PERFIL BIOQUÍMICO SÉRICO EM GATOS DOMÉSTICOS (FELIS

Transcrição

PERFIL BIOQUÍMICO SÉRICO EM GATOS DOMÉSTICOS (FELIS
54
E. R. LIMA et al.
Artigo Científico
PERFIL BIOQUÍMICO SÉRICO EM GATOS DOMÉSTICOS (FELIS
DOMESTICUS, LINNAEUS, 1758) SUBMETIDOS A DIFERENTES TIPOS
DE DIETAS INDUSTRIALIZADAS1
Evilda Rodrigues de LIMA2 *, Antonio Tadeu de VASCONCELOS3 ,
José de Carvalho REIS4 , Edvaldo Lopes de ALMEIDA2, Miriam Nogueira TEIXEIRA2,
Eneida Willcox RÊGO2, Daniela Godoy COUTINHO5 , Márcio Apolônio ROCHA JUNIOR5
RESUMO: Foram utilizados 24 gatos domésticos, de ambos os sexos, sem raça
definida, com idade de 2 a 4 anos, divididos por sexo em três grupos e submetidos
a três tipos de ração seca industrializada (R1, R2, R3), sendo avaliados mensalmente
durante 6 meses. Nos resultados obtidos de acordo com o tipo de ração, os machos
apresentaram diferenças estatisticamente significativas para proteína total, creatinina, aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT) e colesterol
e as fêmeas para albumina, creatinina, uréia, ALT, AST, fosfatase alcalina e colesterol. De acordo com o tempo de consumo, nos machos as diferenças foram estatisticamente significativas para proteína total, albumina, creatinina, uréia, ALT, colesterol e glicose e nas fêmeas para proteína total, albumina, creatinina, uréia, ALT e
glicose. Conclui-se que algumas variáveis do perfil bioquímico sérico de machos e
fêmeas foram afetadas pelo tipo de ração consumida e pelo tempo de consumo da
mesma, havendo diferença entre os sexos.
Termos para indexação: concentrações sérica, ração seca industrializada, felinos,
tempo de consumo.
SERIC BIOCHEMICAL PROFILE IN DOMESTIC CATS (FELIS DOMESTICUS, LINNAEUS, 1758) SUBMITTED TO DIFFERENT TYPES OF INDUSTRIALIZED DIETS
ABSTRACT: Twenty-four domestic cats of both sexes were used, from an unknown
breed, with ages between 2 and 4 years, divided in three groups and submitted to
three different types of dry industrialized food (R1, R2, R3), being evaluated monthly
for 6 months. In the obtained results, according to the type of food, the males showed
statistically significant differences for total protein, creatinin, AST, ALT, and cholesterol
and the females for albumin, creatinin, urea, ALT, AST alkaline phosphatase and
cholesterol. According to the period of diet consumption, in the males the differences
were statistically significant for total protein, albumin, creatinin, urea, ALT cholesterol
and glucose and in the females for total protein, albumin, creatinin, urea, ALT and
glucose. It may be concluded that some parameters of the seric biochemistry profile
of males and females were influenced by the type of administered diet and its period
of consumption considering their differences of sexes.
Index terms: seric concentrations, industrialized dried ration, feline, time of
consumption.
1
2
3
4
5
Parte da tese de doutorado do primeiro autor, no programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária. Universidade
Federal Rural de Pernambuco.
Médico Veterinário. Prof. Adjunto Universidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de Medicina Veterinária.
Av. Manoel Medeiros, s/n. Dois Irmãos, Recife - Pernambuco - Brasil. *autora para correspondência. E-mail:
[email protected]
Farmacêutico - HEMOPE - Recife - PE.
Médico Veterinário. Prof. Adjunto Universidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de Zootecnia.
Médico Veterinário Autônomo – Recife- Pernambuco.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
Perfil bioquímico sérico em gatos...
INTRODUÇÃO
A clínica de pequenos animais necessita da complementação de exames laboratoriais, quando acompanhados da história clínica e exame físico, para chegar a um
diagnóstico, avaliar o prognóstico e uma
terapêutica eficaz. Dentre os exames laboratórios, os perfis bioquímicos séricos refletem a integridade celular e a função orgânica, ainda que não seja uma medida direta
da integridade do ambiente intracelular. Podem-se esperar diferentes padrões de alterações no perfil bioquímico como resultado
de lesão celular ou disfunção orgânica. Esses padrões refletem tanto o extravasamento de constituintes celulares para o soro,
quanto à regulação prejudicada da absorção, produção ou excreção dos vários componentes séricos (OSBORNE et al., 2004).
O tipo de dieta e a freqüência com que
o animal a recebe pode interferir diretamente no metabolismo orgânico, associado aos
fatores como sexo, idade, confinamento e
os ingredientes contidos nos alimentos industrializados para os animais. Os alimentos comerciais para cães e gatos estão disponíveis sob as formas seca, úmida e semiúmida. Na forma seca incluem-se cereais
em grãos, produtos de carne, aves ou peixe, alguns produtos lácteos e suplementos
vitamínicos e minerais. Esses alimentos
utilizam ingredientes de baixa umidade e a
sua desidratação excessiva ou incorreta
pode originar uma diminuição na porcentagem de nutrientes inclusive a sua perda total. A deficiência de proteína altera a resposta imunológica, a resistência a infecções, reduz a produção de hemoglobina e
provoca anemia e declínio dos níveis de
proteínas plasmáticas (CASE et al., 1998).
A alimentação tem um papel importante na manutenção e no equilíbrio orgânico.
A proteína, aminoácidos, ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais quando fornecidos em níveis apropriados na dieta,
assegurarão o funcionamento em harmonia e o aumento dos mecanismos de defesa natural (CASE et al., 2002; DIBARTOLA
et al., 2003). O sistema renal representa o
55
sistema de proteção final para o gato. Pelo
fato de rins saudáveis contribuírem para
uma saúde geral e bem-estar, sendo importante o fornecimento de uma nutrição
correta para que suas funções sejam mantidas (MORRIS e ROGERS, 2004, PEREZ,
2004). A proteína adequada na dieta é importante para uma nefrogênese apropriada. Muitos componentes estruturais dos rins
são proteínas, como numerosas enzimas,
colágeno da membrana de base, a ctina e
a miosina nos microtúbulos das células do
mesangio (PEREZ, 2004; HUGHES et al.,
2005).
As marcas comerciais de alimentos
podem ser classificadas em populares e de
qualidade. As marcas populares incluem
alimentos ricos em cereais e vegetais que
podem desenvolver distúrbios orgânicos e
as marcas de qualidade são desenvolvidas
para proporcionar uma ótima alimentação
aos animais, durante as várias etapas de
sua vida e recomendado em dietas terapêuticas (CASE et al., 1998).
O perfil bioquímico sérico é importante
no diagnóstico de distúrbios metabólicos
(NELSON e COUTO, 1994, OSBORNE et
al., 1999, NELSON e COUTO, 2001, OSBORNE et al., 2004) informando sobre
anormalidades nas substâncias formadoras de urólitos, bem como indicador de mal
funcionamento hepático, renal, digestivo e
outros (NELSON e COUTO, 1994, MEYER
et al., 1995, NELSON e COUTO, 2001). As
mensurações séricas podem ser afetadas
por vários fatores metabólicos. Os valores
bioquímicos séricos normais para adultos
na espécie felina, segundo Meyer et al.
(1995), compreendem: glicose 70,0–150,0
mg/dl; proteína total 5,4–7,8 g/dl; albumina
2,1–3,9 g/dl; colesterol 90,0–205,0 mg/dl;
creatinina 0,8–1,8 mg/dl; uréia 10,0–30,0
mg/dl; fosfatase alcalina 10,0–80,0 UI/l; ALT
10,0–80,0 UI/l; AST 10,0–80,0 UI/l. Valores
referênciais similares são citados por Coles (1984), Nelson e Couto (1994), Wingfield et al. (1998), Bush (1999) e Nelson e
Couto, 2001.
Case et al. (1998) afirmaram que todos os animais domésticos têm capacida-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
56
E. R. LIMA et al.
de de metabolizar o excesso de proteína.
Este processo origina a produção de uréia e
a sua excreção pela urina. A restrição protéica na dieta até níveis que satisfaçam, mas
sem exceder as necessidades do animal,
minimizam a produção de uréia e melhoram
os sinais clínicos associados à uremia.
Nas enfermidades renais e digestivas
comumente observam-se proteinúria severa e hipoalbuminemia, ocorrendo edema,
devido à queda da pressão oncótica. A hipercolesterolemia é freqüente em animais
com glomerulopatia ou nefrose, mas seu
mecanismo permanece inexplicado. A determinação da concentração sérica da glicose é importante no diagnóstico de enfermidades pancreáticas. As concentrações
de glicose no soro ou plasma são geralmente mais altas que as encontradas no
sangue integral. Esse fenômeno ocorre porque o eritrócito maduro contém menos glicose que o soro ou plasma (COLES, 1984).
A fosfatase alcalina é mais elevada nos
animais jovens e sua determinação é útil
no diagnóstico de hepatopatias degenerativas e obstrutivas no gato. A atividade aumentada dessa enzima pode estar associada com uma patologia óssea (COLES,
1984; MEYER et al., 1995). A uréia é produzida no fígado e representa o principal
produto do catabolismo das proteínas nas
espécies carnívoras e onívoras. A uréia passa através do filtro glomerular e cerca de
25-40% dela é absorvida quando passa
através dos túbulos renais. O aumento na
quantidade de urina diminui a reabsorção
de uréia, enquanto um baixo fluxo facilita
sua reabsorção. Comentaram Meyer et al.
(1995) que o nível de uréia pode ser aumentado nos carnívoros com um aumento
no consumo dietético de proteína, colapso
catabólico ou hemorragia no interior do trato
gastrointestinal. A sua mensuração no soro
é feita para avaliar a função renal. Case et
al. (1998) citaram que a produção da uréia
é diretamente proporcional ao catabolismo
diário das proteínas dietéticas e corporais.
O acúmulo de toxinas urêmicas no organismo, decorrente da diminuição da taxa
de filtração glomerular, causa alteração da
homeostase. O nível sérico elevado de
uréia, e por esta apresentar facilidade de
difusão nos tecidos, favorece a formação
de amônia, e esta causa irritação da mucosa, o que justifica os sintomas gastroentéricos observados em pacientes com doença renal (OSBORNE et al., 1999; OSBORNE et al., 2004). Os rins eliminam os produtos indesejados do catabolismo protéico.
Assim, a uréia, creatinina, ácido úrico e a
amônia são eliminados e excretados na urina. O rim regula o equilíbrio hídrico, o pH do
sangue, a pressão sangüínea, a produção
do hormônio eritropoietina e a forma ativa da
vitamina D. A diminuição progressiva dessa
função conduz à perda funcional e aos sinais clínicos eventuais da enfermidade renal. A diminuição da capacidade de excreção dos rins origina uma elevação da uréia
e de outros catabolitos do sangue, com
conseqüente retenção orgânica. Os indicadores de disfunção renal são o aumento
de nitrogênio uréico sangüíneo, uréia e
creatinina plasmática (COLES, 1984).
A creatinina, formada durante o metabolismo da musculatura esquelética, não é
influenciada pela dieta ou hemorragias intestinais. Uma severa perda muscular poderá reduzir a quantidade de creatinina formada. Uma redução da taxa de filtração glomerular, aumenta a concentração sérica de
creatinina. Os mesmos fatores pré-renal,
renal e pós-renal que influenciam a uréia,
afetam a creatinina sérica (MEYER et al.,
1995). O colesterol sérico pode ser de origem dietética ou resultante da síntese no
fígado e em vários outros tecidos. O fígado
é o ponto focal de eliminação do colesterol
do organismo sob a forma de ácidos biliares (OSBORNE et al., 2004).
As transaminases (aminotransferases)
são rotineiramente avaliadas no diagnóstico clínico laboratorial de doenças hepáticas. A alanina-aminotransferase (ALT) era
anteriormente conhecida como transaminase glutâmico-piruvica (TGP) e a aspartatoaminotransferase (AST), anteriormente
transaminase glutâmico-oxaloacética
(TGO). Essas enzimas têm distribuição
ampla no organismo, estando presentes no
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
Perfil bioquímico sérico em gatos...
soro em pequenas quantidades, que podem se elevar, como resultado de destruição de tecidos. A AST não é específica para
lesões hepáticas em gatos. No entanto, a
ALT é importante para essa espécie e o
aumento dessa transaminase é específico
de destruição celular e reflete anormalidade das células hepáticas, uma elevação
discreta tem sido observada em casos de
uremia (FERREIRA NETO et al., 1978;
COLES, 1984; MEYER et al., 1995).
Em felinos, diversos fatores têm contribuído para uma maior incidência de distúrbios degenerativos e metabólicos, dentre eles os fatores dietéticos. O animal passou a ter alimento à disposição, predispondo-o a uma vida sedentária, com pouca atividade física para se alimentar, diminuição
na ingestão de água e o aparecimento de
estresse (OSBORNE et al., 1999; OSBORNE et al., 2004). Sendo assim, nesta pesquisa, o objetivo consistiu em avaliar a influência do tipo de ração seca industrializada consumida e do tempo de consumo
sobre o perfil bioquímico sérico de gatos,
de ambos os sexos.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi desenvolvida no Gatil
do Hospital Veterinário do Departamento de
Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco e no Laboratório de Análise Clínica da Fundação de Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE) e
Casa de Saúde Santa Clara, todos localizados na Cidade de Recife-PE, no período
de agosto de 2002 a janeiro de 2003. Foram utilizados 24 gatos, sem raça definida,
sendo 12 machos e 12 fêmeas, com idades variando entre 2 e 4 anos, provenientes de doações. Concluída a fase experimental os animais foram doados.
Os animais inicialmente foram submetidos a um período de adaptação de 30 dias,
confinados em seis boxes de 6,0 m x 4,0 m
cada, com quatro animais do mesmo sexo,
por boxe, onde recebiam água e ração seca
industrializada ad libitum. Os 12 animais de
cada sexo foram divididos em três grupos
57
de quatro animais, sendo cada grupo submetido a um tipo de ração seca industrializada. Foram pesquisados os alimentos industrializados disponíveis no comércio especializado do Recife, através de um processo de amostragem aleatória simples. As
informações sobre a composição das rações foram fornecidas pelo fabricante e
consideradas verdadeiras.
Grupo 1 (Ração R1): Ração seca industrializada específica para gatos, do fabricante A, considerada pelos Clínicos Veterinários como ração de qualidade (testemunha), cuja composição básica: carne de
ave, fígado de ave, farinha de subprodutos
de ave, farinha de arroz, subprodutos de
aves, farinha de peixe, gordura de ave, polpa de beterraba desidratada, ovo em pó,
carbonato de cálcio, levedura de cerveja,
cloreto de potássio, cloreto de sódio, DLmetionina, sulfato de manganês, acetato de
vitamina A, biotina, lecitina, pantotenato de
cálcio, mononitrato de tiamina, hidrocloreto de piridoxina (vitamina B6), sulfato de cobre, vitamina B12, riboflavina, inositol, vitamina D3, ácido fólico, iodeto de potássio,
carbonato de cobalto. Os níveis de garantia foram: Proteína bruta (mín.) 34,000%,
Gorduras (mín.) 21,000%, Fibra bruta
(máx.) 2,500%, Umidade (máx.) 10,000%,
Magnésio (máx.) 0,0965%, Taurina (mín.)
0,160%, Ácidos graxos ômega-6 (mín.)
1,400%, Ácidos graxos omega-3 (mín.)
0,280%, Cálcio 0,950%, Fósforo 0,850%,
Minerais totais (máx.) 7,000%, Energia metabolizável 4718 kcal/kg.
Grupo 2 (Ração R2): Ração seca industrializada específica para gatos, do fabricante B, considerada pelos Clínicos Veterinários como ração popular. Tendo como
composição básica: Farinha de carne de
frango, farinha de peixe, farinha de carne,
extrato de carne, milho integral moído, trigo integral, glúten de milho, gordura animal estabilizada, óleo vegetal, levedura
seca de cervejaria, cloreto de sódio, cloreto de potássio, corante, taurina, metionina,
vitamina E, colina, arginina, niacina, ácido
pantotênico, vitamina B6, ácido fólico, biotina, tiamina, vitamina A, vitamina B2, vitami-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
58
E. R. LIMA et al.
na K3, vitamina B12, vitamina D. Os níveis
de garantia foram os seguintes: Proteína
bruta (mín.) 28,00%, Umidade (máx.)
12,00%, Extrato éterio (mín.) 8,00%, Matéria fibrosa (máx.) 4,00%, Matéria mineral
(máx.) 8,00%, Fósforo (mín.) 0,80%, Cálcio (máx.) 1,30%, Magnésio (máx.) 0,10%.
Grupo 3 (Ração R3): Ração seca industrializada específica para gatos, do fabricante C, considerada pelos Clínicos Veterinários como ração popular. Tendo como
composição básica: Vit. A 40.000 UI, Vit. D3
1.600 UI, Vit. E 300 mg, Vit. K3 1,1 mg, Vit. B1
(tiamina) 6 mg, Vit. B2 (riboflavina) 4 mg, Ac.
Pantotênico 7,0 mg, Vit. B6 (piridoxina) 12 mg,
Ac. Fólico 1,5 mg, Biotina 0,2 mg, Vit. B12 40
mcg, Vit. PP 40 mg, Colina 420 mg, Taurina
1.500 mg, Cobre 5,0 mg, Ferro 63 mg, Iodo
2,6 mg, Manganês 5 mg, Selênio 0,05 mg,
Zinco 27 mg e Promotor de Eficiência Alimentar UFC: 1010 cujos níveis de garantia
foram: Umidade (máx.) 12,00%, Proteína
bruta (mín.) 30,00%, Proteína de origem
animal (mín.) 10,00%, Extrato etério (mín.)
10,00%, Matéria fibrosa (máx.) 3,00%,
Matéria mineral (máx.) 6,00%, Cálcio (máx.)
1,60%, Fósforo (mín.) 0,80%.
Foram realizados exames laboratoriais
do perfil bioquímico, mensalmente, durante 6 meses, sendo colhidos 5 ml de sangue
por venopunção e transferidos para um tubo
de ensaio de 10 ml, sem anticoagulante, para
obtenção de soro e procedeu-se às dosagens
de proteína total, albumina, creatinina, uréia,
alanino-aminotransferase (ALT) e aspartatoaminotransferase (AST), fosfatase alcalina,
colesterol e glicose. As dosagens foram realizadas mediante utilização de kits comerciais da marca CELM, com leitura em analisador bioquímico semi-automático modelo SB-190 CELM.
Os dados obtidos foram registrados em
fichas próprias. A análise estatística dos
dados obtidos para as variáveis relacionadas com o perfil bioquímico sérico realizouse através da análise de variância
(ANOVA), amostra inteiramente casualizada, considerando as fontes de variação tipo
de ração e dias após o consumo, para machos e fêmeas separadamente, uma vez
que os valores referenciais para essas variáveis diferem quanto ao sexo. A comparação entre as médias das variáveis contínuas estudadas foi realizada através da
Diferença Mínima Significativa (DMS), calculada através do teste t.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os valores médios obtidos para o perfil bioquímico sérico
dos machos, de acordo com o tipo de ração consumida e quanto aos dias após o
consumo. Os resultados de acordo com o
tipo de ração consumida apresentaram diferenças estatisticamente significativas
para proteína total e colesterol (P<0,001),
para creatinina e AST (P<0,01) e para ALT
(P<0,05). A albumina, uréia, fosfatase alcalina e glicose, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas (P>0,05).
De acordo com os dias após o consumo,
apresentaram diferenças estatisticamente
significativas para proteína total, albumina,
creatinina e glicose, (P<0,001), para ALT e
colesterol (P<0,01) e para uréia (P<0,05).
AST e fosfatase alcalina não apresentaram
diferenças estatisticamente significativas
(P>0,05).
Como foi evidenciada nesta pesquisa,
a dieta influenciou nas concentrações séricas do perfil bioquímico sérico de machos.
Os resultados da uréia apresentaram-se
elevados em todas as avaliações. A média
geral das concentrações séricas da proteína total, albumina, creatinina, ALT, AST, FA,
colesterol, apresentou valores médios dentro dos parâmetros de normalidade conforme citações de Coles (1984), Nelson e
Couto (1994), Meyer et al. (1995), Wingfield et al. (1998), Bush (1999), Nelson e
Couto (2001). A proteína total, albumina,
creatinina, colesterol e uréia refletem a influência da dieta nos seus metabolismos.
As variações observadas para creatinina,
ALT e colesterol, evidenciam que estão relacionadas com o metabolismo orgânico,
como citou Coles (1984), e com o tipo de
dieta, seja ração de qualidade ou popular,
como afirmaram Case et al. (1998).
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
Perfil bioquímico sérico em gatos...
59
TABELA 1 – Valores médios das variáveis quantitativas relacionadas com o perfil bioquímico, referente a proteínas, enzimas, colesterol e glicose, quadrados médios e coeficientes de variação em gatos do sexo masculino, de acordo com
o tipo de ração consumida e dias após o consumo
ns – Não significativo (P>0,05), * Significativo (P<0,05), ** Significativo (P<0,01), *** Significativo (P<0,001).
1
Representa a média geral para cada variável considerada.
2
Para a variável considerada, o primeiro valor refere-se ao tipo de ração e o segundo a dias após o consumo.
Para uma mesma variável, médias seguidas de letras minúsculas diferentes, na coluna, diferem estatisticamente ao
nível considerado, pelo teste t.
Para uma mesma variável, médias seguidas de letras maiúsculas diferentes, na linha, diferem estatisticamente ao
nível considerado, pelo teste t, sendo as comparações feitas só em relação ao tempo zero (0).
A Tabela 2 apresenta os resultados
obtidos para o perfil bioquímico sérico das
fêmeas, de acordo com o tipo de ração
consumida e dias após o consumo. O tipo
de ração apresentou efeito estatisticamente significativo para albumina, creatinina, uréia, ALT, AST, fosfatase alcalina
e colesterol. As concentrações séricas da
proteína total e da glicose não apresen-
taram diferenças estatisticamente significativas. De acordo com os dias após o
consumo, apresentaram diferenças estatisticamente significativas para proteína total, albumina, creatinina, uréia,
ALT e glicose. As concentrações séricas de AST, fosfatase alcalina e colesterol, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas (P>0,05).
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
60
E. R. LIMA et al.
TABELA 2 – Valores médios das variáveis quantitativas relacionadas com o perfil bioquímico, referente a proteínas, enzimas, colesterol e glicose, quadrados médios e coeficientes de variação em gatos do sexo feminino, de acordo com o
tipo de ração consumida e dias após o consumo
ns – Não significativo (P>0,05), * Significativo (P<0,05), ** Significativo (P<0,01), *** Significativo (P<0,001).
1
Representa a média geral para cada variável considerada.
2
Para a variável considerada, o primeiro valor refere-se ao tipo de ração e o segundo a dias após o consumo.
Para uma mesma variável, médias seguidas de letras minúsculas diferentes, na coluna, diferem estatisticamente ao
nível considerado, pelo teste t.
Para uma mesma variável, médias seguidas de letras maiúsculas diferentes, na linha, diferem estatisticamente ao
nível considerado, pelo teste t, sendo as comparações feitas só em relação ao tempo zero (0).
A média geral das concentrações séricas do perfil bioquímico em fêmeas como
proteína total, albumina, creatinina, ALT,
AST, colesterol, estão de acordo com os
valores referenciais de Coles (1984), Nelson e Couto (1994), Meyer et al. (1995),
Wingfield et al. (1998), Bush (1999) Nelson e Couto (2001). Os valores médios para
o perfil bioquímico sérico das fêmeas apresentaram valores elevados para a uréia, em
todas as avaliações. A fosfatase alcalina
apresentou valores elevados após 30 dias
de consumo quanto ao tipo de rações R2 e
R3. As concentrações séricas da proteína
total, albumina, creatinina, ALT, AST estão
dentro dos parâmetros normais de acordo
com o valor médio para o tipo de ração e
dias após o consumo.
Nas fêmeas, os valores da uréia mostraram-se elevados em todas as avaliações.
A fosfatase alcalina apresentou valores elevados após 30 dias de consumo com ração R2 e R3. Esses resultados comprovam
que os metabolismos dessas concentra-
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
Perfil bioquímico sérico em gatos...
ções séricas do perfil bioquímico de fêmeas
foram mais variáveis pelos tipos de ração
R1 e R3, ou seja, ração de qualidade e ração popular. A R2 (popular) apresentou
melhores resultados para as variáveis estudadas. Case et al. (1998) explicaram que
os alimentos na forma seca, com desidratação excessiva ou incorreta, podem originar uma diminuição na porcentagem de
nutrientes, o que certamente acarretará
transtornos metabólicos e alterações nas
concentrações séricas.
O nível elevado de uréia foi observado
durante todo o experimento, em ambos os
sexos, podendo estar relacionado com o
aumento de consumo da dieta por representar o principal produto do catabolismo
das proteínas nos carnívoros (MEYER et
al., 1995). A concentração sérica da creatinina aumentou ao longo do tempo, nos
machos e nas fêmeas, mas, não além dos
valores de referência. As transaminases
(ALT e AST) são enzimas importantes clinicamente e têm distribuição ampla no organismo, apesar de estarem presentes em
pequenas quantidades no soro, como resultado de distribuição nos tecidos (FERREIRA NETO et al., 1978; COLES, 1984;
MEYER et al., 1995).
A dieta tem um papel importante na
manutenção e equilíbrio orgânico dos animais. De acordo com Case et al. (2002) e
DiBartola et al. (2003) a nutrição adequada assegura o funcionamento e aumento
dos mecanismos de defesas naturais. Morris e Rogers (2004), Perez (2004), Hughes
et al. (2005) afirmaram a importância da
função dos rins por contribuírem para a
saúde geral e bem estar do animal através
da proteína na dieta. Visto que, muitos componentes neste sistema são de estrutura
protéica.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos e nas
condições em que o experimento foi realizado, pode-se concluir que para a maioria
das variáveis relacionadas com o perfil bioquímico, os fatores tipo de ração, tempo
61
de consumo e sexo do animal devem ser
considerados pelos clínicos veterinários
como fontes de variação importantes, e levados em conta na interpretação das diferenças observadas entre os valores médios obtidos para as dosagens realizadas.
Das três rações pesquisadas a R2 foi a que
proporcionou melhores concentrações séricas para o perfil bioquímico, devendo ser
a preferida para alimentação de gatos de
ambos os sexos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUSH, B. M. Interpretácion de los analises
de laboratorio para clínicos de pequenos
animales, Madrid: Hartcourt, 1999. p.564.
CASE, L. P.; CAREY, D. P.; HIRAKARA, D. A.
Nutrição canina e felina: manual para profissionais. Madrid: Harcourt Brace, 1998. p.424.
CASE, L.; CZARNECKI, G. L. Protein requirement of growing pups fed pratical dry-type diets.
American Journal Veterinary Research, Chicago, n.55, p.808-812, 2002.
COLES, E. H. Patologia clínica veterinária.
3.ed. São Paulo: Manole, 1984. p.566.
DiBARTOLA, J. C.; ROGERS, Q. R. Evaluation
of commercial pet food. Journal American
Medical Association, Chicago, n.192, p.676680, 2004.
FERREIRA NETO, J. M.; VIANA, E. S.; MAGALHÃES, L. M. Patologia clínica veterinária.
Belo Horizonte: Rabelo e Brasil, 1978. p.279.
HUGLES, K. L.; SLATER, M.R.; GELLER, S. et
al. Diet and lifestyle variables as risks factors
for chronic renal failure in pet cats. Veterinary
Medicine, Lenexa, n.55, p.10-15, 2005.
MEYER, D. J.; COLES, E. H.; RICH, L. J. Medicina de laboratório veterinário. Interpretação
e diagnóstico. São Paulo: Roca, 1995. p.308.
MORRIS, J. C.; ROGERS, Q. R. Evaluation of
commercial pet food. Journal American Veterinary Association, Schaumburg. n.192, p.676680, 2004.
NELSON, R. W.; COUTO, C. E. Fundamentos
de medicina interna de pequenos animais.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006
62
E. R. LIMA et al.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, cap.40,
1994. p.737.
NELSON, R. W.; COUTO, C. E. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, cap.47, 2001. p.1084.
OSBORNE, C. A.; KRUGER, J. M.; LULICH, J.
P. Afecções do trato urinário inferior dos felinos.
In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado
de medicina interna veterinária: moléstias do
cão e do gato. 4. ed. São Paulo: Manole, 1999.
v.2, cap.140, p.2496 – 2531.
P. Doenças do trato urinário inferior dos felinos.
In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado
de medicina interna veterinária: doenças do
cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Koogan,
2004. v.2, cap.175, p.1802 – 1841.
PEREZ-CAMARGO. G. Cat Nutrition. What is
new in the old? Supplement to Compendium
Continuing Education for Practicing Veterinarian. v.26, n.2, p.5-10, 2004.
WINGFIELD, W.E.; ABBOTT, J.A.; BEARDOW,
A.W. et al. Segredos em medicina veterinária. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 546
OSBORNE, C. A.; KRUGER, J. M.; LULICH, J.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 9, nos 2/3, p. 54 - 62 - maio/dezembro, 2006