universidade do sul de santa catarina jean abreu machado
Transcrição
universidade do sul de santa catarina jean abreu machado
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JEAN ABREU MACHADO AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA GABAPENTINA SOBRE A REGENERAÇÃO NERVOSA, NUMA MODALIDADE DE LESÃO NEURAL INDUZIDA POR ESMAGAMENTO SEGUIDO DE ESTIRAMENTO EM RATOS. Tubarão 2012 JEAN ABREU MACHADO AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA GABAPENTINA SOBRE A REGENERAÇÃO NERVOSA, NUMA MODALIDADE DE LESÃO NEURAL INDUZIDA POR ESMAGAMENTO SEGUIDO DE ESTIRAMENTO EM RATOS. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciências da Saúde, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientadora: Profa. Anna Paula Piovezan, Dra. Tubarão 2012 JEAN ABREU MACHADO AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA GABAPENTINA SOBRE A REGENERAÇÃO NERVOSA, NUMA MODALIDADE DE LESÃO NEURAL INDUZIDA POR ESMAGAMENTO SEGUIDO DE ESTIRAMENTO EM RATOS. Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde e aprovada em sua forma final pelo Programa de Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina. Tubarão, 30 de julho de 2012. ______________________________________________ Professora e orientadora: Anna Paula Piovezan, Dra. Universidade do Sul de Santa Catarina. ______________________________________________ Professora: Jucélia Jeremias Fortunato, Dra. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________ Professor: Jarbas Mota Siqueira Júnior, Dr. Centro de Referência em Farmacologia Pré-clínica - Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras. AGRADECIMENTOS A Deus. A minha família: Denise Thomaz Machado, João Pedro Thomaz Machado, Eduarda Thomaz Machado, meus pais. Aos Colegas de trabalho, amigos e colegas de Mestrado. A minha orientadora, Profa. Dra. Anna Paula Piovezan. Ao Prof. Marcos Ghizoni. Ao Prof. Dr. Jayme Bertelli. Ao Corpo Docente do Mestrado em Ciências da Saúde – UNISUL: representado pela Profa. Dra. Rosemeri Maurici da Silva. A secretaria: Franciéli Zimmer e Silvane Cauz. Aos acadêmicos de medicina: Gabriel Teske, Guilherme Teske. Aos professores: Profa. Ester Blazius, Prof. Renê Blazius, Prof. Dr. Luiz Alberto Kanis, Profa. Dra. Jucélia Jeremias Fortunato, Prof. Dr. Jarbas Mota Siqueira Junior. Ao Laboratório de Neurobiologia da Dor e Inflamação – UFSC: Prof. Dr. Adair Roberto Soares dos Santos, Leidiane Mazzardo Martins e Daniel Fernandes Martins (doutorandos). Ao Prof. Dr. Eduardo Cargnin Ferreira. Aos funcionários e acadêmicos do Anatômico – UNISUL. Ao funcionário do Laboratório didático Sr. Rodrigo Batista de Souza. RESUMO Objetivo: O propósito deste estudo foi avaliar a influência da gabapentina (GABAP) sobre a regeneração nervosa, com a análise em testes funcionais e histológicos, em ratos submetidos à lesão por estiramento seguido de esmagamento do nervo mediano da pata dianteira. Método: Realizou-se estudo experimental com avaliação diária, por 30 dias, de três grupos de animais (n= 9-10), mantidos sob condições controladas em laboratório. O 1º. grupo, falso-operado sofreu cirurgia e exposição do nervo mediano, sem lesão nervosa por estiramento e esmagamento, sendo tratados diariamente, por 30 dias, com GABAP (300 mg Kg-1, intragástica). No 2º. grupo, operado + veículo, os animais sofreram cirurgia e exposição do nervo mediano, com lesão nervosa por estiramento e esmagamento, sendo tratados diariamente, por 30 dias, com veículo (salina estéril, 0,1 ml Kg-1, intragástica). No 3º. grupo, operado + GABAP, os animais sofreram cirurgia e exposição do nervo mediano, com lesão nervosa por estiramento e esmagamento, sendo tratados diariamente, por 30 dias, com GABAP (300 mg Kg-1, intragástica). Os animais foram observados diariamente (ou até aparecimento do desfecho esperado) nos seguintes testes: Grasping (força de agarrar em g), von Frey (sensibilidade mecânica para 10 g), estimulação elétrica (sensibilidade elétrica para 5V ou 39V). Ao término dos 30 dias de observação, o nervo mediano foi seccionado; a porção distal serviu para análises histológicas e a proximal para dosagens de neurotrofinas. Os dados obtidos em escala contínua (ex.: força de agarrar em g) ou ordinais (ex.: dia em que ocorreu a resposta) foram analisados, respectivamente pelos testes ANOVA de uma via, seguido de Tukey para comparação entre grupos, ou Kruskal-Wallis (p< 0,05). Resultados: Não foram observadas alterações entre os grupos operado + veículo ou operado + GABAP na força de agarrar no teste de Grasping, ao longo dos 30 dias de observação (p > 0,05). Estes grupos também não diferiram em relação ao dia em que ocorreu a recuperação da sensibilidade mecânica ou elétrica (p> 0,05). Nas análises histológicas, não registrou-se diferenças entre os grupos operado + veículo ou operado + GABAP nas concentrações de BDNF ou NGF dosadas a partir do nervo lesado. Por outro lado, os dados morfométricos demonstraram que em relação ao grupo operado + veículo, o grupo operado + GABAP melhorou os parâmetros de área de fibras mielinizadas (respectivamente 12,2 ± 1,2% e 57,1% ± 3,1; p< 0,001), densidade de fibras mielinizadas/mm2 (respectivamente 18.789 ± 3.568 fibras/mm2 e 29.600 ± 2.822 fibras/mm2; p< 0,05), área de tecido conjuntivo (respectivamente, 76,5 ± 4,2% e 63,6 ± 5,20%; p< 0,05) e fragmentos de degeneração (respectivamente 5,3 ± 1,0% e 2,5 ± 0,8%; p< 0,05). Conclusões: O modelo de lesão induzida por esmagamento seguido de estiramento é uma alternativa à técnica de esmagamento, promovendo início de recuperação mais tardia no teste do Grasping. Os dados apontam ainda para um efeito benéfico da GABAP sobre a regeneração nervosa, observados principalmente a partir de análise histológica. Palavras-chave: Regeneração nervosa. Esmagamento. Gabapentina. ABSTRACT Objective: The purpose of this study was to evaluate the influence of gabapentin (GABAP) on nerve regeneration, with the analysis being based on functional and histological tests on rats subjected to stretch injury followed by crushing of the median nerve in the foreleg. Method: We conducted an experimental study involving three animal groups (n=9-10). They were kept under controlled laboratory conditions, with daily evaluations for 30 days, and were treated as described below. The 1st group, (false-operated) underwent surgery and exposure of the median nerve without nerve injury via stretching and squashing. The group was treated daily with GABAP for 30 days (300 mg kg-1, intragastric). In the 2nd group (operated + vehicle), the animals underwent surgery and exposure of the median nerve, with the nerve injury induced via stretching and squashing. They were then treated daily for 30 days with vehicle (sterile saline 0.1 ml kg-1, intragastric). In the 3rd group (operated + GABAP), the animals underwent surgery and exposure of the median nerve, with the nerve injury induced via stretching and squashing. They were then treated daily for 30 days with GABAP (300 mg kg-1, intragastric). The animals were observed daily (or until the appearance of the expected outcome) in the following tests: Grasping (grip force in g), von Frey (mechanical sensitivity to 10 g) and electrical stimulation (electrical sensitivity to 5V or 39V). At the end of the 30 day observation period, the median nerve was sectioned and the distal portion was used for histological analysis of neurotrophin levels. Data obtained in a continuous scale (e.g. grasping force in g) or ordinal (e.g. day on which the response occurred) were analysed respectively by one-way ANOVA followed by Tukey test for comparison between groups, or via the Kruskal -Wallis test (p <0.05). Results: No differences were observed between any of the groups (operated, operated + vehicle or operated + GABAP) in the grip strength test for Grasping, over the 30 days of observation (p> 0.05). These groups did not differ in relation to the day that the mechanical or electrical sensitivity recovery happened (p> 0.05). In histological analyses, there was no difference between the operated or operated + vehicle + GABAP groups relating to the concentrations of BDNF or NGF measured in the injured nerve. Moreover, morphometric data showed that compared to the operated + vehicle group, the operated + GABAP group improved the parameters in the areas of; myelinated fibers (respectively 12.2 ± 1.2% and 57.1% ± 3.1; p <0.001), fiber density myelinated/mm2 (respectively 18,789 and 29,600 ± 3568 ± 2822 fibers/mm2 fibers/mm2, p <0.05), connective tissue area (respectively, 76.5 ± 4.2% and 63.6 ± 5.20%, p <0.05) and fragments of degeneration (respectively 5.3 ± 1.0% and 2.5 ± 0.8%, p <0.05). Conclusions: The model of injury induced by crushing followed by stretching is an alternative to the crushing technique, promoting initiation of later recovery in the Grasping test. The data also points to the beneficial effects of GABAP on nerve regeneration, mainly observed from histological analysis. Keywords: Nerve regeneration. Crushing. Gabapentin. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Microscopia óptica e eletrônica do nervo ciático de ratos adultos. ........................ 10 Figura 2 - Ilustração das diferentes etapas do processo de regeneração nervosa. ................... 12 Figura 3 - Esquema ilustrativo das diferentes etapas envolvidas no fenômeno de degeneração Walleriana. .......................................................................................................................... 13 Figura 4 - Plexo braquial e suas origens nas raízes cervicais................................................. 15 Figura 5 - Sequela de paralisia completa do plexo braquial. ................................................. 16 Figura 6 - Foto ilustrando o procedimento de esmagamento seguido de estiramento do nervo mediano de ratos. ................................................................................................................. 23 Figura 7 - Influência da GABAP no teste de Grasping em ratos com lesão de nervo mediano. ............................................................................................................................................ 29 Figura 8 - Influência da GABAP no teste de von Frey em ratos com lesão de nervo mediano. ............................................................................................................................................ 30 Figura 9 - Influência da GABAP no teste de estimulação elétrica em ratos com lesão de nervo mediano. .............................................................................................................................. 31 Figura 10 - Influência da GABAP sobre a concentração de neurotrofinas dosadas a partir do nervo mediano de ratos. ....................................................................................................... 32 Figura 11 - Micrografia de luz obtida de cortes transversais do nervo mediano, 30 dias após lesão por esmagamento e estiramento................................................................................... 33 Figura 12 - Imagens da análise morfométrica das secções transversais do nervo mediano 30 dias após a indução da lesão por esmagamento e estiramento. .............................................. 34 Figura 13 - Influência da GABAP sobre parâmetros histológicos obtidos de secções transversais do nervo mediano de ratos, 30 dias após lesão por esmagamento seguido de estiramento. ......................................................................................................................... 36 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BDNF - Brain Derived Neurotrophic Fator cm – centímetro g – grama GABA - Ácido amino-gama-butírico GABAP - Gabapentina kg – quilograma mg – miligrama ml – mililitro mm – milímetro NCAM-L-1 - Neur al Cell Adhesion Molecule NGF - Nerve Growth Factor PMP22 – Peripheral Mmyelin Protein V – volt SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9 2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 19 3 OBJETIVOS................................................................................................................. 20 3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 20 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 20 4 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 21 4.1 ANIMAIS ...................................................................................................................... 21 4.2 AMOSTRA .................................................................................................................... 21 4.3 GRUPOS DE ESTUDO ................................................................................................. 21 4.4 INDUÇÃO DE LESÃO NERVOSA POR ESMAGAMENTO E ESTIRAMENTO........ 22 4.5 AVALIAÇÃO DA REGENERAÇÃO NERVOSA......................................................... 23 4.5.1 Análises funcionais .................................................................................................... 23 4.5.1.1 Teste de grasping ..................................................................................................... 24 4.5.1.2 Resposta à estimulação mecânica ............................................................................. 24 4.5.1.3 Resposta à estimulação elétrica................................................................................. 24 4.5.2 Análise histológica e morfométrica ........................................................................... 25 4.5.3 Dosagem das neurotrofinas bdnf e ngf a partir do nervo mediano ......................... 26 4.6. ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................................. 27 5 RESULTADOS ............................................................................................................... 28 6 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 37 7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 42 8 PERSPECTIVAS ............................................................................................................ 43 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 44 ANEXO .............................................................................................................................. 51 ANEXO A – PARECER COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS (CEUA) UNISUL .............................................................................................................................. 52 9 1 INTRODUÇÃO Historicamente a ciência vem se preocupando com a descrição e a observação das alterações ocorridas na morfologia do sistema nervoso periférico frente à lesão traumática há mais de um século, como pode ser confirmado pela observação escrita por Augustus Waller em 1850, que descreveu pela primeira vez a degeneração Walleriana (WALLER, 1850). Com relação ao tratamento da lesão nervosa periférica, esta teve grande evolução nas últimas duas décadas em decorrência da introdução de novas técnicas microcirúrgicas; contudo, infelizmente ainda a recuperação funcional do membro afetado raramente é total (MCALLISTER et al., 1996; BATTISTON et al., 2005; HOKE, 2006; CASHA, YONG, MIDHA, 2008). Sendo assim, atualmente os esforços parecem estar voltados para estudos que englobem a neurobiologia, a neuroanatomia e os mecanismos bioquímicos da regeneração funcional do nervo, como forma de tentar elucidar os mecanismos pelos quais esta ocorre, bem como de procurar por novos potenciais terapêuticos que possam ser empregados no tratamento de tais lesões. Uma vez que o funcionamento do sistema nervoso periférico depende da sua integridade morfológica, o conhecimento da sua anatomia e dos mecanismos empregados na regeneração nervosa são muito importantes. O nervo periférico é composto pelo parênquima, composto de axônios e células de Schwann, e pelo estroma, composto de tecido conectivo, epineuro, perineuro e endoneuro. Além disso, conforme pode ser observado na Figura 1, um nervo pode ser considerado mielinizado, quando o axônio é envolvido por um grupo de células de Schwann produtoras de mielina, ou não-mielinizado quando um grupo de axônios é envolto por células de Schwann que não produzem mielina (FLORES, LAVERNIA, OWENS, 2000). Os nervos periféricos podem ser classificados em três categorias de acordo com a composição de suas fibras e a função que exercem. Estes podem ser sensitivos, motores ou mistos, e possuem a propriedade de levarem informações de tato, dor, sensibilidade térmica, pressão e propriocepção ao sistema nervoso central, assim como, através de impulsos elétricos centrais, fazerem com que unidades motoras efetuem contração muscular. De acordo com o mecanismo pelo qual um nervo sofre lesão, diferentes tipos de injúrias podem ocorrer. Utiliza-se a denominação de neurotmese quando ocorre ruptura total do nervo, de axoniotmese quando ocorre ruptura do axônio com o epineuro e/ou endoneuro permanecendo intactos e, por fim, de neuropraxia, quando ocorre inexistência de alteração anatômica, havendo apenas disfunções fisiológicas (JONATHAN et al., 2009). 10 Figura 1 - Microscopia óptica e eletrônica do nervo ciático de ratos adultos.1 Fonte: Kaplan et al., 2009. 1 Painel C: Célula de Schwann (Sch) produtora de mielina (m) que envolve individualmente os axônios neuronais (ax). Painel E: axônios não-mielinizados. Tradução adaptada de: Kaplan et al., 2009. 11 Do ponto de vista celular, a ocorrência de um dano neural desencadeia uma série de mudanças morfológicas e metabólicas no nervo lesado, iniciando o processo de regeneração, tanto no local como distantemente à lesão. Estas alterações foram divididas para uma melhor compreensão, e são descritas a seguir. Primeiramente, ocorrem mudanças no segmento proximal do nervo. Apesar do comprometimento celular ocorrer no axônio, podem ser observadas alterações em todo corpo celular, como as encontradas nos cornos dorsais, que possuem função sensitiva, ou nos cornos ventrais da medula, que possuem função motora, estas podem inclusive culminar com a morte do neurônio. Morfologicamente observa-se um fenômeno chamado de cromatólise, que acarretará em edema do corpo e do núcleo neuronal, com excentricidade deste último (LIEBERMAN, 1971). A célula passa então a um estado de crescimento, (FU; GORDON; 1997) com alterações metabólicas como síntese de neuropeptídios (HOKFELT; ZHANG; WIESENFELD-HALLIN, 1994) e de proteínas (SCHREYER; SKENE, 1991), seguido do fenômeno de brotamento (MIRA, 1984). Este último processo, ilustrado na Figura - 2, também é conhecido como fenômeno de arborização e tem por função aumentar as chances da porção proximal do neurônio lesado em refazer a conexão com o segmento distal, que foi seccionado. Evidências sugerem que as células de Schwann desempenham um papel importante nesta etapa da regeneração nervosa. Elas servem como guias físicos para este restabelecimento da condução nervosa, facilitando o encontro destas duas porções do axônio (SON; THOMPSON, 1995). 12 Figura 2 - Ilustração das diferentes etapas do processo de regeneração nervosa.2 Fonte: Adaptado de Rotshenker, 2011. Em segundo lugar ocorrem mudanças no segmento distal do nervo. Após a transecção do mesmo, ocorre a denominada degeneração Walleriana (WALLER, 1850), que é caracterizada pelo colapso da mielina, pela proliferação das células de Schwann e pelo recrutamento de macrófagos (Figura - 3). A perda do contato entre o axônio e as células de Schwann é um sinal para a proliferação destas últimas, além da elevação na síntese de neurotrofinas e neurogulinas (HEUMANN, 1987; THOENEN et al., 1988; FUNAKOSHI et al., 1993; GEUNA et al., 2007). As célula de Schwann presentes no segmento distal organizam-se em colunas, chamadas bandas de Büngner, e os axônios em crescimento provenientes do coto proximal, associam-se ao segmento distal através da membrana basal 2 (A) nervo intacto; (B) sítio da lesão com recrutamento de macrófagos; (C) destruição do axônio; (D) desintegração da mielina; (E) formação da banda de Bünger. 13 dessas células. Existem outros fatores responsáveis pelo crescimento do próprio axônio como a laminina e a fibronectina (BARON-VAN EVERCOOREN et al., 1982; LIU, 1996; HALL, 1997), além de moléculas de adesão celular neuronal, ou neural cell adhesion molecule (NCAM-L-1) e moléculas de reconhecimento neuronal como a TAG-1 (DANILOFF et al., 1986; WALSH; DOHERTY, 1996). Figura 3 - Esquema ilustrativo das diferentes etapas envolvidas no fenômeno de degeneração Walleriana. Fonte: Gaudet; Popovich; Ramer, 2011. Como citado anteriormente, as neurotrofinas possuem papel importante na regeneração neuronal. Secretadas tanto por tecido nervoso como por células e órgãos distintos, as neurotrofinas são polipeptídios solúveis, que não somente exercem papel fundamental para a regeneração neuronal como também cumprem função de diferenciação, manutenção e sobrevivência desse tecido (LEIBROCK et al., 1989; ERNFORS et al., 1990; TERENGHI, 1999). Foi demonstrada a expressão dessas neurotrofinas em segmento de nervos lesados, dentre as mais conhecidas em seu mecanismo de ação estão o fator de 14 crescimento nervoso, ou nerve growth factor (NGF) e o fator neurotrófico de origem cerebral, ou brain derived neurotrophic factor (BDNF) (MEYER et al., 1992; GORDON, 2009). De acordo com Meyer et al. (1992), a transecção de nervo ciático de ratos aumentou os níveis de mRNA para BDNF e para NGF, sendo que a expressão dos mesmos variou de maneira dependente do tempo e do local de observação, sugerindo diferenças nos mecanismos de regulação da síntese das destas neurotrofinas por células não neuronais do nervo ciático (MATSUOKA et al., 1991). Do ponto de vista do presente estudo, outra consideração importante é sobre a possível participação de sistemas endógenos, que de alguma forma possam agir na regulação da regeneração neuronal do sistema nervoso periférico, como é o caso do sistema gabaérgico, por meio do neurotransmissor GABA, ou ácido amino-gama-butírico (NAGAI et al., 1998). Sabe-se que receptores GABA são encontrados tanto em fibras mielinizadas como não mielinizadas, e podem influenciar tanto a proliferação das células de Schwann como a plasticidade neuronal (REN; MODY, 2003; STEIGER et al., 2004; MAGNAGHI, 2007; ULRICH; BETTLER, 2007). Uma revisão realizada por Magnaghi (2007) sugere que o neurotransmissor GABA extracelular poderia interagir com receptores GABA-B nas células de Schwann e diminuir sua proliferação neuronal e, desta forma, estimularia as mesmas a entrarem em diferenciação. Os esteróides neuroativos modulariam então a expressão e a responsividade destes receptores até a sua dessensibilização. Por outro lado, atuando em receptores GABA-A, tais esteróides, assim como o GABA, poderiam aumentar a expressão de proteína mielina. Além disso, em um modelo de lesão de ciático em ratos, foi utilizado implante de tubos de silicone contendo ácido valpróico, uma substância que atua na neurotransmissão gabaérgica aumentando os níveis de neurotransmissor GABA na fenda sináptica, para unir as porções próxima e distal do nervo seccionado. Nos animais tratados com esta substância, houve melhora da regeneração periférica e da recuperação da função motora em comparação ao grupo controle (WU et al., 2008). Na clínica, com relação às causas das lesões de nervos periféricos estas ocorrem principalmente por trauma. Na criança, ocorre principalmente no parto, com uma prevalência em torno de 0,6 nascimentos/1000/ano (LABRANDERO-DE LERA, 2008), enquanto que no adulto, os acidentes de trânsito são os principais responsáveis, afetando na grande maioria o membro superior (ESER et al., 2009; SAADAT, ESLAMI; RAHIMI-MOVAGHAR, 2011). Quanto ao gênero, os homens estão mais envolvidos neste tipo de acidente, que geralmente ocorre em plena fase produtiva de suas vidas (FLORES 2006; ASPLUND et al., 2009; ESER 15 et al., 2009; GIUFFRE et al., 2010). Sobre a natureza destes traumas, a motocicleta tem papel de destaque na lesão do plexo braquial, talvez porque a natureza do trauma facilite este tipo de lesão. O plexo braquial, responsável pela inervação do membro superior, é uma organização especial de nervos periféricos sendo formado pela confluência dos ramos ventrais das raízes nervosas espinhais de C5 a T1. A variação mais comum é a contribuição das raízes de C4 e/ou T2, todavia a anatomia do plexo braquial parece apresentar um grande grau de variabilidade. A combinação destas raízes dá origem aos troncos e fascículos, que por sua vez originam os cinco principais nervos do membro superior: musculocutâneo, axilar, radial, mediano e ulnar, sendo estes nervos responsáveis pela inervação motora e sensorial, conforme ilustrado na figura 4 (BERTELLI, GHIZONI 2005; JONATHAN et al., 2009; AKBORU et al., 2010). Figura 4 - Plexo braquial e suas origens nas raízes cervicais.3 Fonte: Capeler (2010). In: Ghizoni, 2011. A lesão do plexo braquial traumática no adulto, segundo Leffert (1974), pode ser classificada como aberta ou fechada. Um adequado exemplo da lesão aberta é a lesão por arma de fogo, quando geralmente haverá a ruptura total do nervo (neurotmese). Na lesão fechada, o principal mecanismo de lesão é o estiramento nervoso. As lesões ainda podem ser classificadas como supraclaviculares, infraclaviculares ou combinação de ambas, quando usado a clavícula como referência anatômica, e como pré-ganglionar ou pós-ganglionar, considerando como referência o gânglio sensitivo da raiz dorsal (JONATHAN et al. 2009). 3 SSE nervo supra escapular, MCN nervo músculo cutâneo, AXN nervo axilar, RN nervo radial, MN nervo mediano, UN nervo ulnar, TD nervo torácico dorsal, MCFA nervo cutâneo medial do antebraço, MCA nervo cutâneo medial do braço. 16 Na prática clínica tais lesões traduzem-se em perda dos movimentos da mão ou até mesmo de todo o membro superior, perda da sensibilidade, dor neuropática e intolerância ao frio (BERTELLI; GHIZONI, 2008). Este pobre prognóstico tem consequências econômicas, sociais e psicológicas dramáticas. Estas lesões envolvem pessoas em fase ativa de suas vidas que dificilmente conseguem voltar ao mesmo nível de trabalho que tinham antes do acidente. A atrofia, deformidade (Figura – 5), disfunção e dor no membro afetado retiram do paciente o convívio social prévio à sequela. Isto porque o humano usa a mão como forma de expressão corporal, importante na comunicação e, anomalias de forma ou movimentação dificilmente passam despercebidas num convívio e relação em grupo. Ainda, estes pacientes relatam frequentemente sintomas de paranoia quanto ao seu estado de saúde, diminuição de sua autoestima e sexualidade (FLORES, 2006; BEVERLEY, 2009; BEVERLEY, 2010). Figura 5 - Sequela de paralisia completa do plexo braquial. Fonte: Ghizoni, 2011. Outro sintoma importante que estes pacientes apresentam é a dor neuropática. De acordo com revisão realizada por Costigam e colaboradores (2009), a dor neuropática decorrente de lesões no plexo braquial pode depender da maturidade do sistema nervoso, isto porque embora recém-nascidos não desenvolvam dor após a avulsão do plexo braquial, cerca de 40% dos adultos desenvolvem dor crônica severa ao mesmo tipo de lesão. Dentre as substâncias comumente usadas no tratamento da dor neuropática estão os anestésicos locais, os opióides e os anti-inflamatórios não-esteroidais (SELPH et al., 2011). Além destes, os antidepressivos inibidores da receptação de serotonina e norepinefrina e os anticonvulsivantes são considerados como tratamentos de primeira linha na dor neuropática 17 (SELPH et al., 2011). Dentre estes anticonvulsivantes, a gabapentina (GABAP) é uma das substâncias comumente usadas. Apesar de a GABAP ser um análogo do GABA, seu mecanismo de ação na modulação da dor parece não estar relacionado à interação com receptores GABA-A ou GABA-B, mas sim depender de outras estruturas. A partir de estudo eletrofisiológico foi sugerido que seu efeito antinociceptivo pode estar relacionado às alterações da neurotransmissão espinhal por atuação em receptores acoplados a canal de cálcio (BAYER, AHMADI, ZEILHOFER, 2004), enquanto em modelo animal de neuropatia em camundongos, observou-se que seus efeitos anti-hiperalgésico e antialodínico sistêmicos foram dependente da via descendente de controle da dor (TANABE et al., 2005). Por ser um análogo do GABA, que é um neurotransmissor inibitório, a GABAP parece influenciar também na biologia das células de Schwann e estas, como citado anteriormente, são muito importantes na regeneração nervosa periférica (MAGNAGHI, PROCACCI, TATA, 2009). Conforme comentado anteriormente sobre os sistemas endógenos, embora se conheça um pouco mais sobre a função do sistema GABAérgico sobre as funções neuronais no nível do sistema nervoso central (NAIK et al., 2012; SHULGA et al., 2008), parece que há um vasto campo inexplorado em relação à modulação GABAérgica na lesão do nervo periférico (MAGNAGHI, PROCACCI, TATA, 2009). Estudo com base em métodos anatômicos e eletrofisiológicos mostrou que neurônios olfatórios em crescimento expressam receptores GABA-B e sugere que tais neurônios devem ser capazes de detectar a presença de GABA liberado de células justaglomerulares e utilizar o mesmo como sinal para limitar seu crescimento e localizar alvos sinápticos importantes para sua regeneração (PRIEST e PUCHE, 2004). Além disso, em modelo de axotomia de nervo motor facial em ratos, foi registrado que o mRNA para diferentes subunidades do receptor GABA-A, além dos receptores GABA-B1 e GABA-B2 sofreram down-regulation pelo fenômeno de axotomia (VASSIAS et al., 2005). Com relação à GABAP, os dados são bem escassos. Recentemente foram registrados dados preliminares de que a administração intraperitoneal, por 21 dias, de GABAP (100 e 300 mg/Kg-1) associada a nitoroglicerina (1 mg/kg-1) promoveu maior regeneração de nervo ciático em ratos quando comparados ao grupo controle, sendo esta avaliada pelo parâmetros de proporção de células neuronais, formato das células e diferença no tamanho destas células e de suas conexões (AYDIN et al., 2009). Sabe-se que os modelos animais usados para avaliar regeneração nervosa são praticamente idênticos aos usados para avaliar a dor neuropática (BERTELLI, MIRA 1995; 18 RODRIGUES-FILHO et al., 2003). Assim, avaliar a GABAP em um modelo de lesão nervosa periférica que confira dor neuropática, déficit motor e sensitivo, poderia servir para testar a hipótese de que ela possa também influenciar, de alguma forma, a regeneração de nervos nestes quadros. Isto seria importante já que na prática clínica existem evidências de que os pacientes que tratam a dor neuropática decorrente da lesão do nervo periférico com os gabapentinóides apresentam uma melhora na regeneração nervosa no que tange o tempo para recuperação funcional do membro afetado quando comparados com os pacientes que não fazem uso dessa classe de medicação (WHITLOCK et al., 2007). 19 2 JUSTIFICATIVA A busca da reabilitação funcional do membro afetado pela lesão nervosa periférica, como no caso de lesão do plexo braquial, está apoiada em três pontos primordiais. Primeiro o reestabelecimento da integridade do nervo de maneira microcirúrgica, cujas técnicas parecem já estar bem estabelecidas (MCALLISTER et al., 1996). Segundo, o arsenal farmacológico que possa de alguma forma melhorar a regeneração nervosa tanto quantitativa quanto qualitativamente, do ponto de vista motor e sensitivo. Finalmente, fazer com que o tecido muscular esteja preparado para receber os impulsos elétrico/químicos do nervo reabilitado, cuja recuperação é dependente do tempo de inatividade do nervo, ou seja, quanto maior o tempo de inatividade menor a chance de recuperação (GORDON, BRUSHART, CHAN 2008). Quanto a estes dois últimos pontos citados, salienta-se que os mesmos necessitam ainda de comprovações científicas sobre quais os melhores fármacos a serem empregados, bem como sobre quais as ações biológicas promovidas pelos mesmos e a maneira pelas quais estas possam afetar os tecidos envolvidos nos fenômenos, tais como os tecidos nervoso e muscular. Do ponto de vista deste trabalho, explorar a possibilidade de a GABAP desempenhar papel farmacológico na regeneração nervosa, a partir de um modelo experimental, é interessante já que a mesma é usada nos pacientes com lesões periféricas para o tratamento da dor. Assim, estudos desta natureza podem trazer nova compreensão sobre a fisiopatogenia envolvida no processo de lesão/regeneração nervosa, bem como auxiliariam a elucidar aspectos do mecanismo de ação do fármaco GABAP, que ainda não está completamente elucidado. Além disso, salienta-se que poucos trabalhos sobre o tema foram encontrados na literatura avaliando estes aspectos, e resultados neste sentido podem apontar novas perspectivas de pesquisas ou até mesmo de formas de tratamento utilizando o fármaco em questão em pacientes com lesões de plexo nervoso. Estes poderiam assim, contribuir futuramente no tratamento e obtenção de melhores resultados clínicos dos mesmos, minimizando o desfecho desfavorável destas lesões. 20 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL • Avaliar a influência da GABAP sobre a regeneração nervosa, numa modalidade de lesão neural induzida por esmagamento seguido de estiramento no nervo mediano de ratos. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS A partir do modelo de lesão por esmagamento seguido de estiramento do nervo mediano em ratos, pretende-se avaliar a influência da GABAP sobre: • a recuperação funcional nervosa, medida através de sua resposta a estímulos elétricos e mecânicos; • a recuperação funcional motora, medidas pelo dia de recuperação da função e pela força de preensão (Grasping), como avaliação indireta de sua ação sobre o nervo na junção neuromuscular; • a morfometria do nervo mediano; • a expressão de neurotrofinas no segmento do nervo lesado. 21 4 MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética para o Uso de Animais (CEUA)-UNISUL, sob número 11.005.4.01. IV e foi realizado dentro das condições descritas a seguir. 4.1 ANIMAIS Foram utilizados ratos Wistar machos, pesando cerca de 300 gramas, obtidos do Biotério Central da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Estes foram mantidos durante o período do estudo sob condições controladas de temperatura (23º C ± 2º C) e luminosidade (ciclo claro/escuro de 12 h), com livre acesso à ração (NUVILAB CRI®) e água. 4.2 AMOSTRA Foram inicialmente empregados 10 animais por grupo experimental. Este número de animais já está bem estabelecido na literatura científica da área (entre 6 a 12) em trabalhos pré-clínicos para avaliação de eficácia de tratamentos. Além disso, este número está baseado no cálculo da amostra para comparação de hipóteses, que serve aos estudos experimentais, estabelecendo um número ao redor de nove indivíduos por grupo a ser avaliado, segundo a fórmula: - n/grupo: [(Zα/2 + Zβ)2 p* (1-p*)2]/∆2 - onde: p*= (p0+p1)/2, e ∆= (p0+p1) E considerando-se os seguintes valores: • Zα=1,96; • Zβ = 0,84; • p: 1,0 e p1: 0,5. Isto é, arbitrando-se uma redução do efeito de 50% no grupo experimental, em relação ao grupo controle. 4.3 GRUPOS DE ESTUDO Para avaliação da possível atividade da GABAP sobre a regeneração nervosa, os animais foram divididos em três grupos, nos quais foram realizadas as análises funcionais e 22 histológicas descritas posteriormente. Os três grupos de estudo foram tratados da seguinte maneira: • Grupo 1 (falso-operado): este grupo foi composto por animais que sofreram cirurgia e exposição do nervo mediano, não submetidos a lesão nervosa por estiramento do mesmo. Estes animais foram tratados diariamente, por 30 dias, com GABAP (300 mg Kg-1, intragástrica, em salina isotônica estéril). • Grupo 2 (controle negativo ou operado + veículo): este grupo foi composto por animais que sofreram cirurgia e exposição do nervo mediano, com posterior lesão nervosa por esmagamento e estiramento do mesmo, conforme descrito a seguir. Estes animais receberam ainda tratamento diário por 30 dias com veículo de diluição da GABAP, no mesmo volume e via de administração que os animais do grupo. • Grupo 3 (experimental ou operado + GABAP): este grupo foi composto por animais que sofreram cirurgia e exposição do nervo mediano, com posterior lesão nervosa por esmagamento e estiramento do mesmo, conforme descrito a seguir. Estes animais receberam ainda tratamento diário, a partir do dia consecutiva ao da cirurgia até o 30º. dia após, com GABAP (300 mg Kg-1, intragástrica). 4.4 INDUÇÃO DE LESÃO NERVOSA POR ESMAGAMENTO E ESTIRAMENTO A lesão nervosa por esmagamento e estiramento foi adaptada neste estudo. Para a realização destes procedimentos, os animais foram previamente anestesiados com uma mistura de cloridrato de cetamina (100 mg kg-1) + xilazina (10 mg kg-1), por via intramuscular, e permaneceram sob respiração espontânea durante todo o período operatório. Depois de constatada a anestesia geral, os ratos foram posicionados em decúbito dorsal horizontal sob uma prancha de fórmica (30 x 35 cm), com as patas anteriores presas por fita adesiva, realizou-se tricotomia e antissepsia na face interna de ambas as patas anteriores com solução de clorohexidine (2,0 %). Para a realização da lesão, foi realizado estiramento do nervo mediano, na pata esquerda dos animais, conforme as seguintes características: distância entre as pinças de 2 cm, deslizamento proximal e distal de 3 mm e manteve-se o nervo comprimido e estirado por 5 segundos (Figura -6). Além disso, foi realizada a ressecção do nervo ulnar. Na pata direita dos animais foi realizada ressecção dos nervos mediano e ulnar. Este procedimento teve por objetivo impedir que durante a avaliação do teste funcional de 23 Grasping houvesse interferência desta pata na medida de força de preensão da pata esquerda (experimental). Após a recuperação anestésica, os animais foram mantidos sob condições controladas de luz e temperatura, individualmente em caixas de polipropileno, no Laboratório de Microcirurgia da UNISUL. Como analgesia pós-operatória, utilizou-se dipirona sódica (100 mg ml-1) diluído na água e oferecida livremente aos animais por quatro dias seguidos. Não foi utilizado antibiótico no período pós-cirúrgico, uma vez que os animais foram pesados e monitorados diariamente quanto à possível infecção e desconforto. Figura 6 - Foto ilustrando o procedimento de esmagamento seguido de estiramento do nervo mediano de ratos. Fonte: Ghizoni, 2011. 4.5 AVALIAÇÃO DA REGENERAÇÃO NERVOSA 4.5.1 Análises Funcionais 24 4.5.1.1 Teste de Grasping O teste de Grasping é um procedimento simples, descrito originalmente para avaliação quantitativa da regeneração de nervos periféricos em ratos (BERTELLI, MIRA 1995). Neste teste o animal foi elevado pela cauda, permitindo que o mesmo agarrasse uma grade de arames com dimensões de 1,5 mm de diâmetro e 8 x 14 cm, fixada em uma balança eletrônica. Os animais foram avaliados diariamente até o 30º dia após a cirurgia e registrou-se o dia após a cirurgia em que ocorreu flexão total dos dedos da pata operada do animal (esquerda) para preensão da mesma, como o dia da recuperação nervosa após a lesão. Além disso, no momento exato em que os animais agarraram a grade, iniciou-se uma tração em sentido perpendicular ao plano da grade. A tração foi firmemente aumentada até o momento em que o animal soltou a grade. O peso negativo obtido na balança no momento em que o animal soltou a grade também foi registrado com a finalidade de avaliação quantitativa da força recuperada. Como descrito anteriormente, a pata direita foi desnervada para não influenciar no resultado deste teste. 4.5.1.2 Resposta à estimulação mecânica A resposta dos animais à estimulação mecânica foi avaliada por meio do teste de Von Frey analógico. Neste teste, os animais foram avaliados diariamente até o 30º dia após a cirurgia quanto ao aparecimento de resposta de retirada da pata à aplicação de um monofilamento de nylon correspondente à pressão de 10 g, por ser a força que promoveu maior freqüência de resposta no grupo falso-operado desde o primeiro dia de observação após a lesão nervosa. Os animais foram colocados individualmente em caixas com malha de arame e o filamento foi aplicado entre os mesmos, no centro da planta da pata operada dos animais, até que este produzisse uma resposta de retirada e sacudida da mesma. Foi registrado o dia após a cirurgia em que houve a resposta do animal. 4.5.1.3 Resposta à estimulação elétrica A resposta dos animais à estimulação elétrica foi avaliada por meio da aplicação de estímulo elétrico com neuroestimulador cutâneo, nas intensidades de 5 V ou 39,0 V na face plantar esquerda da pata operada. Os animais foram avaliados diariamente até o 30º dia após a cirurgia quanto ao aparecimento de resposta e registrou-se o dia em que os mesmos 25 apresentaram resposta de retirada da pata a uma das duas voltagens avaliadas, como o dia de recuperação da função sensorial da pata. 4.5.2 Análise Histológica e Morfométrica As amostras foram preparadas para análise histológica e morfométrica no Laboratório de Marcadores Histo-Citológicos do Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC. No 30º dia após a indução da lesão nervosa por esmagamento e estiramento do nervo mediano da pata dianteira esquerda, os ratos foram eutanasiados em câmera de CO2 e este nervo foi removido por incisão no local da inserção do mesmo nas fossas axilar e cubital. As amostras foram fixadas em uma solução de formalina-zinco (cloreto de zinco 1,6%, formaldeído 4%, acetato de cálcio 20%) durante 24 horas. Imediatamente foram colocadas em dicromato de potássio a 5% por 5 dias e, posteriormente, lavadas em água corrente e deixadas na água (overnight) para remoção de todo dicromato, antes de sofrerem desidratação gradual em etanol. Em seguida o nervo foi seccionado em duas partes, proximal e distal, sendo que a porção distal foi imediatamente congelada a -80º para posterior dosagem das neurotrofinas NGF e BDNF. A porção proximal foi cuidadosamente desidratada em etanol, e utilizou-se a metodologia de rotina (CARGNIN-FERREIRA; SARASQUETE, 2008) para a inclusão em parafina 58ºC, utilizando como líquido intermediário o xilol, de acordo com as seguintes etapas: a) desidratação e inclusão em parafina: etanol 70% (mínimo 24 horas), etanol 80% (45 minutos), etanol 90% (45 minutos), etanol absoluto 100% I (45 minutos), Etanol absoluto II (45 minutos), etanol-xilol 1/1 (45 minutos), xilol I (45minutos), xilol II (45 minutos), parafina I (1 hora), parafina II (1 hora), parafina III (1 hora); b) uma vez que o material foi incluído verticalmente em parafina e foram feitos seus blocos, estes foram cortados em um micrótomo Leica RM 2025 com espessura de 5 µm; c) os cortes foram então estirados e recolhidos em um banho termostático a 52ºC e dispostos sobre lâminas gelatinizadas para sua fácil adesão. Para a histomorfometria, os cortes obtidos foram desparafinizados e hidratados segundo a metodologia de rotina e corados com a técnica de Cason (CARGNIN-FERREIRA; SARASQUETE, 2008) e Oil Red (KIERNAN, 1999). As preparações histológicas foram dispostas numa solução de Orange G (1%), Fucsina Ácida (1%), Azul de Anilina (1%) e ácido fosfotúngstico (1%) durante 5 minutos e depois em solução hidroalcóolica Oil Red (1%) por 1 minuto. Decorrido este tempo, as lâminas foram lavadas para retirada do excesso de corante, 26 desidratadas e montadas em meio de montagem aquoso. A opção pela técnica acima descrita deveu-se ao fato de que, ao contrário da coloração bicromática hematoxilina-eosina, as técnicas tricrômicas aumentam os contrastes e evidenciam melhor as estruturas analisadas. Como tratamento das imagens, a análise histológica foi realizada em corte transversal da porção proximal do nervo mediano esquerdo, restrita ao tecido conjuntivo e à área de bainha mielinizada. As imagens foram adquiridas usando-se uma câmera digital de microscopia modelo TA – 0124-A, conectada a um microscópio de luz DME (Leica). As imagens foram capturas em aumento de 1000x e ampliada mais 200x para análise pelo Image Pro Plus Software 6.0 (Media Cybernetics, Bethesda, Maryland). Posteriormente, as imagens foram analizadas em um programa de imagem (Chtool) desenvolvido pelo Projeto Cyclops (Depto. de Informática – UFSC) para análises histopatológicas dos projetos desenvolvidos pelo Dr. Eduardo Cargnin Ferreira e para o Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário. O programa atualmente desenvolvido analisa as imagens policromáticas diretamente, o que leva a uma maior precisão nas quantificações planimétricas das alterações histopatológicas porque integram distintos matizes de cor derivados das técnicas de coloração utilizadas. Para a análise morfométrica foram selecionados os melhores cortes, pela microscopia de pequeno aumento, descartando os cortes de má qualidade que poderiam prejudicar o processo de medida dos parâmetros a serem avaliados. Os critérios de seleção dos cortes foram a integridade da morfologia do nervo, particularmente do perineuro, qualidade da coloração, ausência de artefatos de técnicas (rachaduras, dobras). Depois de corados, os cortes foram observados e fotografados com microscopia de luz e uma série de 4 parâmetros foram quantificados: (1) densidade de fibras mielinizadas (fibras/mm2), (2) área de fibras mielinizadas (%), (3) área de tecido conjuntivo (%), sendo que para este parâmetro os fragmentos de degeneração foram subtraídos da imagem analisada, e (4) fragmentos de degeneração (%). Como forma de se garantir um controle de qualidade, todo o estudo histológico, desde a biópsia até a análise das imagens obtidas a partir das preparações histológicas foram realizadas por um único observador. 4.5.3 Dosagem das Neurotrofinas BDNF e NGF a Partir do Nervo Mediano Os níveis teciduais de brain derived neurotrophic factor (BDNF) e nerve growth factor (NGF) foram avaliados como descrito anteriormente (CAMPOS et al., 2002) com 27 poucas modificações, conforme segue. Estas avaliações foram realizadas no 30º dia após a indução da lesão nervosa por esmagamento e estiramento do nervo mediano. A porção proximal ao esmagamento do nervo mediano dos ratos foi removida e homogeneizada com PBS contendo Tween 20 (0.05%), fluoreto de fenilmetilsulfonil 0.1 mM, cloreto de benzometônio 0.1 mM, EDTA 10 mM, e aprotinina A 2 ng/ml. A solução formada foi centrifugada a 3.000 x g por 10 minutos a 4ºC, e o sobrenadante foi armazenado a -70ºC por no máximo 2 semanas. Os níveis das neurotrofinas foram determinados utilizando-se kits específicos de ELISA (R&D systems) de acordo com as recomendações do fabricante. 4.6. ANÁLISE DOS DADOS Os resultados foram apresentados como média ± S.E.M (erro padrão da média) e foram analisados no programa Graphpad Instat®, usando ANOVA seguida de Tukey para valores obtidos de variáveis contínuas (ex.: força em g) ou de Kruskal-Wallis para valores obtidos de variáveis ordinais (ex.: dia após cirurgia para recuperação sensorial). Foram considerados como estatisticamente significantes os valores de p< 0,05. 28 5 RESULTADOS O procedimento de indução da lesão nervosa em ratos por esmagamento seguido de estiramento promoveu uma perda da função do nervo mediano (Figura -7). Isto pode ser observado, uma vez que em comparação com o grupo falso-operado os animais dos dois grupos que sofreram a lesão do nervo mediano apresentaram redução na força de agarrar, quando avaliados no teste do Grasping. A perda total da força de agarrar perdurou até o 12º dia após a lesão do nervo (p< 0,001), quando as médias de força de agarrar nestes grupos foram iguais a zero; a força retornou gradativamente a partir deste dia, sem alcançar, contudo, valores semelhantes ao grupo falso-operado até o 30º dia (p < 0,05). O tratamento diário dos animais com gabapentina (300 mg/kg, v.o.), por sua vez, não alterou a atividade funcional motora do nervo lesionado; isto porque os valores obtidos para a força de agarrar destes animais ao longo dos 30 dias de avaliação não diferiram dos observados no grupo que sofreu a lesão e recebeu veículo como tratamento diário (Figura -7). Da forma avaliada neste estudo, a GABAP também não foi capaz de promover alteração da atividade sensorial do nervo mediano de ratos nos testes de estimulação mecânica ou elétrica. A Figura -8 demonstra que no teste do von Frey, a média para o dia de retorno da capacidade sensorial mecânica no grupo tratado com GABAP (operado + GABAP) foi de 14,4 ± 0,5 dias, não diferindo do valor médio observado nos animais do grupo tratado com veículo (operado + veículo; 13,1 ± 0,2 dias). Dados semelhantes foram encontrados para a atividade sensorial elétrica, conforme pode ser observado na Figura -9. Não houve diferença no dia médio para recuperação da resposta à estimulação elétrica entre os grupos que receberam ou não o tratamento diário com a GABAP (300 mg/kg, intragástrica, por 30 dias), tanto para o estímulo de 5V quanto para o de 39V. Outro dado encontrado foi o de que o tempo médio (em dias) para a recuperação da atividade sensorial do nervo mediano ao estímulo de 5V foi significativamente maior do que para o estímulo de 39V tanto no grupo falso-operado (respectivamente 4,3 ± 0,5 dias e 2,4 ± 0,3 dias; p< 0,001), quanto no grupo operado + veículo (respectivamente 17,7 ± 0,8 dias e 14,0 ± 1,3 dias; p< 0,001) ou operado + GABAP (respectivamente 16,4 ± 0,7 dias e 14,1 ± 0,6 dias; p< 0,001). 29 Figura 7 - Influência da GABAP no teste de Grasping em ratos com lesão de nervo mediano. 0 2 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 falso-operado operado+veículo operado+GABA 400 Força de agarrar (em g) 4 300 200 100 0 * ** ** ** * * * * * * * ** * * * * ** * * ** * * ** * * * * 2 4 6 8 10 12 14 * * * * ** * ** * * * * * * * * * * * * * * ** 16 18 20 22 24 26 28 30 Dias após indução da lesão Fonte: Elaboração do autor, 2012. Legenda: Influência da GABAP no teste de Grasping em ratos com lesão de nervo mediano. A recuperação funcional foi medida por 30 dias após a indução da lesão, sendo registrada a força de tração (em g) necessária para que os animais soltassem a grade presa à balança. A influência da GABAP (300 mg/kg, intragástrica, por 30 dias) em animais que sofreram lesão do nervo mediano por estiramento + esmagamento (operado + GABAP) foi analisada em relação ao grupo de animais que sofreu a lesão e foi tratado diariamente com veículo (salina, operado + veículo). A perda da atividade funcional do nervo, promovida pela lesão, foi avaliada comparando-se este último grupo ao grupo de animais que sofreu cirurgia sem a lesão nervosa e que foram tratados diariamente com GABAP (falso-operado). Grupos de animais com n= 9-10); * p< 0,05 quando comparado ao grupo falsooperado; ANOVA seguida de Tukey. 30 Dia da recuperação à sensibilidade mecânica Figura 8 - Influência da GABAP no teste de von Frey em ratos com lesão de nervo mediano. 20 15 * * 10 5 0 lesão nervosa GAPAB + + - + + Fonte: Elaboração do autor, 2012 Legenda: Os animais foram avaliados diariamente quanto à resposta de retirada da pata à estimulação com monofilamento de nylon correspondente à pressão de 10 g, sendo registrado o dia após a indução da lesão em que houve o aparecimento desta resposta. Os dados são apresentados como a média ± E.P.M. (erro padrão da média) para as resposta individuais dos animais. A resposta dos animais tratados com GABAP (300 mg/kg, intragástrica) em animais que sofreram lesão do nervo mediano por estiramento+esmagamento (operado + GABAP, barra preta) foi analisada em relação ao grupo de animais que sofreu a lesão e foi tratado diariamente com veículo (operado + veículo, barra cinza). O efeito promovido pela lesão do nervo sobre a sensibilidade mecânica foi analisado comparando-se as respostas destes últimos grupos às dos animais que sofreram cirurgia sem a lesão nervosa e que foram tratados diariamente com GABAP (falso-operado, barra branca). Asteriscos (*) denotam diferença estatística em relação ao grupo falso-operado (n= 9-10, ANOVA seguida de Kruskal-Wallis, p< 0,05). 31 Figura 9 - Influência da GABAP no teste de estimulação elétrica em ratos com lesão de nervo Dia da recuperação à sensibilidade mecânica mediano. 20 * 15 20 * 15 10 10 5 5 0 0 * * Lesão nervosa - + + - + + GAPAB + - + + - + Fonte: Elaboração do autor, 2012. Legenda: Os animais foram avaliados diariamente quanto à resposta de retirada da pata à estimulação elétrica de 5 V (painel A) ou 39 V (painel B), sendo registrado o dia após a indução da lesão em que houve o aparecimento desta resposta. Os dados são apresentados como a média ± E.P.M. (erro padrão da média) para as resposta individuais dos animais. A resposta dos animais tratados com GABAP (300 mg/kg, intragástrica) em animais que sofreram lesão do nervo mediano por estiramento+esmagamento (operado + GABAP, barra preta) foi analisada em relação ao grupo de animais que sofreu a lesão e foi tratado diariamente com veículo (operado + veículo, barra cinza). O efeito promovido pela lesão do nervo sobre a sensibilidade mecânica foi analisado comparando-se as respostas destes últimos grupos às dos animais que sofreram cirurgia sem a lesão nervosa e que foram tratados diariamente com GABAP (falso-operado, barra branca). Asteriscos (*) denotam diferença estatística em relação ao grupo falso-operado (n= 9-10, ANOVA seguida de Kruskal-Wallis, p< 0,05). Ausência de efeito para a GABAP (300 mg/kg, oral, 30 dias) também foi registrada quanto aos níveis das neurotrofinas BDNF e NGF determinados a partir de amostra do nervo mediano da pata que foi lesionada nos animais dos diferentes grupos. A Figura -10 demonstra que não houve diferença estatística entre os três grupos para as concentrações das duas neurotrofinas dosadas no 30º. dia após a lesão do nervo. 32 Figura 10 - Influência da GABAP sobre a concentração de neurotrofinas dosadas a partir do 2 0.025 pg/mg de proteína pg/mg de proteína nervo mediano de ratos. 1 0 0.020 0.015 0.010 0.005 0.000 Lesão nervosa - + + - + + GAPAB + - + + - + Fonte: Elaboração do autor, 2012. Legenda: O BDNF (brain-derived neutrotrophic factor, painel A) e o NGF (nerve growth factor, painel B) foram dosados a partir da porção distal do nervo mediano, retirado no 30º. dia após a indução da lesão. Os dados são apresentados como a média ± E.P.M. (erro padrão da média) para os dados obtidos individualmente dos nervos de cada animais. A influência sobre as neurotrofinas em animais tratados com GABAP (300 mg/kg, intragástrica) e que sofreram lesão do nervo mediano por estiramento+esmagamento (operado + GABAP, barra preta) foi analisada em relação ao grupo de animais que sofreu a lesão e foi tratado diariamente com veículo (operado + veículo, barra cinza). O efeito promovido pela lesão do nervo sobre a dosagem de neurotrofinas foi analisado comparando-se as respostas destes últimos grupos às dos animais que sofreram cirurgia sem a lesão nervosa e que foram tratados diariamente com GABAP (falso-operado, barra branca). Grupos com n= 9-10, ANOVA seguida de Kruskal-Wallis. Com relação aos achados histológicos, contudo, observou-se que o tratamento dos animais com a GABAP (300 mg/kg, via oral, administração diária por 30 dias) promoveu melhora em alguns parâmetros morfométricos analisados, quando comparados com o grupo tratado com o veículo, conforme pode ser observado na Figura -11. 33 Figura 11 - Micrografia de luz obtida de cortes transversais do nervo mediano, 30 dias após lesão por esmagamento e estiramento. A B C Legenda: Porções proximais de nervo mediano, respectivamente para os grupos falso-operado (painel A), operado + veículo (painel B) e operado + GABAP (painel C). Nota-se o aparente espectro de fibras bimodais, mielinizadas de pequeno e grande calibre (em vermelho) e escasso tecido conjuntivo (em verde) no espaço endoneural entre as fibras mielinizadas. No painel B, predominância de fibras finas e de pequeno diâmetro, além de aumento no tecido conjuntivo no espaço endoneural, muito sugestivo de fibrose endoneural. No painel C, fibras mielinizadas com aspecto semelhante ao grupo falso-operado. As imagens foram capturadas com aumento de 1.000x. Escala da barra de 5 µm. Com relação aos achados histológicos, contudo, observou-se que o tratamento dos animais com a GABAP (300 mg/kg, via oral, administração diária por 30 dias) promoveu melhora em alguns parâmetros morfométricos analisados, quando comparados com o grupo tratado com o veículo, conforme pode ser observado na Figura -12. A análise morfométrica das imagens dos cortes transversais da porção distal do nervo mediano (Figura -12) demonstrou que no 30º dia após a indução da lesão por esmagamento + estiramento, na análise da área de fibras mielinizadas (percentagem [%], Figura -12A) o grupo operado + veículo (12,2 ± 1,2%) apresentou uma redução da mesma quando comparado ao grupo falso-operado (57,1 ± 3,1%; p< 0,001), no entanto, observou-se um aumento desta percentagem no grupo operado + GABAP (38,6 ± 3,0%; p< 0,001). 34 Figura 12 - Imagens da análise morfométrica das secções transversais do nervo mediano 30 dias após a indução da lesão por esmagamento e estiramento. A B C D Legenda: Aumento de 1000x (A-B). Quantificação da área de fibras mielinizadas, como indica a seta grossa (painel A) e a marcação em verde (painel B); (A-C) quantificação da área de tecido conjuntivo indicada pela seta fina (painel A) e pela marcação em verde (painel C), e (A-D) quantificação dos fragmentos de degeneração, como indicado pelas duplas setas (panel A) e pela marcação em verde do painel D. As secções dos nervos foram coradas com a coloração tricrômica de Mason a qual permitiu uma evidente diferenciação entre o tecido mielinizado (vermelho) e o tecido conjuntivo (verde). Escala da barra de 5 µm. Quanto à percentagem da área de tecido conjuntivo observada nos cortes do nervo mediano (Figura -12B), novamente ocorreu diferença entre os grupos falso-operado e operado + veículo (respectivamente 9,3 ± 1,2% e 76,5 ± 4,2%; p< 0,001), com aumento significativo neste último grupo em relação ao primeiro e, mais uma vez, sendo o efeito da lesão nervosa observada sobre o grupo falso-operado reduzido pelo tratamento com GABAP (63,6 ± 5,20%; p< 0,05). O efeito benéfico da GABAP também foi observado em relação à densidade de fibras mielinizadas/mm2; percebe-se na Figura -12C que o grupo operado + veículo (controle) 35 apresentou média de densidade de 18.789 ± 3.568 fibras/mm2, que não diferiu estatisticamente do grupo falso-operado (22.982 ± 885.6 fibras/mm2); por outro lado, houve aumento significativo no grupo operado + GABAP com relação aos dois primeiros grupos, apresentando valor médio de 29.600 ± 2.822 fibras/mm2 de densidade de fibras (p< 0,05). Finalmente, enquanto o grupo falso-operado praticamente não apresentou fragmentos de degeneração (0,25 ± 0,2%), observou-se aumento deste índice no grupo operado + veículo para 5,3 ± 1,0% (p < 0,01) e novamente uma reversão parcial deste efeito promovida pelo tratamento dos animais com GABAP (2,5 ± 0,8%; p< 0,05). 36 Figura 13 - Influência da GABAP sobre parâmetros histológicos obtidos de secções transversais do nervo mediano de ratos, 30 dias após lesão por esmagamento seguido de densidade fibras mielinizadas/mm 2 30000 A B * # Sham Salina Gabapentina * C 20000 10000 Lesão GAPAB área tecido conjuntivo (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 Sham Salina Gabapentina + + - + + área de degeneração (%) área fibras mielinizadas (%) estiramento. # 80 * 60 40 20 0 7 6 5 4 3 2 1 0 Sham Salina Gabapentina # D * Sham Salina + + - Gabapentina + + Fonte: Elaboração do autor, 2012. Legenda: Quantificação da área de fibras mielinizadas (Painel A), da área de tecido conjuntivo (Painel B), de densidade de fibras mielinizadas/mm2 (Painel C) e dos fragmentos de degeneração (Painel d). A quantificação foi realizada a partir das imagens capturas em aumento de 1000x para análise pelo Image Pro Plus Software 6.0 (Media Cybernetics, Bethesda, Maryland) e posteriormente analizadas pelo programa de imagem (Chtool) desenvolvido pelo Projeto Cyclops do Departamento de Informática da UFSC. Grupos de animais com n= 9-10; p< 0,05; ANOVA seguida de Tukey. (#) denotam diferença estatística em relação ao grupo falso-operado + GABA e (*) em relação ao grupo lesão + veículo. 37 6 DISCUSSÃO De acordo com dados apresentados em uma revisão recente, em cerca de 3% dos pacientes que sofrem traumas ocorrem lesões nervosas. Destes, apenas a metade recupera a sua função e em menos de 10% dos casos há recuperação completa (IRINTCHEV, 2011). Desta forma, a elucidação dos fenômenos compreendidos na regeneração nervosa, bem como a busca por novas alternativas de tratamento constituem-se objetivos extremamente relevantes na área. O papel do sistema GABAérgico endógeno durante a regeneração nervosa ainda é controverso. Wu e colaboradores (2008) observaram que o tratamento em ratos, com ácido valpróico, substância que aumenta a liberação de GABA, melhorou a regeneração do nervo ciático , nos animais, após lesão induzida por incisão. Por outro lado, a pregabalina, um análogo do GABA, não promoveu melhora da regeneração do nervo ciático de ratos com lesão induzida por esmagamento (WHITLOCK et al., 2007). Apesar desta controvérsia, foi demonstrado a partir de estudos in vitro que os receptores GABA-A e GABA-B podem interagir de maneira a influenciar as células de Schwann quanto a produção de proteínas formadoras da bainha de mielina. De acordo com revisão de Magnaghi e colaboradores (2009), enquanto os receptores GABA-A exercem efeito estimulatório sobre a peripheral myelin protein (PMP22), os receptores GABA-B causariam redução da expressão desta proteína. O interesse em avaliar o papel da GABAP, um análogo do GABA, sobre a regeneração nervosa decorre destes achados, bem como do fato de que a mesma vem sendo amplamente empregada no tratamento da dor neuropática, como a experimentada por pacientes com lesão nervosa periférica (SELPH et al., 2011). Além disso, existem evidências empíricas de que o tratamento com outro análogo deste neurotransmissor leva a um melhor prognóstico funcional em pacientes com lesão de nervo periférico (WHITLOCK et al., 2007). O presente estudo demonstrou, ao que tudo indica pela primeira vez, que a administração diária e sistêmica de GABAP (300 mg/kg, via oral por 30 dias) promoveu resultados favoráveis sobre diferentes parâmetros histológicos relacionados à regeneração nervosa, em ratos submetidos à lesão por esmagamento e estiramento em nervo mediano. Por outro lado, o tratamento prévio dos animais com a substância não promoveu a alteração de diferentes comportamentos utilizados para a avaliação funcional do nervo. Embora, no presente estudo, tenha sido utilizada apenas uma dose de GABAP para avaliação destes efeitos, levando-se em consideração a escassez de dados na literatura 38 sobre o tema esta dose foi selecionada tendo como base alguns aspectos. Primeiramente, esta é a dose preconizada para o tratamento da dor neuropática em humanos, em dose única diária, por via oral, semelhante ao procedimento que foi adotado neste estudo. Em segundo lugar, foi a dose usada em um trabalho preliminar em que a droga, associada à nitroglicerina, melhorou parâmetros de regeneração do nervo ciático tais como proporção, formato e tamanho das células nervosas de nervo ciático (AYDIN et al., 2009). Finalmente, outros estudos que avaliaram alteração na nocicepção em animais em modelos de dor neuropática observaram que doses de 30 ou 100 mg/Kg promoveram, respectivamente, redução da alodinia tatil e hiperalgesia mecânica em camundongos (OMORI et al., 2009), bem como da alodinia mecânica em ratos (HAHN et al., 2009). Assim, a ausência de efeito comportamental observada para a mesma neste estudo não parece ser decorrente da dose de GABAP empregada, mas sim exclusivamente da falta de ação da substância sobre estes parâmetros no modelo utilizado. Com relação ao modelo, sabe-se que a indução de lesão de diferentes nervos por esmagamento vem sendo uma técnica amplamente empregada para o estudo de possíveis tratamentos da dor neuropática (BOBINSKI et al., 2011; MARTINS et al., 2011; BORDET et al., 2008). Quanto à regeneração nervosa, contudo, apesar deste modelo ser menos empregado discute-se que ele pode ser bastante útil, principalmente pelo fato de que a lesão nervosa que ele causa (de axoniotmese) apresenta uma evolução para a regeneração relativamente rápida, bem como pela técnica ser de fácil execução (WOLTHERS et al., 2005). Por outro lado, Tos e colaboradores (2009) lembram que esta rápida recuperação também pode ser considerada uma desvantagem, uma vez que pode reduzir a sensibilidade do método para detectar diferenças de efeitos entre tratamentos diversos (TOS et al., 2009). A partir dos achados do presente estudo, contudo, acreditamos que a ausência de efeito da GABAP nos parâmetros funcionais avaliados nos modelos do Grasping e de sensibilidade sensorial (mecâmica e elétrica) não deva ser decorrente deste último aspecto. Isto porque ocorreu uma diferença bastante significativa entre os efeitos observados entre o grupo falso-operado e operado + veículo, promovendo uma margem considerável que permitiria a visualização de qualquer efeito da GABAP sobre estes parâmetros, em relação ao grupo tratado com veículo, o que não foi encontrado no presente estudo. Principalmente ainda pelas limitações da técnica de indução de lesão nervosa por esmagamento citadas anteriormente, no presente estudo o método foi adaptado com o procedimento de estiramento seguindo o esmagamento, como forma de tentar causar uma lesão nervosa mais pronunciada, e mais semelhante ao que pode ser observado clinicamente 39 (CAI et al., 1998). Com esta alteração o retorno da atividade funcional do nervo, avaliado pelo teste do Grasping, passou a ocorrer em torno do 13º. dia após a indução da lesão, diferentemente do que ocorreu com a técnica de lesão apenas por esmagamento anteriormente observada em nosso laboratório, que ocorreu em torno do 8º. dia (BERTELLI e MIRA, 1995). Este fato pode ter contribuído também para o desfecho das avaliações histológicas do presente estudo, que permitiram visualizar um efeito importante para a GABAP quanto aos aspectos de aumento de densidade e de área de fibras mielinizadas, além de redução de áreas degeneradas e de tecido conjuntivo. Isto porque num estudo prévio envolvendo o modelo de lesão apenas por esmagamento do ciático em ratos, outro análogo do GABA, a pregabalina, não foi capaz de alterar a regeneração nervosa, avaliada após 21 dias da lesão em testes comportamentais e morfométricos (WHITLOCK et al., 2007). As diferenças nas técnicas empregadas para a indução da lesão nervosa também podem influenciar o tempo de regeneração observado em cada um deles. Cabe então discutir o tempo para a avaliação dos parâmetros funcionais e de regeneração que foi selecionado neste estudo, de 30 dias após a indução da lesão nervosa. Este período para observação foi escolhido por conveniência. Sabe-se que embora o restabelecimento funcional de um tecido lesado dependa das alterações histológicas e/ou morfológicas ocorridas no mesmo, nem sempre os resultados funcionais são observados simultânea ou imediatamente após o rearranjo celular ou tecidual (WOLTHERS et al., 2005) Assim, apesar dos nossos achados histológicos demonstrarem a melhora da regeneração promovida pela GABAP, a falta de correlação dos mesmos com o efeito funcional pode sugerir que as alterações promovidas pela substância não são significativas para a recuperação da função do nervo no tempo de observação permitido pelo método empregado no estudo. Por outro lado, embora deva ser levada em consideração a natureza da lesão nervosa, deve-se lembrar que a recuperação funcional é complexa e multifatorial, envolvendo também além do nervo o tecido muscular. Uma revisão recente sobre modelos de lesão de nervos mistos em roedores discute diferentes fatores que podem influenciar a recuperação funcional dos mesmos por transecção, mesmo após imediato reparo por microcirurgia (IRINTCHEV, 2011). Para este autor, entre os fatores limitantes que podem ser citados está o direcionamento equivocado para crescimento dos axônios, a diminuição da oferta de fatores tróficos pelas células de Schwann e propriedades funcionais aberrantes nos axônios regenerados, entre outros. Ainda sobre os fatores que podem influenciar a regeneração nervosa, o presente estudo também investigou uma possível influência da GABAP sobre as neurotrofinas BDNF e 40 NGF dosadas no nervo mediano, no 30º dia após a lesão. O papel destas neurotrofinas em promover uma regeneração mais precoce do nervo ciático foi demonstrado anteriormente por Gordon (2009). Além disso, o tratamento de ratos com BDNF e NGF exógenas demonstrou efetividade em promover aumento do número de neurônios motores, bem como de regenerar seus axônios (BOYD; GORDON, 2002; 2003). Também foi registrado em modelos animais que procedimentos que melhoram a regeneração nervosa tais como a estimulação elétrica e a prática de exercício moderado, elevam o nível de BDNF ( AL-MAJED; BRUSHART; GORDON et al., 2000; SABATIER et al., 2008). Tais achados reforçam a hipótese de que substâncias que promovam um aumento de produção das neurotrofinas influenciam positivamente a regeneração nervosa. Nas condições do presente estudo, contudo, não foi observada influência da GABAP sobre as concentrações de BDNF e NGF a partir do nervo mediano. Tal fato pode ter sido resultado do período selecionado para a realização desta análise. Embora tenham sido registrado que o aumento da expressão das neurotrofinas BDNF e NGF em nervos que sofreram axoniotmese ocorre principalmente nos primeiros 10 dias após a lesão (GORDON, 2009), no presente estudo o período de 30 dias foi empregado por questões metodológicas, podendo representar uma limitação. Apesar das possíveis limitações do método empregado, contudo, outros fatores justificam o uso deste para o estudo de regeneração nervosa. Inicialmente, Tos e colaboradores (2009) discutem que este método é adequado para o estudo de fármacos e substâncias com envolvimento nos mecanismos de regeneração, entre outras coisas porque englobam a fisiopatogenia da lesão neuronal e porque a resposta à lesão gerada apresenta pouca variação entre os animais estudados (TOS et al., 2009). Por sua vez, Irintchev (2011), lembra em sua revisão que o uso de modelos de lesão de nervo mediano pode ser mais propício do que com lesão de nervo ciático, uma vez que a maioria das intervenções cirúrgicas de reparo de nervos lesionados em humanos é realizada em membros superiores, ainda, o teste do Grasping é particularmente interessante porque requer habilidade para os movimentos finos dos dedos e que, além disso, tais movimentos são muito semelhantes entre roedores e humanos. Uma última consideração em relação ao método empregado no presente estudo, diz respeito ao número de grupos experimentais avaliados. Apesar de a análise dos resultados não ter sido controlada por um grupo falso-operado com administração oral e diária de veículo, acreditamos que os efeitos da GABAP no grupo operado + GABAP em relação ao grupo operado + veículo podem ser considerados específicos. Isto com base nos resultados 41 obtidos teste do Grasping, no qual o efeito observado no grupo falso-operado após 30 dias de administração da mesma não diferiu daqueles obtidos nos primeiros dias de observação. 42 7 CONCLUSÃO Nossos resultados confirmam a utilidade do modelo de lesão induzida por esmagamento seguido de estiramento, como adaptação à técnica de esmagamento, para o estudo de parâmetros histológicos e funcionais associados à regeneração do nervo mediano. Os dados apontam ainda para um efeito benéfico da GABAP sobre a regeneração nervosa, observados principalmente a partir de análise histológica. 43 8 PERSPECTIVAS Sugere-se que novos estudos sejam conduzidos sobre o tema, já que a confirmação da ação da GABAP sobre a regeneração nervosa, bem como dos mecanismos envolvidos, poderia trazer subsídios para um maior entendimento sobre a ação da mesma, bem como para a descoberta de novas abordagens de tratamento desta condição. 44 REFERÊNCIAS AKBORU, I. M. et al. The surgical anatomy of the brachial plexus. Turkish Neurosurgery, Ankara, v. 20, n. 2, p. 142-150, Apr. 2010. AL-MAJED, A. A.; BRUSHART, T. M.; GORDON, T. Electrical stimulation accelerates and increases expression of BDNF and trkB mRNA in regenerating rat femoral motoneurons. The European journal of neuroscience, Oxford, v. 12, n. 12, p. 4381-90, 2000. ASPLUND, M. et al. Incidence of traumatic peripheral nerve injuries and amputations in Sweden between 1998 and 2006. Neuroepidemiology, Basel, v. 32, n. 3, p. 217-228, 2009. AYDIN, O. N. et al. 397 The effects of gabapentin combined with nitroglycerine to the liver, kidney, and nerve regeneration of rats. European Journal of Pain, London, v. 13, n. Supplement 1, p. S119-S119, 2009. BARON-VAN EVERCOOREN, A. et al. Nerve growth factor, laminin, and fibronectin promote neurite growth in human fetal sensory ganglia cultures. Journal of neuroscience research, New York, v. 8, n. 2-3, p. 179-193, 1982. BATTISTON, B. et al. Nerve repair by means of tubulization: literature review and personal clinical experience comparing biological and synthetic conduits for sensory nerve repair. Microsurgery, v. 25, n. 4, p. 258-267, 2005. BAYER K, AHMADI S, ZEILHOFER H.U. Gabapentin may inhibit synaptic transmission in the mouse spinal cord dorsal horn through a preferential block of P/Q-type Ca2+ channels. Neuropharmacology, Oxford, v. 46, n. 5, p. 743-749, Apr. 2004. BERTELLI, J. A.; GHIZONI, M. F. Long Thoracic Nerve: Anatomy and Functional Assessment. The Journal of bone and joint surgery. American volume, Boston, v. 87, n. 5, p. 993-998, May 2005. BERTELLI, J. A.; GHIZONI, M. F. Pain after avulsion injuries and complete palsy of the brachial plexus: the possible role of nonavulsed roots in pain generation. Neurosurgery, v. 62, n. 5, p. 1104-1113, May 2008. BERTELLI, J. A.; MIRA, J. C. The grasping test: a simple behavioral method for objective quantitative assessment of peripheral nerve regeneration in the rat. Journal of neuroscience methods, Amsterdam, v. 58, n. 1-2, p. 151-155, 1995. BEVERLEY, W. Quality of life issues for patients following traumatic brachial plexus injury – Part 1 A Literature review. v. 13, n. 4, p. 194-200, 2009. ______. Quality of life issues for patients following traumatic brachial plexus injury – Part 2 Research project. v. 14, n. 1, p. 5-11, 2010. BOBINSKI, F. et al. Neuroprotective and neuroregenerative effects of low-intensity aerobic exercise on sciatic nerve crush injury in mice. Neuroscience, v. 194, p. 337-348, Oct. 2011. 45 BORDET, T. et al. Specific antinociceptive activity of cholest-4-en-3-one, oxime (TRO19622) in experimental models of painful diabetic and chemotherapy-induced neuropathy. The Journal of pharmacology and experimental therapeutics, Baltimore, v. 326, n. 2, p. 623-632, Aug. 2008. BOYD, J. G.; GORDON, T. A dose-dependent facilitation and inhibition of peripheral nerve regeneration by brain-derived neurotrophic factor. The European journal of neuroscience, v. Oxford 15, n. 4, p. 613-626, 2002. ______. Glial cell line-derived neurotrophic factor and brain-derived neurotrophic factor sustain the axonal regeneration of chronically axotomized motoneurons in vivo. Experimental neurology, New York, v. 183, n. 2, p. 610-9, 2003. CAI, Z. et al. Experimental studies on traumatic facial nerve injury . The Journal of laryngology and otology, London, v.112, n. 3, p. 243-247, Mar. 1998. CAMPOS, M. M. et al. The role of migrating leukocytes in IL-1β-induced up-regulation of kinin B1 receptors in rats. British journal of pharmacology, London, v. 135, n. 5, p. 11071114, 2002. CARGNIN-FERREIRA, E.; SARASQUETE, C., Eds. Histofisiología de moluscos bivalvos marinos, Madrid, v.1, p.93. 2008. CASHA, S.; YONG, V. W.; MIDHA, R. Minocycline for axonal regeneration after nerve injury: a double-edged sword. Experimental neurology, New York, v. 213, n. 2, p. 245-248, Oct. 2008. COSTIGAN, M.; SCHOLZ, J.; WOOLF, C. J. Neuropathic pain: a maladaptive response of the nervous system to damage. Annual review of neuroscience, Palo Alto, v. 32, p. 1-32, 2009. DANILOFF, J. K. et al. Altered expression of neuronal cell adhesion molecules induced by nerve injury and repair. The Journal of cell biology, New York, v. 103, n. 3, p. 929-945, Sep. 1986. ERNFORS, P. et al. Molecular cloning and neurotrophic activities of a protein with structural similarities to nerve growth factor: developmental and topographical expression in the brain. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, Washington, v. 87, n. 14, p. 54-58, July 1990. ESER, F. et al. Etiological factors of traumatic peripheral nerve injuries. Neurology India, Bombay, v. 57, n. 4, p. 434-437, July-Aug. 2009. FLORES, A. J.; LAVERNIA, C. J.; OWENS, P. W. Anatomy and physiology of peripheral nerve injury and repair. American journal of orthopedics (Belle Mead, N.J.), Belle Mead, v. 29, n. 3, p. 167-173, Mar. 2000. FLORES, L. P. Estudo epidemiológico das lesões traumáticas de plexo braquial em adultos. Arquivos de neuro-psiquiatria, São Paulo, v. 64, p. 88-94, 2006. 46 FU, S. Y.; GORDON, T. The cellular and molecular basis of peripheral nerve regeneration. Molecular neurobiology, Clifton, v. 14, n. 1-2, p. 67-116, Feb-Apr. 1997. FUNAKOSHI, H. et al. Differential expression of mRNAs for neurotrophins and their receptors after axotomy of the sciatic nerve. The Journal of cell biology, New York, v. 123, n. 2, p. 455-465, Oct. 1993. GAUDET, A. D.; POPOVICH, P. G.; RAMER, M. S. Wallerian degeneration: gaining perspective on inflammatory events after peripheral nerve injury. Journal of neuroinflammation, London, v. 8, p. 110, 2011. GEUNA, S. et al. Nerve regeneration along bioengineered scaffolds. Microsurgery, New York, v. 27, n. 5, p. 429-438, 2007. GHIZONI, M. F., Avaliação da regeneração nervosa em extensa lesão neural associada ao uso ou não de hormônio esteróide anabolizante. 2011. 53 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2011. GIUFFRE, J. L. et al. Current concepts of the treatment of adult brachial plexus injuries. The journal of hand surgery, St. Louis, v. 35, n. 4, p. 678-688, Apr. 2010. GORDON, T. The role of neurotrophic factors in nerve regeneration. Neurosurgical focus, Charlottesville, v. 26, n. 2, p. E3, Feb. 2009 GORDON, T.; BRUSHART, T. M.; CHAN, K. M. Augmenting nerve regeneration with electrical stimulation. Neurological research, New York, v. 30, n. 10, p. 1012-1022, Dec. 2008. HALL, S. Axonal regeneration through acellular muscle grafts. Journal of anatomy, London, v. 190 ( Pt 1), p. 57-71, Jan. 1997. HAHM, T. S. et al. Protective effects of gabapentin on allodynia and alpha 2 delta 1-subunit of voltage-dependent calcium channel in spinal nerve-ligated rats. Journal of Korean medical science, Seoul v. 24, n. 1, p. 146-151, Feb. 2009. HEUMANN, R. Regulation of the synthesis of nerve growth factor. The Journal of experimental biology, London, v. 132, p. 133-150, Sep 1987 HOKE, A. Mechanisms of Disease: what factors limit the success of peripheral nerve regeneration in humans? Nature clinical practice. Neurology, London, v. 2, n. 8, p. 448-454, Aug. 2006. HOKFELT, T.; ZHANG, X.; WIESENFELD-HALLIN, Z. Messenger plasticity in primary sensory neurons following axotomy and its functional implications. Trends in neurosciences, Amsterdam, v. 17, n. 1, p. 22-30, Jan 1994. IRINTCHEV, A. Potentials and limitations of peripheral nerve injury models in rodents with particular reference to the femoral nerve. Annals of anatomy = Anatomischer Anzeiger : official organ of the Anatomische Gesellschaft, Jena, v. 193, n. 4, p. 276-85, July 2011. 47 JONATHAN, G. et al. The anatomy, investigations and management of adult brachial plexus injuries. Orthopaedics and trauma, v. 23, n. 6, p. 420-432, 2009. KAPLAN, S. et al. Development of the Peripheral Nerve. In: Stefano, G.;Pierluigi, T., et al (Ed.). Int Rev Neurobiol: Academic Press, cap.2, v. 87, 2009. p.9-26. KIERNAN, J. A., Ed. Histological and histochemical methods : theory and practice. Boston: Oxford [U.K.]; Butterworth-Heinemann. p.502. 1999. LABRANDERO-DE LERA, C. et al. [Congenital brachial palsy: its epidemiology and sequelae. A retrospective study of our case mix]. Revista de neurologia, Barcelona, v. 46, n. 12, p. 719-723, Jun. 2008. LEFFERT, R. D. Brachial-Plexus Injuries. New England Journal of Medicine, v. 291, n. 20, p. 1059-1067, 1974. LEIBROCK, J. et al. Molecular cloning and expression of brain-derived neurotrophic factor. Nature, London, v. 341, n. 6238, p. 149-152, Sep. 1989. LIEBERMAN, A. R. The axon reaction: a review of the principal features of perikaryal responses to axon injury. International review of neurobiology, New York, v. 14, p. 49-124, 1971. LIU, H. M. Growth factors and extracellular matrix in peripheral nerve regeneration, studied with a nerve chamber. Journal of the peripheral nervous system : JPNS, New York, v. 1, n. 2, p. 97-110, 1996. MAGNAGHI, V.; PROCACCI, P.; TATA, A. M. Chapter 15: Novel pharmacological approaches to Schwann cells as neuroprotective agents for peripheral nerve regeneration. International review of neurobiology, New York, v. 87, p. 295-315, 2009. MAGNAGHI, V. GABA and neuroactive steroid interactions in glia: new roles for old players? Current neuropharmacology, Sharjah, v. 5, p. 47-64, Mar. 2007. MARTINS, D. F. et al. Ankle joint mobilization reduces axonotmesis-induced neuropathic pain and glial activation in the spinal cord and enhances nerve regeneration in rats. Pain, Amsterdam v. 152, n. 11, p. 2653-2661, Nov. 2011. MATSUOKA I et al. Differential regulation of nerve growth factor and brain-derived neurotrophic factor expression in the peripheral nervous system. Annals of the New York Academy of Sciences. New York, v. 633, p. 550-552, 1991. MCALLISTER, R. M. R. et al. The epidemiology and management of upper limb peripheral nerve injuries in modern practice. The journal of hand surgery: Journal of the British Society for Surgery of the Hand, Edinburgh, v. 21, n. 1, p. 4-13, 1996. MEYER, M. et al. Enhanced synthesis of brain-derived neurotrophic factor in the lesioned peripheral nerve: different mechanisms are responsible for the regulation of BDNF and NGF mRNA. The Journal of cell biology, New York, v. 119, n. 1, p. 45-54, Oct. 1992. 48 MIRA, J. C. Effects of repeated denervation on muscle reinnervation. Clinics in plastic surgery, Philadelphia, v. 11, n. 1, p. 31-38, Jan. 1984. NAGAI, T. et al. Uptake and release of neurotransmitter candidates, [3H]serotonin, [3H]glutamate, and [3H]gamma-aminobutyric acid, in taste buds of the mudpuppy, Necturus maculosus. The Journal of comparative neurology, Philadelphia, v. 392, n. 2, p. 199-208, Mar.1998. NAIK, A.K. et al. Dorsal root ganglion application of muscimol prevents hyperalgesia and stimulates myelin protein expression after sciatic nerve injury in rats. Anesthesia and analgesia, Cleveland, v.114, n.3, p. 674-682, Mar. 2012. OMORI, Y. et al. A mouse model of sural nerve injury-induced neuropathy: gabapentin inhibits pain-related behaviors and the hyperactivity of wide-dynamic range neurons in the dorsal horn. Journal of pharmacological sciences, Kyoto, v. 109, n. 4, p. 532-539, Apr. 2009. PRIEST, C. A; PUCHE, A.C. GABAB receptor expression and function in olfactory receptor neuron axon growth. Journal of neurobiology, New York, v. 60, n. 2, p. 154-165, Aug. 2004. REN, X.; MODY, I. Gamma-hydroxybutyrate reduces mitogen-activated protein kinase phosphorylation via GABA B receptor activation in mouse frontal cortex and hippocampus. The Journal of biological chemistry, Baltimore, v. 278, n. 43, p. 42006-11, Oct. 2003. RODRIGUES-FILHO, R. et al. Avulsion injury of the rat brachial plexus triggers hyperalgesia and allodynia in the hindpaws: a new model for the study of neuropathic pain. Brain research rewiews, Amsterdam, v. 982, n. 2, p. 186-194, 2003. ROTSHENKER, S. Wallerian degeneration: the innate-immune response to traumatic nerve injury. Journal of neuroinflammation, London, v. 8, p. 109, 2011. SAADAT, S.; ESLAMI, V.; RAHIMI-MOVAGHAR, V. The incidence of peripheral nerve injury in trauma patients in Iran. Ulusal travma ve acil cerrahi dergisi = Turkish journal of trauma & emergency surgery : TJTES, Istanbul, v. 17, n. 6, p. 539-544, Nov. 2011. SABATIER, M. J. et al. Treadmill training promotes axon regeneration in injured peripheral nerves. Experimental neurology, New York, v. 211, n. 2, p. 489-493, 2008. SARIKCIOGLU, L. et al. Effect of severe crush injury on axonal regeneration: a functional and ultrastructural study. Journal of reconstructive microsurgery, New York, v. 23, n. 3, p. 143-149, Apr. 2007. SCHREYER, D. J.; SKENE, J. H. Fate of GAP-43 in ascending spinal axons of DRG neurons after peripheral nerve injury: delayed accumulation and correlation with regenerative potential. The Journal of neuroscience : the official journal of the Society for Neuroscience, Baltimore, v. 11, n. 12, p. 3738-51, Dec. 1991. 49 SELPH, S. et al. Drug Class Review: Neuropathic Pain: Final Update 1 Report. Portland: OR, 2011. SHULGA, A. et al. Posttraumatic GABA(A)-mediated [Ca2+]i increase is essential for the induction of brain-derived neurotrophic factor-dependent survival of mature central neurons. American journal of neuroscience, New York, v. 28, n. 27, p. 6996-7005, July 2008. SON, Y. J.; THOMPSON, W. J. Schwann cell processes guide regeneration of peripheral axons. Neuron, Cambridge, v. 14, n. 1, p. 125-132, Jan. 1995. STEIGER, J. L. et al. cAMP response element-binding protein, activating transcription factor-4, and upstream stimulatory factor differentially control hippocampal GABABR1a and GABABR1b subunit gene expression through alternative promoters. The Journal of neuroscience : the official journal of the Society for Neuroscience, Baltimore, v. 24, n. 27, p. 6115-6126, July 2004. TANABE M. et al. Role of descending noradrenergic system and spinal alpha2-adrenergic receptors in the effects of gabapentin on thermal and mechanical nociception after partial nerve injury in the mouse. British journal of pharmacology, London, v. 144, n. 5, p. 703714, Mar. 2005. TERENGHI, G. Peripheral nerve regeneration and neurotrophic factors. Journal of anatomy, London, v. 194 ( Pt 1), p. 1-14, Jan. 1999. THOENEN, H. et al. Nerve growth factor: cellular localization and regulation of synthesis. Cellular and molecular neurobiology, New York, v. 8, n. 1, p. 35-40, Mar. 1988. TOS, P. et al. Methods and Protocols in Peripheral Nerve Regeneration Experimental Research: Part I—Experimental Models. In: Stefano, G.;Pierluigi, T., et al (Ed.). Int Rev Neurobiol: Academic Press, v. 87, 2009. cap. 4, p.47-79. ULRICH, D.; BETTLER, B. GABA(B) receptors: synaptic functions and mechanisms of diversity. Current opinion in neurobiology, London, v. 17, n. 3, p. 298-303, June 2007. VAREJAO, A. S. et al. Functional and morphological assessment of a standardized rat sciatic nerve crush injury with a non-serrated clamp. Journal of neurotrauma, New York, v. 21, n. 11, p. 1652-1670, Nov. 2004. VASSIAS, I. et al. Modulation of GABA receptor subunits in rat facial motoneurons after axotomy. Brain research. Molecular brain research, Amsterdam, v. 135, n. 1-2, p. 260275, Apr. 2005. WALLER, A. Experiments on the Section of the Glossopharyngeal and Hypoglossal Nerves of the Frog, and Observations of the Alterations Produced Thereby in the Structure of Their Primitive Fibres. Philosophical Transactions of the Royal Society of London, v. 140, p. 423-429, 1850. WALSH, F. S.; DOHERTY, P. Cell adhesion molecules and neuronal regeneration. Current opinion in cell biology, Philadelphia, v. 8, n. 5, p. 707-713, Oct. 1996. 50 WHITLOCK, E. L. et al. Pregabalin Does Not Impact Peripheral Nerve Regeneration after Crush Injury. Journal of reconstructive microsurgery, New York, v. 23, n. 05, p. 263-268, Sep. 2007. WOLTHERS, M. et al. Comparative electrophysiological, functional, and histological studies of nerve lesions in rats. Microsurgery, New York, v. 25, n. 6, p. 508-519, 2005. WU, F. et al. Enhanced rat sciatic nerve regeneration through silicon tubes implanted with valproic acid. Journal of reconstructive microsurgery, New York, v. 24, n. 4, p. 267-276, May 2008. 51 ANEXO 52 ANEXO A – Parecer Comissão de Ética no uso de animais (CEUA) UNISUL