Haurir da graça da beatificação

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Haurir da graça da beatificação
Haurir da graça da beatificação
Mensagem do Superior Geral
aos colaboradores da Congregação dos Padres Marianos1
e aos fiéis confiados à sua solicitude pastoral
por ocasião da beatificação do Padre Estanislau Papczynski
A todos que apoiaram e defendem
esta pequenina Congregação da Imaculada Conceição,
que Deus despertou para ajudar aos fiéis falecidos,
prometo em dobro uma grande recompensa da mão de Deus.
Do Testamento do pe. Estanislau Papczynski
Caros Irmãos e Irmãs!
Aproxima-se o dia aguardado por gerações de marianos há mais de 300 anos. Nosso
Fundador, o Venerável Servo de Deus Padre Estanislau Papczynski, será elevado aos altares. A
solenidade da beatificação, que em nome do Santo Padre será presidida por Sua Eminência o
cardeal Tarcisio Bertone, será realizada no dia 16 de setembro de 2007 no Santuário de Nossa
Senhora em Lichen. O nosso coração se enche de alegria e gratidão. Estamos recebendo da parte da
Igreja mais uma confirmação da nossa missão e de que o caminho de vida evangélica inaugurado
pelo Padre Estanislau é verdadeiramente cristão, ou seja, conduz à salvação.
Neste momento excepcional vivenciado pela nossa Congregação, dirijo-me a Vós, Caros
Colaboradores, que de diversas formas participais da nossa espiritualidade e da nossa missão. Quero
partilhar convosco essa alegria e convidar-Vos para a vivência comum desse acontecimento. Sois
Vós que tendes o direito especial, juntamente conosco, de alegrar-Vos com a beatificação do pe.
Papczynski e de haurir dessa graça forças para o aprofundamento da fé e do ministério em prol da
Igreja.
Perguntamo-nos: Por que a nossa geração alcança a graça da beatificação do pe. Estanislau,
embora antes de nós tivessem esperado por ela dezenas de gerações? Peçamos a Deus o dom de
interpretar corretamente o que por esse acontecimento Deus quer dizer hoje à nossa comunidade e a
toda a Igreja. Se Deus previu para agora a beatificação do pe. Papczynski, podemos acreditar que
ele é uma personalidade especialmente importante e atual para os nossos tempos.
1
Pertencem a ela pessoas religiosas e leigas que cooperam com os marianos nas casas e instituições marianas e
congregadas na Associação dos Auxiliares Marianos, na Irmandade da Imaculada Conceição da SVM, nas comunidades
dos Apóstolos Eucarísticos da Misericórdia Divina, no Comitê Econômico Mariano, na Obra de Ajuda Espiritual às
Vocações
O que é a beatificação?
Através da elevação de alguém aos altares a Igreja proclama que na vida dessa pessoa
cumpriu-se o Evangelho de Jesus Cristo; que essa vida foi atingida e transformada pela presença do
Deus vivo. Portanto a beatificação não é apenas uma honraria prestada à própria pessoa que alcança
a elevação aos altares, mas antes uma homenagem prestada ao próprio Jesus Cristo, que na vida
desse indivíduo demonstrou o poder da Sua própria santidade. Por isso cada beatificação ou
canonização é um sinal de que Jesus Cristo vive a atua em seus fiéis. Isso não significa que
devemos ver os beatos e santos como pessoas extraordinárias, porque, se assim fosse, teríamos o
direito de dizer que a santidade é um privilégio reservado apenas a umas poucas pessoas,
especialmente escolhidas. No entanto a santidade é em certo sentido a vocação “normal” do cristão.
Ser santo é cumprir a própria vocação cristã. Por isso, como diz o livro do Apocalipse do Apóstolo
S. João, os santos são uma grande multidão, que ninguém pode contar (cf. Ap 7, 9). No meio dessa
grande multidão alguns, pelo ato da beatificação ou da canonização, são apresentados como
especiais testemunhas da fé, que podem servir de inspiração a nós, que vivemos na terra, e atrairnos a Deus.
O Evangelho de Jesus na vida do pe. Estanislau
De que forma na vida do pe. Estanislau manifestou-se a santidade de Jesus Cristo?
Vemos nele uma pessoa forte, não pela sua própria força humana, mas sobretudo pela fé. A
principal força impulsora da sua vida era a busca e o cumprimento da vontade de Deus, a exemplo
das palavras de Jesus: “Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me
enviou” (Jo 6, 38). A busca da vontade divina não lhe permitiu contentar-se com a perspectiva de
uma vida tranqüila e estabilizada no seio da família, mas fez com que ele buscasse o total
devotamento a Deus na vida religiosa, na qual via a forma mais perfeita de realização do
Evangelho. Tendo ingressado na ordem das Escolas Pias, o pe. Estanislau distinguiu-se por um
grande zelo e pela estrita observância das regras da vida religiosa. Com grande seriedade ele tratava
a sua vida e a questão da entrega a Deus. Dessa forma cumpriu o primeiro e o maior dos
mandamentos: “Amarás a Javé teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a
tua força” (Dt 6, 5). A sua seriedade nas questões relacionadas com Deus e à vida religiosa
proporcionou-lhe numerosas dificuldades e mal-entendidos. A sua constante prontidão para cumprir
na vida unicamente a vontade divina possibilitou-lhe o reconhecimento daquela extraordinária
vocação que Deus lhe destinou – da vocação de fundar uma comunidade religiosa dedicada à honra
da Imaculada Conceição da B.V.M.
Um outro traço da espiritualidade do pe. Estanislau, que o torna especialmente semelhante a
Jesus Cristo, é a aceitação do sofrimento. Na vida do pe. Papczynski, vendo as coisas à maneira
humana, não faltaram acontecimentos muito difíceis. A viva fé e a união com Deus permitiam-lhe
perceber também nesses acontecimentos a presença de Deus. Como a primeira dessas experiências,
pode ser citada a grave doença que o acometeu na juventude, no período em que esperava ser aceito
no colégio dos jesuítas em Lvov, antes ainda de ingressar na ordem das Escolas Pias. O pe.
Estanislau sofreu então a impotência física, a miséria, a falta de um teto para se abrigar e todas as
humilhações com isso relacionadas. Inesperadamente, contou então com a ajuda, primeiramente de
uma pessoa desconhecida, depois de uma família de Lvov. A grave doença e a inesperada ajuda
frutificaram em sua vida na sensibilidade às pessoas pobres e injustiçadas pela sorte. Uma outra
experiência de sofrimento foi a incompreensão da parte de alguns coirmãos e superiores na ordem.
Foi uma situação permitida por Deus para que no pe. Estanislau pudesse amadurecer a sua principal
vocação de vida, que foi a fundação da Congregação dos Marianos. Depois que o pe. Estanislau,
com o consentimento da Santa Sé, deixou a ordem das Escolas Pias, até o final da vida ele
preservou em seu coração o amor e a afeição espiritual a essa ordem. Igualmente os primórdios da
nova comunidade religiosa, da Ordem dos Marianos, foram assinalados por enormes dificuldades,
primeiramente na busca de companheiros, depois na sua apropriada formação, e em seguida na
obtenção da aprovação oficial da nova comunidade da parte das autoridades eclesiásticas.
A experiência dos sofrimentos e das adversidades produziu na vida do pe. Estanislau o amor
à cruz de Jesus Cristo. Em uma de suas conferências ele lembrava as palavras de Cristo: “Se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24), e em seguida
acrescentava: “Diz isso com razão, porquanto o servo fiel e dotado de virtude incomum caracterizase por permanecer junto ao Senhor com o mesmo espírito tanto nos momentos de alegria como de
tristeza, tanto em circunstâncias favoráveis como nas adversidades. Mas é digno de infâmia quem
segue os passos do Senhor que vai ao banquete, mas foge dele quando cai sob o peso da cruz”. O
amor à cruz era no pe. Estanislau o fruto da própria experiência de vida. Mas não havia nisso nada
de sofrimento passivo. O padre Papczynski era uma pessoa feliz e via-se como alguém favorecido
por Deus acima do comum. No final da sua vida podia dizer: “Rendo graças à Divina Majestade
pelas graças, pela benevolência, pelos dons e pelas bênçãos com que fui tão generosamente
cumulado”.
A essência do Evangelho, e o mais importante mandamento do cristianismo, é o amor a
Deus e ao próximo. O fruto da união do homem com Deus é o amor ao semelhante, que se estende
até o amor aos inimigos; esse amor é uma participação no amor de Deus aos pecadores.Vemos
também isso na vida do pe. Estanislau, que em diversos momentos da vida defrontou-se com
manifestações da malquerença, e até da hostilidade humana. A sua biografia encerra exemplos
impressionantes de autêntico perdão e de generosidade, demonstrados diante de pessoas da parte
das quais havia sofrido variadas injustiças.
Parece que alguns dos traços da espiritualidade do pe. Papczynski aqui mencionados podem
ser muito importantes para as pessoas de hoje, independentemente da sua vocação de vida. Somos
afetados, queiramos ou não, pela cultura do consumismo, na qual se leva em conta o sucesso, a
posse de bens. A cultura de massa promove, além disso, posturas egocêntricas, proclamando a
necessidade de sempre colocar em primeiro lugar o próprio “eu”. Por outro lado, muitas pessoas que
dizem fazer parte da Igreja vivenciam o seu cristianismo de forma vazia, unicamente no plano da
religiosidade natural. Nesse tipo de religiosidade, considera-se como sinal de bênção divina a paz, a
estabilidade, a satisfação das necessidades naturais, a boa saúde, etc., ao passo que os momentos de
dificuldades, de sofrimentos, de diversos problemas provocam a dúvida, o sentimento do abandono
por parte de Deus, e mesmo a sensação de injustiça, como se Deus não retribuísse com a bênção o
cumprimento das práticas religiosas.
Contemplando a vida do pe. Estanislau, podemos ver o testemunho de algo completamente
diferente: a garantia fundamental do homem é o próprio Deus, cuja presença pode ser sentida não
apenas no sucesso, mas também nas adversidades; pode-se, aceitando a cruz na própria vida, passar
por experiências muito difíceis e ser uma pessoa autenticamente feliz; pode-se, finalmente, sofrendo
a injustiça da parte de outras pessoas, perdoar generosamente e com total liberdade. Pelo ato da
beatificação o pe. Estanislau nos será apresentado como testemunha da fé, para o nosso
fortalecimento na fé. Dessa forma recebemos uma ajuda, para que em nossas circunstâncias da vida
possamos sentir como a vida pode ser bela quando Deus é colocado em primeiro lugar.
O carisma mariano e a sua atualidade hoje
A proclamação do pe. Papczynski como beato aponta igualmente para a atualidade do seu
carisma, que ele transmitiu à Congregação que fundou e aos seus colaboradores leigos. Os três
traços característicos do carisma do pe. Estanislau são: a devoção ao mistério da Imaculada
Conceição, a oração pelos falecidos e a ajuda aos sacerdotes no trabalho pastoral.
O pe. Estanislau era profundamente fascinado pelo mistério da Imaculada Conceição da
SVM e com essa denominação fundou a Ordem dos Marianos. A Imaculada Conceição significa
que, por especial graça de Deus, por força dos futuros méritos de Cristo, Maria foi preservada do
pecado original e dessa forma foi preparada para se tornar a Mãe do Filho de Deus. Essa verdade da
fé relaciona-se intimamente com o mistério da divina misericórdia. A Imaculada Conceição
significa, com efeito, que o amor de Deus é maior e mais poderoso que as forças do mal e o pecado
humano. Parece que justamente hoje existe a urgente necessidade de vivenciar e de proclamar essa
verdade. De fato, muitas vezes pode-se ter a impressão de que o mal, em sas manifestações, sai
triunfante e torna-se presente em toda a parte. Diante do mal muitas pessoas, inclusive cristãos,
perdem a esperança e duvidam se realmente há sentido em viver segundo os valores evangélicos,
honestamente, fielmente. A verdade da Imaculada Conceição é um forte sinal de que o domínio do
pecado nunca foi e não é total. Em Jesus Cristo o mal já foi superado, e a última palavra na história
do mundo cabe ao amor de Deus.
A Imaculada Conceição de Maria ajuda igualmente a reconhecer a grande dignidade de toda
pessoa humana, desde o momento da sua concepção. Significa, com efeito, que Deus tem o Seu
plano diante de toda vida humana e o realiza desde o momento da concepção até a morte natural.
Isso é muito importante em nossos tempos, quando em tantos países se reconhece o direito de matar
crianças não nascidas e da eutanásia como algo evidente ou mesmo como uma das conquistas
básicas da civilização.
O pe. Estanislau era, além disso, muito interessado pelo destino das pessoas falecidas que
não se haviam preparado adequadamente para a morte. Por isso, com grande zelo ele mesmo rezava
pelos falecidos e estimulava os outros a fazer o mesmo. Será que também a esse respeito o seu
carisma não preserva a sua atualidade? O que podemos oferecer aos falecidos? A memória dos
mortos expressa-se na oração, bem como no sacrifício da santa missa e na prática das indulgências
por eles oferecidas. Trata-se de um ato de ajuda desinteressada e de caridade diante daqueles que já
não podem ajudar a si mesmos e que podem contar apenas com a nossa ajuda. A oração pelos
falecidos encaminha a nossa atenção à realidade da morte. Um dos problemas mais sérios dos
nossos tempos é a perda do sentido da morte humana, o que é uma conseqüência da perda do
sentido da vida. Morrer sem Deus é algo terrível. O padre Papczynski ensina-nos também a viver na
perspectiva da morte como o lugar do encontro definitivo com Deus, como a entrada na plenitude
da vida eterna. Saberá viver plenamente e com alegria a sua vida somente quem aceitar esse tipo de
perspectiva da morte e se aproximar dela sem temor. Todo ser humano passa pela porta da morte à
nova vida individualmente, mas isso não significa que o faça em absoluta solidão. A morte é o
coroamento de toda a vida humana e o momento do encontro definitivo com Deus. O padre
Papczynski nos ensina que para esse acontecimento nós mesmos temos de preparar-nos
adequadamente, bem como ajudar nisso aos outros; tanto pela oração como pelo acompanhamento
das pessoas que morrem.
O terceiro traço do carisma do pe. Estanislau é a ajuda aos sacerdotes na pastoral,
especialmente em meio a pessoas pobres e injustiçadas. Isso não diz respeito apenas aos sacerdotes,
visto que hoje a Igreja lembra a verdade da vocação universal de todos os batizados para a
participação no apostolado. Um dos temas que com muita freqüência voltavam nos
pronunciamentos do papa João Paulo II era o chamado à nova evangelização. Todo batizado e
crismado é o destinatário desse chamado. O apoio aos sacerdotes prestado por pessoas leigas pode
realizar-se pela ajuda aos sacerdotes em sua própria paróquia.
A evangelização não precisa significar a participação direta em ações organizadas ou obras
de evangelização, embora também aqui a participação das pessoas leigas seja indispensável e
insubstituível. Igualmente não tem nada a ver com propaganda ou com a imposição das próprias
idéias. Ela consiste essencialmente em partilhar com os outros aquela preciosa pérola do Evangelho
que nós mesmos antes recebemos (cf. Mt 13, 44-46). O fundamento da evangelização é a
permanente conversão de cada um de nós, a vida em união com Cristo e, com isso, a Sua introdução
em todas as esferas da nossa vida.
O cristão – templo de Deus
O padre Estanislau foi um promotor do ideal da vocação universal à santidade. Após ter
obtido a dispensa dos votos na ordem das Escolas Pias, residindo no solar dos Karski, escreveu uma
das suas obras: Templum Dei mysticum (Templo místico de Deus), uma espécie de manual de
busca da santidade para os leigos. Essa foi uma das primeiras obras desse gênero na Polônia. O
padre Estanislau não a escreveu distanciado da realidade pastoral da sua época. Ao contrário, tinha
diante dos olhos todos os problemas espirituais e sociais do seu tempo. Tinha consciência da
fraqueza da fé de muitos dos seus contemporâneos, via também quantas pessoas destruíam a sua
vida pelo pecado. Via a crescente desmoralização da sociedade em conseqüência das destruidoras
guerras e dos conflitos e em razão das pragas da fome, da peste e do empobrecimento das pessoas
daí resultantes. É muito importante que justamente nesse contexto o pe. Estanislau não se afasta
desse mundo “mau”, não se contenta apenas em queixar-se dos maus tempos nem em apontar os
pecados das pessoas da sua época. Ele quer encaminhar os homens a Deus, que pode renovar a vida
dessas pessoas. Quer também que cada um descubra quanto é amado por Deus e que recebe de Deus
uma maravilhosa vocação. Assim escreve: “O homem, criado por Deus e pelo sacramento do
batismo a Ele dedicado, é o Seu templo místico (...). Por isso, cada um preste maior atenção à
magnificência do seu estado primitivo e reconheça em si a imagem da Santíssima Trindade como
digna de respeito, e busque possuir a dignidade da semelhança divina pela nobreza dos costumes”, e
num outro trecho: “Vós, cristãos, sois o templo do Deus vivo. Como é grande a vossa glória!
Quanta é a vossa dignidade!”. Esse templo de Deus, a respeito do qual escrevia o pe. Estanislau, é
consagrado pelo batismo. Por isso ele estimulava a que fossem dadas a Deus ações de graças por
esse sacramento. Essa ação de graças deve ser expressa por toda a vida, mas também pela
comemoração anual do próprio batismo.
A doutrina do pe. Estanislau é especialmente atual e preserva perfeita harmonia com a atual
doutrina da Igreja, na qual se enfatiza a vocação universal dos batizados à santidade. É também
atual em razão do presente contexto de vida, não menos difícil do que há alguns séculos. Somos
testemunhas, especialmente no âmbito da civilização ocidental, de uma progressiva laicização da
cultura, da perda de fé por parte de grandes multidões de pessoas, da promoção de normas e
comportamentos estranhos e até hostis ao Evangelho. Diante desses fenômenos, é fácil assumir uma
postura defensiva, hostil diante do mundo contemporâneo, ou ainda ceder à tentação de adaptar-se à
mentalidade atual. No entanto podemos, a exemplo do pe. Estanislau, assumir uma postura
completamente diversa. Podemos voltar às fontes da vocação cristã e descobrir o grande dom de
sermos o templo vivo de Deus. A fonte dessa dignidade é o sacramento do batismo. Por isso toda a
vida do cristão nada mais é que a descoberta cada vez mais plena da riqueza do sacramento outrora
recebido. Descobrindo esse dom de Deus em nós, podemos ao mesmo tempo ajudar às outras
pessoas a reconhecer a grande dignidade a que são chamadas por Deus em Jesus Cristo. Nisso
consiste a missão da evangelização, à qual são chamados, sem exceção, todos os batizados.
A obra do padre Papczynski hoje
O padre Papczynski morreu há 306 anos, mas a sua obra – a Congregação dos Padres
Marianos e os seus colaboradores –, apesar das adversidades do destino, perdurou até hoje e se
desenvolve.
Os marianos tiveram um desenvolvimento dinâmico no século XVIII e no início do século
XIX. Além da Polônia, surgiram fundações em Roma, em Portugal e nos territórios da atual
Ucrânia, Bielo-Rússia e Lituânia. Infelizmente a jovem congregação foi abalada por decisões das
autoridades civis. Primeiramente em conseqüência de uma decisão de Napoleão, por força da qual
foram afastados de Roma todos os religiosos estrangeiros; então perdemos o nosso núcleo junto à
igreja de S. Vito (1798). A seguir, em conseqüência da cassação das ordens religiosas em Portugal,
foram fechados todos os conventos marianos nesse país (1834). Trinta anos mais tarde (1864), uma
decisão semelhante do tzar Alexandre II levou ao fechamento de todas as casas marianas no
território do Reino da Polônia, com exceção de Mariampol, na Lituânia, onde permaneceu vivo um
único mariano, o pe. Vicente Sekowski (1908). Assim escreveu ele numa de suas cartas: “É preciso
preparar dois esquifes: um para mim, outro para a Congregação”. Mas a vontade de Deus foi que a
obra do pe. Estanislau não fosse levada ao extermínio. Um educando dos marianos, o lituano pe.
Jorge Matulewicz, em segredo diante das autoridades imperiais russas ingressou na Congregação
dos Marianos e em cooperação com o pe. Sekowski e com a Santa Sé promoveu a sua reforma de
tal modo que ela podia desenvolver-se de forma clandestina. Dessa forma, ele não apenas salvou a
Congregação dos Marianos do extermínio, mas animou o seu carisma e o adaptou às novas
condições. Conferiu à espiritualidade dos marianos um novo dinamismo e uma nova interpretação,
adaptada aos tempos atuais, enfatizando o universalismo da Igreja e da Congregação e a conciliação
harmônica do estilo de vida mariano com o ideal do apostolado universal, a exemplo de S. Paulo
Apóstolo. O beato Jorge igualmente deu ênfase ao engajamento dos leigos na obra evangelizadora
da Igreja, conferindo-lhes maior autonomia e subjetividade.
Hoje a Congregação dos Padres Marianos conta mais de 500 religiosos e atua em 17 países.
O caráter do trabalho é diversificado, de acordo com as necessidades da Igreja em determinado
lugar. Por exemplo, na Europa Oriental os padres marianos foram uns dos poucos sacerdotes que
durante o regime comunista desenvolveram atividade pastoral, expondo-se ao risco de perder a vida.
De fato, alguns deles morreram como mártires, outros foram enviados a campos de trabalho forçado
na Sibéria. Atualmente os nossos irmãos trabalham pela Igreja que renasce após o período de
perseguições. Uma bela página da nossa história foi o trabalho com os emigrantes russos do rito
bizantino na China. Merece destaque a nossa missão no Alasca, entre os esquimós, bem como o
trabalho na Austrália e na Argentina, entre emigrantes lituanos e russos e a população local. Na
Europa Central e Ocidental, inclusive na Polônia, estamos realizando a nossa missão através do
trabalho científico e editorial nos santuários, centros de retiros e albergues. Também dirigimos
paróquias. Na América do Norte e do Sul, uma parte importante do nosso trabalho é o apostolado da
Misericórdia Divina. Por obra da Providência Divina, o mariano pe. José Jarzebowski transportou,
durante a II Guerra Mundial, do território da Lituânia aos Estados Unidos, materiais sobre a
mensagem da Misericórdia Divina de acordo com as revelações de Jesus Cristo a S. Faustina. Por
isso os marianos foram os primeiros que, fora da Polônia, iniciaram a propagação desse culto. No
Cazaquistão estamos trabalhando entre os deportados dos tempos de Stalin e entre a população
local. Na África estamos desenvolvendo o trabalho evangelizador, formativo e caritativo. Em razão
das guerras fratricidas, por três vezes fomos forçados a deixar a Ruanda, mas sempre, logo que as
condições melhoravam, voltamos até lá para com a nossa presença e palavra anunciar o Evangelho
do amor e da reconciliação. Em Camarões trabalhamos na parte mais difícil do país, tanto sob o
aspecto climático como religioso.
No Brasil os Marianos estão presentes desde de 1964 atuando de forma direta na ação
pastoral e evangelizadora em 12 paróquias, em 7 diferentes cidades. Nestas paróquias inspirados na
espiritualidade do Pe. Fundador e no lema do Pe. Renovador: por Cristo e pela Igreja, procuramos
ser uma presença evangelizadora na obediência ao magistério eclesial e as necessidades do tempo
presente.
Muito cedo nossa comunidade se preocupou em dar continuidade ao trabalho e a
espiritualidade dos Marianos. Para isto há 30 anos foram, aos poucos, sendo criadas estruturas de
educação e formação de novos marianos. Durante estes anos foram formados 19 sacerdotes que
estão atuando ou atuaram nos diversos campos da ação da comunidade Mariana no Brasil. A nossa
estrutura de formação hoje conta com 03 casas de formação que acolhem 30 candidatos
provenientes de várias partes do país.
Um elemento presente na nossa ação pastoral e formativa e a colaboração com os leigos. Ao
longo deste tempo de presença no Brasil foram se ajuntando à nossa comunidade uns bons números
de colaboradores. Inicialmente chamados “padrinhos” e “madrinhas” das vocações. No momento
atual contamos com a participação de mais de 1500 colabores coordenados pela Associação dos
Auxiliares Marianos.
Um elemento forte da ação Mariana no Brasil é a divulgação do culto á Misericórdia Divina
que realizamos através do Apostolado da Misericórdia e do Santuário da Misericórdia sediados em
Curitiba. O Apostolado-Santuário atinge praticamente todo o Brasil através de diversas publicações
de livros, livretos, folhetos e de um periódico. Além disto, está atuando através de outras formas de
comunicação (internet, rádio, TV). O Santuário da Misericórdia tem se tornado para um grande
número de pessoas cada vez mais um lugar de encontro com o mistério Misericórdia de Deus.
Em todos os lugares procuramos introduzir o espírito e o carisma do pe. Estanislau
Papczynski e do beato Jorge Matulewicz.
Não estamos sós. Desde os tempos do pe. Estanislau e por seu estímulo, congregavam-se em
torno da Ordem dos Marianos pessoas leigas, que, inspiradas pela nossa espiritualidade, moldavam
a sua fé e – de forma apropriada aos leigos – realizavam a missão mariana. A mesma coisa acontece
também hoje. Com certeza o nosso trabalho não seria tão proveitoso, e em muitos lugares seria até
impossível, sem o apoio dos leigos. Eles nos apóiam generosamente pela oração e pela ajuda
profissional, organizacional e material, bem como pelo concreto envolvimento evangélico e
caritativo.
Hoje, quando com maior atenção contemplamos a figura do Padre Fundador, nasce em nós
uma convicção mais forte ainda de que o nosso carisma é um dom para toda a Igreja. Como sinal de
gratidão pela graça da beatificação, pretendemos, com a cooperação de leigos, estabelecer a nossa
Congregação nas Filipinas ou na Índia.
Caros Cooperadores!
Aproveito esta excepcional ocasião, que é a beatificação do nosso Fundador, para em nome
de todos os marianos expressar a gratidão pela cooperação conosco e pela vossa dedicação.
Asseguro que toda comunidade mariana no mundo reza por vós todos os dias. Peço também a Vós a
oração por nós, para que tenhamos o mesmo espírito que estimulou o Padre Papczynski a fundar a
nossa comunidade. De maneira especial eu Vos recomendo a oração na intenção de novas vocações
para a nossa Congregação, para que o carisma mariano possa perdurar e desenvolver-se no futuro.
Juntamente convosco somos os herdeiros da missão que nos foi deixada pelo pe. Estanislau
Papczynski. Ela é um dom e uma tarefa. Rezemos para que a beatificação frutifique em nós mesmos
num novo desejo de nos tornarmos santos; oxalá ela nos ajude a descobrir a verdade fundamental de
que Deus faz de nós, simples pessoas pecadoras, o Seu templo e os Seus colaboradores na obra da
salvação do mundo
Roma, 28 de junho de 2007.
Jan M. Rokosz MIC
Superior Geral
Congregação dos Padres Marianos
Suplemento
Oração pela Congregação dos Padres Marianos
Deus, que chamastes o Padre Estanislau Papczynski
para fundar a Congregação dos Padres Marianos,
nós Vos pedimos, olhai propício para esta Congregação,
reunida em Vosso nome de Imaculada Mãe do Vosso Filho.
Multiplicai o seu número e concedei a alegria.
Esta casa é a vossa casa, Senhor Jesus.
Não se encontre nela uma pedra
que não tenha sido colocada pela vossa santa mão.
Despertai e multiplicai em todos os marianos
o espírito evangélico católico:
o espírito da fé invencível, da esperança inquebrantável;
espírito de fortaleza, amor e verdadeiro zelo;
fazei com que, animados e repletos desse espírito,
pertençamos unicamente a Vós
e, cumprindo na Igreja as Vossas obras,
contribuamos para a propagação do Vosso reino na terra.
Por Cristo Senhor nosso.
Amém.
Oração pedindo vocações para a Congregação dos Marianos
Deus, Pai nosso e Senhor da messe,
despertai nos corações de muitos jovens
o desejo de seguir os passos de Jesus Cristo
pelo caminho da via religiosa
na Congregação dos Padres Marianos.
Vós mesmo a convocastes para a existência,
para a difusão da honra da Imaculada Conceição da SVM,
a oração pelos falecidos
e a proclamação do reino de Deus na terra.
Enviai operários à Vossa messe
para que a obra iniciada pelo Padre Estanislau Papczynski
se desenvolva e produza abundantes frutos,
para a Vossa maior glória e a salvação dos homens.
Por Cristo, Senhor nosso. Amém.
As pessoas que queiram continuar a obra do Pe. Estanislau Papczynski
como sacerdotes ou irmãos religiosos
podem entrar em contato conosco sob seguinte endereço:
Pastoral Vocacional
Pe. Luiz Antônio Buckta, MIC
e-mail: [email protected]
tel./fax: (43) 3435-2266
Os colaboradores leigos podem entrar em contato através:
Associação dos Auxiliares Marianos
Pe. Leandro Ap. da Silva, MIC
e-mail: [email protected]
tel.: (41) 3229-2865 fax: (41) 3329-8757

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