revista aeroespacial

Transcrição

revista aeroespacial
REVISTA AEROESPACIAL
N.º
Semestral | Abril 2013
5
AIR
CARGO
CHALLENGE 13
DESIGN, BUILD AND FLY...
Empresas em Portugal
CEIIA
Portugália Airlines
Proespaço
MEAer e o IST
Semana Aeroespacial 2013
Desenvolvimento tecnológico
Viver em Marte a partir de 2023?
Ficha Técnica
Editorial
Por Samuel Franco
Título: Revista Aeroespacial
Edição: 5
Periodicidade: Semestral
Data Lançamento: 08 de Abril de 2013
Direcção Editorial: Samuel Franco
Equipa de redação: Ana Macedo, Diogo
Monteiro, Samuel Franco, Joaquim
Marques e Pedro Albuquerque
Edição gráfica: Samuel Franco
Colaboraram nesta edição: Ivo
Ferreira, Duarte Donas Boto, Duarte
Rondão, Ana Timóteo, Patrícia Marques
Ferreira, Ricardo Silva, Tomás Ferreira e
António Neto da Silva.
Propriedade: Secção Autónoma
Aeronáutica Aplicada (S3A); Pavilhão
da AEIST, Instituto Superior Técnico,
Avenida Rovisco Pais 1049-001 Lisboa,
Portugal, email: [email protected], site:
http://s3a.ist.utl.pt
Impressão: Sérgio Fernandes,
Unipessoal Lda
([email protected])
Distribuição gratuita
Patrocinadores
Novos desafios!
A Revista Aeroespacial tem sido um constante desafio para
esta equipa de redatores e colaboradores. O nosso principal
objetivo é melhorar o projeto a cada edição, procurando sempre
diversificar temas e levar conteúdos interessantes a todos os
nossos leitores.
Nesta edição da revista contámos com uma colaboração
especial da APAE e dos seus patrocinadores Proespaço, CEIIA
e PGA, e penso que não poderia ter surgido em melhor altura!
Com esta parceria ganhámos uma maior riqueza de conteúdos,
novos contactos e uma imagem renovada. Mas, acima de tudo,
ganhámos uma estrutura mais sólida e preparada para enfrentar
as propostas futuras.
Esta edição da revista segue em linha de rota com a
Semana Aeroespacial 2013 organizada pela APAE, onde poderão
consultar informações sobre este evento bem como artigos
sobre os respetivos patrocinadores. Claro está que a estrutura
anterior foi respeitada, pelo que poderás encontrar artigos desde
o passado MEAer até aos mais recentes desenvolvimentos
tecnológicos.
Não posso ainda deixar de fazer referência ao novo site
da S3A, criado para servir de suporte a todos os colaboradores
bem como meio de divulgação de trabalhos e projetos. Visitanos em http://s3a.ist.utl.pt.
O grupo da revista aeroespacial deseja a todos a
continuação de um ótimo semestre e de ótimos projetos.
ÍNDICE
MEAer e o IST
MEAer e Portugal
05 Semana Aeroespacial 2013
10 CEIIA - Damage tolerance
analysis of composite
laminates regarding different
production conditions
06 Air Cargo Challenge 2013
14 PGA - Portugália Airlines
04 Conhecendo a APAE
MEAer Extracurricular
12 Proespaço
16 Reportagem: visita à
Embraer Évora
MEAer e o Mundo
MEAer na 1ª Pessoa
08 Um “Supaero” a trabalhar
na ESA
18 Desenvolvimento
tecnológico: Há vida em...
Marte?
20 Aerobuzz
22 Sobrevoando o passado:
Missão Voyager
MEAer e Lazer
23 Cartoon Chicken Wings e
desafios
04 | MEAer e o IST
Conhecendo
a APAE
Texto Duarte Donas Boto
Fundada
em 1996, a Associação Portuguesa de
Aeronáutica e Espaço – APAE constitui o núcleo de alunos
de Engenharia Aeroespacial do Instituto Superior Técnico
da Universidade Técnica de Lisboa, estando aberta a todos
as pessoas interessadas na área aeronáutica e espacial,
desde jovens estudantes a professores e investigadores.
A sua missão primordial passa essencialmente
pela promoção e defesa dos interesses de todos os alunos
de Engenharia Aeroespacial em Portugal e no resto da
Europa, através do estudo e organização de diversas
atividades e projetos relacionados com a aeronáutica e o
espaço, aliados à cooperação e ao intercâmbio com outras
associações nacionais e internacionais.
Como representante do Técnico e da cidade
de Lisboa na EUROAVIA - European Association
of Aerospace Students, a APAE possui uma ligação
privilegiada com as melhores escolas de Engenharia
Aeroespacial da Europa. Com mais de 50 anos de história,
a EUROAVIA é hoje um importante veículo de ligação e
comunicação entre as várias associações de estudantes,
como a APAE, e as principais empresas europeias da área.
Além disso, a APAE é também a entidade criadora
e responsável do Air Cargo Challenge, uma competição
de engenharia universitária já com uma dimensão
internacional, que aposta grandemente na inovação e
no desenvolvimento de novas tecnologias aeronáuticas
aplicadas ao projeto e à construção de aeromodelos.
Ao longo da sua história, a Associação tem
desenvolvido uma intensa atividade junto dos alunos da
Faculdade, continuando a organizar inúmeras palestras,
conferências, simpósios e workshops.
Hoje em dia, as nossas principais iniciativas estão
relacionadas com a Semana Aeroespacial, em abril, e as
Jornadas de Engenharia Aeroespacial, em outubro, que
visam proporcionar um maior contacto entre os alunos
e as empresas. Paralelamente, temos ainda dois núcleos
plenamente operacionais - Núcleo de Rockets e Núcleo
de Arduino.
Se os teus interesses transcendem os livros e gostarias de
dar asas às tuas ideias e fazer parte deste grupo de alunos,
com grande espírito de trabalho e dinamismo, contactanos e torna-te colaborador da tua Associação!
www.apae.org.pt | www.facebook.com/APAE.Lisboa
A EUROAVIA é uma associação de estudantes de
Aeroespacial, que procura facilitar o contacto entre a
indústria e os alunos, bem como o intercâmbio entre as
diferentes culturas dos países membros.
Fundada em 1959, com apenas 6 universidades
de 4 países diferentes, a EUROAVIA tem vindo sempre
a crescer, contando hoje com quase 2 mil membros
provenientes de 37 universidades, divididas por 18
países, tendo relevância e sendo indubitavelmente
reconhecida pela indústria como séria, profissional e
digna representante dos estudantes.
Além de promover o contacto e a cooperação
entre a academia e a indústria, a EUROAVIA e as suas
Associações Filiadas (como é a APAE) promovem várias
ativdades, destacando-se os Workshops de Formação,
intercâmbios e dois
congressos
anuais
(EMEAC e AMAEC)
O EMEAC 2013,
em Bremen, será o
próximo evento da
EUROAVIA, sendo
de realçar que o
EMEAC 2011 foi
organizado
pela
APAE, no campus Alameda Instituto Superior Técnico.
www.euroavia.net
www.facebook.com/EuropeanAerospaceStudents
MEAer e o IST | 05
Texto Duarte Donas Boto
A
APAE - Associação Portuguesa de
Aeronáutica e Espaço tem o enorme prazer de apresentar
a Semana Aeroespacial 2013, que decorrerá de 8 a 12 de
abril, no campus Alameda do Instituto Superior Técnico
(IST).
Criada em 2003, e inserida no programa de
desenvolvimento de carreiras IST Career Weeks, a Semana
Aeroespacial do IST é organizada unicamente por alunos
e tem procurado sempre estabelecer-se como um evento
de referência, com especial foco na empregabilidade e
no estreitamento e fortalecimento das ligações entre e a
Faculdade e a indústria.
Nesta edição, contaremos com a presença de
várias empresas portuguesas de referência nos setores
aeronáutico e espacial, com reconhecido mérito em todo
o mundo, e também de vários núcleos de alunos do IST,
que exporão os seus trabalho e mostrarão aos futuros
Engenheiros o que de melhor se faz atualmente em
Portugal.
A Semana Aeroespacial é uma oportunidade única
de contactar diretamente com o mundo empresarial e de
investigação, estabelecendo desde já ligações profissionais
privilegiadas com algumas das melhores empresas do
setor com vista à inserção no mercado de trabalho após a
conclusão do curso.
O evento consistirá num conjunto variado de
atividades ao longo dos cindo dias:
• Palestras e apresentações das empresas e dos
núcleos de alunos, que terão lugar no anfiteatro do
Pavilhão Interdisciplinar;
• Feira de Emprego no dia 10 de abril (quartafeira), no átrio do Pavilhão Central, que contará
com a presença de diversas empresas e também de
núcleos de alunos e procura aproximar estudantes e
profissionais;
• Workshops de desenvolvimento de competências
complementares (lecionados pela Kelly Services,
PGA – Portugália Airlines e The Talent City) e
também workshop de micro-foguetões – Nível 1,
lecionados pelo Núcleo de Rockets da APAE;
• Lançamento de rockets e demonstração de voo
de aeronaves não tripuladas desenvolvidas pela S3A
– Secção Autónoma de Aeronáutica Aplicada, no dia
11 de abril (quinta-feira);
• Torneio de futebol e AeroChurrasco a encerrarem
a semana de atividades, e coincidindo com as
comemorações do Yuri Gagarin’s Night 2013.
Para mais informações sobre as actividades do evento e consultar o horário, o sítio oficial da Semana Aeroespacial é
www.sa.apae.org.pt. Aproveita! Contamos com a tua presença!
06 | MEAer Extracurricular
AIR
CARGO
CHALLENGE
13
Texto Diogo Monteiro (com a colaboração de Pedro Albuquerque e Ricardo Silva)
A maior competição europeia na área aeronáutica
para estudantes universitários está de volta e desta vez
realiza-se em Portugal, no próximo mês de agosto.
Como já vem sendo hábito o Instituto Superior Técnico
irá estar representado, sendo três as equipas com alunos
provenientes da maior escola de engenharia do país que
prometem lutar por uma boa classificação nesta reputada
competição.
O Air Cargo Challenge é uma competição
internacional que o ocorre de dois em dois anos, destinada à
comunidade académica na área das engenharias ou ciências
e tecnologias. O principal objetivo consiste em projetar
e construir uma aeronave rádio-controlada que consiga
voar com a maior carga possível, sempre de acordo com
as restrições definidas no regulamento de cada edição que
incluem normalmente limitações de potência no motor e
peso da aeronave, entre outras. A avaliação das equipas
não depende unicamente do voo que ocorre durante a
competição, mas também da qualidade técnica do projeto
avaliada com base no relatório de projeto e desenhos CAD.
A edição de 2013 será organizada pela associação
HERCULES Team
estudantil AeroUBI EUROAVIA COVILHÃ - Núcleo de
Engenharia Aeronáutica da Universidade da Beira Interior
(que venceu o ACC’11 em Estugarda, Alemanha) – e
conta com a participação de 31 equipas provenientes dos
mais diversos países: Portugal, Grécia, Bélgica, Hungria,
Républica Checa, Polónia, Turquia, Alemanha, Espanha,
Finlândia, Sérvia, Roménia, Egito, Brasil e China.
Este evento é uma excelente oportunidade para
os participantes testarem os conhecimentos adquiridos no
seu percurso académico e também desenvolverem outro
tipo de capacidades, nomeadamente trabalho de equipa,
técnicas de construção e cumprimento de exigentes
calendarizações. Em termos de historial o Técnico tem
contado pelo menos com uma equipa participante em cada
edição, tendo inclusivamente vencido a 2ª edição deste
evento com a equipa Ícaro, fruto de uma colaboração
com alunos da Universidade de Coimbra, na última
edição nacional da competição criada pela Associação
Portuguesa de Aeronáutica e Espaço (APAE) em 2003.
Fica agora a conhcecer as equipas que representarão a
nossa universidade neste importante acontecimento.
HERCULES Team
Esta equipa é formada exclusivamente por alunos
do 3º ano de Engenharia Aeroespacial e todos membros
da S3A, são eles: Lin Qi, Hugo Silva, Francisco Huhn,
Tiago Freire, Rafael Santos, Rui Diogo e Ricardo Silva.
Assumem-se como uma equipa bastante unida e exigente
com o seu trabalho. A aeronave projetada pela equipa
terá um formato convencional, composta essencialmente
por uma asa com elevada envergadura e uma fuselagem
residual. Esta configuração foi essencialmente desenhada
para bons desempenhos a baixas velocidades, criando
uma elevada sustentação. Revelam ainda que o principal
desafio tem sido criar uma estrutura que seja extremamente
forte e ao mesmo tempo leve. Face a este repto irão
apostar na utilização de materiais compósitos, como a
fibra de carbono. Tendo já toda a conceção finalizada
MEAer Extracurricular | 07
encontram-se de momento dedicados à construção, que
afirmam estar a decorrer a um bom ritmo. Como objetivo
na prova ambicionam ficar nos cinco primeiros mas não
escondem que trabalham a pensar no primeiro lugar.
Website
Oficial:
http://s3a.ist.utl.pt/~s3a.daemon/
projects/acc13-hercules-team
IST SKYCRUISERS
Outra equipa que representará a S3A e o
Instituto Superior Técnico são os IST SKYCRUISERS.
Composta por um grupo multidisplinar de alunos,
contado com estudantes de
Engenharia Aeroespacial e
Engenharia Eletrotécnica e
de Computadores, pretende
desenvolver uma aeronave
altamente
otimizada
e
que possa surpreender na
competição. Os membros
desta equipa são: Nuno
Mocho,
Eduardo
Silva,
Guilherme
Reis,
Iurie
Solomon, João Arteiro e
Diogo Monteiro. A equipa
tem desde a publicação dos
regulamentos
dedicado-se
quase exclusivamente à conceção da aeronave, sendo
que já passou por várias configurações. Neste momento
encontra-se em fase de finalização do projeto e pretende
ter todos os desenhos CAD terminados e dar início à
construção do protótipo durante o corrente mês.
Um dos principais focos de atenção da equipa
tem sido a parte estrutural, que acreditam ser um dos
aspetos de distinção nesta competição perante a alteração
de alguns regulamentos
face às edições anteriores. A
nível de materiais a aposta
recairá sobre a balsa com
reforços em fibra de carbono
e de vidro em algumas
zonas
critícas,
tentando
assim uma aeronave leve
mas robusta estruralmente.
A equipa prefere não definir
qualquer objetivo a nível
classificativo, reconhecendo
que a sua principal ambição
passa
por
conseguir
desenvolver o projeto com
sucesso e aproveitar o melhor que esta experiência pode
proporcionar.
Website Oficial: http://s3a.ist.utl.pt/~s3a.daemon/
projects/acc13-ist-skycruisers
Lusitânia Team
A LUSITÂNIA Team não representa
oficialmente qualquer instituição de ensino superior, mas
tem representantes do Instituto Superior Técnico (IST),
da Universidade Técnica de Delft (TUD), Universidade
Nova de Lisboa (UNL), Universidade da Beira Interior
(UBI) e do Instituto Superior da Maia (ISMAI) além de
elementos que trabalham ou
já trabalharam na indústria.
É sem dúvida a equipa
mais experiente das três
apresentadas sendo que vários
elementos já contam com
mais que uma participação em
edições anteriores do ACC.
Em relação à sua aeronave
poderá ser partilhado que terá
uma envergadura superior a 2.2m e um peso máximo à
descolagem (MTOW) acima dos 7Kg, caraterísticas estas
do protótipo da PASSAROLA Team, que representou a
S3A e o IST no ACC’11. É revelado ainda que terá uma
configuração convencional e cauda em T. Esta equipa
também irá apostar nos compósitos, nomeadamente fibra
de carbono e de vidro, complementando com a utilização
de balsa e contraplacado. De momento a equipa encontrase em preparativos para o inicio da construção durante o
mês de abril, ambicionando efectuar o primeiro voo até ao
final do mês. Como aspirações para a competição assumem
que o principal objetivo será
melhorar o resultado obtido
pela PASSAROLA Team
na Alemanha, ou seja, lutar
por um dos primeiros cinco
lugares. A equipa pretende
ainda projectar o nome das
instituições de onde os vários
elementos provêm mostrando
os bons resultados que se
podem obter através de colaborações a nível nacional.
Website Oficial: http://equipalusitania.apae.org.pt/pt/
team.html
08 | MEAer na 1ª Pessoa
Um “Supaero” a
trabalhar na ESA
O alumni Ivo Ferreira terminou o seu percurso académico em 2007, tendo realizado o seu primeiro
estágio na ESA como Portuguese Trainee. Damos-te a conhecer de seguida o trabalho desenvolvido
por este engenheiro numa das maiores empresas europeias.
Texto Joaquim Marques e Ivo Ferreira Fotos Ivo Ferreira
Revista Aeroespacial: Olá Ivo. Obrigado desde já pelo
tempo que nos dispensaste. Começávamos esta entrevista
por falar um pouco acerca da tua primeira “casa”: o que
destacas dos tempos de estudante de Aeroespacial no IST?
Ivo: Fui aluno do curso de Engenharia Aeroespacial no
IST entre 2002 e 2007, tendo estado nos últimos dois anos
(2005-07) na Supaero, em Toulouse, como estudante do
programa de duplo diploma. Do IST, destaco sobretudo a
qualidade da formação teórica e o foco na aprendizagem
do “processo de adaptação rápida a novos problemas sem
qualquer tipo de ajuda ou conhecimento anterior” (também
conhecido por engenharia). Algo que também me marcou
no curso de Aeroespacial foi a existência de um elevado
espírito de camaradagem, algo singular no contexto do IST.
Revista Aeroespacial: Como resumes a tua primeira experiência profissional logo após teres terminado o curso?
Ivo: Após terminar o meu percurso académico no IST (e
na Supaero), enveredei pela área espacial, a minha paixão
desde tenra idade. Realizei um estágio como Portuguese
Trainee na ESA (na Holanda – ESTEC). Trabalhei como
engenheiro de testes de motores de propulsão elétrica durante 18 meses. Desenvolvi procedimentos e testei motores
iónicos (GIE), motores a efeito Hall (HET), e motores a
efeito de campo (FEEP) para missões de demonstração
de tecnologia, observação, e ciência (LISA Pathfinder).
Revista Aeroespacial: Após esse primeiro contacto com o
mercado de trabalho, quais as tuas experiências seguintes?
Ivo: Durante a minha experiência na Holanda, desenvolvi
um interesse pela área de engenharia de sistemas (análise
do processo de desenvolvimento de sistemas complexos),
e decidi voltar ao percurso académico para realizar um
doutoramento. Realizei o meu doutoramento do programa
MIT Portugal na área EDAM (Engineering Design and
Advanced Manufacturing), destinada ao estudo das
áreas multidisciplinares emergentes da combinação
de engenharia de sistemas, economia e gestão. Para
além das atividades curriculares e de uma experiência
no MIT, a minha tese focou-se no desenvolvimento
de ferramentas de apoio à decisão e de visualização,
com o intuito de aumentar o desempenho no design
preliminar de missões espaciais em ambiente concorrente
(Concurrent Engineering - CE). Este tipo de ambiente
de design, consiste em realizar sessões intensivas de
desenvolvimento numa fase inicial do processo de design.
Durante estas sessões, os diferentes especialistas interagem
rapidamente, descobrindo e solucionando problemas
que poderiam custar imenso tempo e dinheiro se apenas
fossem descobertos em fases posteriores do processo de
design. Quanto mais complexo for o sistema em questão,
maior é o sucesso de CE, o que leva à sua introdução
recente em agências espaciais como a ESA, DLR, JAXA
e NASA ou empresas como a Boeing, EADS ou Thales.
Revista Aeroespacial: Fala-nos um pouco da tua situação
profissional atual.
Ivo: Após o doutoramento, surgiu uma oportunidade de
MEAer na 1ª Pessoa | 09
voltar à ESA para trabalhar no CDF (Concurrent Design
Facility), o laboratório onde o design em ambiente CE
ocorre no ESTEC. O meu cargo atual é o de System
Engineer e consiste em dirigir as sessões de design,
focando a atenção dos especialistas para os problemas
multidisciplinares, resolvendo conflitos de requisitos, e
estabelecendo compromissos tendo em conta os objetivos
a nível global. Em paralelo estou também envolvido no
desenvolvimento de um software para permitir uma
melhor transferência de informação entre subsistemas.
Revista Aeroespacial: Sabemos que estiveste a
apresentar um trabalho na conferência da ESA no IST em
outubro de 2012: fala-nos um pouco desse teu
trabalho e do balanço que fizeste no evento.
Ivo: Em outubro de 2012 realizou-se no IST a conferencia SECESA 2012 (5th International Workshop on Systems & Concurrent Engineering for Space Applications),
a conferencia de referência na Europa na area de CE e engenharia de sistemas aplicada a área espacial. O trabalho
que apresentei nesta conferencia foi um dos resultados do
meu Doutoramento, uma ferramenta multidisciplinar para
integrar os diferentes subsistemas durante a fase preliminar de design de maneira síncrona e eficiente. Focou-se
numa série de tecnologias de mapeamento e visualização
de informação que permitem aumentar a perceção do sistema e do seu processo de design sem requerer um conhecimento aprofundado de cada um dos seus subsistemas.
Trata-se de uma tarefa especialmente importante
quando falamos de sistemas espaciais, cujo processo
de design envolve centenas/milhares de pessoas com
conhecimentos em áreas altamente especializadas
da
Aerotermodinâmica
a
Mecânica
Orbital.
Mais concretamente, o meu trabalho mostrou o potencial
da aplicação na área espacial de redes neuronais para
acelerar o primeiro nível de decisões (determinação
de ordens de grandeza), e da visualização realtime de matrizes funcionais de decomposição do
sistema (Design Structure Matrix) representando os
diferentes subsistemas, as suas inter relações e níveis
de confiança dos parâmetros partilhados entre estes.
Revista Aeroespacial: Agora já no mercado de
trabalho e olhando para o teu percurso académico,
quão importante foram os ensinamentos que adquiriste
enquanto estudante de Aeroespacial no IST?
Ivo: Engenharia é uma área em constante
desenvolvimento que requer imensa adaptação a
conceitos novos todos os dias. Os problemas mudam
e tornam-se cada vez mais complexos. O IST ensinoume esta capacidade de adaptação que me tem permitido
focar em áreas tão diferentes como a modelação
de plasmas, ou o desenvolvimento de software.
Revista Aeroespacial: Que conselhos darias aos atuais
estudantes de engenharia Aeroespacial para se prepararem
para o mercado de trabalho e terem uma carreira de sucesso?
Ivo: No mercado do trabalho o valor apenas aumenta
quando a procura é maior que a oferta. Tornem-se especialistas em algo, de preferência naquilo que gostam.
10 | MEAer e Portugal
Damage tolerance analysis of
composite laminates regarding
different production conditions
T.Ferreira*,1, M.Freitas, L.Reis, L.Simões
Affiliation of First Author
Rua Eng. Frederico Ulrich 2650 TECMAIA, 4470-605 Moreira da Maia, Portugal
[email protected]
*
Abstract
Production
The annual growth of the composites demand by the
aerospace industry has turned them in some of the most relevant
and important in aircraft design. The high strength to weight
ratio compared to metals make them a valuable substitute for
metallic structural components. The quality requirements of
the aerospace industry have led to a dominant use of autoclaves
to produce composite components because of the low void
content that can be obtained, however, this process is also the
most expensive and the conditions inside the autoclave greatly
influence the properties of laminates. This project aims to study
the damage tolerance of composites regarding different pressures
in the autoclave. Mechanical tests of tension, compression and
bending were performed to determine the strength of the material
and a decrease in the composites strength was observed with
the decrease in pressure for all the tests. The materials were
also subjected to BVID[1] impact testing and the damage was
observed with C-scan imaging, being concluded that the lower the
pressure the more susceptible to damage was the laminate. The
high density of voids proved to be an obstacle to the penetration
of ultrasound waves. In addition, a finite element simulation
with Abaqus 6.10 was made to replicate the elastic and damage
response of a clamped plate subjected to a central load field. The
critical regions were identified by stress concentrations and a
relation was found with delamination.
The work contemplated the use of
carbon fibre plain weave prepreg with a phenolic
matrix. Laminate plates were produced with 12
plies and the stacking sequence:
[0, 45, 90, -45, 0, 45]S
The plies were stacked and intermediate
vacuum was used for the first 6 plies to suppress
most of the air bubbles trapped. The laminates
were inserted in an autoclave and subjected
to a heat cycle of 135ºC for 90 minutes and
150ºC for 50 minutes. As the influence of
the autoclaves’ pressure was the focus of the
project, two different pressures were used,
being the first laminate produced under 3 bar of
pressure plus vacuum and the second laminate
under atmospheric pressure (ooa) plus vacuum.
Specimens were cut for 4 types of mechanical
tests – tension, compression, bending and
impact. The visual inspection of the material
showed a clear increase in void density for the
lowest pressure as well as an increase in the
thickness of the laminate due to the trapped
resign.
1
Corresponding author
MEAer e Portugal | 11
Mechanical tests
To determine the influence of autoclave pressure
on the composites properties mechanical tests were
undertaken, such as tensile, compressive and bending
tests. For all these tests it was observed that laminate
2, cured at atmospheric pressure, was weaker than the
other laminate, see figure 1. The decrease in the elasticity
modulus was justified by the excess of resign in laminate
2, on the other hand, it was observed premature failure of
the lowest pressure laminate caused by delamination.
In addition, impact tests were performed to assess
the damage tolerance of the material. It was observed
more rigidity for the highest pressure laminate expressed
by higher loads, see figure 2. With the non-destructive
technique of C-Scan it was observed a circular damaged
region at the centre, not visible with naked eye. To
consolidate, CAI tests (compression after impact) were
performed and it was observed a considerable decrease
in the compressive strength with higher impact energies.
Figure 1 - Stress-Strain curve for tension.
Figure 2 - Maximum Load achieved during impact.
Finite elements simulation
A finite element static simulation was developed
using Abaqus 6.10 as an effort to replicate the load
distribution during impact. It was observed a round
deformation corresponding to the mechanical tests as
well as stress concentrations of compression and tension
in the central region, see figures 3 and 4. Finally, it was
used a delamination criteria between the plies interfaces
to determine damage initiation and propagation during
impact.
A quadratic tension and a Benzeggagh-Kenane
law was used for the damage criteria[3]. It was observed
a circular delamination corresponding to the stress
concentration region. However, the pure delamination
model proved to be incomplete because it does not
account for matrix cracking. It was then proved that the
incorporation of a matrix cracking criteria would improve
the models accuracy to reality.
Figure 3 - Deformed shape of the clamped plate.
Figure 4 - Stress distribution along the thickness.
Referências
[1] D. Gay, S. V. Hoa, and S. W. Tsai, Composite Materials Design and Applications, CRC Press, 2003.
[2] L.Reis, and M. De Freitas, Damage growth analysis of low velocity impacted composite panels, Composite Structures,
38, Nº1-4, pp. 509-5015 (1997).
[3] S. T. Pinho, Modelling failure of laminated composites using physically-based failure models, PhD Report, Imperial
College London, 2005.
12 | MEAer e Portugal
Texto António Neto da Silva
A PROESPAÇO foi criada em 2003, após
a adesão de Portugal à Agência Espacial
Europeia (ESA). A Associação tem um papel
integrador da Indústria Nacional, defendendo
os seus interesses, através de uma atividade
intensa junto da Administração Pública
e do Governo bem como das Entidades
Internacionais. Participa, como “player”
fundamental, na elaboração da Estratégia
Nacional para o Espaço e define a estratégia
de desenvolvimento industrial do setor.
Dado o carácter fortemente
institucional do mercado Espacial e a
dimensão relativamente pequena das
empresas do setor, a PROESPAÇO promove
todas as atividades relacionadas com o
Espaço, aglutina os esforços dos seus
Associados e representa-os nas negociações
com as Entidades Públicas e, quando
mandatada, também perante as empresas de
grande dimensão onde uma posição comum
permite defender melhor os interesses das
empresas.
Atualmente
a
PROESPAÇO
representa mais de 95% do volume de
contratação da indústria nacional, sendo
a única organização a representar os seus
interesses.
.
Fazem parte da PROESPAÇO
as empresas Active Space Technologies,
CriticalSoftware, Deimos Engenharia,
Edisoft, Efacec, Evoleo Technologies,
GMV, Fibersensing, HPS, Lusospace, Indra,
Novabase, Omnidea,Tekever a VisionSpace.
Podem integrar a PROESPAÇO
todas as empresas que estejam vocacionadas
para a produção ou prestação de serviços na
indústria espacial, nomeadamente no quadro
da ESA, da EUMETSAT e dos ProgramasQuadro da Comissão Europeia e da NASA.
Proespaço - Associação Portuguesa das Indústrias do Espaço
Direcção
António Neto da Silva – Presidente
António Rodrigues de Sousa – Vice-presidente
Alberto de Pedro Crespo – Tesoureiro
Ivo Vieira – Secretário
Pedro Moreira da Silva – Vogal
e-mail: [email protected]
Web: www.proespaco.pt
Morada:
Pólo Tecnológico de Lisboa, CID
Estrada do Paço do Lumiar
1600-546 Lisboa Portugal
MEAer e Portugal | 13
www.activespacetech.com
www.criticalsoftware.com
www.deimos.pt
www.edisoft.pt
www.efacec.pt
www.evoleotech.com
http://w3.fibersensing.com
www.gmv.com/pt
www.hps-lda.pt
www.indracompany.com
www.lusospace.com
www.novabase.pt
www.omnidea.net
www.tekever.com
http://visionspacetech.com
Texto Patrícia Marques Ferreira e Ana Timóteo Fotos PGA
A Portugália Airlines (PGA) foi criada em 1988, mas
só começou a operar em 1990. Inicialmente a Companhia
explorou rotas nacionais (Lisboa-Porto-Faro) e apenas
em 1992 iniciou a sua fase de internacionalização e
posterior expansão, tendo a companhia vindo a operar
rotas com destino em Espanha, Itália, França, Bélgica e
Reino Unido.
Desde
o
início a frota da PGA
foi
constituída
por
Fokker
MK0100.
Posteriormente,
para
além dos Fokker, a
Companhia passou a
operar também com
Embraer
ERJ145.
Atualmente a frota da
PGA é constituída por
14 aeronaves, sendo 6
Fokker MK0100 (com
capacidade para 97
passageiros) e 8 Embraer
ERJ145 (com capacidade
para 49 passageiros),
todas batizadas com
nomes de pássaros (de maior porte, no caso dos Fokker:
Albatroz, Condor, Flamingo, Gavião, Grifo, Pelicano;
mais pequenos no caso dos Embraer: Brigão, Chapim,
Cuco, Gaio, Melro, Pardal, Pisco, Rola).
A PGA impôs-se sempre, no mercado, como uma
transportadora guiada por elevados padrões de serviço.
A gestão eficaz e rigorosa, o empenho da sua equipa e
o compromisso de qualidade para com os passageiros
valeram-lhe o reconhecimento internacional, de que faz
prova a atribuição do título Melhor Companhia Aérea
Regional da Europa em 2001, 2002, 2003, 2004, 2005 e
2006 e o Prémio Best Cabin Staff da Europa, da Skytrax,
em 2005. Em 2007 a PGA integra
o Grupo TAP, tendo
assumido um novo
modelo de negócio e
passando a trabalhar,
dentro de uma lógica de
Grupo, como provedora
de capacidade de voo
através
do
aluguer
das aeronaves à TAP.
Assim, atualmente a
PGA posiciona-se no
mercado de aluguer de
aviões (ACMI (Aircraft,
Crew,
Maintenance,
Insurance)) assumindose como flight capacity
provider. Desempenha
funções de feeder-defeeder da rede TAP tendo a totalidade
da sua capacidade de voo alocada dentro do Grupo.
A aquisição da PGA veio reforçar a posição
competitiva da TAP com o aproveitamento de recursos
já existentes e de sinergias várias, traduzindo-se no
crescimento e melhor oferta no âmbito da rede do Grupo.
MEAer e Portugal | 15
Com a participação da PGA nas operações TAP, ganha
corpo o hub do Porto. Não obstante, PGA e TAP são
empresas independentes e autónomas, embora dentro do
mesmo Grupo (Grupo TAP).
A PGA é uma empresa jovem e dinâmica que
aposta muito na formação interna dos seus quadros para
manter a competitividade, eficiência e qualidade no serviço
prestado pela qual é reconhecida internacionalmente.
A Companhia pretende ser reconhecida no
mercado como a melhor Empresa de ACMI (distinguindose pela sua competitividade, qualidade e fiabilidade dos
serviços prestados) e acredita na criação de valor para
o Cliente, Acionistas e Colaboradores, através da oferta
de serviços de ACMI que respondam às expectativas
dos clientes, da exploração de novas oportunidades
de negócio e do envolvimento e desenvolvimento
profissional dos seus colaboradores.
16 | MEAer e Portugal
Reportagem:
Visita à Embraer Portugal SGPS, S.A.
Texto Ana Macedo
No passado dia 18 de fevereiro alguns alunos de MEAer
tiveram a oportunidade de visitar as novas instalações da
Embraer em Évora.
Constituindo uma das maiores empresas
aeroespaciais do mundo, a Embraer - Empresa Brasileira
de Aeronáutica S.A. é uma construtora de aviões
comerciais, executivos, militares e agrícolas, com sede
em S. Paulo, no Brasil. Criada pelo governo brasileiro
em 1969 de forma a implementar a indústria aeronáutica
no país, pretende hoje ser uma “Empresa Global”,
atuando nos quatro cantos do planeta e marcando uma
forte presença em alguns países.
Em 1943 foi quando surgiu a ideia. Um protótipo
desenvolvido pelo CTA – Centro Tecnológico de
Aeronáutica – o Bandeirante, que foi posto a voar em
1968, viria a dar asas à fundação da empresa no ano
seguinte. A Embraer tem o prestígio que tem por ter
investido na formação pelo ITA e CTA de Engenheiros
com capacidade para utilizar não só os conhecimentos de
engenharia adquiridos, como também a abordagem virada
para o negócio, aproveitando os recursos disponíveis de
maneira a criar produtos não apenas tecnologicamente
desenvolvidos mas também inovadores.
Esta empresa está em Portugal há 9 anos,
detendo 65% do capital da OGMA. Em 2008 anunciou
a construção de duas instalações - Embraer Compósitos
e Embraer Metálicas. O projeto é financiado pela
comunidade e os governos europeus. A Embraer apostou
na integração das redes de conhecimento europeias ao
aliar-se a empresas, universidades e projetos europeus. O
objetivo é tirar partido das vantagens aqui existentes e ao
mesmo tempo a geração de valor.
A viagem começou cedo e fomos bem recebidos.
Dirigimo-nos primeiramente à sala de reuniões do
pavilhão de administração, onde nos foi apresentada a
empresa e o seu posicionamento atual.
Seguidamente era altura de ficarmos a saber como tudo
funcionava.
Nestas unidades são feitas não apenas peças
grandes, mas também peças complexas e críticas, que
não podem ter falhas e por isso têm um certo nível
de exigência. São na sua maioria componentes que
poucas empresas no mundo têm capacidade de produzir
(e.g.: peças primárias de asas e estabilizadores, sendo
importadas as restantes componentes, mais simples,
para serem montadas nas que forem produzidas) e que
entrarão na estrutura final dos aviões da Embraer. Estas
instalações passaram então a ser cruciais na linha de
indústria inovadora da empresa, pois aqui encontram-se
processos que utilizam as tecnologias mais específicas.
Um dos motivos pelos quais as fábricas são
separadas é o facto de os processos de fabrico das
componentes em cada tipo de material diferir muito.
Por serem relativamente novas, as instalações
estão equipadas com máquinas específicas, algumas
únicas no mundo. Processos também alguns muito
raros, por ser necessário haver a capacidade de construir
sem ter que estar à espera que sejam fornecidas peças
complexas e utensílios raros. Neste momento, algumas
das máquinas estão prontas a trabalhar e outras a acabar
de serem montadas e testadas. Apesar do imenso espaço
(69 km2 no total), cada fábrica só poderá ter no máximo
150 pessoas.
Outra particularidade das fábricas é que a
montagem e acabamento das peças são realizados
exclusivamente com métodos automatizados.
Embraer Compósitos
Aqui, seguimos o fluxo de produção,
acompanhando o trajeto dos componentes, desde a área
de deposição das fibras (Ex: máquina ATL para peças
grandes e simples), passando pela inspeção a ultrassons
com água (varrimento das peças mais críticas), até à área
da pintura.
Reparámos nas marcas no chão. De fato, tanto
a segurança como a minimização do erro humano são
aspetos levados muito em conta. Para isso existem várias
MEAer e Portugal | 17
normas, entre as quais um código de cores e a limpeza
regular, também de modo a não haver foreign objects
damage, que consistem em peças ou ferramentas
fora do sítio e que podem perturbar o funcionamento
das áreas de trabalho ou danificar os componentes.
O material utilizado é a fibra de carbono,
essencialmente, podendo ser importadas peças
em fibra de vidro, para introduzir na estrutura de
um estabilizador (deriva) vertical, por exemplo.
No ano passado saiu desta fábrica o 1º conjunto
Deriva vertical-Estabilizador horizontal fabricado pela
equipa da Embraer Compósitos, componentes estes para
o Legacy 500, que voou pouco depois, a 27 de novembro.
Embraer Metálicas
Passando então à 2ª fábrica, entrámos na Nave
principal, aquilo a que costumam chamar o “Centro de
Gravidade” da fábrica. Pudemos mais uma vez seguir o
trajeto de uma peça desde a maquinação (entrada numa
fresadora de 20 m, única no mundo) até à sua inspeção
por um processo não-destrutivo e pintura, que segue um
outro código de cores, e.g. para distinguir zonas numa asa
em contacto com o combustível das que estarão secas.
O material utilizado é o Alumínio, que é lá
maquinado de forma a obter a espessura desejada. O
avião que ganhou destaque nesta altura foi o militar
KC-390, que poderá voar antes do final do ano.
Constroem-se então as partes metálicas de algumas
componentes do mesmo, de maiores dimensões e peso
que aqueles feitos na sua maioria em material compósito.
O bombardeamento por micro-esferas (“Shot
Peening”) é um dos processos de acabamento de peças
utilizados, constituindo uma das qualidades da fábrica
por serem raras as indústrias que os sabem concretizar.
Pudemos também ver algumas peças que
foram importadas de França, havendo outras que
vêm do Brasil para cá e que são exemplos do que
será construído na fábrica de estruturas metálicas. A
matéria-prima é toda importada, podendo o fornecedor,
contudo, mudar dependendo do custo, da altura, etc.
Como o Brasil não é já aqui ao lado, é necessário
uma grande logística para o transporte das peças até ao
destino final. O percurso das peças desde o seu fabrico em
Évora até ao Brasil tinha que ser feito a partir do porto de
Sines. No entanto, até S. Paulo as paragens seriam muitas,
pelo que o porto de partida passará a ser Bilbao, em Espanha.
O principal objetivo da Embraer em Évora
passa por aproveitar a experiência europeia para a
sua indústria. Daí a construção das unidades em
Portugal, a partir da qual a Embraer espera também
poder contribuir para o desenvolvimento da região.
Com isto, a relação entre o nosso país e o Brasil
cresce. As perspetivas para o futuro em Évora são boas.
Após a fase de consolidação das instalações
e
do
funcionamento
das
fábricas,
será
ponderado o aproveitamento do espaço que
a Embraer tem alugado à volta das mesmas.
O número de trabalhadores atualmente é
cerca de 100 e estima-se que em época de produção
se façam 3 peças a cada semana, com o trabalho de
300 a 400 trabalhadores. A Embraer assinou com o
IST um Memorando de Entendimento em novembro
do ano passado, colocando em prática a partilha de
conhecimentos e a abertura de oportunidades de estágio,
trabalho em dissertações de mestrado/doutoramento
e projetos de Investigação. Em relação aos estágios,
existe preferência pelos alunos que pretendem ficar a
trabalhar na empresa, em relação àqueles que apenas
desejam obter experiência. Porém, nesta fase, para a
Embraer Portugal qualquer proposta será bem-vinda.
Acabada a visita, estava, ou pelo menos parecia,
tudo claro para mim e por isso penso que não devia
deixar de fazer a minha apreciação. Foi uma experiência
rica, tanto a nível técnico, tendo ficado a conhecer o
funcionamento das fábricas e da construtora, como a
nível de gestão de uma empresa como a Embraer, que
afinal não tem nada no segredo dos deuses, apenas
tem objetivos bem definidos, um trabalho conjunto
e valores tais que fazem com que o seu papel na
indústria aeronáutica e vice-versa seja desempenhado.
Tenho a agradecer à nossa colega Mara
Rosado a iniciativa de organizar a visita de estudo,
assim como ao Dr. João Taborda e ao Eng. Ricardo
Reis, da Embraer Portugal SGPS, que além de
terem possibilitado a nossa ida às instalações, nos
acompanharam o tempo todo, e como não podia deixar
de ser, aos professores Fernando Lau e Filipe Cunha.
18 | MEAer e o Mundo
Desenvolvimento Tecnológico
Há vida em... Marte?
Uma empresa holandesa, a Mars One, está neste momento a recrutar civis para se sedearem em Marte.
Mas há uma particularidade: não existe viagem de regresso.
Texto Duarte Rondão
Quantos de nós não se fascinaram enquanto crianças
se irá resumir à módica quantia de 6 mil milhões de dólares.
com obras que focavam outros planetas e universos,
Coloca-se então a pergunta: qual será a melhor
como os filmes da saga Star Wars ou a série Star Trek?
maneira de cobrir este custo? Numa era movida pela
Em obras como estas, as viagens interplanetárias, ou até
influência dos mass media, a resposta torna-se óbvia: a
mesmo intergalácticas, encontravam-se simplesmente à
maioria do projeto vai ser financiada por um reality show
distância de um botão. Para já, a construção de um motor
televisivo! O Mars One não só é patrocinado por um
hyperdrive não está nos planos de
vencedor do Prémio Nobel da Física,
ninguém, mas graças ao projeto No entanto, a crise afecta todos Gerard ‘t Hooft, como também o é
Mars One a colonização de outro e, como tal, os primeiros quatro pelo cocriador da série Big Brother,
planeta poderá estar para breve.
Paul Romer. A cobertura da missão
colonizadores
irão
partir
apenas
começará logo na fase inicial,
O empresário holandês
com um bilhete de ida.
durante o processo de seleção de
Bas Lansdorp é a figura por
astronautas, em que o público
detrás desta iniciativa privada
terá
a
oportunidade
de
interagir na escolha dos mesmos.
que planeia enviar um pequeno grupo de pessoas e
De facto, toda a cronologia referente à
estabelecer uma colónia permanente em Marte em 2023.
iniciativa Mars One já está traçada. Em 2014
Lansdorp defende que já dispomos de toda a tecnologia
começará a ser produzido o primeiro satélite de
necessária para enviar humanos para o planeta vermelho.
comunicações entre a Terra e Marte. Logo dois anos
No entanto, a crise afeta todos e, como tal, os primeiros
depois serão enviados cerca de 2500 quilogramas de
quatro colonizadores irão partir apenas com um bilhete
mantimentos através da cápsula Dragon da SpaceX.
de ida. Efetivamente, uma viagem sem retorno reduz
Novamente dois anos depois, o primeiro veículo
dramaticamente o custo de uma missão deste calibre, que
MEAer e o Mundo | 19
Imagem 1: Um cientista participa numa simulação do terreno de
Marte no deserto do Sahara, perto de Marrocos, a Fevereiro de 2013.
(Katja Zanella-Kux/OeWF/Reuters)
Imagem 2: Pré-visualização da colónia marciana em 2025. (Mars
One)
de exploração será enviado para escolher a localização
ótima para a colónia. Em 2021, não uma mas seis cápsulas
Dragon adicionais e outro veículo irão ser lançados
com unidades de suporte à vida. No ano seguinte serão
enviados os primeiros quatro colonizadores, cuja chegada
está prevista para 2023. Daqui em diante, serão enviados
grupos de quatro astronautas de dois em dois anos. Prevê-se
que em 2033 a colónia conte com 20 habitantes.
É já em 2013 que irá começar a fase de seleção
dos primeiros quatro astronautas. Estará também
concluída a construção de uma réplica da futura colónia
marciana, no deserto, para servir de preparação aos
astronautas e para testar o equipamento – mais uma vez,
tudo isto transmitido ao público no formato de reality show.
Para visualizar o filme de introdução ao projeto
Mars One, ou até mesmo para obter mais informações
sobre como se candidatar para colonizar Marte,
basta visitar o site oficial http://mars-one.com/en/.
20 | MEAer e o Mundo
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Solar Impulse
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Texto Samuel
American Airlines
O avião experimental suiço
Solar
Impulse, cujos motores elétricos são
alimentados
pela energia do sol, está pronto
a fazer uma
travessia pelos Estados Unidos: “Es
tamos agora
prontos para voar através dos Est
ados Unidos”,
declarou André Borschberg, coa
utor do projeto.
Já foram realizados vários voo
s de
teste, e a aeronave deverá efetuar
o seu primeiro
percurso no dia 1 de maio deste
ano.
A travessia pelos EUA será rea
lizada
em cinco etapas distintas, por
motivos de
segurança, apesar da aeronave
poder realizar
esta travessia sem quaisquer esc
alas.
O projeto foi lançado há dez ano
s atrás,
e realizou o seu primeiro voo em
junho de 2009.
O Solar Impulse pesa apenas 160
0kg mas tem
uma envergadura de 63,40m (eq
uivalente a um
Boeing 747).
MEAer e o Mundo | 21
A Agência Espacial Europeia
(ESA) já se encontra a trabal
har arduamente naquela que
mais ambiciosas missões – a
é uma das suas
missão Juice (Jupiter Icy Mo
on
Ex
plo
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Ganimedes e Calisto que orb
) – que pretende explorar as lua
itam em torno de Júpiter.
s Europa,
Com uma dezena de instrume
ntos inovadores, a missão est
Esta nave (Juice) irá medir a
á definida para operar durant
grossura da camada de gelo das
e três anos.
luas, explorar os seus oceano
internas e traçar mapas de sup
s, definir estruturas
erfície.
Mas, irá ser preciso esperar
mais de uma década até que
se obtenham os primeiros res
porque Júpiter está bastante dis
ultados, isto
tante do nosso planeta e porque
uma missão desta envergadu
acarreta sempre vários anos de
ra
e complexidade
trabalho. A sonda está prevista
para ser lançada em 2022, sen
cerca de oito anos a chegar ao
do que irá demorar
destino, isto é, entrará na órb
ita de Júpiter em 2030, onde
anos a recolher importantes dad
ficará pelo menos três
os.
Juice (Jupiter Icy Moon Explorer)
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Exposição no MNHN
22 | MEAer e o Mundo
Sobrevoando o passado
‘VOYAGER
A missão interestelar’
Voyager é o nome de um programa espacial americano levado a cabo pela NASA. Iniciado em
1977 com o lançamento de duas sondas (Voyager 1 e Voyager 2), este programa tinha como objetivo o estudo dos planetas Júpiter, Saturno e respetivas luas.
Texto Samuel Franco
A missão Voyager foi desenhada para tirar partido de
um alinhamento especial dos planetas exteriores do nosso
sistema solar que ocorreu no final dos anos 70, de forma
a realizar uma viagem num menor espaço de tempo
possível. Esta configuração entre Júpiter, Saturno, Urano
e Neptuno, que ocorre a cada 175 anos, permitiu que
as sondas Voyager 1 e 2 se movimentassem de planeta
para planeta requerendo um menor esforço dos sistemas
propulsivos. Esta técnica de gravity assist fez com que
as sondas, ao passarem junto de cada planeta, ganhassem
um impulso na sua velocidade, reduzindo desta forma
o tempo de viagem: a título de exemplo, o tempo de
viagem até Neptuno foi reduzido de 30 para 12 anos.
Apesar da visita a estes quatro planetas
ser vista como possível, sabia-se também que seria
muito dispendioso construir um veículo espacial que
percorresse tão longas distâncias, carregasse todo o
material científico e ainda durasse o tempo suficiente
para completar a missão. Aliás, as sondas foram
concebidas apenas para sobrevoarem Júpiter e Saturno.
Mais de 10 000 trajetórias foram estudadas antes de
escolhidas aquelas duas que permitiriam às Voyager 1
e 2 sobrevoar Júpiter e a sua grande lua Io bem como
Saturno e a sua lua Titan. Mas apesar de reconhecidos
os riscos, o percurso da Voyager 2 manteve sempre a
possibilidade de continuar viagem até Urano e Neptuno.
From the NASA Kennedy Space Center at Cape
Canaveral, Florida, a Voyager 2 é então lançada, a 20 de
agosto de 1977; a Voyager 1 foi lançada posteriormente,
numa trajetória mais curta e mais rápida, a 5 de setembro
de 1977. Ambas as sondas foram lançadas para o espaço
com o auxílio dos dispendiosos foguetes Titan-Centaur.
A missão Voyager atingiu assim o seu
principal objetivo quando a 5 de março de 1979 e
a 12 de novembro de 1980, a Voyager 1 sobrevoou
Júpiter e Saturno, respetivamente. Já a Voyager 2
chegou a Júpiter a 9 de julho de 1979 e sobrevoou
Saturno pela primeira vez a 25 de agosto de 1981.
Depois do bem sucedido encontro entre a Voyager
2 e o planeta Saturno, foi demonstrado que esta sonda estava completamente apta a seguir viagem até Urano com
todos os instrumentos a operar. A NASA providenciou
fundos extra para estender a sua missão, definindo
Urano como o próximo objetivo. O planeta
Neptuno ficou também em linha de rota, ficando
esta dependente do sucesso da missão até Urano.
A Voyager 2 “viu” pela primeira vez Urano a 24
de janeiro de 1986, retornando importantes fotografias
e informações sobre o planeta, sobre as suas luas, o
respetivo campo magnético e os seus aneis. Entretanto
a Voyager 1 continuou a sua viagem pelo espaço
interplanetário recolhendo preciosas informações.
Eventualmente, os seus instrumentos foram os primeiros
instrumentos de um veículo espacial a sentir a influência
da heliopausa – a fronteira entre a influência do campo
magnético do Sol e o início do espaço interestelar.
Foram necessários mais três anos de viagem para
que a Voyager 2 chegasse ao seu último destino: Neptuno.
Este encontro dá-se a 25 de agosto de 1989. E quando
parecia terminado o seu objetivo ao chegar a Neptuno,
a NASA deu ordem de marcha para que esta seguisse o
mesmo caminho que a Voyager 1, o espaço interestelar.
Redefinidas estas novas transplanetary destinations,
a missão passou a designar-se Voyager Interstellar
Mission (VIM), nome pelo qual é conhecida atualmente.
A Voyager 1 já cruzou a heliosfera e está neste
momento a abandonar o sistema solar, elevando-se acima
do plano da eclíptica com um ângulo de 35 graus, a uma
taxa de 520 milhões de km ao ano. A Voyager 2 está também
a dirigir-se para fora do sistema solar, mergulhando
abaixo do plano da eclíptica num ângulo cerca de 48
graus e a uma taxa de 470 milhões de km por ano.
Ambas as sondas continuarão a estudar as fontes
de luz ultravioleta entre as estrelas, e os instrumentos de
campos e partículas a bordo destas continuarão a explorar
a fronteira entre a influência do Sol e do espaço interestelar.
Espera-se que as sondas continuem a operar pelo menos
durante mais uma década, e que as comunicações sejam
mantidas até que as fontes de energia destas não possam
mais fornecer energia aos subsistemas de energia crítica.
MEAer e o Mundo | 23
Desafios
Por Diogo Monteiro
Desafio 1
Um homem tem dez conjuntos de dez pesos. Sabe quanto devem pesar esses
pesos. Mas também sabe que todos os pesos de um dos conjuntos
têm um quilo a menos, o que significa que o peso total do conjunto
defeituoso tem dez quilos a menos. Esse feito ocorre apenas num
único conjunto. É-lhe permitido utilizar a balança de precisão
apenas uma vez. Como poderá ele identificar o conjunto defeituoso?
(Solução em https://www.facebook.com/s3aist)
Desafio 2
O relógio do teu quarto está avariado. Adianta-se trinta e seis
minutos em cada hora. No entanto, há exactamente uma hora
parou, indicando oito e vinte e quatro da manhã. Sabes também
que o relógio estava certo às duas da manhã. Que horas são agora?
(Solução em https://www.facebook.com/s3aist)

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