HISTÓRIA EM QUADRINHO: ARTE, EDUCAÇÃO

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HISTÓRIA EM QUADRINHO: ARTE, EDUCAÇÃO
HISTÓRIA EM QUADRINHO: ARTE, EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E
CULTURA
GOES, Louisa Cristina1
RIBEIRO, Nicole Kowal1
HOFFMANN, Dayane Gaio 2
RESUMO: O presente artigo tem o intuito de analisar a História em Quadrinhos, sob a
perspectiva multifacetada da abordagem sociológica, bem como analisá-la sob o viés da
cultura, do texto, signo e linguagem, pautando-se nos conhecimentos acerca da sintaxe
visual. Pretende-se com tal análise desconstruir a visão marginalizada da História em
Quadrinhos no contexto social atuantenesse contexto. Com um enfoque social, explicarse-à como a linguagem visual e escrita interagem no gênero hibrido das HQs. Tais
análises serão feitas com base em leituras de textos numa revisão bibliográfica e
posteriormente, aplicando os conceitos abordados de forma geral e introdutória,
analisando uma página de um mangá e de um HQ americano.
PALAVRAS-CHAVE: História em Quadrinho; Linguagem; Sociedade; Arte; Sintaxe
Visual
1 INTRODUÇÃO
O artigo apresentado refere-se à importância das histórias em quadrinhos na
sociedade e a marginalização desse objeto semiótico. Tal tema foi delimitado a partir da
constatação de que em nossa sociedade a História em Quadrinho não recebe o
reconhecimento devido. A importância desse artigo encontra-se justamente no fato de
que, a história em quadrinhos é marginalizada pela academia, porém, as possibilidades
de aprendizagem que as HQs proporcionam, em diversos níveis, é grande. Todavia, os
que dessa fonte gostam ou gostariam de usufruir, acabam sendo prejudicados, pois não
tendo contato e a base necessária para a fruição do gênero gráfico, não conseguem
pensar em expressar-sepor esse meio e tampouco contemplá-lo na sua forma mais
completa.
Seu valor não se encontra apenas no sentido literário e/ou da arte plástica, mas
na sua importância abrange um sentido pedagógico uma vez que é interdisciplinar o que
1
Acadêmicas do Curso de Licenciatura em Artes da UNIVEL – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas
de Cascavel.
2
Mestre em Metodologia Científica. Professor do Curso de Licenciatura em Artes da UNIVEL –
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel.
1
se justifica por também abarcar sentidos sociais, históricos, culturais e
ideológicos.
Delimitamos para os objetivos: desconstruir a visão preconceituosa em relação à
historia em quadrinhos; Relacionar as HQs com as diversas áreas, desde o texto, à
cultura, sociologia e sintaxe visual; Desconstruir a visão elitizada da linguagem escrita,
demonstrando que esta está equiparada à linguagem visual; Demonstrar como
linguagem Visual e Escrita coexistem e se relacionam na Historia em Quadrinhos.
A metodologia utilizada, por sua vez, consiste na revisão bibliográfica e análise
descritiva, com base na teoria mencionada, de um mangá e um HQ americano.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A história em quadrinhos e a sociedade
A sociedade contemporânea e seus componentes, como o conhecimento, é
organizada de forma fragmentada e dicotomizada em uma estrutura maniqueísta de
juízos de valor que, como diz Ken Robinson, estabelece, ainda no processo educacional,
certa hierarquia, na qual a razão instrumental materializada na matemática e nas línguas,
habilidades estas desenvolvidas no lado esquerdo do cérebro, se destaca, em detrimento
das artes, atendendo assim ao modo de produção capitalista, industrial, imperante desde
o século XIX.
Um exemplo do caráter fragmentado de nossa sociedade, que impregna em sua
divisão hierarquias, é a invenção e aplicação do teste de QI, o qual pretendia por uma
série de aplicações lógicas matemáticas, pelo calculo de um único número expressar a
inteligência do sujeito. Embora o teste seja, nos dias atuais, entendido como insuficiente
e unilateral, admitindo-se novas teorias que quebram paradigmas como a teoria das
Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985), que estabelece ao menos sete
diferentes tipos de inteligências, caracterizadas pela “habilidade para resolver problemas
ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.” (Gama,
2000) ou ainda como o já citado Ken Robinson que afirma que a criatividade é tão
importante para o indivíduo quanto à alfabetização, a fragmentação permanece.
2
As inovações na área e desconstrução de preconceitos estão dando seus
primeiros passos, contudo a grande população mantém os velhos moldes empregados
pela era industrial. Muitos são os exemplos de como essas divisões acontecem, todavia,
há uma em especial, que compartilha dos preconceitos em diversos níveis, ainda que sua
manifestação ocorra tanto no âmbito do fazer artístico (produção semiótica), quanto se
enquadram no estudo das Linguagens, códigos e suas tecnologias.
Os Comics, Mangás, enfim, Histórias em Quadrinhos de todas as espécies, que
compartilham de elementos visuais e escritos, numa linguagem não só complexa, como
completa, segundo Nilson Viana “são consideradas como tema infantil, juvenil, não
muito sério. São menosprezadas por muitos, que as consideram uma espécie de cultura
inferior. Seu "público" é considerado a "massa", que seria amorfa, acrítica, infantil. Sem
dúvida, este preconceito tem razões e também conseqüências sociais. A desvalorização
das HQ é realizada a partir de uma visão elitista e racionalista.”
Ou seja, tida como cultura underground, a historia em quadrinhos é
discriminada, tanto pelos estudiosos da língua, quanto pelas artes, além de não só ser
deixada de lado pela escola, mas também ser estigmatizada e seu público estereotipado.
Por ser, porém, um objeto cultural que permite, assim como todo texto comunicar, e que
„‟tem caráter histórico, não no sentido de que narra fatos históricos, mas no que revela
os idéias as concepções de um grupo social numa determinada época. ”(SAVIOLI,
2006)que nos permite reflexões profundas em relação ao fato de que “Sob as palavras
de um discurso, há outras palavras, outro discurso, outro ponto de vista
social.”(SAVIOLI, 2006).Os HQ‟s dispõem não somente de um caráter extremamente
interdisciplinar e harmonico entre duas linguagens distintas, como também pode
apresentar cunho Histórico, Filosófico e Sociológico, como sugere Viana, quando
menciona uma “ Sociologia das histórias em quadrinhos, considerada uma subdivisão
da Sociologia da comunicação ou da Sociologia da arte (para aqueles que consideram os
quadrinhos como sendo arte)”.
É empírico que se desconstrua a o “esoterismo” que envolve a História em
Quadrinhos para que o conhecimento que essas carregam em seu bojo seja
democratizado.
2.2 A questão cultural
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Um dos argumentos mais utilizados em senso comum, para marginalizar e abolir
dos espaços acadêmicos a expressão por meio das HQs, ou que faz com que esse rico
gênero seja utilizado apenas como pretexto dentro dos templos do saber, é que estas por
não obedecerem a “cânones elevados” não seriam ditos como Cultas.
A afirmação dita anteriormente
carrega uma série de incoerências,
primeiramente, pela dicotomia “culta” versus “inculto”, revelando novamente o
discurso valorativo dessas afirmações. Outra incoerência é a de que, as HQs não
obedecem a cânones elevados. De fato, sendo uma obra hibrida as histórias em
quadrinhos não tem a possibilidade de enquadrar-se nos grandes movimentos da história
da literatura e da arte. Sendo assim, ainda que possa se aproximar por traços estilísticos
de composição visual e/ou escrita de um ou outro movimento, a HQ não se limita a eles
e tem ainda suas próprias formas de diálogo visual/escrito com o receptor, como quando
assumem o traço do mangá, do carton, impregnam a escrita com efeitos visuais,
transformando-a também em elemento visual, e/ou associam linguagem visual e escrita
de tal maneira que, caso dissociadas, torna-se impossível recuperar seu sentido.
Finalmente, a afirmação de que as histórias em quadrinho são “incultas” nos
possibilita recuperar que, elas estão desprovidas de cultura. Isso mostra quão superficial
e unilateral são as análises sob a questão cultural das obras. Para melhor compreender a
superficialidade dessas ultima colocação e para firmar os conceitos sobre os quais nos
referiremos à cultura quando falarmos sobre as HQs, tomaremos por base o texto
“Micropolíticas, Cartografias do Desejo”, no qual Felix (1996) apresenta três fases
consecutivas do entendimento de cultura na história e portanto três ângulos sobre os
quais podemos entender as historias em quadrinho:
Primeiramente o autor refere-se aA cultura-valor, ou seja, aquela Cultura que
produz julgamentos de valor, onde a antítese se dá pelo que é culto (tem cultura,
portanto é bom) e pelo que é inculto (não tem cultura, logo é mau) e advem do conceito
de trabalho intelectual. Pressupõe um modelo social de segmentação e diz respeito à
época em que a nobreza ainda era a classe dominante. Sendo assim, a visão colocada
anteriormente, encarna essa ideologia de cultura, que, como visto, não é a única, mas
sim a mais antiga. Nesse sentido a História em Quadrinho, enquanto fruto de um
elaborado trabalho intelectual, só não é aceito, primeiro, pois não é bem aceito dentre a
parcela mais rica da sociedade, que dita os valores e principalmente, porque sua
bagagem intelectual ainda não foi explorada.
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Em seguida, Felix (1996) se refere acultura-alma, que transmite um valor mais
democrático, uma vez que associa-se à idéia de civilização, sendo assim, cada
civilização tem sua cultura e portanto tudo que é produzido dentro de uma civilização
(grupo) é cultura, ou seja, todos possuem cultura, basta pertencer a um grupo. Bem
como a primeira, a segmentação e a nobreza são características dessa fase.Logo
entendemos que, sendo produzida em uma civilização e dizendo respeito à ela, trazendo
costumes, valores e crenças do contexto social no qual foi elaborada, a historia em
quadrinho é sim culta, e pode ainda representar e disseminar a cultura de tal civilização,
como ocorre nos Mangás, de origem japonesa.
Por ultimo a Cultura-mercadoria é explicada. Nesta não há nem julgamento de
valor nem o conceito de civilização, a cultura seria todos os bens produzidos pelo
homem e bastaria trocá-la como se fosse uma mercadoria, para tomar posse dela. Nesta
visão, mais recente, onde a burguesia é a classe dominante diz-se supostamente mais
democrática, ou ao menos sem o antigo juízo de valor, muito embora ainda se baseie em
processos etnocêntricos, mascarados por um policentrismo, porém características dos
outros dois níveis continuam a influenciar este ultimo nível. Podem-se produzir e
comprar os HQs eles são mercadoria, logo, na lógica da ultima conceituação de Felix
quanto a Cultura, os HQs, enquanto objetos semióticos, carregam sim valor cultural.
Partindo da análise do texto entendemos também que não podemos refutar nenhuma das
conceituações de cultura e suas conseqüências sobre a visão nas HQs, ainda que neste
artigo haja ênfase nas duas ultimas definições.
2.3 A linguagem, o signo e o texto
Como diz Santaella (2000) é visto que “Somos humanos porque somos
simbólicos”. Dessa forma, a história em quadrinhos, enquanto signo e, portanto
carregada de significados, humaniza o homem modificando-o, num processo dialético,
no qual ao criar a História em Quadrinhos o homem reflete sobre si mesmo e a sua
sociedade, levando-se em consideração de que esse é um processo artístico e que “a arte
exprime sempre o imaginário de sua época” (LEMOS, 2004). A HQ ao ser transportado
à sociedade e consumida é resignificada interferindo assim na sociedade e por
conseguinte, no homem, pois é objeto, ou seja, signo,uma vez que “A ação do signo,
que é a ação de ser interpretado, apresenta com perfeição o movimento autogerativo,
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pois ser interpretado é gerar um outro signo que gerará outro signo, e assim
infinitamente.”
Sendo uma obra hibrida a história em quadrinhos configura-se como linguagem
única, levando em consideração que “As linguagens – cada qual com sua materialidade
e suporte próprios” segundo Santaella (2000) compõe uma diversidade semióticae com
isso afirma que é tempo de desfazer a visão preconceituosa, pobre e estreita de que
signo é equivalente a signo lingüístico. Sendo que para conceituar a linguagem,
podemos nos referir ao texto de Fiorin onde afirma que:
“Saussure considerou a linguagem "heteroclita e multifacetada", pois abrange
vários domínios, é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, pertence ao domínio
individual e social; "Não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos,
pois não se sabe como inferir sua unidade" (1969, p. 17)”(FIORIN, 2010, p. 14)
Nesse sentido Saussure aponta que a língua é apenas uma parte do todo, assim
como na própria historia em quadrinho. Também é importante ressaltar o que o lingüista
diz a respeito do domínio individual e social da linguagem. Sendo linguagem a história
em quadrinho influencia tanto no indivíduo, produtor e consumidor, quanto na
sociedade, sendo então ativo e importante fator dentro dela.
Enquanto o signo lingüístico caracteriza-se por uma unidade composta de
conteúdo, juntamente com uma expressão, dada por sons, que o veicula, o Signo
propriamente dito, em sua forma mais geral seria, segundo Lucia Santaella a própria
vida, “afinal, não há, de modo algum, comunicação, interação, projeção, previsão,
compreensão etc. sem signos” (SANTAELLA, 2000) Com isso, os signos lingüísticos e
visuais expressos na história em quadrinho unem-se e complementam-se, não podem
existir individualmente, formam um único texto, um único signo e dialeticamente
fundem-se tomando o mesmo valor.
Partindo desse pressupostos, podemos afirmar que a historia em quadrinhos
caracteriza-se em especial, como texto, uma vez que este é um todo organizado de
sentido,em uma determinada situação. As partes desse todo, seriam contudo outros
textos, que se contextualizariam, suprindo as lacunas deixadas um pelo outro. Seriam
essas partes a linguagem verbal, ou seja, a unidade lingüística concreta, reconhecida
como língua, no caso escrita, lançando mão da palavra. Nesse caso o seu contexto será
implícito, expresso pelo que não está verbalizado, ou seja, pela segunda parte do todo,
ao qual serve de contexto: a linguagem não-verbal. Esta, que pode ser entendida como
toda linguagem que não utiliza-se da palavra, mas sim de simbologias, mais
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especificamente, na história em quadrinhos, representada nos aspectos visuais, tanto de
cor, luz, sombra, e outros elementos da sintaxe visual que serão registradas a seguir,
como na representação, nos personagens, de gestos, expressões faciais, postura do
corpo, etc.
No livro “ Ida ao Teatro” de Ingridi Koudela (2011), a autora aponta para uma
visão mais distinta, porem também válida sobre a Linguagem verbal e visual. Segundo
essa visão, existiriam um método discursivo, que se pautaria na mediação da informação
por meio da linguagem verbal, valorizando o cognitivo racional e, portanto o mais
presente em nossa sociedade e, por outro lado, o Método apresentativo, mais lúdico e
criativo, visando uma aprendizagem associativa e emocinal. Koudela menciona ainda
que, enquanto o primeiro método seria exterior ao sujeito o segundo seria mais direto,
lançando Mao da função simbólica, que não é pré-racionla, mas sim pré-racioncinativa,
e portanto, anterior a generalizações ou silogismos, mas elaboração de símbolos, num
processo natural, “A combinação das duas abordagens metodológicas permite que o
aluno espectador se ocupe intensivamente e com todos os sentidos na sua relação com o
evento espetacular, tornando-se capaz de refletir sobre a experiência sensível”.o que
facilita a apredizagem, em especial da criança e que, no que se refere à história em
quadrinhos, se dá pela presença da imagem, que não é pura ilustração, mas da apoio ao
que esta escrito e, facilitando dessa forma o acesso cognitivo, faz com que a criança
tenha preferência por esta à outros tipos de texto, culminando, infelizmente na
banalização da linguagem dos quadrinhos, uma vez que esse segundo método conforme
se avança na idade, e em detrimento do método discursivo, é deixado de lado e não mais
se desenvolve. Muito embora , como cita Koudera “Langer estabelece uma diferença
entre o símbolo discursivo e o símbolo apresentativo. Segundo ela, onde quer que um
símbolo opere existe significado e o reconhecimento do apresentativoamplia a
concepção de racionalidade para além das fronteiras comumente aceitas (Langer,
1971)” (KOUDELA).
2.4 Sintaxe visual
O enfoque agora é na Linguagem Visual propriamente dita, que, como já foi
dita, é deixada de lado pela academia e pouco desenvolvia, a não ser por meios
alternativos. Para isso, utilizaremos como base o livro “Sintaxe da Linguagem Visual”
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de Donis A. Dondis, porém, tratando os conceitos de forma introdutória, para que o
leitor tome conhecimento da existência de tal material.
Primeiramente, devemos ressaltar que, como diz Dondis, não existe uma
solução, que engesse essa linguagem, porém, ela pode sim ser entendida como meio de
comunicação, e assim, bem como a linguagem verbal, ela deve ser desenvolvida, ou
seja, da mesma forma como um alfabestimos verbal é ensinado, dever-se-ia implantar
nas escolas um alfabestismo visual, para que todos pudessem fruir dos seus sentidos.
“a expressão visual significa muitas coisas, em muitas circunstâncias para muitas
pessoas. É produto de uma inteligência humana de enorme complexidade, da qual temos
infelizmente uma compreensão muito rudimentar.”(DONDIS, 2007)
Dessa forma, Dondis aponta para a existência de uma linguagem visual, o que se
relaciona com a já mencionada teoria das varias inteligências de Gardner.
Nesse
sentido, a história em quadrinhos, é um veiculo de comunicação, bem como estimula
em seu leitor, tanto a inteligência verbal, quando visual. Por sua marginalização, porém,
o sujeito ao deparar-se com esse tipo de linguagem pode encontrar dificuldade em
interpretá-la e não conseguindo extrair seus significados, acaba por ignorá-los,
reforçando o preconceito sobre esse meio de comunicação. Isso porque “aceitamos a
capacidade de ver da mesma maneira como a vivenciamos – sem esforço” (DONDIS,
2007)
Dessa forma sabemos que ao ver, “(...)vivenciamos o que esta acontecendo de
maniera direta, descobrimos algo que nunca havíamos percebido, talvez nem mesmo
visto, conscietiza-mo-nos, atraves de uma serie de experienciasviausi, de algo que
acabamoos por reconhecer e saber, e percebemos o desenvolvimento de transformações
travas da observação paciente.(...) Ver passou a significar compreender.” (DONDIS,
2007) Ou seja, quanto mais vemos e interpretamos o que vemos, mais aprendemos e até
mesmo criamos imagens visuais. Logo quanto mais abrangentes forem nossos
conhecimentos, maiores serão nossas interpretações e aprendizagem e logo mais
poderemos criar. Da mesma forma, ao vermos e interpretarmos e lermos a realidade que
se apresenta para nós em forma de Historia em Quadrinho aprendemos com o que está
sendo exposto, tanto no que diz respeito a conteúdos acadêmicos, se o quadrinho em
especial tratar desses assuntos, quanto em relação a conhecimentos sociais, de valores e
comportamento. Assim o HQ se aproxima do real em sua própria maneira de ser, ou
pode, para expressar tal realidade, lançar mão do abstracionismo puro.
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Na aplicação das idéias de Savioli as interpretações que a leitura do HQ vão
produzir, são, porém delimitadas, como no pelo estudo que o sujeito tem nas linguagens
verbal e visual, bem como o significado dado dependerá de critérios subjetivos do
sujeito, sendo que “O texto pode ter várias leituras, bem, como pode jogar com leituras
distintas para criar efeitos humorísticos. Entretanto, o leitor não pode atribuir-lhe o
sentido que bem entender.”(SAVIOLI, 2006.)
Dessa forma, apesar da sintaxe visual existir, ela não é rígida como a sintaxe
gramatical, mas apenas estabelece linhas gerais que nortearão a intrepretação, que ficará
ao encargo do indivído. Tal interpretação pode ser ampliada pelo estudo, prática de
leitura visual e contato com obras que requisitem tal leitura, o que, no caso das historias
em quadrinhos, é cortado pela academia assim que a criança adquire certa fluência na
leitura.
As linhas gerais propostas por essa sintaxe visual, dizem respeito ao: ponto,
linha, forma, direção, tom, cor, textura, proporç]ao, dimensão, movimento, ousadia,
simetria, reiteração e ênfase. Estes são elementos visuais básicos, que propiciam
estratégias e opções de técnicas visuais, que acarretam implicações psicológicas e
fisiológicas da composição criativa.
2.5 Algumas análises
Com o embasamento teórico passado anteriormente, podemos agora fazer com
que tenhamos uma compreensão mais aprofundada sobre tal. Para que isso ocorra,
vamos usar análises das obras “Sin City” de Frank Miller e “Naruto” de Masashi
Kishimoto. Essas obras possuem temáticas diferentes e traços/estilos distintos, porem
mesmo com toda essa diferença, elas apresentam características iguais, e técnicas de
abordagem semelhantes.
Como é de conhecimento popular, as Histórias em Quadrinhos tendem a ser de
cunho fantasioso, passado em forma de narrativa. Os gibis, “[...], que significa
"moleque", e foi o nome da primeira Revista em Quadrinhos lançada no Brasil.”(Viana,
2010), tem como principal característica a sequência de quadrados ilustrando diversas
cenas, esses quadrados podem ou não possuir falas ou narrações, pois as próprias
imagens podem transmitir uma idéia, desde que, aseja elaborada de forma com que o
leitor possa ter um entendimento. “Nas histórias em quadrinhos, encontramos com
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freqüência exemplos de narrativas exclusivamente visuais, construídas por meio de
imagens sucessivas de uma ação das personagens.”(Savioli &Fiorin, 2006)
2.5.1 Análise de Naruto
Na página anexada do mangá Naruto, feito por MasashiKishimoto mostra o
encontro do personagem principal da trama (Naruto Uzumaki) com sua mãe
(KushinaUzumaki) pela primeira vez. No primeiro quadrinho é apresentada a fala, “há,
há... já comecei dando cascudos... desculpa...” a personagem se refere ao ato de ter
batido na cabeça de Naruto, e é possível ver que a mesma se arrepende de ter feito isso,
assim ficando sem jeito. Assim, como parte de nosso conhecimento de mundo, podemos
assimilar isso como uma demonstração de um típico comportamento humano, ainda
mais comum por parte das mães, que se arrependem rapidamente após fazer algo que
julgam ter sido equivocado. No mesmo quadrinho é visível a incompreensão do
protagonista por parte da situação quando em seu balão está somente apresentado uma
sequência de pontos finais na horizontal, usado neste formato por influencia da escrita
japonesa; que ocorre horizontalmente de cima para baixo; e por conta de espaço. Assim
podendo se ter a leitura de que ele estava confuso e sem um tipo de pensamento lógico.
A linguagem visual materializada na representação da expressão confusa do
personagem reforça essa idéia, já que seu corpo está ligeiramente
No segundo quadro vemos uma explicação por meio de breves comentários
quanto à razão de ela ter dado o “cascudo” no jovem, assim falando um pouco de seu
passado, “Eu sou assim, meio agitada, desde que nasci. Por isso, acabei pegando umas
manias ruins... Eu tento não falar gíria, mas, quando fico nervosa, sai sem querer...”. É
observado pela arte do autor, que a mulher está sem jeito com a situação em que se
encontra. Ao falar como se portava quando ainda estava viva. Podemos fazer a leitura
de que, como uma mãe, ela tem vergonha por admitir ao seu filho que se portava de
maneira que não é adequada por parte de uma responsável por um bebê.
Em seguida no terceiro quadro, percebemos uma preocupação quanto ao
comportamento que poderia ter sido herdado por seu filho. “E você? Tomara que não
tenha puxado esse lado meu...”. Essa questão quanto hereditariedade é muito usada em
casos familiares, como meios fáceis de explicar certos comportamentospor parte dos
mais novos, assim temos aquela isão de que o filho ira continuar com uma parcela da
personalidade de seus pais.
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No quarto quadrinho é visto o novamente que Naruto está confuso. Porém dessa
vez, não temos somente a visão de sua incompreensão por meio dos pontos finais
sequencias, como também temos acesso a ao desenho. A expressão dele é de espanto,
porema partir desse ponto, é visível que o protagonista começa a ter entendimento
quanto a sua situação.
No quinto quadro finalmente ocorre a fala de Naruto, ao indagar o que realmente
ela estava falando, como se estivesse faltando uma peça importante para a solução desse
quebra cabeça. “Como assim?”. Kushina responde, e já ciente de que anteriormente o
pai de Naruto não havia contado toda a verdade, ela reclama dos homens em geral. “O
Minato não te avisou de nada, né? Esses homens viu...”. Podemos associar isso com um
julgamento feito por parte da mulher quanto ao homem. É visto que ela fica chateada
por causa do descaso em explicar o julgado importante por ela.
O sexto quadrinho é apenas representado com a imagem da metade do rosto do
protagonista, o qual esta com o queixo franzido e os lábios comprimidos. Isso indica o
movimento anterior ao inicio do choro, aonde com toda a descarga de sentimentos o
personagem demonstra fisicamente a sua emoção quanto aquele momento.
No ultimo quadro desenhado nesta página temos a mãe e uma fala incompleta.
Ela aparenta estar extremamente contente quanto à situação, já que Naruto pode
finalmente ter entendido e conhecido aquela pessoa estranha que apareceu em seu
subconsciente. “Isso mesmo, eu sou a sua...” (Naruto, 2012). Mesmo com a frase
inacabada de Kushina, podemos fazer a leitura de que ela se referia a ser a mãe do
protagonista.
2.5.2 Análise de Sin City
Sin City é um HQ criado por Frank Miller, que possui como temática: o
erotismo e a violência. No anexo apresentado a baixo, a pagina selecionada possui
apenas dois quadros e é narrado em primeira pessoa pelo próprio personagem principal
(Marv). Marv é um típico anti-heroi. Sofre de um distúrbio mental, fazendo-o sofrer
alucinações. É um homem violento que trabalha prestando serviços sujos.
No primeiro quadro, é apresentado, somente a sombra do corpo de Marv, que em
primeira pessoa narra, “A noite é quente como o inferno. Gruda no corpo. Um quarto
nojento na parte nojenta da cidade nojenta. O ar condicionado, uma tralha barulhenta.
Não consegue gelar um drinque colocado sobre ele.” (Sin City, 1996). Percebemos que
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ele se encontra no verão, isso se da por meio a descrição da sensação e a indignação que
o ar-condicionado não funcionar como deveria.
Já no segundo quadro temos a imagem real da situação, onde o personagem
principal está acompanhado de uma mulher seminua. E logo o foco da narração dele
muda. “Tô contemplando uma deusa. Ela ta dizendo que me deseja. E parece que ta
falando sério mesmo. Não vou gastar mais um segundo sequer me perguntando como
dei tanta sorte.”(Sin City, 1996). A narração tomou um rumo diferente quando ele viu a
sua acompanhante, assim mostrando um ponto fraco por parte do sexo masculino, que
como conhecimento popular, alguns homens podem ser facilmente influenciados
quando se trata de uma mulher com aparência física atraente. Com isso, nosso antiherouesquece do calor, posto por ele “infernal” e se concentra na jovem a sua frente.
3 METODOLOGIA
Este artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza Básica, e de cunho
interpretativista. A abordagem do problema foi de ordem qualitativa. Utilizamos, como
principais fontes teóricas, livros e a artigos impressos e digitais. E nos respaldando dos
conceitos teóricos acima expostos realizamos as análises aqui apresentadas
4 CONCLUSÃO
Assim, principalmente pela evidenciação de que, a linguagem visual é tão
significativa, se não mais, pois abre um leque maior de possíveis interpretações, quanto
a linguagem escrita, que como já sabemos, tem uma posição privilegiada em nossa
sociedade, afirmamos que sim, a história em quadrinho tem um valor intelectual
relevante, uma vez que carrega não só uma das linguagens, mas ambas, produzindo
significados visuais e verbais, com maior ênfase em um ou outro dependendo da
situcionalidade, bem como integrantes um do outro, não podendo desvencilhar-se uma
vez juntos na página do HQ, visto que a linguagem escrita não comporta apenas uma
descrição e tampouco a visual, apenas uma ilustração. Nesse valor intelectual o
quadrinho inclui ainda, o que é deixado de lado na academia e desenvolve inteligências
que são comumente deixadas de lado, ainda que sejam tão importantes quanto às outras.
Logo, como diz a Sociologia do Quadrinho, este possui também valor e
significado social, interferindo na sociedade através das suas diversas leituras. Essa
visão, da produção e da mensagem que os quadrinhos trazem em suas produções, bem
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como a análise dos leitores, que se inter relacionam criando, reforçando e destruindo
valores, concepções e sentimentos, que dizem respeito aos seus contextos sociais,
produtores, portanto de cultura em seus mais diversos níveis.
Sendo assim, é necessário que o leitor, para que consiga apreender de forma
adequada todo o sentido do texto, da historia em quadrinhos, deve apoderar-se não
somente da sintaxe gramatical, desenvolvidas nas escolas, mas de uma sintaxe visual,
pouco desenvolvida, porem essencial. Quanto maior o nível de conhecimento a respeito
dessa segunda sintaxe proposta, ele poderá não só resignificar a hsitoria em quadrinhos
mais abrangentemente e entendendo-a passar a dar-lhe mais valor, como também pode
criar tal objeto semiótico, produzindo assim cultura. Porém é necessário ressaltar que, o
quadrinho tem sua própria linguagem visual, carregada de significados, que irão variar
em decorrência do contexto histórico e social.
5 BIBLIOGRAFIA
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Petrópolis: Vozes, 1996.
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FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingutística Vol. I. Objetos teóricos. São
Paulo: Contexto, 2010
MILLER, Frank. SIN CITY. São Paulo, 1996
KISHIMOTO, Masashi. Naruto. São Paulo, 2012
13
ANEXO 1
Naruto – MasashiKishimoto
14
ANEXO 2
Sin City – Frank Miller
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