uma região de aproximadamente 55 Kb. Com exceção do pseudogene yb, todos os genes são ativos em algum período do desenvolvimento. A distância entre os genes gG e gA é de 3,5 Kb, entre gA e d é de 14 Kb e entre os genes d e b de 5,4 Kb (FRITSCH et al., 1980; LANGDON e KAUFMAN, 1998). Um aspecto da organização dos genes da bglobina no cromossomo 11 é que eles estão posicionados na mesma ordem em que são expressos durante o desenvolvimento. O gene e, característico do estágio embrionário, localiza-se na posição 5’ do grupamento beta, seguido pelos genes g, expressos predominantemente no período fetal do desenvolvimento e substituídos pelos genes d e b, na vida adulta. Uma região fundamental para o controle da expressão dos genes do complexo beta é a região controladora do locus (LCR), composta por cinco sítios hipersensíveis à digestão pela DNase I, identificados por HS e numerados de um a cinco (FORRESTER et al., 1986; JACKSON et al.,1996; TUAN et al., 1985). Estes sítios estão localizados entre seis a 21 Kb na posição 5’ anterior ao gene e (FORRESTER et al., 1990; TARAMELLI et al., 1986). O LCR é uma região regulatória e algumas de suas propriedades são: 1) criar uma abertura na cromatina tornando-a mais acessível aos fatores de transcrição de ação trans (LANGDON e KAUFMAN, 1998); 2) alterar a estrutura cromatínica e o padrão de replicação do DNA em sequências que se estendem por aproximadamente 200 Kb ou mais (FORRESTER et al., 1990); 3) interagir entre cada gene da globina. A LCR é exclusiva da família de genes da beta globina e regula a síntese de cadeias de acordo com o estágio do desenvolvimento humano e o tecido v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 específico (BEHRINGER et al., 1987; ENVER et al., 1990; HANSCOMBE et al., 1991; RAICH et al., 1992). 3. HEMOGLOBINAS NORMAIS E ANORMAIS Durante as fases do desenvolvimento, diferentes hemoglobinas exercem a função de transporte de gases. São tetrâmeros formados pela interação de duas cadeias polipeptídicas do tipo alfa – alfa ou zeta – com duas cadeias do tipo beta – épsilon, gama, delta ou beta. No período embrionário, são formadas as Hb Gower I (z2e2), Hb Gower II (a2e2), Hb Portland I (z2g2) e Hb Portland II (z2b2); a partir da sexta semana começa o período de síntese da Hb Fetal (a2g2), a qual representa 90% do total de Hb após a oitava semana. Por ocasião do nascimento, a Hb F, gradativamente, é substituída pelas hemoglobinas do adulto, Hb A (a2b2), majoritária, e Hb A2 (a2d2), minoritária (WEATHERALL e CLEGG, 1981; BUNN e FORGET, 1986). O perfil de hemoglobinas no adulto normal é de Hb A 96 – 98%, Hb A2 2,5 – 3,5% e Hb F 0 – 1%. Em algumas alterações hereditárias, como a persistência hereditária de hemoglobina fetal (PHHF), a Hb F permanece aumentada durante a vida adulta, caracterizando um grupo de alterações com ampla heterogeneidade genética. As alterações moleculares das PHHF são classificadas em dois grupos: as deleções gênicas, que envolvem grande parte dos genes do grupamento beta, e as mutações pontuais, geralmente, encontradas na região promotora dos genes g (STAMATOYANNOPOULOS et al., 1987). As talassemias são um grupo heterogêneo de alterações hereditárias causadas por mutações que afetam os genes reguladores e promovem um desequilíbrio no conteúdo quantitativo das globinas, que pode ser total ou parcial, e conseqüentemente uma diminuição dos componentes normais das hemoglobinas. São classificadas de acordo com a cadeia afetada, como alfa, beta, delta e delta-beta e ocorrem em alta freqüência no Mediterrâneo, África, Oriente Médio, Índia e sudoeste da Ásia. No Brasil, são mais freqüentes as do tipo alfa e beta em heterozigose (W. H. O., 1989). Polimorfismo de hemoglobina e sua relação com a formação étnica brasileira As hemoglobinas anormais apresentam fundamentalmente alterações envolvendo genes estruturais, que promovem a formação de moléculas de hemoglobinas com características bioquímicas diferentes das hemoglobinas normais e, portanto, denominadas hemoglobinas variantes. Dessa forma, as hemoglobinas variantes são classificadas como hemoglobinas anormais hereditárias (HONIG e ADAMS, 1986). A maioria das variantes estruturais de hemoglobinas é originada pela substituição de um único aminoácido, resultante de mudanças nas seqüências dos nucleotídeos. As alterações estruturais, com conseqüências nas atividades físico-químicas da molécula, dependem da extensão do processo mutacional e dos locais em que esses ocorrem. Mais de 900 variantes de hemoglobinas foram identificadas e algumas estão associadas a distúrbios hematológicos, como as anemias ou policitemias; outras são assintomáticas, sendo encontradas quando realizados grandes estudos populacionais. As hemoglobinas variantes associadas a manifestações clínicas e/ou hematológicas têm seu grau de expressão intimamente relacionado ao local e à extensão da mutação, assim, as hemoglobinas variantes podem ser classificadas com base em suas características funcionais em: hemoglobinas sem alterações fisiológicas – maioria das variantes; hemoglobinas de agregação, como Hb S e Hb C; hemoglobinas instáveis; hemoglobinas com alterações funcionais; hemoglobinas variantes com fenótipo talassêmico, como as Hb Lepore e Constant Spring (IHIC, 1996). 4. FORMAÇÃO ÉTNICA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA As populações brasileiras caracterizam-se em geral, por apresentarem grande heterogeneidade genética, derivada da contribuição dos seus grupos étnicos formadores e dos diferentes graus com que eles se intercruzaram nas várias regiões do país (SALZANO e FREIRE-MAIA, 1967). Estudos filogeográficos com brasileiros brancos revelam um padrão de reprodução direcional: a maioria das patrilinhagens (estudos filogenéticos em linhagens do cromossomo Y) é euro- ZAMARO et al. péia, enquanto a maioria das matrilinhagens (estudos filogenéticos em linhagens mitocondriais) é ameríndia ou africana (PENA, 2000). Exceto pelas invasões temporárias de franceses, no Rio de Janeiro, e de holandeses, em Pernambuco, praticamente apenas portugueses vieram para o Brasil até o início do século XIX. Os primeiros imigrantes portugueses não trouxeram suas mulheres, e registros históricos indicam que iniciaram rapidamente um processo de miscigenação com mulheres indígenas. Com a vinda dos escravos, a partir da segunda metade do século XVI, o processo de miscigenação estendeu-se às africanas. A partir da metade do século XIX, o Brasil recebeu enorme quantidade de novos imigrantes, destacando-se portugueses e italianos, seguidos de espanhóis, alemães, japoneses e sírio-libaneses (PENA, 2000). Embora muitos imigrantes tenham vindo com suas famílias, havia um excesso significativo de homens que, em geral, eram pobres e casavam-se com mulheres também pobres, o que no Brasil significava mulheres de pele escura (PENA, 2000). O processo de miscigenação também pode ser avaliado sob o ponto de vista da distribuição geográfica. Os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e a região litorânea do nordeste apresentam, de forma mais intensa, a miscigenação branco-negra. Já o interior do nordeste e o extremo norte serviram de palco para o processo de mestiçagem branco-indígena, que também se pode observar nos estados da região centro-oeste. Na região sul há visível predominância do branco, decorrente de diferentes correntes migratórias européias (SALZANO e FREIRE-MAIA, 1967). Os dados obtidos por Pena (2000), corroboram a natureza triíbrida da população brasileira, a partir de ameríndios, europeus e africanos, já defendida por autores como Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. São, por isso, nossas populações um ótimo material para uma série de estudos sobre comparações intra e interétnicas, bem como sobre os efeitos da mestiçagem (SALZANO e FREIRE-MAIA, 1967). Essa diversidade de etnias que constitui nossa população tem proporcionado magnífico campo de pes- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB quisas aos geneticistas que estudam as hemoglobinas humanas e permitem, não só identificar genes típicos de outras etnias em indivíduos de grupos aparentemente não miscigenados, como quantificar o grau de mistura presente em determinado grupo (SALZANO e FREIREMAIA, 1967; SALZANO, 1986). As mutações envolvendo a troca de um único nucleotídeo nos genes da globina ocorrem a uma razão de 10-9 e 10-8 substituições de nucleotídeos por ano (HONIG e ADAMS, 1986). O complexo gênico da beta globina possui uma região de 70 kb que contém numerosas seqüências variantes. Estes sítios variantes formam um grupamento 5’ (haplótipo b 5’) e um grupamento 3’ (haplótipo b 3’), os quais possuem grande desequilíbrio de ligação entre os sítios dentro de cada grupamento, mas não entre os dois. Estima-se que a região de 9 kb entre o grupamento 5’ e 3’ tenha uma taxa de recombinação que é de 3 a 30 vezes o normal, propondo-se que esta região seja um “ponto quente” de recombinação (SMITH et al., 1998). Os haplótipos de mutações estruturais do DNA têm sido usados nas últimas décadas para mostrar a história de diferentes populações que carregam os genes para mutações estruturais comuns da cadeia beta globínica (NAGEL e RANNEY, 1990). O grupo das Hb variantes mais freqüentes no Brasil compreende as Hb S e Hb C, mutações originárias da África, e Hb D-Los Angeles ou Punjab de origem indiana (HONIG e ADAMS, 1986; LEONELI, 2001). Outras variantes encontradas na população brasileira como as Hb Hasharon e Hb Deer Lodge de origem européia; Hb Korle-Bu e Hb K-Woolwich de origem africana e Hb E de origem asiática, evidenciam a grande diversidade étnica na sua formação (HONIG e ADAMS, 1986; SALZANO, 2000; ONDEI, 2005). 5. Distribuição e prevalência de hemoglobinopatias na região Noroeste do Estado de São Paulo As hemoglobinopatias são os distúrbios gênicos mais comuns, tornando-se um problema de saúde pública em vários países. Em estudo realizado por BoniniDomingos (1993), na região de São José do Rio Preto, com amostras de sangue, coletadas de recém-nascidos, crianças de postos de saúde e de obras assistenciais, adolescentes de escolas do ensino médio, adultos de v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 universidades, empresas e doadores de sangue, além daqueles provenientes de campanhas de vacinação com ampla variedade etária, foram encontrados 22 fenótipos diferentes. Os mais prevalentes foram Hb AS (1,56%) e beta talassemia heterozigota (0,82%), também foram encontrados fenótipos de beta talassemia homozigota, alfa talassemia, talassemia alfa/beta, interações de talassemias com hemoglobinas variantes, Hb SS, Hb AC, Hb SC e hemoglobinas de rara freqüência como Hb AI, Hb AN, Hb AD, PHHF, Hb AB2, Hb AJ, Hb Lepore, Metahemoglobinas, Hb AM Boston, Hb Constant Spring e Hb Köln. A freqüência de hemoglobinas anormais neste grupo para cada uma das populações foi de 1,96% em escolares da rede estadual, 1,32% em escolares da rede particular, 3,40% em universitários, 5,34% em postos de saúde, 15,42% em campanha de vacinação, 1,65% em empresas, 4,60% em doadores de sangue, 7,20% em recém-nascidos e 22,2% em pais de portadores, revelando a importância da escolha da população a ser analisada no estudo da freqüência de hemoglobinopatias (BONINI-DOMINGOS, 1993). Domingos et al. (2004), no período de um ano, avaliou 16 mil amostras de sangue de doadores de São José do Rio Preto, por procedimentos, que incluíram hematócrito e eletroforese em pH alcalino. Destas, 397 amostras de sangue apresentaram alteração de hemoglobinas no perfil eletroforético em pH alcalino. O valor médio dos hematócritos foi de 40%. Do total de 397 amostras avaliadas, 71,53% correspondiam ao perfil eletroforético similar a Hb S; 22,41% ao perfil semelhante à Hb C e 6,04 % com perfis variados, incluindo variantes de migração mais rápida que a Hb A em eletroforese pH alcalino, destacando-se que todas estavam em heterozigose. Dentre as amostras que apresentaram perfil eletroforético de Hb AS cujo laudo final geralmente é emitido por este achado laboratorial, destacou-se a freqüência de 58,45% de Hb AS; 36,26% de Hb AS associada à alfa talassemia e 0,35% de Hb AS com persistência hereditária de Hb F. Foram observadas ainda neste grupo Hb S-like com 2,82% de Hb AD Los Angeles associada à alfa talassemia; 0,35% de Hb A Polimorfismo de hemoglobina e sua relação com a formação étnica brasileira Korle – Bu e 1,05% de Hb A Hasharon (DOMINGOS et al., 2004). Em pesquisas realizadas nos anos de 2001 e 2002, com amostras de sangue de cordão umbilical de recém-nascidos do Hospital de Base de São José do Rio Preto, foram triadas 3048 crianças e os resultados encontrados foram de 13,19% das amostras com alterações de hemoglobinas que incluem formas talassêmicas e variantes, sendo mais freqüente, a alfa talassemia (9,48%). Estes achados foram possíveis nesta faixa etária por associação das metodologias de cromatografia com procedimentos eletroforéticos em pH alcalino, neutro e ácido. Dessa forma, foi possível identificar a presença de 80 amostras com hemoglobinas variantes, sendo 56 com Hb S, 20 com Hb C e 4 com hemoglobinas raras de migração rápida, além das talassemias alfa e beta com 10,18% (SIQUEIRA et al., 2002). A identificação de mutantes tem sua importância para o reconhecimento das conseqüências clínicas da homozigose e duplas heterozigose, freqüentes na população brasileira e, por serem úteis para estudos da relação estrutura-função, aspectos genéticos e antropológicos (SCHNEIDER et al., 1976; ZAGO, 1987; ARENDS et al., 1990; ZAGO, 2000). 6. DETECÇÃO DE HEMOGLOBINAS VARIANTES O método usual para análise de hemoglobinas é a eletroforese em pH alcalino, por ser uma técnica rápida e barata, para uso na investigação de proteínas variantes. O princípio eletroforético é aplicado na detecção de mutantes que alteram a carga da molécula de hemoglobina, mas, em algumas mutações não há alteração de carga, limitando assim, sua sensibilidade, sendo necessário o uso de testes complementares (WADA, 2002). Algumas variantes co-migram em sistemas eletroforéticos, como é o caso das Hb A2, Hb C, Hb O e Hb E e Hb S, Hb D e Hb G, dentre outras. A eletroforese em pH ácido pode identificar algumas das hemoglobinas acima citadas; entretanto, não é possível ZAMARO et al. a separação das Hb E e Hb O ou Hb D e Hb G (OU e ROGNERUD, 1993). A focalização isoelétrica é uma metodologia bastante precisa, utilizada na detecção de hemoglobinas variantes, separando macromoléculas por seu ponto isoelétrico com diferenças de unidades de pH de até 0,001, sendo um método muito utilizado em estudos populacionais (WADA, 2002). Outra forma de detecção de hemoglobinas variantes é a eletroforese de cadeias globínicas, que constitui uma pré-análise molecular, indicando qual cadeia globínica apresenta-se mutada, e esta metodologia pode ser realizada em pH alcalino ou ácido (SCHNEIDER, 1974; ALTER, 1980). A cromatografia com o uso da HPLC em sistema automatizado fornece dados quantitativos das hemoglobinas variantes, mesmo que estas estejam presentes em pequenas quantidades, tornando-se um método importante para o diagnóstico diferencial das hemoglobinas variantes. Entretanto, tal técnica, não apresenta resolução necessária para diferenciar algumas variantes, tais como Hb E e Hb Lepore da Hb A2, limitando, em alguns casos, sua utilização (OU e ROGNERUD, 1993; MOLTENI et al., 1994). A espectrometria de massa tem revolucionado as estratégias para detecção das hemoglobinas variantes por um método que determina a massa molecular da proteína, assim, quando há substituição de um aminoácido o peso molecular da hemoglobina é alterado, sendo detectado. Mesmo com grande sensibilidade, este método não consegue identificar algumas variantes de hemoglobinas instáveis (WADA, 2002). A alta resolução e sensibilidade, tem tornado a espectrometria de massa estratégia básica no rastreamento de hemoglobinas variantes em estudos populacionais. Apesar das vantagens na detecção de hemoglobina anormais e sua grande popularidade nos EUA, a espectrometria de massa, é um método de diagnóstico com custo bastante elevado, dificultando assim, sua implantação como método de rotina na detecção de hemoglobinas variantes em amplos programas populacionais e em países como o Brasil. As técnicas moleculares utilizadas para identifi- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB cação de hemoglobinas variantes têm como base a reação em cadeia da polimerase (PCR) que explora a capacidade de duplicação do DNA. Uma fita simples de DNA é usada como molde para a síntese de novas cadeias complementares sob a ação da enzima DNA polimerase, capaz de adicionar os nucleotídeos presentes na reação segundo a fita molde. A PCR-RFLP associa dois procedimentos moleculares a amplificação do DNA seguida pela digestão enzimática com enzimas selecionadas, de acordo com a mutação a ser estudada, essa técnica é baseada nos diferentes tamanhos de fragmento gerados após a digestão com as enzimas de restrição. A reação em cadeia da polimerase alelo especifica detecta diretamente a mutação responsável pelas doenças genéticas, além de ser um método não radioativo, não requer clivagem enzimática e os resultados são visualizados após uma simples migração eletroforética, podendo complementar a rotina dos métodos laboratoriais para determinar o genótipo em questão (POSTNIKOV et al., 1993). A técnica de seqüenciamento é um método enzimático de terminação da cadeia descrito por Sanger (1977), que teve um grande avanço com o desenvolvimento da reação de PCR, por ser um método rápido e eficiente de preparação de pequenas seqüências moldes de DNA. O objetivo é a determinação da seqüência de nucleotídeos de uma região da molécula de DNA de interesse. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O grande número de hemoglobinas anormais em nossa população, sem relatos na literatura e informações completas para sua identificação, torna a detecção de hemoglobinas variantes por análise molecular uma prática necessária, sendo primordial para a caracterização acurada dessas variantes. A identificação molecular também fornece aos profissionais, que atuam na área da saúde, informações precisas sobre os mutantes, auxiliando-os no aconselhamento genético para o melhor esclarecimento da população. Programas preventivos para o controle de v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 hemoglobinopatias baseados em rastreamento, aconselhamento e diagnóstico neonatal, aliado a tecnologia de ponta, tornam tais programas altamente efetivos, resultando em sensível declínio na incidência de homozigotos, como observado em alguns países (W.H.O., 1989). Pela característica triíbrida de formação da população brasileira, após a inclusão do diagnóstico de hemoglobinopatias no programa de triagem neonatal, muitas hemoglobinas variantes começaram a ser encontradas em nossa população, caracterizando este tipo de programa como um grande avanço na prevenção destas alterações genéticas, na identificação de hemoglobinas anormais e melhor conhecimento da formação da população brasileira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTER, B. P.; et al. Globin chain electrophoresis: a new approach to the determination of the Gg/Ag ratio in fetal haemoglobin and to studies of globin synthesis. Br. J. Haemat. v. 44, p. 527-532, 1980. ARENDS., T. et al. Hemoglobin variants in the northeastern region of Venezuela. Interciência. v. 15, p. 36-41, 1990. BASHFORD, D.; et al. Determinants of a protein fold. Unique features of the globin amino acid sequences. J. Mol. Biol. v. 196, p. 199-216, 1987. BEHRINGER, R. R.; et al. M. 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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Reação de genótipos de soja ao oídio (Erysiphe diffusa) em condições de campo, casa-de-vegetação e laboratório* Reaction of soybean genotypes to the powdery mildew (Erysiphe diffusa) under field conditions, greenhouse and laboratory. Elaine C. P. GONÇALVES1, Antonio O. DI MAURO2 , Alberto CARGNELUTTI FILHO3. (1) APTA Pesquisadora Científica – Alta Mogiana. Avenida Rui Barbosa, s/n. Caixa Postal 35, Colina, SP, Brasil. Departamento de Produção Vegetal - FCAV/UNESP – Jaboticabal, SP. E-mail – [email protected] (3) Departamento de Estatística – UFRGS. E-mail: [email protected] (2) O presente trabalho teve como objetivo avaliar a reação de genótipos de soja ao oídio em diferentes condições: campo, casa-de-vegetação e laboratório utilizando-se a técnica da folha destacada. Foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Campus de Jaboticabal, sendo testados genótipos pertencentes ao programa de Melhoramento do Departamento de Produção Vegetal. Em condições de campo, casa-de-vegetação e laboratório foram feitas avaliações do nível de infecção de oídio, de acordo com escala de notas de 0 a 5, sendo que após as avaliações, atribuiu-se a cada genótipo as reações de resistência correspondentes. Os resultados obtidos evidenciaram que houve correlação linear positiva e significativa entre as avaliações realizadas em casa de vegetação e as realizadas a campo. Não houve associação linear (P > 0,01) entre avaliações com a técnica da folha destacada e as avaliações em casa de vegetação e a campo. Esses resultados evidenciam que as avaliações em casa de vegetação podem ser utilizadas para substituir as avaliações a campo. Foi possível selecionar genótipos resistentes e suscetíveis dentro de uma mesma condição testada. The present work had as objectives to evaluate the reaction of soybean genotypes to the powdery mildew, in different conditions: field, greenhouse, and laboratory using it technique of the detached leaf. The studies were carried out at UNESP - Campus of Jaboticabal, being tested genotypes belonging to the Soybean Breeding Program. For the three studied conditions evaluations were performed according to 0-5 scores. After evaluations, to each genotype was attributed the corresponding reactions of resistance. The obtained results evidenced that there was positive and significant correlation of 1% probability for greenhouse and field. It did not have linear association (P 0.01) between evaluations with the technique of the detached leaf and the evaluations in greenhouse and the field. These results evidence that the evaluations in greenhouse can be used to substitute the evaluations the field. It was possible to inside select resistant and susceptible genotypes of one same tested condition. Palavras-chave: Glycine max, melhoramento genético, resistência a doenças. Word-keys: Glycine max, genetic improvement, diseases resistance. Reação de genótipos de soja ao oídio (Erysiphe diffusa) em condições de campo, casa-de-vegetação e laboratório* INTRODUÇÃO A soja é uma importante leguminosa e o Brasil destaca-se no cenário mundial como segundo maior produtor e exportador de grãos (AGRIANUAL, 2008). Dentre os fatores que limitam a obtenção de maiores produtividades na cultura, destaca-se o grande número de doenças (YORINORI, 1996). A partir da safra de 1996/97 a doença conhecida como oídio, causada pelo Erysiphe diffusa, tornou-se alvo de estudos, porquanto provocou quedas de até 40% na produção, favorecida por clima chuvoso e temperaturas amenas. O oídio da soja é facilmente reconhecido por formar colônias esbranquiçadas sobre a superfície da planta de soja. Os sintomas podem variar de pequenas circunferências brancas a clorose, podendo ainda se manifestar como manchas ferruginosas, provocando desfolha acentuada ou combinações desses sintomas, dependendo da cultivar. Sob condições de infecção severa, além do dano direto ao tecido da planta provocada pelo parasitismo, todas as partes da planta ficam recobertas pela estrutura do fungo. Esta estrutura prejudica os processos fotossintéticos, as folhas secam e caem prematuramente, dando à lavoura uma coloração variável de castanho-acinzentada à bronzeada, com aparência de soja dessecada por herbicida (SARTORATO e YORINORI, 2001; YORINORI,1997). Gonçalves (2002) verificou haver correlação significativa entre o nível de infecção que ocorre no campo e em folha destacada, e entre o que ocorre em casa de vegetação e folha destacada, indicando a possibilidade do uso desta técnica para seleção de genótipos resistentes. Considerando que o método de controle mais eficiente das doenças é o emprego de variedades resistentes, os programas de melhoramento passaram a incluir em suas avaliações a reação dos genótipos de soja ao oídio, visando selecionar materiais resistentes à doença. Nesses processos de avaliação, técnicas que possibilitam a rápida e eficiente detecção da resistência são extremamente desejáveis. Nessas condições, o presente estudo teve como objetivo comparar metodologias de avaliação da resistência da soja ao oídio, visando a possível incorporação GONÇALVES et al. da avaliação em folhas destacadas aos programas de melhoramento. MATERIAL E MÉTODOS As avaliações em campo foram efetuadas na área experimental da Fazenda de Ensino e Pesquisa, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP – Câmpus de Jaboticabal, no ano agrícola de 1998/99 e as avaliações em casa de vegetação e laboratório (folhas destacadas) foram efetuadas no Departamento de Produção Vegetal, ano agrícola de 1999. O município de Jaboticabal situa-se em latitude de 21º15’22”S, longitude de 48º18’18” W, altitude de 595 m, com precipitação média de 1451mm e temperatura anual média de 22,2ºC. Os genótipos estudados estão relacionados na Tabela 1 e fazem parte de um programa de melhoramento que vem sendo desenvolvido no Departamento de Produção Vegetal da FCAV/UNESP Campus de Jaboticabal. Para instalação e condução do experimento de campo, o preparo de solo foi convencional. As sementes dos genótipos de soja foram previamente tratadas com o fungicida carboxin, na dosagem de 75 g/100 kg de sementes. A adubação foi feita no sulco de plantio, utilizando-se 250 kg/ha da fórmula 4-20-20. Utilizou-se o espaçamento de 50cm entrelinhas, deixando-se, após o desbaste, 20 plantas por metro. Cada parcela constituiu-se de duas linhas de cinco metros de comprimento. Entre cada parcela foi semeada uma linha da cultivar IAC – Foscarim – 31, que é classificada como altamente suscetível ao oídio, segundo Yorinori (1997) que serviu como fonte de inóculo natural no experimento. O delineamento experimental empregado foi de blocos ao acaso, com três repetições. Visando o controle de percevejos foram realizadas pulverizações com endossulfan, na dosagem de 437,5 g/ha, em intervalos de 10 a 15 dias. Foram efetuadas duas avaliações do nível de infecção de oídio, sendo a primeira quando as plantas se encontravam nos estádios R2 (pleno florescimento) e CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB R3 (início da formação das vagens) e a segunda, quando as plantas se encontravam nos estádios R5 (início do enchimento das sementes) e R6 (pleno enchimento das vagens). O nível de infecção foi avaliado através de escala de notas de 0 a 5, proposta por Yorinori (1997), em três pontos ao acaso da parcela, onde, 0 = folha sem sintomas, 1 = traços a 10% da superfície foliar com sintomas, 2 = 11 a 25% da superfície foliar com sintomas, 3 = 26 a 50% da superfície foliar inoculada com sintomas, 4 = 51 – 75% da superfície foliar com sintomas, 5 = mais de 75% da superfície foliar com sintomas. A partir do nível de infecção, foram estabelecidas as reações, de acordo com a metodologia proposta por Yorinori (1997), para cada genótipo testado, sendo que notas de 0 a 2,0 correspondem à reação de resistência (R); 2,1 a 3,0 de moderada resistência (MR); 3,1 a 4,0 de suscetibilidade (S); e 4,1 a 5,0 de alta suscetibilidade (AS). Os mesmos genótipos usados em campo foram semeados em vasos, sendo incluídas neste experimento, as cultivares MGBR/46 (Conquista) e FT – Estrela, como padrão de resistência e suscetibilidade, respectivamente. Entre os vasos dos genótipos testados foram distribuídos vasos com a cultivar altamente suscetível IAC–Foscarim 31, apresentando sintomas de oídio, para que a infecção natural ocorresse de forma rápida e uniforme. O delineamento utilizado foi em blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo cada parcela, constituída por um vaso contendo cinco plantas. Foram efetuadas duas avaliações do nível de infecção do oídio, sendo a primeira quando as plantas se encontravam nos estádios R2 (pleno florescimento) e R3 (início da formação das vagens) e a segunda, quando as plantas se encontravam nos estádios R5 (início do enchimento das sementes) e R6 (pleno enchimento das vagens). Para o ensaio de laboratório, folhas utilizadas para os testes foram destacadas das plantas de soja cultivadas em casa de vegetação. Por ocasião da coleta, as plantas encontravam-se no estádio de desenvolvimento V1 (formação do primeiro nó), observando-se como horário de coleta o final da tarde, de acordo com as recomendações de Tuite (1969). Após a coleta, as plantas foram levadas ao laboratório, onde, com a planta v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 mergulhada na água foi feito o corte do pecíolo com o auxílio de tesoura na região da inserção do pecíolo, com o caulículo. Sem retirar o pecíolo da água, o mesmo foi envolvido por algodão embebido em água destilada. Assim preparada, a folha foi transferida para placa de Petri com diâmetro de 90mm, contendo uma fina camada de algodão sob um disco de papel de filtro, ambos previamente embebidos com cerca de 20 ml de água destilada. O limbo foliar foi apoiado sobre uma lâmina de vidro para evitar o contato direto da folha com a superfície úmida do papel de filtro. Para avaliação em laboratório utilizou-se a técnica descrita acima. Foram utilizados os mesmos genótipos avaliados em campo e casa de vegetação e como no ensaio de em casa de vegetação foram incluídas como padrão de resistência e suscetibilidade, as cultivares MG/ BR 46 (Conquista) e FT- Estrela, resistente e suscetível, respectivamente. As folhas foram inoculadas utilizandose o método da exposição da folha destacada ao inóculo descrito por Gonçalves (2002), no qual as folhas destacadas foram colocadas em contato com folhas de soja com sintomas de oídio por duas vezes, em dias alternados. A incubação das folhas destacadas inoculadas foi feita em câmara de germinação, na temperatura de aproximadamente 24°C, e fotoperíodo de 12 horas, durante 90 dias. Este ensaio foi instalado no delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo cada parcela representada por uma placa de Petri contendo duas folhas destacadas de soja. Para cada tratamento, inclui-se uma testemunha não inoculada. A avaliação do nível de infecção foi realizada através de uma escala de notas de 0 a 5, onde, 0 = folha sem sintomas, 1 = traços a 10% da superfície foliar inoculada com sintomas, 2 = 11 a 25% da superfície foliar inoculada com sintomas, 3 = 26 a 50% da superfície foliar inoculada com sintomas, 4 = 51 – 75% da superfície foliar inoculada com sintomas, 5 = mais de 75% da superfície foliar inoculada com sintomas. Importante salientar que essa escala difere daquela que proposta por Yorinori (1997), pois considera como área foliar, apenas a superfície da folha inoculada. Foram realizadas três avaliações, sendo a primeira 30 dias após Reação de genótipos de soja ao oídio (Erysiphe diffusa) em condições de campo, casa-de-vegetação e laboratório* a inoculação, a segunda 60 dias após inoculação e a terceira, 80 dias após a inoculação. Foram efetuadas análises de correlação entre as médias do nível de infecção de oídio obtidas em folhas destacadas e condições de campo, e entre médias obtidas em casa de vegetação e campo. Em todas análises, foram observadas as recomendações de Snedecor & Cochran (1989). RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode-se observar na Tabela 1 que os genótipos que apresentaram os melhores resultados em condições de campo foram JB 93- 54323, JB 94- 0210 e JB 95- GONÇALVES et al. 50028, sendo classificados como resistentes ao oídio, de acordo com os níveis de infecção e reações propostas por Yorinori (1997). Os genótipos JB 95- 20023 e JB 95- 20029 foram classificados como moderadamente resistentes. Por outro lado, em condições de casa de vegetação, o genótipo que apresentou maior nível de resistência foi o JB 93- 54323, sendo classificado como resistente e os genótipos JB 94- 0210 e JB 95- 50028, apresentaram, reação de moderada resistência ao oídio. Já nas avaliações de folhas destacadas, os genótipos que apresentaram os melhores resultados foram JB 9354323, JB 94- 0210, JB 95- 20023, JB 95- 20029, JB 95- 50028 e a cultivar MG/BR-46 (Conquista), sendo classificadas como moderadamente resistentes. Tabela 1. Reação dos genótipos ao oídio em folhas destacadas, casa de vegetação e campo. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB As análises de correlação, entre valores médios de nível de infecção obtidos para os genótipos em folhas destacadas, casa de vegetação e campo, apresentados na Tabela 2 evidenciaram que houve correlação linear positiva e significativa a 1% de probabilidade para casa de vegetação e campo (r = 0,83), e não houve associação linear (P>0,01) entre as avaliações com a técnica da folha destacada e as avaliações em casa de vegetação e a campo. Esses resultados evidenciam que as avaliações em casa de vegetação podem ser utilizadas para substituir as avaliações a campo. As variações que ocorreram nos níveis de infecção e reações dos genótipos nas diferentes condições testadas (campo, casa de vegetação e folha destacada), podem ser explicadas por vários motivos, dentre eles, pode-se citar: as diferentes épocas de instalação dos experimentos, sendo a época de condução dos experimentos em condições de casa de vegetação (julho a outubro), considerada mais propícia para o desenvolvimento do oídio do que a época que o ensaio foi conduzido no campo. No ensaio de folha destacada, a temperatura constante de 24o C, é também uma condição mais favorável do que as altas temperaturas que ocorrem em condições de campo, na época convencional de cultivo de soja; em condições de casa de vegetação, onde não se fez inoculação, avaliandose, portanto, a incidência natural do oídio, acredita-se ter ocorrido uma deposição constante e uniforme de inóculo por um longo período de tempo, desde a emergência até R2, quando foi efetuada a avaliação, por outro lado, na inoculação das folhas destacadas não se conseguiu tal uniformidade. Por esses fatores descritos acima, a condição de casa de vegetação foi a que apresentou os melhores resultados, podendo ser considerada a melhor das três condições testadas. v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CONCLUSÕES Foi possível selecionar genótipos resistentes, moderadamente resistentes, suscetíveis e altamente suscetíveis dentro de uma mesma condição, porém, houveram variações nas classes de reação de resistência dos genótipos quando se compararam as três condições avaliadas. Conclui-se também que as avaliações em casa de vegetação podem substituir as avaliações realizadas em campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agrianual 2008. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: Argos comunicações, p.443-473, 2008. Gonçalves, E.C.P. Genética da resistência da soja ao oídio (Microsphaera diffusa) e correlação entre duas metodologias de avaliação. Dissertação Mestrado Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias , vii, 56f.; 28cm, Jaboticabal, 2002. Sartorato, A.; Yorinori, J. T. Oídios de Leguminosas: Feijoeiro e Soja. In: Sadnik, M.J.; Rivera, M. C. Oídios. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2001. 484p. Snedecor, G.W., Cochran, W.G. Statistical methods. 8th ed. Ammes:Iowa State University Press, 1989. 503p. Tuite, J. Plant phathological methods. Mineapolis: Burgess Publishing Company, 1969. 239p. Yorinori, J.T. Cancro da haste da Soja:epidemiologia e controle. Londrina: Embrapa / CNPSo, 1996. 75p. (Circular Técnica, 14). Yorinori, J.T. Oídio da Soja. Londrina:Embrapa – Soja. Oídisoja, 1997. 13p. (Documentos, 13). CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Ocorrência do sulco palato-radicular em dentes de humanos: estudo in vitro Occurrence of palato-radicular grooves in human teeth: an in vitro study Maria Fernanda da Costa ALBARICCI1, Débora Aline Silva GOMES1, Elizangela Partata ZUZA2, Elizabeth Pimentel ROSETTI2, Benedicto Egbert Corrêa de TOLEDO2, Valdir RODRIGUES3 1 Pós-graduanda em Periodontia. Odontológicas da UNIFEB. 3 Curso de Odontologia - UNIFEB Autor responsável: Benedicto Egbert Corrêa de Toledo Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Jardim Aeroporto, 14783-226 – Barretos, SP. Fone: (17)3321-6411 Ramal 6468. 2 A prevalência, a localização e a extensão (em milímetros) dos Sulcos Palato-Radiculares (SPRs) foram estudadas em incisivos laterais e centrais superiores do acervo de dentes da Disciplina de Anatomia do Curso de Odontologia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos. Foram examinados 376 dentes, por um único examinador, utilizando-se uma lupa e um paquímetro de precisão. Os resultados mostraram uma prevalência total de 9,30%, maior nos incisivos laterais (11,05%), com localização mais proximal (62,87%) do que palatina (37.14). De todos os dentes, somente 8,57% dos SPRs atingiam o ápice radicular, com 28,57% de extensão parcial e predomínio de trajeto oblíquo (62,85%). Palavras Chave: Anomalia anatômica, sulco palatoradicular, epidemiologia The prevalence, localization and extension (in millimeters) of the palato-radicular grooves (PRGs) were evaluated in 376 maxillary lateral and central incisors of the laboratory of anatomy of the Course of Dentistry of the Unified Faculties of the Educational Foundation of Barretos. The teeth were evaluated by a single examiner, considering their presence, using a magnifying glass and a precision caliper rule. Results showed a total occurrence of 9.30% with higher prevalence in lateral incisors (11.05%), higher prevalence in proximal localization (62.87%) than in palatal aspects (37.14). Of all these teeth, only 8.57% of PRGs reached the root apex with 28.57% of partial extension and predominance in oblique trajectory (62.85%). Keywords: Anatomic anomaly, palato-radicular groove, epidemiology Ocorrência do sulco palato-radicular em dentes de humanos: estudo in vitro INTRODUÇÃO Estudos retrospectivos claramente sugerem uma estreita associação entre as anormalidades anatômicas e a perda de inserção periodontal (LEKNES et al, 1994). Assim, alguns aspectos da anatomia dos dentes, tais como sulcos e concavidades radiculares, pré-furcas, projeções cervicais do esmalte, pérolas de esmalte, defeitos na junção cemento-esmalte e sulcos palatoradiculares, são condições que podem predispor o periodonto à doença periodontal localizada. Essas anomalias anatômicas são verdadeiros nichos de retenção de placa bacteriana e cálculo (STORRER et al., 2001), que favorecem o periodonto à invasão de microrganismos e de suas toxinas (BLIEDEN, 1999). Estes fatos são importantes, à medida que a placa bacteriana é considerada como fator etiológico determinante para o desenvolvimento de doenças no periodonto (LÖE et al., 1965). O Sulco Palato-Radicular (SPR) em especial, é decorrente de uma má formação congênita que atinge os incisivos superiores, acometendo principalmente as faces palatinas e os incisivos laterais superiores (ASSAF e R0LLER, 1992; HOU e TSAI, 1993). Quando este sulco apresenta-se muito aprofundado, em alguns casos pode ocorrer comunicação entre os tecidos periodontais e pulpares, levando ao desenvolvimento da lesão periodontal-endodôntica combinada (ESTRELA et al., 1995; LARA et al., 2000; SIMON et al., 2000). Além do mais, este sulco pode estar restringido à região do cíngulo, atingir parcialmente a raiz ou se estender até o ápice dental (PÉCORA e CRUZ FILHO, 1992; ESTRELA et al., 1995; LARA et al., 2000). Por serem nichos retentivos de placa bacteriana, os dentes com presença de SPRs mostram maiores índices de sangramento gengival (gengivite) e também de periodontites, quando comparados aos dentes não sulcados (BACIC et al., 1990; HOU e TSAI, 1993; LEKNES et al, 1994). Na maioria das vezes o paciente não consegue higienizar corretamente a região, o que torna o SPR um fator local de risco para o desenvolvimento de alterações periodontais mais severas. Daí a ALBARICCI et al. importância clínica de se estudar a prevalência dos SPRs (BACIC et al., 1990). Everett e Kramer (1972) estudaram 625 dentes incisivos laterais superiores, sendo que 97,12% deles não apresentavam SPR, o que resultou numa prevalência próxima a 3%. Os sulcos que se estenderam até o ápice representavam apenas 0,5%, enquanto que, dos sulcos que não atingiram o ápice 1,92% eram rasos e 0,48 eram profundos. A presença ou ausência do SPR também foi avaliada clinicamente por Withers et al. (1981) em recrutas com idade entre 17 e 35 anos. Do total de indivíduos, 8,5% apresentavam SPR e do total de dentes examinados, a prevalência para os incisivos laterais foi de 4,4%, enquanto que para os incisivos centrais foi de apenas 0,28%. A prevalência não foi significante em relação ao sexo e raça. Resultado semelhante foi encontrado por Pécora e Cruz Filho (1992), que ao analisarem a ocorrência do SPR em 642 pacientes (idades entre 7 e 68 anos), não verificaram diferenças quando considerados o sexo e a raça. Os autores ainda afirmaram que apenas 3,9% dos pacientes apresentaram SPR nas faces palatinas (0,6%) ou bucais (0,3%) dos incisivos laterais superiores. Verificou-se também que a presença do SPR estava relacionada a bolsas periodontais em 52% dos dentes. Kogon (1986) realizou um estudo em que examinou 3.168 incisivos centrais e laterais extraídos. Os SPRs foram descritos de acordo com sua localização, origem, conformação e extensão. A ocorrência dos SPRs para ambos os incisivos foi de 5%, sendo que 54% de todos os sulcos terminavam na raiz (não atingiam o ápice dental). Essa prevalência foi confirmada posteriormente no estudo de Assaf e Roller (1992), variando de 2 a 5%. Diante da importância clínica da presença do SPR como fator local para o desenvolvimento da doença periodontal localizada, propomo-nos verificar sua prevalência in vitro observando-se os dentes pertencentes ao acervo do banco de dentes das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de Barretos sob protocolo 017/2003. Dos 6.000 dentes extraídos pertencentes ao acervo da disciplina de Anatomia do Curso de Odontologia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos, examinou-se 376 incisivos centrais e laterais superiores. Para o exame utilizou-se uma lupa e foram considerados os seguintes critérios: 1 - Presença do Sulco Palato-Radicular (SPR); 2 – Localização: faces livres ou proximais; 3- Extensão (em milímetros): medida a partir de seu ponto de origem em direção apical e classificados em: a) totais - quando atingiam o ápice radicular b) parciais - quando não atingiam o ápice radicular c) oblíquos - sem direção apical definida A extensão em milímetros foi medida com um paquímetro de precisão (Mitutoyo, Tokyo, Japão) e os v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 resultados foram expressos em porcentagens. Os dentes foram analisados por um único examinador devidamente paramentado com máscara e luva para procedimentos, sendo previamente imersos em solução desinfetante (álcool 70) por 60 segundos e secos com gaze esterilizada (MURAI et al., 1985). RESULTADOS E DISCUSSÃO A presença, localização e extensão dos Sulcos Palato-Radiculares (SPRs) encontram-se expressos na tabela 1 e podem ser observados nas figuras 1, 2 e 3. Esses resultados mostram uma prevalência total de 9.3 %, sendo maior nos incisivos laterais (11,05 %) do que nos centrais (6,91 %). A localização dos SPRs foi maior nas faces proximais, tanto nos laterais (66,66%) quanto nos centrais (54,54%), o que representa um total de 62,87 %. Quanto à sua extensão, somente 8.57% atingiam a região do ápice, com maior prevalência para os de direção oblíqua (62,85%), especialmente nos laterais (75,0%). Tabela 1 − Distribuição percentual da presença, localização e extensão do Sulco Palato Radicular. L EGENDA : ILS ICS PAL Prox - Incisivo Lateral Superior Incisivo Central Superior Face Palatina Face Proximal Tot - Extensão Total Parc - Extensão Parcial Obl - Extensão Obliqua Ocorrência do sulco palato-radicular em dentes de humanos: estudo in vitro ALBARICCI et al. Figura 1 – Tipos de sulcos palato-radiculares encontrados em incisivos centrais superiores. Figura 2 – Tipos de sulcos palato-radiculares encontrados em incisivos laterais superiores. Figura 3 – Sulcos Totais (A) e Parciais (B). Nota-se a predominância dos proximais e oblíquos. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Pela análise da Tabela 1, observa-se que a prevalência total encontrada nos incisivos laterais e centrais (9,3%) aproxima-se da observada por Withers et al. (1981) (8.5%), entretanto, é superior aos achados de Everett e Kramer (1972), de Kogon (1986), de Pécora e Cruz Filho (1992) e de Assaf e Roller (1992) que encontraram 3.0%, 5.0%, 3.9% e 2 a 5%, respectivamente. A maior prevalência do Sulco Palato-Radicular (SPR) nos incisivos laterais superiores confirma a conclusão de Porciúncula et al. (2004) e os achados de Everett e Kramer (1972), de Assaf e Roller (1992), de Pécora e Cruz Filho (1992), de Hou e Tsai (1993) e de Lara et al. (2000). De acordo com Lara et al. (2000) essa maior prevalência nos incisivos laterais, demonstra a influência anatômica resultante da mineralização tardia da coroa em relação aos outros germes dentais. A localização dos SPRs foi mais freqüente nas faces proximais (62.87%), o que vem ao encontro dos relatos de 60% por Bacic et al. (1990) e de 57.5% por Hou e Tsai (1993). Não foram observados SPRs nas faces vestibulares, embora Pécora e Cruz Filho (1992) e Lara et al. (2000) relatem a sua presença eventual. Poucos SPRs foram considerados com extensão total (8.57%) atingindo o terço apical, 28.57% foram parciais (não atingiam a região do ápice) e a maioria (62.85%) seguiu um trajeto oblíquo em direção às faces proximais. Essa situação é considerada importante sob o ponto de vista periodontal por facilitar a deposição da placa e dificultar a sua remoção (BACIC et al.,1990). O trajeto oblíquo afetou mais significativamente os laterais (75.0%), sendo um dado importante quando da realização de um diagnóstico diferencial. Nossos resultados sugerem que a configuração anatômica dos incisivos laterais superiores parece influir decisivamente na presença, localização e extensão dos sulcos palato-radiculares. Dessa forma, novas observações talvez sejam importantes, bem como a avaliação de seu ponto de origem, sua profundidade e relações com a polpa e o periodonto. v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 CONCLUSÕES Considerando a metodologia empregada concluise que: 1. A ocorrência do sulco palato-radicular foi de 9,3%, sendo maior nos laterais (11,05%) do que nos centrais (6,91%). 2. A sua localização foi mais proximal (62.87%) que palatina (37,14%) considerando o conjunto dos dentes, mas a palatina foi mais prevalente nos centrais (45,45%). 3. Apenas 8.57% dos sulcos palato-radiculares apresentaram extensão total, com predomínio do trajeto oblíquo (62,85%), especialmente nos laterais (75 %). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF, M.E.; ROLLER, N. The cingulo-radicular groove: its significance and management – two cases report. Compend. Contin. Educ. Dent., Jamesburg, v.13, n.2, p.94-100, 1992. BACIC, M.; KARAKAS, Z.; KAIC, Z.; SUTALO, J. The association between palatal grooves in upper incisors and periodontal complications. J. Periodontol., Chicago, v.61, n.3, p.197-199, Mar. 1990. BLIEDEN, T.M. Tooth-related Issues. Ann. Peridontol., Chicago, v. 4, n. 1, p. 91-96, 1999. ESTRELA, C.; PEREIRA, H.L.; PÉCORA, J.D. Radicular grooves in maxillary lateral incisor: case report. Braz. Dent. J., Ribeirão Preto, v.6, n.2, p.143-146, 1995. EVERETT, F.G.; KRAMER, G.M. 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Via de acesso Prof. Dr. Paulo Donato Castellane, Km 5, CEP: 14884-900, Jaboticabal-SP. Avaliou-se, em condição de campo, o efeito do estresse hídrico provocado pela paralisação do fornecimento de água por irrigação, e de diferentes doses da adubação nitrogenada em cobertura na produtividade e em algumas características agronômicas da cultura do trigo. O experimento foi instalado em Jaboticabal/SP, sendo os resultados submetidos à análise de variância pelo teste F, e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. Não se detectou influência da aduba- ção nitrogenada e do estresse hídrico sobre a produção de grãos, altura de plantas e tamanho de panículas. Efeitos positivos foram verificados nas doses de nitrogênio e irrigação com relação ao número de panículas por metro quadrado e número de grãos, espiguetas e flores por panícula. Were evaluated under field conditions the effects of water stress provoked for interruption and the different rates of nitrogenous fertilization upon grains production and some agronomics characteristics of wheat culture. The experiment was placed in Jaboticabal/SP. The results were submitted to variance analysis by F test, and the means compared by 5% of probability Tukey test. No influence was detected of nitrogenous fertilization or water stress upon grain production, height of plants and panicle size. Positive effects were verified with nitrogen rates and irrigation upon number of panicle/m2 and number of grains, spikelets and flowers/panicle. Palavras-chave: adubação nitrogenada, caracteres agronômicos, produtividade, Triticum aestivum L. Keywords: fertilization, agronomic traits, productivity, Triticum aestivum L. Estresse hídrico e doses de nitrogênio na cultura do trigo INTRODUÇÃO O aumento da produtividade agrícola, integrado à otimização do uso dos recursos naturais, para atender à demanda de alimentos em decorrência do crescimento populacional, é um dos problemas mais críticos a ser enfrentado durante a próxima década. Em geral, a escassez de água é o principal fator limitante para o crescimento e desenvolvimento de culturas agrícolas. A água exerce uma grande influência sobre diversos processos fisiológicos e bioquímicos da planta e, do total de água absorvido pela planta, menos de 1% fica retido. Estimativas da produtividade agrícola em resposta ao armazenamento e demanda de água no sistema solo-planta-atmosfera são baseados nos efeitos morfológicos e fisiológicos do estresse causados na cultura. Porém, tais estimativas devem considerar a dimensão da unidade espacial, a duração do estresse hídrico e o estágio fenológico em que a cultura se encontra na ocasião (GARDNER et al., 1985). Diferentes espécies têm desenvolvido fascinantes mecanismos para enfrentar a baixa quantidade de água no substrato, evitando-a ou tolerando-a (LAMBERS et al., 1998), através de modificações na morfologia externa, na histologia, na citologia e na fisiologia da planta (DICKISON, 2000). A deficiência no suprimento hídrico pode conduzir ao fechamento estomático e ao movimento de folhas, mecanismos estes que evitam perda de água (OSMOND et al. 1987). Sob estresse hídrico as plantas também podem alterar a espessura, a área foliar e características anatômicas (LAMBERS et al. 1998), assim como, a taxa de transpiração, a condutância estomática e a taxa fotossintética (CALBO e MORAES, 2000). A baixa quantidade de água pode influenciar a expansão celular, a regulação estomática, a fotossíntese, a respiração, a translocação de substâncias e a síntese da parede celular, levando à redução da taxa de crescimento e a mudanças no padrão de translocação de matéria seca (STEINBERG et al., 1990 e ZAGDANSKA e KOSDOJ, 1994). O déficit hídrico é uma situação comum à produção de muitas culturas, podendo apresentar um im- NOBILE et al. pacto negativo substancial no crescimento e desenvolvimento das plantas (LECOEUR e SINCLAIR, 1996); assim, existe um conflito entre a conservação da água pela planta e a taxa de assimilação de CO2 para produção de carboidratos (TAIZ e ZEIGER, 1991). A necessidade em se resolver este conflito leva as plantas a desenvolverem mecanismos morfofisiológicos, que as conduzem a economizar água para uso em períodos posteriores (McCREE e FERNÁNDEZ, 1989), levando-as a tentarem atingir a produção de sementes. Sob deficiência hídrica, pode ocorrer acúmulo de prolina no vacúolo celular (BOHNERT et al., 1995; PANDEY e AGARWALL, 1998), o que aumenta a capacidade das células de extrair água do solo (BOYER, 1996). O acúmulo de prolina nas plantas, sob estresse hídrico ou salino, pode ter função na regulação osmótica (XU et al. 2002), na proteção da integridade celular (STEWART e LEE, 1974; SHEVYAKOVA, 1984) ou, ainda, pode participar na constituição de um estoque de nitrogênio e carbono que poderia ser utilizado depois do período de estresse (TAYLOR, 1996). Outro fator limitante e de grande importância para das culturas são os nutrientes minerais, entre eles o nitrogênio. O nitrogênio está diretamente relacionado à formação de compostos orgânicos na planta, tais como proteínas, aminoácidos, enzimas e co-enzimas, além de ser constituinte da molécula de clorofila, sendo o elemento de maior concentração nas folhas e essencial para o desenvolvimento das plantas (MEURER et al., 1981). As principais fontes de nitrogênio para o solo são: material orgânico, fertilizantes industriais, sais de amônio e nitratos trazidos pela precipitação pluviométrica e a fixação biológica de nitrogênio realizada por microorganismos. Destas, as mais importantes são os fertilizantes e a fixação biológica (MALAVOLTA, 2006). A resposta das culturas à adubação nitrogenada pode variar em função da cultivar, da época de semeadura, dos suprimentos de outros nutrientes, das características físico-químicas do solo, da umidade do solo, do conteúdo de matéria orgânica, das doses e época de aplicação, da irrigação, da radiação solar e da temperatura (BARBOSA FILHO, 1987). O nitrogênio é o nutriente mais sensível às con- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB dições de aeração do solo, e conseqüentemente, em solos inundados, as reações do nitrogênio são severamente afetadas (WESSELING, 1974). Em condições ideais de aeração, o nitrogênio mineral incorporado ao solo tende a passar para a forma orgânica, pela absorção das plantas e dos microorganismos no processo denominado imobilização. Já o nitrogênio orgânico é transformado em nitrogênio inorgânico pelo processo chamado de mineralização. A mineralização é composta pelos processos de amonificação e nitrificação (RAIJ, 1996). O processo de amonificação é bastante lento, porém pode ocorrer tanto em condições aeróbias como anaeróbias, sendo que nesta última condição as transformações são mais lentas. Com a redução da concentração de oxigênio no solo, a mineralização do nitrogênio orgânico é interrompida no estado de amonificação (NH4+), podendo ocorrer perdas pela passagem do amônio (NH4+) para amônia (NH3+), que é liberada para atmosfera. Esse processo é chamado de volatilização da amônia. As perdas por volatilização podem ser evitadas pela aplicação de fertilizantes que contêm amônio e de uréia na camada redutora, ou seja, na profundidade de 10 a 15 cm. Já a aplicação de fertilizantes contendo nitrato não é recomendada em solos inundados, devido à rápida desnitrificação que ocorre na camada redutora (RAIJ, 1996). A nitrificação é um processo de natureza estritamente biológica. O nitrato é o íon nitrogenado preferencialmente absorvido pela maioria das plantas cultivadas. Em solos inundados, as principais perdas de nitrato podem ocorrem por desnitrificação e lixiviação. A desnitrificação é definida como um processo de respiração em anaerobiose, onde microorganismos como Flavobacterium e Propionibacterium utilizam o nitrato ou o nitrito como aceptores finais de elétrons em lugar do oxigênio (FIRESTONE, 1982). Os nitratos são convertidos em nitritos na camada reduzida do solo e se transformam em gases (N2O e N2) que escapam para a atmosfera. Está bem estabelecido que inundação do solo v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 resulta na redução da concentração de nitrogênio, fósforo e potássio nos tecidos foliares. Sob condições de saturação, a nutrição mineral pode ser afetada por muitos fatores como a condição nutricional inicial do solo, alterações físico-químicas ocasionadas pela inundação do solo, desenvolvimento da planta e a tolerância da cultura à deficiência de oxigênio (KOZLOWSKI, 1984). Peres e Suhet (1986), revisando os trabalhos de adubação nitrogenada no Brasil, verificaram diferentes respostas do trigo ao nitrogênio, devidas, principalmente, às variações na fertilidade do solo, no clima, nas cultivares e nas práticas culturais. Conforme Zagonel et al. (2002), a utilização de elevadas doses de nitrogênio é fator positivo para o aumento da produtividade do trigo, porém, pode resultar no acamamento da cultura, o que interfere negativamente na produção e na qualidade dos grãos. O fornecimento de nitrogênio às plantas de trigo é de grande importância nos períodos em que o potencial de rendimento está sendo estabelecido. Os componentes do rendimento como o número de espigas por área e o número de espiguetas por espigas, sofrem forte influência pela variação do momento em que o nitrogênio é fornecido. No período compreendido entre a fase inicial até o inicio da diferenciação do primórdio floral, a falta de nitrogênio reduz a formação de espiguetas (FRANK e BAUER, 1996). Frizzone et al. (1996), trabalhando com trigo irrigado em Latossolo Vermelho distrófico do cerrado, encontraram resposta positiva à adubação nitrogenada em cobertura, mas ressaltaram que essa resposta depende da quantidade de água que é fornecida pela irrigação. O presente trabalho busca avaliar a resposta do trigo irrigado, à adubação nitrogenada de cobertura. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado, no ano de 2003, em área experimental da Fazenda de Ensino e Pesquisa da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Câmpus de Jaboticabal/SP, UNESP, situado a 21°19’ Estresse hídrico e doses de nitrogênio na cultura do trigo de latitude Sul, 47°33’ de longitude Oeste e 616 m de altitude. O solo da área é classificado, segundo Embrapa (1999), Latossolo Vermelho eutrófico, típico textura arenosa com relevo suave. Para a caracterização química da área experimental foram feitas coletas de 20 amostras simples, que NOBILE et al. deram origem a uma amostra composta. A amostra de solo foi encaminhada ao Laboratório de Solos e Nutrição de Plantas da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, cuja análise química se encontra na Tabela 1. Tabela 1. Caracterização química do solo Segundo Köppen (2001), o clima para o local onde foi realizado o experimento pode ser classificado como Cwa, ou seja, tropical de altitude com inverno seco, temperatura do mês mais quente maior que 22° C e temperatura do mês mais frio entre -3° e 18°C. A área experimental foi constituída de quatro blocos de 18x18 m sendo que cada um continha doze parcelas de 2x4 m, totalizando uma área de plantio de 1296 m2. O experimento foi instalado em delineamento de blocos casualizados com fatorial 4x4 e 3 repetições. Utilizou-se a análise de variância em parcelas subdivididas com os fatores época de paralisação da irrigação nas parcelas e doses de nitrogênio nas sub-parcelas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. Para o preparo do solo, foi efetuada uma aração (no mês de fevereiro) e duas gradagens a profundidade de 20 cm, sendo que a primeira gradagem teve como objetivo a eliminação de plantas daninhas e a segunda para incorporação do adubo, ambas as operações realizadas no mês de maio. A calagem realizada em feverei- ro, aplicou 1700 kg ha-1 de calcário calcinado dolomítico que apresentou PRNT de 94%, PN de 110%, CaO de 32% e MgO de 23%. A adubação de semeadura foi efetuada a lanço no mês de maio, utilizando 600 kg ha-1 da formula 4-14-8. A semeadura foi realizada manualmente e em linhas espaçadas de 20 cm (mês de maio). Os sulcos de plantio foram feitos através do uso de cultivador colocando as sementes a uma profundidade de 3 cm e densidade em torno de 500 sementes viáveis por metro quadrado. A cultivar de trigo utilizada foi a IAC-24 Tucuruí que apresenta ciclo em torno de 110 dias, tolerante ao alumínio tóxico, porte baixo e resistente ao acamamento. A aplicação de água foi realizada com equipamento de aspersão, utilizando-se duas linhas laterais dispostas nas laterais das parcelas, contendo cada uma 8 aspersores ASBRASIL ZE-30D (5,0x7,5 mm), espaçados de 18 m e operados a pressão de 2,5 atm, com precipitação de 10,6 mm h-1. A lâmina de água aplicada na cultura variou de acordo com o estádio de desenvolvimento, conforme apresentado na Tabela 2. Tabela 2. Lâmina de água aplicada diariamente, baseada em evapotranspiração média de 5 mm dia-1 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Os tratamentos com relação à irrigação das parcelas eram constituídos de 4 níveis de água, adotandose a seguinte metodologia: parcela 1 com irrigação até a emergência das plântulas, parcela 2 com irrigação até o perfilhamento, parcela 3 com irrigação até o florescimento e parcela 4 com irrigação até o final do ciclo. Na fase de estabelecimento da cultura foram v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 realizadas quatro irrigações uniformes em todos os tratamentos, num intervalo de quatro dias, totalizando 35 mm. Na Tabela 3 estão apresentados o total de água fornecida pela irrigação em cada parcela durante o período do trabalho realizado, assim como os dados de precipitação pluviométrica ocorrida na época. Tabela 3. Quantidade de água recebida pela cultura do trigo durante o experimento em cada parcela Para a adubação de cobertura foi usado como fonte de nitrogênio o nitrato de amônio, aplicado a lanço no início do perfilhamento (30 dias após a emergência das plântulas). Com quatro níveis de nitrogênio nas subparcelas de 0, 30, 60 e 90 kg ha-1 de N, correspondendo a 0, 100, 200 e 300 kg ha-1 de nitrato de amônio. No acompanhamento dos tratamentos no desenvolvimento vegetativo e produção, foram realizadas as seguintes determinações (Tabela 4) durante o ciclo da cultura Tabela 4. Determinações realizadas durante o ciclo da cultura do trigo Estresse hídrico e doses de nitrogênio na cultura do trigo RESULTADOS E DISCUSSÃO Dados de altura des plantas e tamanho de panículas encontram-se respectivamente nas Tabelas 5 e 6. Verifica-se que tais parâmetros sofreram influência com relação a irrigação, não havendo efeito das doses de nitrogênio pois, a altura das plantas e o tamanho das panículas foram crescentes à medida que o fornecimento da água era mantido. Resultados confirmaram o obtido por Faria e Olitta (1987), que observaram que os tratamentos mais úmidos apresentaram maiores valores de altura de plantas e tamanho de panículas, demons- NOBILE et al. trando o efeito de déficit hídrico no crescimento de tais partes do vegetal. As alturas apresentadas pelas plantas foram consideradas acima do desejável para a cultivar utilizada, sendo este o fator responsável pelos acamamentos ocorridos. Nos tratamentos onde o fornecimento de água pela irrigação foi menor (irrigação 1 e 2), também pôde ser observada altura acima do esperado o que pode ser explicado pela excessiva ocorrência de chuvas. Resultados semelhantes foram encontrados por Zagonel et al. (2002), que observaram acamamento no trigo com altas doses de nitrogênio e chuvas excessivas, na adubação de cobertura. Tabela 5. Altura de plantas (cm) em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). O tamanho de panículas não sofreu influência da aplicação de nitrogênio em cobertura, houve diminuição do tamanho conforme diminuía o fornecimento de água, o maior tamanho de panícula ocorreu com a aplicação de água durante todo o ciclo. Estes resultados corroboram Steinberg et al. (1990), que observaram redução na taxa de crescimento com a baixa quantidade de água fornecida. Tabela 6. Tamanho de panículas (cm) em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Os valores obtidos para número de panículas por metro quadrado e número de grãos, espiguetas e flores por panículas, diferiram estatisticamente e estão apresentados nas Tabelas 7, 8, 9 e 10 respectivamente. Verificam-se, em geral, que as aplicações de 60 a 90 kg ha-1 de nitrogênio e com irrigações mantidas até o florescimento e até o final do ciclo, levaram os melhores resultados para esses parâmetros. O não fornecimento v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 de água após a emergência das plântulas e após o inicio do perfilhamento, mostrou-se bastante prejudicial. Vários trabalhos (LECOEUR e SINCLAIR, 1996; TAYLOR, 1996; MEURER et al., 1981; MALAVOLTA, 2006) corroboram os dados obtidos, o fornecimento de nitrogênio em cobertura e de água durante todo o ciclo são fatores principais para melhor desempenho da cultura do trigo. Tabela 7. Número de panículas por metro quadrado em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). Tabela 8. Número de grãos por panícula em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). Tabela 9. Número de espiguetas por panícula em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). Estresse hídrico e doses de nitrogênio na cultura do trigo NOBILE et al. Tabela 10. Número de flores por panícula em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). A produtividade de grãos de trigo foi afetada pelo fornecimento de nitrogênio e ou de água, o que pode ser observado na Tabela 11. Notou-se, porém, uma tendência de crescimento da produtividade à medida que a irrigação era mantida até o florescimento e/ou final do ciclo da cultura. Estes resultados corroboram, em parte, os obtidos por Frizzone et al. (1996), que obtiveram aumento de produção com o prolongamento do período de irrigação para além do estádio de grão leitoso. Araújo et al.(2005), também obtiveram aumentos de produtividade com a aplicação de nitrogênio em cobertura. As aplicações de nitrogênio contribuíram para aumento na produção de grãos. Tais resultados não estão de acordo com os obtidos por Guarienti et al. (2005) para as cultivares de porte alto, os quais não detectaram respostas significativas para a produção de grãos com a adubação nitrogenada, devido principalmente ao acamamento. Porém, para cultivares de trigo de porte semi-anão, os mesmos autores encontraram respostas para 60 kg ha-1 de nitrogênio. No caso do presente ensaio, a grande resposta ao nitrogênio aplicado, teve como causa o acamamento constatado na maioria das parcelas. Tabela 11. Produtividade (kg ha-1) da cultivar IAC-24 TUCURUÍ em função das doses de nitrogênio e fornecimento de água. Números seguidos pela mesma letra, não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; ns = não significativo (p < 0,05); ** = valor significativo (p < 0,01). CONCLUSÕES Através da análise dos dados e segundo as condições em que se desenvolveu este trabalho, conclui-se: - para a cultivar IAC-24 TUCURUÍ houve influência da aplicação de adubação nitrogenada e do fornecimento de água por irrigação sobre a produtividade; - as alturas das plantas e tamanho de panículas CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB não foram influenciadas por doses de nitrogênio; - foram verificados efeitos positivos de doses de nitrogênio e irrigação com relação ao número de panículas por metro quadrado e número de grãos, espiguetas e flores por panículas. v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Madison: American Society Agronomy, 1982. chap. 4, p. 289-326. FRANK, A. B.; BAUER, A. Temperature, nitrogen and carbon dioxide effects on spring wheat development and spikelet numbers. Crop Science, Madison, v. 36, n. 3, p.659-665, 1996. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A. S. F.; TEIXEIRA, G. M.; CAMPOS, A. X.; SILVA, F. 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A abordagem do tema depende impreterivelmente da análise do princípio constitucional da igualdade, enquanto norma-princípio, cuja função é orientar, informar, nortear, determinado sistema jurídico. Desse modo, necessário tecer ponderações acerca da evolução deste princípio balizador, bem como refletir sobre a teoria dos direitos fundamentais e o pertinente mote de que a própria lei, pode discriminar, impondo sobremaneira que sejam resgatar certas posições doutrinárias, permitindo verificar que todos não são iguais, e, que a própria lei é discriminadora. Nesse contexto, mister colocar em tela a discussão acerca da igualdade formal e da igualdade material, buscando compreender que poderá a lei promover discriminações, sempre que for necessário compensar determinadas diferenças ou vulnerabilidades de pessoas ou categorias sociais. Discorrer sobre a reserva de cotas implica ainda ponderações que extrapolam a esfera jurídica, obrigando-nos a pautar o presente estudo em observações sociológicas sobre o ensino público, básico e fundamental. Nessa seara, destaca-se tese dos sociólogos franceses, Pierre Bordieu e Jean-Claude Passeron, que pregavam o equilíbrio do ensino, a partir de um sistema denominado – ‘pedagogia racional’. Preocupa-nos todos constatar que o ensino público não possui a qualidade exigida e disciplinada pela Constituição Federal. Tal constatação, forçosamente nos faz reconhecer que a dignidade de grande parcela dos cidadãos resta aviltada, em face do desmantelamento de toda estrutura educacional, se é que podemos chamar o ensino público de uma estrutura. Temos que travar uma grande luta pela educação, para que o princípio da igualdade possa ser implementado e respeitado, pois segundo Rosseau, somente pode-se admitir duas desigualdades entre os homens, a estabelecida pela natureza, diferenciando-os pelas qualidades físicas e psíquicas, pela idade, pela força, e, aquelas estabelecidas pelas convenções, firmadas entre os homens e com o consentimento destes. The present work aims at analyzing the issue of affirmative actions focusing on the reservation of university quotas for black people. The approach for such matter truly depends on the analysis of the constitutional principle of equality as a rule-principle whose function is to guide, inform, and lead to a specific legal system. Therefore, it is necessary to take into consideration the evolution of this signaling principle as well as to reflect upon the theory of fundamental rights and the relevant theme that the law itself might discriminate, excessively enforcing the rescue of certain doctrinaire positions, making it possible to verify that all of them are not equal and that the law itself is discriminating. In such context, it is paramount to discuss formal equality and material equality, aiming at understanding that the law might promote discrimination whenever it is necessary to compensate certain differences or vulnerabilities as to people or social categories. Arguing about reservation of university quotas also implies considering issues beyond the legal scope, forcing us to base the present study on sociological observations as to public education, primary and secondary levels. In this field, it stands out the thesis of the French sociologists Pierre Bordieu and Jean-Claude Passeron, who have advocated education balance from a system called ‘rational pedagogy’. It worries us all to verify that the public education does not possess the quality and the discipline demanded by the Federal Constitution. Such fact makes us recognize that the dignity of a large portion of citizens is dishonored, regarding the dismantling of the whole educational framework, if we really can call public education as a framework. We have to fight for education for the principle of equality to be implemented and respected as, according to Rosseau, only two inequalities might be admitted among men: the one established by nature, making them different as to physical and psychic qualities, age, strength, and the one established by convention, agreed and consented by men. Palavras-chave: Sistema de Cotas; Igualdade; Ensino Público; Ações Afirmativas. Key-words: University Quota System; Equality; Public Education; Affirmative Actions. INTRODUÇÃO Indagar acerca das circunstâncias que permeiam a criação, operacionalização, e, efetivação do sistema de cotas, demanda ponderações cuidadosas. Tal afirmativa decorre primeiramente, do status que o princípio constitucional da igualdade possui, ante sua natureza de Direito Fundamental. Nesse sentido, ressalta Gandra (apud MORAES, 2003,) que [...] a Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Não obstante, Silva (2003) reforça que a formulação do conceito de igualdade provou posicionamentos extremos, com idéias opostas, partindo de teses que defendem a desigualdade como característica do universo, confrontando diretamente a afirmativa do art. 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Mas, não apenas de pormenores jurídicos, intrincase a questão em tela. Aspectos sociais diversos são debatidos e ponderados, donde também podemos destacar debates complexos de ordem antagônica – citando, por exemplo, matérias jornalísticas dos autores Gois (2006), Strecker (2007) e Cerqueira (2006) que apresentam pesquisas, cujo conteúdo demonstra o aumento do acesso de negros às universidades de acordo com pesquisa do IBGE, informando o crescimento do percentual de negros e pardos no ensino superior, no patamar de 18% para 30%, no período entre 1995 e 2005. Takahashi (2007), em levantamento do Jornal Folha de São Paulo, com base em informações cedidas pelas universidades, estima que em 9 das 15 instituições que adotam sistema de reserva de cotas, não houve o pre- enchimento de 2000 vagas reservadas, notícia esta que justifica depoimentos, que afirmam sobrar vagas de cotistas, uma vez que os negros não querem ingressar nas universidades por esta ‘porta’, pois se sentem mais discriminados, como também matérias onde é abordada a necessidade de ações afirmativas, para que se mitigue a desigualdade, permitindo quitação de dívida histórica, que a dignidade aviltada dos negros escravos representa, possibilitando uma harmonia racial. Tal opinião se opõe diretamente ao que pensa a antropóloga Maggie (2007) que considera existir “um ou vários grupos dentro do movimento negro que estão interessados em produzir uma sociedade de cisão racial”. A discussão envolve dois pontos fundamentais. Por um lado à pedagogia – analisada do ponto de vista didático, e, na ordem macro, enquanto dever do Estado, como conseqüente direito do cidadão – evidenciando, porque a fragilidade do sistema educacional deve ser encarada e resolvida urgentemente. Por outro, a história – uma vez que este tema é composto por fatos, ciclos, eventos, e, situações desencadeadas séculos atrás, desenvolvendo-se através das épocas evolutivas de toda sociedade. A reserva de cotas, em se tratando de espécie de ação afirmativa, propõe-se a representar a efetivação do compromisso assumido pela Constituição de 1988 e pelos acordos internacionais de direitos humanos, que nosso País é signatário. Por esse sistema, seria reservado, na área educacional, um percentual de vagas em universidades públicas, as quais contemplariam negros, índios e alunos que cursaram o ensino fundamental e médio em escolas públicas, não esquecendo que há projetos que estendem à reserva de cotas em concursos públicos. Tratando-se de democracia multiétnica, a adoção de tais medidas no Brasil, tem o objetivo maior de aplacar os problemas de inclusão social. Porém, os problemas oriundos de distorções sociais, propagados pela concentração de renda, ou seja, pela má distribuição de renda, desemboca no frágil setor da educação, que urge ser revisto, para que possa consagrar-se um direito tão importante, senão fundamental, que é o de receber ensino – com qualidade. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB Implementar o sistema de reserva de cotas será suficiente para corrigir as desigualdades provenientes dos regimes escravistas, feudais, ditatoriais, de outrora? A simples efetivação deste sistema, bastará para perpetuar os ditames do Princípio da Igualdade? Desta forma, o presente trabalho tem por escopo precípuo a busca de respostas para tais indagações, assim como outras questões pertinentes ao tema, visando explanar algumas implicações do princípio constitucional em destaque, abordando também acerca da implementação do mesmo, pela ótica da igualdade material, em detrimento da igualdade formal. A metodologia utilizada para a elaboração do presente foi baseada em uma pesquisa qualitativa, com referências bibliográficas em livros, revistas jurídicas, artigos da internet e demais meios de comunicação. Quanto a estrutura do trabalho, procurou-se estabelecer uma ordem na qual o leitor pudesse acompanhar a expansão do tema e evoluir em suas linhas mestras. 1 –IGUALDADE : REFLEXÕES PERTINENTES Quando Silva (2003) escreveu sobre as teses opostas que pretendiam elaborar um conceito de igualdade, fez menção aos nominalistas, que defendiam a igualdade como um simples nome, que nada significaria no mundo real, corroborando dessa forma, a tese que os homens nascem e perduram desiguais. Destacou, entretanto, que no outro extremo vinham os idealistas, que defendiam um igualitarismo absoluto entre os indivíduos. Não obstante, ressalta ainda referido doutrinador que Rosseau, também aceitava a idéia de uma igual liberdade natural, enquanto hipótese do estado da natureza, onde reinava uma igualdade absoluta. Este, porém, admitia duas espécies de desigualdades entre os homens, a saber: [...] uma que chamava natural ou física, porque estabelecida pela natureza, consistente na diferença de idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 da alma; outra, que denominava desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e é estabelecida, ou ao menos autorizada, pelo consentimento dos homens, consistindo nos diferentes privilégios que uns gozam em detrimento dos outros, como ser mais ricos, mais nobres, mais poderosos. (ROSSEAU apud SILVA, 2003). Em trabalho que aborda a temática do princípio da não discriminação, entendendo-o compulsoriamente como um consectário ou reflexo do princípio da igualdade. Passos (2007) orienta-nos com lição de Hanah Arendt, lembrando que se os homens não fossem iguais, incapazes seriam de compreenderem-se entre si e aos seus antepassados, ou mesmo para planejarem o futuro e prever necessidades de gerações vindouras. Porém, se não fossem diferentes, ou seja, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, não necessitariam os homens de discursos ou ações para se fazerem entender, comunicando-se através de simples sinais e sons suas necessidades imediatas e idênticas, semelhante com o que ocorre com os animais. Passos (2007) aduz ainda que: [...] há, pois, uma igualdade fundamental, que nos insere na espécie humana, e há uma desigualdade, também fundamental, que nos põe como indivíduo e como pessoa. Essa desigualdade individual, convivendo com a igualdade essencial que nos insere na espécie humana, impõe a “igualdade” como tarefa dos homens e não como algo resultante da própria natureza das coisas. Retomando Hanah Arendt, a igualdade presente na esfera pública é, necessariamente, uma de desiguais que precisam ser “igualados” sob certos aspectos e por motivos específicos. Assim, o fator igualador não provém da natureza humana, mas de fora. (...) O princípio da igualdade, conseqüentemente o de não discriminação, reclama um fator externo, necessário à convivência humana, para nivelar, em termos de vantagens e encargos, homens diferenciados cultural e economicamente. (PASSOS, 2007). Impossível não inserir nestas considerações, como bem lembra Silva (2003), posicionamento de Aristóteles, que vinculava a idéia de igualdade à idéia de justiça. Porém, seu conceito tratava-se de uma igualdade de justiça relativa, que daria a cada um o que é seu, igualdade que estará complementada pela desigualdade promovida pelo legislador, ao tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais. “Cuida-se de uma justiça e de uma igualdade formal, tanto que não seria injusto tratar diferentemente o escravo e seu proprietário”, assim o que seria injusto era o tratamento desigual, de escravos ou de senhores, analisados entre si, ou seja, ao ponderar o tratamento igual quando envolver iguais e desigual, quando envolver desiguais, estar-se-ia viabilizando a formalização da igualdade e conseqüentemente da justiça. (SILVA, 2003). Todavia, Silva (2003), constata que esse modo de entender a igualdade, reserva intrinsecamente uma injustiça real, e “essa verificação impôs a evolução do conceito de igualdade e justiça, a fim de se ajustarem às concepções formais e reais ou materiais”. Explica tal autor que: [...] a justiça formal consiste em um princípio de ação, segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial devem ser tratados da mesma forma. Aí a justiça formal se identifica com a igualdade formal. A justiça concreta ou material seria, para Perelman, a especificação da justiça formal, indicando a característica constitutiva da categoria essencial, chegando-se às formas: a cada um segundo a sua necessidade; a cada um segundo seus méritos; a cada um a mesma coisa. Porque existem desigualdades, é que se aspira à igualdade real ou material que busque realizar a igualização das condições desiguais, do que se extrai que a lei geral, abstrata e impessoal que incide em todos igualmente, levando em conta apenas a igualdade dos indivíduos e não a igualdade dos grupos, acaba por gerar mais desigualdade e propiciar a injustiça. (SILVA, 2003). Imperativo encerrar nossas ponderações com a definição preciosa de Rocha (apud SILVA, 2003), ensinando que: [...] igualdade constitucional é mais que uma expressão de Direito; é um modo justo de se viver em sociedade. Por isso é princípio posto como pilar de sustentação e estrela de direção interpretativa das normas jurídicas que compõem o sistema jurídico fundamental. 2 – A EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE Ensina Bonavides (2003), que a proclamação da normatividade dos princípios enquanto novas fórmulas conceituais, somando os arestos das Cortes Supremas no constitucionalismo hodierno, confirmam tendência irresistível que conduz à valoração e eficácia dos princípios como normas-chaves de todo o sistema jurídico. Importante destacar que das normas-princípios, “se retirou o conteúdo inócuo de programaticidade, mediante o qual se costumava neutralizar a eficácia das Constituições em seus valores referenciais, em seus objetivos básicos, em seus princípios cardeais”. Entendemos que as normas-princípios representam diretrizes, cujo objetivo é nortear, informar, orientar, determinado sistema jurídico, desta forma, patente sua autoridade. O princípio da igualdade, enquanto norma-princípio é efetivamente um direito fundamental. É corriqueiro estabelecer a Magna Carta Inglesa (1215) como a gênese dos direitos fundamentais, considerando que este docu- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB mento impulsionou a inserção de tais direitos nos textos constitucionais dos Estados modernos ocidentais, originando conseqüentemente as Constituições liberais. Entretanto, “segundo o constitucionalista Carl Schmitt, a verdadeira Constituição liberal, onde realmente foram positivados os direitos fundamentais, surgiu com a Declaração dos Estados Americanos” (MAIA, 2006). Coaduna deste posicionamento Maia (apud CANOTILHO, 1991), ao afirmar que “a positivação ou constitucionalização dos direitos fundamentais deuse a partir do Virginia Bill of Rigths (1776) e da Déclaration dês Droits de l’Homme et du Citoyen (1789)”. Dessa maneira, segundo tais doutrinadores, pode-se afirmar que a história dos direitos fundamentais iniciou-se, oportunamente, a partir das declarações de direitos positivados com a independência dos Estados Americanos. 2.1 O princípio da igualdade e a Teoria dos direitos fundamentais A Declaração Francesa de 1789, que segundo Bonavides (2003), tinha como destinatário era o “gênero humano”, consagrou o lema revolucionário do século XVIII, que exprimia em três princípios essenciais “todo o conteúdo possível dos direitos fundamentais, profetizando até mesmo a seqüência histórica de sua gradativa institucionalização: liberdade, igualdade e fraternidade”. Importando-nos estudar o princípio da igualdade, por isso, convém salientar clássica distinção dos direitos fundamentais, que os classifica em gerações. Nesse sentido, mister ponderar que os direitos fundamentais inseriram-se na ordem jurídica positiva manifestando-se, primordialmente, em três gerações sucessivas, sendo conforme exposto, sucessivamente, primeira, segunda e terceira geração, os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. Destacando o princípio da igualdade inserido na segunda geração, seguimos lição de Bonavides (2003), que mostra que estes dominaram o século XX. Os direitos fundamentais de segunda geração traduzem-se nos direitos sociais, culturais e econômicos, como também v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 nos direitos coletivos ou de coletividades. Efetivando um resgate histórico do princípio da igualdade, cabe-nos refletir sobre ponderação de Passos (2007) acerca do tema: [...] Apenas para usar um referencial histórico, que pode ser esclarecedor. A Magna Carta, tão celebrada como um acontecimento revestido de alta significação no processo de emancipação política dos homens, a magna Carta foi um ganho apenas para poucos. Os que se podiam atribuir o status de nobres, emanciparam-se. E somente eles. (...) escrita em latim para que os princípios nela firmados não passassem ao domínio público. Preservava-se a elite, ganhadora em termos do igual tratamento, preservando-se, por outro lado, para ela, elite e nobreza, o privilégio do desigual tratamento aos seus vassalos. Nota-se que o direito fundamental da igualdade não nasceu necessariamente para todos. A explicação cabal para a inversão que este fato representa, pode ser extraída de explanação de Silva (2003) quando analisa o direito a igualdade e o direito a liberdade: [...] As discussões, os debates e até as lutas em torno desta obnubilaram aquela. É que a igualdade constitui o signo fundamental da democracia. Não admite os privilégios e distinções que um regime simplesmente liberal consagra. Por isso é que a burguesia, cônscia de seu privilégio de classe, jamais postulou um regime de igualdade tanto quanto reivindicara o de liberdade. É que um regime de igualdade contraria seus interesses e dá à liberdade sentido material que não se harmoniza com o domínio de classe em que assenta a democracia liberal burguesa. Ao comentar sobre a evolução dos direitos individu- ais fundamentais, Bastos (2001) afirma que alguns dos direitos clássicos perderam o caráter absoluto, “para ganhar uma dimensão mais relativa surgida da imperiosidade de compatibilizar o direito com outros princípios constitucionais”. Noticia referido autor que talvez a alteração mais profunda seja o aparecimento de direitos “cujo conteúdo consiste na possibilidade de o indivíduo receber alguma proteção do Estado”. Entretanto, este assevera: “o princípio da igualdade, muito provavelmente o mais importante dos direitos clássicos, tornou-se uma irrisão”. (BASTOS, 2001). Segundo ele, a igualdade perante a lei passou a ser chamada igualdade formal, opondo-se a igualdade denominada material, cujos pormenores discorreremos a seguir. 3 – IMPLICAÇÕES DO PRINCÍPIO DA IGUALIDADE Um ponto de vital importância na teoria dos direitos fundamentais consubstancia-se no princípio da igualdade, demandando reflexões cautelosas, frente ao ditame constitucional exposto na primeira parte do artigo 5º, caput, de que “todos são iguais perante a lei” (grifos nossos). Pormenorizando a questão, resgatando ponderações doutrinárias, verificamos que todos não são iguais, e, que a própria lei é discriminadora. Tal fundamento repousa primeiramente, no próprio significado da palavra ordenamento, quer seja, ordenação, cujo entendimento pode-se formar no sentido de determinar, que nos leva a palavra discriminar. Por outro lado, justifica-se a tese em análise, identificando a discriminação expressa, positivada, na própria lei. A leitura do inciso XX, do artigo 7º, CF, que expressa: “proteção de mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei” (grifos nossos). Diante disso, aceitando a normalidade da lei prever situações discriminatórias, sendo que esta é sua função, mister ressaltar discussão que indaga, quando então será possível ocorrer discriminação sem conseqüente violação ao princípio da igualdade? Podemos buscar resposta em Canotilho (1991), que ensina: [...] o princípio da igualdade é violado quando a desigualdade de tratamento surge como arbitrária. (...) existe uma violação arbitrária da igualdade jurídica quando disciplina jurídica: a) não se basear num fundamento sério; b) não tiver um sentido legítimo; e c) estabelecer diferenciação jurídica sem um fundamento razoável. Concluímos essa questão coadunando com a idéia de Moraes (2003), que ressalta: [...] o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o principio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito. (MORAES, 2003). 3.1 Igualdade Formal e Igualdade Material Relata-nos Silva (2003), que as constituições brasileiras, desde o Império, disciplinaram o princípio da igualdade, “como igualdade perante a lei, enunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mera isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplicação tratam a todos igualmente, sem levar em conta as distinções de grupos”. Entretanto, compactuamos com o autor que a compreensão da regra vigente no artigo 5º, caput, da CF/ 88 não pode ser tão limitada. Impõe-se ao intérprete a necessidade de avaliá-lo em conjunto com outras normas constitucionais, especialmente, frente às exigências da justiça social, enquanto objetivo da ordem econômi- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB ca e social. É nesse contexto, que Silva (2003) pondera acerca da referida norma: [...] Considerá-lo-emos como isonomia formal para diferenciá-lo da isonomia material, traduzido no art. 7º, XXX e XXXI, cujos enunciados tratam respectivamente da “proibição de diferença de salário, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” (grifos nossos), e, “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência” (grifos nossos). O princípio da igualdade consagrado em nossa Constituição de 1988 opera em dois planos diversos, conforme explica Moraes (2003). Um deles opõe “frente ao legislador ou ao próprio executivo, na edição, respectivamente, de leis, atos normativos e medidas provisórias”, poderíamos entendê-la como igualdade na lei, o que significa que resta impedida a criação, de regra legal, onde haja tratamentos abusivamente diferenciados em relação a pessoas que se encontram em situações iguais. Outro plano consistiria “na obrigatoriedade ao intérprete, basicamente, a autoridade pública, de aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária”, essa obrigação por seu turno, pretende que não se estabeleçam diferenciações “em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça, classe social”, estabelecendo uma igualdade perante a lei. (MORAES, 2003). A distinção entre o princípio da igualdade na lei e o da igualdade perante a lei, ocorre apenas no direito estrangeiro, conforme frisa Silva (2003), devendo ser compreendida da seguinte forma – a igualdade na lei, “exige que, nas normas jurídicas, não haja distinções que não sejam autorizadas pela própria constituição”, já a igualdade perante a lei, “corresponde à obrigação de aplicar as normas jurídicas gerais aos casos concretos, na conformidade com o que elas estabelecem, mesmo se delas resultar uma discriminação, o que caracteriza isonomia puramente formal”. A posição do referido doutrinador considera que a v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 igualdade perante a lei abarca exigência dirigida, tanto aos que criam as normas jurídicas gerais, como aos que aplicam tais normas aos casos concretos. Ensina o mesmo, que nossa doutrina e jurisprudência, firmaram entendimento orientando que a igualdade perante a lei exprime o mesmo sentido, que no estrangeiro, é dado à expressão igualdade na lei. Por fim, Silva (2003), que as constituições têm reconhecido a igualdade somente em seu sentido jurídicoformal, quer seja, igualdade perante a lei. Entretanto, destaca o autor, [...] a previsão, ainda que programática, de que a República Federativa do Brasil tem como um de seus objetivos fundamentais reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III), veemente repulsa a qualquer forma de discriminação (art. 3º, IV), a universalidade da seguridade social, a garantia ao direito à saúde, à educação baseada em princípios democráticos e de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, enfim a preocupação com a justiça social como objetivo das ordens econômica e social (arts. 170, 193, 196 e 205) constituem reais promessas de busca da igualdade material. Todavia, Bonavides (2003) afirma que o principio da igualdade tem evoluído, alcançando atualmente o aspecto de igualdade material ou fática, em contraposição à igualdade meramente formal ou jurídica, defendida por Silva (2003). Aduzem, ainda, Araujo e Nunes Júnior (2006) que “o princípio da igualdade deve ser tratado sob a vértice da máxima aristotélica que preconiza o tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais, na medida de sua desigualdade.” Nesse sentido, Moraes (2003), afirma que o que se veda, são as diferenciações arbitrárias, discriminações absurdas, pois, conforme aduzido, tratar os desiguais com desigualdade na medida em que se desigualam, é exigência do próprio conceito de Justiça. 4 – IMPLEMENTAÇÃO DO DIREITO A IGUALIDADE A real necessidade de implementação do direito fundamental à igualdade, que ostenta status de princípio constitucional, será analisada a partir do enfoque das ações afirmativas, especificamente o sistema de cotas universitárias para negros. O filósofo Bobbio (1992) evidencia que: [...] Essa universalidade (ou indistinção, ou não discriminação) na atribuição e no eventual gozo dos direitos de liberdade não vale para os direitos sociais e nem mesmo para os direitos políticos, diante dos quais os indivíduos são iguais só genericamente, mas não especificamente. Dessa forma, diante da não discriminação, mister pensar o valor da igualdade visando assegurar que as especificidades e divergências sejam examinadas e respeitadas. O constituinte ao proteger certos grupos que, a seu entender, mereciam tratamento diverso, seja pela realidade histórica de marginalização social ou pela hipossuficiência decorrente de outros fatores, visou possibilitar igualdade de oportunidades destes perante os demais indivíduos, que não sofreram as mesmas restrições. Tal proteção ficou conhecida como “ação afirmativa”. (ARAUJO e NUNES JÚNIOR, 2006). As ações afirmativas representam uma ligação simultânea de políticas públicas e privadas, de cunho obrigatório ou facultativo, cujos objetivos primordiais visam o combate a qualquer tipo de discriminação. São conceituadas por Cashmore (2000) como: [...] medidas temporárias e especiais, tomadas ou determinadas pelo Estado, de forma compulsória ou espontânea, com o propósito específico de eliminar as desigualdades que foram acumuladas no decorrer da história da sociedade. Estas medidas têm como principais beneficiários os membros dos grupos que enfrentaram preconceitos. Verificamos que ocorre, paulatinamente, a consolidação de um aparato normativo que objeta a proteção de pessoas ou grupos particularmente vulneráveis. Entendemos que as ações afirmativas se mostram como uma das formas para se implementar o princípio constitucional da igualdade. A efetiva implementação do direito fundamental aqui tratado surgirá da combinação da proibição da discriminação com políticas compensatórias que estimulem o crescimento da igualdade enquanto processo. Isso porque, não basta apenas proibir qualquer discriminação; quando o que se almeja é garantir a igualdade real, ou seja, uma igualdade que represente inclusão social de grupos que sofreram e sofrem um sólido modelo de discriminação e violência, a ato de coibir deve estar acompanhado, senão dizer, vinculado, a uma atividade consistente e grandiosa, que crie e viabilize projetos voltados a equidade social. As ações afirmativas, enquanto instrumento de inclusão social – e conseqüentemente, como suporte para a implementação da igualdade, enquanto preceito constitucional alçado a direito fundamental, constituem medidas especiais e temporárias, que visam, segundo uma parcela de pensadores, corrigir a discriminação do passado. Não apenas aquela decorrente da exploração escravista, mas de forma generalizada, abrangendo todas as minorias que foram banalizadas mundo afora, no passado remoto e recente, num globo onde impera a opressão das classes dominantes. Por fim, é importante salientar que qualquer discriminação quanto a direitos e liberdades fundamentais será punida, consoante art. 5º, XLI da CF/88 e que a uma lei ordinária que preveja uma situação de desigualdade advinda após a entrada em vigor da CF/88, deve ser considerada como não recepcionada, se não demonstrar compatibilidade com valores que a Carta Magna, como norma suprema, proclama. (MORAES, 2003). 5 – A QUESTÃO DAS COTAS PARA NEGROS O sistema de reserva de cotas universitárias para negros divide a opinião de doutos e leigos, tratando-se CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB sem dúvida, de assunto muito delicado, que por essa razão deve ser estudado cuidadosamente sem parcialidade. A primeira pergunta que nos surge ao ponderar sobre as cotas para negros nas universidades é se seriam elas a solução para a discriminação racial, fruto da época escravista, e se solucionariam o problema da educação pública, que é desencadeada já no ensino fundamental. Em abordagem em sua tese os sociólogos franceses Pierre Bordieu e Jean-Claude Passeron, apud Cerqueira (2006), analisaram a questão núcleo do problema educacional, com enfoque no sistema capitalista. Segundo entendimento destes, constata-se a exclusão social derivada de um ‘código de cultura’ que é assimilado facilmente por crianças da classe dominante, ao contrário das crianças que integram as classes oprimidas, “que se fadam ao insucesso pela falta de conhecimento que lhes possibilite decifrar a linguagem ali contida”. Em virtude disto, o ensino superior fica restrito aos mais abastados economicamente, ensejando um ‘ciclo de reprodução cultural’. Pretendendo equilibrar o aprendizado, Bourdieu apud Cerqueira (2006) [...] propôs um sistema de ensino baseado na ‘pedagogia racional’, que oferece aos filhos das classes dominadas um ambiente cultural na escola semelhante àquele em que crianças e adolescentes de condição socioeconômica abastada desfrutam junto de suas famílias. Estaria aí uma maneira para resgatar a dignidade dos dominados, viabilizando o futuro de suas gerações. Porém, não encontramos efetivamente tais condições de estudo no nosso país quando se fala em educação pública, ou seja, ensino para as classes oprimidas. Pactuamos com o entendimento de Cerqueira (2006), quanto ao ensino no Brasil ainda conter perfil elitista, “o que vem corroborar a tese de que os indivíduos oriundos de classe social mais abastada e, portanto, melhor preparados cultural e intelectualmente, no futuro, domi- v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 narão aqueles submetidos a uma educação deficiente”. O ponto crucial da questão educação não está apenas na implementação do sistema de cotas, hoje já efetivado em muitas universidades do país. Pode-se citar ao menos dois pormenores que mitigam os efeitos positivos da ação afirmativa de reserva de cotas. O primeiro deles é, sem dúvida alguma, a falta de investimentos para a melhoria da qualidade do ensino público, fundamental e médio. O segundo, repousa na ausência de projetos que viabilizem a manutenção dos alunos hipossuficientes nas universidades. Quanto ao primeiro ponto, parece-nos ilógico ter que discutir qualidade de ensino, sendo esta constitucionalmente disciplinada, eis que a regra expressa no inciso VII, do artigo 206 da CF/88, é clara, enunciando tal dispositivo: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VII – garantia de padrão de qualidade” (grifos nossos). A Constituição Federal dita os moldes nos quais o ensino deve se pautar, e entre os requisitos está a garantia do padrão de qualidade. Como descumprir regra tão vital para o fortalecimento da cidadania? Os governantes, enquanto representantes do povo, não deveriam cumprir o regramento – por capacidade de gestão e por prazer em beneficiar seus representados – promovendo qualidade padronizada em todo o ensino público todo? São questões complexas, delicadas e pertinentes. Nos distanciando da visão política que engloba o entendimento destas ponderações, voltamos a atenção específica ao fato que, a ausência de qualidade no ensino fundamental e médio, não viabiliza cidadãos devidamente preparados para cursar a graduação, dessa forma, apesar de lhe ser reservada uma vaga no curso superior, o cotista encontrará mais desafios para alcançar êxito nos estudos e se formar bom profissional. Isso porque o ensino sem qualidade causa severa defasagem na ‘bagagem’ intelectual de muitos cidadãos, sendo que, a muitos destes o sistema de cotas busca proteger. A má gestão pública no campo da educação condiciona os que usufruem o ensino público a uma desvantagem imensurável no que tange o conhecimento cultural, e, conseqüentemente, ao desenvolvimento da criança e do jovem, impondo-lhe menos oportunidades na vida adul- ta. Essa desvantagem se opõe frontalmente a norma constitucional disciplinada no artigo 205 da CF/88, cujo enunciado preleciona: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (grifos nossos). Resta-nos um grande alerta, a urgência de um padrão de qualidade garantido e efetivado é mais necessária e séria do que se podia imaginar. A Constituição Cidadã, nome carinhoso e representativo dado à CF/88, tutela o ensino e a educação expressamente, através de regras objetivas e imperativas, entretanto, a prática não traduz a teoria. Desse modo, deparamo-nos com um problema gigante que atinge os pilares do nosso Estado Democrático de Direito, quer seja a cidadania e a dignidade da pessoa humana. O cidadão que não usufruiu o direito constitucional de receber ensino com padrão de qualidade teve sua dignidade aviltada, restando-lhe abalada a própria cidadania. O segundo pormenor que implica mitigação dos efeitos positivos da reserva de cotas refere-se à inexistência de projetos complementares, voltados a amparar o cotista durante o período de estudos. Se o sistema de cotas visa privilegiar o aluno ‘carente’, seja negro ou índio, promovendo sua formação universitária, mais natural é que existam programas que possibilitem a manutenção deste aluno durante o período acadêmico. Embora o ensino seja gratuito, se o estudante não puder arcar com as custas mínimas advindas do ingresso em uma universidade, o mesmo não alcançará êxito em sua graduação. Talvez essa questão seja mais complexa e dificultosa, e, possivelmente o caminho seria pensar formas de consignar bolsas e estágios, por exemplo. Porém, esta questão demanda apurada discussão, que desnude os objetivos realmente conquistados pela implementação do sistema de cotas nas universidades públicas e quais deficiências ainda impedem a efetivação plena de tais ações afirmativas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o exposto, é importante ressaltar que, garantir cotas para negros em universidades, não fere a Constituição Federal em seus arts. 3º, IV e 5º caput, I e XLI, posto que as ações afirmativas, previstas pelo próprio legislador constituinte, objetivaram definir em quais hipóteses deve haver diferenciações específicas de tratamento, visando acima de tudo, a proteção e a não sobreposição de determinado grupo de pessoas frente aos demais. Todavia, pensamos que a implementação do sistema de cotas universitárias só alcançará o real resultado, qual seja, permitir a inclusão social, se a rede de ensino público fosse reestruturada objetivando possibilitar ensino de qualidade, pois somente com este requisito é que alunos ‘hipossuficientes’ – negros ou não - poderão assimilar o que é ministrado em cursos de graduação, posto que, se a qualidade do ensino médio e fundamental, nas redes públicas, é questionável, podemos concluir que o aprendizado escolar reste prejudicado. Dessa forma, apesar da reserva de cotas, a igualdade ainda não estará efetivada, se tais alunos não estiverem aptos a acompanhar todo o conteúdo que será ensinado no ensino superior. Entretanto, garantir constitucionalmente a qualidade de ensino apenas a alunos tidos como ‘hipossuficientes’, representaria real afronta ao princípio da igualdade, uma vez que estar-se-ia sobrepondo determinado grupo de indivíduos em relação aos demais. A abrangente discussão da igualdade de acesso e qualidade em torno do ensino público deve impor-se como meio de solução para toda a problemática que o assola, pois, conforme ressalta Bobbio (1992), o relevo da questão dos direitos fundamentais, [...] não está em saber (...), qual a sua natureza e o seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos; mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da FEB v. 3, nº 1, Maio/2008 - ISSN 1980 - 0029 Diante disso, não vemos outra solução capaz de implementar o direito de igualdade no que tange à educação, senão, além de implementar reserva de cotas nas universidades, que seja reformulado o sistema de educação pública, cumprindo os ditames constitucionais cujo dever do Estado é fornecer ensino de qualidade a todos. Somente assim, o sistema de cotas produzirá verdadeiro efeito, possibilitando o exercício pleno da cidadania, enquanto direito primordial de todo cidadão. Desse modo, a pura e simples implementação do sistema de reserva de cotas universitárias não resultará em êxito de inclusão social, senão quando o ensino público for tratado como questão precípua, onde impera a qualidade, coroando a garantia disciplinada na Carta Maior. MAGGIE, Y. In TAKAHASHI, F.; CALGARO, F. Sobra vaga para cotista nas universidades. Folha de São Paulo, Caderno Ribeirão, C4. 19 mar. 2007. MAIA apud CANOTILHO, 1991. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. ARAUJO, L. A. D.; NUNES JR., V. S. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006. BASTOS, C. R. Curso de direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BONAVIDES, P. 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